Budapeste - Capítulo 23
Budapeste
– Hungria
Cena 01 – Avenidas de Budapeste – Dia.
O céu está nublado. Uma cor azulada escura toma conta das
nuvens. Trovões ecoam e os raios dão o ar da graça no céu. Há movimento nas
avenidas. A chuva começa cair, pessoas correndo são vistas para escapar do
temporal.
Cena 02 – Casa do Senador Fridrich –
Escritório. – Int. – Dia.
O escritório há alguns policiais e peritos. Eles tiram
fotos e observam todo o local. A Delegada Nala acompanha tudo. A faxineira que
encontrou o corpo está desesperada e chorando.
Severus: Você tem certeza que não viu nada?
Faxineira (chorando): Absoluta! Eu não vi nada. Estava
achando o silêncio muito estranho, porque depois que a senhora Borbála saiu,
achei melhor verificar se o Senador precisava de algo.
Severus: E foi aí que você encontrou o corpo.
Faxineira: Sim! Eu achei estranho, porque ele nunca deixa a
porta do escritório aberta, então pensei que ele tinha saído. Mas quando entrei
dei de cara com o corpo! Que pesadelo.
Severus: Chamaremos você em breve para mais depoimento.
Cena 03 – Casa do Senador Fridrich – Sala –
Int. – Dia.
A Delegada Nala caminha pela sala e observa o quadro com o
símbolo nazista. Severus interrompe os pensamentos de Nala.
Severus: Foi a primeira coisa que eu percebi assim que
entrei.
Nala: Que ele era um nazista, já sabíamos, mas não imaginava
que seria tão abertamente assim.
Severus: Quem será que o matou?
Nala: Provavelmente queima de arquivo. O que descobriu com
a faxineira?
Severus: Nada demais. Aparentemente ela só encontrou o
corpo dele. Não viu nenhum movimento.
Nala: E a esposa dele?
Severus: Pelo que eu coletei, ela tinha ido embora com
malas horas antes do ocorrido.
Cena 04 – Mansão Kovács – Sala – Int. – Dia.
Kimerul está tomando um whisky. András chega com um
guarda-chuva. Ele fecha o objeto e põe ao lado da porta.
András: Está caindo um verdadeiro dilúvio em Budapeste.
Precisei deixar o carro na oficina e tive que pegar um táxi que não conseguiu
chegar até aqui. Resultado, precisei vir a pé.
Kimerul ignora a existência do filho e continua a tomar o
seu whisky.
András: Pai? Aconteceu alguma coisa?
Kimerul: András, ligue imediatamente para Emese Angyal e
peça para que ela venha até aqui.
András (surpreso): O quê?
Kimerul: Você me ouviu. Faça isso, por favor.
András: Mas por que isso, pai?
Kimerul: Não faça perguntas, András. Apenas obedeça.
András pega seu telefone e envia uma mensagem para Emese.
Cena 05 – Angyal Alimentos – Escritório – Int.
- Dia
Emese através da janela observa o temporal cair em
Budapeste. Os raios iluminam o céu. Seu celular vibra. Ela lê a mensagem de
András e estranha.
Emese: Estranho.
Lorenzo: O quê?
Emese: O András enviou uma mensagem e disse que o pai dele
quer que eu vá pra lá imediatamente.
Lorenzo: Como vamos chegar lá no meio desse temporal? Ele
não mora nas colinas?
Emese: Sim, mas o András disse que era urgente. Ele não
disse o teor da conversa na mensagem.
Lorenzo: Então vamos?
Emese: Claro. Deu tudo certo com o incêndio, não é? Não
sobrou nada pra contar história..
Lorenzo: Exatamente. Não sobrou nada.
Cena 06 – Restaurante – Int. – Dia.
Ilona, Sebestyénne e Eva estão sentadas conversando. Suas expressões são sérias.
Ilona (furiosa): Você não podia ter contado para o Kimerul
que a Melánia está viva!
Eva: Eu sei! Mas eu não consigo esconder nada dele!
Ilona: É claro que você não consegue. Nunca superou a sua
paixão platônica por ele, Eva!
Sebestyénne: Isso vai ser um verdadeiro caos. Não quero nem
imaginar o que vai acontecer quando a Emese descobrir, pior… Quando o Domokos
descobrir que a Melánia está viva!
Ilona: Ele não vai fazer nada! Não vou permitir que aquele
crápula faça um inferno em nossa família novamente, já basta aquele canalha ter
conseguido ludibriado o meu filho!
Eva: Me desculpem, mas eu não podia esconder mais isso do
Kimerul! O András precisava saber. Não podíamos iludir o rapaz com falsas
esperanças de que a mãe dele poderia estar viva.
Sebestyénne: Tic tac. Cada vez mais consigo ouvir o relógio
chegando perto da meia-noite. Quando isso acontecer, tudo vai desmoronar.
Elas se olham apreensivas.
Cena 07 – Rua qualquer – Dia.
Konrad está com o capuz cobrindo sua cabeça. A chuva cai
por todo o seu corpo. Ele está ensopado. Ele para em frente a uma loja de
eletrodomésticos e vê a notícia “Senador Fridrich é encontrado morto”.
Konrad: Vai para o inferno.
Cena 08 – Jornal – Escritório – Int. – Dia.
Zóltar corre pelo salão do jornal. Os jornalistas e
roteiristas estão desesperados para criar a matéria sobre o Senador Fridrich.
Zaco: Aonde você estava Zóltar? Esse jornal está um caos por
conta da morte do Senador Fridrich. Todo mundo tentou te ligar, mas só dava
caixa postal.
Zóltar: Tive uma emergência familiar. Meu celular também
descarregou, eu não consegui ver nenhuma das ligações.
Zaco: O Que vamos criar?
Zóltar: Pode soltar a matéria que fizemos outro dia falando
sobre os símbolos nazistas na casa do senador. Eu sei que estou sendo
insensível, mas antes que a população tenha dó desse canalha, eles precisam ver
quem ele realmente era.
Zaco assente e sai em direção a sua mesa. Zóltar permanece
ali ofegante.
Cena 09 – Delegacia – Escritório – Int. – Dia.
Nala entra em seu escritório tirando sua jaqueta. Severus acompanha e fecha a porta.
Nala: Nossa, mas que temporal é esse? Severus, Budapeste
vai acabar em água.
Severus: Nunca vi nada parecido.
Neste momento, a
porta se abre. Um policial acompanha uma mulher. É Fatima.
Policial: Ela disse que gostaria de fazer uma denúncia.
Nala: Minha senhora, você pode fazer o boletim de
ocorrência com os policiais lá fora também.
Fatima: Acho que você vai querer ouvir o que eu tenho a
dizer.
Nala: E o que seria de tão importante que você tem para
falar?
Fatima: Eu sei quem é o chefe do grupo nazista.
Música de tensão se instaura na cena. Nala e Severus se
entreolham. O policial fica de boquiaberto
Cena 10 – Apartamento de Otávio – Quarto – Int.
– Dia.
Otávio e Frank estão deitados na cama. Otávio está com sua
cabeça no peito de Frank que acaricia sua cabeça. O clarão dos raios invadem o
quarto.
Otávio: Você não precisa ficar aqui. A sua empresa vai
falir desse jeito.
Frank: Não se preocupe quanto a isso. Está tudo sob
controle.
Otávio: Ainda não consigo assimilar tudo o que aconteceu.
Por pouco poderia ser um de nós dois. Sinto que estamos incompletos sem a
Felícia por aqui.
Frank: Eu te entendo. Mas quero te ver recuperado desse
trauma. A polícia já liberou o escritório?
Otávio: Não sei, mas eu não volto para a Fame Magazine
mais.
Frank: Por que não?
Otávio: Frank, diversas pessoas morreram naquele dia. Não
há condição alguma de eu voltar a trabalhar lá mais.
Frank: Otávio, mas...
Otávio: Não, Frank. Por favor, não insista nesse assunto.
Eu realmente não consigo voltar pra lá. A energia, eu vou lembrar a todo
momento dos gritos das pessoas. Não quero relembrar aquilo.
Frank: Tudo bem. Não precisa ficar com raiva, estou aqui,
tá bem?
Otávio abraça Frank fortemente que retribui com um beijo na
testa do seu amado.
Cena 11 – Aeroporto de Budapeste – Portão de embarque – Int.
Borbála e Vencel estão sentados em um banco. A chuva
continua a cair lá fora.
Vencel: Provavelmente o nosso vôo vai ser cancelado. Não
tem a menor possibilidade de voarmos com essa tempestade.
Borbála (corta): Eu sei que você não nutriu nenhum
sentimento bom pelo seu pai, mas não consegue ter compaixão pela morte dele?
Vencel: Não, mãe. Esse homem deixou de existir no exato
momento em que ele me expulsou de casa e preferiu os nazistas a mim.
Borbála: Não sei como reagir a essa situação. Apesar de
tudo, ele foi meu companheiro nesses últimos trinta anos.
Vencel: Te entendo, mãe... mas olha, não fica assim, agora
temos um ao outro!
Borbála: Claro, Vencel. Não conseguiu pegar a mala que
estava faltando?
Vencel: Não, eu acabei passando em outro lugar.
Borbála: Em qual lugar?
Vencel: Ah, eu fui resolver umas coisas pessoais.
Borbála estranha e Vencel pega seu telefone.
Cena 11 – Delegacia – Escritório – Int. – Dia.
Nala: E como você quem é o chefe do grupo dos nazistas?
Fatima: Eu o conheço. Todos os crimes que estão acontecendo
em Budapeste não são por acaso, na verdade, não somente em nossa cidade, mas
também em todo o país.
Severus: Você tem provas do que está dizendo?
Fatima: Não preciso de provas. Mas minha palavra basta.
Nala: Ah, minha senhora, eu não posso simplesmente aceitar
uma acusação dessas aqui sem o mínimo de provas possíveis.
Fatima: Eu estou te dando a minha palavra. Se você quiser,
há uma pessoa que pode te confirmar a história.
Nala: E quem seria essa pessoa?
Fatima: Ilona Bartha.
Severus: A tia da Emese? Mas por quê?
Fatima: O chefe do grupo nazista é o Domokos. Ele é o tio
da Emese, o irmão do Kórnel.
Nala: Como você sabe disso tudo?
Fatima: Sou uma pessoa que teve a vida destruída por esse
criminoso. Minha filha foi tirada de mim, por culpa dele, ela faz parte desse
grupo de vagabundos.
Nala: E quem é a sua filha?
Fatima: Christina, ou simplesmente, Barbara. Ela foi criada
por ele.
Severus: Espera, Barbara? Esse não foi o nome que o garçom
no Monster Grill falou?
Nala: Isso mesmo, Severus. Só pode ser a mesma pessoa.
Fatima mexe em sua bolsa e retira uma foto. Ela entrega
para Nala. Close na imagem que mostra Barbara.
Fatima: Esta é minha filha, Barbara.
Cena 12 – Mansão Kovács – Sala – Int. – Dia.
András está apreensivo. Kimerul permanece bebendo seu
whisky. A campainha toca. András abre e cumprimenta Emese e Lorenzo que entram
no local.
Kimerul: Ainda bem que você veio, Emese. Eu estava preocupado
que não viesse.
Emese: A mensagem do András pareceu muito urgente. Confesso
que não foi muito fácil chegar até aqui. Budapeste resolveu chover o
equivalente para o ano inteiro.
András: Já adianto que em nenhum momento ele me disse o que
era de tão urgente.
Kimerul: Sentem-se.
Todos na sala se acomodam em um canto do sofá. Kimerul coça
a cabeça e parece nervoso.
Kimerul: Emese, por muito tempo, eu odiei a sua família. A
mãe do András, Anita, ela era a melhor amiga da sua mãe. Eu me apaixonei imediatamente
pela Anita, era a mulher mais bonita que existia na Hungria. A Melánia e ela
eram tão grudadas que geralmente saíamos em trio. O Kórnel sempre foi mais
caseiro, mas elas duas amavam uma festa.
Emese: Aonde você quer chegar?
Kimerul: Emese, a minha esposa, ela foi morta no lugar da
sua mãe. Armaram uma emboscada para matar a Melánia, mas por alguma razão, a
Melánia já tinha viajado para Berlim com o Kórnel e por uma infeliz
coincidência, a Anita acabou pegando o carro da sua mãe e foi assassinada.
Emese: Então, a mãe do András morreu por causa da minha?
Kimerul: Infelizmente sim. Domokos, o irmão do seu pai, ele
não aceitava que a Melánia e o Kórnel estavam reunindo provas suficientes para colocá-lo
na cadeia, mas o Domokos agiu primeiro, mas quando viu que a sua mãe não tinha
sido morta, ele deu um jeito de matar os seus pais na peça de teatro.
Emese: É, o András me contou que esse Domokos é o
verdadeiro assassino dos meus pais.
Lorenzo: Meu pai escondia algo sobre o passado da família
do Kórnel, ele nunca quis me contar.
Kimerul: Mas Emese, o András fez a exumação do corpo da
Anita e descobriu que o corpo não estava dentro do caixão. A Verdade é que
segundo a Eva, o corpo da Anita está em outro caixão.
András: O quê? Aonde, pai?
O som de um raio ecoa no ambiente.
Kimerul: O corpo da Anita está no caixão da Melánia.
Todos ficam estáticos e surpresos com a informação jogada.
Cena 13 – Delegacia – Corredor – Int. – Dia.
O Policial que estava acompanhando Fatima, sai do
escritório e vai até o corredor. Ele se afasta um pouco e pega se telefone. Ele
disca um número. Neste momento, apenas a sua silhueta é vista
Policial: Alô? Boldiszar? Desculpa estar te incomodando,
mas preciso te contar algo... É, eu sei que não posso te ligar, mas é
urgente... A Casa caiu... Uma mulher chamada Fatima que alega ser a mãe de
Barbara está aqui e contou para delegada Nala que o Domokos é o chefe do
grupo... Isso...
O policial é atingido por uma coronhada. Ele cai no chão e
se espanta ao ver Nala em sua frente. A delegada pega o telefone.
Nala: Alô? Bom, acho que o seu informante já contou um
pouco o que aconteceu aqui... Enfim, espero que vocês aproveitem os últimos
dias soltos, porque eu irei pegar cada um de vocês.
Nala desliga o telefone. Close em seu rosto que está com
fúria.
A História não tem conexão real com a realidade.
O preconceito e o ódio jamais deverão ser aceitos em qualquer sociedade!
Apologia ao Nazismo no Brasil é crime previsto no art. 20, da Lei nº 7.716/89
do Código Penal, que define os crimes
resultantes de preconceito de raça ou de cor.
DENUNCIE!
Fim do Capítulo 23
Obrigado pelo seu comentário!