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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 02

 


 

 

Novela de: Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
BEATRIZ
ELIETE
GENIVALDO
PAULO
RAIMUNDA
MOISÉS
RAVENA
REBECA
CÁSSIA
MACIEL

 
Participação Especial:
DIRETORA DO ORFANATO



aCENA 01/ EXT/ RUA/ PONTO DE ÔNIBUS/ NOITE 

Jana está fraca e se sentido completamente atordoada. Com dificuldades senta-se no chão.

 

JANA

- Valei-me meu Pai me ajude!

 

Ao olhar para o lado vê o seu celular jogado em cima de sua bolsa. Ela agarra o celular e rapidamente liga para Paulo.

 

JANA

- Meu celular!

(ligando)

- Vambora Paulo, me atende pelo o amor de Deus!

 

Paulo não atende, Jana insiste e liga de novo, mas nada. Chama até a ligação cair. Ela pensa em gritar, pedir ajuda para alguém que passasse por ali. Mas se sentia insegura. E se ele ainda estivesse por perto? E se ele voltasse lá e fizesse mais mal a ela? Não, ela não poderia gritar, tinha que ficar ali quieta. Jana lembra então de seu pai, ele sim poderia ir lá ajudá-la.  Ela procura rapidamente na agenda o nome de Genivaldo. E ele não demora para atender.

 

JANA

- Alô painho!

 

CORTA PARA: 

CENA 02/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ SALA DE ESTAR/ NOITE 

Genivaldo está sentado em um sofá, com o telefone no ouvido e preocupado. Enquanto Giovana em outro, com um livro na mão e atenta a conversa do pai.

 

GENIVALDO

- Oi minha filha! Tá tudo bem?

 

Jana responde ao telefone, sua voz está embargada pelas lágrimas.

 

JANA

(off)

- Painho, pelo o amor do nosso Senhor do Bonfim, venha me buscar.

 

Genivaldo franze a testa, preocupado.

 

GENIVALDO

- Oh meu amor, claro que vou. Mas diga aí donde cê tá?... Tá certo, se preocupe não viu filha, já tô indo aí.

 

Genivaldo desliga o telefone e o coloca em cima da mesa. Ele olha para Giovana, sua expressão está carregada de preocupação.

 

GIOVANA

(preocupada)

- Oxe meu pai, o que houve?

 

Genivaldo respira fundo antes de responder.

 

GENIVALDO

- Aconteceu alguma coisa com a sua irmã, estou indo lá agora buscar ela.

(se levantando, pegando o celular e a chave do carro)

- Quando a sua mãe chegar cê explica pra ela, vá bem? 

GIOVANA

(assente)

- Oh painho, mas Jana não lhe falou o que houve não? 

GENIVALDO

- Ela tava chorando desesperada. Acho que ela foi assaltada, tadinha. Tô indo, lá viu filha. Preciso acudir sua irmã.

 

Giovana se levanta deixando o livro que estava lendo em cima do sofá, e se aproxima do pai lhe apoiando. 

 

GIOVANA

- Vai com Deus painho, tome cuidado. Qualquer coisa me liga, vá bem?


Genivaldo sorri levemente, e depois sai apressado da sala, enquanto Giovana observa sua partida com preocupação estampada em seu rosto.

 


CENA 03/ EXT/PLANO GERAL 

Uma vista panorâmica noturna destacando o famoso Farol da Barra, majestosamente iluminado, com o mar agitado ao seu redor. O som das ondas quebrando na praia ao fundo cria uma atmosfera calma e relaxante. Ao redor, a movimentação da praia, com pessoas caminhando à beira-mar, algumas aproveitando o mar em pranchas de stand-up paddle, enquanto outras se divertem em um animado barzinho próximo. CORTA para um edifício alto e moderno na Barra, iluminado pelas luzes suaves das janelas.

 

CORTA PARA: 

CENA 04/ INT/ APT. DA BEATRIZ/ COZINHA/ NOITE 

BEATRIZ é uma mulher negra de 33 anos, traços faciais suaves, sobrancelhas bem definidas e lábios levemente carnudos. Seus cabelos crespos e pretos geralmente exibidos em penteados versáteis, desde fios soltos e ondulados até coques elegantes. Uma mulher de fibra, valente, corajosa, digna e positiva. Ela nunca dependeu de ninguém para resolver seus problemas e sempre arregaçou as mangas quando necessário. Beatriz é ginecologista e dona da clínica Bio in Vitro. Apesar de ajudar outras mulheres a realizarem o sonho da maternidade, ela mesma não tinha planos de se tornar mãe nem de se casar. Ela gostava de viver sozinha. Beatriz foi até a cozinha, mas ao clicar no interruptor, percebeu que não tinha energia. 

 

BEATRIZ

(falando sozinha)

- Ave Maria, não acredito que essa lâmpada queimou. Logo agora! Pior ainda é que nem sei se tenho outra lâmpada por aqui. Tenho que achar alguma, no escuro não dá pra ficar, né. 

 

Beatriz vai até a área de serviço e encontra uma lanterna em uma das gavetas. Ela pega a escada e volta para a cozinha com a lanterna em uma mão e a escada em outra. Com a ajuda da lanterna, ela vasculha os armários da cozinha até encontrar uma lâmpada guardada.

 

BEATRIZ

- Ó pai, achei! Quem guarda sempre tem, né.  Mãos a obra.

 

Com cuidado, ela sobe na escada e troca a lâmpada queimada por uma nova.

 

BEATRIZ

- Prontinho, faça se a luz. Agora eu posso finalmente fazer o meu jantar. 

 

Ela desce da escada e a guarda de volta no lugar.

 

CORTA PARA: 

CENA 05/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ SALA DE ESTAR/ NOITE 

Giovana está inquieta, andando de um lado para o outro, segurando o celular, aguardando ansiosamente por notícias de Jana. Nesse momento, Eliete entra na sala e estranha em ver a filha em pé, em estado de agitação.

 

ELIETE

- Boa noite, minha filha! Oxe, que faz aí em pé? E o seu pai ondé que tá?

 

Giovana para por um instante e olha para Eliete, sua expressão preocupada.

 

GIOVANA

- Ele saiu pra socorrer Jana, mainha. Parece que ela foi assaltada.

 

Eliete levanta as sobrancelhas, mostrando certo descontentamento.

 

ELIETE

- E ela liga pro seu pai, é? Porque ela não ligou pra Paulo? Afinal, ele que é marido dela, não é mesmo?... Tô dizendo, essa aí se casou, mas não consegue largar a barra da calça do pai. 

GIOVANA

- Não sei, minha mãe. Talvez ela não tenha conseguido falar com Paulo, né. Tô aqui tão preocupada, e a senhora vem com questões que não têm nada a ver, moça. Qual o problema de painho sair para ajudar a filha dele, me diga?

 

Eliete cruza os braços, mantendo seu olhar fixo em Giovana.

 

ELIETE

- Tá certo, oxe tá certo. Não há problema nenhum, nunca há né. Acontece Giovana que o seu pai...

 

Antes que Eliete possa terminar a frase, Genivaldo entra na sala abraçado com Jana, ajudando-a a caminhar.

 

GENIVALDO

(entrando)

- Venha minha filha, se avexe não, venha devagar.

 

Giovana se aproxima rapidamente de Jana, preocupada.

 

GIOVANA

- Ave Maria, Jana, o que aconteceu?

 

Genivaldo solta um suspiro pesado antes de responder, com raiva contida em sua voz.

 

GENIVALDO

- Um monstro, lhe atacou na parada, não sabe. Porque uma criatura que faz isso não pode ser chamado de ser humano... A sua irmã foi sexualmente violentada.

 

Jana, abalada, fala com dificuldade, sentindo uma mistura de emoções.

 

JANA

- Tá tão difícil, viu? Tô com vergonha, com raiva, com nojo. Nunca me senti assim, tão suja.

 

ELIETE

- Orai e vigiai, viu Jana? Isso acontece quando a gente se afasta de Deus. A sujeira que cê tá sentindo, é a sujeira do pecado. Deus tá tentando te alertar, e não é de hoje. Aceita a salvação enquanto tem tempo. 

GENIVALDO

- Oh Eliete, tenha a gentileza. Agora não é hora, viu. 

ELIETE

- Não existe hora certa para falar das benevolências do Altíssimo e da sua destra justa. Toda hora é hora para falar da palavra de Deus, não sabe. 

GIOVANA

(irritada)

- Ninguém aqui tá duvidando do poder de Deus, né minha mãe. Mas a última coisa que Jana tá precisando ouvir agora é de alguém apontando os seus pecados.

(virando-se para Jana)

- Hein Jana, acho melhor cê passar a noite aqui. Cê não tá em condições de ir para casa não, viu. 

JANA

- Preciso falar com Paulo. Ainda não contei a ele o que aconteceu. Ondé que tá meu celular?

 

Genivaldo pega o celular e entregou a Jana.

 

GENIVALDO

- Tá bem aqui minha filha.

 

Jana disca o telefone de Paulo.

 

CORTA PARA: 

CENA 06/ INT/ CASA DA RAVENA/ QUARTO DA LAURA/ NOITE 

Laura está deitada na cama. Ravena entra no quarto e senta nos pés da cama, enquanto conversa com ela.

 

RAVENA

- E aí, tá se sentindo melhor? 

LAURA

- Sim... Tô me sentindo bem melhor.

 

Ravena observa o prato de comida intocado ao lado da cama.

 

RAVENA

- Humm, mas to vendo que cê não comeu nada, né? A comida tá aí toda no prato.

 

Laura responde com um suspiro.

 

LAURA

- Tô com fome não, viu. 

RAVENA

- Oh meu amor, cê tem que se alimentar, né. Se não comer, vai acabar passando mal novamente. 

LAURA

- Tá bem vou comer um tiquinho. 

RAVENA

- Isso mesmo, se esforce um pouco mais. Saco vazio não para em pé. Espero que um dia essa realidade mude, viu. E que tenhamos um tratamento digno de verdade. Lutamos por isso, para que meninas como você não tenham que sofrer tomando remédios ou nas mãos de açougueiros por aí. 

LAURA

- Quando eu tiver melhor, vou procurar Maciel. 

RAVENA

(surpresa)

- Procurar Maciel? Oxe, pra quê mesmo Laura? Esquece esse cara, moça. 

LAURA

(magoada)

- É culpa dele isso aqui que tô passando. Ele que me iludiu, não quis usar camisinha. Dizia que usar camisinha era como chupar balinha com casca. 

RAVENA

- E cê ingênua se deixou levar pela a conversa de homem, né mesmo. O que cê tem que fazer agora é se afastar dessa desgraça. E não correr atrás de quem não presta. 

LAURA

- Ah, como eu queria que as coisas fossem simples assim, viu Ravena. 

RAVENA

(entristecendo)

- E sei bem por que não é simples. Cê ainda gosta dele, né Laura?

 

Laura, desconfortável, levanta-se da cama abruptamente.

 

LAURA

- Vou tomar um banho, vá bem!

 

Ravena ficou surpresa com a reação de Laura.

 

RAVENA

- É barril, viu véi!

 

Laura, já de pé, desabafou com tristeza.

 

LAURA

- Eu amo o Maciel. O que eu posso fazer, hein Ravena? 

RAVENA

(resignada)

- Tá certa. Pode fazer nada não, né. Vá tomar seu banho. Vou preparar algo diferente pro cê comer.

 

Ravena sai do quarto deixando Laura imersa em seus pensamentos. 

 

CENA 07/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ QUARTO DA GIOVANA/ NOITE 

Giovana está sentada na sua cama enquanto Jana está deitada com a cabeça em seu colo, ainda se sentindo mal com tudo o que tinha lhe acontecido. Giovana acaricia os cabelos da irmã procurando confortá-la. Paulo abre a porta devagar, colocando apenas a cabeça para dentro.

PAULO

- Opa! Com licença.

 

Jana levanta apressado da cama, corre e abraça o marido.

 

JANA

- Oh meu amor, que bom lhe ver! Foi horrível Paulo.

 

Giovana percebe a intimidade do momento e decide sair do quarto.

 

GIOVANA

(saindo)

- Com licença, vou deixar cês dois a sós. 

PAULO

- Agradecido Giovana.

(depois que Giovana sai)

- Agora me diga, que aconteceu?

 

Jana senta na cama e Paulo senta ao seu lado. Ela começa a contar para o marido o que havia acontecido.

 

JANA

- Eu tava na parada esperando o ônibus como sempre faço, né. Quando chegou um cara me abordando, com uma conversinha fiada, sabe.  Depois ele partiu pra cima de mim tapando a minha boca e me levando para o matagal.

(chorando)

- Ave Maria, só de lembrar daquelas mãos me tocando, passeando pelo o meu corpo, arrancado a minha roupa... Eu ali, indefesa, sendo violentada, machucada. Eu sinto náusea só em lembrar, viu.

 

Enquanto Jana conta a história, Paulo fica inquieto, balançando as pernas e passando a mão pela cabeça, claramente perturbado com o relato de sua esposa.

 

PAULO

- E... cê não deu queixa? 

JANA

- Sim. Eu e painho passamos na delegacia e registramos ocorrência. 

PAULO

(frio)

- O importante que agora cê tá bem, né. Bora pra casa? 

JANA

(ao notar Paulo estranho)

- Oxe Paulo, tá tudo bem com cê? 

PAULO

- Sim. O porquê da pergunta? 

JANA

- Sei lá, cê ficou estranho de repetente. 

PAULO

- Bobagem, impressão sua. Bora pra casa meu amor pra você poder descansar.

 

Jana para por um instante. E observa Paulo de soslaio, notando sua atitude estranha.

 

JANA

- Giovana sugeriu que eu passasse a noite aqui.

 

   PAULO    

- Oxe, e pra que dormir fora de casa, Jana? Se preocupe não, viu. Vou cuidar do cê.

 

Jana concorda, embora ainda sente a estranheza no comportamento de Paulo.

 

JANA

- Vá bem, então, vambora.

 

CENA 08/ EXT/ PLANO GERAL 

Uma vista panorâmica de Salvador se revela. Podemos ver o brilho das luzes em bairros como Pelourinho, Barra, Ondina, e Rio Vermelho. A transição começa a acontecer lentamente, e a tela vai se clareando gradualmente à medida que o sol começa a surgir no horizonte. 

 

CENA 09/ INT/ CASA DOS SIQUEIRAS/ SALA DAS REFEIÇÕES/ DIA 

A mesa está posta com o café da manhã. Rebeca está sentada, comendo seu pão e tomando seu leite. Moisés está sentado na ponta da mesa, enquanto Raimunda em pé, servindo-o. Moisés prova o café e faz uma expressão de desagrado.

 

MOISÉS

(hesitante)

- Humm! 

RAIMUNDA

- O que foi? 

MOISÉS

(recriminando)

- Oh Raimunda! Pelo o amor do nosso Senhor Jesus Cristo, esse café tá frio. E que pão muxibento é esse? 

 RAIMUNDA

- Essa garrafa deve tá com defeito, fiz esse café agora pouco. Vou passar outro pro cê. 

MOISÉS

- Deixe, deixe! Eu tomo um café na rua, dá tempo de fazer outro não. Nunca faz nada direito, né mesmo.  E você Rebeca já tá pronta? Vou deixar ela na escola, depois vou passar na casa do irmão Osvaldo. Ele pediu pra que eu fosse lá fazer uma oração para a mulher dele que tá doente. 

RAIMUNDA

- Vai lá, filha, pegar sua mochila. 

REBECA

- Mas eu nem terminei meu leitinho ainda, mainha! 

RAIMUNDA

- Vou colocar um lanchinho bem gostoso na sua mochila, viu. Vá minha filha, vá ligeiro buscar suas coisas. O seu painho tá sem tempo.

 

Rebeca se levanta e vai buscar suas coisas, enquanto Raimunda arruma a mesa e prepara um lanche para a filha.

 

 

RAIMUNDA

- Eu também vou sair, viu Moisés. 

MOISÉS

- E ondé que cê vai? 

RAIMUNDA

- Vou trás de Laura. Não tá certo, Moisés, eu ficar aqui de braços cruzados sem nem saber onde minha filha tá. 

MOISÉS

- Humm, mas a culpa é sua, tá sabendo? Que nunca colocou cabresto nessa menina. Pois bem, já até esqueci que tenho outra filha.

 

Raimunda para por um instante olhando para Moisés. Depois se aproxima dele.

 

RAIMUNDA

- Meu amor, cê é um pastor da igreja, né. Deus não deve se alegrar em ver você largando a sua filha assim pelo o mundo. A Laura é uma missão que Deus nos confiou, não podemos largá-la assim. 

MOISÉS

- Eu não larguei ninguém, quem largou foi ela. Largou o conforto da casa dos pais para se perambular pelo o mundo. A sua filha é uma perdida na vida, se deleita com o pecado. Esqueceu de todos os ensinamentos que nós passamos. Mas cê tá certa, viu. Talvez essa seja a minha cruz. Me espere chegar que irei contigo procurar por Laura. 

RAIMUNDA

- Não Moisés. Conheço bem Laura, ela não vai querer voltar pra casa se cê for junto. 

MOISÉS

- Cê sempre passou demais a mão na cabeça dessa menina. Essa que é a verdade. 

RAIMUNDA

- Oh varão, deixa eu tentar convencer ela voltar pra casa, deixe? Eu sozinha, é bem melhor. Já sei exatamente onde que posso encontrar ela. No Central. Isso é, se ela ainda tiver indo pra as aulas, né mesmo. 

MOISÉS

 - Eu me pergunto meu Deus: Que pecado eu cometi para ele me dá uma filha tão rebelde como essa?... Vai lá, então, e trás nossa filha de volta. Agora ver se não demora muito, tá Raimunda. E trate de caprichar mais no almoço. De uns tempos pra cá cê tá errando a mão, tá me saindo uma péssima cozinheira. 

RAIMUNDA

- Se Deus nos deu uma filha complicada e porque ele sabe que somos capazes de cuidar dela. Deus só dá a cruz conforme a nossa capacidade de carregar. Pode deixar meu varão, vou fazer uma comida bem no capricho pro cê.

 

CORTA PARA: 

CENA 10/ INT/ CENTRAL/ PÁTIO/ DIA 

Giovana está sentada em um banco no pátio, ajeitando os seus livros. Quando ver Laura passando apressada em sua frente. Ela se levanta e vai atrás da amiga.

 

GIOVANA

(ao ver Laura)

- Laura! O que houve cê sumiu? Oxente fiquei aperriada, te liguei várias vezes cê não atendeu? 

LAURA

- Eu havia desligado o meu telefone. 

GIOVANA

- Mas que aconteceu? Cê tá bem? A última vez que a gente se viu cê tava se sentindo mal.

 

Laura olha para um lado e para o outro e confessa a Giovana.

 

LAURA

- Cê sabe guardar segredo? 

GIOVANA

(confusa)

- Claro, pois fale. 

LAURA

- Sabe por que eu tava me sentindo mal? Porque eu tava grávida, Giovana. 

GIOVANA

(pasma)

- Ave Maria, Laura! E o pai dessa criança, quem é?

(lembrando)

- Ah, já sei é aquele carinha misterioso que cê disse que tava se envolvendo, né mesmo?  

LAURA

- Ele mesmo. Aquela desgraça virou as costas quando soube que eu tava prenha. 

GIOVANA

- Virgem Maria. Mas e agora? Como cê vai fazer para contar isso para os seus pais? 

LAURA

- Os meus pais vão saber disso, mas é nunca. Tá sabendo? Aqueles dali são da pré-história nunca vão entender o que fiz. 

GIOVANA

- Oh minha linda, em algum momento eles vão descobrir, né. Sua barriga vai crescer. 

LAURA

- Cê não entendeu nada, né Giovana? Eu tava grávida, não tô mais. Tomei remédio e abortei o filho que eu tava esperando. 

GIOVANA

(chocada)

- Por Deus, Laura isso pode ser perigoso. Já ouvi falar de meninas que morreram ao fazer isso. 

LAURA

- E não sei disso. Foi o que quase me aconteceu. Tive um efeito colateral muito forte, quase morri. Mas não tinha condições nenhuma de eu ter esse filho. Imagina como o meus pais agiriam. Com o cabrunco que me engravidou eu não poderia contar jamais, né. Não tive escolha, foi o melhor a ser feito. 

GIOVANA

- É barril, viu. Tô aqui em choque, não sei nem o que dizer. 

LAURA

- Mas cê me entende, né? Infelizmente no nosso país o aborto não é legalizado. Não temos nenhum acompanhamento médico para esse tipo de coisa.

 

O sinal soa avisando que já está na hora de entrar para a sala.

 

GIOVANA

- Precisamos voltar pra sala. 

LAURA

- Giovana, nem é preciso dizer que essa história deve se amoitar, né mesmo? 

GIOVANA

- É niuma, fique tranquila. Digo nada a ninguém não, viu. 

 

CENA 11/ INT/CASA DA JANA/ SALA/ DIA

Jana e Paulo chegam em casa, exaustos. Jana, cansada, dirige-se ao sofá e senta-se, aliviando os pés ao tirar os sapatos. Enquanto isso, Paulo se dirige ao barzinho e serve um copo de uísque. 

 

JANA

(suspirando)

- Clima de delegacia é sempre tenso, não é. 

 

Paulo dá um gole em seu uísque, sua expressão está carregada de raiva e determinação. 


PAULO

- Tomara que eles encontrem logo o bandido que fez isso com você. Porque te digo uma coisa, se eu encontrar ele, sou capaz de matá-lo com as próprias mãos. 

JANA

- Oxe, ó pai. Não digue besteira, homem! Aí cê que vai ser preso não ele. 

PAULO

- Não entendi. Eles já não haviam feito esse exame de corpo de delito ontem, quando cê foi na delegacia com seu pai? 

JANA

- Fizeram não. Disseram que não havia nenhum médico legista de plantão. Cê que acha? Por isso que nem tomei banho, fui assim como tava. 

PAULO

- É difícil pra mim, não sabe. Ter que ver um médico te tocando. 

JANA

- O que é, Paulo? Como cê queria que ele me examinasse, me diga? 

PAULO

- E não poderia ser uma médica? Tinha que ser um homem? 

JANA

- Oh meu amor, eu não escolhi isso, né. Se pra você é desconfortável ver, imagine pra mim, tá ali naquela situação. 

PAULO

- Vá bem, desculpe... É que fico furioso só de imaginar que há um homem te tocando. Como esse filho da desgraça que abusou de você.

 

Jana se aproxima de Paulo, segura o copo de uísque em suas mãos e o beija carinhosamente, buscando confortá-lo.

 

JANA

- O bandido que fez isso comigo vai pagar, tenho fé que a polícia vai achar ele. Agora vou tomar um banho e tirar essa catinga do meu corpo. Depois acho que vou deitar um pouco, tô muito cansada.

 

Jana caminha em direção ao banheiro, deixando Paulo refletindo sobre tudo o que aconteceu.

 

CENA 12/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA 

Cássia estava sozinha na recepção preenchendo algumas fichas no computador. Beatriz foi chegando acompanhada de Mauricio, um homem de cerca de 30 anos.

 

BEATRIZ

- Bom dia! 

CÁSSIA

- Bom dia doutora! 

BEATRIZ

- E Jana, cadê? 

CÁSSIA

- Jana ligou dizendo que não poderia vir trabalhar hoje. Cê credita que ela foi violentada ontem, no ponto enquanto esperava o ônibus para ir embora? 

BEATRIZ

(incrédula)

- Vale-me Deus, como assim violentada? 

CÁSSIA

- Ela sofreu um estupro, Dra. Beatriz. 

MAURÍCIO

- Salvador tá se tornando cada vez mais violenta. 

BEATRIZ

- Demais. Oh gente, Jana deve tá arrasada, hein.

(se tocando)

- Nem lhe apresentei. Esse aqui é Dr. Maurício, ele também é ginecologista e vai trabalhar aqui conosco. 

MAURÍCIO

(estendendo a mão para Cássia)

- Prazer! 

CÁSSIA

(encantada)

- O Prazer é todo meu. Seja bem-vindo, doutor. 

BEATRIZ

- Cês poderão conversar melhor mais tarde, viu. Maurício, venha, vou lhe mostrar o resto da clínica. 

CÁSSIA

(depois que os dois saem)

- Que delicinha hein! Acho que tô precisando fazer uns exames ginecológicos. 

 

CENA 13/ EXT/ CENTRAL/ PORTÃO/ DIA 

Laura e Giovana caminham em direção ao portão do colégio, continuando a conversa. 

 

GIOVANA

- Procure se alimentar direito Laura, beber muita água. Como cê mesma disse, cê perdeu muito sangue, né. 

LAURA

- Tô me alimentando direitinho. 

RAIMUNDA

(se aproximando)

- Laura! 

LAURA

- Mainha! 

GIOVANA

- Tudo bem, dona Raimunda? 

RAIMUNDA

- Tô bem sim, com a glória de Deus. E cê, Giovana? 

GIOVANA

- Também tô bem. 

RAIMUNDA

- Tem que aparecer na igreja, viu. Deus tem uma missão pro cê. 

GIOVANA

- Qualquer dia apareço lá. Oh nega, tô indo nessa, viu. Já sabe, né? Qualquer coisa me liga. 

LAURA

- Oh bem, obrigada! 

RAIMUNDA

(após Giovana sair)

- Estive tão preocupada com cê, filha. Cê desligou o telefone, não quis mais falar comigo. 

LAURA

- Desculpe mainha, eu precisava ficar um tiquinho sozinha. 

RAIMUNDA

- Filha ondé que cê tá morando? Seja sincera com mainha. É na casa de algum namoradinho, é? Diga aí, vá. Quero ir lá conhecer esse rapaz. 

LAURA

- Tô ficando na casa de uma amiga. E prefiro que a senhora nem saiba onde é, viu. Venha, vamos sentar ali pra gente conversar melhor. 

 

As duas se dirigem a um banco sob uma árvore e continuam a conversa, sentadas.

  

LAURA

- Olhe minha mãe, eu sei que a senhora me ver como a ovelha negra da família. Só que não é bem assim não, viu? Tô lutando em uma luta que deveria ser nossa, de todas nós mulheres. É uma luta contra o machismo, em favor dos nossos direitos. Veja bem minha mãe,  mulher não tem que ser submissa, a mulher não tem que se rebaixar ao homem, a mulher pode ser o que ela quiser. Tá me entendendo? E eu quero ser livre, quero viver a minha vida da forma que eu quiser. Quero usar roupa curta se eu achar bonito, quero usar roupa longa se eu julgar necessário, quero cortar o meu cabelo, pintar as unhas, fazer uma tatuagem, colocar piercings. E não seguir uma linha imposta por uma sociedade machista e misógina.  

RAIMUNDA

- Pelo o amor de Deus minha filha não fale absurdo, desde o principio Deus criou a mulher para servir ao homem. Cê tem que ter mais conhecimento da palavra. 

LAURA

- Senhora que tá falando absurdo, minha mãe. Não somos inferiores aos homens, somos iguais a eles. Porque diacho temos que servi-lo? 

RAIMUNDA

- Oxente Laura, porque é assim que quis o nosso Deus, né mesmo. Quem somos nós para irmos contra a vontade do Senhor? 

LAURA

- Francamente é impossível ter uma conversa sensata com a senhora.

 

Laura levanta-se, pega sua mochila e sai. Deixando Raimunda sozinha.

 

RAIMUNDA

 (chamando)

- Laura! Oh filha, volta aqui!

 

 

CENA 14/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DE MAURÍCIO/ DIA

Depois de apresentar toda a clínica para Maurício, Beatriz o leva até a sua sala para que ele conhecesse o seu local de trabalho.

 

BEATRIZ

(entrando na sala)

- Bem, agora que você já conheceu toda a clínica. Quero lhe apresentar a sua sala, ne. Espero que possamos fazer um bom trabalho aqui. 

MAURÍCIO

- Tenho certeza que faremos... Agora, cê sabe o motivo que eu quis tanto vim pra cá. Não sabe? 

BEATRIZ

- Maurício a gente já conversou sobre isso, né. Tivemos momentos bons, momentos incríveis. Mas foi apenas um caso, não tô interessada em me envolver seriamente com ninguém agora. 

MAURÍCIO

- Mas pra mim não foi só um caso, viu. Foi especial, foi diferente, foi único. Eu queria muito ter algo mais sério contigo. 

BEATRIZ

- Você é um cara sensacional, bonito, inteligente, bacana... E qualquer mulher amaria lhe ter como companheiro. Mas pra mim não dá. 

MAURÍCIO

- Oxe, mas do que cê tem medo, me diga? 

BEATRIZ

- Tenho medo de nada não, meu bem. Mas entenda, eu gosto de ficar sozinha... Obrigada por ter aceitado o meu convite e ter vindo trabalhar aqui na clínica. Mas não misture as coisas, viu?

(se retirando)

- Agora deixa cuidar que tem muito trabalho pra fazer.  Qualquer coisa pode me chamar. 

 

MAURÍCIO, médico ginecologista de 30 anos, romântico, inteligente, simpático e sensível. Ele possui uma aparência atraente, com traços harmoniosos e expressivos. Seus olhos são castanhos e seus cabelos escuros, geralmente bem arrumados e levemente bagunçados.

 

CENA 15/ EXT/ PLANO GERAL

Sob o sol escaldante do meio-dia, a cena se desloca para o pitoresco bairro de Brotas em Salvador. O Dique do Tororó brilha à distância, suas águas tranquilas refletindo as estátuas imponentes dos orixás e a atividade animada que pulsa ao seu redor.

 

CORTA PARA: 

CENA 16/ CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ TARDE        

Paulo está sentado no sofá assistindo TV, Jana vem se aproximando e senta ao seu lado.

 

JANA

(chegando)

- Oxe homem, cê não foi trabalhar, é? 

PAULO

- Eu preferi ficar em casa com cê. 

JANA

(dando um beijo em Paulo)

- Que bom meu amor!... Cé credita que já tomei dois banhos, mas mesmo assim me sinto suja?

(com nojo)

- Ainda sinto aquelas mãos nojentas me tocando, arrancando a minha roupa a força, o cheiro dele impregnado em minha pele... 

PAULO

(incomodado)

- Chegue Jana! 

JANA

- Que foi, nego? 

PAULO

- Você já contou o que aconteceu. Não precisa ficar entrando em detalhes o tempo todo. O tempo todo falando sobre como ele te pegou, como te agarrou, o que cê sentiu. Deixe a polícia cuidar disso, viu. Porque se você continuar falando desse assunto, eu mesmo vou atrás dessa desgraça, e se eu encontrar ele, a coisa não vai prestar, né. 

JANA

- Desculpe. Vou procurar esquecer isso, tá certo?... Mas é que esse tipo de coisa marca a vida de uma mulher, não sabe? 

PAULO

- Sei, eu lhe entendo. Mas se você ficar relembrando isso só vai ficar cutucando uma ferida que deve ser cicatrizada. 

JANA

- Cê tá mais do que certo.

 (animando)

- Vamos falar de coisa boa? Da nossa filha, por exemplo. 

PAULO

(sem entender)

- Que filha? 

JANA

- Oxente, da menina que tamos pensando em adotar. 

PAULO

- Ah sim, que cabeça a minha. 

JANA

- E então, quando vamos lá no orfanato conhecer a nossa filha? 

PAULO

- Quando cê quiser. 

JANA

- Por mim a gente iria hoje mesmo. Que cê acha? Preciso me distrair, ver coisas boas. 

PAULO

- Acho ótimo, vamos nos arrumar e ir lá então. 

JANA

(se alegrando)

- Sério? Tô nem acreditando que vou conhecer a minha filhota.

 

CENA 17/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ ESCRITÓRIO/TARDE 

Genivaldo é arquiteto, e o seu escritório é organizado e repleto de desenhos, plantas e projetos arquitetônicos. Ele está sentado à mesa, cuidadosamente desenhando uma planta de um projeto em que está trabalhando. Giovana entra no escritório segurando duas xícaras de café, uma para ela e outra para seu pai. Ao ver a planta desenhada pelo pai, Giovana fica impressionada e expressa sua admiração.

 

GIOVANA

(entregando uma das xícaras para o pai)

- Ó paí, que lindo viu. Eu adoraria ter uma casa assim.

 

Ele olha para a planta desenhada por ele e sorri ao ver a admiração de sua filha.

 

GENIVALDO

(recebendo a xícara de Giovana)

- Que bom que cê gostou, filha. E aí conseguiu conversar com sua amiga?

 

Genivaldo prova o café e colocou-o sobre a mesa ao lado do seu desenho.

 

GIOVANA

- Sim. E realmente ela tava passando por um problema, viu meu pai. E acabou resolvendo esse problema de uma forma bem radical. Que sinceramente talvez eu não concorde muito. 

GENIVALDO

- Às vezes, as pessoas procuram resolver os problemas da forma mais fácil que pareça, mesmo que nem sempre seja a maneira mais sensata. 

GIOVANA

- Ave maria, até parece que o senhor já sabe de quê se trata o problema! 

GENIVALDO

- Pra resolver um problema é sempre a mesma receita, né. A primeira coisa a ser feita é encarar ele de frente. Foi isso que a sua amiga fez? 

GIOVANA

- Olhe painho, não sei se ela encarou ou fugiu do problema. O que sei é que o que ela fez poderia lhe trazer outros problemas mais sérios ainda. 

GENIVALDO

- Eu não vou lhe perguntar qual o problema da sua amiga, porque seria antiético da minha parte. Se ela lhe contou é porque confiou em você. Eu também confio em você minha filha, e sei que cê vai procurar a melhor forma de poder ajudá-la. 

GIOVANA

- Quando eu crescer quero ser igual o senhor, não sabe.

(beijando Genivaldo)

- Cê é o melhor pai do mundo, rei... É tão difícil as vezes a gente poder ajudar as pessoas, né. A Laura tá indo por um caminho perigoso, eu tenho medo que ela enfia os pés pelas as mãos e acaba fazendo ainda mais besteira. 

GENIVALDO

- Não se sinta culpada daquilo que cê não pode fazer nada, viu. Faça o melhor que puder, da melhor forma que puder. Mas não se culpe por aquilo que foge do seu alcance.

 

Genivaldo dá seu último gole e entrega a xícara para a filha.

 

GENIVALDO

- Obrigado pelo o café, minha linda. 

 

Genivaldo encerra a cena, retomando o trabalho em seus projetos, enquanto Giovana se prepara para sair do escritório, levando a xícara vazia consigo. Eles se despedem com um olhar carinhoso. 

 

CENA 18/ ORFANATO/ PÁTIO/ TARDE 

O pátio do orfanato é um lugar alegre e colorido, com crianças brincando e correndo. Jana e Paulo caminham pelo local, acompanhados pela diretora responsável pelo orfanato. A diretora os guia, mostrando as instalações e apresentando algumas das crianças ao casal. Os olhos de Jana se enchem de emoção ao se aproximar de cada criança ali presente. Jana se aproxima de uma criança que brinca com um balão, e seus olhos se encontram com os dela.

 

JANA

(com ternura)

- Olá, minha linda. Como cê se chama?

 

A criança sorri timidamente.

 

CRIANÇA

(suavemente)

- Meu nome é Sofia.

 

Jana estende a mão para Sofia, que a segura com confiança.

 

JANA

(encantada)

- Sofia, é um prazer lhe conhecer, viu.

(suspirando, com os olhos marejados)

- É uma criança mais linda que a outra. A vontade que tenho é de levar todos para casa.

 

PAULO

- Mas infelizmente não temos condições para isso, né meu amor. 

DIRETORA

- Realmente são crianças adoráveis. Se vocês tiverem interesse em adotar, já temos aqui conosco a lista de documentos exigidos pela a vara da infância e da juventude. Cês podem preencher o cadastro aqui mesmo que já encaminhamos para lá. 

JANA

- Me diga uma  coisa, o processo para a adoção demora muito? 

DIRETORA

- Varia. Isso depende de cada casal, né mesmo? Das entrevistas, do curso de preparação, das visitas da assistência social, do perfil de cada candidato. O processo todo dura na faixa de mais ou menos um ano. 

JANA

(abismada)

-Ave Maria! Dura esse tempo todo? 

DIRETORA

- Sim, pois temos que ter certeza que a criança vai ter um lar adequado para lhe receber, né.

 

Jana reflete por um momento e toma uma decisão determinada.

 

JANA

- Entendo... Pois eu quero dá entrada nesse processo, viu. Quero seguir tudo nos conformes para poder ter a minha filhinha. 

DIRETORA

- Tá certo então. Vou lá pegar pra vocês a lista da documentação. Com licença! 

 

A diretora se afasta brevemente indo buscar os documentos, deixando Jana e Paulo cheios de expectativa e ansiedade.

 

CENA 19/ EXT/ PLANO GERAL 

Sob uma trilha sonora animada, o sol se põe sobre a Baía de Todos os Santos, O letreiro "Dois meses depois" surge delicadamente centralizado na tela, revelando a passagem do tempo. A CAM percorre Salvador: surfistas na Praia do Farol da Barra, fachadas coloridas do Pelourinho, fitas na Igreja do Bonfim e praias tranquilas em Itaparica. A Catedral Basílica domina a Praça da Sé. A noite traz capoeira, dança axé e alegria. Um novo amanhecer revela ruas tranquilas e a promessa de um novo começo para Salvador. 

 

CENA 20/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA 

Jana e Cássia estão na recepção cuidando dos seus trabalhos. Jana não se contém de ansiedade, contando cada minuto na expectativa de poder ter a sua filha em casa.

 

JANA

(inquieta)

- Tô tão ansiosa viu Cássia com esse processo de adoção. O chato que são tantas etapas. Já fizemos cursos, participamos de palestras e ainda tem um processo longo pela a frente. 

CÁSSIA

(compreensiva)

- Mas é assim mesmo, nega. Eles precisam ter certeza que cês tão preparados, né mesmo?... 

JANA

(ofegante)

- Ave Maria, esse enjoo de novo. Não aguento mais isso, minha boca chega tá amarga.

 

Jana pressiona a barriga com uma mão, enquanto com a outra tranca a boca, no intuito de conter o vômito.

 

JANA

(parecendo melhor)

- Parece que tá passando. Oxente! Que será que comi que tá me fazendo tão mal?

 

Cássia fica desconfiada e para por um momento, apenas observando a amiga.

 

CÁSSIA

(com uma ponta de suspeita)

 - Eu tenho notado isso ultimamente, viu... Oh Jana venha cá, será que cê não tá grávida? 

JANA

(surpresa)

- Impossível, né Cássia. Oh meu pai, isso seria até um sonho. Mas cê esqueceu que Paulo é estéril?

 

Jana pega sua bolsa e começa a procurar por um remédio.

 

JANA

- Tem um Dramin aqui na minha bolsa. Vou tomar um pouco pra ver se o enjoo não volta, né. 

CÁSSIA

(segurando o braço de Jana)

- Te acalme, viu! Presta atenção em mim aqui...

 

Jana olha para Cássia, atenta.

 

CÁSSIA

(séria)

- Jana, cê sofreu um abuso, lembra? Depois de tanto tratamento hormonal que cê fez para engravidar, não seria impossível cê tá de barriga agora, viu. 

JANA

(percebendo)

- Ave Maria, Cássia!... Não! Oh meu Senhor do Bonfim será que isso é verdade? 

CÁSSIA

(resoluta)

- Só tem uma maneira da gente saber, né. Vamos fazer um teste de gravidez.

 

Corta para momentos depois, Jana sai do banheiro segurando o teste em suas mãos, seu olhar carregado de apreensão.

 

 

CÁSSIA

(ansiosa)

- E então, diga aí? 

JANA

(emocionada)

- Deu positivo. Tô grávida, Cássia.

 

 


 

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