JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
MACIEL
RATO
CÁSSIA
MAURÍCIO
BEATRIZ
JORGE
ROSENO
VALDOMIRO
OSVALDO
Participação Especial:
POLICIAIS, PACIENTE de Maurício
CENA 01/ EXT/ RUA/
NOITE
Maciel sai de sua casa sendo conduzido pela
polícia até o carro, mas sem algemas. Laura e Moisés seguem logo atrás. Moisés
ajuda Laura a entrar em seu carro e os dois saem rapidamente, logo atrás do
camburão da polícia. Ao longe, Rato observa toda a cena com preocupação. Ele se
esconde nas sombras, tentando passar despercebido enquanto acompanhava a ação
policial.
RATO
(murmurando para si mesmo)
- A casa caiu pro maluco, sempre falei que essa nega era
encrenca. Só espero que ele não fode com nosso negócio, viu?
Rato permanece nas sombras, observando
atentamente, enquanto o carro da polícia se afasta e desaparece na noite. Sua
expressão revela tensão e incerteza, com medo de Maciel abrir a boca e entregar
o tráfico com os queijos.
CENA 02/ EXT/
RUA/ EM FRENTE A CLÍNICA BIO IN VITRO/ NOITE
Jorge está dentro de seu carro, parado em
frente à clínica de Beatriz, mas mantendo uma distância considerável. Ele
observa atentamente a entrada da clínica, aguardando a saída de Beatriz. Após
algum tempo, Beatriz sai da clínica e se dirige ao seu carro. Jorge permanece
observando-a de longe, determinado a seguir seus passos.
CENA 03/
INT/ CARRO DE JORGE/ NOITE
Jorge está inquieto, com os olhos fixos no
carro de Beatriz. Ele mantém uma distância segura enquanto a segue.
CENA 04/
INT/ CARRO DE BEATRIZ/ NOITE
Beatriz, ao volante, arruma seu cabelo com a
mão e dá uma rápida olhada na maquiagem pelo retrovisor.
CENA 05/ EXT/
RUA/ NOITE
Beatriz se aproxima de um homem que está parado
na calçada, mexendo no celular. Ao vê-la, ele sorri, e os dois se cumprimentam
com um beijo. Jorge fica incomodado ao presenciar essa cena, mas continua
observando de longe. Beatriz e o homem riem, demonstrando intimidade, e ele
entra no carro dela. Os carros continuam em movimento, e Jorge os seguem.
Conforme se aproximam de um motel, Jorge fica ainda mais indignado e magoado.
Os carros estacionam e Beatriz e o homem saem do veículo, adentrando o motel.
Jorge, ainda dentro de seu carro, observa tudo com os olhos marejados de
lágrimas.
CENA 06/ INT/
CASA DO MOISÉS/ NOITE
Osvaldo e Kaleb estão sentados juntos em um
sofá. Raimunda está sentada em outro sofá de frente para eles. Rebeca está
sentada ao lado de Raimunda, segurando uma boneca. Moisés entra arrastando Laura,
que está possuída de raiva em relação ao pai. Moisés segura Laura pelo braço e
cabelo, exibindo um controle agressivo sobre ela. Laura está com expressão de
raiva e tristeza, chorando intensamente.
LAURA
- Eu lhe odeio, viu meu pai!
(gritando)
- Eu lhe odeio!
MOISÉS
- Com ódio, ou sem ódio sou seu pai. Está escrito na palavra,
“honra teu pai e tua mãe”. Essa é sua casa e não aquele lugar de pecado onde cê
tava.
RAIMUNDA
(implorando, aflita)
- Moisés pelo o amor de Deus!
Raimunda se aproxima e abraçou Laura, tentando
acalmar a situação.
OSVALDO
- O Senhor tá certo, Pastor Moisés. Está na palavra de Deus.
Devemos disciplinar nossos filhos. Se o castigarmos com a vara, ele não morrerá.
Deus disse: "Castigue-o, cê mesmo, com a vara, e assim o livrará da
sepultura”.
LAURA
(estranhando)
- O que é isso, hein? Que esses dois tão fazendo aqui?
KALEB
- Oi, Laura! Precisamos conversar. Tenho certeza de que, se cê
me conhecer melhor...
LAURA
(interrompe com ódio)
- Já lhe conheço o suficiente, e não gosto nem um tiquinho do cê.
(rindo)
- Não acha humilhante ter que forçar uma mulher pra poder se
casar?
Moisés intervém puxando o braço de Laura.
MOISÉS
- Respeite seu futuro marido!
RAIMUNDA
- Moisés se acalme! Pelo o amor de Deus!
LAURA
- Não vou me casar com esse cara, mas é nunca.
RAIMUNDA
(consolando a filha)
- Ninguém vai lhe obrigar a nada meu amor. Eles tão aqui apenas
para conversar com cê, viu?
LAURA
- Conversar? E desde quando o ogro do meu pai sabe conversar?
Rebeca, ingenuamente interrompe.
REBECA
- Painho é o Shrek?
RAIMUNDA
- Rebeca minha linda, vá pro seu quarto, vá!
REBECA
- Mas foi Laura que falou que painho é ogro. O Shrek que é ogro.
MOISÉS
(alterando a voz)
- Oxente! Vá pro seu quarto agora que tô lhe mandando!
Rebeca arregala os olhos com medo e corre para
o quarto.
MOISÉS
(puxa Laura com violência)
- E cê garota, também vá para o seu quarto. Eu não admito
desrespeito. Vai ficar trancada lá até aprender a me respeitar.
Moisés arrasta Laura para o quarto, fechando a
porta com força. O clima tenso e repleto de conflitos paira na casa enquanto
Raimunda chora, Osvaldo e Kaleb permanecem em silêncio, cientes da situação
delicada.
CENA 07/ INT/
CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Jana entra em casa e imediatamente percebe a ausência
de Giovana. Ela coloca as chaves em cima de um móvel, deixa a bolsa sobre o
sofá e começa a procurar pela irmã.
JANA
(chamando)
- Gih! Giovana cê tá aí?
Ela verifica os outros cômodos, procurando por
algum sinal de Giovana.
JANA
(falando sozinha)
- Oxe, estranho, ela não me disse nada sobre sair.
Jana se aproxima da bolsa, pega o celular e faz
uma ligação.
CENA 08/ INT/
CASA DOS FERNANDES/ QUARTO DA GIOVANA/ NOITE
Giovana estava ao telefone.
GIOVANA
- Oi Jana! Mainha viu nossa foto no jornal, por conta daquele
protesto que a gente esteve. E daí cê já conhece, né? Ela foi aí e me obrigou a
vim pra cá. Preferi não contrariá-la, pra coisa não ficar pior, né mesmo? Mas
olhe, qualquer coisa, cê liga pra gente, viu?
JANA
(off)
- Fique tranquila, ligarei sim. Só fiquei preocupada por que não
lhe vi aqui. Tenha uma boa noite minha linda!
GIOVANA
- Cê também! Boa noite!
Giovana desliga o telefone e, nesse momento,
Eliete entra no quarto.
ELIETE
- Era Janaína, né?
GIOVANA
- Sim. Ela ficou preocupada né? Não me encontrou em casa.
ELIETE
- Eu acho impressionante as artimanhas que o diabo usa para
seduzir as pessoas. Oh filha, cê sabe que sua irmã é uma perdida e tá lhe
influenciando pelo caminho do mal. Olhe só donde cês foram parar, no meio da
rua com um bando de mulheres mostrando os seios.
GIOVANA
- Aquilo foi um protesto feminista, minha mãe! E outra, não foi Jana
que me levou não, viu? Fui eu que a levei.
ELIETE
(abismada)
- Misericórdia! Isso torna a situação ainda mais grave minha filha. Giovana,
meu amor. O pecado tá lhe envolvendo e cê tá se deixando levar por ele.
(enfatizando)
- Eu vejo o diabo rindo da sua cara. Um monte de demônios ao redor
zombando de cê.
Eliete começa a fazer orações em língua,
deixando Giovana assustada.
ELIETE
(continuando)
- Cê vai comigo pra igreja! Assim como cê fazia quando era pequena.
GIOVANA
- Mainha, por favor!
ELIETE
- Não discuta, Giovana. Não vou permitir que o inimigo vença
essa batalha. Tá decidido, a partir de amanhã cê voltará a ir aos cultos
comigo.
CENA 09/ INT/
DELEGACIA/ SALA DE ESPERA/ NOITE
Maciel está sentado na sala de espera,
claramente aborrecido. Neste momento, Rato e Valdomiro entram na sala. Valdomiro
está vestido com um terno e gravata, o que deixa Maciel surpreso e confuso.
Valdomiro só dá uma olhada e segue em direção à sala do delegado, enquanto Rato
se aproxima de Maciel puxando conversa.
RATO
- E aí, rei? Dá ideia, o que tu aprontou, hein?
MACIEL
- Não aprontei nada, não viu? É aquele doente fanático do pai de
Laura... Mas venha cá, me diga uma coisa. Que novidade é essa aí, hein? Seu
Valdomiro de terno e gravata?
RATO
- Tá sabendo não, né? Seu Valdomiro é advogado, meu brother. Ele
foi lá conversar com o delegado pra tentar aliviar sua barra... Agora Maciel,
deixa eu lhe dá a real. Tu tá dando muita moral pra essa mina, e ela vai lhe ferrar.
MACIEL
- Eu amo Laura, Rato. E não vai ser o pai dela que vai nos
afastar. Eu vou dá um jeito de raptá-la. Ela me falou que ele tá querendo casar
ela a força, com um Zé roela aí da igreja deles. Mas isso não vou deixar não,
viu?
RATO
- Olha bicho tu é pau no cu, muito vacilão. Tá me entendendo?...
Rato faz uma pausa, olhando ao redor para ter
certeza de que ninguém estava ouvindo.
RATO
- Te liga só! Vamo ganhar muito dinheiro, mano véi. A parada do
queijo tá bombando. Vai entrar grana boa aí, se apega em nega nenhuma não, que lhe
atrasa. Tô aqui lhe dando a real. Sacou?
MACIEL
- Acho que tu que não sacou, viu? Não vou desistir de Laura.
RATO
- Tá certo, tá tudo certinho, então né? Quer se lascar? Se
lasque. Só espero que não ferra com o nosso esquema. Porque senão meu brother,
o lero vai ser outro. Não tô dando duro, pra um zé ruela qualquer colocar tudo
a perder por causa de mulher.
CENA 10/ INT/
CASA DO MOISÉS/ QUARTO DA LAURA/ NOITE
Raimunda e Laura estão sentadas na cama. Laura
está chorando, com os olhos vermelhos e a voz trêmula. A sua mãe ao lado
tentando consola-la.
LAURA
- Quem painho pensa que é pra controlar a minha vida desse
jeito? Não vou me casar com Kaleb, vou fugir com Maciel. Vou pra bem longe, pra
nunca mais ele saber nem que existo.
Raimunda olha preocupada para Laura, tentando
encontrar palavras de consolo.
RAIMUNDA
- Oh filha, fala isso não, viu? Pensa em mim também. Como cê acha que vou ficar
longe de cê?
Laura se levanta da cama e começa a andar pelo
quarto, visivelmente frustrada.
LAURA
- Francamente mainha, não consigo lhe entender, viu? Esse seu
jeito metódico de ser. Painho nem lhe ver mais como mulher. Ele lhe trata como
se a senhora fosse, sei lá, uma governanta. Alguém que tivesse a obrigação de
cuidar das coisas da casa, pra que tudo saia do jeito que ele quer. E a senhora
só fala, “sim senhor”, “pode deixar senhor”, “tá tudo do seu agrado meu senhor?”.
Raimunda se aproxima de Laura, tentando
acalmá-la.
RAIMUNDA
- Oh meu amor, é porque cê não conhece a palavra direito, né? Deus fala que o
homem é a cabeça da mulher, assim como Cristo é a cabeça da igreja.
Laura para de andar e encara a mãe, com uma
expressão de descrença.
LAURA
- Pois minha cabeça tá muito bem em cima do meu pescoço. Homem
nenhum mandará em mim.
RAIMUNDA
- Laura... E se cê conversar com esse rapaz? Pede pra ele
aceitar Jesus. Ele se batiza nas águas e cês dois se casam. Dessa forma seu pai
pode aceitá-lo.
Laura suspira e balança a cabeça negativamente.
LAURA
- Maciel é ateu, mainha. Ele não acredita na existência de
nenhum deus.
Raimunda fica surpresa e abismada com a
revelação e demonstrou preocupação.
RAIMUNDA
- Misericórdia minha filha!
Então, cê tem que se afastar desse garoto. Laura, pelo o amor de nosso
Senhor! O Kaleb é um bom rapaz, cês quando eram criança se davam tão bem. Cê
vai aprender gostar dele como seu marido.
LAURA
- Fora de cogitação. Sabe quando eu e Kaleb vamos nos dá bem? Mas
é nunca! Meu homem é Maciel, tá sabendo?
CENA 11/ INT/
DELEGACIA/ SALA DE ESPERA/ NOITE
Maciel está sentado na sala de espera da
delegacia, ao lado de Rato. Ele está visivelmente tenso e preocupado, olhando
ao redor, observando as pessoas presentes. Valdomiro se aproxima com uma
expressão séria.
MACIEL
- E então? Dá ideia, diga logo aí? Já posso ir embora?
Valdomiro lança um olhar para Rato e depois
volta sua atenção para Maciel, mantendo a expressão séria.
VALDOMIRO
- Cê é um tremendo vacilão. E tenho aqui uma ideia séria pro cê.
Fique longe dessa garota e de qualquer outra garota chave de cadeia. Não
podemos chamar atenção agora.
Rato concorda com um aceno de cabeça,
reforçando o que Valdomiro disse.
RATO
- É isso mesmo, Maciel. Sempre falo a mesma coisa para ele.
MACIEL
(inquieto)
- Mas o senhor não me respondeu. Posso ir embora ou não?
Valdomiro solta um suspiro e finalmente traz um
alívio para Maciel.
VALDOMIRO
- Cê está liberado. O delegado não encontrou evidências
suficientes para continuar com sua detenção.
Maciel suspira aliviado e abraça Rato,
demonstrando sua gratidão e alegria.
MACIEL
(entusiasmado)
- Cara,
valeu mesmo, Seu Valdomiro. Nem sabia que o senhor era advogado.
VALDOMIRO
- Tranquilo. Agora vamos embora daqui. Quanto menos atenção da policia a gente
chamar, melhor pra nós.
Maciel agradece novamente e os três caminham em
direção à saída da delegacia, sentindo um peso sendo amenizado pela notícia de
sua liberação.
CENA 12/
EXT/ PLANO GERAL
A tela
mostra uma transição de cena, começando com a majestosa Ponte
Salvador-Itaparica ao pôr do sol. Em seguida, revela a densa floresta tropical
da Reserva Sapiranga, passando para o sereno rio do Parque São Bartolomeu. Um
letreiro indica "Um mês depois", e a cena muda para um
amanhecer dourado no bairro do Rio Vermelho, com ondas suaves quebrando na
praia. A cena termina à medida que o sol nasce, criando uma paisagem serena e
mágica.
CENA 13/ EXT/
OFICINA DO JORGE/ DIA
Beatriz chega à oficina e desce do carro,
aproximando-se de Jorge. Jorge e Roseno estão ocupados fazendo reparos em outro
veículo.
BEATRIZ
(entusiasmada)
- Olá Jorge! Bom dia! Eu queria que cê desse uma olhadinha no
meu carro. Acho que ele tá apresentando aquele mesmo probleminha no câmbio de
antes.
JORGE
(sem olhar para Beatriz)
- Roseno, vai lá dá uma olhada no carro dessa senhora.
(com ironia)
- Tem gente que parece que não aprende dirigir.
Beatriz fica boquiaberta e franze a
sobrancelha, estranhando a atitude de Jorge. Roseno se aproxima de Beatriz sem
graça.
ROSENO
- Bom dia Dra. Beatriz! O que houve com seu carro?
Beatriz sente-se desprezada pelo tratamento
frio de Jorge e acompanha Roseno até onde seu carro está estacionado.
BEATRIZ
- Acredito que seja problema no câmbio, viu? Da outra vez que trouxe,
Jorge falou que é por conta de uma mania que tenho, de não pisar totalmente na
embreagem na hora de trocar de marcha.
ROSENO
- Ah sim, deixe eu dá uma olhada aqui direitinho.
Roseno abre o capô do carro de Beatriz,
examinando-o. Enquanto isso, Beatriz volta e se aproximar novamente de Jorge,
que continua trabalhando em outro veículo.
BEATRIZ
- Tudo bem com cê?
JORGE
(ainda sem olhar para
Beatriz)
- Tô ótimo, e a tendência é só melhorar, viu? Agora, se me der
licença, preciso trabalhar.
BEATRIZ
- Não quero lhe atrapalhar, mas não tô entendendo por que cê tá
me tratando com tanta frieza?
Jorge olha para Beatriz sinalizando com as mãos
para ela se afastar.
JORGE
- É melhor não ficarmos tão próximos, seu namorado pode não
gostar.
BEATRIZ
- Oxente! De que namorado cê tá falando, criatura?
Jorge para seu serviço, olhando firme para
Beatriz e expressando repúdio.
JORGE
- Naquele dia em que fui todo animado até a clínica lhe
encontrar, até fiz reserva em um restaurante. E cê disse que não poderia sair
comigo porque tinha um encontro. E, de fato, tinha, né mesmo? Eu lhe vi depois,
entrando em um motel com um cara.
BEATRIZ
(sem entender)
- Não tô entendendo porque tá tão nervoso? Já não havia lhe dito
que tinha um encontro?
JORGE
(se alterando)
- Ah, pelo amor de Deus! Pra mim, uma mulher que fica com um
cara em um dia e no outro já tá com outro não passa de uma...
(Jorge “engole seco”)
- É melhor eu ficar calado.
Beatriz cruza os braços e olha firmemente para
Jorge.
BEATRIZ
- Fale! Não passa de que?
JORGE
(voltando ao trabalho)
- Deixa eu cuidar do meu serviço que ganho mais.
BEATRIZ
- Venha cá, vai me dizer que desde o nosso último encontro cê
não ficou com ninguém?
JORGE
- Sou homem, Beatriz, é diferente. Um homem sair por aí pegando
um monte de mulher é super normal, desde que o mundo é mundo.
BEATRIZ
- Ó paí, que mentalidade mais arcaica! Pois sou mulher e fico
com quem eu bem quiser e ninguém tem nada a ver com isso. Tá sabendo? Sem essa
dupla moral pra cima de mim.
JORGE
- Pois pra mim cê não passa de uma vadia, de uma puta de beira
de estrada...
Beatriz não tolera as palavras ofensivas e dá
um tapa no rosto de Jorge.
BEATRIZ
- Eu exijo respeito meu senhor. Faz-me um favor, suma e não me procure
nunca mais. Porque se você me procurar, com certeza vou tá muito bem ocupada.
(piscando para Jorge)
- Se é que me entende.
(virando-se para Roseno)
- Já terminou com meu carro?
ROSENO
(pasmo com a situação)
- Sim, senhora. Tava certa, era problema no câmbio mesmo.
BEATRIZ
- Quanto lhe devo?
Roseno olha para Jorge, que balança a cabeça
indicando que poderia deixar pra lá.
ROSENO
- Se preocupe não, foi nada.
Beatriz também dá uma olhada para Jorge, e vira-se
para Roseno tirando uma quantia de dinheiro da carteira e lhe entregando.
BEATRIZ
- Espero que isso seja suficiente.
Ela entrou no carro e parte, deixando Jorge e
Roseno para trás.
CENA 14/ INT/ CLÍNICA
BIO IN VITRO/ CONSULTÓRIO DO MAURÍCIO/ DIA
Maurício está sentado em sua mesa, olhando alguns
documentos enquanto esboça um leve suspiro de preocupação. Naquele momento, a
porta se abre, e Cássia entra na sala com a agenda nas mãos.
CÁSSIA
- Com licença! Trouxe sua agenda. Tem apenas duas pacientes
confirmadas, uma agora pela manhã e duas para a parte da tarde.
Maurício levanta o olhar e recebe a agenda,
examinando-a rapidamente.
MAURÍCIO
- Ótimo, se tiver mais pacientes, cê pode fazer encaixes, viu?
Trabalhar é bom, distrai a mente.
CÁSSIA
- Verdade.
MAURÍCIO
- E Beatriz, já chegou?
CÁSSIA
- Não. Até agora não chegou e nem mandou nenhum recado.
Maurício abaixa o olhar, expressando sua
decepção.
MAURÍCIO
- Agora é rotina ela chegar atrasada. Eu pensando que ela me
chamou pra trabalhar aqui pra gente ficar mais juntos. Mas pelo que vejo ela só
quer que eu cuide dos pacientes pra ela ficar mais livre.
Cássia balança a cabeça em concordância,
demonstrando compreensão diante da situação. E logo depois sai da sala.
CENA 15/ INT/ CLÍNICA
BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA
Cássia se aproxima do balcão da recepção, onde
Jana está ocupada digitando uma ficha no computador. Cássia expressa
preocupação enquanto se dirige à amiga.
CÁSSIA
- Oh nega, o homem tá de dá dor. Nem parece aquele Maurício
alegre que saía comigo pra assistir filme. Te falo uma coisa, se ele continuar
xonado assim na Dra. Beatriz ele vai acabar entrando em depressão.
JANA
- E Dra. Beatriz, linda e bela curtindo sua vida. Gente, Dr. Maurício tem que
aprender a virar a página e partir pra outra.
Cássia reflete por um momento, preocupada com a
situação de Maurício, antes de compartilhar sua ideia com Jana.
CÁSSIA
- Olhe, tô aqui pensando em chamar ele pra irmos ao cinema.
Assim como a gente fazia antes? Ele era mais feliz, nega. A vibe era uma outra
totalmente diferente.
JANA
(sem entender)
- Mas venha cá, e Lucas, o rapaz que cê disse que tava curtindo.
Cássia responde com um sorriso leve, deixando
claro que há uma diferença entre sua relação com Maurício e sua história com
Lucas.
CÁSSIA
- Escute bem, eu disse que chamarei Maurício para curtir um cinema, só isso,
nada demais. Já com Lucas é uma outra história.
JANA
- Entendi. Cê está certa, viu nega? Isso vai fazer bem pra ele.
CENA 16/ INT/ LOJA DO
QUEIJO/ DÉPOSITO/ TARDE
Rato, Valdomiro e Maciel estão reunidos no
centro do depósito, próximos a uma mesa onde estão espalhadas algumas papeladas
e documentos relacionados à carga de queijos.
RATO
- Já tá tudo certo, os queijos já foram entregues. E eles já
mocaram nossos queijos juntos com os deles, e o caminhão sairá amanhã cedo.
VALDOMIRO
(organizando alguns
documentos)
- Tô confiante que vai dá tudo certo. Da outra carga tivemos um
lucro bom, espero que desta vez também tenhamos.
RATO
(rindo)
- Vamos ter muito mais seu Valdomiro. O pessoal da Venezuela já
tem a visão de novos clientes. É certo, o queijo chegará lá e já terá o seu
destino. Prepara o cofrinho que a grana tá chegando.
Maciel está parado perto de uma das
prateleiras, observando os queijos com um olhar apreensivo.
MACIEL
- Sei não, cês sempre acham tudo muito fácil. Não consigo deixar
de ficar apreensivo, não sabe? Um descuido a casa pode cair.
RATO
- Se tu continuar mantendo o foco tudo prospera. Continue longe
daquela nega chave de cadeia, que sua vida será só sucesso.
MACIEL
- Laura já vai fazer dezoito anos, Rato. Ela vai voltar pro meus
braços, e ninguém vai poder tirá-la de mim.
CENA 17/ INT/ CASA DOS
FERNANDES/ QUARTO DA GIOVANA/ TARDE
Giovana está sentada em sua escrivaninha,
mexendo no computador e fazendo algumas anotações em seu caderno. Genivaldo abre
a porta do quarto, batendo suavemente antes de entrar. Ele se aproxima de
Giovana com um sorriso afetuoso.
GENIVALDO
- E aí minha linda!
Giovana interrompe suas anotações, e sorri ao
ver seu pai.
GIOVANA
- Oi painho!
Genivaldo caminha em direção a Giovana, ficando
em pé ao seu lado.
GENIVALDO
- Como sempre concentrada em seus estudos, né mesmo?
GIOVANA
- Pois é. Tô aqui dando uma olhada pra ver qual faculdade vou
fazer. Já decidi, vou estudar psicologia. Isso vai me ajudar no projeto que planejo.
GENIVALDO
- Tô sabendo. Aquele que cê me falou de montar uma casa pra
acolher mulheres que precisam de ajuda?
GIOVANA
(acenando)
- Isso mesmo. Temos que começar a fazer coisas concretas. E não
só ficar gritando pelas as ruas, tirando a roupa e exigindo respeito.
GENIVALDO
- Cê sempre me dá muito orgulho meu amor. Foca, estuda e corre
atrás que cê vai conseguir tudo o que cê quer...
Genivaldo se aproxima ainda mais, sentando-se
na cama ao lado da cadeira de Giovana.
GENIVALDO
(curioso)
- Agora filha, me responde outra coisa. Essa história de cê
começar a ir pra a igreja com sua mãe, participando dos cultos, e tudo mais. É
porque cê quer, ou tá indo só pra não contrariar sua mãe?
GIOVANA
- Olhe painho, no inicio até que era só pra não contrariar mainha.
Tipo, bandeira branca, vamos selar aqui uma paz. Mas agora tô gostando, acho
que todo mundo deve procurar encontrar seu caminho, descobrir sua
espiritualidade. Isso é uma forma de crescimento pessoal. Eu tô participando
dos cultos e tentando ver além das margens. Inclusive, os meninos da igreja
estavam me chamando pra participar de um grupo de jovem, e eu aceitei.
GENIVALDO
(surpreso)
- Olha, isso é muito bom.
(rindo)
- Só não pode ficar fanática igual sua mãe.
Giovana ri junto com seu pai, compartilhando um
momento descontraído.
GIOVANA
- Esse risco não corro não, viu?
(sincera)
- Agora francamente, acho que minha fé é muito pequena. Tem
muita coisa dentro da igreja que não entendo.
GENIVALDO
(curioso)
- Como assim?
GIOVANA
- Ah painho, sei lá. Tudo muito rígido, tudo é pecado, na base
de ferro e fogo. Como se Deus fosse um carrasco e tivesse ali de prontidão só
esperando o momento da gente errar para nos mandar pro inferno. E se o inferno
não existisse, ainda assim faríamos o bem? Ou será que a nossa falsa bondade é
só o medo de irmos pra lá? São tantas coisas ali dentro que me faz refletir,
sabe?
Genivaldo pensa por um momento, buscando as
palavras certas para transmitir seu ponto de vista.
GENIVALDO
- Não sou um homem religioso, mas entendo que algumas pessoas
têm medo de Deus, por isso se esforçam para não errar. Infelizmente, isso faz
com que elas ajam mais como escravos do que como filhos livres. Outras pensam
apenas na recompensa que o Senhor lhes dará por não errarem, agindo como
mercenários interesseiros. No entanto, a intenção de toda a Bíblia é nos levar
a ocupar o lugar de filhos amados. Somente assim podemos viver plenamente e
compreender Deus. O amor ao próximo é o principal mandamento. Seja qual for a
religião, se seu principal ensinamento é amar e acolher o próximo, isso já
aproxima seus fiéis de Deus.
Giovana ouve atentamente as palavras de seu
pai, absorvendo suas reflexões.
GIOVANA
- É disso que sinto falta dentro da igreja. Desse acolhimento. Parece que o
pastor Moisés tá sempre apontando o dedo para alguém, destacando seus pecados.
Genivaldo reflete por um momento e começa a
falar novamente, transmitindo sua visão pessoal.
GENIVALDO
- Cada um tem sua forma de enxergar a fé, filha. É importante
encontrar um lugar onde cê se sinta acolhida e compreendida. O importante é que
sua jornada espiritual seja genuína e lhe traga paz e crescimento interior.
GIOVANA
(sorrindo)
- Que coisa linda, viu meu pai? Sempre posso contar com senhor
para me ouvir e entender.
CENA 18/ INT/ CLÍNICA
BIO IN VITRO/ CONSULTÓRIO DO MAURÍCIO/ TARDE
Maurício está sentado em sua cadeira atrás da
mesa de consulta, enquanto a paciente ocupa a cadeira à sua frente. Maurício
olha para a paciente com um sorriso tranquilizador.
MAURÍCIO
- Tá tudo certinho com seus exames, viu? Não se preocupe,
controle a ansiedade e relaxe. Tudo vai dá certo.
PACIENTE
(sorrindo esperançosa)
- Obrigada doutor!
A paciente levanta da cadeira, pega sua bolsa e
a joga sobre o ombro. Com um aceno de despedida, ela sai da sala, encerrando a
consulta. Maurício permanece sentado, digitando algumas informações no
computador. Nesse momento, a porta do consultório se abre novamente, revelando
Cássia. Ela segura a maçaneta com uma mão enquanto segura a agenda com a outra.
Ao perceber a entrada de Cássia, Maurício levanta o olhar, demonstrando
interesse.
MAURÍCIO
- Mas alguma paciente?
CÁSSIA
- Não, essa foi a última paciente do dia.
Maurício examina a agenda com atenção.
MAURÍCIO
- Ótimo. E quanto às pacientes de Beatriz, algum encaixe?
(com ironia)
- Ela parece tá ocupada ultimamente, né?
CÁSSIA
(rindo)
- Já tá tudo certo, Maurício. Todas as pacientes de hoje já
foram atendidas...
Cássia dá alguns passos à frente e decide
sentar-se na cadeira em frente a Maurício.
CÁSSIA
- Mudando de assunto, cê gosta de Harry Potter?
Maurício fica surpreso com a mudança repentina
de assunto, mas sua expressão se suaviza ao perceber a animação nos olhos de
Cássia.
MAURÍCIO
- Sim, gosto muito.
CÁSSIA
- Há um novo filme da franquia no cinema. O que acha de irmos
assistir juntos?
MAURÍCIO
(estranhando)
- Pensei que cê estivesse namorando.
CÁSSIA
- Sim, estou. Conversei com Lucas mais cedo, e ele disse que não
poderíamos nos encontrar hoje. Então pensei, que tal eu pegar um cinema com meu
amigo cinéfilo?
MAURÍCIO
(rindo)
- Eu realmente gosto de um bom filme.
(entregando a agenda
novamente para Cássia)
- Sendo assim, eu aceito o seu convite.
CÁSSIA
- Oba!
Cássia levanta da cadeira, segurando a agenda em
suas mãos enquanto se dirige à porta.
CÁSSIA
- Me pega às 20h lá em casa.
Ela pisca para Maurício, transmitindo um tom
amigável e divertido. Em seguida, Cássia sai do consultório, deixando Maurício
com um sorriso no rosto e a perspectiva de uma noite agradável pela frente.
CENA 19/
EXT/ PLANO GERAL
À medida
que o sol se põe sobre Salvador, a cidade alta brilha com luzes ao entardecer,
oferecendo uma vista deslumbrante da Cidade Baixa. As luzes noturnas se acendem,
revelando a animação à beira-mar. A cena então se move rapidamente para o
Mercado de São Joaquim, agora iluminado por lâmpadas penduradas, onde
vendedores anunciam suas mercadorias. Finalmente, a transição nos leva à
Cachoeira do Bom Jesus dos Pobres, sob a luz da lua e das estrelas, criando uma
atmosfera mágica. Salvador se transforma de dia para noite, exibindo sua
diversidade e beleza em todas as horas.
CENA 20/ INT/
IGREJA CAJADO DA FÉ/ NOITE
Moisés está no púlpito da igreja, pregando com
fervor. Os fiéis estão sentados nas cadeiras, atentos às suas palavras. O
ambiente está impregnado de solenidade, mas também há uma certa tensão no ar.
MOISÉS
(levantando a voz,
entusiasmado)
- Queridos irmãos e irmãs, hoje é um dia especial! Estamos
reunidos não apenas para louvar a Deus, mas também para celebrar o aniversário
de nossa querida Laura, que completa dezoito anos!
Os fiéis aplaudem, alguns sorriem e parabenizam
Laura, que está sentada ao lado de Giovana. No entanto, Laura parece inquieta e
ansiosa. Com um esforço visível, ela se levanta, tentando exibir uma expressão
de alegria.
LAURA
- Obrigada a todos pelo carinho, obrigada pelas felicitações! Muita
obrigada, viu?
Laura se senta novamente, mas seu olhar denota
uma preocupação latente. Moisés continua a pregação, enfatizando sobre a
importância do dízimo. Laura balança as pernas inquieta e lança olhares para o
relógio, para Giovana e, por fim, para Kaleb, que está sentado à sua frente.
Kaleb sorri animado para Laura, mas ela responde com um sorriso forçado antes
de fechar a expressão. Giovana percebe a aflição de Laura.
GIOVANA
(sussurrando)
- Oh Laura, cê tá bem? Parece preocupada.
LAURA
(suspira)
- Não vou ficar aqui, Giovana.
Laura levanta-se discretamente e sai da igreja.
Giovana, percebendo a agonia de sua amiga, levanta-se rapidamente e a segue
para fora.
CENA 21/ EXT/
IGREJA CAJADO DA FÉ/ LADO DE FORA/ NOITE
Laura fica parada próximo à porta da igreja,
ansiosa, olhando para o relógio e para longe. Giovana se aproxima dela.
GIOVANA
- Oxente Laura, que houve? Aconteceu alguma coisa?
LAURA
(animada)
- Ainda não nega, mas vai acontecer, viu? Maciel tá vindo me
buscar.
GIOVANA
- Laura, pelo o amor de Deus! Cê tá azuada?
LAURA
- Azuada eu taria se casasse com esse banana.
Agora que tenho dezoito anos, painho não pode me impedir de
ficar com o homem que amo. Fiquei quieta e participei das coisas da igreja por
causa de mainha, para não desapontá-la. Assim como cê tá aqui por causa de sua
mãe, né?
GIOVANA
- Ah, mas tô gostando daqui. Vou até participar do grupo de
jovens.
LAURA
- Francamente, Giovana!
(ao ver Kaleb na porta da
igreja)
- Falando no banana!
Kaleb se aproxima das duas.
KALEB
- Oxe! Que foi que houve, meu amor? Cê está se sentindo bem? Fiquei
preocupado.
LAURA
- Tô ótima! Sinceramente, Kaleb, cê realmente acha que vou me
casar com cê? Agora que tenho dezoito anos, nada me prende aqui.
KALEB
- Não tô entendendo, o que cê quer dizer com isso? Pastor Moisés
já nos deu a benção, só falta agora oficializar.
Nesse momento, Maciel chega em uma moto.
MACIEL
- E aí minha linda! Simbora?
LAURA
- Tchauzinho pro cê viu? Meu homem de verdade chegou!
Laura sobe na moto de Maciel e parte juntos.
Todos na igreja saem para fora e testemunham sua partida. Moisés fica furioso
com a situação.
MOISÉS
(gritando)
- Laura!!!
Obrigado pelo seu comentário!