Novela de Adélison Silva
JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
PAULO
RAIMUNDA
REBECA
RAVENA
CÁSSIA
BEATRIZ
MARIA
PANDORA
RAUL
KIRA
Participação Especial:
ELZA, CORRETOR, NADINE
CENA 01/ INT/CAMPA/
SALA DA GIOVANA/ DIA
Giovana está sentada em uma cadeira diante de
Elza, uma mulher visivelmente abalada pela violência doméstica que sofreu. Elza
está nervosa, com lágrimas nos olhos.
ELZA
(chorando)
- A gente vivia bem, sabe doutora?
Tião não é esse cara bruto aí, não. Foi a bebida que estragou ele. A gente era
muito feliz, tivemos nossos filhos. E Tião ali batalhando de sol a sol pra
colocar comida na mesa. Mas aí começou a se envolver com bebida e as coisas
foram desandando.
GIOVANA
- Elza, mas desde quando ele lhe
bate?
ELZA
- Desde que engravidei do meu
primeiro filho. Tião não acreditou que o filho fosse dele... O povo faz muita
fofocaiada, não sabe? Inventaram pra Tião que o menino era filho de um primo
dele. O homem ficou avexado e me deu uma peia. Passei foi dias de olho roxo.
Mas depois foi esclarecido e ele viu que não passava de fofoca do povo.
GIOVANA
- E Tião tava bêbado nesse dia?
ELZA
- Tava não. Mas oh doutora, eu nem
culpo ele, viu? O povo tem inveja da relação alheia e fica colocando gosto
ruim.
GIOVANA
- Sei! E agora Elza, por causa de
quê mesmo que ele lhe bateu?
ELZA
- Não teve um motivo certo não,
doutora. Ele chegou em casa bêbado e nervoso brigando com todo mundo. Foi pra
cima de meu filho mais velho e eu não deixei, entrei pelo meio. Aí ele deu um
tapa na minha cara e depois saiu me chutando pela casa toda. Tião quando tá
bêbado parece que tá com o diabo no corpo, não sabe?
Giovana suspira, preocupada com a situação de
Elza e seus filhos.
GIOVANA
- Cê e seus meninos se ajeita por
aqui. As meninas vão ajeitar algo pro cês comer, toalha pro cês banhar e um
lugar pra cês descansar. E vamos na delegacia, viu Elza? Temos que prestar
queixa contra seu marido.
ELZA
(relutante)
- Tião é pai dos meus meninos,
queria que ele fosse preso não.
Giovana olha nos olhos de Elza com firmeza, mas
também com compaixão.
GIOVANA
- E cê quer o quê, Elza? Continuar
vivendo essa vida? Vai lá que as meninas vão lhe ajeitar. Mas tarde a gente
conversa sobre isso. Vá bem?
Elza vai saindo da sala e logo depois Genivaldo
entra.
GENIVALDO
- Com licença filha, posso entrar?
GIOVANA
- Painho! Oxente entre aí, que
surpresa danada de boa!
Genivaldo entra na sala com um sorriso
caloroso, e Giovana se levanta para abraçar seu pai.
CENA 02/
EXT/ COLÉGIO CENTRAL/ PÁTIO/ DIA
O pátio do Colégio Central é movimentado, com
alunos conversando, estudando e aproveitando o intervalo. Pandora e Maria
encontram um local mais tranquilo para conversar.
PANDORA
- Nasci aqui em Salvador, depois
fomos para o Acre. Não te falei, mas sou filha de duas mães.
MARIA
- Oxente, e como cê lidar com isso?
PANDORA
- Minha vida toda sempre fui criada
pelas as duas, então não me faz diferença. Você tem seu pai e sua mãe, o que
seria meu pai foi apenas um homem desconhecido que doou seu material genético.
As minhas mães sempre me deram, amor, carinho, todo suporte e apoio que
preciso. Pai nenhum me fez falta. Amo as minhas mães por igual, não interessa
quem foi que me gerou. E cê e seus pais se dão bem.
Maria fica sem graça por um instante, mas
depois responde com um aceno de cabeça positivo.
MARIA
- Sim.
Pandora percebe que Maria não está tão disposta
a falar sobre sua própria vida, então decide mudar de assunto.
PANDORA
- Não tem como falar de você e não
citar o seu grande talento pela música. Você só canta ou compõe também?
MARIA
- Já compus algumas músicas, mas
não me sinto a vontade em mostrar pra ninguém.
PANDORA
- Eu te entendo. Mas eu gostaria
muito de um dia poder ouvir você cantando uma de suas composições.
Maria sorri timidamente
CENA 03/ INT/
LOJA VAZIA/ DIA
No interior da loja vazia, Ravena e Laura estão
de pé, observando o espaço que Ravena pretende transformar em sua nova loja. O
corretor imobiliário está presente e começa a mostrar todas as dependências do
imóvel, destacando as vantagens de adquirir aquele espaço.
CORRETOR
- Olhe bem, como cês podem ver,
este espaço é muito versátil e oferece várias possibilidades para a montagem da
loja. A localização é ótima, com bastante visibilidade para atrair clientes.
Ravena se vira para Laura com um brilho nos
olhos e compartilha sua empolgação.
RAVENA
- Ta aí, gostei viu Laura? Já tô
até imaginando como vamos organizar tudo aqui. Teremos uma seção de roupas ali,
uma área de acessórios aqui, os provadores dá certinho ali, oh...
Ela continua a planejar mentalmente, cheia de
ideias para cada cantinho da loja.
LAURA
- Também gostei. Só espero que
desta vez possamos nos estabelecer aqui, né mesmo? E não tenhamos que fugir de
novo.
Ravena se aproxima de Laura com carinho.
RAVENA
- Oh minha linda, lhe entendo, viu?
Desta vez vai ser diferente. Vamos fazer dá certo.
Ravena se vira para o corretor com determinação
em seu olhar.
RAVENA
- É aqui mesmo moço, pode trazer a
papelada que nós vamos fechar o negócio.
O corretor sorri, satisfeito com a decisão, e
começa a providenciar os documentos necessários para a transação.
CENA 04/ INT/
CAMPA/ SALA DA GIOVANA/ DIA
Na sala de Giovana, dentro do CAMPA, Genivaldo
está visivelmente abatido, sentado diante de sua filha. Ele desabafa com um
olhar preocupado e frustrado.
GENIVALDO
- Aguento mais não, viu filha? O
comportamento de sua mãe tá ficando insustentável. Tudo, absolutamente tudo pra
ela agora é pecado, é satânico, coisa do demônio. Cê acredita, que ela vendeu e
doou várias coisas lá de casa, alegando que eram objetos satânicos? A estátua
de vó Quitéria que tava na família há anos, meu baralho, até um relógio que foi
da mãe dela. Olhe, vou lhe dizer uma coisa sua mãe azucrinou de vez.
Giovana olha para seu pai com compreensão e
preocupação.
GIOVANA
- Sei que tá difícil painho! Mas
venha cá, o que senhor tá pretendendo fazer?
Genivaldo suspira profundamente e olha para
Giovana com uma expressão decidida.
GENIVALDO
- Se sua mãe continuar desse jeito,
não há outra saída. Vou largar dela.
CENA 05/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ TARDE
Eliete está sentada em um sofá, ansiosa,
enquanto conversa com Raimunda que está sentada ao seu lado. Rebeca está em
frente as duas, aparentemente preocupada com o que está sendo discutido.
ELIETE
- Eu tive um sonho muito revelador
irmão Raimunda. Só de lembrar já fico toda arrepiada, não sabe? Eu via que na
minha sala tinha um... Nem posso dizer que era um homem, mas uma imagem, tipo
uma sombra de um homem, uma pessoa alta, bem grande, quase alcançando o teto da
minha casa. Esse homem não tinha boca, não tinha olhos e nem nada. Eu ficava no
corredor expulsando ele. Óbvio que ali era minha alma que havia saído do meu
corpo. Eu fiquei muito aterrorizada com medo. E esse ser se escondia atrás de
alguns objetos, como a televisão, uma estátua que tinha lá em casa e outros
objetos. Ele só sumiu depois que eu orei o salmo 91. Depois que eu acordei foi
que entendi. Ali era o demônio em pessoa, irmã Raimunda, tomando posse daqueles
objetos. E através de sonho Deus veio me revelar.
RAIMUNDA
(cética)
- Irmã Eliete, isso foi apenas um
sonho. Na certa, senhora tava cansada e acabou tendo pesadelo.
ELIETE
- Irmã Raimunda, senhora nem parece
crente. O dia do juízo se aproxima e o demônio tá voltando pra tomar o que é dele.
REBECA
- Vala-me Deus irmã Eliete! O mundo vai acabar é? Quero ir pro inferno, não viu
mainha?
ELIETE
- Pois então vigiai minha jovem,
pois o filho do Homem tá chegando. Precisamos nos preparar espiritualmente para
enfrentar as provações que virão. Não se esqueça de que o demônio tentará nos
desviar do caminho certo.
REBECA
- Oh mainha, temos que vender nossa
televisão também. Vai que o demônio sai da casa de irmã Eliete e vem morar aqui
em casa. Vala-me Deus, e se ele me pegar durante a noite?
RAIMUNDA
- Deixe de bestagem menina! Nossa casa é protegida pelo o espírito de Deus,
demônio nenhum vai entrar aqui. Irmã Eliete, contenha-se tá deixando minha
filha mais abestalhada do que ela já é.
CENA 06/ EXT/
PORTÃO DO COLÉGIO/ TARDE
As duas garotas saem do colégio juntas,
caminhando em direção ao portão. Pandora, animada, começa a conversar com Maria
enquanto elas saem.
PANDORA
- Eu nunca tive tanto interesse em
estudar como tô tendo agora. Acho que cê tá sendo uma boa influência pra mim.
MARIA
(tímida)
- Oxe, que isso Pandora? Imagina.
Mas gostei muito de conhecer você, viu?
As duas continuam caminhando lado a lado, e
Pandora começa a observar o muro ao lado do portão do colégio.
PANDORA
- Tava aqui olhando esse muro. Tá
tão sem graça, né? A tinta tá saindo, tá mal cuidado... Se a diretora
autorizasse eu adoraria grafitar ele.
MARIA
- Como assim grafitar? Cê faz
grafite?
PANDORA
(balançando a cabeça)
- Sim. Cê transmite seus
sentimentos através da música. Eu já transmito os meus através no meu grafite.
Cê acha que a diretora permitiria que eu grafitasse o muro?
MARIA
- Vou falar com professora
Catarina, ela é massa. Tenho certeza que se ela falar com a diretora, ela
deixa.
PANDORA
- Sério Maria? Isso seria demais! Vai
me dá trabalho, mas já tenho ideia de uma arte show pra esse muro.
Nesse momento, um carro se aproxima do portão
do colégio. Pandora olha na direção do veículo e vê Ravena ao volante,
acompanhada de Laura. Ela vira para Maria e oferece carona.
PANDORA
- Minhas mães tão chegando ali. Maria,
você quer carona pra casa? A gente pode te levar.
Maria fica pensativa por um momento,
considerando a oferta de Pandora, mas sua expressão muda quando ela vê Paulo
chegando com seu táxi e se aproximando delas.
PAULO
- Bora Maria!
MARIA
(sem graça)
- Não precisa da carona, meu pai
chegou.
PANDORA
- Então tá. A gente se ver amanhã,
né?
Pandora abraça Maria em uma despedida.
PANDORA
- Até amanhã Maria.
MARIA
- Até!
Maria se afasta e se aproxima do carro de
Paulo. Pandora fica parada, observando, até que o carro de Maria se afasta.
CENA 07/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ TARDE
Beatriz se aproxima da recepção, com uma
expressão preocupada, e Jana e Cássia estão ocupadas em suas atividades. Elas
não notam a chegada de Beatriz até que ela faz sua pergunta.
BEATRIZ
- Oi Jana! Venha cá me diga uma
coisa. Aquela paciente não ligou, nem deixou nenhum recado?
Jana, atrás do balcão da recepção, balança a
cabeça em sinal negativo.
JANA
- Até agora nada, doutora.
Beatriz parece inquieta e começa a ponderar
sobre a situação.
BEATRIZ
- Oxente menina, será que desistiu
de ter outro filho? Ela não pode fazer isso comigo.
Beatriz fica pensativa por um momento,depois decide
voltar para o seu consultório. Cássia nota sua expressão e estranha.
CÁSSIA
- Mas que avexamento é esse? Quem é
essa paciente que ela fala?
JANA
- Ih, Cássia cê tá por fora, viu?
Mas não sei se devo lhe contar...
CÁSSIA
- Qualé Jana, para de graça, viu?
Quer me matar de curiosidade, é? Bora aí, desembucha!
JANA
- Dra. Beatriz tá falando é de
Fátima, aquela paciente que veio com filho de treze anos. Tá sabendo? Ela acha
que Fátima pode ser mulher de Jorge e que o garoto é filho dele.
CÁSSIA
(confusa)
- Jorge... Espera aí, Jorge? Ah,
lembrei! Aquele que mandava uma flor por dia? Menina, mas tem muitos anos que
esse homem sumiu.
Jana assente com a cabeça, confirmando.
JANA
- Esse mesmo! Também confesso que
achei o menino bem parecido com ele, viu Cássia? E pelo o jeito esse Jorge
mexeu muito com Dra. Beatriz.
CENA 08/ EXT/
RUA/ CARRO DA RAVENA/ TARDE
Ravena está ao volante, Laura no banco do
passageiro, e Pandora está sentada no banco de trás do carro enquanto
conversam.
LAURA
- Era Maria com cê lá no portão?
PANDORA
- Era sim.
LAURA
- Pelo o que vejo cês duas se deram
bem, hein?
PANDORA
- Eu não sei explicar, mas Maria
mexe comigo de uma forma especial. Nunca senti nada por alguém assim, engraçado
que a gente mal se conhece.
RAVENA
- Menina linda, viu filha? Tem todo
meu apoio. Cês duas formam um casal lindo.
PANDORA
(rindo)
- Não viaja dona Ravena, Maria é só minha amiga. Tem nada rolando aqui.
RAVENA
- Oxente, sua mãe Laura também era
minha amiga e olha onde viemos parar.
PANDORA
- É sério mamãe, não começa me
empurrando pra cima das meninas. Se rolar alguma coisa eu quero que seja com
calma. Maria é uma menina tímida e cheia de mistérios, quero ir com calma,
conhecendo ela devagar.
Ravena e Laura se entreolham.
CENA 09/ EXT/
CAMPA/ PÁTIO/ TARDE
Giovana e Genivaldo vêm andando pelo o pátio de
braços dados enquanto conversam.
GIOVANA
- Painho, tenha um pouco mais de
paciência com mainha, viu? Sei que ela é difícil, mas o senhor conhece. Ela
sempre foi assim, né mesmo?
Genivaldo, com um olhar pensativo, responde,
parecendo refletir sobre o passado.
GENIVALDO
- Nem sempre sua mãe foi assim,
filha. Quando a conheci ela era outra pessoa. Mais compreensiva, mais humana,
mais tolerante, sabe? Agora Eliete tá de um jeito difícil de lidar...
Nesse momento, Kira se aproxima deles.
KIRA
- Desculpe atrapalhar...
GIOVANA
- Sem problema. Painho, essa aqui é
Kira, ela é a nova voluntária aqui do CAMPA.
(abraçando o pai com carinho)
- Já esse homem lindo, é meu painho
Genivaldo.
GENIVALDO
(sorrindo)
- Oh lindeza, viu?
KIRA
- Oxente, mas ela tá certa. O
senhor é bonito mesmo.
(mostrando dois convites)
- Olhe só o que eu trouxe, Giovana.
GIOVANA
- E o que é isso?
KIRA
- São dois convites para uma festa
que vai ter hoje a noite em um clube onde vou tocar. Os convites são pro cê e
pra Raul. Desculpe, seu Genivaldo posso ver se consigo mais um convite para o
senhor.
GENIVALDO
- Se preocupe com isso não, viu Kira?
Não sou muito de festas. E também já tô meio velho para essas coisas, né?
GIOVANA
- Oxe, ó
pai? Tá velho, onde? Tá muito enxuto e tenho certeza que aguentaria balançar o
esqueleto a noite toda.
GENIVALDO
(rindo)
- Oh
moça! Cê que acha, Kira?
KIRA
-
Concordo com Giovana, o senhor tá muito bem.
GIOVANA
- Isso é muito gentil da sua parte, viu Kira? Mas não tenho certeza se vou poder ir
KIRA
- E não
vai poder por quê? Diga lá?
Giovana considera a proposta de Kira, mas ainda
não tem certeza.
GIOVANA
- Não sei. Vou conversar com Raul e
ver o que ele acha. lhe dou uma resposta depois, pode ser?
GENIVALDO
- Bom, filha, já vou indo.
GIOVANA
- Benção painho!
GENIVALDO
- Deus lhe abençoe. Pense bem sobre
o convite de Kira. Vai ser bom cê e Raul e ir se divertir um pouco.
KIRA
- Viu? Obedeça painho. Foi um
prazer, viu seu Genivaldo?
GENIVALDO
- O prazer foi todo meu. Tchau!
CENA 10/ EXT/
TAXI DO PAULO/ TARDE
Paulo olha pelo o espelho do meio e fica
olhando para as pernas de Maria que está sentada no banco de trás. Ela percebe
e arruma a saia.
PAULO
- Tá calada, não falou nada a viagem toda.
MARIA
- Não tenho nada pra falar.
PAULO
- Porque sentou aí atrás? Deveria
ter sentado aqui na frente. Do meu ladinho.
MARIA
- Está bom aqui mesmo.
Paulo continua olhando Maria a deixando sem
graça.
CENA 11/ EXT/
CAMPA/ HORTA/ TARDE
Kira e Jana estão na horta do CAMPA, ocupadas
plantando mudas de alface enquanto conversam.
KIRA
- Eu fiquei olhando a relação entre
em cê e seu pai. Cês dois se dão muito bem, né?
Giovana sorri com carinho, orgulhosa da relação
que tem com seu pai.
GIOVANA
- Verdade. Painho é meu companheiro
de todas as horas. Eu e minha mana em qualquer decisão séria que vamos tomar
sempre pedimos o conselho dele. E ele sabiamente sempre nos ajuda com seus
conselhos.
KIRA
- Eu fico encantada quando vejo
relações assim entre pais e filhos. Infelizmente, eu e painho nunca tivemos uma
relação tão boa. Sempre foi difícil, mas piorou ainda mais depois que me assumi
homossexual. Ele não aceitou muito bem.
Giovana fica surpresa com a declaração de Kira.
Percebendo a cara de surpresa de Giovana, Kira comenta.
KIRA
- Que foi Giovana? Porque essa cara
de surpresa? Vai dizer que nunca se deu conta disso.
GIOVANA
- Não, eu não fazia ideia. Quer
dizer, cê sempre foi tão feminina, né?...
KIRA
- E isso tem algum problema pro cê?
GIOVANA
- Claro que não, Kira. Oxente, mas seria
uma tremenda bobagem se eu me importasse com isso. O que importa é a pessoa que
cê é. Sua sexualidade só pertence a você.
Nesse momento, Nadine, uma das agentes do CAMPA,
se aproxima.
NADINE
- Giovana, desculpa interromper,
mas chegou uma mulher com algumas crianças que precisa de ajuda.
GIOVANA
- Obrigado Nadine. Me dê licença
aqui, viu Kira?
KIRA
- Claro, fique a vontade.
CENA 12/ EXT/
PLANO GERAL
A cena começa
com a Praia de Porto da Barra durante o dia, com o sol, o mar e as pessoas na
praia. Gradualmente, a luz do dia dá lugar à noite, e as luzes das casas e
bares se acendem. A câmera se move pelo Farol da Barra, iluminando a paisagem
noturna. Passa pelo Pelourinho, com casarões coloniais iluminados e artistas
locais animando as ruas. A Ladeira da Barra mostra a cidade iluminada contra o
mar escuro. A transição termina com uma vista panorâmica da Baía de Todos os
Santos à noite, com as luzes dos barcos e da cidade refletindo-se nas águas
escuras.
CENA 13/ INT/
CASA DA RAVENA/ QUARTO DO CASAL/ NOITE
Ravena, sentada na beira da cama, olha pensativa
para o teto enquanto fala sobre Maria.
RAVENA
- A danada da Maria é bonitinha,
né? Eu ficaria muito feliz se Pandora e essa menina se entendessem. Eu senti
uma conexão muito grande entre as duas, elas formariam um excelente casal. Cê
que acha? Olhe, vou fazer de tudo pra que as duas se entendam, assim Pandora
esquece de vez Michele.
Laura, de pé perto da janela, se altera e
vira-se para encarar Ravena.
LAURA
(se alterando)
- Chega Ravena!
RAVENA
- Oxe Laura, mas o que é que tô
fazendo?
LAURA
- Exatamente o que cê sempre faz.
Ficar empurrando namoradinhas pra cima de nossa filha. Essa Michele que hoje cê
quer que Pandora esquece, se envolveu com ela por pura influência sua.
RAVENA
- Isso se chama cuidado. As duas já
se gostavam, eu só dei um empurrãozinho.
LAURA
- Sabemos muito bem que não é esse
o motivo. No fundo o que cê tem é medo que Pandora se interesse por algum
rapaz.
RAVENA
- E tenho medo mesmo. Homem nenhum
presta, não vou deixar que usem minha filha.
LAURA
- Ravena pelo o amor de Deus! Só
lhe peço, deixe Pandora ser feliz do jeito dela. Deixe-a viver suas paixões no
tempo dela.
RAVENA
- Cê tá sendo injusta, sempre
respeitei o espaço de minha filha.
Laura se aproxima ainda mais de Ravena,
olhando-a profundamente.
LAURA
- Meu amor, e se um dia Pandora se
interessar por um rapaz o que cê vai fazer?
RAVENA
- Isso não vai acontecer.
LAURA
- E se acontecer?
RAVENA
(deitando na cama)
- Cê já tá falando é besteira, viu
Laura? Vamos dormi que a gente ganha mais.
Laura se deita ao lado da mulher.
CENA 14/ INT/
CASA DOS FERNANDES/ QUARTO DO CASAL/ NOITE
Eliete está ajoelhada ao lado de sua cama em
oração. Genivaldo entra no quarto e, sem cerimônia, começa a pegar seu
travesseiro e cobertor.
ELIETE
- Oxe homem, mas que isso? O que cê
tá fazendo?
GENIVALDO
- O que já deveria ter feito a
muito tempo, Eliete. Vou ficar no outro quarto.
Eliete interrompe sua oração e olha com
tristeza para Genivaldo.
ELIETE
- Genivaldo, escute. Em Efésios a
palavra de Deus diz: "Quando vocês ficarem irados, não pequem. Apaziguem a
sua ira antes que o sol se ponha, e não deem lugar ao Diabo." Meu amor não
podemos dá brecha para que o inimigo se enfie no meio do nosso casamento.
GENIVALDO
- Estou fazendo isso exatamente
para tentar salvar nosso casamento. Porque minha vontade mesmo, não era mudar
de quarto e sim de casa, de cidade, de país... Eliete, seu fanatismo já tá me
deixando maluco.
ELIETE
- Pois vá. Continuarei aqui, ó de
joelho. E tenho certeza que Deus há de me honrar. Ele sabe que sou uma serva
fiel, e tudo o que faço é para o bem de nossa família. Vá Genivaldo, vá... Um
dia Deus ainda abrir seus olhos e cê vai entender que estive certa o tempo
todo.
GENIVALDO
- Boa noite Eliete!
Genivaldo sai do quarto deixando Eliete
sozinha.
CENA 15/ INT/
APT DOS REIS/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Raul está em pé na sala, segurando o celular em
uma mão e olhando a tela, talvez verificando o horário. Seu rosto revela uma
expressão de impaciência.
RAUL
- Simbora minha linda! Se avexe um
pouco, senão chegaremos atrasados.
Giovana entra na sala com pressa, uma mão ainda
segurando o brinco que ela está prestes a colocar.
GIOVANA
- Prontinho meu amorzinho. Diga aí,
como é que tô?
Raul a observa com um sorriso admirado, seus
olhos percorrendo cada detalhe do visual de Giovana.
RAUL
- Oxente, mas tá linda por demais. Valeu
a pena cada minuto esperado.
Giovana se aproxima dele, beijando-o
rapidamente.
GIOVANA
- Obrigada, querido. Só um selinho,
não quero tirar o batom. Olhe, fiquei muito feliz por cê ter aceitado o convite.
Estávamos precisando sair um pouco mesmo.
Ela se afasta de Raul, mantendo o sorriso no
rosto, mas sua atenção agora está focada no seu reflexo no espelho. Giovana
gesticula com as mãos para ajeitar o cabelo.
RAUL
- É verdade, e Kira foi muito
gentil em nos convidar.
Giovana dá uma última olhada no espelho para se
certificar de que está tudo em ordem, pega sua bolsa e sai de casa com o marido.
CENA 16/ INT/
CASA DA JANA/ QUARTO DA MARIA/ NOITE
Maria está sentada em sua cama com seu violão.
Ela toca algumas notas suaves e, em seguida, começa a escrever em um papel com
concentração. As palavras fluem junto com a melodia. Ela toca mais algumas
notas e escreve novamente, perdida em seus pensamentos musicais. Jana abre a
porta do quarto suavemente e entra, sem fazer barulho. Ela observa sua filha
por um momento antes de dar dois toques leves na porta, surpreendendo Maria.
Maria pula um pouco e olha para sua mãe, um pouco assustada.
JANA
(com carinho)
- Oh minha linda, desculpe, não
quis lhe assustar!
MARIA
- Tudo bem, é que eu tava aqui
distraída.
Jana caminha até a cama e se senta ao lado de
Maria. Ela nota o papel em cima da cama e pega.
JANA
(curiosa)
- Cê tá compondo? Deixa eu ver?
Maria pega o papel rapidamente das mãos de Jana
e o amassa, jogando-o de lado. Jana parece surpresa com a reação de sua filha.
JANA
(perplexa)
- Oxe, por que cê fez isso, filha? Desculpe,
não quis ser inconveniente.
MARIA
(insegura)
- É que... não ficou muito bom, mainha.
Vou tentar de novo.
Jana olha para Maria com preocupação e carinho.
JANA
(preocupada)
- Oh meu amor! Adoraria poder entender
melhor o que se passa nesse seu mundinho particular. Mas cê se tranca, não
permita que me aproxime.
MARIA
(tímida)
- Não tem nada demais, minha mãe. Só
sou um pouco tímida e gosto de ficar sozinha.
JANA
(insistente)
- Mas, Maria, sou sua mãe. A pessoa
que mais lhe ama nessa vida. Pode conversar comigo, falar o que tanto lhe
incomoda.
MARIA
- Mas não tem nada me incomodando
minha mãe, tô bem. Por gentileza, me deixa sozinha.
Jana concorda com um suspiro, beija a testa de
Maria e se levanta da cama, saindo do quarto. Maria fica sozinha novamente. Maria
fica parada por um momento, olhando para o nada. Então, as palavras de Paulo
ecoam em sua mente.
PAULO
(off)
- Se algum dia cê falar sobre essas
coisas para sua mãe, mato cê e ela.
Maria começa a chorar silenciosamente,
abraçando os joelhos enquanto se sente presa em seu segredo, temendo pelas
vidas dela e de sua mãe.
Obrigado pelo seu comentário!