Type Here to Get Search Results !

Marcadores

LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 24

 




Novela de Adélison Silva
 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
PAULO
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
CÁSSIA
MAURÍCIO
BEATRIZ
JORGE
ROSENO
FÁTIMA
MARIA
PANDORA
RAUL
KIRA

JÚNIOR


Participação Especial:
POLICIAIS, BRENO, FEMINISTAS


CENA 01/ EXT/ COLÉGIO CENTRAL/ PORTÃO/ TARDE

Maria está visivelmente sem jeito, enquanto observa a aproximação de Paulo. Ela hesita antes de dirigir-se a ele.

 

MARIA

(sem graça)

- O senhor também vai à praia?

 

Paulo mantém uma postura rígida, olhando para Maria com uma expressão séria.

 

PAULO

(rígido)

- Por que, não posso?

 

MARIA

(tensa)

- Painho, já combinamos com as mães de Pandora, iremos juntas.

 

Nesse momento, o carro de Laura se aproxima, interrompendo a conversa.

 

PANDORA

(insegura)

- Minha mãe chegou. Vai vir com a gente, Maria?

 

Paulo olha de canto de olho e resolve ceder.

 

PAULO

- Tudo bem, Maria. Pode ir com sua amiga.

 

Maria segue Pandora até o carro de Laura, enquanto Paulo observa as duas se afastarem.

 

 

CENA 02/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ TARDE

Maurício se aproxima da recepção com a agenda nas mãos.

 

MAURÍCIO

- Essa paciente aqui... Sílvia, quem é?.

 

CÁSSIA

- Oh, meu amor! Essa Sílvia é paciente de Dra. Beatriz, mas ela não vai poder atendê-la hoje. Dra. Beatriz foi pra Feira de Santana com um paquera, e a paciente disse que precisa ser atendida hoje de qualquer jeito. Faz essa gentileza?

 

MAURÍCIO

- Tem coisa que parece que não muda, né mesmo? Beatriz realmente não tem jeito. Pois deixar que atendo a paciente.

 

JANA

- Quero é novidade, viu Dr. Maurício?

 

Maurício ri junto com os colegas da clínica.

 

 

CENA 03/ EXT/ PRAIA/ TARDE

O sol escaldante brilha intensamente sobre a Praia do Farol da Barra. Ao redor, algumas pessoas aproveitam o dia ensolarado. Há famílias montando castelos de areia, grupos de amigos jogando bola e casais caminhando de mãos dadas pela beira da água. Pandora e Maria estão sentadas na areia, desfrutando da brisa marinha e conversando.

 

PANDORA

- Ah, Maria, você deveria mesmo ter usado aquele biquíni que te mostrei. Ficaria tão melhor do que esse maiô.

 

Maria olha para baixo e suspira, mexendo na areia com os dedos.

 

MARIA

- Não gosto muito de mostrar meu corpo, Pandora. Prefiro o maiô.

 

Pandora se aproxima mais de Maria.

 

PANDORA

- Maria, você não tem motivo nenhum para se sentir assim. Seu corpo é lindo, não há motivo para se envergonhar.

 

MARIA

(tímida)

- Mesmo assim, não gosto de me mostrar.

 

PANDORA

(compreensiva)

- Tudo bem, então. Que tal darmos um mergulho?

 

MARIA

- Mas agora?

 

Pandora levanta e estende a mão para Maria.

 

PANDORA

- Sim Maria, vem.

 

MARIA

- E as nossas coisas?

 

Pandora se vira para um casal que está próximo a elas, tomando sol.

 

PANDORA

- Ei, pessoal, vocês poderiam dar uma olhada nas nossas coisas enquanto damos um mergulho rápido? Obrigada!

 

O casal assente com um sorriso, concordando em ajudar. Pandora e Maria correm em direção ao mar, rindo e se divertindo enquanto as ondas as recebem calorosamente. Enquanto nadam e brincam na água, ao longe, Paulo observa as duas amigas com um olhar atento, sua expressão indecifrável em meio ao cenário ensolarado da praia.

 

CENA 04/ EXT/ PLANO GERAL

Imagens rápidas das paisagens de Salvador, incluindo Pelourinho e a Baía de Todos os Santos, seguidas de uma vista aérea de Feira de Santana, a "Princesa do Sertão". Corte para a fachada iluminada de um restaurante à noite, com mesas sob guarda-sóis. A cena transita do dia para a noite, destacando as luzes da cidade e a atmosfera relaxante do restaurante.

 

CENA 05/ INT/ FEIRA DE SANTANA/ RESTAURANTE/ NOITE

Beatriz e Breno estão sentados em uma mesa, desfrutando de um animado bate-papo.

 

BEATRIZ

(sorrindo)

- Espero que vale mesmo a pena eu ter me destrambelhado lá de Salvador pra cá, só pra lhe ver.

 

BRENO

(entusiasmado)

- Mas é claro que valerá a pena. Confesso que não botei muita fé que cê viesse.

 

BEATRIZ

- Oxente homem, mas não disse que vinha? Entenda uma coisa meu amor. Quando eu quero algo vou aos cafundó de Judas se preciso,  mas consigo o que quero.

 

BRENO

- Oxe, aí sim gostei, mulher de fibra.

 

Beatriz sorri, mas enquanto conversam, seu olhar é atraído pela porta do restaurante. Ela vê Jorge entrar com Fátima e, por um breve momento, seus olhares se encontram, revelando sentimentos antigos. Enquanto Beatriz e Jorge trocam olhares encantados, Fátima se aproxima de Jorge.

 

FÁTIMA

(animada)

- Olhe Jorge, é ela! A médica que tá cuidando da minha fertilização.

 

Jorge fica um pouco confuso.

 

FÁTIMA

- Venha, vamos até lá falar com ela.

 

JORGE

(sem graça)

- Oh Fátima, a mulher tá acompanhada. Cê vai lá atrapalhar?

 

FÁTIMA

- Te acalme homem, só vou lá cumprimentar ela.

 

Fátima não perde tempo e se dirige à mesa onde Beatriz e Breno estão sentados. Ela se aproxima, e cumprimenta Beatriz animada.

 

FÁTIMA

(sorrindo)

- Boa noite, Dra. Beatriz! Sou Fátima, tá lembrada de mim, não tá?

 

BEATRIZ

- Claro! Como vai Fátima?

 

FÁTIMA

- Vou muito bem. Que coincidência, né menina? Ah, esse é o meu marido Jorge.

 

BEATRIZ

- Prazer em lhe conhecer.

 

Beatriz e Jorge se cumprimentam, ambos visivelmente sem jeito.

 

FÁTIMA

(entusiasmada)

- Jorge e eu estamos tão ansiosos com todo o processo. Parece que finalmente teremos nosso sonho realizado. Graças a senhora, né Dra. Beatriz?

 

BEATRIZ

- Imagina. Vamos fazer o possível pra que tudo dê certo, né?

 

JORGE

(sem jeito)

- Fátima, vamos procurar um lugar pra gente se acomodar e deixar o casal a vontade?

 

BRENO

- O restaurante está um pouco cheio hoje. Podem sentar aqui, fiquem à vontade.

 

FÁTIMA

- Que maravilha, muito obrigada, viu?

 

Fátima já vai se acomodando deixando Jorge e Beatriz ainda mais sem graça.

 

CENA 06/ INT/ CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ NOITE

Paulo está sentado no sofá, assistindo TV quando Jana entra, acompanhada por Maria.

 

JANA

(beijando Paulo)

- Oi meu amor!

 

PAULO

- E aí!

 

JANA

- Filha, vai lá tomar seu banho, tirar o sal do corpo. Mainha vai preparar uma janta bem gostosa pra nós, viu?

 

Maria assente e se dirige ao seu quarto.

 

PAULO

- Não precisa, a janta já tá pronta.

 

Jana se senta ao lado do marido toda sorridente.

 

JANA

- Humm, que delícia! Bom demais chegar em casa e saber que o maridão já fez a janta.

 

PAULO

- Lhe falar uma coisa. Tá certo esse negócio de Maria ir pra praia sozinha, não viu? O certo seria a gente combinar um dia e ir todo mundo junto.

 

JANA

- Pelo contrário, viu nego? Fiquei foi muito feliz. Finalmente, nossa filha encontrou uma amiga e ganhou ânimo pra sair. Já tava preocupada por demais, vendo Maria querer se trancar sozinha no quarto o tempo todo. Ela é jovem, precisa sair, se divertir, conhecer novas pessoas, namorar.

 

Paulo se altera, levantando-se abruptamente.

 

PAULO

- Que isso, hein Jana? Maria ainda é uma criança tá nova demais pra namorar.

 

Jana se levanta também, encarando o marido com um sorriso maroto.

 

JANA

- Ó pai, gente! Paulo, nossa filha já não é mais uma criança não meu amor. Ela tá na idade sim, de começar a ter seus namoradinhos, de explorar a vida. Não podemos prendê-la.

 

Jana se aproxima de Paulo, beijando-o suavemente.

 

JANA

- Venha cá, venha! Cê não vai ser um painho ciumento, né mesmo?

 

Paulo fica pensativo, enquanto Jana o abraça, e o enche de beijos.

 

 

CENA 07/ INT/ CASA DA RAVENA/ COZINHA/ NOITE

A cozinha está aconchegante, iluminada pelo suave brilho das luminárias penduradas sobre a bancada. Pandora e Laura estão lado a lado, lavando as louças enquanto conversam. O som da água correndo e dos pratos sendo ensaboados preenche o ambiente.

 

PANDORA

(suspirando)

- Sabe, mãe, tenho andado pensando muito em Maria ultimamente.

 

LAURA

(enxugando um prato)

- Cê realmente gostou muito dela, né filha?

 

Pandora olha para Laura com um olhar profundo e reflexivo.

 

PANDORA

(incerta)

- Não sei se é gostar, entende minha mãe? É algo mais... Sei lá, complicado. sinto uma ligação muito forte com ela. É como se Maria fosse uma parte de mim que estava faltando.

 

Laura pausa por um momento, deixando a louça que está segurando de lado.

 

LAURA

(com um sorriso curioso)

- Tô entendendo bem, Pandora? Cê já tá apaixonada por essa menina?

 

Pandora fica vermelha e balança a cabeça de um lado para o outro.

 

PANDORA

(nervosa)

- Não sei se é isso. Só que tá com ela me faz sentir completa de uma forma que nunca me senti antes.

 

Laura volta a lavar a louça, parecendo ponderar as palavras de Pandora.

 

LAURA

(séria)

- E Michele, cê já conseguiu esquecer?

 

PANDORA

(suspirando)

- Eu gostava muito de Michele, mas não é a mesma coisa, não.

 

LAURA

(interessada)

- E por que não, diga aí?

 

PANDORA

(pensativa)

- O rolo com Michele foi mais por influência de mãe Ravena. Ela que sempre quis que eu tivesse alguém na minha vida. Alguém que ela achasse adequado, né? Com Maria, é diferente. Não é algo forçado, é natural. Só quero tá perto dela, fazer parte da vida dela. Me sinto tão bem quando a gente tá junto.

 

Laura sorri compreensivamente, entendendo a filha.

 

LAURA

(carinhosa)

- Bem, minha linda, o importante é que cê siga seu coração. Seja lá o que for que cê sente por Maria, espero que seja algo genuíno e que lhe faça feliz.

 

PANDORA

(sorrindo)

- Obrigada, minha mãe. Já tô muito feliz por simplesmente ter conhecido Maria.

 

Ambas continuam a lavar as louças.

 

 

CENA 08/ INT/ APT DOS REIS/ COZINHA/ NOITE

Giovana e Raul estão sentados à mesa, conversando enquanto jantam.

 

GIOVANA

(preocupada)

- Raul, cê não vai acreditar no que aconteceu hoje no CAMPA. Um homem invadiu o local, completamente embriagado, e ameaçou quebrar tudo!

Raul franze a testa, preocupado com a situação.

 

RAUL

(intrigado)

- Oxente meu amor? Como ele conseguiu entrar? Isso é sério, viu Giovana?

 

GIOVANA

- E eu não sei, Raul? Eles disseram que ele estava tão alterado que ninguém conseguiu impedi-lo. Foi um verdadeiro caos. Mas depois a polícia chegou e levou o desgramado.

 

RAUL

(preocupado)

- Precisamos reforçar a segurança do CAMPA. Isso não pode acontecer de novo.

 

GIOVANA

- Sim, até comentei sobre isso com as outras voluntárias. Vamos tomar providências, imediatamente. Mas sabe o que me deixa mais intrigada? É que depois de tudo isso a mulher dele ainda o defendia. Ela não queria que ele fosse preso. Cê que acha, Raul?

 

Giovana suspira, enquanto Raul se sente mal de repente, levando a mão à testa.

 

GIOVANA

(preocupada)

- Raul, cê tá bem?

 

Raul tenta se apoiar na mesa, com uma expressão pálida no rosto.

 

RAUL

(tentando se recuperar)

- Tô me sentindo tonto. Mas deve ser só cansaço.

 

Giovana se levanta rapidamente, preocupada com o marido.

 

GIOVANA

(apreensiva)

- Raul, sente-se aqui. Vou buscar um pouco d'água.

Raul se senta na cadeira, respirando fundo para se acalmar enquanto Giovana corre para o filtro. Giovana retorna com um copo d'água, entregando-o a Raul, que bebe lentamente.

 

RAUL

(após beber)

- A tontura já tá passando, Giovana. Foi só um susto.

 

Giovana olha para Raul com preocupação.

 

GIOVANA

(preocupada)

- Cê não pode ignorar esses sintomas, Raul. Precisamos marcar uma consulta médica pra saber o que tá acontecendo.

 

Raul assente, reconhecendo a preocupação de Giovana.

 

RAUL

- Tá certa, cê tá certinha minha linda. Vou marcar uma consulta logo. Mas já tô melhor, não precisa se preocupar mais não, viu?

 

Giovana suspira aliviada, e eles se abraçam.

Parte superior do formulário

 

 

CENA 09/ INT/ FEIRA DE SANTANA/ RESTAURANTE/ NOITE

Beatriz está sentada à mesa com Breno, Jorge e Fátima. Todos estão envolvidos em uma conversa animada, rindo e se divertindo. Porém Beatriz e Jorge mantêm-se um pouco tensos.

 

FÁTIMA

- Eu e Jorge desde o início sempre quisemos ter filhos, não é, meu amor? Depois que Vinicius nasceu, tentamos outras vezes, mas não deu certo. Mas com ajuda de Dra. Beatriz, sei que agora vai dar certo.

 

BRENO

- Eu também quero ter muitos filhos. Concorda, minha linda?

 

BEATRIZ

(sorrindo)

- Calma aí, né Breno? A gente tá se conhecendo hoje.

 

BRENO

- Ah, mas tudo na vida tem um início. Já pensou um monte de bacurizinhos com esse rostinho lindo?

 

Enquanto Breno e Fátima continuam conversando animadamente, Jorge olha para Beatriz com um sorriso sem graça, e seus olhares se encontram em um momento de silêncio constrangedor. Beatriz desvia rapidamente o olhar, sentindo-se desconfortável com a situação. Jorge, então, retoma a conversa como se nada tivesse acontecido.

 

JORGE

(sorrindo)

- É verdade, Breno, tudo tem um começo. Mas filho nem todo mundo quer ter filho, né?

 

BRENO

- Oxe, pois eu quero ter é um time de futebol, viu?

 

A tensão entre Beatriz e Jorge paira no ar, enquanto eles tentam manter a discrição diante da situação inesperada de reencontro.

 

 

 

CENA 10/ EXT/ PLANO GERAL

A tela escura da noite dá lugar a um nascer do sol dourado sobre Salvador. Passamos por várias paisagens: a Praia de Itapuã com coqueiros, o Dique do Tororó com suas estátuas, a Baía de Todos os Santos com barcos, o Elevador Lacerda, o Parque de Pituaçu, a Ponte Salvador-Itaparica, e terminamos na Praça da Sé no Pelourinho, onde a cidade brilha sob a luz da tarde.

 

 

CENA 11/ INT/ CAMPA/ SALA DA GIOVANA/ TARDE

Giovana está sentada em uma cadeira, concentrada em algumas tarefas quando a porta se abre e Jana entra, surpreendendo Giovana. Giovana olha para a irmã, seus olhos se iluminando de alegria.

 

GIOVANA

(surpresa)

- Jana! Que surpresa em lhe ver aqui!

 

Jana entra sorrindo, fechando a porta atrás de si.

 

JANA

(brincando)

- Bem, como diz o ditado, "Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha." Né isso mesmo? Eu tinha que fazer uma visita à minha mana caçula, né?

 

As duas se aproximam e se abraçam calorosamente.

 

GIOVANA

(feliz)

- É ótimo lhe ver, Jana. Diga aí minha irmã, como cê tá?

 

JANA

- Tô bem, graças a Deus! Fui na praia deixar Maria com uma amiguinha, aí aproveitei e passei aqui pra lhe ver.

 

GIOVANA

- Que bom, só assim pro cê aparecer por aqui. E como tá Maria?

 

JANA

(entusiasmada)

- Ah, cê não vai acreditar. Ela conheceu uma amiguinha no colégio, e tá toda entusiasmada. Finalmente alguém conseguiu tirar Maria daquele quarto. Eu já tava ficando preocupada.

 

GIOVANA

- Oh Jana, isso é muito bom, sabia? Eu já tava querendo ter uma conversa com Maria. Nessa idade não é normal a pessoa se isolar tanto como Maria faz não.

 

JANA

(rindo)

- Como não é normal minha irmã, se cê mesmo fazia a mesma coisa?

 

GIOVANA

- Sei não, acho o jeito de Maria muito diferente. Mas que bom que ela conheceu essa amiguinha e tá se animando mais.

 

JANA

(contando)

- Ah, painho deu um presente pra ela, tudo que ela queria.

 

GIOVANA

- Um violão, né? Ele me falou.

 

JANA

- Isso mesmo. Agora vive tocando e compondo.

 

GIOVANA

- Ela tem uma voz linda, essa menina tem talento.

 

As irmãs continuam a conversar.

 

CENA 12/ EXT/ FEIRA DE SANTANA/ OFICINA DO JORGE/ TARDE

Jorge e Roseno estão terminando de arrumar um carro enquanto conversam.

 

JORGE

- Ela tava lá, Roseno, no mesmo restaurante em que eu estava com Fátima.

 

ROSENO

- Rapaz, que coincidência, hein? Depois de tanto tempo, cê encontra ela aqui em Feira de Santana.

 

JORGE

- E a coincidência maior nem é essa. Lembra que lhe falei que Fátima tá encasquetada em ter outro filho, né? Pois então, com tantas clínicas em Salvador, ela escolhe justamente a clínica de Beatriz.

ROSENO

- Né não, moço?

 

JORGE

- Tô lhe falando. Foi Fátima quem a reconheceu no restaurante. Fiquei completamente sem graça. E logo ela disfarçou, fingindo que não me conhecia, e acabei entrando no jogo dela. Mas, olha, preciso lhe dizer uma coisa, mano véi. Beatriz continua linda de um jeito... O tempo parece não ter passado para ela, viu pae?

 

 

CENA 13/ EXT/ PRAIA/ TARDE

Maria e Pandora estão sentadas na areia, com as pernas cruzadas, conversando animadamente.

 

MARIA

(entusiasmada)

- Humm! Tenho ótimas notícias! Falei com professora Catarina, e ela já conversou com a diretora, viu? Eles lhe autorizaram a fazer o grafite no muro do Central!

 

Pandora solta um grito de alegria e abraça Maria, jogando-a com carinho na areia.

 

PANDORA

(emocionada)

- Isso é incrível, Maria! Não posso acreditar. Cê é demais!

 

Elas param por um momento e se olham nos olhos, a conexão entre elas palpável. Maria se senta e se ajeita envergonhada.

 

PANDORA

(declarando)

- Maria, você é uma pessoa muito especial, sabia? Sinto que temos uma conexão única. A melhor coisa que me aconteceu aqui em Salvador foi te conhecer.

 

MARIA

(tímida)

- Cê também é muito especial pra mim.

 

PANDORA

(curiosa)

- Maria, você já teve algum namorado?

 

Maria pondera por um momento, antes de responder.

 

MARIA

(envergonhada)

- Não... Não penso nessas coisas.

 

PANDORA

(intrigada)

- Mas por quê?

 

Maria olha para o horizonte, pensativa, e depois volta seu olhar para Pandora.

 

MARIA

(nervosa)

- Eu simplesmente não quero, Pandora. Não sinto vontade de namorar. É algo que nunca me interessou. Acho que é melhor a gente ir embora, né?

 

PANDORA

(compreensiva)

- Calma minha linda! Estamos apenas conversando. Cada um tem seu próprio tempo e seus próprios desejos. Mas o amor é uma das coisas mais bonitas da vida, Maria. Às vezes, vale a pena dar uma chance.

 

Maria vira para frente e fica olhando para o mar enquanto as ondas continuam a quebrar suavemente na praia. Pandora fica ao lado dela, lhe olhando com admiração.

 

 

CENA 14/ INT/ BOUTIQUE DA RAVENA/ TARDE

A boutique está em plena reforma, com o som de martelos, serras elétricas e trabalhadores se movendo freneticamente. Laura se aproxima de onde Ravena está, olhando ao redor com um sorriso de aprovação pelo progresso das obras. Ravena está supervisionando os trabalhos e parece cansada, mas satisfeita.

 

LAURA

(animada)

- Oi meu amor! Tô impressionada com o andamento da reforma. A loja tá quase pronta!

 

Ravena sorri, mas há um toque de determinação em seu olhar.


RAVENA

(decidida)

- Sim, meu bem. Tô trabalhando muito para que tudo fique perfeito. Logo logo poderemos inaugurar.

 

Laura nota que Ravena segura um panfleto em suas mãos e pergunta curiosa.

 

LAURA

(curiosa)

- Que isso em sua mão, hein Ravena? Um panfleto?

 

Ravena olha o panfleto com um olhar sério e orgulhoso.

 

RAVENA

(resoluta)

- Isso pertence às "As Amazonas", Laura. Não pense que, só porque vim pra Salvador, desisti de minha missão.

 

Laura fica um pouco apreensiva ao ouvir falar sobre "As Amazonas", sabendo do histórico radical do grupo.

 

LAURA

(apreensiva)

- Ravena, cê está planejando fazer algum protesto?

 

Ravena assente com determinação.

 

RAVENA

(confiante)

- Sim. Já entrei em contato com algumas colegas que moram aqui em Salvador. Vamos chamar a atenção para as questões que importam.

 

LAURA

(preocupada)

- Ravena, por favor, tenha cuidado. Cê sabe que esses protestos podem ficar fora de controle e já sabemos que cê não mede muitos os esforços, né mesmo?

 

RAVENA

(determinada)

- Deixa eu lhe falar uma coisa, viu meu bem?. Às vezes, é necessário ir até o limite pra fazer a diferença. As Amazonas não se acuam diante das injustiças. E nós vamos lutar pelo que é certo.

 

Laura compreende a determinação de Ravena, mas não pode deixar de se preocupar com o que está por vir.

 

 

CENA 15/ INT/ CAMPA/ SALA DA GIOVANA/ TARDE

Jana está sentada, conversando com Giovana.

 

GIOVANA

(preocupada)

- Tô muito preocupada, viu Jana? Não é de hoje que Raul vem passando mal. E também anda sem apetite, quase não come.

 

JANA

- Ele tem que procurar um especialista, não pode achar que isso é normal.

 

GIOVANA

- Oh menina, mas não é o que digo? Mas cadê que Raul faz isso? Ali é teimoso igual mula empacada.

 

Kira entra na sala com uma bandeja de lanche e um sorriso prestativo.

 

KIRA

- Com licença, desculpe interromper cês duas. As meninas fizeram uns biscoitinhos, vim aqui servir pro cês.

 

GIOVANA

- Tá com a cara ótima, viu Kira? Cê sempre maravilhosa.

 

JANA

(pegando um biscoito)

- Eu já vou é experimentar.

(depois de provar)

- Humm! Delicioso, viu?

 

KIRA

(prestativa)

- Viu só? Se precisarem de mais alguma coisa, é só chamar.

 

GIOVANA

- Obrigada Kira!

 

Kira sai da sala e Giovana suspira voltando sua conversa com Jana, olhando para a porta fechada.

 

GIOVANA

(confidenciando)

- Sabe, Jana, tenho notado algo estranho com Kira. A maneira como ela age...

 

JANA

(curiosa)

- O que cê quer dizer, mana?

 

 

Giovana parece incerta, mas decide compartilhar seus sentimentos.

 

GIOVANA

- Ela age de um jeito... Sedutor, sabe Jana? Ela faz a corte, como os homens fazem. É insinuante, sedutora. Ela vai se envolvendo, nos envolvendo... Menina, eu fico completamente sem jeito.

 

Jana levanta uma sobrancelha e se ajeita na cadeira, surpresa.

 

JANA

(surpresa)

- Oxente Gih! Isso lhe deixou mexida, foi?

 

Giovana suspira, admitindo sua vulnerabilidade.

 

GIOVANA

(confessando)

- Sim. Mexe, mexe muito comigo, não vou negar. Porque no fundo, isso envaidecem a gente, né? Faz a gente se sentir bem consiga mesma. Cê não ficaria mexida com isso, Jana?

 

JANA

- Olhe, não sei, viu Gih? Acho que eu poderia sim, me apaixonar por outra mulher. Acho que qualquer uma pode. Às vezes, paixões acontecem onde menos esperamos.

 

GIOVANA

(corrigindo)

- Não, Jana, cê tá entendendo errado. Não tô me apaixonando. Quem disse que tô me apaixonando? A Kira é só... ela mesma. Não sei nem se ela tá realmente dando em cima de mim ou se é apenas o jeito dela.

 

JANA

(espantada)

- Oh Gih, cê não sabe quando alguém tá dando em cima de você?

 

GIOVANA

- Com homens, talvez. Mas com mulheres... é diferente. Eu nunca realmente pensei sobre isso.

 

 

CENA 16/ EXT/ RUA/ TARDE

Rebeca pedala sua bicicleta pela rua tranquila, desfrutando do sol da tarde quando de repente nota que está passando perto de um circo montado nas proximidades de sua casa. Ela para a bicicleta e fica olhando com curiosidade, lembrando-se de como sempre teve vontade de assistir a um espetáculo de circo, mas foi impedida por seu pai.

 

 

FLASHBACK ON

CENA 17 - EXT. RUA - TARDE (ANO 2005)

Rebeca, uma criança de 7 anos, caminha ao lado de seus pais. Eles passam perto de um circo montado nas proximidades de sua casa. Rebeca fica empolgada e seus olhos brilham de curiosidade.

 

REBECA

(animada)

- Olhe, painho! É um circo! Bora lá no circo, bora?

 

Moisés se agacha para ficar na altura de Rebeca, com um semblante sério.

 

MOISÉS

(grave)

- Rebeca, o crente não pode ir ao circo. Circo é coisa do diabo.

 

Rebeca olha para o pai, confusa.

 

REBECA

(confusa)

- Oxente painho, e ele comprou o circo, foi?

 

Moisés revira os olhos com ingenuidade de Rebeca e continua sua explica com convicção.

 

MOISÉS

(resoluto)

- Lá dentro, acontecem coisas que desafiam a vontade divina, filha. Ilusões, magia, contorcionismo... são práticas espirituais contrárias à Palavra de Deus.

 

RAIMUNDA

(doce)

- Simbora minha linda, não precisamos ir ao circo, viu? Assim que chegar em casa mainha faz uma pipoca e coloca um DVD pro cê assisti.

 

Rebeca olha para seus pais, mas quando está prestes a sair, ela olha para trás e vê um palhaço que sorri para ela, balançando um balão colorido. De repente, na mente dela, o palhaço se transforma em um monstro com olhos ameaçadores, dentes afiados e garras assustadoras. Rebeca fica petrificada e perturbada com a visão.

 

REBECA

(aterrorizada)

- Vala me Deus, meu pai! Olhe ali!

 

MOISÉS

- O que é menina?

 

Moisés e Raimunda se viram para trás, mas não veem nada de anormal. O palhaço continua a sorrir para Rebeca, mas dessa vez ela vê o sorriso como uma ameaça sinistra.

FLASHBACK OFF

 

Continuação da CENA 16/ EXT/ RUA/ TARDE

Rebeca volta ao presente, saindo do transe repentino, e fica assustada ao perceber que há um palhaço perto dela.

 

REBECA

- Vala me Deus o demônio tá aqui! Vai de retro coisa ruim!

 

Rebeca sai em disparada com sua bicicleta. O palhaço, que na verdade era Júnior, o Pirulito, fica perplexo com a reação da jovem e não entende o que acabou de acontecer. Ele fica parado, olhando para Rebeca se afastando rapidamente.

 

JÚNIOR

(confuso)

- Oxente, mas que foi que eu fiz?

 

 

CENA 18/ EXT/ PLANO GERAL

O sol se põe sobre a Praia de Itapuã, pintando o céu de tons alaranjados e rosados. A cena se transforma no colorido Pelourinho à noite, com suas ruas de paralelepípedos iluminadas por lanternas. Um trio elétrico animado toca uma marchinha, e a alegria da multidão cresce. À medida que a noite avança, as luzes da cidade brilham intensamente, destacando a beleza de Salvador. O trio elétrico continua sua festa enquanto a cidade ganha vida à noite.

 

CENA 19/ INT/ CASA DA JANA/ QUARTO DE MARIA/ NOITE

Maria está sentada em sua cama, com o quarto à meia-luz, examinando o celular. Ela passa pelas fotos que tirou na praia com Pandora, revivendo os momentos que compartilharam juntas. 


Seu rosto começa a se iluminar com um sorriso bobo, e seus olhos brilham. Ela sente algo diferente acontecendo dentro dela, uma sensação que ela não reconhece completamente, mas que a faz se sentir viva e feliz. Ela fecha o celular suavemente e fica ali, sentada na cama, perdida em pensamentos.

 

CENA 20/ EXT/ RUA/ NOITE

O protesto do movimento "As Amazonas" ocorre em frente a uma igreja, com cerca de vinte mulheres vestidas apenas com shorts curtos e slogans feministas pintados em seus corpos. Cartazes com mensagens provocativas como "Meu corpo, minha escolha", "Aborto é um direito humano" e "A igreja não decide sobre o meu útero" são erguidos pelas manifestantes. Elas estão agitadas, gritando palavras de ordem enquanto se posicionam em frente à igreja. A polícia está presente, observando atentamente.

 

FEMINISTAS

(gritando)

- Nossos corpos, nossas regras! Feminismo é resistência!

 

De repente, Ravena se destaca do grupo e começa a subir na estátua em frente à igreja. Ela segura um cartaz que diz "Deus é pró-aborto" e começa a gritar palavras de ordem ainda mais fortes.

 

RAVENA

(gritando, determinada)

- Nós decidimos o que fazer com nossos corpos! Ninguém mais!

 

A polícia tenta intervir, formando uma linha de barricada entre Ravena e as demais manifestantes, mas Ravena está determinada a ser ouvida.

 

POLICIAL 1

(exigindo)

- Senhora, por favor, desça daí!

 

Ravena ignora a ordem, continuando seu protesto.

 

RAVENA

(gritando)

- Não vamos recuar! Nossos direitos são inegociáveis!

 

A tensão aumenta quando a polícia decide agir. Eles se aproximam de Ravena, tentando retirá-la da estátua.

 

POLICIAL 2

(segurando Ravena)

- Cê tá sendo presa por desobediência civil!

 

Ravena cospe na cara de um dos policiais, provocando uma reação imediata.

 

RAVENA

(desafiadora)

- A mulher imponderada assusta, né mesmo?

POLICIAL 2

- A senhora tá presa por desacato!

 

O policial indignado dá ordem de prisão imediatamente, e Ravena é levada embora, algemada, enquanto as outras mulheres do movimento protestam com veemência.

 

FEMINISTAS

(gritando)

- Liberdade para Ravena! Aborto é um direito! Mexeu com uma, mexeu com todas!

 

A cena é caótica e cheia de violência, com mulheres gritando, chorando e resistindo enquanto a polícia leva algumas das companheiras embora. O confronto entre os manifestantes e a polícia deixa uma sensação de tensão no ar, enquanto o protesto continua em meio ao caos.
























Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.