JANA
LAURA
GIOVANA
MOISÉS
REBECA
RAVENA
MAURÍCIO
BEATRIZ
JORGE
ROSENO
FÁTIMA
MARIA
PANDORA
DARLAN
SÉRGIO
RAUL
KIRA
VANESSA
JÚNIOR
Participação Especial:
CATARINA, Amigos de Sérgio, NADINE
CENA 01/ INT/
CASA DA RAVENA/ SALA DE ESTAR/ DIA
Pandora está ocupada na cozinha, terminando de
preparar seu café da manhã. Neste momento, Ravena e Laura entram na sala.
PANDORA
- Ué, gente? De onde vocês estão
vindo?
LAURA
- Passamos a noite na delegacia,
sua mãe Ravena foi presa.
PANDORA
- Como assim, presa?
RAVENA
- Fui detida por causa de um
policial machista que aproveitou que estávamos com os peitos de fora e ficou me
alisando.
LAURA
- Não foi bem isso que aconteceu,
né Ravena? Cê foi detida porque cuspiu na cara de um policial.
RAVENA
(irritada)
- Ele mereceu, né Laura? Aquele
policial machista estava nos tratando como objeto, como se nossa luta fosse uma
piada! Aliás, não só aquele policial, mas todos que estavam ali.
LAURA
(frustrada)
- Ravena, cuspir na cara dos outros
não ajuda em nada! Só piora as coisas para o nosso movimento. Por pouco ela não
ficaria de fato presa, viu Pandora?
RAVENA
(firme)
- Duvido! Eles nem se quer poderia
ter me levado pra lá. Mas não é isso que vai me desanimar não, meu amor. Isso
só me deu foi mais energia pra continuar a lutar. Agora vou tomar um banho para
me livrar desse maldito cheiro de cadeia.
Ravena se afasta em direção ao banheiro.
PANDORA
- Gente, mas esse protesto foi tão tenso
assim?
LAURA
- Pior que não filha, estava tudo
indo bem. A polícia estava lá, mas só de prontidão, não estava atrapalhando o
nosso protesto. Tudo acontecendo de forma bem pacífica até. Mas Ravena como
sempre age de forma impulsiva e agressiva, aí fica difícil manter a seriedade e
o respeito.
Ravena retorna à sala, ainda enrolada em uma
toalha, e falando de forma rígida.
RAVENA
- Os homens são agressivos, Laura.
Eles não vão entender outra linguagem se continuarmos agindo como mulherzinhas
frágeis. Meu Deus, quando cê vai entender isso? Se a gente não bater de frente,
eles sempre vão fazer do jeito deles. Foi graças a mulheres agressivas como eu,
que hoje ainda temos algum direito.
LAURA
- Tá certo, viu Ravena? Vou ficar
aqui discutindo as mesmas coisas contigo, não. Vá tomar seu banho, vá.
RAVENA
- Como cê é difícil de entender as
coisas, viu Laura? Eu é que não vou discutir contigo, tô indo lá tomar meu
banho.
Ravena sai da sala.
PANDORA
- Nossa gente, que clima! Eu hein!
Laura se aproxima da janela e fica pensativa.
CENA 02/ INT/
APT DOS REIS/ COZINHA/ DIA
Raul e Giovana estão na cozinha, preparando o
café da manhã juntos. Raul parece estar cuidando da cafeteira enquanto Giovana
está ocupada com os utensílios.
GIOVANA
- Cê já foi procurar um médico?
RAUL
- Te preocupe não meu amor, foi só
um mal-estar passageiro. Não é nada sério.
Giovana insiste, demonstrando sua preocupação.
GIOVANA
- Raul, pelo amor de Deus, né? Pode
ser que seja só um mal-estar, mas também pode ser algo mais sério. O certo é se
prevenir, tá entendendo? Se quiser, eu mesma posso marcar a consulta para você.
RAUL
(resoluto)
- Vá bem, cê tá certa. Mas não te
avexe, pode deixar que essa semana mesmo eu procuro um médico.
Ele a abraça, tentando acalmá-la.
RAUL
(sorrindo)
- Se preocupe não, viu, minha
linda? Tô me sentindo muito bem, mesmo.
Giovana sorri aliviada e retribui o abraço.
GIOVANA
(feliz)
- É isso que quero, que cê continue
se sentindo bem.
Os dois se beijam carinhosamente.
CENA 03/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DA BEATRIZ/ DIA
Beatriz está em sua sala, visivelmente agitada,
enquanto Jana a escuta atentamente.
BEATRIZ
- Estava lá eu, né? Todo poderosa jantando
com meu boy. Quando eu olho pra porta, menina... Quem eu vejo? Fátima. De mão
dada com quem? Com Jorge.
JANA
- Ave Maria Dra. Beatriz! Então senhora estava certa, né? O menino é mesmo
filho de Jorge?
BEATRIZ
- Ali não tinha como ter dúvida
não. O menino é Jorge escarro e cuspido. Mas lhe digo mais. Fátima me viu de
longe e já foi se aproximando. Eu fiquei trêmula e sem ação. Eu fiz a egípcia e
fingi que não o conhecia, e ele embarcou na minha. Mas Breno vai e convida os
dois pra sentar na mesa conosco.
JANA
(rindo)
- Oxente que situação hein Dra.
Beatriz?
BEATRIZ
- Foi tenso, viu menina?... E o pior
nem lhe disse ainda. Cê acredita, que na hora do vamo ver lá com Breno, eu não
chamei ele de Jorge? Ele ficou sem entender nada, disfarcei, é claro. Mas aí já
perdeu o clima, né?
JANA
- Imagino, uma hora dessa tem como
ter mais clima mais não.
BEATRIZ
- Sabe, Jana, é que Jorge... Minha
nega, aquele homem é uma loucura na cama. Igual aquele nunca achei nenhum não.
Uma pegada, que vou lhe contar menina... Me fazia ir ao céu e voltar em questão
de segundos. Lamento tanto por não termos conversado. Sei que agora ele tá lá
morando em Feira de Santana, mas não faço ideia de onde.
Enquanto Beatriz compartilha seus pensamentos
sobre Jorge, Maurício entra na sala e interrompe a conversa.
MAURÍCIO
- Licença! Beatriz, precisamos
conversar sobre Sílvia.
BEATRIZ
(confusa)
- Quem é Sílvia?
MAURÍCIO
- Uma das suas pacientes que
atendi.
JANA
- Acontece Dra. Beatriz, que tive
que passar algumas de suas pacientes para Dr. Maurício.
BEATRIZ
- Ah, sim, tudo bem.
JANA
(saindo)
- Vou deixar cês a sós para
conversarem.
BETARIZ
- Obrigada Jana! Sente aí Maurício.
CENA 04/ INT/
COLÉGIO CENTRAL/ SALA DE AULA/ DIA
A sala de aula está cheia, com os alunos
ocupando seus lugares. Pandora está sentada em sua carteira, mas seu olhar está
firmemente fixo em Maria, que começa a se sentir desconfortável sob o olhar
persistente.
MARIA
(tímida)
- Cê tá me deixando sem graça.
Pandora desvia o olhar, percebendo o
desconforto de Maria.
PANDORA
(sorrindo de canto de boca)
- A culpa é sua, Maria, cê me
hipnotiza. Desculpa, parei de te olhar, não quero te deixar constrangida...
Mas, o que cê acha da gente ir à praia de novo?
MARIA
- Hoje tô pensando em ir ao CAMPA.
Pandora franze a testa, demonstrando
curiosidade.
PANDORA
- CAMPA? O que é isso?
MARIA
- É uma Casa de Acolhimento para
Mulheres que Precisam de Ajuda. Foi criada pela minha tia. É um lugar incrível,
onde as mulheres fazem várias atividades, como artesanato, plantam horta e
muitas outras coisas. Lá tem até um grupo musical. Gosto muito de ir lá.
PANDORA
(encantada)
- Uau, que interessante. Nunca ouvi
falar desse lugar.
MARIA
(animada)
- Fica no Pelourinho. Bora depois
da aula?
PANDORA
- Claro, fiquei muito curiosa em
conhecer.
Enquanto elas conversam, a professora Catarina
entra na sala com Darlan ao seu lado. Todos os olhares se voltam para a
professora.
CATARINA
- Bom dia a todos! Atenção, esse
jovem que tá comigo aqui é Darlan. Que a partir de hoje vai fazer parte dessa
turma. Quero que cês o recebam muito bem. Darlan é um menino esforçado, foi
campeão das olimpíadas de matemática da Bahia, um exemplo a ser seguido, hein?
SÉRGIO
(zombando)
- Ave Maria, professora, tão
trazendo agora até os mendigos da rua pra estudar aqui no colégio.
Alguns riem do comentário de Sergio. Darlan
fica visivelmente constrangido.
CATARINA
- Tenha mais respeito, viu Sérgio?
Sente lá, Darlan. Vamos começar nossas aulas.
A aula começa, mas o clima na sala de aula
permanece um tanto tenso devido ao comentário desrespeitoso de Sérgio sobre
Darlan.
CENA 05/ INT/
CAMPA/ OFICINA DE ARTES/ DIA
Kira está concentrada em seu celular,
assistindo a um vídeo. Seus olhos estão fixos na tela, e ela parece incrédula
com o que está vendo.
KIRA
(surpresa)
- Oxente, ó pá aqui!
GIOVANA
(intrigada)
- Que foi Kira?
KIRA
- Tô vendo aqui um vídeo do protesto
feminista que teve ontem. Tá dizendo aqui que se trata de um grupo titulado “As
Amazonas”.
GIOVANA
- Ah sim, fiquei sabendo desse
protesto. Elas são muito extremistas, não gosto desse tipo de movimento.
KIRA
(explicando)
- Venha cá Giovana, ó pá aqui. Conheço
essa Ravena, líder do movimento. Mas nem sabia que ela tava em Salvador. Pra
mim ela tava no Acre.
GIOVANA
(surpresa)
- Oxente, deixe eu dar uma olhada.
Giovana assiste ao vídeo com interesse, e seus
olhos se arregalam de surpresa.
GIOVANA
- Também conheço a Ravena, a mulher
dela, Laura, foi minha amiga de infância. Ave Maria, não acredito que Laura tá
aqui em Salvador. Faz tanto tempo que não a vejo.
KIRA
- Acho que cheguei a ver essa Laura
uma única vez... Mas vamos deixar elas de lado, pois vim aqui mesmo lhe fazer
um convite. Ou melhor, uma intimação.
GIOVANA
(curiosa)
- O que é mesmo?
KIRA
(empolgada)
- Agora à tarde, tô indo para Morro
de São Paulo, pois à noite vou tocar em uma festa lá. E você, é claro, tá
convocada a ir comigo.
GIOVANA
(resistindo)
- Oxe mulher, muito obrigada mas não
vou poder, né? Tenho que cuidar aqui do CAMPA. E também tem Raul, não posso
sair assim de qualquer jeito.
KIRA
(insistindo)
- Aqui no CAMPA tem as voluntárias,
Nadine e as meninas, cuidarão de tudo enquanto cê tiver fora. E quanto a Raul,
converse direitinho com ele, ele vai entender. A festa é de um ricaço, dono de
uma rede de hotéis em Morro de São Paulo. Falei sobre o projeto CAMPA, e ele
está disposto a ajudar. Menina, se ele realmente se identificar com o projeto, nós
só temos a ganhar.
GIOVANA
(refletindo)
- Oh, Kira, não é que cê pode tá certa.
Vou falar agora mesmo com Raul. Preciso conversar direitinho com esse homem,
né?
CENA 06/
EXT/ FEIRA DE SANTANA/ OFICINA DO JORGE/ TARDE
Jorge está inclinado sobre o capô de um carro,
segurando uma chave inglesa, enquanto verifica o motor do veículo. Roseno está
ao lado de uma bancada de ferramentas, trabalhando em um componente do sistema
de escapamento de um carro. Ele segura um maçarico de solda e está focado na
tarefa de soldagem de uma parte danificada do escapamento.
Enquanto os dois trabalham, a conversa sobre
Beatriz surge.
JORGE
(confidenciando)
- Eu não consigo parar de pensar
nela, Roseno.
ROSENO
(curioso)
- De quem cê tá falando, homem?
JORGE
- De Beatriz, moço. Desde que a vi
naquele restaurante, fiquei mexido. Cê acredita?
ROSENO
(alertando)
- Rapaz, essa mulher mexe mesmo
contigo, hein? Disfarce aí, viu? Que Fátima tá vindo bem ali.
FÁTIMA
(entusiasmada)
- Bom dia, Roseno!
ROSENO
- Bom dia!
FÁTIMA
(virando-se pra Jorge)
- Nego, tava pensando. Tenho que
voltar logo no consultório de Dra. Beatriz, pois quero engravidar ainda este
ano.
Jorge fica visivelmente desconfortável com a
situação.
JORGE
(sem jeito)
- Mas pra que se apressar tanto,
Fátima? Acho que seria melhor esperarmos um pouco mais.
FÁTIMA
(confusa)
- Oxente, Jorge, agora não tô lhe
entendendo. Cê que sempre foi doido para ter outro filho.
JORGE
(explicando)
- Sim, mas pensei melhor e acho que
seria bom a gente esperar um pouquinho mais.
FÁTIMA
(entusiasmada)
- Deixa de bestagem, que já me
programei todinha para a chegada desse filho. E Dra. Beatriz é excelente, tenho
uma amiga que fez tratamento com ela e conseguiu engravidar logo em seguida. Tô
tão empolgada, nego, outro filho vai ser uma benção em nossa vida. Cê que acha?
A tensão entre Jorge e Fátima fica evidente, já
que suas perspectivas sobre o momento de ter outro filho parecem estar em
conflito.
CENA 07/INT/
COLÉGIO CENTRAL/ REFEITÓRIO/ DIA
O refeitório da escola está cheio de alunos
durante o horário do almoço. Sérgio está sentado em uma mesa com seus amigos,
todos rindo e conversando animadamente. Pandora e Maria ocupam uma mesa
próxima, conversando entre elas. Darlan, o novato, está sentado sozinho em
outra mesa. Sérgio está distraído, mexendo no celular, até que decide deixá-lo
em cima da mesa enquanto se envolve na conversa com seus amigos. Nesse momento,
um dos colegas de Sérgio, aproveitando a distração, pega o celular dele e o
esconde rapidamente. Pandora percebe o que está acontecendo, observando a ação
furtiva. Darlan se levanta da mesa e decide jogar seu copo descartável na
lixeira. Ele retorna à mesa brevemente apenas para arrumar sua mochila antes de
partir. Sérgio nota que seu celular desapareceu e, sem pensar duas vezes,
levanta-se de sua mesa e caminha até onde Darlan está.
SÉRGIO
- Te acalme bem aí, viu seu
favelado?
Todos ficam olhando sem entender.
DARLAN
- O que é mesmo, moço? Não tô lhe
entendendo
SÉRGIO
- Ah não tá entendendo? Passa essa
mochila pra cá neguinho safado.
Sérgio pega a mochila de Darlan e começa a
vasculhar, jogando todas suas coisas no chão.
DARLAN
- Largue minha mochila, tem nada
seu aí dentro não!
SÉRGIO
- É isso que vamos ver seu
marginalzinho!
Pandora, indignada com a atitude de Sérgio, se
levanta rapidamente e começa a ajudar Darlan a juntar suas coisas.
PANDORA
(furiosa)
- Opa, cê tem o direito de mexer as
coisas dele assim não, viu?
SÉRGIO
- Fique longe disso que ninguém
aqui lhe chamou na conversa. Onde tá o meu celular seu safado?
DARLAN
(defensivamente)
- Não peguei seu celular, cara, eu
juro!
Pandora continua a confrontar Sérgio, criticando seu
comportamento preconceituoso.
PANDORA
(acusadora)
- E porque cê acha que foi ele que
pegou seu celular? Por que não pergunta aos seus amiguinhos playboy onde está o
seu celular?
Nesse momento, um dos amigos de Sérgio, com um
sorriso no rosto, revela o celular.
AMIGO DE SÉRGIO
(rindo)
- Tá aqui, moço, te acalma! Só
estava lhe zoando!
SÉRGIO
- Fala sério Pedroca, quase que
estrangulo o bicho aqui!
Sérgio e os amigos vão saindo do refeitório.
PANDORA
- Vai pedir desculpas para o menino
não.
DARLAN
- Deixa quieto, tá tranquilo.
PANDORA
- Deixa quieto nada. Vamos na
diretoria agora, o que rolou aqui foi racismo.
CENA 08/ EXT/
PRAÇA/ TARDE
Vanessa e Rebeca estão sentadas no banco
enquanto conversam.
VANESSA
- O circo vai ser inaugurado hoje. Vamos?
REBECA
- Vai de retro! Circo é coisa do diabo.
VANESSA
- Oxe, deixe disso! Circo é um lugar pra se divertir, tem nada de
demoníaco. É um lugar mágico, encantado...
REBECA
- Mas magia não é coisa de satanás?
VANESSA
-
Não a magia do circo. Ali é apenas um show preparado por artistas com o único
intuito de nos divertir.
REBECA
-
Então cê já foi ao circo, Vanessa?
VANESSA
- Oxente, ó paí! Já fui tantas vezes que já perdi foi as contas.
Amo os espetáculos de circo. Tenho certeza que cê também vai gostar. Vamos
comigo?
REBECA
- Fiquei curiosa, mas não sei se devo. Painho me mataria se
soubesse que fui ao circo.
VANESSA
- Olhe
Rebeca, cê me perdoe, viu? Respeito muito pastor Moisés, mas acho que ele
exagera por demais. Nem tudo é pecado como ele diz. Bora ao circo, moça. Pastor
Moisés não precisa saber, tenho certeza que cê vai amar.
REBECA
- Vá bem, eu vou. Mas já digo logo, levarei minha bíblia. Porque
se o diabo tentar me pegar, eu já exorcizo ele.
Vanessa ri com as palavras de Rebeca.
VANESSA
- Oh, moça, só cê mesmo, viu?
CENA 09/ INT/
MORRO DE SÃO PAULO/ QUARTO DO HOTEL/ TARDE
As duas chegam ao quarto do hotel. Kira, com um
ar de alívio, joga sua mala no chão e imediatamente se dirige à janela, atraída
pela vista deslumbrante.
KIRA
- Graças a Meu Senhor do Bonfim,
chegamos sã e salvas.
(olhando pela janela)
- Olha que vista maravilhosa!
Enquanto isso, Giovana explora o quarto,
examinando os detalhes.
GIOVANA
- Tudo aqui é danando de lindo
mesmo.
(intrigada)
- Oxe, mas vamos ficar no mesma
cama, é?
KIRA
- Sim. Por conta da festa que vai
ter a noite, os quartos acabaram ficando todos ocupados. Teria algum problema cê
dormir na mesma cama que eu.
GIOVANA
(sem graça)
- Não... Claro que não. Só não
quero lhe incomodar.
KIRA
(sedutora)
- Oh minha linda, dividir essa cama
com cê será um prazer. Literamente se cê permitir.
Distraída e ainda examinando os objetos no quarto,
Giovana não entende completamente o que Kira disse.
GIOVANA
- É o quê?
Kira rapidamente muda de assunto.
KIRA
- Nada não... Ainda tá cedo, dá pra gente curtir uma praia antes da festa. Que
cê acha?
GIOVANA
- Ah será ótimo. Bora!
CENA 10/ INT/
CAMPA/ TARDE
Nadine está ocupada ajeitando alguns cartazes
no mural do CAMPA, Maria e Pandora em pé ao seu lado.
NADINE
(com simpatia)
- Poxa Maria, cê veio bem em um dia
que sua tia não tá. Ela viajou pra Morro de São Paulo.
Maria parece desapontada e vira-se para
Pandora, que estava ao seu lado.
MARIA
(com pesar)
- Sério? Não tivemos sorte,
Pandora, hoje não vai dar pra você conhecer minha tia.
PANDORA
(entusiasmada)
- Que pena, hein? Mas vamos voltar
aqui outro dia para conhecer ela. Achei esse lugar fantástico.
NADINE
(gentilmente)
- Se Pandora querer conhecer o
lugar, pode ficar à vontade, viu Maria?
MARIA
- Obrigada, Nadine. Venha, Pandora,
vou lhe mostrar melhor o espaço do CAMPA.
CORTA
PARA:
CENA 11/ INT/
CAMPA/ CANTINA/ TARDE
Pandora e Maria estão sentadas na mesa da
cantina enquanto faz um lanche.
MARIA
(apreciativa)
- Foi massa, viu? O que cê fez lá
pelo Darlan.
PANDORA
- Sérgio foi um babaca. Ele não
tinha motivo nenhum para desconfiar de Darlan. Agiu puramente por racismo e
preconceito.
MARIA
(refletindo)
- Lamentavelmente, quando algo
some, o preto sempre é o principal suspeito.
PANDORA
(categórica)
- Sérgio é branco, hétero e homem.
Todo homem é babaca por natureza. Eles sempre acham que são superiores.
MARIA
(admirativa)
- Darlan parece ser bem diferente.
Gostei muito do jeito dele, educado, inteligente... E ele é bonito, né,
Pandora?
Pandora, de repente, demonstra um leve sinal de
ciúmes ao ouvir Maria falar sobre as qualidades de Darlan.
PANDORA
- Sim. E pelo jeito ele já ganhou
uma fã.
CENA 12/ EXT/
MORRO DE SÃO PAULO/ PRAIA/ TARDE
Giovana está sentada na areia, aproveitando o
sol. Kira está próxima, brincando na água.
GIOVANA
(olhando em volta)
- Kira, olha só este lugar. Ave
Maria, é simplesmente deslumbrante, menina! Cê não macha?
Kira sai da água, sorrindo e se aproxima e
Giovana sentando ao seu lado.
KIRA
(concordando)
- Cê tem toda a razão, Gih. Morro
de São Paulo é um dos lugares mais bonitos que já visitei.
Giovana olha para o mar e suspira.
GIOVANA
(sorrindo)
- Sabe, já estive aqui uma vez com
o Raul.
KIRA
(interessada)
- Mesmo? E cê gostou?
Giovana sorri, lembrando-se daquela viagem.
GIOVANA
- Oxente, gostei por demais. Passamos
dias maravilhosos aqui. Mas ultimamente, é tanto trabalho que nem estamos tendo
tempo.
KIRA
(sedutora)
- Que bom que mesmo em meio a tanto
trabalho, cê conseguiu tirar um tempinho pra mim.
Giovana olha para Kira meio constrangida.
GIOVANA
(disfarçando)
- Sabe o que eu estava pensando? Em
convidar Raul para uma segunda lua de mel aqui. Acho que isso faria muito bem
ao nosso casamento.
Kira fica um pouco sem graça com a sugestão,
mas tenta disfarçar.
KIRA
(sorrindo forçadamente)
- Ah, isso é uma ótima ideia, viu
Gih? Tenho certeza de que ele adoraria.
Giovana parece não perceber o desconforto de
Kira e continua animada.
GIOVANA
(entusiasmada)
- Com certeza. Vou ver se consigo
um quarto no mesmo hotel que estamos. Quando vim com Raul pegamos uma
pousadinha, mas longe daqui.
Kira olha para o relógio e se apressa em mudar
de assunto.
KIRA
(apressando)
- Bem, falando em hotel, acho que
já tá na hora de nos arrumarmos para a festa, né mesmo?
Giovana concorda e se levanta.
GIOVANA
(sorrindo)
- Sim, cê tem razão. Vamos voltar
para o hotel e nos preparar para a festa. Quero conhecer logo o tal homem que
pode nos ajudar.
.
As duas amigas caminham em direção ao hotel,
deixando para trás a deslumbrante paisagem.
CENA 13/
EXT/ PLANO GERAL
Começamos
com um deslumbrante entardecer no Morro de São Paulo, destacando suas praias e
coqueiros. Em seguida, passamos para Salvador à noite, começando com as águas
brilhantes da Baía de Todos os Santos, a animada Ladeira da Barra, o Mercado
Modelo iluminado e as ruas festivas do Pelourinho. Finalmente, a cena se
estabiliza na tranquila Praça da Sé, destacando a fachada iluminada da Igreja Cajado
da Fé.
CENA 14/ INT/
IGREJA CAJADO DA FÉ/ NOITE
A igreja está cheia. O Pastor Moisés, está no
púlpito, fervorosamente entregando sua pregação.
MOISÉS
(olhando para a congregação)
- Meus irmãos e irmãs, o diabo está
sempre à espreita, tentando nos enredar em suas teias de engano e pecado. Se
não estivermos firme na nossa fé, ele nos puxa e nos afasta do reino de Deus.
TODOS
- Aleluia!
MOISÉS
- Devemos nos afastar das tentações
mundanas meus caros irmãos e nos apegar a nossa fé.
Rebeca está sentada mais ao fundo da igreja,
totalmente concentrada e assustada com as palavras de seu pai. Vanessa se
aproxima e senta ao lado dela, com um olhar curioso.
VANESSA
(sussurrando)
- Diga aí Rebeca, cê vai querer ir
ao circo depois do culto? Tô indo assim que terminar.
Rebeca arregala os olhos e sussurra de volta,
um pouco irritada.
REBECA
(praguejando)
- Isso é mais uma artimanha do
inimigo, Vanessa, tentando nos distrair com entretenimento mundano! O diabo tá
querendo nos arrastar para o inferno.
VANESSA
(sussurrando)
- Oxente, Rebeca. Não tem nada
demais no circo. É só diversão, nada relacionado ao inimigo. O diabo gosta é de
tristeza, e no circo só tem alegria.
Rebeca fica indecisa, olhando entre o púlpito e
Vanessa.
REBECA
(surpresa)
- Lá é alegre assim, é?
VANESSA
- Se tô lhe falando! Bora moça!
REBECA
(pensativa)
- Bem, eu nunca fui ao circo
antes...
Vanessa sorri e insiste gentilmente.
VANESSA
(sorrindo)
- Cê vai gostar, Rebeca. É só uma
noite leve e divertida. Bora?
Rebeca finalmente cede e sorri, concordando com
a cabeça.
REBECA
(sorrindo)
- Vá bem, mas vou levar a bíblia.
Se o diabo aparecer, ele vai sentir o peso da palavra de Deus.
As duas amigas compartilham um sorriso cúmplice
enquanto voltam sua atenção para a pregação do Pastor Moisés.
CENA 15/ INT/
RUA/ SEMÁFORO/ NOITE
Darlan está vestido com roupas surradas, uma
camiseta velha e calças rasgadas. Ele segura um bastão de metal que ele usa
para equilibrar uma série de objetos: bolas, cones e facas. Ele está focado em
sua performance, enquanto os motoristas no trânsito assistem à sua arte
circense com admiração. Ele joga as facas no ar e as pega habilmente enquanto
equilibra as bolas e os cones com o bastão de metal. Ele sorri enquanto as
pessoas começam a aplaudi-lo.
Quando o semáforo fica vermelho, ele para sua
performance e começa a caminhar entre os carros, segurando um chapéu velho na
mão. Ele passa pela janela de um carro e faz contato visual com um casal que
está dentro. Eles olham para ele com desdém, como se ele fosse um incômodo.
Darlan balança a cabeça e segue em frente.
Quando o semáforo finalmente abre, Darlan corre
para a calçada ao lado da rua movimentada. Ele conta o dinheiro que recebeu e
percebe que não é muito. Ele suspira e olha para o horizonte, pensativo.
CENA 16/ EXT/
CIRCO/ NOITE
O circo está iluminado e animado, com crianças
e adultos alegres ocupando suas arquibancadas. Rebeca e Vanessa encontraram
seus lugares e estão prontas para curtir o espetáculo. Rebeca segura sua Bíblia
contra o peito, ainda um pouco apreensiva.
REBECA
- Venha cá Vanessa, me responde uma
coisa? Pra que é aquela jaula redonda ali, hein?
VANESSA
- Ali é o globo da morte...
REBECA
(desesperada)
- Misericórdia, vão matar gente ali
dentro? Eu sabia, vão fazer um sacrifício pro demônio.
Todos olham para Rebeca.
VANESSA
- Te aquieta Rebeca, não é nada disso. Os motoqueiros vão entrar ali dentro e
vão fazer um espetáculo. Coisa mais linda de se ver. CÊ vai gostar.
REBECA
- Sei não, viu? Já tô ficando é
avexada, esse negócio de morte do motoqueiro passando na globo. Gosto desses
negócio não.
VANESSA
- te aquiete que já vai começar.
Enquanto Rebeca observa o circo com olhos
curiosos, Júnior vestido de palhaço Pirulito, aparece no palco central. Ele
começa a realizar acrobacias e soltar piadas engraçadas, fazendo a plateia rir.
Rebeca não pode evitar de rir, e sua risada sincera começa a atrair a atenção
de outros espectadores.
PIRULITO (JÚNIOR)
(saltitando e fazendo caretas)
- Ei, cê aí na terceira fileira com
a bíblia, tá se divertindo?
REBECA
(sussurrando)
- Ele tá falando é comigo?
VANESSA
- Oxe se não é.
PIRULITO (JÚNIOR)
(chamando)
- Venha cá moça, venha!
Rebeca fica constrangida, mas Vanessa a cutuca.
VANESSA
(empolgada)
- Rebeca, ele tá falando com cê!
Vai lá!
Rebeca fica um pouco hesitante, mas a
empolgação de Vanessa a convence a aceitar o desafio. Ela se levanta e caminha
timidamente em direção ao palco. Júnior estende a mão para ajudá-la a subir.
PIRULITO (JÚNIOR)
(sorrindo)
- Muito bem, senhorita Bíblia!
Agora, vamos fazer uma mágica juntos!
Rebeca, ainda segurando sua bíblia, concorda
com um aceno nervoso.
REBECA
(batendo com a bíblia na cabeça e Júnior)
- Não venha fazer magia em mim não,
demônio!
PIRULITO (JÚNIOR)
- Te acalme moça! É apenas uma
mágica, um faz de conta. Senhorita é nervosa.
REBECA
(cedendo)
- Então tá bem...
Júnior começa a realizar uma série de truques
de mágica simples, fazendo objetos desaparecerem e aparecerem novamente. Rebeca
fica abismada com aqueles truques, mas sempre Júnior sempre explicando que se
tratava de faz de conta. Rebeca começa a relaxar e se divertir. No entanto, o
grande momento chega quando Júnior traz uma caixa de madeira ao palco e a
mostra ao público.
PIRULITO (JÚNIOR)
(entusiasmado)
- Agora, senhorita Bíblia, cê quer
ser minha assistente especial neste truque final?
Rebeca olha para a caixa, depois para Vanessa,
nervosa.
REBECA
(preocupada)
- Oh moço, não sei, Vanessa... isso
parece arriscado.
VANESSA
(empolgada)
- Vai ser divertido, Rebeca! Vai
lá!
Rebeca concorda e entra na caixa de madeira
enquanto Júnior fecha a tampa sobre ela. Ela começa a ficar inquieta quando
percebe que o truque envolvia ser cortada ao meio. O público está ansioso, mas
Rebeca começa a entrar em pânico.
REBECA
(gritando)
- Não, não! Isso é coisa do
demônio! Não posso fazer isso!
Rebeca começa a chamar Júnior de demônio
enquanto batia na caixa de dentro. O público fica atônito, sem saber se aquilo
era parte do show ou não. Júnior, visivelmente surpreso, tenta acalmar Rebeca.
PIRULITO (JÚNIOR)
(preocupado)
- Calma, senhorita! É apenas um
truque de mágica! Cê tá segura!
REBECA
- Me tira dessa prisão! Quero sair daqui!
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