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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 25

 



Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
MOISÉS
REBECA
RAVENA
MAURÍCIO
BEATRIZ
JORGE
ROSENO
FÁTIMA

MARIA
PANDORA
DARLAN
SÉRGIO
RAUL
KIRA
VANESSA
JÚNIOR


Participação Especial:
CATARINA, Amigos de Sérgio, NADINE


CENA 01/ INT/ CASA DA RAVENA/ SALA DE ESTAR/ DIA

Pandora está ocupada na cozinha, terminando de preparar seu café da manhã. Neste momento, Ravena e Laura entram na sala.

 

PANDORA

- Ué, gente? De onde vocês estão vindo?

 

LAURA

- Passamos a noite na delegacia, sua mãe Ravena foi presa.

 

PANDORA

- Como assim, presa?

 

RAVENA

- Fui detida por causa de um policial machista que aproveitou que estávamos com os peitos de fora e ficou me alisando.

 

LAURA

- Não foi bem isso que aconteceu, né Ravena? Cê foi detida porque cuspiu na cara de um policial.

 

RAVENA

(irritada)

- Ele mereceu, né Laura? Aquele policial machista estava nos tratando como objeto, como se nossa luta fosse uma piada! Aliás, não só aquele policial, mas todos que estavam ali.

 

LAURA

(frustrada)

- Ravena, cuspir na cara dos outros não ajuda em nada! Só piora as coisas para o nosso movimento. Por pouco ela não ficaria de fato presa, viu Pandora?

 

RAVENA

(firme)

- Duvido! Eles nem se quer poderia ter me levado pra lá. Mas não é isso que vai me desanimar não, meu amor. Isso só me deu foi mais energia pra continuar a lutar. Agora vou tomar um banho para me livrar desse maldito cheiro de cadeia.

 

Ravena se afasta em direção ao banheiro.

 

PANDORA

- Gente, mas esse protesto foi tão tenso assim?

 

LAURA

- Pior que não filha, estava tudo indo bem. A polícia estava lá, mas só de prontidão, não estava atrapalhando o nosso protesto. Tudo acontecendo de forma bem pacífica até. Mas Ravena como sempre age de forma impulsiva e agressiva, aí fica difícil manter a seriedade e o respeito.

 

Ravena retorna à sala, ainda enrolada em uma toalha, e falando de forma rígida.

 

RAVENA

- Os homens são agressivos, Laura. Eles não vão entender outra linguagem se continuarmos agindo como mulherzinhas frágeis. Meu Deus, quando cê vai entender isso? Se a gente não bater de frente, eles sempre vão fazer do jeito deles. Foi graças a mulheres agressivas como eu, que hoje ainda temos algum direito.

 

LAURA

- Tá certo, viu Ravena? Vou ficar aqui discutindo as mesmas coisas contigo, não. Vá tomar seu banho, vá.

 

RAVENA

- Como cê é difícil de entender as coisas, viu Laura? Eu é que não vou discutir contigo, tô indo lá tomar meu banho.

 

Ravena sai da sala.

 

PANDORA

- Nossa gente, que clima! Eu hein!

 

Laura se aproxima da janela e fica pensativa.

 

CENA 02/ INT/ APT DOS REIS/ COZINHA/ DIA

Raul e Giovana estão na cozinha, preparando o café da manhã juntos. Raul parece estar cuidando da cafeteira enquanto Giovana está ocupada com os utensílios.

 

GIOVANA

- Cê já foi procurar um médico?

 

RAUL

- Te preocupe não meu amor, foi só um mal-estar passageiro. Não é nada sério.

 

Giovana insiste, demonstrando sua preocupação.

 

GIOVANA

- Raul, pelo amor de Deus, né? Pode ser que seja só um mal-estar, mas também pode ser algo mais sério. O certo é se prevenir, tá entendendo? Se quiser, eu mesma posso marcar a consulta para você.

 

RAUL

(resoluto)

- Vá bem, cê tá certa. Mas não te avexe, pode deixar que essa semana mesmo eu procuro um médico.

 

Ele a abraça, tentando acalmá-la.

 

RAUL

(sorrindo)

- Se preocupe não, viu, minha linda? Tô me sentindo muito bem, mesmo.

 

Giovana sorri aliviada e retribui o abraço.

 

GIOVANA

(feliz)

- É isso que quero, que cê continue se sentindo bem.

 

Os dois se beijam carinhosamente.


 

 

CENA 03/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DA BEATRIZ/ DIA

Beatriz está em sua sala, visivelmente agitada, enquanto Jana a escuta atentamente.

 

BEATRIZ

- Estava lá eu, né? Todo poderosa jantando com meu boy. Quando eu olho pra porta, menina... Quem eu vejo? Fátima. De mão dada com quem? Com Jorge.

 

JANA
- Ave Maria Dra. Beatriz! Então senhora estava certa, né? O menino é mesmo filho de Jorge?

 

BEATRIZ

- Ali não tinha como ter dúvida não. O menino é Jorge escarro e cuspido. Mas lhe digo mais. Fátima me viu de longe e já foi se aproximando. Eu fiquei trêmula e sem ação. Eu fiz a egípcia e fingi que não o conhecia, e ele embarcou na minha. Mas Breno vai e convida os dois pra sentar na mesa conosco.

 

JANA

(rindo)

- Oxente que situação hein Dra. Beatriz?

 

BEATRIZ

- Foi tenso, viu menina?... E o pior nem lhe disse ainda. Cê acredita, que na hora do vamo ver lá com Breno, eu não chamei ele de Jorge? Ele ficou sem entender nada, disfarcei, é claro. Mas aí já perdeu o clima, né?

 

JANA

- Imagino, uma hora dessa tem como ter mais clima mais não.

 

BEATRIZ

- Sabe, Jana, é que Jorge... Minha nega, aquele homem é uma loucura na cama. Igual aquele nunca achei nenhum não. Uma pegada, que vou lhe contar menina... Me fazia ir ao céu e voltar em questão de segundos. Lamento tanto por não termos conversado. Sei que agora ele tá lá morando em Feira de Santana, mas não faço ideia de onde.

 

Enquanto Beatriz compartilha seus pensamentos sobre Jorge, Maurício entra na sala e interrompe a conversa.

 

MAURÍCIO

- Licença! Beatriz, precisamos conversar sobre Sílvia.

 

BEATRIZ

(confusa)

- Quem é Sílvia?

 

MAURÍCIO

- Uma das suas pacientes que atendi.

 

JANA

- Acontece Dra. Beatriz, que tive que passar algumas de suas pacientes para Dr. Maurício.

 

BEATRIZ

- Ah, sim, tudo bem.

 

JANA

(saindo)

- Vou deixar cês a sós para conversarem.

 

BETARIZ

- Obrigada Jana! Sente aí Maurício.

 

 

CENA 04/ INT/ COLÉGIO CENTRAL/ SALA DE AULA/ DIA

A sala de aula está cheia, com os alunos ocupando seus lugares. Pandora está sentada em sua carteira, mas seu olhar está firmemente fixo em Maria, que começa a se sentir desconfortável sob o olhar persistente.

 

MARIA

(tímida)

- Cê tá me deixando sem graça.

 

Pandora desvia o olhar, percebendo o desconforto de Maria.

 

PANDORA

(sorrindo de canto de boca)

- A culpa é sua, Maria, cê me hipnotiza. Desculpa, parei de te olhar, não quero te deixar constrangida... Mas, o que cê acha da gente ir à praia de novo?

 

 

MARIA

- Hoje tô pensando em ir ao CAMPA.

 

Pandora franze a testa, demonstrando curiosidade.

 

PANDORA

- CAMPA? O que é isso?

 

MARIA

- É uma Casa de Acolhimento para Mulheres que Precisam de Ajuda. Foi criada pela minha tia. É um lugar incrível, onde as mulheres fazem várias atividades, como artesanato, plantam horta e muitas outras coisas. Lá tem até um grupo musical. Gosto muito de ir lá.

 

PANDORA

(encantada)

- Uau, que interessante. Nunca ouvi falar desse lugar.

 

MARIA

(animada)

- Fica no Pelourinho. Bora depois da aula?

 

PANDORA

- Claro, fiquei muito curiosa em conhecer.

 

Enquanto elas conversam, a professora Catarina entra na sala com Darlan ao seu lado. Todos os olhares se voltam para a professora.

 

CATARINA

- Bom dia a todos! Atenção, esse jovem que tá comigo aqui é Darlan. Que a partir de hoje vai fazer parte dessa turma. Quero que cês o recebam muito bem. Darlan é um menino esforçado, foi campeão das olimpíadas de matemática da Bahia, um exemplo a ser seguido, hein?

 

SÉRGIO

(zombando)

- Ave Maria, professora, tão trazendo agora até os mendigos da rua pra estudar aqui no colégio.

 

Alguns riem do comentário de Sergio. Darlan fica visivelmente constrangido.

 

CATARINA

- Tenha mais respeito, viu Sérgio? Sente lá, Darlan. Vamos começar nossas aulas.

 

A aula começa, mas o clima na sala de aula permanece um tanto tenso devido ao comentário desrespeitoso de Sérgio sobre Darlan.

 

 

 

CENA 05/ INT/ CAMPA/ OFICINA DE ARTES/ DIA

Kira está concentrada em seu celular, assistindo a um vídeo. Seus olhos estão fixos na tela, e ela parece incrédula com o que está vendo.

 

KIRA

(surpresa)

- Oxente, ó pá aqui!

 

GIOVANA

(intrigada)

- Que foi Kira?

 

KIRA

- Tô vendo aqui um vídeo do protesto feminista que teve ontem. Tá dizendo aqui que se trata de um grupo titulado “As Amazonas”.

 

GIOVANA

- Ah sim, fiquei sabendo desse protesto. Elas são muito extremistas, não gosto desse tipo de movimento.

 

KIRA

(explicando)

- Venha cá Giovana, ó pá aqui. Conheço essa Ravena, líder do movimento. Mas nem sabia que ela tava em Salvador. Pra mim ela tava no Acre.

 

GIOVANA

(surpresa)

- Oxente, deixe eu dar uma olhada.

 

Giovana assiste ao vídeo com interesse, e seus olhos se arregalam de surpresa.

 

GIOVANA

- Também conheço a Ravena, a mulher dela, Laura, foi minha amiga de infância. Ave Maria, não acredito que Laura tá aqui em Salvador. Faz tanto tempo que não a vejo.

 

KIRA

- Acho que cheguei a ver essa Laura uma única vez... Mas vamos deixar elas de lado, pois vim aqui mesmo lhe fazer um convite. Ou melhor, uma intimação.

 

GIOVANA

(curiosa)

- O que é mesmo?

 

KIRA

(empolgada)

- Agora à tarde, tô indo para Morro de São Paulo, pois à noite vou tocar em uma festa lá. E você, é claro, tá convocada a ir comigo.

 

GIOVANA

(resistindo)

- Oxe mulher, muito obrigada mas não vou poder, né? Tenho que cuidar aqui do CAMPA. E também tem Raul, não posso sair assim de qualquer jeito.

 

KIRA

(insistindo)

- Aqui no CAMPA tem as voluntárias, Nadine e as meninas, cuidarão de tudo enquanto cê tiver fora. E quanto a Raul, converse direitinho com ele, ele vai entender. A festa é de um ricaço, dono de uma rede de hotéis em Morro de São Paulo. Falei sobre o projeto CAMPA, e ele está disposto a ajudar. Menina, se ele realmente se identificar com o projeto, nós só temos a ganhar.

 

GIOVANA

(refletindo)

- Oh, Kira, não é que cê pode tá certa. Vou falar agora mesmo com Raul. Preciso conversar direitinho com esse homem, né?

 

 

CENA 06/ EXT/ FEIRA DE SANTANA/ OFICINA DO JORGE/ TARDE

Jorge está inclinado sobre o capô de um carro, segurando uma chave inglesa, enquanto verifica o motor do veículo. Roseno está ao lado de uma bancada de ferramentas, trabalhando em um componente do sistema de escapamento de um carro. Ele segura um maçarico de solda e está focado na tarefa de soldagem de uma parte danificada do escapamento.

Enquanto os dois trabalham, a conversa sobre Beatriz surge.

 

JORGE

(confidenciando)

- Eu não consigo parar de pensar nela, Roseno.

 

ROSENO

(curioso)

- De quem cê tá falando, homem?

 

JORGE

- De Beatriz, moço. Desde que a vi naquele restaurante, fiquei mexido. Cê acredita?

 

ROSENO

(alertando)

- Rapaz, essa mulher mexe mesmo contigo, hein? Disfarce aí, viu? Que Fátima tá vindo bem ali.

 

FÁTIMA

(entusiasmada)

- Bom dia, Roseno!

 

ROSENO
- Bom dia!

 

FÁTIMA

(virando-se pra Jorge)

- Nego, tava pensando. Tenho que voltar logo no consultório de Dra. Beatriz, pois quero engravidar ainda este ano.

 

Jorge fica visivelmente desconfortável com a situação.

 

JORGE

(sem jeito)

- Mas pra que se apressar tanto, Fátima? Acho que seria melhor esperarmos um pouco mais.

 

FÁTIMA

(confusa)

- Oxente, Jorge, agora não tô lhe entendendo. Cê que sempre foi doido para ter outro filho.

 

JORGE

(explicando)

- Sim, mas pensei melhor e acho que seria bom a gente esperar um pouquinho mais.

 

FÁTIMA

(entusiasmada)

- Deixa de bestagem, que já me programei todinha para a chegada desse filho. E Dra. Beatriz é excelente, tenho uma amiga que fez tratamento com ela e conseguiu engravidar logo em seguida. Tô tão empolgada, nego, outro filho vai ser uma benção em nossa vida. Cê que acha?

 

A tensão entre Jorge e Fátima fica evidente, já que suas perspectivas sobre o momento de ter outro filho parecem estar em conflito.

 

CENA 07/INT/ COLÉGIO CENTRAL/ REFEITÓRIO/ DIA

O refeitório da escola está cheio de alunos durante o horário do almoço. Sérgio está sentado em uma mesa com seus amigos, todos rindo e conversando animadamente. Pandora e Maria ocupam uma mesa próxima, conversando entre elas. Darlan, o novato, está sentado sozinho em outra mesa. Sérgio está distraído, mexendo no celular, até que decide deixá-lo em cima da mesa enquanto se envolve na conversa com seus amigos. Nesse momento, um dos colegas de Sérgio, aproveitando a distração, pega o celular dele e o esconde rapidamente. Pandora percebe o que está acontecendo, observando a ação furtiva. Darlan se levanta da mesa e decide jogar seu copo descartável na lixeira. Ele retorna à mesa brevemente apenas para arrumar sua mochila antes de partir. Sérgio nota que seu celular desapareceu e, sem pensar duas vezes, levanta-se de sua mesa e caminha até onde Darlan está.

 

SÉRGIO

- Te acalme bem aí, viu seu favelado?

 

Todos ficam olhando sem entender.

 

DARLAN

- O que é mesmo, moço? Não tô lhe entendendo

 

SÉRGIO

- Ah não tá entendendo? Passa essa mochila pra cá neguinho safado.

 

Sérgio pega a mochila de Darlan e começa a vasculhar, jogando todas suas coisas no chão.

 

DARLAN

- Largue minha mochila, tem nada seu aí dentro não!

 

SÉRGIO

- É isso que vamos ver seu marginalzinho!

 

Pandora, indignada com a atitude de Sérgio, se levanta rapidamente e começa a ajudar Darlan a juntar suas coisas.

 

PANDORA

(furiosa)

- Opa, cê tem o direito de mexer as coisas dele assim não, viu?

 

SÉRGIO

- Fique longe disso que ninguém aqui lhe chamou na conversa. Onde tá o meu celular seu safado?

 

DARLAN

(defensivamente)

- Não peguei seu celular, cara, eu juro!

 

Pandora continua a confrontar Sérgio, criticando seu comportamento preconceituoso.

 

PANDORA

(acusadora)

- E porque cê acha que foi ele que pegou seu celular? Por que não pergunta aos seus amiguinhos playboy onde está o seu celular?

 

Nesse momento, um dos amigos de Sérgio, com um sorriso no rosto, revela o celular.

 

AMIGO DE SÉRGIO

(rindo)

- Tá aqui, moço, te acalma! Só estava lhe zoando!

 

SÉRGIO

- Fala sério Pedroca, quase que estrangulo o bicho aqui!

 

Sérgio e os amigos vão saindo do refeitório.

 

PANDORA

- Vai pedir desculpas para o menino não.

 

DARLAN

- Deixa quieto, tá tranquilo.

 

PANDORA

- Deixa quieto nada. Vamos na diretoria agora, o que rolou aqui foi racismo.

 

 

 

CENA 08/ EXT/ PRAÇA/ TARDE

Vanessa e Rebeca estão sentadas no banco enquanto conversam.

 

VANESSA

- O circo vai ser inaugurado hoje. Vamos?

 

REBECA

- Vai de retro! Circo é coisa do diabo.

 

VANESSA

- Oxe, deixe disso! Circo é um lugar pra se divertir, tem nada de demoníaco. É um lugar mágico, encantado...

 

REBECA

- Mas magia não é coisa de satanás?

 

VANESSA

- Não a magia do circo. Ali é apenas um show preparado por artistas com o único intuito de nos divertir.

 

REBECA

- Então cê já foi ao circo, Vanessa?

 

VANESSA

- Oxente, ó paí! Já fui tantas vezes que já perdi foi as contas. Amo os espetáculos de circo. Tenho certeza que cê também vai gostar. Vamos comigo?

 

REBECA

- Fiquei curiosa, mas não sei se devo. Painho me mataria se soubesse que fui ao circo.

 

VANESSA

- Olhe Rebeca, cê me perdoe, viu? Respeito muito pastor Moisés, mas acho que ele exagera por demais. Nem tudo é pecado como ele diz. Bora ao circo, moça. Pastor Moisés não precisa saber, tenho certeza que cê vai amar.

 

REBECA

- Vá bem, eu vou. Mas já digo logo, levarei minha bíblia. Porque se o diabo tentar me pegar, eu já exorcizo ele.

 

Vanessa ri com as palavras de Rebeca.

 

VANESSA

- Oh, moça, só cê mesmo, viu?

 

 

CENA 09/ INT/ MORRO DE SÃO PAULO/ QUARTO DO HOTEL/ TARDE

As duas chegam ao quarto do hotel. Kira, com um ar de alívio, joga sua mala no chão e imediatamente se dirige à janela, atraída pela vista deslumbrante.

 

KIRA

- Graças a Meu Senhor do Bonfim, chegamos sã e salvas.

(olhando pela janela)

- Olha que vista maravilhosa!

 

Enquanto isso, Giovana explora o quarto, examinando os detalhes.

 

 

GIOVANA

- Tudo aqui é danando de lindo mesmo.

(intrigada)

- Oxe, mas vamos ficar no mesma cama, é?

 

KIRA

- Sim. Por conta da festa que vai ter a noite, os quartos acabaram ficando todos ocupados. Teria algum problema cê dormir na mesma cama que eu.

 

GIOVANA

(sem graça)

- Não... Claro que não. Só não quero lhe incomodar.

 

KIRA

(sedutora)

- Oh minha linda, dividir essa cama com cê será um prazer. Literamente se cê permitir.

 

Distraída e ainda examinando os objetos no quarto, Giovana não entende completamente o que Kira disse.

 

GIOVANA

- É o quê?

 

Kira rapidamente muda de assunto.

 

KIRA
- Nada não... Ainda tá cedo, dá pra gente curtir uma praia antes da festa. Que cê acha?

 

GIOVANA

- Ah será ótimo. Bora!

 

 

 

CENA 10/ INT/ CAMPA/ TARDE

Nadine está ocupada ajeitando alguns cartazes no mural do CAMPA, Maria e Pandora em pé ao seu lado.

 

NADINE

(com simpatia)

- Poxa Maria, cê veio bem em um dia que sua tia não tá. Ela viajou pra Morro de São Paulo.

 

Maria parece desapontada e vira-se para Pandora, que estava ao seu lado.

 

MARIA

(com pesar)

- Sério? Não tivemos sorte, Pandora, hoje não vai dar pra você conhecer minha tia.

 

PANDORA

(entusiasmada)

- Que pena, hein? Mas vamos voltar aqui outro dia para conhecer ela. Achei esse lugar fantástico.

 

NADINE

(gentilmente)

- Se Pandora querer conhecer o lugar, pode ficar à vontade, viu Maria?

 

MARIA

- Obrigada, Nadine. Venha, Pandora, vou lhe mostrar melhor o espaço do CAMPA.

 

 

CORTA PARA:

CENA 11/ INT/ CAMPA/ CANTINA/ TARDE

Pandora e Maria estão sentadas na mesa da cantina enquanto faz um lanche.

 

MARIA

(apreciativa)

- Foi massa, viu? O que cê fez lá pelo Darlan.

 

PANDORA

- Sérgio foi um babaca. Ele não tinha motivo nenhum para desconfiar de Darlan. Agiu puramente por racismo e preconceito.

 

MARIA

(refletindo)

- Lamentavelmente, quando algo some, o preto sempre é o principal suspeito.

PANDORA

(categórica)

- Sérgio é branco, hétero e homem. Todo homem é babaca por natureza. Eles sempre acham que são superiores.

 

MARIA

(admirativa)

- Darlan parece ser bem diferente. Gostei muito do jeito dele, educado, inteligente... E ele é bonito, né, Pandora?

 

Pandora, de repente, demonstra um leve sinal de ciúmes ao ouvir Maria falar sobre as qualidades de Darlan.

 

PANDORA

- Sim. E pelo jeito ele já ganhou uma fã.

 

 

CENA 12/ EXT/ MORRO DE SÃO PAULO/ PRAIA/ TARDE

Giovana está sentada na areia, aproveitando o sol. Kira está próxima, brincando na água.

 

GIOVANA

(olhando em volta)

- Kira, olha só este lugar. Ave Maria, é simplesmente deslumbrante, menina! Cê não macha?

 

Kira sai da água, sorrindo e se aproxima e Giovana sentando ao seu lado.

 

KIRA

(concordando)

- Cê tem toda a razão, Gih. Morro de São Paulo é um dos lugares mais bonitos que já visitei.

 

Giovana olha para o mar e suspira.

 

GIOVANA

(sorrindo)

- Sabe, já estive aqui uma vez com o Raul.

 

KIRA

(interessada)

- Mesmo? E cê gostou?

 

Giovana sorri, lembrando-se daquela viagem.

 

GIOVANA

- Oxente, gostei por demais. Passamos dias maravilhosos aqui. Mas ultimamente, é tanto trabalho que nem estamos tendo tempo.

 

KIRA

(sedutora)

- Que bom que mesmo em meio a tanto trabalho, cê conseguiu tirar um tempinho pra mim.

 

Giovana olha para Kira meio constrangida.

 

GIOVANA

(disfarçando)

- Sabe o que eu estava pensando? Em convidar Raul para uma segunda lua de mel aqui. Acho que isso faria muito bem ao nosso casamento.

 

Kira fica um pouco sem graça com a sugestão, mas tenta disfarçar.

 

KIRA

(sorrindo forçadamente)

- Ah, isso é uma ótima ideia, viu Gih? Tenho certeza de que ele adoraria.

 

Giovana parece não perceber o desconforto de Kira e continua animada.

 

GIOVANA

(entusiasmada)

- Com certeza. Vou ver se consigo um quarto no mesmo hotel que estamos. Quando vim com Raul pegamos uma pousadinha, mas longe daqui.

 

Kira olha para o relógio e se apressa em mudar de assunto.

 

KIRA

(apressando)

- Bem, falando em hotel, acho que já tá na hora de nos arrumarmos para a festa, né mesmo?

 

Giovana concorda e se levanta.

 

GIOVANA

(sorrindo)

- Sim, cê tem razão. Vamos voltar para o hotel e nos preparar para a festa. Quero conhecer logo o tal homem que pode nos ajudar.

.

As duas amigas caminham em direção ao hotel, deixando para trás a deslumbrante paisagem.

 

CENA 13/ EXT/ PLANO GERAL

Começamos com um deslumbrante entardecer no Morro de São Paulo, destacando suas praias e coqueiros. Em seguida, passamos para Salvador à noite, começando com as águas brilhantes da Baía de Todos os Santos, a animada Ladeira da Barra, o Mercado Modelo iluminado e as ruas festivas do Pelourinho. Finalmente, a cena se estabiliza na tranquila Praça da Sé, destacando a fachada iluminada da Igreja Cajado da Fé.

 

CENA 14/ INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ NOITE

A igreja está cheia. O Pastor Moisés, está no púlpito, fervorosamente entregando sua pregação.

 

MOISÉS

(olhando para a congregação)

- Meus irmãos e irmãs, o diabo está sempre à espreita, tentando nos enredar em suas teias de engano e pecado. Se não estivermos firme na nossa fé, ele nos puxa e nos afasta do reino de Deus.

 

TODOS

- Aleluia!

 

MOISÉS

- Devemos nos afastar das tentações mundanas meus caros irmãos e nos apegar a nossa fé.

 

Rebeca está sentada mais ao fundo da igreja, totalmente concentrada e assustada com as palavras de seu pai. Vanessa se aproxima e senta ao lado dela, com um olhar curioso.

 

VANESSA

(sussurrando)

- Diga aí Rebeca, cê vai querer ir ao circo depois do culto? Tô indo assim que terminar.

 

Rebeca arregala os olhos e sussurra de volta, um pouco irritada.

 

REBECA

(praguejando)

- Isso é mais uma artimanha do inimigo, Vanessa, tentando nos distrair com entretenimento mundano! O diabo tá querendo nos arrastar para o inferno.

 

VANESSA

(sussurrando)

- Oxente, Rebeca. Não tem nada demais no circo. É só diversão, nada relacionado ao inimigo. O diabo gosta é de tristeza, e no circo só tem alegria.

 

Rebeca fica indecisa, olhando entre o púlpito e Vanessa.

 

REBECA

(surpresa)

- Lá é alegre assim, é?

 

VANESSA
- Se tô lhe falando! Bora moça!

 

REBECA

(pensativa)

- Bem, eu nunca fui ao circo antes...

 

Vanessa sorri e insiste gentilmente.

 

VANESSA

(sorrindo)

- Cê vai gostar, Rebeca. É só uma noite leve e divertida. Bora?

 

Rebeca finalmente cede e sorri, concordando com a cabeça.

 

REBECA

(sorrindo)

- Vá bem, mas vou levar a bíblia. Se o diabo aparecer, ele vai sentir o peso da palavra de Deus.

 

As duas amigas compartilham um sorriso cúmplice enquanto voltam sua atenção para a pregação do Pastor Moisés.

 

 

CENA 15/ INT/ RUA/ SEMÁFORO/ NOITE

Darlan está vestido com roupas surradas, uma camiseta velha e calças rasgadas. Ele segura um bastão de metal que ele usa para equilibrar uma série de objetos: bolas, cones e facas. Ele está focado em sua performance, enquanto os motoristas no trânsito assistem à sua arte circense com admiração. Ele joga as facas no ar e as pega habilmente enquanto equilibra as bolas e os cones com o bastão de metal. Ele sorri enquanto as pessoas começam a aplaudi-lo.

Quando o semáforo fica vermelho, ele para sua performance e começa a caminhar entre os carros, segurando um chapéu velho na mão. Ele passa pela janela de um carro e faz contato visual com um casal que está dentro. Eles olham para ele com desdém, como se ele fosse um incômodo. Darlan balança a cabeça e segue em frente.

Quando o semáforo finalmente abre, Darlan corre para a calçada ao lado da rua movimentada. Ele conta o dinheiro que recebeu e percebe que não é muito. Ele suspira e olha para o horizonte, pensativo.

 

 

CENA 16/ EXT/ CIRCO/ NOITE

O circo está iluminado e animado, com crianças e adultos alegres ocupando suas arquibancadas. Rebeca e Vanessa encontraram seus lugares e estão prontas para curtir o espetáculo. Rebeca segura sua Bíblia contra o peito, ainda um pouco apreensiva.

 

REBECA


- Venha cá Vanessa, me responde uma coisa? Pra que é aquela jaula redonda ali, hein?

 

VANESSA
- Ali é o globo da morte...

 

REBECA

(desesperada)

- Misericórdia, vão matar gente ali dentro? Eu sabia, vão fazer um sacrifício pro demônio.

 

Todos olham para Rebeca.

 

VANESSA
- Te aquieta Rebeca, não é nada disso. Os motoqueiros vão entrar ali dentro e vão fazer um espetáculo. Coisa mais linda de se ver. CÊ vai gostar.

 

REBECA

- Sei não, viu? Já tô ficando é avexada, esse negócio de morte do motoqueiro passando na globo. Gosto desses negócio não.

 

VANESSA

- te aquiete que já vai começar.

 

Enquanto Rebeca observa o circo com olhos curiosos, Júnior vestido de palhaço Pirulito, aparece no palco central. Ele começa a realizar acrobacias e soltar piadas engraçadas, fazendo a plateia rir. Rebeca não pode evitar de rir, e sua risada sincera começa a atrair a atenção de outros espectadores.

 

PIRULITO (JÚNIOR)

(saltitando e fazendo caretas)

- Ei, cê aí na terceira fileira com a bíblia, tá se divertindo?

 

REBECA

(sussurrando)

- Ele tá falando é comigo?

 

VANESSA

- Oxe se não é.

 

PIRULITO (JÚNIOR)

(chamando)

- Venha cá moça, venha!

 

Rebeca fica constrangida, mas Vanessa a cutuca.

 

VANESSA

(empolgada)

- Rebeca, ele tá falando com cê! Vai lá!

 

Rebeca fica um pouco hesitante, mas a empolgação de Vanessa a convence a aceitar o desafio. Ela se levanta e caminha timidamente em direção ao palco. Júnior estende a mão para ajudá-la a subir.

 

PIRULITO (JÚNIOR)

(sorrindo)

- Muito bem, senhorita Bíblia! Agora, vamos fazer uma mágica juntos!

 

Rebeca, ainda segurando sua bíblia, concorda com um aceno nervoso.

 

REBECA

(batendo com a bíblia na cabeça e Júnior)

- Não venha fazer magia em mim não, demônio!

 

PIRULITO (JÚNIOR)

- Te acalme moça! É apenas uma mágica, um faz de conta. Senhorita é nervosa.

 

REBECA

(cedendo)

- Então tá bem...

 

Júnior começa a realizar uma série de truques de mágica simples, fazendo objetos desaparecerem e aparecerem novamente. Rebeca fica abismada com aqueles truques, mas sempre Júnior sempre explicando que se tratava de faz de conta. Rebeca começa a relaxar e se divertir. No entanto, o grande momento chega quando Júnior traz uma caixa de madeira ao palco e a mostra ao público.

 

PIRULITO (JÚNIOR)

(entusiasmado)

- Agora, senhorita Bíblia, cê quer ser minha assistente especial neste truque final?

 

Rebeca olha para a caixa, depois para Vanessa, nervosa.

 

REBECA

(preocupada)

- Oh moço, não sei, Vanessa... isso parece arriscado.

 

VANESSA

(empolgada)

- Vai ser divertido, Rebeca! Vai lá!

 

Rebeca concorda e entra na caixa de madeira enquanto Júnior fecha a tampa sobre ela. Ela começa a ficar inquieta quando percebe que o truque envolvia ser cortada ao meio. O público está ansioso, mas Rebeca começa a entrar em pânico.

 

REBECA

(gritando)

- Não, não! Isso é coisa do demônio! Não posso fazer isso!

Rebeca começa a chamar Júnior de demônio enquanto batia na caixa de dentro. O público fica atônito, sem saber se aquilo era parte do show ou não. Júnior, visivelmente surpreso, tenta acalmar Rebeca.

 

PIRULITO (JÚNIOR)

(preocupado)

- Calma, senhorita! É apenas um truque de mágica! Cê tá segura!

 

REBECA

- Me tira dessa prisão! Quero sair daqui!






 

 


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