JANA
LAURA
GIOVANA
ELIETE
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
RAVENA
CÁSSIA
MAURÍCIO
BEATRIZ
JORGE
ROSENO
FÁTIMA
PANDORA
DARLAN
KIRA
VANESSA
Participação Especial:
FEMINISTAS, MÃE DE DARLAN., RELIGIOSOS, PADRE, NADINE
CENA 01/
EXT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SAÍDA/ NOITE
Beatriz sai da clínica e se encaminha até o seu
carro. Ao abrir a porta, Jorge se aproxima.
JORGE
- Beatriz!
Ela fica mexida ao
ver Jorge.
BEATRIZ
- Jorge!
JORGE
- Eu vim aqui pedir pra você não
fazer a inseminação na minha mulher.
BEATRIZ
- Olha, querido, não é bem assim
que as coisas funcionam, né? Não posso simplesmente deixar de fazer meu
trabalho porque cê não quer. O que precisa ser feito é você sentar com sua
mulher e conversar sobre isso.
JORGE
- Fátima não sabe o real motivo que
eu não querer esse filho, mas cê sabe.
BEATRIZ
- Não sei de nada, e prefiro nem
saber, viu?
JORGE
- Sabe sim. Sabe e sente o mesmo
que eu. Vai dizer que cê não gostou do nosso encontro?
Conforme Jorge fala,
ele se aproxima ainda mais de Beatriz.
JORGE
- Vai dizer que também não sente
esse tesão louco, incontrolável. Oxe, que tô perdendo as estribeiras, não
consigo parar de pensar em você.
BEATRIZ
- Jorge, pelo amor de Deus, não
provoque. Olhe a situação em que cê tá me colocando. Fátima é minha paciente,
não podemos nos envolver mais. Se gostei do nosso encontro?
Adorei, foi muito bom lhe ter ali
novamente. Mas não dá pra isso continuar acontecendo.
JORGE
- Fale isso para a minha pele que
transpira querendo a sua.
Jorge agarra
Beatriz, e ela hesita por um momento. Ele insiste, e ela, finalmente, se
entrega, e os dois dão um beijo caloroso.
CENA 02/
EXT/ RUA/ LADO DE FORA DA IGREJA CAJADO DA FÉ/ NOITE
O carro com Laura e
Pandora se aproxima da igreja. Laura para do outro lado da rua, observando a
igreja com um olhar nostálgico. Ela vira para Pandora, sorrindo.
LAURA
- Pandora, essa é a igreja do seu avô. O culto tá acabando agora. Vamos esperar aqui. Preciso que cê entenda uma coisa sobre meu pai, minha linda. Ele é um pouco rude às vezes e cheio de preconceitos. Peço que cê releve por enquanto. É muito importante pra mim que minha mãe lhe conheça. Espero que ele também possa ver a pessoa incrível que cê é.
PANDORA
- Do
jeito que cê fala, dá até medo desse homem.
LAURA
- Te
avexe não, ele só é fanático demais.
CENA 03/ EXT/
RUA/ NOITE
Uma multidão de pessoas marcha em oração,
carregando velas acesas e cartazes com mensagens pró-vida. Em meio a procissão
vem Darlan ao lado de sua mãe, segurando uma vela enquanto caminha em oração.
Do outro lado está Ravena juntamente com as outras Amazonas.
RAVENA
(gritando)
- Não podemos permitir que eles
decidam sobre nossos corpos! Chega de opressão!
Ravena e suas colegas feministas começam a
gritar palavras de ordem e levantam cartazes provocativos.
RAVENA
- Tire seu maldito terço do meu
útero!
A mãe de Darlan olha incrédula para as
feministas e sussurra para seu filho.
MÃE DE DARLAN
- Virgem Santíssima, que isso?
DARLAN
- Calma minha mãe, vamos continuar
na procissão.
O padre, mantendo a compostura, ignora os
insultos e continua sua marcha. Ele fecha os olhos, concentrando-se em suas
preces.
RAVENA
(ridicularizando)
- Cês podem rezar o quanto
quiserem, mas não vão controlar nossos corpos! Meu corpo minhas regras!
(gritando)
- Irmãs, vamos acabar com essa
palhaçada!
Ravena e as demais avançam
em direção à imagem sagrada que eles carregam e a derruba violentamente no
chão. O objeto se parte em pedaços, enquanto os fiéis olham horrorizados.
Ravena, acompanhada por suas companheiras
feministas, continua seu ataque. Elas agarram as Bíblias que alguns fiéis
seguram e as rasgam com ferocidade, jogando as páginas ao vento. As ativistas
pegam os pedaços das Bíblias e outros materiais religiosos e os colocam em uma
pilha no chão. Então, com um isqueiro, acendem fogo na pilha. A multidão
religiosa entra em pânico, alguns tentando apagar as chamas, enquanto outros
assistem, atônitos, sem saber como reagir diante dessa afronta.
MÃE DE DARLAN
(chorando)
- Meu senhor do Bonfim tenha
misericórdia!
O padre, um homem idoso, avança corajosamente
em direção as manifestantes, erguendo um crucifixo em sua mão trêmula.
PADRE
(com determinação)
- Cês podem tentar profanar nossas
imagens, mas não podem abalar nossa fé!
Ravena se aproxima e cospe na cara do padre.
RAVENA
- Volte pra sua igreja, seu verme!
Enquanto as chamas consomem os objetos
religiosos, a cena é tomada por um clima caótico e destruição.
CENA 04/ EXT/
FEIRA DE SANTANA/ OFICINA DO JORGE/ NOITE
Roseno fecha a
oficina com um suspiro de alívio após um dia de trabalho árduo. Ao se virar, dá
de cara com Fátima que surge do escuro como um fantasma.
ROSENO
- Ave Maria, Fátima, que me matar
do coração?
FÁTIMA
- E Jorge, cadê?
ROSENO
- Jorge teve que ir em Salvador, um
cliente ligou pra ele.
FÁTIMA
- Tá na cara que cê tá mentindo, né Roseno? Poderia pelo menos ser mais
criativo. É o que, hein? Salvador agora tá tendo mais oficina de carro, não é? Sim...
pra Jorge ter que sair daqui pra ir lá. Já sei que Jorge tem uma amante fixa, e
também sei que cê sabe quem é. Diga aí, quem é a vagabunda?
ROSENO
- Oxente Fátima, tô lhe dizendo o
que Jorge me falou. Ele me avisou que iria em Salvador cuidar de um carro que
ele havia reformado aqui. Parece que deu um probleminha no carro lá, e ele teve
que resolver. Agora, se ele tá mentindo ou não, já não sei, né?
FÁTIMA
- Deixa está, então. Quando Jorge
chegar me acerto com ele.
Fátima, com um olhar
desconfiado, se afasta. Roseno pega seu telefone e já liga pra Jorge.
CENA 05/ INT/
MOTEL/ NOITE
Jorge está em pé ao
telefone com Roseno, enquanto Beatriz está sentada na cama observando tudo.
JORGE
- Como que é, Roseno?
ROSENO
(off)
- Saiu daqui agora pouco, e se
prepara viu nego véi? Fátima tá toda desconfiada.
JORGE
- Tô sabendo! Valeu aí, vou me
arrumar aqui.
Jorge começa a se vestir com pressa.
BEATRIZ
- Quanta pressa, hein!
JORGE
- Preciso ir embora, Fátima já tá
no meu pé. Ela agora anda desconfiada. Queria muito passar a noite com cê minha
linda, mas não vou poder, viu?
BEATRIZ
- Tá tudo errado, né Jorge? A gente
não deveria tá aqui. Não posso continuar nessa situação. Isso não pode
continuar acontecendo, essa foi a última vez. Por favor, não me procure mais.
JORGE
- Eu largaria tudo por você. Se cê
disser que quer casar comigo, chego lá em casa agora e termino com Fátima.
BEATRIZ
- Azucrinou de vez, foi menino?
Quem lhe falou que quero saber de casamento? Tô muito bem, obrigada.
Jorge, em um gesto
impulsivo, agarra Beatriz pela cintura.
BEATRIZ
- Ui! Ai Jesus, que pegada!
JORGE
- É você que eu quero, é você que eu
sempre quis!
BEATRIZ
(empurrando Jorge)
- Sonha não querido, é melhor se
apressar. E oh, me esquece, viu? Não quero que me procure mais.
Jorge sai do quarto, deixando Beatriz
pensativa.
CENA 06/ INT/
IGREJA CAJADO DA FÉ/ SALÃO PRINCIPAL/ NOITE
Raimunda, radiante,
conversa animadamente com Laura e com Pandora. Moisés está mais na frente
arrumando o púlpito.
RAIMUNDA
- Mas que menina mais linda! Nem acredito que já tenho uma neta desse tamanho.
LAURA
-
Pandora quando soube que eu havia vindo aqui, ficou toda animada para conhecer
a avó. Tive que vim de novo para trazer ela.
RAIMUNDA
- E fez bem, agora que nos reencontramos não podemos mais nos afastar. Nós
somos uma família e temos que ficar unidos, né mesmo?
Moisés se aproxima,
interrompendo o momento alegre com sua presença séria e imponente.
MOISÉS
- Olhe
Laura, também tô muito feliz em ter você por aqui de novo. Porém, conhecereis a
verdade e a verdade vos libertará. Cê e essa criatura sempre serão bem vindas
aqui, e também lá em casa. Quando quiserem vim, as portas vão tá sempre
abertas. Mas lhe peço uma coisa, viu Pandora? Não me chame de avô, porque cê
não é minha neta. Foi criada em um laboratório por mãos humanas, não possui
alma.
REBECA
- Valha
me Deus! Dá nem pra acreditar, ela parece de verdade.
RAIMUNDA
- Moisés, por favor! Não estrague esse momento. Será que não posso ser feliz em
tá com minha filha e minha neta? Que pecado há nisso meu Deus.
MOISÉS
- Não há
pecado nenhum nisso, Raimunda. O pecado foi cometido lá atrás. E Laura sabe
muito bem disso.
LAURA
- Não
vou discutir com o senhor sobre isso, meu pai. Pandora é minha filha, e isso eu
não preciso provar a ninguém.
Moisés se retira
abruptamente, deixando um clima desconfortável e tenso na igreja. Pandora fica
triste com as palavras de Moisés.
LAURA
- Tá
tudo bem filha?
PANDORA
- Não
acredito que ainda exista pessoas da cabeça tão fechada quanto esse homem.
RAIMUNDA
- Não
ligue não minha neta! Não interessa como cê veio ao mundo, o importante é que
cê tá aqui. Tô muito feliz com isso.
REBECA
- Mas não
entendi. Como foi que Pandora foi feita, hein Gente?
LAURA
(sorrindo)
- Outra
hora lhe explico, viu Rebeca?
CENA 07/ INT/
FEIRA DE SANTANA/ CASA DO JORGE/ QUARTO DO CASAL/ NOITE
Jorge entra no
quarto, tentando ser discreto, mas Fátima acende a luz de repente. Ele dá um
salto de susto.
FÁTIMA
- Onde cê tava?
JORGE
- Oxe meu amor, cê me assustou. Tive
que ir em Salvador atender um cliente.
FÁTIMA
- Sei exatamente que tipo de
cliente cê foi atender, viu? Deite e vá dormir, que amanhã cedo, vamos voltar pra
Salvador. Vamos lá na clínica de Dra. Beatriz colher o material pra inseminar o
nosso filho.
Jorge engole em seco, sabendo que não há como escapar das expectativas obsessivas de Fátima, ele se deita, resignado, enquanto ela permanece lá, observando-o.
CENA 08/ INT/
CASA DA RAVENA/ COZINHA/ DIA
Laura e Ravena estavam preparando o almoço
enquanto conversavam.
LAURA
- Fiquei ali até sem reação. Painho
simplesmente tratou Pandora como se ela fosse uma aberração criada em
laboratório. Tava um clima todo descontraído, mainha toda feliz em conhecer a
neta... Mas claro que painho tinha que estragar tudo, né?
RAVENA
- Não tô entendendo o porque de ser
tá surpresa, esse cara já mostrou do que é capaz. Cê não tinha nada que ir lá,
Laura. Já lhe falei diversas vezes, sua família agora sou eu e Pandora.
LAURA
- Não vou me afastar de mainha de
novo por causa de meu pai.
RAVENA
- Tá certa, mas lhe digo uma coisa,
viu? Se esse pastor se atrever a mexer com minha filha, vai se ver comigo.
Nesse momento Pandora entra com o celular na
mão.
PANDORA
- E o que cê vai fazer em minha
mãe? A mesma coisa que fez com o padre ontem no protesto?
LAURA
- Mas do que é que cê tá falando,
Pandora?
Pandora mostra um poste que Darlan havia lhe
enviado.
PANDORA
- Olhe aí, Darlan que me enviou.
Mãe Ravena simplesmente cuspiu na cara de um padre. E não foi só isso não, viu?
Como pode ser visto aí no vídeo. Ela e as outras Amazonas atacaram os fiéis,
quebraram a imagem da procissão, rasgaram livros, queimaram tudo... Verdadeira
atitude de vândalos.
LAURA
- Tô aqui vendo, mas não tô
acreditando. Cê ficou louca, foi Ravena?
RAVENA
- Quem é esse Darlan que lhe enviou
isso, hein Pandora?
PANDORA
- Darlan é um colega lá do colégio.
E também um dos peregrinos que tava na procissão, juntamente com sua mãe que
saiu ferida.
RAVENA
- Fique longe desse garoto, viu? Já
vi que é uma péssima influência. A história tá totalmente fora de contexto. A
nossa manifestação foi bem pacífica. Esse padre foi quem se atentou contra nós.
Não se conteve ao ver que estávamos lutando em favor do aborto. A igreja quer
controlar até os nossos corpos.
PANDORA
- Não é bem o que parece nas
imagens, viu minha mãe?
RAVENA
- Olhe aqui, Pandora. Cê tá
proibida de se encontrar com esse rapaz. Ouviu bem?
PANDORA
- Depois dessa, cê não tá em
condições de me proibir de absolutamente nada.
Pandora vai saindo e Ravena vai atrás.
RAVENA
- Me respeita que sou sua mãe, viu
menina?
LAURA
- Ravena me explique melhor tudo
isso. Cê cuspiu mesmo na cara do padre.
RAVENA
- Não só cuspir, como rasguei sua
roupa e taquei fogo. Não vou permitir que a igreja determine o que faço com meu
próprio corpo.
CENA 09/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA
Mauricio está na
recepção, assinando sua agenda, ele dá uma olhada pra Cássia e dá uma
piscadela. Cássia lhe lança um olhar sapeca. Beatriz entra na clínica e se
depara com Jorge e Fátima esperando na recepção.
FÁTIMA
(animada)
- Bom dia Dra. Beatriz! Jorge meu
marido, senhora já conhece, né? Ele veio pra poder colher o material para a
inseminação de nosso filho.
Beatriz olha para
Jorge com uma expressão neutra.
BEATRIZ
- Ótimo! Jana, auxilia o paciente
aqui, explique pra ele direitinho o que tem que ser feito. Por favor, Jorge,
acompanhe Jana até a sala para o procedimento.
Enquanto Jorge segue
Jana para a sala de procedimentos, Beatriz se volta para Fátima.
BEATRIZ
- Fátima
me acompanhe até meu consultório, precisamos conversar um pouco.
CORTA
PARA:
CENA 10/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ CONSULTÓRIO DE BEATRIZ/ DIA
Beatriz está sentada
em seu consultório, conversando com Fátima sobre a situação delicada.
BEATRIZ
- Olhe Fátima vou ser bem curta e
direta, viu? Muitos casais procura nossa clínica com o desejo de ter filhos.
Mas pelo o que venho observando, não é esse o seu objetivo maior. Seu objetivo
é unicamente segurar seu marido. E como médica devo lhe aconselhar que não deve
dá continuidade a essa inseminação.
Fátima olha para
Beatriz com uma expressão séria.
FÁTIMA
- Doutora, a senhora não entende.
Não sabe a forma que Jorge me trata quando tô grávida. Ele me faz em sentir a
mulher mais feliz do mundo. É carinhoso, é prestativo, é fiel...
Beatriz suspira,
tentando encontrar as palavras certas.
BEATRIZ
(interrompendo)
- Vamos com calma, viu? Cê já me
falou sobre tudo isso. Mas entenda Fátima, ter um filho não deve ser uma
tentativa de segurar um relacionamento. Um filho merece ser criado em um
ambiente de amor e estabilidade. Se a base do seu desejo é o medo de perder
Jorge, isso não é saudável para você, para ele e, principalmente, para a
criança que cês poderiam trazer ao mundo.
FÁTIMA
- Eu vou ter esse filho, doutora,
de forma ou de outra. Se não for aqui, será em outra clínica. Não vou aceitar
perder Jorge por uma sirigaita qualquer.
Beatriz balança a
cabeça, resignada, sabendo que não pode forçar Fátima a mudar de ideia.
BEATRIZ
- Tá certo então, viu? Eu tentei. Farei
o meu melhor para garantir que o processo seja seguro e saudável para você.
Fátima agradece com
um aceno de cabeça.
CENA 11/ INT/
CAMPA/ DIA
Kira se aproxima de
Giovana com o celular na mão.
KIRA
- Gih, cê deu uma olhada nisso? Viu
o que Ravena fez no protesto? Fiquei chocada com a agressividade dela.
Giovana olha séria
para Kira, balançando a cabeça.
GIOVANA
- Sim, tô ciente. Vim de casa para
o CAMPA, olhando os postes que as meninas me marcaram sobre isso.
Nadine se aproxima,
interrompendo a conversa.
NADINE
- Tá tudo pronto para começarmos,
Giovana.
KIRA
- Começar o quê, mesmo?
GIOVANA
- Venha comigo, precisamos
conversar sobre tudo o que aconteceu ontem.
Giovana pega um
microfone e começa a falar para as mulheres reunidas.
GIOVANA
- Bom dia a todos! Acho que todos
aqui tão cientes do protesto de ontem e da repercussão que isso virou. Tá
errado, tá tudo errado. Essa não é a forma de lutar pelo os nossos direitos. Não
podemos cair na agressividade e na intolerância que vimos nesse protesto. Cada
pessoa tem sua história, suas crenças, e é importante respeitar tudo isso. Não
podemos esquecer que nossa luta é por igualdade, e isso também significa
respeitar as escolhas e crenças de cada ser.
CENA 12/ EXT/
RUA/ PRAÇA/ DIA
Darlan e Pandora estão sentados no banco
enquanto conversam.
PANDORA
- E sua mãe, como é que tá?
DARLAN
- Ela caiu no empurra-empurra do
povo e acabou machucando o braço. Mas ela tá bem, não foi nada tão grave. Só
não vai poder fazer crochê por um tempo.
PANDORA
- Sinto muito, viu Darlan? Tô é
envergonhada por tudo o que aconteceu. Mãe Ravena às vezes tem uns métodos bem
agressivos de resolver as coisas. Lá no
Acre a gente fazia muito protesto como esse. Mas sempre procurávamos uma forma
pacífica, mas aí minha mãe Ravena recrudescia e a policia intervia. E na
maioria das vezes iríamos parar na delegacia.
DARLAN
- Eu vi lá o jeito dela. Realmente
ela ultrapassa todos os limites.
PANDORA
- Falando em Acre, a nossa volta
aqui pra Salvador trás um mistério muito grande. Mas nem mãe Ravena e nem mãe
Laura quis me contar. Alguma coisa muito grave aconteceu lá, viu Darlan?
CENA 13/
INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ SALÃO PRINCIPAL/ TARDE
Raimunda e Eliete estão
conversando dentro da igreja enquanto Rebeca
e Vanessa estão do lado de fora
entregando panfletos.
ELIETE
- Venha cá irmã Raimunda. A irmã confia
nessa Vanessa?
RAIMUNDA
- Oxente irmã Eliete, não vejo motivo
de não confiar. Ela sempre foi engajada na igreja, participativa em todas as
atividades.
ELIETE
- A senhora sabe que mãe de Vanessa
é do candomblé, praticante de macumba, não sabe? E com certeza essa ideia de
circo não saiu da cabecinha oca de Rebeca. Vou dizer uma coisa, viu irmã
Raimunda? Essa Vanessa pode ser uma péssima influência pra sua filha.
Raimunda parece refletir sobre as palavras de
Eliete, mas ao mesmo tempo, parece discordar.
RAIMUNDA
- Pois não vejo nada demais na
amizade das duas. Vanessa sempre foi uma boa moça, e dedicada a sua fé. Vai
saber, ela pode ser um instrumento de evangelização dentro de sua casa. Vai que
um dia a mãe de Vanessa aceita Jesus e vira crente.
CENA 14/ EXT/
IGREJA CAJADO DA FÉ/ PORTA/ TARDE
Vanessa e Rebeca estão
entregando panfletos para as pessoas na rua enquanto conversam.
VANESSA
- Rebeca, pense bem. Olhe a
proposta que Júnior lhe fez. Esse homem tá arriado por você, minha linda. Arrume
sua trouxa e foge com ele.
REBECA
- Oxente Vanessa! Mas isso não tá
certo, é pecar contra o quarto mandamento. Se eu fugir, estarei desobedecendo painho
e Deus não vai gostar.
VANESSA
- E cê quer casar com um homem que
cê não ama? Cê quer passar o resto de sua vida infeliz? Deus nos deu o livre
arbítrio, Rebeca. Ele quer que sejamos felizes e realizemos nossos sonhos. Se
cê gosta de Júnior, se esse amor é verdadeiro, eu acredito que Deus
compreenderia.
REBECA
- Cê acha, é? E se cê tiver errada
e o diabo for atrás de mim. Valha-me Deus quero ir pro inferno não, viu?
VANESSA
- Deus quer que cê seja feliz,
Rebeca. Não deixe que o medo ou a culpa lhe impeçam de seguir o que seu coração
realmente deseja. A vontade de Deus é que cê seja feliz, apenas disso.
CENA 15/ INT/
CAMPA/ TARDE
Kira e Giovana estão sentadas em uma mesa, organizando algumas
doações que receberam. Enquanto trabalham, Kira nota o colar no pescoço de
Giovana e elogia.
KIRA
- Uau, não havia reparado. Que
colar lindo, Gih!
GIOVANA
- Foi Raul que me deu. Estamos
tentando dar uma nova chance ao nosso casamento, sabe?
Kira, sente uma pontada de ciúme, mas tenta disfarçar.
KIRA
- Isso é maravilhoso. O Raul tem um
bom gosto, o colar é lindo. E como ele está?
GIOVANA
- Aparentemente tá bem. Ele vai
fazer os exames pra saber direitinho o que foi aquele mal estar.
CEN 16/ INT/
RUA/ TARDE
Pandora e Darlan estão
andando pela rua, envolvidos em uma conversa.
PANDORA
- É tão bom tá com você, Darlan!
DARLAN
- Também gosto muito de tá com cê.
PANDORA
- Darlan, espere, preciso te
dizer...
Os dois param, e há um breve momento de
silêncio carregado de expectativas. Pandora olha nos olhos de Darlan.
PANDORA
- Acho que tô me apaixonando por
você.
Antes que Darlan tomasse uma atitude, eles são
bruscamente interrompidos pelo som de uma buzina estridente. Ravena para o carro bem próximo a eles
e olha furiosa para Pandora.
RAVENA
- Pandora, entre imediatamente no
carro!
Pandora e Darlan se assustam com a súbita
aparição de Ravena.
Obrigado pelo seu comentário!