Cena 01/Loja Betânia/Int/Dia
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.
Betânia e Rebeca conversam.
Betânia — (sem acreditar) Como é? Foi isso mesmo que escutei?
Rebeca — Eu vou na ordenação dele. Preciso ver com meus próprios olhos se vai ser esse mesmo o caminho que o Pedro vai escolher pra vida dele.
Betânia — Você só pode ter ficado louca, Rebeca. Depois de todo esse tempo, você ainda tem dúvidas do caminho que o Pedro quer trilhar pra vida dele?
Rebeca — Preciso saber se ele ainda gosta de mim. Se ele ainda me ama, como eu ainda.../
Betânia — (completa) Como você ainda o ama.
Rebeca — É isso mesmo, Betânia. (T) Você, mais do que ninguém sabe o quanto eu sofri, quando o Rufino levou o Pedro pro seminário, praticamente a força, arrastado.
Betânia — Mas se o Pedro não quisesse mais ser padre, ele já tinha saído de lá, Rebeca. Aceita isso, minha irmã e pare de sofrer. Você tá de casamento marcado com o Jeferson. Daqui algumas semanas, você vai subir ao altar e dizer sim pra esse homem que é completamente apaixonado por você. (T) Esquece o Pedro de uma vez por todas. Pois foi isso que ele fez com você. Te esqueceu!
Rebeca — Não... não... alguma coisa me diz que o Pedro ainda me ama. Meu coração me diz que ele ainda gosta de mim.
Betânia — Você vai estar colocando sua relação com Jeferson em jogo, se você fizer essa loucura.
Rebeca — Estou fazendo isso pelo Jeferson também. Só assim vou poder me entregar pra ele, de corpo e alma, como ele merece.
Rebeca abraça Betânia.
Betânia — Você sabe que sempre vou estar do seu lado. E se é isso mesmo que quer fazer, conta comigo.
Rebeca — Que bom ouvir isso, Betânia. Eu sabia que podia contar com minha maninha.
Cena 02/Loja Betânia/Frente/Ext/Dia
Zinha digere o que acabou de escutar.
Zinha — Então a Rebeca vai na ordenação do Pedro... quem não vai gostar nada disso é o seu Rufino. Ele precisa saber disso o mais rápido possível pra que ele tome providências. E eu, como uma boa cristã, preciso ser a portadora dessa notícia, que vai impedir que a tentação da Rebeca, possa tentar estragar esse momento sagrado e tão bonito do menino Pedro, que finalmente vai se tornar padre!
Quando Zinha vira-se, pra seguir apressada pra casa de Rufino, Vladimir lhe dá um susto.
Vladimir — Buhhh!
Zinha se assusta e bate com sua bolsa nele.
Zinha — Que brincadeira sem graça, Vladimir.
Vladimir — Tava fazendo o quê? Escutando a conversa alheia?
Zinha — Não é da sua conta. E agora me dá licença, pois tenho mais o que fazer, ao invés de ficar conversando com gente perturbada.
Vladimir — (grita) Sua fofoqueira!
Zinha vira, fecha a cara pra Vladimir, mas sem continuar seguir seu caminho, com passos rápidos.
Cena 03/Seminário/Jardim/Ext/Tarde
Pedro está sentado perto de uma árvore, lendo a Bíblia. Januário aproxima-se.
Januário — Posso me sentar?
Pedro — Claro, padre. Quero aproveitar ao máximo a companhia do senhor.
Januário — Encontrando conforto na palavra de Deus?
Pedro — Estou lendo um pouco... me preparando pra amanhã. (T) Confesso que estou um pouco nervoso, até com medo, de fazer alguma coisa de errado.
Januário — Depois de uma longa caminhada, o dia da ordenação é o dia que todo seminarista sonha que aconteça. É um momento muito especial e bonito. Onde você se sente mais do que nunca ligado a Deus. E tendo a certeza que você foi o escolhido por ele, pra semear suas palavras pelo mundo, não importado onde esteja.
Pedro — Só peço que dê tudo certo. Meu pai sonhou tanto com esse momento.
Januário — E você, sonhou com isso? (T) Pedro, não existe algo mais frustrante na vida de alguém, do que você se sentir na obrigação de realizado o sonho por esse pessoa. Na época, quando o Rufino te trouxe pra cá, eu conversei muito com ele, tentando explicar que ser padre é algo que se descobre. Uma vocação, que aflora, que nasce. Não sendo algo imposto, forçado, como ele fez com você.
Pedro — Hoje eu me sinto preparado e escolhido, padre Januário. No começo, relutei mesmo em aceitar que era isso que eu queria pra minha vida. Mas depois de muito conversar com Deus, ouvir meu pai, vi que é esse o caminho que devo seguir.
Januário — E novamente eu te falo: é um caminho que será sem volta. Se tem alguma dúvida, esse é o momento da reflexão final e de decidir se é isso mesmo que vai querer pro resto da sua vida, Pedro.
Januário beija a testa de Pedro, que abraça Januário e logo em seguida deita no seu colo e fica ali, quieto, pensativo.
Januário — (pra si) Seja feliz, Pedro. É isso que desejo pra você e pra Rebeca!
Cena 04/Casa Moisés/Sala/Int/Tarde
Moisés e Meirinho estão almoçando.
Moisés — Hoje a pesca foi melhor do que ontem.
Meirinho — Nos rendeu um bom pescado.
Moisés — E principalmente um bom dinheiro. Um dinheiro que só engrossa o dinheiro que vejo juntando pro barco novo.
Meirinho — Vamos lá no terreiro hoje, pedir pra Iemanjá.
Moisés — Não sou muito disso, Meirinho. Mas pede lá por mim...
Rebeca entra apressada.
Moisés — Oi, Rebeca. Chegou na hora. Acabei de colocar a comida na mesa.
Meirinho — Tá servida?
Rebeca — Obrigada. Mas tô sem fome! Bom apetite pra vocês...
Moisés levanta e se aproxima de Rebeca.
Moisés — Tá tudo bem?
Rebeca — Vai ficar tio... vai ficar...
Rebeca beija o rosto de Moisés e vai pro seu quarto.
Meirinho — O que ela quis dizer com isso?
Moisés volta a se sentar e comer.
Moisés — A Rebeca é muito ajuizada. Não preciso me preocupar. (t) Agora vamos comer em paz!
Cena 05/Casa Moisés/Quarto Rebeca/Int/Tarde
Rebeca acaba de colocar sua mala em cima da cama e começa a pegar algumas roupas e colocar dentro da mala.
Rebeca — Estou indo Pedro... estou indo meu amor!
Cena 06/Casa Moisés/Sala/Int/Tarde
Moisés acaba de abrir a porta. É Jeferson.
Jeferson — Oi, seu Moisés! A Rebeca está?
Moisés — Tá sim. Acabou de chegar... vocês brigaram?
Jeferson — Não. Por que a pergunta?
Moisés — É que a Rebeca chegou de um jeito...
Jeferson — Onde ela está?
Moisés — Lá no quarto.
Jeferson — Agora o senhor me preocupou. Vou lá ver o que ela tem... com licença!
Jeferson vai pro quarto de Rebeca.
Cena 07/Quarto Rebeca/Int/Tarde
Rebeca pega a caixinha, onde guarda o anel que Pedro te deu e coloca dentro da mala. Jeferson entra.
Jeferson — Que mala é essa, Rebeca? Vai viajar?
Cena 08/Bar de Turíbio/Int/Tarde
Turíbio está no balcão. Licurgo serve os clientes. Filipa entra. Os homens presentes, não consegue disfarçar os olhares que lançam sobre a beleza de Filipa, que não faz questão nenhuma de esconder seu belo corpo.
Filipa — Tudo certo, por aqui?
Turíbio — Tava onde?
Filipa — Esqueceu que fui no salão da Maria Tundá? Fui ficar mais linda pra você, meu Tutu!
Filipa beija Turíbio. Licurgo passa perto de Filipa.
Filipa — Cuidado, Licurgo. Vai estranhar minha unha. Tá secando aqui...
Licurgo — Desculpa, dona Filipa.
Filipa — Que cara é essa, Turíbio?
Turíbio — Tava precisando de ajuda no bar e não tinha ninguém pra me ajudar a servir os clientes, cuidar da cozinha. Graças ao Licurgo, que consegui dar conta.
Filipa — Esqueceu que te falei que tinha salão marcado pra hoje? E além do mais, a Isabel devia estar aqui, te ajudando.
Turíbio — Pois é. Devia, mas não estava. Quando voltei, ela tinha sumido. E até agora não deu as caras.
Licurgo vê Isabel se aproximando.
Licurgo — (grita) A Isabel... Isabel tá chegando.
Isabel — Grita mais alto, tem gente que ainda não ouviu...
Turíbio — Posso saber onde você estava, Isabel?
Isabel — Tava atrás do homem que eu amo.
Turíbio — Que conversa é essa, menina. Tá falando de quem?
Isabel — Vou pro meu quarto.
Isabel saí do bar, indo pra casa. Turíbio vai atrás.
Filipa — A chapa vai esquentar, Licurgo.
Licurgo — Não gosto de briga... briga é ruim.
Filipa — Mas as vezes é necessário pra se pontuar certos assuntos...
Cena 09/Casa Turíbio/Sala/Int/Tarde
Isabel entra, seguida por Turíbio. Turíbio pega seu braço, com força, fazendo-a vira-se pra ele.
Turíbio — Não me deixa falando sozinha, menina. Me respeita, que sou seu pai!
Isabel — Me solta. O senhor está me machucando!
Turíbio — Me explica então, que conversa é essa de ir atrás do homem que ama... quem é ele?
Isabel — Eu amor o Jeferson, pai. É ele o homem que amo.
Turíbio — Você foi atrás de um homem comprometido?
Isabel — É ele quem eu amo!
Turíbio — Sua desavergonhada!
Turíbio dá um tapa em Isabel.
Turíbio — Não criei filha minha, pra ficar correndo atrás de homem comprometido, que vai se casar.
Isabel — Pode me bater quanto o senhor quiser, que não vou desistir de conquista-lo.
Isabel corre pro seu quarto. Turíbio fica furioso, tira seu cinto.
Turíbio — Vai apanhar, até criar vergonha na cara.
Filipa chega e impede Turíbio de ir atrás de Isabel.
Filipa — Chega, Turíbio. Bater não vai adiantar nada.
Turíbio — Escutou tudo o que ela disse, Filipa. Tava atrás do Jeferson. Ele tá noivo da Rebeca, vão se casar. Não criei a Isabel pra ser esse tipo de mulher, que fica correndo atrás de homem comprometido.
Filipa — Mas bater não vai adiantar nada. Pelo contrário, só vai deixa-la com raiva de você e com mais vontade de ir atrás dele.
Turíbio — Então o que eu faço? Não sei onde errei com essa menina. Não quer nada com a vida.
Filipa — Você sabe que o sonho dela é ser modelo.
Turíbio — Mas não temos condições pra isso.
Filipa — Deixa que eu converse com ele. (T) Tenta se acalmar e volta lá pro bar. O Licurgo ficou lá sozinho...
Filipa beija Turíbio e vai pro quarto de Isabel. Turíbio pega a foto de Basileu, em cima do móvel.
Turíbio — Pelo menos você me dá orgulho, meu filho. Muito orgulho. Não vejo a hora de você voltar terminar seus estudos e voltar pra casa. Seu pai tá morrendo de saudade....
Turíbio coloca a foto de Basileu no lugar. Respira fundo e volta pro bar. CAM detalha foto de Basileu.
Cena 10/Rio de Janeiro/Ext/Tarde
Corta para:
Cena 11/Apto de Basileu/Sala/Int/ Tarde
Um apartamento simples, sem muito conforto. Um pouco bagunçado: livros espalhados, um notebook aberto, embalagem de pizza aberta em cima da mesa. CAM vem passando pela sala. Roupas jogas pela chão.
Cena 12/Apto de Basileu/Quarto/Int/Tarde
Na cama, Basileu e Tina estão deitados após transarem. Momento.
Basileu — Que cara é essa? Não foi bom?
Tina — Não é isso...
Basileu — Então qual o motivo dessa ruguinha aqui na sua testa? (passando a mão)
Tina — Você vai me abandonar!
Basileu — Tenho que voltar pra Jandaia. Minha família está lá.
Tina — E eu, Basileu? Não represento nada pra você?
Basileu — Você sabe que eu te amo. Mas tenho que voltar. Meu pai precisa de mim.
Tina — Eu também preciso de você.
Basileu — Vem comigo. Vamos nos casar e morar em Jandaia. Termos uma família.
Tina — Você sabe que não posso. Tenho que acabar minha faculdade.
Basileu — Não estou indo pra outro país. É só outro estado, Tina.
Tina — Mas pra mim vai ser como se você tivesse ido pra outro planeta.
Basileu ajeita Tina no seu peito e lhe dá um beijo.
Basileu — Meu estágio está acabando, minha vida aqui no Rio também. Ter te conhecido foi uma das melhores coisas que aconteceu. E nunca vou te esquecer, Tina.
Tina — E seu eu te disser que estou grávida. Você fica comigo?
Cena 13/Casa Rufino/Sala jantar/Int/Tarde
Rufino está almoçando. Narcisa acaba de lhe servir suco.
Narcisa — Deseja mais alguma coisa?
Rufino — Não. Pode se retirar. Se precisar eu chamo.
Narcisa deixa Rufino almoçar.
Rufino — Logo você vai estar de volta, meu filho. E vai ficar aqui, do meu lado.
Cena 14/Casa Rufino/Sala/Int/Tarde
Narcisa abre a porta. É Zinha.
Narcisa — Zinha?
Zinha — Preciso falar com o seu Rufino.
Narcisa — Ele está almoçando. E não gosta de ser interrompido na hora da refeição.
Zinha — Mas é urgente.
Zinha entra, empurrando Narcisa.
Cena 15/Casa Rufino/Sala jantar/Int/Tarde
Zinha entra, esbaforida. Narcisa logo atrás.
Narcisa — Desculpa, seu Rufino. Mas ela foi entrando...
Zinha — É muito sério e urgente que tenho pra falar com o senhor. (virando-se pra Narcisa) E em particular.
Rufino — Tudo bem, Narcisa. Pode ir.
Narcisa deixa os dois sozinhos.
Rufino — Então, dona Zinha. O que de tão sério e urgente que fez a senhor vir na minha casa, atrapalhar minha refeição, que considero um momento tão sagrado.
Zinha — Eu sei. Mas é muito sério o que tenho pra contar.
Rufino — Então desembucha logo. Sou homem direito, objetivo e gosto que todos sejam assim quando venham falar comigo.
Zinha — Tudo bem, então. (T) Eu, por acaso, da maneira mais inesperada do mundo, acabei descobrindo que.../
Rufino bate a mão na mesa, já nervoso.
Rufino — (sem paciência) Fala logo, dona Zinha. Já estou perdendo a paciência com a senhora.
Zinha — Eu descobri que a Rebeca vai pra capital, ver a ordenação do Pedro!
Rufino reage.
FIM DO CAPÍTULO 04
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