Cena 01/Casa Rufino/Sala jantar/Int/Tarde
Rufino e Zinha continuam conversando.
Rufino — A senhora tem certeza disso?
Zinha — Que Deus me deixa surda e muda se eu estiver mentindo!
Rufino — Então ela resolveu me afrontar. Pois bem, vou tomar minha providências...
Zinha — O que o senhor pretende fazer?
Rufino — Eu não vou fazer nada. Quem vai fazer é Deus. Ele não vai deixar que aquela pecadora, tente meu filho, assim como a cobra fez com Eva. E assim como Deus agiu naquele momento, ele fará agora!
Cena 02/Casa Moisés/Quarto Rebeca/Int/Tarde
Jeferson e Rebeca.
Jeferson — Então, Rebeca. Responde. Vai viajar?
Rebeca — Vou, Jeferson.
Jeferson — E não ia me falar? Vai viajar pra onde?
Rebeca — É assunto meu, Jeferson.
Jeferson — Achei que não tínhamos segredos um pro outro.
Rebeca — É uma viagem que eu preciso fazer, Jeferson. É algo que meu coração me manda fazer e você não vai me entender.
Jeferson — Não vai me dizer que você vai atrás do... Pedro. É isso, Rebeca? Você vai atrás do Pedro?
Rebeca — Não quero brigar, Jeferson. Só te peço que você me compreenda. Estou fazendo isso por nós dois.
Jeferson — (descontrola) Por nós dois? Não vem com essa, Rebeca. Você vai atrás dele, pra ver se ele desiste de ser padre, pra que vocês dois fiquem juntos, não é isso? (t) Não sou nenhum trouxa, nem otário. Sei de tudo o que viveram no passado e da maneira como terminou. Ou melhor como não terminou, diante dessa sua atitude.
Rebeca — Não vou desistir da minha viagem, Jeferson. Eu preciso ir!
Jeferson — Se você for, Rebeca. Está tudo terminado entre nós dois.
Rebeca — O que você quer dizer com isso?
Jeferson — Não se faça de boba, pois isso você não é. Você me entendeu muito bem. Mas se quer ouvir de maneira mais clara, eu falo, com todas as palavras: se você for atrás do Pedro, nossa casamento está cancelado.
Rebeca — Eu preciso ir, Jeferson. Meu coração está me mandando fazer isso!
Jeferson — Me esquece, então! Pois vai ser isso que vou fazer, te esquecer!
Jeferson vai embora. Bate à porta. Rebeca senta na cama e começa a chorar.
Cena 03/Casa Moisés/Frente/Ext/Tarde
Jeferson saí furioso, como um raio. Moisés vem atrás.
Moisés — O que aconteceu, Jeferson?
Jeferson — Pergunta pra sua sobrinha. Foi escolha dela!
Jeferson entra no seu jipe e vai embora, cantando pneu. Moisés observa.
Cena 04/Igreja Evangélica/Int/Tarde
Patrício está varrendo a igreja, cantando alguma canção evangélica. Jeferson entra e se aproxima do pai.
Patrício — Que foi, meu filho? Que cara é essa?
Jeferson — Acabou pai...terminou tudo!
Jeferson começa a chorar. Patrício, meio que sem entender, tenta consolar o filho, abraçando-o. Patrício continua cantando a canção.
Cena 05/Casa Turíbio/Quarto Isabel/Int/Tarde
Isabel está na sua cama, com a cabeça afundada nas almofadas. Filipa bate na porta.
Isabel — Não quero falar mais pai. Me deixa sozinho...
Filipa — (off) Sou eu, Isabel. Filipa!
Isabel levanta e abre a porta.
Filipa — Podemos conversar?
Isabel dá espaço pra Filipa entrar.
Isabel — Vai tentar me convencer a parar de correr atrás do Jeferson? Se for isso, pode dar meia volta e sair pela porta que entrou.
Filipa — Não é isso. Pelo contrário. Vim te dizer se é isso mesmo que você quer, corra atrás, não desista.
Isabel — Meu pai sabe dessa sua posição?
Filipa — Não sabe e nem pode sonhar que estou te dando esses conselhos.
Isabel — Obrigada, Filipa. É bom saber que posso contar com alguém.
Filipa — Não tenho idade pra ser sua mãe. Mas sou sua amiga e pode contar comigo.
Isabel — O Jeferson vai ser meu. Você vai ver. Sou capaz de tudo pra ficar com aquele homem.
Filipa — É realmente um tipão. Mas não troco meu Tibúrcio por nenhum homem desse mundo.
Isabel — No começo eu desconfiava desse seu amor. Acha que você era uma interesseira. Mas hoje vejo que você gosta mesmo do meu pai.
Filipa — Gosto, sim. Isabel. E muito. Eu amo seu pai e como acabei de dizer, não o troco por nenhum homem do mundo!
Isabel — Assim como eu não troco o Jeferson e nem desisto de ficar com ele.
Filipa — Então seja mais cuidadosa, pra evitar de bater de frente com seu pai.
Isabel — Só preciso dar um jeito de separar o Jeferson e a Rebeca. Assim meu caminho ficará livre e tenho certeza que ele não vai resistir as minhas investidas... (risos)
Filipa — Você é das minhas. Determinada e segura de si! Tenho certeza que logo, logo, o Jeferson vai estar comendo na sua mão, sendo seu cachorrinho.
Cena 06/Apto de Basileu/Sala/Int/Tarde
Tina e Basileu vem caminhando do quarto. Basileu acaba de vestir sua blusa.
Basileu — Você está grávida, Tina?
Tina faz certo suspense, até que.
Tina — Se eu falar que estou grávida você desiste de ir embora, de me deixar?
Basileu — Responde, Tina. Eu vou ser pai?
Tina — Não estou grávida. Mas é o que eu mais quero, Basileu. Um filho seu. Um filho nosso.
Basileu — Tudo tem seu tempo, Tina.
Tina — Só não quero te perder.
Tina começa chorar e abraça Basileu.
Basileu — Você não vai me perder, sua boba.
Tina — Eu sei que vou te perder, Basileu. Assim que você entrar no avião, tudo acabou. Meu coração está me dizendo isso.
Basileu — Então diga pro seu coraçãozinho que ele está enganado. Nunca vou te esquecer. Pelo contrário, vou ficar contando os dias pra você terminar sua faculdade de designer logo e ir morar comigo em Jandaia. Onde teremos nossos filhos e ficaremos juntinhos pra sempre, até ficarmos bem velhinhos...
Tina — Promete então que nunca vai me esquecer? Que vai me amar pra sempre?
Basileu — Você ainda tem dúvidas?
Tina — Promete, Basileu. Por favor. Eu quero ouvir isso. Acho que só assim vou conseguir ficar um pouco em paz.
Basileu — Tudo bem, eu prometo que nunca vou te esquecer e que vou te amar pra sempre!
Tina — Te amo!
Basileu — Eu também te amo, minha gatinha mais insegura do mundo!
Basileu beija Tina. Depois segura-a e a roda no ar. Tina abre os braços feliz. Os dois caem no sofá. Tina começa a tirar a camisa de Basileu.
Basileu — Assim você vai acabar comigo...
Tina — Quero aproveitar cada minuto com você.
Basileu não resiste e investe em Tina, já se livrando da roupa. Tina faz a mesma coisa, prontos pra se amarem de novo. CAM se afasta, deixando o casalzinho mais à vontade.
Cena 07/Jandaia/Ext/Tarde
Corta para:
Cena 08/Igreja de Patrício/Int/Tarde
Patrício e Jeferson estão sentado, perto do altar.
Patrício — Mas é definitivo, não tem mais volta?
Jeferson — Não quero e não vou me casar com uma mulher que ainda pensou no seu primeiro amor, pai. Foi isso que a Rebeca deixou bem claro pra mim, que não esqueceu o Pedro.
Patrício — Não tome nenhuma atitude precipitada, da qual possa se arrepender depois, Jeferson.
Jeferson — Eu achei que a Rebeca gostava de mim. Que já tinha esquecido o que aconteceu entre ela e o Pedro. Mas pelo visto estava enganado. Se ela gostasse de mim, como já cansou de repetir isso, não estaria fazendo suas malas, pra correr atrás dele.
Patrício — Mas o Pedro vai se tornar padre, Jeferson. Nada mais pode acontecer entre eles.
Jeferson — Ele ainda não se tornou padre, pai. E até onde eu sei, ele pode desistir.
Patrício — Mas qual a explicação que ela te deu, de fazer essa viagem?
Jeferson — A desculpa mais esfarrapada do mundo. Que precisa ir, pra conseguir virar essa página na sua vida... tudo papo furado! (T) E acho que é por isso que a Rebeca está indo até lá. Pra fazê-lo desistir de assumir o sacerdócio e ficarem juntos, como queriam, quando Rufino o mandou pro seminário.
Patrício — Filho, coloca nas mãos de Deus. Não existe outra solução melhor do que essa. Deixa que ele resolva o que tem que resolver e fazer o que for melhor pra vocês dois.
Jeferson — Quero que a Rebeca se exploda, pai. Não quero saber mais dela.
Patrício — Não fala assim, meu filho. Eu sei que você gosta dela. Está dizendo isso dá boca pra fora, movido pela raiva que está no seu coração.
Jeferson — Ora por mim então, pai. Pede pra Deus que impeça que a Rebeca vá atrás do Pedro. Eu sou capaz de esquecer essa loucura que ela estava fazendo, se ela não for até lá. (T) O senhor tem razão. Eu a amo e não sei viver sem ela.
Patrício — Vou orar por você e pela Rebeca, Jeferson. Pedir que Deus aja em suas vidas e que harmonize a relação de vocês... Mas procure se acalmar. Ficar nervoso, agitado, como você está, não vai adiantar nada.
Jeferson — Vou tentar esfriar minha cabeça. É isso que estou precisando...
Jeferson abraça Patrício, se levanta e vai embora. Patrício fecha seus olhos e começa a orar.
Música: I look to you – Whitney Houston
Patrício — (voz) Pai, eu te peço que haja na vida do meu filho e da Rebeca. Faça com o que os dois enxerguem o melhor caminho pra suas vidas. E que se for pra eles ficarem juntos, faça com que isso aconteça, que o amor fale mais alto em seus corações, reestabelecendo a paz, a união entre eles. Que mais nada atrapalhe a vida de casal que possam vir a construir. O Senhor tudo pode, nada é impossível. E em Ti podemos confiar...
Cena 09/Casa Moisés/Quarto Rebeca/Int/Tarde
Moisés está na porta; Rebeca acaba de fechar sua mala.
Moisés — É uma loucura o que você está fazendo, Rebeca. O Jeferson saiu daqui furioso!
Rebeca — Terminamos. E acho que é definitivo. Mas eu preciso fazer isso, tio. Ver com meus próprios olhos.
Moisés — O Pedro vai ser padre e você não pode mudar isso.
Rebeca — Esse foi o destino que o Rufino traçou pro Pedro e não o destino que ele queria pra sua vida.
Moisés — Ninguém muda o que está escrito, minha sobrinha. Cada um tem seu destino e não se é possível desviar dele.
Rebeca — Mas podemos tentar reescrevê-lo.
Moisés — O Pedro fez a escolha dele. Se ele quisesse já tinha desistido. Mas não o fez.
Rebeca — Tudo por culpa do Rufino, que fica enchendo os ouvidos dele. É por isso que quero estar presente, pra ver como ele vai reagir ao me ver.
Moisés — Acha que ele pode desistir?
Rebeca — O senhor pode até ter um pouco de razão ao dizer que é loucura. Mas estou fazendo isso pelo Pedro também. Quem sabe ao me ver, ela crie força, tenha coragem, pra abandonar tudo, abdicar da vida que ele terá como padre e.../
Moisés — (corta) Fica com você. Não é isso que ia dizer?
Rebeca — Todos nessa cidade sabem da nossa história. Sabe que fomos separados da maneira mais cruel e dolorosa. Não vou ser hipócrita em dizer que não esqueci o Pedro. Só o que fiz foi seguir com minha vida. Mas carregando a ferida aberta no coração, da relação que tivéssemos e que terminou com o Pedro sendo levado pro seminário. Caso contrário, estaríamos juntos e ficaríamos assim pra sempre. Pois o que existia entre nós dois era algo mágico. Um sentimento tão forte, puro e verdadeiro, algo que sei que nunca mais vou sentir na minha vida, com nenhum outro homem.
Moisés — Só quero seu bem, Rebeca. O seu e da Betânia. Vocês são as duas alegrias da minha vida. São a minha família. As sobrinhas mais lindas do mundo, por quem sou capaz de fazer qualquer coisa pra que sejam felizes.
Rebeca — (emocionada) O senhor vai me fazer chorar assim. Já tô tão emotiva e ouvindo o senhor falar essas coisas, vou acabar derramando uma cachoeira de lágrimas aqui (risos)
Moisés — Queria que soubesse disso. E se você precisa dessa viagem, vá então. Tenha as respostas que busca e precisa, pra que consiga alcançar a felicidade. Pois não é isso que todos nós buscamos? A bendita felicidade? Pois então.
Rebeca — Só quero acalmar meu coração e ser feliz, com o homem destinado pra mim!
Moisés — Se for pra você e o Pedro ficarem juntos, isso vai acontecer e ninguém vai conseguir impedir. (T) Aprendi nessa minha vida de pescador, passando mais tempo no mar, do que no continente, de que não adianta lutar contra a maré. Quando ela quer te levar, ela leva e lutar não adianta nada. E é assim com a vida. Tem vezes que por mais que lutemos, o destino nos puxa praquilo que ele planejou e escreveu pra cada um de nós.
Cena 10/Praia/Pedra Azul/Ext/Tarde
Jeferson está sentado, pensativo. Observa o mar. Fecha os olhos por um instante e quando abre de volta, Gorete está lhe observando.
Jeferson — Que susto a senhora me deu.
Gorete — Desculpa, não queria ter te assustado. É que estava passando, quando vi você tão distante. Parecia que nem nesse plano estava.
Jeferson — Estou passando por uns problemas...
Gorete — Não desista dela.
Jeferson — (surpresa) Como é?
Gorete — Não desista dela. Ela vai precisar muito de você.
Jeferson — (estranha) Como a senhora sabe.../
Gorete — (corta) Mas uma coisa eu te digo: nada muda o que está escrito.
Gorete começa a caminhar, se afastando. Jeferson pula da pedra e vai atrás dela.
Jeferson — Espera...
Jeferson pega no braço de Gorete, que olha recriminatoriamente pro seu gesto. Jeferson fica sem graça e à solta.
Jeferson — O que a senhora quer dizer com isso?
Gorete — Duas tragédias vão acontecer. E uma dela vai trazer seu grande rival pra mais perto do que você queria. E a peleja será declarada! Mas o amor sempre fala mais alto.
Jeferson — Por favor, me conta o que a senhora sabe.
Gorete — Não sou eu quem está dizendo isso, Jeferson. São os espíritos da floresta. Foi eles quem me contaram...
Gorete vai embora. Embrenhando-se no meio da mata.
Jeferson — (assustado) Duas tragédias vão acontecer...
Cena 11/Casebre de Gorete/Int/Tarde
Gorete entra, já procurando Scarlet.
Gorete — Cadê você, Scarlet... Mamãe chegou!
Gorete acha sua cobra de estimação e a segura, lhe enchendo de carinho.
Gorete — Tava com saudade da mamãe?! Tava?! (T) Muita coisa vai acontecer, Scarlet. A vida de muita gente nessa cidade vai virar do avesso. Essas duas tragédias que vão acontecer é só o começo do turbilhão de emoções que Jandaia vai sofrer. Temos que nos preparar, pois ninguém vai escapar!
Cena 12/Pedreira abandonada/Ext/Tarde
Jofre acaba de parar o carro. Jofre saí e abre a porta pra Rufino, que saí e observa a redondeza, verificando se realmente estão sozinhos. Jofre se aproxima de Rufino.
Jofre — Fiz alguma coisa de errado, patrão? O senhor disse que precisava conversar comigo?
Rufino — Sabe, Jofre. Seu pai foi um grande homem. Na época em que era meu motorista, foi um funcionário exemplar. Sempre muito discreto, subserviente e pronto pro que eu precisa-se.
Jofre — Não sabe como fico orgulho em ouvir isso, seu Rufino. Tenho muito orgulho do meu pai, que foi o motorista do senhor por muitos anos, antes de infartar.
Rufino — Foi uma grande perda, a sua morte.
Jofre — Infarto fulminante... Mas sei que ele está bem. E lá do céu está olhando por mim. (T) Mas ainda não entendi onde o senhor quer chegar com essa conversa.
Rufino — Eu confiava muito no seu pai. Sabia que tudo o que eu pedi pra ele fazer e os outros não podiam saber, era algo que ele levaria pro seu túmulo. E eu quero saber, posso confiar em você da mesma forma em que confiava em seu pai?
Jofre — Claro. Meu pai sempre me disse pra fazer tudo o que senhor mandasse. Devia-lhe muita obrigação...
Rufino — Seu pai era um homem muito bom e generoso. Sei que Deus lhe reservou um lugar muito especial, onde está agora, olhando pela gente.
Jofre — O que o senhor vai querer que eu faça?
Rufino — Você sabe que o diabo está sempre nos atentando. Ele é muito ardiloso. E quer fazer de tudo pra que desviemos do caminho do Altíssimo. Você é religioso, Jofre?
Jofre — Sou católico. Vou na igreja sempre que posso.
Rufino — Tenho certeza que na primeira comunhão, você deve ter ouvido sobre isso. Sobre como o diabo faz pra estar sempre nos tentando. Assim como fez com Cristo, no deserto.
Jofre — Onde o senhor quer chegar com isso?
Rufino — O diabo está pronto pra tentar meu filho Pedro, no dia da sua ordenação. Um diabo chamado Rebeca.
Jofre — (estranha) A Rebeca, sobrinha do Moisés?
Rufino — A própria. E eu tenho que impedir isso. E pra isso preciso da sua ajuda.
Jofre — E o que o senhor quer que eu faça?
Rufino — Ela vai viajar hoje pra ir até a cerimônia e preciso que você a impeça! Nem que pra isso, seja necessário que sua vida seja ceifada!
Jofre — O senhor quer que eu mate a Rebeca?
FIM DO CAPÍTULO 05
Obrigado pelo seu comentário!