CENA 01 - HOSPITAL - REFEITÓRIO - INT. - DIA.
MARISA - Eu não tenho tempo para ficar ouvindo besteiras, César. Estou com a minha filha e o meu genro acamados e preciso ficar perto deles.
Marisa prepara-se para se levantar, mas é surpreendida por uma pergunta de César.
CÉSAR - A Elena é minha filha?
Marisa olha diretamente para César em um rompante.
MARISA - O que está insinuando, César? Por acaso, você está por alguma razão pensando que eu traí você?
CÉSAR - É uma boa forma de entender a raiva que você tem dos meninos.
MARISA - Não ouse duvidar da minha honra, César. Eu vim de família de berço e eles me ensinaram os valores e espero que você entenda isso.
CÉSAR - Marisa, foi uma pergunta sincera. Você sempre foi apaixonada por aquele brasileiro, não seria estranho pra mim se a Elena fosse filha dele.
MARISA (GRITA) - Não se atreva a falar isso novamente!
Marisa se arma para dar um tapa em César, mas acaba desistindo.
MARISA - Olhe o que você fez. Está todo mundo olhando pra cá e por mais que a minha vontade seja de te dar uns tapas, eu prefiro me abster dessa situação. A Elena vai saber que o que você aprontou hoje aqui, César.
CÉSAR - Você não seria capaz de fazer isso...
MARISA - Sou capaz, sim. Até parece que não me conhece, César. Vou voltar para a UTI e ver como a Elena está. Você deveria fazer o mesmo e cuidar da sua filha.
Marisa sai com cabeça erguida.
CENA 02 - APARTAMENTO - COZINHA - INT. - DIA.
Frank está sem camisa e tomando um suco com o olhar fixo para algum ponto da cozinha. Gael o acorda do transe.
GAEL - Você vai até o hospital?
FRANK - Sim, estava esperando você acordar para irmos.
GAEL - Não gosto muito de ir a hospital, fico arrepiado só de lembrar.
FRANK - Vai ficar tudo bem, tenho certeza que ao chegarmos lá teremos boas notícias. Vai vestir uma roupa melhor, porque vou chamar o táxi.
Gael assente e sai da sala.
ARACAJU - BRASIL
CENA 03 - MACEDO MARMÓRES - ESCRITÓRIO - INT. - DIA.
Fernando e Elisa conversam, quando a porta bate e Laura (29) surge
ELISA - Laura! Não estávamos esperando você por aqui.
FERNANDO - Lembrou que tem um tio e veio visitar?
LAURA - Infelizmente não trago boas notícias, tio...
ELISA (PREOCUPADA) - O que aconteceu, Laura?
LAURA - A vovó Inês há alguns dias estava com uma tosse que não passava por nada, então, a gente só deu um xarope, mas a tosse persistiu e a voz dela meio que alterou e ela estava alegando um desconforto enorme na garganta. Hoje, quando eu acordei, topei na garganta dela e senti um caroço, mas não quero ficar com medo antes de saber a verdade, pensei em ligar, mas achei melhor vir até aqui.
FERNANDO (SURPRESO) - E o que vocês estão esperando para levá-la ao hospital? Precisamos fazer exames o quanto antes.
LAURA - Na verdade, um amigo da Darla está indo lá agora, mas tia Bebé pediu para que todo mundo fosse até lá.
ELISA - Mas é claro! Nós vamos pra lá o mais rápido possível. Vou pegar minha bolsa e vamos direto pra lá, Laura.
LAURA - Obrigada.
Fernando está estarrecido com a notícia ainda e parece estar zonzo. Elisa volta com a bolsa.
ELISA - Vamos?
FERNANDO - Precisamos passar no colégio e buscar o Christopher.
Elisa e Laura assentem
CENA 04 - OLIMPO REAL - SALA - INT. - DIA.
Karol e Victor estão um ao lado do outro e começam a conversar em tom baixo.
VICTOR - Que tal irmos para a praia amanhã? Podemos aproveitar e depois ir ao shopping, o que acha?
KAROL - Eu não sei, mas acho que meu pai vai querer ir para o interior. Temos que visitar meus avós na fazenda.
VICTOR - Achei que teria você pra mim nesse fim de semana.
KAROL - E bem que eu queria, mas esse final de semana não dá, mas se ele cancelar, eu te aviso e saímos, tudo bem?
VICTOR - Claro.
O sinal toca para o intervalo.
CENA 05 - OLIMPO REAL - PÁTIO - DIA.
Nayane está sentada em um banco, enquanto lê "Os Miseráveis". Karol e Victor chegam.
KAROL - Ué, cadê o Chris?
NAYANE - Quando ele estava saindo da sala, a diretora o chamou e pediu para que ele pegasse a mochila que os pais estavam o esperando.
VICTOR - Estranho, né? Será se aconteceu alguma coisa?
NAYANE - Não sei...
KAROL - Espero que não tenha acontecido nada
CENA 06 - OLIMPO REAL - EXT. - DIA.
Chris entra no carro e estranha.
CHRIS - Aconteceu alguma coisa? Não lembro de ter alguma consulta marcada pra hoje... Oi, Laura... Por quê a Laura está aqui?
ELISA - Chris... A sua vovó Inês, nós estamos achando que ela está doente e vamos pra lá agora para saber de mais detalhes. Um médico vai examiná-la.
CHRIS - O quê? Mas doente de quê?
LAURA - Provavelmente ela está com um caroço na garganta...
FERNANDO - Vai ficar tudo bem, Chris. Nós vamos pra lá, mas não quero que você fique triste, porque senão a sua avó irá perceber, tá bem?
Chris com os olhos marejados assente.
CENA 07 - HOSPITAL DE LIMA - RECEPÇÃO - INT. - DIA
Frank e Gael entram na recepção. Marisa está sentada.
MARISA - O que vocês estão fazendo aqui? Frank, é o último ano no colégio, precisa passar numa faculdade.
FRANK - Não é possível que você achou mesmo que eu iria para o colégio com a Elena nesse estado.
MARISA - Pelo que eu sei, a sua irmã está fora de perigo, não é motivo para vocês dois faltarem o colégio. Acham que o dinheiro está caindo do céu? Eu pago colégio caro, tendo dar a melhor educação para vocês e não quero que sejam um péssimo exemplo.
GAEL - Mãe, nós precisávamos vir até aqui para ver a Elena.
MARISA - Ela está bem. Agora, eu quero que vocês voltem pra casa e fiquem lá. Depois eu revezo com o seu pai e irei para casa.
FRANK - Acho melhor ficarmos no hospital. Ouvi que estão organizando manifestações pelo país, mas não sei se Lima está incluída.
MARISA - Era só o que me faltava. Esse país está saindo dos eixos. Por isso que nosso país não cresce, ao invés de irmos para as ruas lutarmos por nossos direito, educação, melhorias na segurança e saúde, esses pobres preferem ficar lambendo o saco dos políticos.
GAEL - Parece que tudo só piora.
CENA 08 - MANSÃO - SALA DE ESTAR - INT. - DIA
Há por volta de doze pessoas na sala. Fernando, Chris, Elisa e Laura já estão. A porta da sala abre e Jaqueline (21) aparece.
JAQUELINE - Desculpa a demora. Eu vim o mais rápido possível, o trânsito está um verdadeiro inferno.
CHRIS (ABRAÇA A IRMÃ) - Jaque!
JAQUELINE - Vocês já tem alguma novidade?
ELISA - Ainda não. O médico, amigo da Darla está no quarto com a Inês, estamos aguardando.
Há um burburinho na sala que se encerra ao ver o médico (30), alto, pele negra descendo as escadas.
DARLA - E então, Amilton?
DR. AMILTON - Bom, eu fiz alguns toques na região da garganta dela e realmente há um caroço lá, mas o que me assustou foi o tamanho deste caroço.
FERNANDO - Como assim, Dr.?
DR. AMILTON - É um caroço muito grande, estou surpreso que ele só foi percebido agora...
JAQUELINE - Você não acha que dá para fazer algum tratamento?
DR. AMILTON - Infelizmente, devido a idade dela, o tratamento será pior nesse caso. Ela tem 93 anos e apesar da saúde, algo como uma quimio ou radio só fará com que ela sofra mais.
Chris respira fundo e Jaqueline o abraça.
CENA 09 - MANSÃO - QUARTO - INT. - DIA.
SONOPLASTIA ON: AVEMARIA - FRANZ SCHUBERT
Inês (93) está deitada na cama. Chris bate na porta e vai de encontro com sua avó. Ele senta-se em uma poltrona perto da cama.
INÊS (RINDO) - Eles acham que eu não sei... Não é como se esse caroço estivesse invisível.
CHRIS - Vó, acho que está todo mundo preocupado, mas está todo mundo acreditando na sua cura. A senhora sempre foi uma mulher de fé, não acho que seja a hora de perder a fé.
INÊS - Mas minha fé é inabalável, meu querido. Eu tive tudo que eu quis em minha vida. Deus me deu filhos maravilhosos e netos incríveis. Sabe, Christopher, quando a sua mãe te teve, eu corri para a maternidade para pegar você no meu colo, nossa... Como você era pequenininho, suas bochechas eram tão coradas.
CHRIS (CHORANDO) - Vovó, eu não quero que o assunto seja esse...
INÊS - Deixa de ser besta, Christopher. Eu sou grata pela vida que eu tive, eu vivi muito bem... É... Não quero que você chore, porque isso parte meu coração em pedaços e eu não quero te ver triste. Christopher, quando você vinha passar as férias aqui, meu coração ficava tão alegre, amava ver você e os seus outros primos pulando a janela daqui de casa. Confesso que eu ficava assustada quando eu dava dinheiro para vocês e percebia que não tinham talento nenhum para guardar (risos). Se tem uma coisa que eu quero que saiba é que amei, amo e sempre amarei você, Chris.
CHRIS (CHORANDO) - Não quero que isso seja uma despedida, vovó.
INÊS - Mas não é, menino bobo. Eu ainda estarei lá do outro lado cuidando de você, seus tios, seu pai... Vou poder me juntar ao meu velho e poder xingá-lo (risos). Christopher, isso aqui é um privilégio, maioria das pessoas não conseguem se despedir das pessoas que elas amam.
Chris se aproxima da cama e se ajoelha. Ele repousa a sua cabeça no colo da sua avó que passa a acariciar seus cabelos.
CHRIS (CHORANDO) - Vovó, eu gosto de meninos... Eu sei que é errado...
INÊS (INTERROMPE) - Quem disse que é errado, rapaz? Jamais repitas isso, ouviu? Você gostar de alguém não é nada errado, pelo contrário. Isso não muda nada, Christopher.
CHRIS - Tenho medo...
INÊS - Que bom que você tem medo. Isso significa que você está vivo e enquanto existir medo, a vontade de viver precisa andar em conjunto. Nunca, mas nunca mesmo deixe o medo ultrapassar a sua vontade de viver. Quando eu chegar lá do outro lado, eu vou ficar te observando pra ter certeza que está vivendo e principalmente beijando os meninos. No dia que eu for, haverá um sol no meio das nuvens escuras, pode ficar tranquilo, eu estarei indo em paz(risos).
CHRIS - Obrigado, vovó.
INÊS - Eu que agradeço você por ter me escolhido como a sua avó.
Inês continua acariciando os cabelos de Chris que aperta as mãos da sua avó.
CENA 10 - AVENIDAS DE ARACAJU
1 SEMANA DEPOIS...
O céu está completamente encoberto por nuvens pesadas e escuras, e uma chuva constante cai sobre a cidade. Chris está parado com seu guarda-chuva verde. Uma luz entre as nuvens cinzas aparece. Ele olha fixamente para aquela luz. Uma lágrima cai do seu olho esquerdo e acaba baixando a cabeça e deixando o guarda-chuva cair.
CHRIS (PARA SI) - Eu te amo, vovó... Prometo ser feliz e... beijar meninos.
SONOPLASTIA OFF.
FIM DO CAPÍTULO 06
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