Cena 01/Delegacia/Int/Noite
Patrício, Salatiel, Eva, Pedro, Rebeca, Moisés e Carmem. Patrício examina
o bilhete.
Eva E agora? O que vamos fazer?
Patrício Esperar!
Rebeca (revolta) Esperar?! Esperar que ele mate meu filho,
delegado? É isso?
Pedro tenta controlar Rebeca.
Pedro Calma, Rebeca!
Rebeca (desesperada) Como eu posso ficar calma, sabendo que
nosso filho está nas mãos daquele louco, que pode fazer
qualquer maldade com ele pra me atingir, Pedro?
Eva Não vamos pensar no pior, Rebeca.
Pedro, chorando , abraça Rebeca.
Pedro Vai ficar tudo bem, meu amor. Não vou deixar que o
Rufino faça nada contra o nosso filho. Eu lhe prometi
isso, lembra?
Rebeca desaba.
Rebeca (lamenta) Só quero meu filho de volta. Só isso!
Carmem Nós entendemos seu desespero, querida.
Moisés Deixa o delegado explicar melhor...
Patrício Eu entendo seu desespero como mãe, Rebeca. Mas o
meu esperar não quer dizer que vamos ficar de braços
cruzados. Vou pedir reforço, dar uma busca na região,
pois creio que eles não estejam longe. Mas precisamos
esperar seu próximo contato.
Rebeca É a mim que ele quer. Eu sei disso.
Eva O Rufino é louco. Doente. Sinto que sou eu quem
preciso dar um fim nisso...
Moisés Todos nos temos algum motivo pra acabar com a vida
dele, Eva...
Rebeca Sou eu quem sempre lhe incomodei e despertei sua
fúria, com a minha persistência de lutar pelo amor do
Pedro. Ele vai usar o Joaquim pra conseguir me pegar e
se vingar.
Pedro Precisamos estar preparados pra pegá-lo quando ele
voltar a se manifestar.
Patrício Preciso estar a par de tudo. Qualquer notícia, bilhete, me
comuniquem de imediato. Prender o Rufino e fazer ele
pagar pelos seus crimes é uma questão de honra pra
mim. E não vou descansar um segundo se quer pra
conseguir isso.
Cena 02/Delegacia/Frente/Ext/Noite
Eva, Moisés, Carmem seguem indo embora, conversando. Corta para
Rebeca abraçando Pedro.
Rebeca Só quero que esse pesadelo acabe logo.
Pedro Hoje esse pesadelo vai ter fim, Rebeca.
Rebeca Sinto que nunca vamos ter paz, sossego, pra sermos
felizes, Pedro.
Pedro Acredita em mim. Tudo vai terminar bem!
Rebeca Não quero nem pensar se ele tocar num fio do cabelo do
nosso Joaquim...
Pedro Se ele machucar nosso filho, eu sou capaz de matá-
lo com minhas próprias mãos. E que Deus me perdoe!
Cena 03/Hospital/Quarto/Int/Noite
Licurgo está na cama. Clóvis do seu lado.
Licurgo Então o senhor é irmão do padre Januário?
Clóvis E você é o menino que ele pegou pra cuidar e sempre
falava com tanto carinho? Que mundo pequeno, não?!
Licurgo O mundo é um ovo... (risos)
Clóvis Não acredito que nessa vida seja por acaso, meu
querido. Tudo tem um propósito. E com nosso encontro
não foi diferente.
Licurgo Por que o senhor nunca apareceu?
Clóvis Sempre fui um homem muito doente. E com a idade
meu estado só foi piorando. Além disso, eu moro na
Itália. Bem longe do Brasil.
Licurgo Onde fica o papa não é?
Clóvis É sim. E por esses fatores nunca consegui visitar meu
irmão com a frequência que desejava. Lamentei muito
sua morte. Mas nessa mesma época estava internado e
por pouco não fui junto com meu mano.
Licurgo Mas agora o senhor está bem, né?
Clóvis Não sou mais nenhum rapazinho, Licurgo. E sei que
meus dias aqui na Terra já estão no fim. (T) Sabe de
uma coisa. O que mais lamento e me entristece e não ter
conseguido passar mais tempo com meu irmão. Meu
único parente até então vivo. Se eu pudesse voltar
atrás...
Licurgo Uma vez padre Januário me falou um frase, que ele
disse ser de um homem muito bondoso, que agora está
no céu: “ninguém pode voltar atrás e fazer um novo
começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um
novo fim”.
Clóvis Chico Xavier. Foi ele quem disse essa frase.
Música: I look to you – Whitney Houston (acompanha cena 04, 05 e 06)
Cena 04/Jandaia/Praia/Ext/Noite
Rebeca, com um vestido branco, vem caminhando em direção ao mar,
segurando palmas brancas. Ela se aproxima da água e observa o mar.
Rebeca Iemanjá, Rainha do Mar... Estou aqui, de mãe pra mãe,
pra te pedir, com meu coração dilacerado: proteja meu
filho. Livre meu pequeno de qualquer maldade, que
aquele louco do Rufino possa vir a fazer contra ele. (T)
A senhora é mãe e entende todo meu sofrimento. Por
isso não permita que nada de ruim lhe acontece com
meu Joaquim e que ele volte pros meus braço, mãe
Iemanjá...
Rebeca joga as palmas no mar. Em seguida ajoelha, de frente pro mar, e
abre seus braços, fecha seus olhos em silêncio, de cabeça baixa. Passa uns
segundos e o mar começa a ficar iluminado. Um brilho que vem das
profundezas do mar e as palmas são sugadas pro interior das águas, com se
Iemanjá tivesse aceitado a oferenda. Instantes.
Cena 05/Casa Rufino/Oratório/Int/Noite
Eva, com terço nas mãos, e Pedro, estão ajoelhados de frente pro altar.
Dão-se às mãos e curvam suas cabeças diante das imagens de Nosso
Senhor e de Nossa Senhora.
Pedro Meu Pai e minha mãe santíssima. Proteja meu filho, que
foi um filho concebido em pecado, mas é fruto de um
amor puro e verdadeiro...
Pedro continua falando, sem áudio. Instantes.
Cena 06/Igreja Patrício/Int/Noite
Patrício e Lívia estão ajoelhados, no altar.
Patrício Obrigado por ter vindo.
Lívia Sempre que você precisar eu estarei do seu lado, meu
amor...
Patrício pega na mão de Lívia, que sorri. Os dois fecham os olhos. Patrício
começa a falar:
Patrício Senhor, meu Pai todo poderoso. Eu te peço: proteja a
vida do pequeno Joaquim. Não permita que nenhum mal
lhe seja feito. Me ajude a prender o Rufino e fazer com
que ele pague pelas maldades que fez. Pelas vidas que
matou, que prejudicou...
Patrício continua falando, sem áudio. Instantes.
Fusão para:
Cena 07/Casa Turíbio/Sala/Int/Noite
Turibio , Basileu, Tina .
Turíbio Estou esperando, Basileu. Pode abrir o bico e me contar
tudo o que se passou nessa casa, sem que eu me desse
conta.
Basileu Desde que eu cheguei em Jandaia, a Filipa vem dando
em cima de mim. No começo eu não percebi suas
verdadeira intenções. Mas aos poucos fui me dando
conta do seu real interesse em mim, já que ela foi
investindo cada vez mais.
Filipa É mentira, Turíbio. É tudo invenção desse louco!
Basileu Eu tentava evitar qualquer situação embaraçosa, mas
Filipa continua em cima e eu sempre afastando.
Tina É verdade, seu Turíbio. Quando eu vim visitar o Basileu
eu percebi como a Filipa ficava incomodada com minha
presença.
Filipa Não se intrometa, garota. Além do mais você não tem
moral nenhuma pra falar de mim.
Basileu Respeita a minha namorada e futura esposa, Filipa.
Filipa (debocha) É um trouxa mesmo. Foi traído, descobriu
tudo e mesmo assim aceita a traíra de volta e o filho que
teve com o amante...
Tina finge que não escuta e continua falando.
Tina Sou mulher e sei quando uma mulher deseja um homem.
É, sinto muito em falar, a Filipa não gosta do senhor.
Filipa (p/Turíbio) Você não vai acreditar numa invenção dessas, não é mesmo?
Turíbio, cabisbaixo, se aproxima de Filipa
Filipa Eu sou a sua .../
Antes que Filipa termine de falar, Turíbio a esbofeteia.
Turíbio (grita) Você não passa de uma grande vadia!
Filipa , com a mão no rosto, o olha assustada.
CENA 08. CASA DE ZINHA/QUARTO/NOITE.
ZINHA vai até o guarda roupas e pega sua caixa misteriosa.
Com a caixa nas mãos, caminha até a cama, se senta e abre a caixa. De dentro da caixa pega um sapatinho de bebê de crochê, azul. Ela beija o sapatinho.
ZINHA (olhos marejados) Não podia permitir que minha honra ficasse manchada em meio ao povo de Jandaia... Imagina só eu, uma mulher religiosa, com um filho nos braços, fruto de um caso com o prefeito da cidade... Rufino!
CORTA PARA
FIM DO CAPÍTULO 72
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