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ENTRE MÁSCARAS - Capítulo 4

 

ENTRE MÁSCARAS 

Capítulo 04 


CENA 1/ AGÊNCIA DE MODA/ CAMARIM/ MANHÃ/ INT. 

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Rodrigo e Diego se encaram e Rodrigo torna a repetir. 

RODRIGO — Você?

Antes que Diego fale, Léo intervém. 

LEONARDO — Vocês já se conhecem? 

DIEGO — Infelizmente. 

RODRIGO — Infelizmente, o nosso primeiro encontro não foi muito agradável, para ser bem generoso. 

DIEGO — Nesse ponto eu tenho que concordar com você que foi um encontro bem desagradável. Nem sempre dinheiro indica civilidade. Valores morais independem de poder aquisitivo. 

RODRIGO (Exaltado) — Você me agride com uma bolada e eu que não sou civilizado? Acho que é você que não tem a menor noção do que é civilidade. 

LEONARDO (Interrompe) — Do que é que vocês estão falando? Nós não podemos trazer problemas pessoais para o trabalho! (Exaltado). Vocês estão falando tanto de civilidade e o que menos vocês estão sendo é civilizados. 

RODRIGO (P/Leonardo)  — Tive o desprazer de conhecer esse rapaz na praia. Preferia que não tivesse acontecido nosso encontro naquela época e nem agora. 

LEONARDO (Respira fundo) — Realmente eu não esperava essa recepção! Achava que ia ser um encontro agradável, mas pelo visto… Quase que uma confraternização eu esperava!

Rodrigo e Diego ficam de costas um para o outro. 

LEONARDO — É impossível trabalharmos assim! Não estou lidando com nenhuma criança. Vocês são dois adultos, estudados, inteligentes. (sinaliza para que um fique de frente um para o outro). Vamos selar as pazes. (Coloca uma mão sobre o ombro de um e a outra mão sobre o ombro do outro). Vocês podem até não serem… não virarem amigos. Eu não quero e não posso convencer a vocês serem amigos, mas uma coisa vocês tem que serem: colegas! Somos uma equipe. 

RODRIGO (P/Leonardo) — Você está certo! Fui infantil. Não posso trazer problemas pessoais para a empresa. (Estende a mão para cumprimentar Diego). Colegas! 

DIEGO — Colegas!

LEONARDO (P/Diego e Rodrigo) — É assim que eu quero ver vocês! Nada de discussão mais. 

O restante da equipe entra no camarim com bolos e refrigerantes. 

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CENA 2/ APARTAMENTO DE ERIC/ COZINHA/ MANHÃ/ INT

Eric faz um drink na cozinha para ele e Mauro. 

ERIC — Como vão as coisas, meu amigo?

MAURO — Vão bem. A minha vida segue do mesmo jeito! Todo dia saio com uma mulher diferente. Não tenho nada para se preocupar. 

Eric anda pela cozinha, enquanto bebe o Whisky. 

ERIC — A minha vida está a mil maravilhas também. Estou armando um plano para subir na vida. 

MAURO — A sua diversão é fazer armações para subir na vida. Nunca consegue. 

ERIC — Mas dessa vez eu consegui descolar uma gostosona rica. A mulher tem tudo. Mora numa mansão, o pai é empresário… mas a garota é prostituta. (Ri). Dá para entender uma coisa dessas? Ela faz isso para depender do pai. Ingenua, ingenua… Ela tem praticamente uma mina de ouro em casa e não aproveita. Mas eu vou saber aproveitar cada momento e cada centavo daquela família. 

MAURO — O que você pretende fazer? 

ERIC — Você verá, meu amigo! Você verá! 

MAURO — Tô pagando para ver esse seu mais novo plano infalível!

Eles continuam a beber Whisky. 

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CENA 3/ MANSÃO MORAIS/ SALA DE ESTAR/ MANHÃ/ INT 

Trilha sonora: Ódio - Alberto Rosenblit



Glauco, enquanto está sentado no sofá, lê um livro. Neste instante, Aline entra. O silêncio, que já estava no ambiente, continua mediante a presença da filha de Glauco. Porém, é interrompida quando o patriarca da família a observa subir as escadas. 

GLAUCO — Achava que tinha esquecido que tinha família. (Levanta-se do sofá). Você some assim do nada e aparece como se tivesse na sua casa. (Observa a vestimenta da filha). E ainda está vestida feito uma vagabunda! (Se aproxima da filha, que continua parada diante da escala). Não é assim que uma moça de família se veste! 

ALINE — Eu sou uma mulher, me visto como eu quiser e entro na minha casa na hora que eu quero. 

GLAUCO — Você falou muitíssimo bem! Você entra na sua casa na hora que você quiser; não na minha. Enquanto eu estiver vivo, essa casa é minha e o que vale são as minhas regras. Se você quiser sair e chegar na hora e no dia que quiser, procure outro lugar.  

ALINE (Exaltada) — Tanto moralismo e conservadorismo para quê, né, pai? Para ir correr para os braços da amante quando a mamãe não lhe é suficiente? 

Glauco estende a mão para esbofetear a filha, mas ela impede segurando o braço do pai. 

GLAUCO — Queria tanto que as nossas conversas fossem agradáveis, mas é impossível!

ALINE (Exaltada) — É impossível porque eu não sou submissa como a mamãe. Eu sou a única mulher desta casa que tenho coragem de te enfrentar. 

Neste instante, Yolanda desce as escadas.

YOLANDA — A cada vez que vocês se cruzam é uma discussão! Essa casa não tem um minuto de paz. 

Enquanto Yolanda fala, Aline sobe para o quarto. 

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CENA 4/ MANSÃO VARELA/ QUARTO DE ÁGATA E VIRGÍLIO/ MANHÃ/ INT. 

Ágata, sentada na cama, faz massagem no marido, que quebra o silêncio. 

VIRGÍLIO — Essa tempestade que se instalou na nossa família está perto de acabar!

ÁGATA — Não estou entendendo, meu amor! 

VIRGÍLIO — Tudo que aconteceu com a nossa filha e nosso genro. Ontem eu fui conversar com ele. Perguntei como estava indo a recuperação e aproveitei para dar uma cutucada sobre o casamento. 

ÁGATA (Franze a testa) — Que casamento?

VIRGÍLIO — Da nossa filha, ué? 

ÁGATA — Eu nunca vi eles conversando sobre isso!

VIRGÍLIO — Mas eu tomei a iniciativa de começar com o assunto. Afinal, nós não somos imortais. As nossas filhas têm que ter o futuro garantido. Apesar de termos uma fortuna relativa, não podemos remediar com as nossas meninas. 

ÁGATA — Não sei porque você está pensando nisso agora. A gente vai viver tanto ainda. 

VIRGÍLIO — A gente não sabe o dia de amanhã!

ÁGATA — A gente já devia estar na escola. 

Eles se levantam. 

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CENA 5/ MANSÃO CAVALCANTE/ SALA DE ESTAR/ MANHÃ/ INT

Trilha sonora: One Step Closer - Linkin Park 



O som que sai do quarto de Arthur estremece a sala, Alberto entra na sala e põe as mãos nos ouvidos. 

ALBERTO — Essa barulheira de novo! Arthur não aprende. (Fica parado por um instante). É melhor eu ir embora, antes que me aborreça. O trabalho me espera!

A música se encerra por aqui. 

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CENA 6/ RIO DE JANEIRO/ RUAS DA CIDADE/ TARDE/ EXT. 

Trilha sonora: Samba do Avião - Tom Jobim 




Mostrar as ruas movimentadas. Vista aérea dos prédios. Meninos andando de bicicleta. Ruas movimentadas e engarrafadas. Pessoas indo para seus empregos. Vista aérea do Cristo Redentor. 

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CENA 7/ AGÊNCIA DE MODA/ ESTÚDIO/ TARDE/ INT

Rodrigo e outros modelos fazem uma sessão de fotos. Leonardo acompanha tudo e auxilia Diego nas fotos. Leonardo sinaliza o término da sessão de fotos. 

LEONARDO (P/Diego) — O seu trabalho hoje acaba por aqui! 

DIEGO (P/Leonardo) — Satisfeito!

LEONARDO (P/Diego) — Eu não sou o tipo de pessoa que confia muito fácil nas pessoas, mas você já ganhou minha confiança. 

Os outros modelos se despedem, mas Rodrigo se aproxima de Leonardo e Diego. 

DIEGO (P/ Rodrigo) — Gostou do meu trabalho. (Com a câmera fotográfica em mãos). Eu mostro as fotos para você!

Rodrigo vê as fotos tiradas por Diego. 

RODRIGO (P/ Diego) — Até que não ficaram ruins! Vou te dar um 7,5. Você tem ainda muito a melhorar!

Diego pega a máquina fotográfica, enquanto Rodrigo sai. 

LEONARDO (P/ Diego) — Esse aí não dá o braço a torcer! Pela expressão dele, vi que gostou do seu trabalho. É porque ele é muito orgulhoso. Não ia mudar assim com você de forma repentina depois da discussão que vocês tiveram mais cedo. (Muda de assunto). Aceitar lanchar comigo? 

DIEGO — Não, obrigado! Eu vou ter que resolver algumas coisas agora e não vou poder ir. Fica para a próxima!

Diego sai e Leonardo fica pensativo. 

Corta para:

CENA 8/ MORAIS FARMAUCÊTICA/ SALA DE GLAUCO/ TARDE/ INT. 

Glauco está sentado e lendo alguns papéis, no instante em que Aline entra. 

GLAUCO — Está aqui por que, minha filha? Nunca vi você tão interessada nos negócios da família. Você nunca se interessou por isso. 

ALINE (Irônica) — Mas agora estou interessada. Afinal, sou herdeira desse império. Tenho que me empenhar e me dedicar para assumir a empresa no futuro, não é, papai? 

GLAUCO — Que bom, minha filha! Mas sei muito bem que não foi por isso que você veio aqui. Certamente para bisbilhotar a minha vida, que é o que você faz de melhor. 

ALINE — Realmente o senhor continua o mesmo prepotente de sempre. Sempre autoritário e pensando o pior de mim. 

GLAUCO — Chame do que você quiser, mas você sabe que eu não disse nenhuma mentira, não é? Tenho certeza que veio aqui ver se tinha alguma mulher. Não tenho! Acabei tudo com aquela vigarista.

ALINE — Pai, penso as vezes que não gostas de mim. Sempre me censurando, me criticando…

Antes de concluir a frase até a porta para ir embora. 

GLAUCO — Se eu não te amasse, minha filha, não tinha impedido a sua mãe de fazer um aborto. Você sabia que Yolanda pensou em abortar quando estava grávida de você?

Aline paralisa ao ouvir o que seu pai disse.

ALINE — Como é?

GLAUCO — A sua querida mamãe, que você tanto se esforça em defender, quase te abortou!

Fusão para:

CENA 9/ MANSÃO MORAIS/ QUARTO DE YOLANDA E GLAUCO/ NOITE/ INT (FLASHBACK)

Trilha sonora: Mistérios - Alberto Rosenblit



Yolanda anda pelo quarto inquieta. Observa a sua barriga de 5 meses de gravidez. Glauco entra nesse instante. 

YOLANDA (Exaltada) — Maldita hora que fui engravidar!

GLAUCO — Você está descontrolada, Yolanda!

YOLANDA — Parece que você não me ama mais! Eu sei que é por conta da minha gravdez. Estou feia! Eu sei que você está achando isso de mim e com certeza vai me trocar por outra. 

GLAUCO (Exaltado) — Você não sabe o que está falando!

YOLANDA — Eu vou tirar essa criança! Sinto que ela vai acabar com o nosso casamento!

GLAUCO — Nem pense em fazer isso! (Exaltado). Eu entro com o pedido de divórcio se você fizer isso. 

Yolanda arregala os olhos, diante da fala de Glauco. 

fusão para:

CENA 10/ MORAIS FARMACÊUTICA/ SALA DE GLAUCO/ TARDE/ INT

Trilha sonora: A mesma música da cena anterior

Os olhos de Aline se enchem de lágrimas diante da revelação de Glauco. 

GLAUCO — Se não fosse por mim você nem estaria falando comigo aqui hoje. 

ALINE — Eu não imaginava que a mamãe fosse capaz disso. Mas isso não santifica o senhor. 

GLAUCO — Eu posso ser duro, exigente e chato as vezes. Mas tudo que eu fiz foi pelo seu bem. Ser pai é preparar os filhos para o mundo, minha filha. O mundo não é um mar de rosas. 

ALINE — Eu preciso clarear um pouco as ideias. 

Aline sai atordoada da sala. 

A música se encerra por aqui.

Corta para:

CENA 11/ RIO DE JANEIRO/ RUAS DA CIDADE/ NOITE/ EXT. 

Trilha sonora: 15 Step - Radiohead 



Mostrar as ruas da cidade tumultuadas. Ruas engarrafadas. Pessoas entrando em boates e restaurantes. 

Corta para:

CENA 12/ APARTAMENTO DE DIEGO E THALES/ SALA DE JANTAR/ NOITE/ INT. 

Trilha sonora: A mesma música da cena anterior. 

Thales está sentado à mesa, no instante em que Diego entra e se senta à mesa.

DIEGO — Desculpa a demora. Tive que pagar umas contas e aproveitei para andar um pouco na praia. 

THALES — Não precisa se explicar, meu amor! O que importa é que estamos juntos agora. 

A música se encerra por aqui. Diego está inquieto.

THALES — Como foi o primeiro dia no novo emprego? 

DIEGO — Um pouco estressante! Tive o desprazer de encontrar um mal-educado que me tratou mal uma vez na praia. Um arrogante, que desmereceu o meu trabalho só por orgulho. Acredita que ele é modelo na agência em que eu estou trabalhando?

THALES — Se ele fizer alguma coisa com você, vai se ver comigo. 

Eles continuam conversando.

Corta para:

CENA 13/ RIO DE JANEIRO/ PRAIA DE IPANEMA/ NOITE/ EXT. 

Trilha sonora: Radar - Alberto Rosenblit



Aline caminha descalça pela praia, levando as mãos à cabeça. 

GLAUCO (V.O.) — A sua querida mamãe, que você tanto se esforça em defender, quase te abortou!

Aline põe as mãos nos ouvidos. Lágrimas começam a cair de seus olhos. 

ALINE — Aborto? A mamãe não gosta de mim? Tanto fiz para defendê-la das garras do canalha do meu pai. 

Aline passa a mão pela areia da praia e chora.

Corta para: 

CENA 14/ MANSÃO MORAIS/ QUARTO DE GLAUCO E YOLANDA/ MADRUGADA/ INT. 

Glauco e Yolanda estão deitados na cama. Yolanda bebe um pouco de água que estava na banquinha do lado da cama. 

YOLANDA — Você hoje está tão inquieto, meu amor! 

GLAUCO — Nada não! (Resmunga). Não era para ter feito o que eu fiz!

YOLANDA (Mudando de assunto) — Eu estava vendo as coisas aqui em casa e as empregadas não estão dando conta. Precisamos contratar mais empregadas, uma governanta. Eu não estou dando conta também. 

GLAUCO — Podemos ver as contas e ver o que dá para fazer.

YOLANDA — Ótimo! Eu posso organizar uma seleção e escolher algumas empregadas. A gente poderia contratar um chofer também.

GLAUCO — Eu não entendo dessa parte. Posso ficar com a parte financeira, que eu entendo bem mais. 

YOLANDA (Mudando de assunto) — Eu sinto tanta falta de quando os nossos filhos ocupavam essa casa. Hoje em dia, cada um seguiu o seu destino. Somente o Marcos está aqui e porque está debilitado, senão estava com a namorada por aí afora. 

GLAUCO — Apesar de não ter seguido o destino que eu queria, a gente não pode deixar de reconhecer que os nossos filhos são adultos, embora não tenham um pingo de juízo. 

Eles continuam conversando. 

Corta para:

CENA 15/ APARTAMENTO DE RODRIGO/ QUARTO DE RODRIGO E SABRINA/ NOITE/ INT 

Rodrigo e Sabrina estão deitados na cama. Sabrina está quase dormindo quando percebe a inquietação de Rodrigo, que se vira de um lado para o outro na cama. Neste instante, Rodrigo pensa no momento em que reviu Diego. Insert Flash da cena 1 do capítulo 4: 

Rodrigo e Diego se encaram e Rodrigo torna a repetir. 

RODRIGO — Você?

Antes que Diego fale, Léo intervém. 

LEONARDO — Vocês já se conhecem? 

DIEGO — Infelizmente. 

RODRIGO — Infelizmente, o nosso primeiro encontro não foi muito agradável, para ser bem generoso. 

DIEGO — Nesse ponto eu tenho que concordar com você que foi um encontro bem desagradável. Nem sempre dinheiro indica civilidade. Valores morais independem de poder aquisitivo. 

RODRIGO (Exaltado) — Você me agride com uma bolada e eu que não sou civilizado? Acho que é você que não tem a menor noção do que é civilidade. 

LEONARDO (Interrompe) — Do que é que vocês estão falando? Nós não podemos trazer problemas pessoais para o trabalho! (Exaltado). Vocês estão falando tanto de civilidade e o que menos vocês estão sendo é civilizados. 

Fim do insert. 

Sabrina se levanta para beber um pouco de água. Antes de ir à cozinha, franze a testa, observando o noivo inquieto. 

SABRINA — Você chegou tão diferente hoje, meu amor! O que aconteceu? 

RODRIGO — Se lembra daquele rapaz que nos acertou com uma bola na praia? 

SABRINA — Lembro sim daquele mal-educado que se acha o dono da praia!

RODRIGO — Ele é o novo fotógrafo da agência para qual eu sou modelo!

SABRINA — Às vezes a vida nos prega essas peças. (Volta para a cama). Mas você está tenso por conta disso? 

RODRIGO — O pior é que ele tem muito talento! Fotografa muito bem. O meu orgulho me fez desmerecer o trabalho dele. 

SABRINA — Mas não precisa ficar assim por conta disso. Amanhã você pede desculpa por ele. 

RODRIGO — Você está certa!

Sabrina se deita perto de Rodrigo. 

Corta para:

CENA 16/ APARTAMENTO DE ERIC/ QUARTO.SALA/ MADRUGADA/ INT. 

Eric acorda com alguém tocando a campainha. Ele se levanta da cama e veste um roupão. Vai à SALA, onde a cena continua. A campainha continua tocando. Eric abre a porta e se depara com Aline aos prantos. Ela o abraça. 

ALINE — Embora eu saiba que você é um cafajeste, era a única pessoa a quem eu poderia recorrer. 

ERIC — Eu não estou entendendo! O que foi que houve?

ALINE — Tive uma grande decepção hoje, mas eu não quero falar sobre isso. Posso ficar aqui por alguns dias? Não tenho ânimo para ver ninguém da minha família nesse momento. 

ERIC — Claro que pode! Esse apartamento é seu também. Pode ficar aqui o tempo que quiser. 

Ele a leva ao sofá. 

ALINE — Agora, eu não vou querer largar os meus programas! Sabe que esse é o meu sustento. 

ERIC — Não se preocupe, meu amor! Posso sustentá-la muito bem. Eu não quero que você se venda como você faz todos os dias. Na verdade, nunca entendi como você, uma moça de família rica, faz isso, tendo tudo na vida. Tanta gente em situação péssima e não se sujeita a isso. 

ALINE — Eu tenho os meus motivos e você não tem nada a ver com isso. Mas não precisa se preocupar. Enquanto estiver aqui, não faço os meus programas. 

ERIC — Melhor assim! Até para sua segurança. 

Eles se beijam. 

Corta para:

CENA 17/ RIO DE JANEIRO/ RUAS DA CIDADE/ MANHÃ/ EXT. 

Trilha sonora: 15 step - Radiohead 



Letreiro: Algumas semanas depois…. 

Mostrar as ruas da cidade. Pessoas caminhando no calçadão de Ipanema. Motos e carros nas ruas engarrafadas. Trombadinhas fazendo arrastão na praia. Pontos turísticos da cidade, como o corcovado. 

Corta para:

CENA 18/ MANSÃO MORAIS/ SALA DE ESTAR/ MANHÃ/ INT. 

Trilha sonora: A mesma música da cena anterior. 

Glauco estava andando de um lado para o outro na sala, com a mesma preocupação de sempre com a empresa. Ele está à espera de Yolanda e olha constantemente para o relógio. Neste instante, o seu celular toca. 

GLAUCO — Alô? Será possível que você não me deixa sossegado um minuto. Quer que a minha mulher descubra tudo? Eu não vou te perdoar se isso acontecer. 

MARISA (off) — Eu estou com saudades, meu amor! Não pense que é fácil ficar longe de você e sei que eu sou a mulher que você ama. Podemos nos encontrar?

GLAUCO — Está bem! Mais tarde nos encontramos!

MARISA (off) — Eu não sei se vou aguentar de saudades!

Neste instante, Yolanda desce as escadas com uma forte dor de cabeça. Glauco encerra a ligação abruptamente. 

YOLANDA — Acho que não vai dar para ir à empresa hoje. Estou com uma forte dor de cabeça. 

GLAUCO — Não tem problemas! Você ultimamente não tem ido a empresa mesmo. Faltar hoje não seria um grande problema. 

YOLANDA — Eu sei que você dá conta de tudo com zelo e dedicação!

Yolanda sobe as escadas de volta ao quarto. 

GLAUCO — Ufa! (Retoma a ligação com Marisa). Podemos nos encontrar, mas não podemos demorar e ninguém pode nos ver juntos. 

MARISA (off) — Está bem, meu amor!

Glauco sai. 

Corta para:

CENA 19/ APARTAMENTO DE ERIC/ SALA DE ESTAR/ MANHÃ/ INT. EXT. 

Eric desliga a  televisão no instante em que Aline vem à sala. 

ERIC — Está belíssima! Vou te levar. 

ALINE — Vamos! 

ERIC — Vamos!

Eles saem. Eric fecha a porta do apartamento. Em seguida, eles descem. Eric vai pegar o carro no estacionamento, no instante em que Aline reconhece o carro do pai parando no sinal. 

ALINE — É o papai alí?

Ela observa que ele beija Marisa. 

ALINE — E continua a se encontrar com aquela vagabunda?

Aline fixa os olhos nos dois se agarrando no carro. 

Corta para:



CENA 20/ RUA DO APTO DE ERIC/ MANHÃ/ EXT 

Trilha sonora: Mistério - Alberto Rosenblit 





Aline atravessa a rua e vai na direção do carro do pai batendo palmas. 

ALINE (P/Glauco) — Parabéns, Papai! Quando vai ser o casamento? Ah, esqueci que o senhor já é casado. Tem que escolher: a mamãe ou essa vagabunda. 

Marisa tenta abrir a porta do carro, mas Glauco impede. 

MARISA (P/Glauco) — Eu não vou aturar essa sua filha mal-educada. 

ALINE (P/Glauco) — Diz a essa vagabunda, papai, que eu não estou falando com ela. 

Glauco estaciona o carro, sai do carro e segura a filha pelo braço. 

GLAUCO — Olha como você trata a… a…

ALINE — A sua amante? Diga! Era isso que você ia dizer, papai? Eu tenho pena das mulheres que cruzam o seu caminho. O único erro foi eu chamar as suas vítimas de vagabunda! Elas não passam disso: de vítimas, que caíram na sua sedução. 

Marisa sai do carro. 

ALINE (P/Marisa) — Está vendo, Marisa! Ele não te ama e nunca amou ninguém na vida dele. Nem mesmo os filhos ele ama. Nem mesmo consegue dizer seu nome em público, Marisa! O amor de vocês é fogo de palha. Logo, logo passa e você será trocada. 

Glauco solta o braço 

MARISA (P/Aline) — Você não sabe o que está falando! (Abraça Glauco). Ele é o amor da minha vida e eu sei que ele me ama também.

ALINE — A vontade é contar tudo para a mamãe. E eu acho que é isso que vou fazer. Ela não merece sofrer. 

GLAUCO — Você não pode fazer isso. Eu não vou deixar. 

Neste instante, Eric dirigindo seu carro se aproxima de onde Glauco, Aline e Marisa estão. Ele sai do carro e beija Aline. Glauco e Marisa presenciam tudo. 

ERIC — Vamos, meu amor! Desistiu de sair comigo? 

ALINE — Estou resolvendo os problemas da minha família. 

Eric cumprimenta Glauco e Marisa. 

ALINE (Aponta para Glauco e Marisa) — Esse é o meu pai e essa é… é….

MARISA (P/Eric) — Sou uma amiga da família. 

ALINE — É… A Marisa é uma amiga da família. (Mudando de assunto). Vamos, meu amor! (sussurra no ouvido de Glauco). Não pense que eu esqueci daquele assunto papai. Mais cedo ou mais tarde a mamãe vai ficar sabendo. 

Glauco sente um frio na barriga diante da fala da filha, mas se controla e declina do desejo de estapeá-la. Marisa sinaliza para que Glauco entre no carro. Aline e Eric entram no carro e Eric acelera. Glauco entra em seu carro e sinaliza para Marisa entrar e também acelera. 

A música se encerra por aqui.

Corta para:

CENA 21/ MANSÃO VARELA/ QUARTO DE ANA CLARA/ MANHÃ/ INT 

Ana Clara escreve no seu caderno as ideias que vem à sua mente criativa.

ANA CLARA — “Madalena”. Esse será o título da minha peça. Os meus amigos da escola precisam ler e eu quero encenar. 

Neste instante Ágata entra no quarto. Ana Clara continua a escrever. 

ÁGATA — Minha filha, você está escrevendo. Daqui a pouco, temos escola. (abraça a filha). Admiro muito o seu sonho de ser dramaturga, escritora. Você tem a imaginação fertil e está na idade própria para isso. O seu pai é um pouco conservador e não vê muito futuro nisso, mas eu vejo que você tem um futuro brilhante. (Pega o caderno). Posso ler?

Ana Clara acena com a cabeça que sim. 

ÁGATA — “As flores belas do jardim da casa dos Oliveiras foram entregues por Henrique a Madalena na sacada do hotel onde eles sempre se encontravam”. Nossa, que incrível! Não tinha dúvidas que você era talentosa! Isso seria incrível se fosse encenado na escola no final de ano. 

ANA CLARA — É o que eu quero e essa é a minha primeira oportunidade para uma carreira de sucesso! 

Ágata dá um beijo na cabeça da filha. 

Corta para:

CENA 22/ CARRO DE GLAUCO/ TARDE/ INT 

Glauco e Marisa se beijam. 

MARISA — Agora diz que me ama!

Glauco hesita em falar e Marisa percebe. 

MARISA — Não vai falar, meu amor? Não me ama? 

GLAUCO — Por que isso agora? (Passa os dedos das mãos nos lábios de Marisa). Você sabe que eu te amo!

MARISA — E promete que me amaria e beijaria até se eu tivesse uma doença contagiosa? Promete?

GLAUCO — Que conversa mais mórbida, meu amor! O que está acontecendo?

MARISA — Só insegurança! Às vezes eu acho que você não me ama como diz. Sei lá… Talvez eu não te conheça de verdade. 

GLAUCO — Impressão sua, meu amor! (Beija Marisa na boca). Eu te amo como nunca amei ninguém na minha vida. (Mudando de assunto). Vou naquele posto colocar mais combustível! Vou aproveitar e comprar uma água. 

Glauco para no posto, acena para que o frentista coloque o combustível e sai por alguns instantes. Marisa, sem nada para fazer, decide abrir o porta-objetos por curiosidade e se depara com um revólver. O frentista termina de abastecer o carro. Glauco volta do banheiro e paga o frentista. Em seguida, o patriarca da família Morais entra no carro e se surpreende com o seu revólver nas mãos de Marisa. 

Trilha sonora: Radar - Alberto Rosenblit

MARISA (Assustada) — O que significa esse revólver nas suas coisas? 

GLAUCO — Por que mexeu nas minhas coisas? 

MARISA — Abri sem querer. 

Glauco acelera um pouco e vai a uma rua silenciosa e sem movimento de carros. 

GLAUCO — Pronto! Aqui nesse local mais discreto podemos conversar com mais tranquilidade. Não vamos descer do carro. (pega o revólver das mãos de Marisa, que está trêmula) A conversa vai ser aqui mesmo. (Aponta a arma na cabeça de Marisa, que fecha os olhos, trêmulas). 

MARISA — O que é isso, meu amor? Não faz isso! Pelo amor de Deus, não faz isso!

Glauco aperta o gatilho e a arma não dispara. Em seguida, ele ri debochando da situação. 

GLAUCO — Pode ficar tranquila, meu amor! (Coloca a arma no porta-objetos). Pelo menos, por enquanto. Eu fiz isso para você ver que eu visto várias máscaras. Essa que eu estou vestindo agora é a pior! Você está se esforçando para que eu mostre a minha pior versão. Não queira conhecer a minha pior máscara, meu amor! (Acelera o carro). Agora vamos! Vou te deixar em casa porque eu não quero mais ver essa sua cara imunda por hoje. 

Corta para:

CENA 23/ MANSÃO MORAIS/ SALA DE ESTAR/ TARDE/ INT.

Yolanda desce as escadas com fortes dores de cabeça. Neste instante, Aline entra nervosa como nunca. A mãe estranha a atitude da filha. 

YOLANDA — Minha filha, você por aqui assim de repente. Que dizer… essa casa anda ultimamente tão estranha. (P/Si) Mal vejo os meus filhos. 

ALINE — Estou aqui, mamãe, porque eu queria falar com a senhora. É…

Neste instante, Glauco entra e interrompe a filha. 

GLAUCO (P/Yolanda) — Eu contei para ela tudo, minha querida! (Despistando o que Aline ia contar). Da burrice que você queria cometer. 

YOLANDA (P/Glauco) — Do que você está falando, meu amor?

GLAUCO (P/Yolanda) — Do aborto que eu impedi que você fizesse!

YOLANDA (P/Glauco) — Como pode ter coragem de dizer isso?

ALINE (Exaltada) — Então é verdade, mãe? Você queria me abortar? 

Yolanda respira fundo. 

YOLANDA — É verdade! Eu quase te abortei, minha filha! Foi um erro. Mas eu tive um motivo. 

Fusão para:

CENA 24/ MANSÃO MORAIS/ QUARTO DO GLAUCO E YOLANDA/ NOITE/ INT (FLASHBACK)

Yolanda chora enrolada em lençóis, enquanto Glauco arruma as malas para ir a uma viagem. Ele retira as roupas do guarda-roupa e põe nas malas, enquanto ignora os choros de Yolanda.

YOLANDA (V.O.) — Era uma noite fria e chuvosa. Glauco se preparava para mais uma viagem. Ele não costumava viajar muito. A negócios não. Sempre resolvia as coisas aqui de casa mesmo. Recordo-me que na minha primeira gravidez, a do Rodrigo, ele havia agido da mesma forma. Ele sempre muito vaidoso, reclamava da minha aparência. Acho até que tinha razão. Eu reconheço que era um pouco desleixada. 

O silêncio que estava instalado no quarto é cessado pela fala de Yolanda. 

YOLANDA — Vai viajar, meu querido?

GLAUCO — Você sabe que sim, minha querida!

Yolanda se levanta um pouco fraca e fica de frente ao marido. 

YOLANDA — Está voltando tudo de novo! Não adianta esconder. Eu cheirei suas roupas e senti um cheiro que não é seu. 

Glauco beija a testa de Yolanda. 

GLAUCO — Você não sabe o que está falando. 

Yolanda vai ao espelho e se olha. Alisa sua barriga. 

YOLANDA — Eu sei que estou feia com essa barriga enorme. Não posso satisfazer os seus desejos, enquanto estiver assim. Estou quase que inválida. (Grita). Melhor seria acabar com essa gravidez infeliz. 

GLAUCO — Não ouse fazer nada! (Estapeia Yolanda). Você pode até acabar com a sua vida, mas com a minha filha não!

YOLANDA (V.O.) — Foi o único tapa que seu pai deu em mim em toda a vida. Eu mereci, para tirar essas bobagens da minha cabeça. 

Fusão para:

CENA 25/ MANSÃO MORAIS/ SALA DE ESTAR/ TARDE/ INT. 

Os olhos de Aline se enchem de lágrimas, diante da revelação de Yolanda. 

ALINE — Estou horrorizada com tudo que eu escutei aqui. Pelo visto, não posso confiar em ninguém, nem nos meus próprios familiares. (Grita). Eu odeio vocês!

Aline sai atordoada da casa, levando as mãos ao rosto e chorando compulsivamente. Yolanda fica frente a frente com Glauco. 

YOLANDA — Você não tinha o direito de ter me feito passar por todo esse constrangimento. 

GLAUCO (Exaltado) — Eu estou farto dessa menina! Só me recebe com quatro pedras na mão. Não consegui me segurar. Além do mais, foi melhor ela ter descoberto. 

YOLANDA — Não sei com que cara eu vou olhar para minha filha agora. (Leva as mãos à cabeça). Estou com uma forte dor de cabeça!

GLAUCO — Eu vou para empresa. Tem muita coisa para resolver. 

Yolanda sobe as escadas. 

Corta para:

CENA 26/ APARTAMENTO DE MARISA/ SALA DE ESTAR/ TARDE/ INT. 

Marisa trêmula desde o instante em que entrou no apartamento. Ivone tenta acalmá-la 

IVONE — Eu não estou entendendo você, minha amiga! Você entrou apavorada, trêmula. Parece que viu uma assombração!

MARISA — Aquele homem consegue ser pior do que eu imaginava. Eu descobri que ele anda com um revólver no carro. Nunca achei ele uma pessoa confiável, mas ele mostrou uma face dele que eu não conhecia. Ele chegou a apontar uma arma na minha cabeça. (Leva as mãos ao rosto e chora). Que pesadelo! Eu não tinha medo dele, mas confesso que agora eu tenho. Não sei do que aquele homem é capaz. 

IVONE — Você não pode mais se encontrar com esse homem. 

MARISA — Eu vou conseguir neutralizar o poder daquele homem. 

Marisa abraça a amiga. 

Corta para:

CENA 27/ MORAIS FARMACÊUTICA/ SALA DE GLAUCO/ TARDE/ INT. 

A secretária entra com uma bandeja de café e serve Glauco e Alberto. 

GLAUCO — É de grande satisfação receber você hoje aqui. Estava realmente precisando falar com você. A minha vida está um inferno. A Marisa descobriu que eu ando armado, tive que contar a Aline que a Yolanda quase a abortou e ainda fiquei mal com as duas. A minha relação com meus filhos nunca foi das melhores e com a Aline é que é pior mesmo. 

ALBERTO — Uma coisa tenho que admirar na Aline. Ela tem pulso firme. (Mudando de assunto). Mas falando em relação a Marisa,eu avisei a você que ela é perigosa. 

GLAUCO — Já revelei a ela a minha face mais oculta. (Anda pela sala). Acho que vou seguir o seu conselho e vou dar um fim nisso. 

ALBERTO — Amante é sempre um perigo. Muitas são interesseiras. (Bebe um pouco de café). Você tem que executar rapidamente um plano de dar um fim nessa mulher. 

GLAUCO — Acho que depois de hoje ela não vai querer me enfrentar, mas de qualquer forma é melhor evitar um estrago. Vou entrar em contato com os meus capangas e instruí-los a executar o meu plano. Já sei como vou fazer. 

ALBERTO — Se precisar de minha ajuda, pode contar comigo. 

GLAUCO — Não será necessário, meu amigo. Já fez mais que o suficiente em ter me dado esses toques!

Eles continuam conversando. 

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CENA 28/ APARTAMENTO DE RODRIGO/ SALA DE ESTAR/ TARDE/ INT. 

Rodrigo está sentado no sofá e a campainha toca. Ele vai até a porta e abre, se deparando com Aline aos prantos. Ela entra e abraça o irmão. 

RODRIGO — O que foi que houve, minha irmã? 

Aline se senta no sofá.

ALINE — Uma coisa terrível!

RODRIGO — Eu nunca vi você assim. Está à beira de um ataque de nervos. És sempre uma menina tão forte. 

ALINE — Descobri algo assustador sobre mim e eu vim até você porque é o meu irmão mais velho. 

Sabrina, que está no apartamento, leva um copo de água para a cunhada. 

SABRINA (P/Aline) — Beba essa água. Vai te fazer sentir melhor. 

Aline bebe a água. 

ALINE — Eu descobri que a mamãe quis me abortar. Você sabia disso? Eu custei a acreditar e cheguei a suspeitar que o papai estivesse mentindo, mas a mamãe me confirmou tudo hoje.

RODRIGO — Assim, eu era muito pequeno. Eles nunca viveram um casamento feliz. Sempre mostraram um casamento feliz e que nunca existiu. Até para mim eles mostravam um casamento feliz, mas eu sentia que ali não existia felicidade. Cheguei a escutar alguns gritos de mamãe em algumas noites. Mas eu nunca cheguei a suspeitar que a mamãe teria cogitado abortar. 

ALINE — A vaidade fez com que a mamãe cogitasse essa possibilidade. 

RODRIGO — A insegurança faz a gente cometer ou cogitar cometer coisas terríveis. 

ALINE — Eu estou sem chão!

RODRIGO — Acho que tem alguma coisa a mais nessa história e que a gente não sabe. Não acho que a vaidade foi motivo suficiente para ela tentar fazer isso. Mas não sei. 

ALINE — A vontade é sumir no mundo e nunca mais aparecer. Só confio em você e no Marcos. Eu sei que é só com vocês que eu posso contar. 

RODRIGO — Se você quiser passar o resto do dia e até dormir aqui pode dormir. 

ALINE — Agradeço a preocupação, mas eu estou morando com meu namorado. Estou mais calma e já vou.

SABRINA — Estou impressionada com tudo isso. 

Rodrigo abraça a irmã e se despede dela, que sai em seguida. 

Corta para:

CENA 29/ RIO DE JANEIRO/ RUAS DA CIDADE/ NOITE/ EXT. 

Trilha sonora: Sleep - Allen Stone



Mostrar as ruas da cidade movimentadas. Carros passando por toda cidade. Pessoas entrando nas boates. Bares e restaurantes lotados. Motociclistas passando pela cidade. Cristo Redentor. 

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CENA 30/ MANSÃO MORAIS/ QUARTO DE GLAUCO E YOLANDA/ NOITE/ INT. 

Trilha sonora: A mesma música da cena anterior

Yolanda está sentada no chão encostada na porta aos prantos. 

YOLANDA — Eles nunca saberão a verdade! Nunca!

Ela se levanta e vai ao guarda-roupas. Retira um baú, que estava coberto pelas roupas. Abre o baú com a chave que ela sempre leva consigo e retira de dentro do baú um diário. 

A música se encerra por aqui.

YOLANDA — Aqui está guardado o meu segredo e vai ficar aqui. 

Neste instante, a empregada entra no quarto e vê a patroa com o diário em mãos. 

YOLANDA (P/Maria) — Maria, pegue um balde de metal vazio! Deve estar no banheiro ou na área de serviço. Você sabe qual é. Traga também um vidro de álcool. Se não tiver, pegue qualquer bebida alcoólica. Tem o mesmo efeito! Ah, e aproveite e traga uma caixa de fósforos.

MARIA — Eu vou fazer isso. 

Enquanto a empregada vai na área de serviço pegar o balde e o álcool, Yolanda folheia o diário. 

YOLANDA — Chegou a hora de me despedir desse livrinho que por anos escrevi. O meu passado vai ficar apenas nas minhas lembranças!

Neste instante, Maria entra no quarto com o balde, o álcool e a caixa de fósforos. Entrega tudo a Yolanda. Maria torna a olhar fixamente para a patroa sem saber o que ele faria com tudo aquilo. 

YOLANDA — O que está olhando, Maria? Saia, saia! Não preciso mais da sua ajuda. Já fez o que eu pedi. 

Trilha sonora: Ódio - Alberto Rosenblit



Maria sai assustada. Yolanda coloca o diário no balde de metal. Derrama todo o álcool no recipiente e risca um fósforo. Ela olha para aquela chama flamejante. Em seguida, joga no balde. O diário começa a ser consumido pela chama e aos poucos as folhas e a capa de couro se desfazem em cinza. 

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CENA 31/ RESTAURANTE/ NOITE/ INT./EXT.  

Leonardo, Rodrigo, Diego e os demais modelos brindam para mais uma conquista. 

LEONARDO — Vamos desfilar em Barcelona! Um dos grandes passos que nós damos. 

DIEGO (P/Rodrigo) — Eu já viajei para vários países. O último desfile que eu fotografei foi em Paris. Posso te mostrar. As fotos estão no meu carro. 

RODRIGO (P/Diego) — Fiz mau juízo do seus valores, Diego! Peço perdão por isso. É um grande mal meu e que pode me trazer problemas futuros. Eu te julguei por conta de uma bolada inocente. 

O garçom serve os convidados. Enquanto Leonardo conversa com os outros modelos, Rodrigo e Diego saem e vão ao estacionamento, onde a cena continua. Eles se encostam 

RODRIGO — É um sonho ir para Barcelona. 

DIEGO — Eu já viajei para alguns países, mas para Espanha será a primeira vez. 

RODRIGO — Durante todo esse tempo que eu sou modelo já viajei para vários países também. Me admira muito não termos nos conhecido antes. 

DIEGO — Eu também não sei como não nos conhecemos antes. 

RODRIGO — Infelizmente, no mundo eu sou praticamente sozinho. Só eu e minha noiva. Os meus pais não me apoiam. Principalmente meu pai. Os meus irmãos me apoiam, mas cada um tem sua vida. 

DIEGO — Desde cedo eu saí de casa. Meus pais nunca apoiaram minhas escolhas, nem minha sexualidade. 

RODRIGO — Você é gay?

DIEGO — Eu tenho um namorado. (Abre um sorriso). Ele é o que me motiva a viver. (Mudando de assunto). Você disse que está noivando. Quando vai ser o casamento?

RODRIGO — Brevemente!

DIEGO — Você realmente a ama? Não senti tanto entusiasmo quando você falou dela. 

RODRIGO (Nervoso) — Claro que eu a amo. 

Neste instante, Diego abre a porta do carro, pega um envelope e entrega para Rodrigo. 

DIEGO — Essas são as fotos de todos os desfiles que eu fotografei na minha vida. Pode ficar com você. Eu tenho salvo no meu computador e também tenho os negativos.

Rodrigo abre o envelope e vê as fotos. 

RODRIGO — Desde que vi você fotografando a primeira vez, percebi que você tinha muito talento para a coisa. Não quis dizer logo porque estava chateado com aquela discussão. 

DIEGO (Rindo) — A gente agindo como crianças! 

RODRIGO — Ainda bem que não estamos de mal um com o outro. 

Eles se abraçam. 

RODRIGO — Há tempos eu não tinha uma conversa tão boa com uma pessoa. 

DIEGO — Essa conversa me fez também.

RODRIGO — A gente podia conversar mais vezes. Amigos?

DIEGO — Amigos!

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CENA 32/ RIO DE JANEIRO/ RUAS DA CIDADE/ NOITE/ EXT. 

Trilha sonora: One Step Closer - Linkin Park



Letreiro: Três dias depois

Vista aérea do Cristo Redentor e das praias de Ipanema e Copacabana. Mostrar as avenidas iluminadas pelos faróis dos carros. Pessoas andando no calçadão de Ipanema. 

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CENA 33/ BAR/ NOITE/ INT. 

Eric e Mauro bebem Whisky enquanto conversam. 

MAURO — E como vai com a tal mulher que você está namorando?

ERIC — A cada dia ela está mais envolvida. Ela está carente porque descobriu que a mãe quase a abortou. A relação com o pai era ruim e agora com a mãe. 

MAURO — Eu estou até ansioso para conhecer essa sua namorada!

ERIC — Eu vou apresentá-la a você. Inclusive, acho que você já deve ter visto. Ela é bem discreta, mas já deve ter saído em alguma coluna social. Aline Morais, filha de Glauco e Yolanda Morais. 

MAURO — Peraí? Você não está me dizendo que está namorando a herdeira da Farmacêutica Morais?

Mauro fica pensativo. 

Corta para:

CENA 34/ APARTAMENTO DE ERIC/ SALA DE ESTAR.QUARTO DE ERIC/ NOITE/ INT. 

Aline está sentada em frente à TV assistindo o jornal.

ALINE — Eu não vou ficar aqui parada sem fazer nada. 

Vai ao quarto, onde a cena continua. Ela se olha no espelho, ajeita a roupa e se perfuma um pouco. Em seguida, ela volta para sala, pega sua bolsa e sai, trancando a porta e colocando a chave entre os seios. 

Corta para:

CENA 35/ BAR/ NOITE/ INT.EXT.

Eric e Mauro continuam a beber. Eric percebe que o amigo está em silêncio desde que Eric falou da família Morais. 

ERIC — Um gato engoliu sua língua, Mauro?  

MAURO — A Aline é filha de Glauco! A Aline é filha de Glauco!

ERIC — Você conhece o Glauco?

MAURO — Não, não! Foi só um delírio meu. 

Neste instante, Eric observa um carro passando na rua e vê que Aline está dentro dele. 

ERIC — É Aline ali no carro? É ela mesmo. 

MAURO — Não sei! Nem está dando para ver direito. 

ERIC — É ela sim! (Se levanta). Vamos! Vamos! Nós temos que seguir essa vagabunda. Mas acho até que sei para onde ela vai. Eu te passo o endereço de onde fica o local que ela vai.

Eles saem do bar e entram no carro de Mauro, que acelera. 

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CENA 36/ MOTEL/ QUARTO DE ALINE/ NOITE/ INT. 

Aline entra com Ivan no quarto. 

ALINE — Hoje vamos ter uma noite inesquecível! Estava numa monotonia. 

IVAN — Vou satisfazer todas as suas vontades e você as minhas. 

Ivan se deita na cama e acena para que Aline se dispa. Aline vai tirando suas roupas. Neste instante, ela escuta uma batida na porta. Ela se cobre com o lençol e vai à porta. Abre e se depara com Eric. A imagem congela e é coberta por uma máscara. 











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