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Entre Laços Quebrados - Capítulo 14

 

 



ENTRE LAÇOS QUEBRADOS | CAPÍTULO 14

Criada e escrita por: Vicente de Abreu
Produção Artística: Ezel Lemos

Essa obra pode conter representações negativas e estereótipos da época em que é ambientada.

_______________________________________________________________



CENA 01:  QUARTO ESCURO. INT. NOITE

Otto permanece amarrado à cadeira, a respiração irregular denota sua ansiedade crescente. O homem se move ao redor da sala, revelando mais detalhes sombrios à medida que fala.

HOMEM: (com um sorriso sinistro) Você realmente achou que poderia escapar, não é, Otto?

Otto aperta os punhos, sua expressão uma mistura de determinação e temor.]

OTTO: (com voz firme) Eu não devo mais nada à família Rossi. Acertei minhas contas.

O homem se aproxima de Otto, encarando-o com olhos penetrantes.

HOMEM: (com um tom sombrio) Mas você esqueceu de uma coisa, Otto. Uma dívida pendente que não pode ser simplesmente ignorada.

Otto engole em seco, sentindo o peso das palavras do homem.


CONTINUAÇÃO: 

CENA 02: INT. CASARÃO DE LEONA- NOITE

Rubi, está sentada à mesa da cozinha, concentrada em limpar os machucados de Tigre.

Tigre está tenso, seu rosto ainda mostra os vestígios da briga na boate, mas ele tenta disfarçar a dor enquanto Rubi cuida dele.


RUBI: Você não precisava fazer isso, sabe?

TIGRE: (sussurrando) Eu não podia deixar eles te tratarem daquela maneira.

Rubi sorri, tocada pela sinceridade dele. Ela aplica delicadamente um curativo no rosto de Tigre.

RUBI: Você é tão corajoso, Tigre. Mais do que pensa que é.

Tigre olha para ela, seus olhos revelando uma mistura de gratidão e vulnerabilidade.

TIGRE: Eu só não, (pausa) suporto ver alguém te machucar. Você é especial demais, Rubi.

Rubi segura o olhar dele por um momento, seus corações se conectando em silêncio.

RUBI: (afetuosamente) Você também é especial, Tigre. E eu nunca vou esquecer o que fez por mim hoje à noite.

Tigre sorri timidamente, um calor reconfortante preenchendo seu peito ao ouvir suas palavras.

TIGRE: (vulnerável) Eu faria qualquer coisa por você, Rubi. Eu... Eu me importo muito.

Rubi coloca a mão suavemente no rosto de Tigre, transmitindo todo o carinho que sente por ele.

RUBI: E eu me importo muito com você também, irmãozinho. 


CENA 03: INT. MANSÃO ROSSI. SALA DE ESTAR. NOITE


Hilda, está sentada em uma poltrona de veludo, olhando para o nada com uma expressão perturbada. Ela se levanta abruptamente, agitada pela angústia que a consome, e começa a andar de um lado para o outro na luxuosa sala de estar da mansão.


HILDA:(murmurando para si mesma) O que está acontecendo comigo?

Hilda vai até uma mesa de mogno e pega um par de luvas de seda negra. Ela as desliza cuidadosamente pelas mãos, como se estivesse se preparando para algo importante. Antes que Hilda possa sair, Stenio, seu marido, entra na sala. Ele a encara com uma expressão séria.

STENIO: Onde você pensa que vai, Hilda?


Hilda se vira para encará-lo, seus olhos revelando determinação misturada com uma pitada de nervosismo.


HILDA: Não é da sua conta, Stenio.


Stenio avança alguns passos em direção a ela, sua postura autoritária preenchendo o espaço entre eles.


STENIO: Não é da minha conta? Você está saindo desta casa a essa hora da noite, claramente perturbada, e espera que eu simplesmente aceite isso?


Hilda mantém sua compostura, segurando o olhar firme de Stenio.


HILDA: Eu preciso de um tempo sozinha, Stenio. Eu preciso... resolver algumas coisas.


Stenio franze o cenho, claramente desconfiado.


STENIO: Resolver o quê, exatamente?


Hilda hesita por um momento, lutando internamente com a decisão de revelar seu segredo.


HILDA: Coisas pessoais. Não posso explicar agora.

Antes que Stenio possa contestar, Hilda vira as costas e começa a se dirigir para a porta. Stenio assiste, frustrado, enquanto ela se afasta.

STENIO: Hilda, volte aqui! Não podemos deixar as coisas assim.


Mas Hilda não se volta. Ela sai pela porta da mansão, deixando Stenio para trás, com suas perguntas não respondidas e uma sensação de inquietação pairando no ar.



CENA 04: INT. QUARTO DE HOTEL - NOITE

[ TRILHA ON: A Viagem | Trilha Instrumental | Dreams Tensa]

Hilda entra no quarto de hotel, olhando ao redor, sua expressão tensa e preocupada. Ela fecha a porta atrás de si e hesita por um momento, como se sentisse a presença de algo errado no ar.

HILDA: Otto? Otto, filho você está aqui?

Seus olhos percorrem o espaço, notando a desordem que contrasta com a usual arrumação de seu filho.

Ela segue até a cama, empurrando o cobertor. Nada. Seu coração começa a bater mais rápido.

HILDA: (mais alto) Otto!

Um som abafado vem do canto do quarto. Hilda vira a cabeça na direção do ruído, seu rosto empalidecendo.

HILDA: Otto...?

Ela corre para o canto, onde encontra Otto, amarrado em uma cadeira. Seus olhos se arregalam em choque, seu corpo tenso de pavor.

HILDA: (gritando) Quem fez isso com você, meu filho?

Uma figura emerge das sombras, revelando-se um homem, ex-amante de Hilda e pai de Otto. Seus olhos estão cheios de raiva contida, seu rosto uma máscara de determinação sombria.

ARNALDO (MARCELLO NOVAES): Surpresa, Hilda.

Hilda recua instintivamente, seus olhos alternando entre Otto e Arnaldo.

HILDA: Arnaldo... O que você fez com o nosso filho?

ARNALDO: O que eu fiz? Eu só estou fazendo o que você deveria ter feito há muito tempo

Ele se move para perto de Hilda, seu olhar fixo nela com intensidade.

Hilda olha para Otto, seus olhos úmidos de lágrimas.

HILDA: Por favor, Arnaldo... solte-o. O seu problema é comigo!


** INÍCIO FLASHBACK **

CENA 05: INT. CASA ABANDONADA - NOITE

Hilda ( com 40 anos), uma mulher determinada com olhos astutos, e Arnaldo (início  dos 30s), um homem de semblante sério, estão sentados em uma mesa desgastada, contando grandes montantes de dinheiro em notas. Eles estão em um quarto mal iluminado, cheio de caixas de papelão empilhadas e uma única lâmpada oscilante pendurada no teto. O ar está tenso, mas uma onda de excitação permeia o ambiente.


HILDA: (sorrindo) Incrível, não é? Nunca pensei que ganharíamos tanto em uma semana.

ARNALDO: (assentindo) Sim, conseguimos dar um golpe e tanto naqueles merdas!

Hilda pega um punhado de notas e as passa pelos dedos, observando o dinheiro como se fosse a chave para todos os sonhos que compartilham.

HILDA: Isso é só o começo, Arnaldo. Com o que temos aqui, podemos começar uma vida completamente nova. Longe de tudo isso.

Arnaldo olha para ela com um misto de admiração e amor.


ARNALDO: (sorrindo) Você sabe que eu te seguiria até o fim do mundo, Hilda.

Corta para:

*CENA 06: INT. APARTAMENTO SIMPLES - MANHÃ*

A cena abre com Hilda colocando cuidadosamente pilhas de dinheiro em uma mala velha. Ela está vestida com roupas simples, mas sua expressão é tensa, os olhos focados em seu objetivo. Uma barriga de mulher grávida é perceptível. Arnaldo está dormindo em uma cama desarrumada ao fundo, alheio à atividade de Hilda.

Hilda fecha a mala com um suspiro pesado, olhando em volta para o modesto apartamento que compartilharam por tanto tempo. Ela respira fundo, toma uma última olhada em Arnaldo e, com determinação, sai sorrateiramente do quarto.


**INT. APARTAMENTO SIMPLES - CONTINUAÇÃO. MOMENTOS DEPOIS.**

Arnaldo acorda abruptamente, seu olhar se movendo rapidamente pela sala deserta. Ele percebe a mala aberta e vazia no chão e, imediatamente, entra em pânico.


ARNALDO: (gritando) Hilda? Hilda!

Ele corre para a porta, mas já sabe que é tarde demais. Hilda se foi, levando consigo não apenas o dinheiro, mas também seus sonhos compartilhados de uma nova vida. Arnaldo fica parado no centro do apartamento vazio, a realidade de sua traição dolorosamente clara.


*FIM DO FLASHBACK*

FADE OUT.


CENA 07: QUARTO DE HOTEL. INT.

Arnaldo, permanece com os olhos vidrados e uma expressão de fúria contida, confronta Hilda, que está pálida e tensa.


ARNALDO: (Sussurrando, mas com uma intensidade assustadora) Você acha que pode simplesmente roubar de mim e sair impune, Hilda? Acha que não saberia o que fez?


HILDA: (Ela olha para ele com medo, mas tenta manter a compostura) Arnaldo, eu... eu fiz o que precisei fazer. Não havia outra escolha.


Arnaldo se aproxima lentamente, sua presença preenchendo o espaço entre eles com uma tensão palpável.


ARNALDO: (Suas palavras saem como um sibilo, em gritos) Você tirou tudo de mim. Minha confiança. Meu dinheiro. Minha dignidade. Mas há algo que pode devolver. 

Hilda começa a tremer, compreendendo a gravidade da situação.


HILDA: (A voz trêmula) Arnaldo, por favor, não...

ARNALDO: (Sua voz sobe em um rosnado frio) É a única maneira, Hilda. Você vai pagar por suas ações.


Ele se aproxima ainda mais, uma sombra escura pairando sobre ela.


ARNALDO: (Os olhos faiscam com malícia) Nosso filhinho, não é o que disse? Ele é a compensação pelo que você fez. Ele vai pagar o preço.


Hilda sente uma onda de desespero, mas então algo dentro dela se endurece.


HILDA:(Não sem medo, mas com determinação) Não! Não vou deixar você tocar nele.


Arnaldo sorri, um sorriso sinistro que envia calafrios pela espinha de Hilda.


ARNALDO: (Com um ar de triunfo) Então, você finalmente encontrou sua coragem. Muito bem, Hilda! Se é assim que quer ser lembrada, então que assim seja.


Ele se move em direção a Otto, mas Hilda o intercepta, colocando-se entre Arnaldo e seu filho.

HILDA: (Ela respira fundo, enfrentando-o com firmeza) Vou me sacrificar por ele. Mas você promete que não vai machucá-lo.


Arnaldo considera a proposta por um momento, avaliando suas opções.


ARNALDO: (Aceitando, mas com uma ressalva) Muito bem, Hilda. Você tem coragem. Eu gosto disso. Você pode ficar com ele, desde que me permita ficar perto de você. 


Hilda olha para ele, uma mistura de alívio e repulsa em seu olhar.


HILDA: Você tem uma audácia impressionante em sequer pensar que seria bem-vindo aqui, Arnaldo. 

ARNALDO: Eu nunca fui de recuar diante de um desafio, Hilda. Nem mesmo quando você se tornou um.  Você pode tentar me derrubar, Hilda. Mas lembre-se de que sou igualmente capaz de derrubá-la.

HILDA: Está bem! Ofereço-lhe uma oportunidade, mas não em minha casa. Prove seu valor em outro lugar. Talvez, no hospital de minha família. Mas saiba que meu convite não vem sem vigilância. E me jure que ficará longe do meu menino. 


Arnaldo assente, satisfeito com o acordo, enquanto Hilda se vira para Otto, segurando-o firmemente em seus braços, prometendo protegê-lo a qualquer custo.


ALGUMAS SEMANAS DEPOIS


CENA 07:  BUFFET DE LUXO. INT. NOITE.

Hilda e Stenio posam ao lado de seus filhos, Dante e Guilherme, e da nora Heloísa. Eles estão em frente a uma mesa de exposição com diversos itens que serão leiloados. Hilda sorri para a câmera, radiante.

HILDA: (orgulhosa) Que dia especial, não é mesmo, querido?

STENIO: (sorrindo) Sim, querida. É gratificante ver tantas pessoas reunidas para ajudar o hospital.

DANTE: (entusiasmado) Mal posso esperar para ver o que será leiloado hoje.


A câmera se move para Arnaldo, que está aproveitando o buffet da festa. Ele segura uma taça de champanhe enquanto conversa com outros convidados.

HILDA: Preciso ir até o banheiro, logo começaremos. Com licença!

Hilda se retira, deixando sua família ali.


CENA 08: INT. BANHEIRO PRIVADO PARA HILDA. INT.

O ambiente é luxuoso e impecavelmente decorado. O som abafado da movimentação do leilão beneficente ecoa pelas paredes. O espelho iluminado reflete a figura de Hilda, retocando sua maquiagem com precisão cirúrgica.

Hilda observa atentamente sua imagem refletida quando a porta do banheiro se abre, revelando Arnaldo. Ele entra com um sorriso confiante, confiante de que pode reconquistar seu lugar ao lado dela.


ARNALDO: (sorrindo) Estava com saudades dos seus encantos.

Hilda se vira abruptamente, seu rosto endurecido com desdém.

HILDA: (olhando-o friamente) Arnaldo, o que você está fazendo aqui? Eu já te disse para se manter afastado de mim.


Arnaldo avança, tentando envolvê-la com carinho, mas Hilda se afasta, mantendo uma distância firme.

ARNALDO: (insistente) Eu sei que podemos superar isso, Hilda. Nossa conexão é forte demais para ser ignorada.


Hilda ergue uma sobrancelha, seu olhar cortante perfurando Arnaldo.

Arnaldo tenta se aproximar novamente, mas Hilda o interrompe com um gesto de mão.

HILDA: (com voz gélida) Você é apenas um funcionário agora, Arnaldo. Se quer continuar a trabalhar para mim, sugiro que respeite os limites que estabeleci.

Arnaldo se enche de raiva, seus olhos faiscando com intensidade.

ARNALDO: (furioso) Você vai se arrepender disso, Hilda. Eu não vou desistir tão facilmente.

Hilda mantém sua postura inabalável, um sorriso irônico dançando em seus lábios.

HILDA: (com calma) Veremos, Arnaldo. Mas por agora, sugiro que volte para onde pertence. O leilão está começando.

Arnaldo lança um último olhar de desafio antes de sair do banheiro, deixando Hilda sozinha com sua determinação inabalável.


CENA 09: SALÃO DO BUFFET. INT. 

Otávio e Rubi, entram de mãos dadas no salão. Os convidados olham com surpresa e murmuram entre si enquanto eles se aproximam.

CONVIDADO 1: (sussurrando) Você viu quem está com o Otávio?

CONVIDADO 2: (surpreso) O que é aquilo? É um travesti?

CONVIDADO 3: (com desconforto) Que escândalo trazê-la aqui.

Otávio e Rubi se aproximam. 

OTÁVIO: (orgulhoso) Pessoal, quero apresentar alguém muito especial para mim. Esta é Rubi.

Os olhares curiosos se transformam em murmúrios, e Hilda, ao notar que Rubi é trans, fica visivelmente desconfortável.

HILDA: (forçando um sorriso) Oh, é um prazer conhecer você, Rubi. Não sabia Otávio, que a sua esposa, e mãe do seus filhos, era isso! 

RUBI mantém um sorriso gentil, apesar do clima tenso.

RUBI: (educadamente) O prazer é todo meu, Hilda.

Otávio e Rubi seguem para uma mesa próxima e se sentam. Pouco depois, Dante se aproxima, demonstrando gentileza.

DANTE: (amigável) Olá, Rubi. Me desculpe pelo clima tenso ali atrás. Minha mãe pode ser um pouco... antiquada às vezes.

Rubi sorri, tocada pela gentileza de Dante.

RUBI: (sincera) Não se preocupe, bebê. Está tudo bem. Agradeço suas palavras.


HORAS DEPOIS. 


CENA 10: BUFFET. PISTA DE DANÇA. 

[TRILHA SONORA: Running Up That Hill (A Deal With God) (2018 Remaster)

Rubi e Otávio dançam coladinhos no meio da pista de dança, envolvendo o salão em uma atmosfera carregada de paixão.


RUBI: (sorrindo sedutoramente) Você está se divertindo, Otávio?

OTÁVIO: (distraído, olhando ao redor com paranoia) Ah, sim... claro.


Rubi percebe a inquietação de Otávio e franze o cenho, seguindo seu olhar. Ela nota que algumas pessoas estão observando-os, mas isso não parece incomodá-la. Ela se vira para Otávio, preocupada.


RUBI: (com um tom de desafio) O que há de errado, Otávio?


OTÁVIO: (nervoso, com a respiração acelerada) Nada, nada... só estou olhando as pessoas ao nosso redor.


Rubi percebe a tensão em Otávio e decide investigar, aproximando-se dele.


RUBI: (com uma voz sedutora) Você não parece bem. O que está acontecendo?


Otávio olha fixamente para Rubi, mas por um instante, sua mente distorcida vê Débora, sua esposa, no lugar dela. Ele pisca rapidamente, chocado com a visão.


OTÁVIO: (perturbado, com os olhos arregalados) Débora?


Rubi percebe a mudança súbita na expressão de Otávio e recua, perplexa.


RUBI: (confusa) Otávio, o que foi?


Otávio pisca várias vezes, tentando se orientar na realidade. Ele olha para Rubi, mas agora a vê claramente como ela é, não mais confundindo-a com sua esposa.


OTÁVIO: (abalado, com a voz trêmula) Desculpe, Rubi... Eu pensei que... não importa.


Rubi olha para Otávio, sentindo uma mistura de compaixão e preocupação.


RUBI: (gentilmente) Otávio, você está bem? Se quiser conversar sobre isso...


Otávio respira fundo, tentando controlar sua mente conturbada. Ele força um sorriso para Rubi, tentando esconder sua agonia.


OTÁVIO: (com um sorriso forçado) Estou bem, Rubi. Vamos continuar dançando.

A música continua a tocar, mas agora há uma tensão palpável entre Rubi e Otávio, enquanto eles tentam voltar ao clima romântico, apesar dos pensamentos insanos que perturbaram o momento, a cera se afasta lentamente focando em cada personagem em cena. 



MESES DEPOIS….

[TRILHA CONT.]

Seis meses depois, Arnaldo está confiante no hospital, enquanto Guilherme e Heloísa curtem a gravidez. Hilda presenteia Otto com um novo apartamento, mas Iná sofre em solidão. Luciana celebra seu chá de bebê com Serginho e Marlene, em meio a risadas e presentes.


CENA 11: INT. QUARTO DE LUCIANA - DIA

Luciana grávida de seis meses, está sentada na beira da cama, concentrada em arrumar uma pequena mala. Ela dobra cuidadosamente algumas roupas enquanto olha pela janela, perdida em seus pensamentos.

Lá fora, a luz do sol ilumina delicadamente o quarto, destacando o brilho em seus olhos marejados. Um leve vento balança as cortinas, criando sombras dançantes no ambiente.

Um envelope lacrado repousa sobre a cama, endereçado a Otto.

LUCIANA: (para si mesma) Vai ficar tudo bem. Vou encontrar forças.

Ela passa a mão pela barriga, num gesto afetuoso, como se buscasse conforto na vida que cresce dentro dela. 

Luciana fecha a mala com cuidado e pega o envelope, segurando-o por um momento, hesitante. Ela respira fundo e, com determinação, coloca-o dentro da bolsa.


CENA 12: INT. SALA DE ESPERA DO CONSULTÓRIO - DIA

Heloísa e Guilherme aguardam ansiosos na sala de espera. Heloísa está inquieta, enquanto Guilherme tenta manter a calma, mas não consegue esconder a ansiedade em seu rosto.

A porta se abre e Dr. Raul, entra na sala. Ele parece desconfortável enquanto segura o prontuário de Heloísa.

DR RAUL. (entra na sala, sério) Bom dia, Heloísa, Guilherme.

HELOÍSA: (ansiosa) Doutor, já podemos fazer a ultrassom?

DR. RAUL: (sério) Sim, vamos começar.

Heloísa se levanta, nervosa, e segue o médico em direção à sala de exames. Guilherme a segue de perto, segurando sua mão com firmeza.

CORTA PARA:

CENA 13: INT. SALA DE EXAMES - DIA

Heloísa está deitada na maca enquanto o médico realiza a ultrassonografia. Guilherme está ao seu lado, segurando sua mão com carinho.

DR. RAUL: (sério) Bom, agora vamos conferir o sexo do bebê.

Dr. Raul manipula os controles da máquina de ultrassom e a imagem do feto aparece na tela. Heloísa prende a respiração, enquanto Guilherme mal consegue conter a emoção.

DR. RAUL: (sorrindo) Parabéns, é um menino.

Heloísa solta um suspiro de alívio e Guilherme não consegue conter a felicidade, seus olhos se enchem de lágrimas.

GUILHERME: (emocionado) Um menino! Nosso filho!

Heloísa sorri, emocionada, e os dois se abraçam com ternura, compartilhando aquele momento único de felicidade.

CENA 13: NT. BOATE NA LAPA - DIA


Leona, uma mulher determinada e elegante, sorri enquanto assina o contrato de aluguel da boate, rodeada por advogados e empresários. Ela fecha o negócio com um movimento decidido, marcando o início de sua nova empreitada.


CENA 14: INT. BOATE NA LAPA - DIAS DEPOIS


A boate está cheia de vida com o som de martelos e risadas ecoando pelas paredes. Leona, Rubi e Tigre estão imersos em sua visão, pintando, decorando e ajustando cada detalhe para a inauguração.

RUBI: (empolgada) Não posso acreditar que finalmente estamos fazendo isso! A Boate do Leão vai ser um sucesso!


TIGRE: (rindo) Sim, vai ser épico! Olha só esse palco, vai abalar as estruturas da Lapa!


LEONA: (sorrindo) Estamos todos trabalhando tão duro. Mal posso esperar para ver isso tudo pronto.


Rubi sorri, mas depois parece pensativa.


RUBI: Sabe, Leona, eu estava pensando... na inauguração, eu gostaria de trazer alguém especial.


Leona e Tigre trocam olhares intrigados.


LEONA: (curiosa) Um… Quem seria?


RUBI: (com um sorriso tímido) Otávio. Eu pensei que seria uma ótima oportunidade para apresentá-lo a todos vocês.


Leona e Tigre trocam um olhar cúmplice enquanto um sorriso se espalha pelo rosto de Leona.


LEONA: (com carinho) Claro, Rubi. Será um prazer tê-lo conosco.


Eles continuam trabalhando, enquanto a câmera se afasta lentamente.



CENA 15: SALA DE REUNIÕES DO HOSPITAL VITAL ROSSI. INT. DIA

A sala de reuniões é espaçosa e bem iluminada, com uma longa mesa de conferência centralizada. Quadros com diplomas e certificações adornam as paredes, enquanto um grande quadro branco ao fundo mostra gráficos e dados de desempenho. No centro da mesa, há uma garrafa de champanhe e algumas taças, indicando uma celebração em andamento.

Hilda está de pé no lado oposto da mesa, enquanto Stenio, Otávio e Arnaldo estão sentados ao redor da mesa. Há uma atmosfera de excitação no ar, enquanto todos aguardam a notícia de Hilda.

HILDA: (sorrindo) Bom dia a todos. Como vocês sabem, estamos passando por um período de mudanças e crescimento aqui no Hospital Vital Rossi. E hoje, estou muito feliz em anunciar uma promoção muito merecida.

Os olhares de curiosidade se voltam para Arnaldo, que observa com um misto de ansiedade e esperança.

HILDA: Arnaldo, você tem sido um membro inestimável de nossa equipe, sempre demonstrando dedicação, comprometimento e habilidades excepcionais de liderança.

Arnaldo parece surpreso, seus olhos se arregalam ligeiramente enquanto ele absorve as palavras de Hilda.

HILDA: É com grande prazer que anuncio que você foi escolhido para ocupar o cargo de Supervisor de Plantões. Parabéns, Arnaldo!

Os colegas de Arnaldo aplaudem, enquanto ele se levanta, emocionado. Hilda pega a garrafa de champanhe e começa a abrir.

HILDA: E para celebrar esta conquista e dar as boas-vindas ao Arnaldo em sua nova função, proponho um brinde.

Cada um dos presentes pega uma taça e Hilda serve champanhe em cada uma delas.

HILDA: Um brinde ao Arnaldo, nosso novo Supervisor de Plantões. Que sua jornada seja repleta de sucesso e realização.

TODOS: (levantando as taças) Ao Arnaldo!


CENA 16: PENSÃO DE INÁ. BÚZIOS.

Marlene, com olhos marejados e mãos trêmulas, bate à porta da pensão de Iná. O som ecoa no corredor vazio, onde apenas o chiar da madeira envelhecida responde ao seu chamado. A porta se abre lentamente, revelando Iná, uma mulher de semblante endurecido pelo tempo e pelas amarguras da vida. Seus olhos, frios e distantes, encontram os de Marlene com desdém.

MARLENE: (ofegante) Iná... preciso falar com você.

INÁ: (erguendo uma sobrancelha) O que quer aqui, Marlene? Não temos assuntos pendentes.

Marlene engole em seco, lutando para manter a compostura diante da hostilidade de Iná.

MARLENE: É sobre Luciana. Ela está planejando ir para o Rio atrás de Otto.

INÁ: (sarcástica) Ah, finalmente descobriu? Essa garota nunca soube se manter longe de problemas.

Marlene avança alguns passos, desespero estampado em seu rosto enrugado.

MARLENE: Você não entende? Ela vai se machucar! Otto a abandonou grávida, Iná! E agora ela está disposta a reviver toda aquela dor, todo aquele sofrimento.

INÁ: (com desprezo) Luciana não é minha responsabilidade. Ela nunca foi.

MARLENE: (com voz trêmula) Mas ela é sua filha, Iná! Sua própria filha! Como pode simplesmente ignorar isso?

INÁ: (cruel) Filha? Você está enganada, Marlene. Eu nunca tive filhos. E mesmo que tivesse, não seriam nada além de peso morto para mim.

As palavras de Iná atingem Marlene como um soco no estômago, deixando-a sem ar. Lágrimas escorrem por seu rosto enrugado enquanto ela luta para compreender a crueldade da mulher à sua frente.

MARLENE: (entre soluços) Como pode ser tão... tão desumana? Luciana precisa de você, Iná. Ela precisa saber que tem uma mãe, alguém que a proteja, que a ame.

INÁ: (com um riso amargo) Amor? Isso é para os fracos, Marlene. Eu aprendi há muito tempo que o único que importa é a si mesmo. E se Luciana quer seguir os passos de Otto, que siga. Não é problema meu. Agora saia da minha pensão!

Marlene se afasta, derrotada, enquanto Iná fecha a porta com força, isolando-se mais uma vez em sua própria frieza.


CENA 17: CIDADE DE BÚZIOS. ANOITECER. 

Na rodoviária de Búzios, o sol se põe, pintando o céu de cinza em meio as nuvens do dia nublado, enquanto viajantes chegam e partem, envoltos na magia do crepúsculo. As luzes da cidade começam a brilhar timidamente, anunciando o início da noite. É um momento de contemplação, onde o mar reflete os últimos raios de sol e a cidade se prepara para ganhar vida sob o manto estrelado.


CENA 18: INT. RODOVIÁRIA - NOITE .

Serginho, e Marlene acompanham Luciana, enquanto ela aguarda seu ônibus. Luciana está inquieta, suas mãos tremem levemente enquanto segura sua bolsa. Serginho tenta convencê-la a desistir dessa jornada dolorosa, mas Luciana permanece firme em sua decisão.

SERGINHO: (com voz embargada) Luci, por favor, não faça isso. Ele não merece que você vá atrás dele.

LUCIANA: (com olhos marejados) Eu preciso, Serginho. Preciso encarar isso de frente. Não posso fugir mais.

Marlene segura a mão de Luciana com carinho, sua expressão transbordando de preocupação e compaixão.

MARLENE: (com voz suave) Nós estaremos aqui por você, não importa o que aconteça. Não precisa fazer isso sozinha.

Nesse momento, uma VOZ anuncia pelo sistema de som a partida do ônibus de Luciana.

VOZ: (através do alto-falante) Embarque para o destino final: São Paulo. Embarque para o destino final: São Paulo.

O coração de Serginho aperta enquanto ele percebe que o momento da despedida está chegando.

SERGINHO: (com os olhos marejados) O ônibus está partindo, Luci.

Luciana abraça Serginho e Marlene com força, sentindo o calor reconfortante de sua amizade.

LUCIANA: (com voz trêmula) Obrigada por tudo. Por estarem ao meu lado mesmo quando eu não mereço.

Luciana entra no ônibus, uma mão acariciando sua barriga enquanto a outra se agarra à alça da bolsa. Ela olha através da janela, vendo Serginho e Marlene ainda parados no mesmo lugar, seus rostos expressando uma mistura de tristeza e esperança.

O ônibus parte lentamente, deixando para trás Serginho e Marlene, que permanecem ali, observando até que o veículo se torne apenas um ponto distante no horizonte.

CENA 19 : EXT. ESTRADA. NOITE

[ TRILHA ON: Dezembros- Fagner ]


As luzes da estrada se refletiam nas gotas de chuva que caíam incessantemente, criando um véu prateado sobre o asfalto molhado. A noite era tão escura que mal se podia distinguir os contornos das árvores que se alinhavam ao longo da estrada. O som dos pneus do ônibus cortava o silêncio, ecoando pela paisagem sombria.

Dentro do ônibus, os passageiros estavam inquietos. Alguns cochilavam e Luciana olhava fixamente para fora da janela, perdida em seus pensamentos. O motorista, com as mãos firmes no volante, mantinha-se concentrado apesar das adversidades climáticas.

De repente, uma curva íngreme se aproximava, mal iluminada pela fraca luz dos faróis. O motorista sentiu seu coração acelerar quando avistou um carro de passeio vindo na direção oposta, ocupando parte da pista. Com um instinto rápido, ele girou o volante para desviar do carro, mas a pista escorregadia não estava a seu favor.

O ônibus deslizou perigosamente, derrapando pela estrada molhada antes de finalmente perder o controle. Os passageiros gritavam em pânico enquanto o ônibus girava descontroladamente, seus pneus perdendo aderência com o asfalto.

Com um estrondo ensurdecedor, o ônibus capotou, lançando os passageiros de um lado para o outro como bonecos de pano. O som do metal retorcido ecoava pela noite enquanto o veículo girava, deixando uma trilha de destroços na estrada.

Finalmente, o ônibus parou, deitado de lado na beira da estrada. O silêncio que se seguiu era quase palpável, interrompido apenas pelo som da chuva continuando a cair implacavelmente. Dentro do ônibus agora silencioso, os passageiros começaram a se recuperar do choque, lentamente percebendo o que acabara de acontecer.


{ Um close é dado no rosto de Luciana desacordada }

FIM DO CAPÍTULO








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