WEB-NOVELA
CAPÍTULO #007
ESCRITA POR:
WANDERSON ALBUQUERQUE
CENA 01. EMPRESA. INT. DIA.
Victoria caminha pelo corredor da empresa. Ela bate na porta de uma sala que tem o número 051. Ivan abre e se surpreende ao vê-la.
IVAN (SURPRESO) – Victoria?
VICTORIA – Bom, vai ficar só me
olhando e não vai me convidar para entrar?
IVAN – Claro, desculpe.
Ivan abre a porta totalmente para Victoria que entende como uma
permissão para entrar. Ela vai até uma cadeira de madeira em frente a mesa de
Ivan. Ele senta-se em sua cadeira.
IVAN – Não estava esperando a sua
visita. Aconteceu alguma coisa com a Alice?
VICTORIA – Ainda não, mas precisava
vir até aqui para falar umas coisas com você
IVAN – Então, você já deve estar
sabendo do término do casamento, não é? Até tentei fazer com que ela não
terminasse, mas infelizmente ela estava irredutível.
VICTORIA – Eu sei, Ivan. Todo esse
seu blá, blá, blá, já estou ciente. Não precisa ser tão prolixo. O que eu tenho
para falar com você é simples e objetivo. A Alice está grávida e quer fazer um
aborto.
Ivan sente o impacto da notícia e engole em seco. Ele levanta-se
e leva a mão até a cabeça.
IVAN – Então é por isso que ela
quis terminar?
VICTORIA – Na verdade, ela quis
terminar, porque não está mais apaixonada por você, isso realmente não mudou. O
que estou querendo dizer é que já que você é o pai, deveria ficar sabendo
disso.
IVAN – Mas agora tudo faz sentido.
Como ela pode ser tão fria a ponto de fazer isso?
VICTORIA – Minha opinião sobre
aborto é direta. Sou totalmente a favor em diversos casos, mas não concordo com
a minha sobrinha fazer um sem o consentimento do pai.
IVAN – Ela não pode fazer isso
comigo. Eu sou o pai e mereço saber disso, independente de qualquer coisa,
Victoria. Sua sobrinha não tem esse direito.
VICTORIA (LEVANTA-SE) – Bom, já fiz
o papel de enviada do diabo, então preciso ir. Ah... Não ouse contar para ela
que foi eu quem disse sobre a gravidez.
IVAN – Não se preocupe, Victoria.
Victoria dá um sorriso forçado e sai da sala de Ivan. Ela coloca
seus óculos escuro no rosto. Aqui vemos o corredor e as pernas dela em um salto
alto preto.
CENA 02. PREFEITURA. SALA. INT. DIA.
O Prefeito Lopes está pensativo. Ele balança a perna em um ritmo
acelerado. Taís adentra o local.
TAÍS – Desculpa, prefeito. O Senhor
pediu para que eu viesse mais cedo, só consegui sair agora do almoxarifado.
PREF. LOPES – Claro, sem problemas.
Feche a porta.
Taís assente e fecha a porta. Ela vai em direção ao prefeito que
está inquieto e ela percebe.
TAÍS – Está acontecendo alguma
coisa, prefeito?
PREF. LOPES – Tenho que afastar o
secretário de segurança.
TAÍS (SURPRESA) – Mas por qual
motivo, prefeito?
O prefeito abre a terceira gaveta da sua mesa e entrega uma
pasta para Taís que começa a olhar.
TAÍS – O que é isso? Ainda não estou entendendo.
PREF. LOPES – Esses são alguns
crimes sem resoluções, principalmente nas operações policiais. Hoje pela manhã,
recebi a denúncia formalizada do ministério público sobre a chacina do
desalento. Em todas as páginas, o secretário diz que foi legitima defesa, mas
não há a menor possibilidade disso ter acontecido. Recebemos uma denúncia pela
ouvidoria de que um policial teria matado um morador que estava apenas
passando.
TAÍS (SURPRESA) – E o que o senhor
quer fazer? Realmente quer exonerar o atual secretário?
PREF. LOPES – Se eu não fizer isso,
estarei sendo conivente com tudo que está acontecendo. Não posso deixar a
milicia ser mais esperta que eu.
TAÍS – Espera, o senhor está
pensando em...
PREF. LOPES – Sim, eu vou colocar
um policial no comando da secretaria, somente para ver como tudo irá proceder.
TAÍS – Tem algum nome em mente?
PREF. LOPES – Sim. Já tenho sim
Taís observa o prefeito que está com um olhar sério.
CENA 03. COMPLEXO DO DESALENTO. CASA. INT.
Dandara desliga o telefone dá um grito. Açucena aparece correndo
na sala enxugando as mãos com o pano de prato.
AÇUCENA – Mas o que foi isso,
Dandara? O que aconteceu?
DANDARA – A senhora sabe quem é o
Henrique, né? Aquele meu amigo que é policial.
AÇUCENA (AGONIADA) – Sei, menina.
Conta logo.
DANDARA (EUFÓRICA) – Então, ele me
ligou e disse que o Jaguar e o Hércules foram transferidos para um presídio.
Mas o melhor não é isso, é que ele me garantiu que eles estão indo para uma
penitenciária em Campo Grande no Mato Grosso do Sul de segurança máxima.
AÇÚCENA (GRITA) – Que ótima
notícia, minha filha. Não acredito que vamos ficar livres deles. Um pouco de
paz nessa comunidade!
DANDARA – Sim! Mas precisamos
lembrar que os traficantes são somente um dos que mandam por aqui. Tá cheio de
policial subindo e descendo esse morro para ganhar dinheiro.
AÇUCENA – E você não tem nada a ver
com isso. Prefiro ter um traficante como inimigo do que um miliciano.
DANDARA (SUSSURRA) – É, mas vou
pegar todos eles.
O Olhar de Dandara está profundo. Sua expressão é séria. Ela
observa a rua através da janela.
CENA 04. COMPLEXO DO DESALENTO. IGREJA EVANGÉLICA.
EXT. DIA.
Dois carros da polícia militar estão em frente a Igreja. Alguns
policiais saem de dentro do ambiente com computadores e diversas malas que
contém dinheiro. Pessoas olham ao redor curiosas. Geane e Solange se aproximam.
SOLANGE – Quem diria que o pastor seria um tremendo safado, né? Fazendo lavagem de dinheiro dentro da casa de Deus.
GEANE – E esse povo sabe por acaso o que é representar Deus? Eles querem é ficar cada vez mais ricos, mas que bom que descobriram esse esquema, já estava na hora.
SOLANGE – Você acha que eles vão ficar presos?
GEANE – Acho muito difícil. Esse dinheiro não é dele e sabemos muito bem de quem é, mas cala-te boca. Mas que passe muito tempo longe da comunidade.
Neste momento, vemos o Pastor de terno e gravata saindo
algemado. Uma policial mulher, abre o porta-malas da viatura e o coloca dentro.
Ela fecha com muita intensidade.
CENA 05. DELEGACIA. SALA. INT. DIA.
Miguel arruma a sua mesa, quando Capitão Vasconcelos bate a
porta e entra. Ele cumprimenta o delegado que faz um gesto para ele se sentar.
MIGUEL – Capitão Vasconcelos,
primeiramente é uma honra tê-lo aqui, obviamente não é nas melhores das
situações, mas é um prazer conhece-lo.
CAP. VASCONCELOS – Muito obrigado.
MIGUEL – Bom, primeiro eu gostaria
que o senhor relatasse tudo que aconteceu naquela noite no Desalento. Lembrando
que isso aqui não é um depoimento, apenas uma conversa mais formal. Caso seja
necessário, chamarei o senhor novamente para prestar um depoimento.
CAP. VASCONCELOS (RI) – Você não
precisa me ensinar algo que eu já estou familiarizado. O que quer saber?
MIGUEL – Quero saber tudo, afinal,
não é comum o BOPE e a Policia Militar estarem no mesmo local, só se for uma
operação que demande as duas divisões.
CAP. VASCONCELOS – Naquela noite,
tivemos uma operação comum, só íamos ver uma boca de fumo e pronto. Achamos a
boca de fumo, mas depois ficamos sabendo que a Policia Militar estava
precisando de reforços. Chegamos lá e os ajudamos, já que estavam completamente
acuados.
MIGUEL – Eu tenho aqui dois nomes:
José Sandrino da Rocha, mais conhecido como Jaguar e Adriano Silveira, mais
conhecido como Hércules que foram presos por populares. Eles são considerados
os chefes do Desalento. Você se recorda deles?
Miguel entrega duas fotos e o Capitão Vasconcelos com cautela
observa.
CAP. VASCONCELOS – Eu vi os dois,
trocamos tiros, mas eles conseguiram fugir pela laje. Já tínhamos muitas baixas
e não poderíamos ir atrás.
MIGUEL – Compreendo. Mas o que não
entra na minha cabeça, capitão é como tivemos tantas baixas de inocentes, mas
de traficantes somente quatro, ou quer colocar todas as vinte pessoas mortas
como traficantes?
CAP. VASCONCELOS – Em nenhum
momento eu disse isso. Minha equipe estava comigo e seguindo minhas ordens, em
nenhum momento matamos inocentes, já não posso dizer o mesmo da sua equipe.
Miguel olha o Capitão Vasconcelos.
CAP. VASCONCELOS – Bom, se não
tiver mais nada para perguntar, preciso ir.
MIGUEL – Fique à vontade.
Capitão Vasconcelos sorri e sai. Miguel fica pensativo.
CENA 06. COMPLEXO DO DESALENTO. BECOS. EXT. DIA.
Há pouca luz. As sombras tomam conta do beco, já que a claridade
do dia não consegue chegar até determinados pontos. Milton desce algumas
escadas. Ele observa um homem fumando um cigarro de maconha.
MILTON – Fala, meu bom. Preciso de
uma informaçãozinha e que se tu colaborar, vai ganhar muito com isso.
HOMEM – Pode falar, chefe. Se
estiver ao meu alcance, te ajudo sem problemas, tá ligado?!
MILTON (TIRA UMA FOTO DO BOLSO) –
Você conhece esse aqui? Soube que ele tem uma boca por aqui.
HOMEM (TREME) – Conheço sim, chefe.
Mas não posso falar nada não. Se eu falar, morro. Essas paredes aqui tem
escuta, tá ligado? Todo mundo aqui tem uma história ou algo pra contar. Um
parceiro meu morreu depois de terem cortado a língua dele. Foi X-9. Quero essa
fama pra mim não.
MILTON – Garanto que pra tu é mais
vantajoso ser meu aliado do que meu inimigo.
HOMEM – Com todo respeito, prefiro
ver o satanás do que falar o nome desse cara aí, tá ligado?
MILTON (BALANÇA A CABEÇA
NEGATIVAMNTE) – Pode pelo menos me dizer quem pode saber do paradeiro dele?
HOMEM – Uma dica, chefe: Ele gosta
de frequentar a barbearia do Zilu, lá do outro lado.
Milton assente. Ele dá uma nota de R$100,00 ao homem que
agradece.
CENA 07. COMPLEXO DO DESALENTO. CENTRO ESPIRITA.
EXT. DIA.
Tomada rápida da fachada.
CENA 08. COMPLEXO DO DESALENTO. CENTRO ESPIRITA.
INT. DIA.
Alberto está caminhando, arrumando umas flores. Uma mulher de
roupa presta chega e vai até ele.
CARMEM – DR. Alberto?
ALBERTO (ROSTO SERENO) – Sabia que
viria.
Carmem com os olhos marejados, o abraça.
ALBERTO – Vamos até a biblioteca.
Os trabalhadores da casa estão fazendo a arrumação para a palestra de amanhã a
noite.
Carmem assente e eles vão até a Biblioteca.
CENA 09. COMPLEXO DO DESALENTO. CENTRO ESPIRITA.
BIBLIOTECA. INT. DIA.
Eles sentam-se em uma cadeira e ela com os olhos ainda marejados
passa a mão em seu cabelo.
ALBERTO – Primeiro, como você está,
minha filha?
CARMEM – Estou tentando lidar com o
luto. Meu peito dói, é como se eu estivesse revivendo uma facada no peito a
cada dois minutos. Acho que uma facada doeria muito menos.
ALBERTO – Entendo, minha querida.
CARMEM (CHORA) – Você sabe o motivo
da minha visita, não é? Queria saber se está tudo bem com meu filho. Toda vez
que a imagem dele vem em minha cabeça... (RESPIRA FUNDO) Ai, não sei, minha dor
é tão grande.
ALBERTO – O seu filho completou a
missão dele. Ele precisava partir dessa forma, se não fosse pelas mãos de outra
pessoa, seria pela do pai dele.
CARMEM (TREME) – O quê?
ALBERTO – Isso mesmo, minha
querida. Eu tenho certeza que seu marido não iria conseguir conviver com essa
dor, pode ser que até conseguiria, mas você jamais iria perdoá-lo.
Carmem fica boquiaberta e desaba em choro.
ALBERTO – O Guto está bem. Foi
recebido pelos guias espirituais dele. Já estão cuidando dele no outro plano.
Carmem continua desabando em choro. Alberto levanta-se da
cadeira e vai até ela e a abraça.
SONOPLASTIA
ON: GOSTAVA TANTO DE VOCÊ – TIM MAIA
CENA 10. RUAS DO RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE
A Sonoplastia continua e a noite chega ao Rio de Janeiro. O
Cristo Redentor está iluminado nas cores verdes. Há um intenso movimento nas
avenidas.
CENA 11. HOTEL. QUARTO. INT. NOITE
Alice está nua. Ela veste peça por peça. A companhia toca e ela
põe uma blusa branca por cima do sutiã. Ao abrir a porta, se surpreende com
Ivan que adentra o ambiente sem ser convidado.
IVAN (CONFRONTA) - Por qual razão
você não me contou que está grávida?
ALICE (SURPRESA) - O que? Quem te
contou? Foi minha mãe, né? Eu sabia que não deveria ter contado nada a ela.
IVAN - Não, não foi ela. E o que
isso importa? Eu merecia saber da verdade, Alice! Se você não quer essa
criança, tudo bem, pode fazer, mas eu merecia saber!
ALICE - Espera aí também. Ivan, eu
estou completamente desnorteada, não sei. Todas as mães sentem uma alegria ao
descobrirem que estão grávidas, mas só de imaginar que estou carregando uma
vida aqui, isso me deixa angustiada. Não estou preparada para ser mãe, não foi
planejado.
IVAN - Alice, eu nem te reconheço
mais. Você mente pra mim, omite coisas e simplesmente me joga para escanteio
como se eu não fosse nada! Estou farto disso, Alice. Esse filho que está
esperando… Alice, eu merecia saber. Eu te amo mais que tudo na vida e nem uma
conversa você consegue ter?
ALICE (GRITA) - Chega! Não quero
ouvir mais nada. Eu vou fazer o aborto e acabou. Depois disso, todo o nosso
relacionamento estará acabado e sem precisar carregar nada do passado para o
nosso presente.
Ivan olha perplexo para Alice. Ele senta-se em um sofá e coloca
as mãos na cabeça em negação.
IVAN (INCRÉDULO) - Quem é você e o
que fez com a minha mulher?
Alice suspira e vai até Ivan. Ela senta ao lado do sofá e põe a
cabeça em seu ombro.
ALICE - Me desculpe.
Ivan chora. As lágrimas caem em câmera lenta no chão.
CENA 12. RESTAURANTE. INT. NOITE
Patrícia e Capitão Vasconcelos estão sentados à mesa. O garçom
aparece com a entrada do jantar e se retira logo em seguida.
CAP. VASCONCELOS - Como foi o seu
primeiro dia no jornal?
PATRICIA - Foi incrível! O pessoal
foi bastante solícito e posso afirmar que ainda vou ganhar o prêmio de
jornalista do ano. Você viu na TV a notícia da prisão do Pastor da Igreja lá no
Desalento?
CAP. VASCONCELOS - Vi sim! Fico
feliz que finalmente um jornal está valorizando o seu talento.
PATRICIA - Estou em êxtase. Sério, dá
pra acreditar que eu desmontei um esquema de lavagem de dinheiro?
Capitão Vasconcelos dá um sorriso de canto. Patrícia mastiga o
pão servido como entrada.
PATRÍCIA - Você está estranho!
Aconteceu alguma coisa?
CAP. VASCONCELOS - Tive que ir até
a delegacia hoje prestar esclarecimentos sobre a operação no Desalento. Eles
acham mesmo por alguma razão que o BOPE matou pessoas inocentes. É fato que
aconteceu alguma coisa lá que não eu não pude ver, mas acusar minha equipe?
Isso não admito.
PATRICIA - Ele quis te colocar como
culpado?
CAP. VASCONCELOS - Sim, mas eu logo
me esquivei. Sabia que iriam querer culpar o BOPE.
PATRICIA - Mas a verdade é que
também não dá pra confiar 100% na polícia, Diogo. Você precisa entender isso
também.
CAP. VASCONCELOS - Você está
falando de uma percepção sua. Pra quem você vai ligar quando tiver alguma merda
de um bandido te enchendo o saco? Para a polícia. Tem muita gente ruim na
corporação, mas existe muita gente de bem.
PATRICIA - Vamos com calma, Diogo.
Eu e você sabemos que a violência policial é bem comum, principalmente em
favelas. Pode muito bem ter acontecido de algum policial ter matado um
inocente, não estou falando que alguém da sua equipe fez, calma.
CAP. VASCONCELOS - Eu sei, meu
amor, mas essa visão distorcida que você tem da polícia não é legal, ainda
mais, casou com um capitão do BOPE.
PATRÍCIA - Minha visão da polícia
não é distorcida, ela existe e, é real. Me casei com você, porque me apaixonei
e tentei resistir, sabe muito bem disso.
CAP. VASCONCELOS (RI) - Eu vi o
tanto que você resistiu. Desmaiou de amores por mim na primeira vez que falei
contigo.
PATRÍCIA (RI) - Que garoto
ridículo!
Patrícia joga um pedaço de pão em Capitão Vasconcelos que ri.
Do lado de fora, um carro preto observa os dois.
CENA 13. GALPÃO. EXT. NOITE.
Tomada da fachada de um Galpão enorme. Há caminhões e carros na
frente. Ele é cinza. Há uma placa enferrujada com o nome “Rodovia 66”.
CENA 14. GALPÃO. INT. NOITE.
Há algumas pessoas trabalhando em uma mesa e um barulho de serra
ecoa no local. Milton aparece e verifica tudo de perto. Ele vai até um homem
alto, negro (40).
FRANCO – MILTON! Não esperava por
sua visita hoje. Se veio inspecionar para ver se sua equipe está trabalhando,
pode ficar tranquilo, estamos a todo vapor.
MILTON – Tenho que ocupar minha
cabeça com alguma coisa e também faz um tempo que não apareço por aqui. Como
estão as máquinas?
FRANCO – Os caça-níqueis tem suas
fases, né? Em determinadas épocas faturamos muito, mas em outras...
MILTON – Estou querendo expandir
meu negócio para a zona leste.
FRANCO (TREME) – Ficou louco, Milton?
Vai querer começar uma guerra entre bicheiros, é isso mesmo?
MILTON – Não tem bicheiro mais
poderoso que eu aqui no Rio de Janeiro, óbvio que precisamos traçar uma
estratégia, mas a zona leste vai ser minha. As pessoas de lá gastam mais
dinheiro com jogo do bicho e essas máquinas podem faturar muito mais por lá.
FRANCO (APREENSIVO) – Escuta o que
estou te dizendo, Milton, se os Ferreiras imaginarem que você quer expandir os
negócios pra lá, você vai travar uma guerra sem necessidade, cara. É cilada!
MILTON – Já está decidido, Franco.
Vamos começar a expandir nossos negócios, ou será que vai querer abandonar o
barco?
Franco coça a cabeça e suspira fundo.
FRANCO – Não estou gostando dessa
ideia, Milton. Cara, isso é furada.
MILTON – Se não quiser, coloco
outro em teu lugar para gerar meus negócios, mas se quiser continuar, garanto
que vai ganhar muito dinheiro e serei eternamente grato por sua lealdade.
Franco olha para Milton e assente com a cabeça.
CENA 15. COMPLEXO DO DESALENTO. CASA. SALA. INT.
NOITE.
Dandara está sentada em um sofá assistindo TV. Seu celular vibra
e ela recebe uma mensagem em vídeo.
DANDARA – Estranho.
Ela abre a mensagem de vídeo e se surpreende. O vídeo mostra um
policial atirando a queima-roupa em um morador da favela.
O rosto de Dandara é de choque e medo.
FIM DO CAPÍTULO 07
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