Inferno Urbano
WEB-NOVELA
CAPÍTULO #009
CRIADA & ESCRITA POR:
WANDERSON ALBUQUERQUE
CENA 01. AVENIDAS DO RIO DE JANEIRO. EXT. DIA.
SONOPLASTIA
ON: AMANHÃ – GUILHERME ARANTES
O Rio de Janeiro é mostrado do alto. Uma leve neblina paira sob
a cidade que aos poucos vai acordando. Pessoas correm no calçadão de
Copacabana, algumas estão sentadas em quiosques bebendo água de coco, outras
pedalam.
CENA 02. QUIOSQUE. EXT. DIA.
Uma TV ligada mostra o jornal da manhã.
JORNALISTA – Ontem no Desalento,
foi encontrado um corpo de um homem com marcas de estrangulamento e também de
facadas pelo corpo e pelo que a perícia pôde concluir, os olhos do homem foram
arrancados.
As pessoas no quiosque bebem sua água de coco.
CENA 03. RIO EM AÇÃO. SALA DE REUNIÃO. INT. DIA.
Há uma mesa em formato oval na sala, quadros com figuras
orgânicas e uma planta japonesa no canto. Cinco pessoas estão sentadas e Felipe
está no centro.
FELIPE – A polícia está investigando a morte desse homem, alguns estão seguindo a linha de algum tipo de ritual, ou coisa parecida, só que pra mim, o crime foi premeditado e pra chocar mesmo.
PATRÍCIA – Nós já temos fotos do homem morto?
FELIPE – Sim, a polícia acabou de divulgar.
Felipe puxa o seu notebook e coloca umas imagens na tela. Todos
estão atentos e observam. Patrícia treme e fica ofegante.
PATRÍCIA (ASSUSTADA) – Esse foi o homem morto?
FELIPE – Sim. O que aconteceu, Patrícia? Você está pálida.
PATRÍCIA (TREME) – Esse homem tentou matar a mim e uma mulher no desalento. Eu estava lá no dia da chacina e esse cara acabou pegando nós duas. Ele iria nos estuprar.
Todos olham para Patrícia surpresos. Felipe suspira.
FELIPE – Então, provavelmente vocês não foram as únicas que ele tentou fazer isso. Patrícia, isso pode mudar os rumos de qualquer investigação que a polícia esteja pensando em seguir.
PATRÍCIA (OFEGANTE) – Tatuagem. Ele tem uma tatuagem de um palhaço.
FELIPE – Palhaço? Típico.
JUCA – O que significa?
PATRÍCIA – Assassinos de policiais.
FELIPE – Patrícia, eu sei que posso estar sendo insensível, mas quero só tirar uma dúvida mesmo. As mãos dele estavam amarradas e em volta do seu pescoço tinha um terço na cor prata, segundo a polícia. Você recorda dele usando esse terço?
PATRÍCIA – Não! Não tinha nenhum acessório no pescoço dele, nem corrente, nada.
Felipe cruza os braços e fica pensativo.
JUCA – Você acha que é algum sinal, Felipe?
FELIPE – Acho que o tempo dirá se estamos diante de um assassino em série ou não.
CENA 04. MANSÃO AGOSTINI. SALA. INT. DIA.
Isis caminha em direção a um quadro na parede e o ajeita.
Victoria desce as escadas lentamente e senta-se no sofá.
VICTORIA – Estou orgulhosa de você. Ainda não bebeu hoje.
ISIS – Não tenho motivos para beber. Se você quer saber mesmo, sobre a história da Alice e do aborto, tudo bem, ela pode fazer o que quiser, não me interessa.
VICTORIA – Você foi rude com ela, porque ela estava precisando de um abraço de mãe e você simplesmente não a ajudou.
ISIS (RI) – Victoria, desse jeito até parece que você realmente se importa com alguém. Eu sei muito bem que foi você que contou ao Ivan que a Alice estava grávida.
VICTORIA (DÁ DE OMBROS) – E daí? O Ivan precisava saber, não acha?
ISIS – Pela boca da Alice, por isso que eu não contei nada a ele, mas bastou uma ligação pra Alice e entender que foi você quem fez toda a confusão.
VICTORIA – Por favor, minha irmã, você não vai querer entrar nesse assunto agora, né?
ISIS – Eu te conheço muito bem, Victoria. Então, você tome bastante cuidado com tudo que fizer.
VICTORIA – O que está insinuando?
ISIS – Não estou insinuando nada. Só quero que tome cuidado quando for fazer qualquer coisa.
VICTORIA (RI) – Você com esse tom aveludado até que consegue ameaçar alguém, mas não a mim, meu amor.
Victoria levanta-se e vai até a irmã. Elas ficam cara a cara.
VICTORIA – Lembre-se que eu sempre fui melhor do que você, mais esperta, mais poderosa... Então, se quiser fazer esse jogo mesmo, vai se arrepender.
ISIS (SÉRIA) – Eu pago pra ver.
As duas se olham com fúria nos olhos.
CENA 05. RIO EM AÇÃO. COPA. INT. DIA.
Patrícia está em frente ao microondas. O apito do aparelho ecoa
e ela retira uma marmita de dentro. Juca se aproxima dela.
Patrícia coloca sua marmita no balcão e dá uma olha no escritório.JUCA – Achei que você almoçasse no restaurante do prédio.
PATRÍCIA – Ah, não. Eu prefiro comer por aqui, dá tempo de fazer umas coisas.
JUCA (OLHA EM VOLTA) – Patrícia, preciso falar um assunto com você, mas tem que me prometer que irá ficar entre nós dois.
PATRÍCIA (SÉRIA) – O que foi, Juca? Estou começando a ficar preocupada.
JUCA – Olha, lembra do dia que o deputado Renato Queiróz esteve aqui?
PATRÍCIA – Sim, o que tem?
JUCA – Quando o deputado saiu da sala, eu pude ver depois que o Felipe estava com o rosto vermelho, não sei, como se tivesse levado um tapa.
PATRÍCIA – Mas isso é impossível, Juca. O Felipe fez a festa quando o Renato chegou, não faz o menor sentido.
JUCA – Patrícia, o Felipe estava sério, eu não confio naquele deputado. Pra mim, só falta o bigode que tenho certeza que ele seria o sucessor de Hitler.
PATRÍCIA – O que é isso, menino?
JUCA – Ah, Patrícia, ele é um crápula. Paga de bom moço, um ótimo parlamentar, mas é ele quem cria as piores emendas.
PATRÍCIA – Tá, mas isso não prova que aconteceu algo ali dentro daquela sala...
PATRÍCIA – Já sei. Aqui tem câmeras de segurança, dá pra gente entrar na sala do Felipe e verificar.
JUCA – Ficou louca? Ele tem acesso as imagens no celular, óbvio que ele vai ver a gente mexendo nas coisas dele.
PATRÍCIA – Não, não vai. Ele sempre almoça no restaurante do prédio, então, temos uns dez minutos até ele descer, se servir e sentar na mesa.
JUCA – Então, só esperar ele sair.
Patrícia e Juca olham em direção a sala de Felipe.
CENA 06. BATALHÃO DO BOPE. VESTIÁRIO. INT. DIA.
Os policiais estão tomando banho em cada um dos seus guichês.
Capitão Vasconcelos surge de toalha e vê uma mensagem na tela do seu celular.
NO CELULAR: Mataram o traficante que tentou me matar no
Desalento. Conto mais a noite.
Capitão Vasconcelos senta em um banco de madeira que está no
meio de uns armários. Ele fica pensativo.
CENA 07. APARTAMENTO DE LUXO. SALA. INT. DIA.
Auzira faz crochê sentada no sofá. Milton abre a porta e dá um
beijo na testa da sua mãe.
MILTON – Não me esperaram para almoçar?
AUZIRA – Ainda não almoçamos.(T) Como você tá, meu filho?
Milton coloca uma maleta que carrega no braço em uma poltrona de
coro ao lado do sofá e senta-se.
MILTON – Pra ser sincero, mãe? Ainda não tive tempo de sofrer pela morte do Guto. É tudo tão recente que não sei como não caí.
AUZIRA – Você já parou pra pensar como está sendo egoísta?
MILTON – Do que a senhora está falando?
AUZIRA – Está mais preocupado em buscar o assassino do seu filho do que realmente aproveitar esse tempo para esbravejar. Matar o assassino não trará o Guto e muito menos fará justiça. Você sabe bem disso.
MILTON – Você não sabe de nada, mãe.
AUZIRA – Sei sim. Seu irmão morreu e eu não quis nada de vingaça, porque isso só traz sofrimento, muito mais tristeza. Você vai acabar se afundando desse jeito.
MILTON – Você não quis vingança, porque sabia que o assassino do Luciano seria morto.
Auzira para e coloca o crochê ao seu lado. Ela cruza as mãos.
AUZIRA – No fundo, eu sabia que ele seria morto sim, porque o pai de vocês desde sempre procurou essa nojeira toda de jogo do bicho e virar dono de banca. Você tem esse apartamento aqui de luxo, tem dezenas de carros e sabe-se lá quanto de dinheiro na conta, mas não criei vocês para serem assassinos, isso jamais. Eu prefiro fechar os olhos e fingir que tudo isso não existe do que acreditar que meu filho mata.
MILTON – Então, a senhora sabe que fui eu que matei o assassino do Luciano, né?
AUZIRA – Tinha minhas dúvidas, você só confirmou. Ao invés de ficar procurando covas para encher, cuide das suas filhas e da sua esposa que ainda estão vivas e solitárias.
Auzira levanta-se do sofá e sai. Milton fica ali pensativo.
CENA 08. PRESÍDIO. PÁTIO. INT. DIA
Hércules e Jaguar estão tomando banho de sol. Há um sol incessante no local. Alguns presos estão embaixo da sombra,alguns outros jogam bola.
HÉRCULES – Caralho, meu parceiro, isso aqui tá quente demais.
JAGUAR (RI) – Estava esperando o que?
HÉRCULES – Cuzão, precisamos sair daqui. O diretor dessa bagaça aqui vai matar a gente de calor.
JAGUAR – Está achando que vamos virar o novo Carandiru?
HÉRCULES – Antes fosse. Aqui vamos morrer um pouco cada dia, precisamos sair daqui o mais rápido possível, Jaguar.
JAGUAR – Fica quieto que tudo se resolve.
HÉRCULES (IMPACIENTE) – Qual foi, Jaguar? Por que que tu tá tão de boa assim?
JAGUAR – Diferente de tu, Hércules, eu sei esperar. Pode ter certeza que uma hora ou outra iremos sair daqui, quer dizer, eu vou sair. Não tenho tanta certeza de tu.
HÉRCULES – O que tu tá aprontando?
JAGUAR – Já te disse, eu sei esperar. Quando eu sair daqui, vou fazer questão de matar a Dandara com minhas próprias mãos.
CENA 09. RIO EM AÇÃO. ESCRITÓRIO. INT. DIA.
Patrícia e Juca olham para a sala de Felipe. Ele sai da sala e vai em direção a porta principal. O jornalista abre e fecha. Patrícia faz sinal de positivo para Juca que retribui.
Ela vai em direção a sala de Felipe e Juca fica na porta de guarda. Patrícia senta-se na cadeira e começa a mexer no computador. Ela acessa as câmeras de segurança e entra na pasta.
PATRÍCIA (NERVOSA) – Vamos... Cadê... Achei.
Patrícia olha as imagens da câmera de segurança e vê o Deputado Renato Queiróz dando um tapa na cara de Felipe. Ela fica boquiaberta. Com o seu celular, ela grava. Rapidamente, coloca o seu telefone no bolso e sai da sala.
JUCA – E aí, você conseguiu?
PATRÍCIA – Você tinha razão, o deputado deu um tapa na cara do Felipe.
JUCA (BOQUIABERTO) – Eu sabia! Literalmente estava na cara.
O que fazemos com isso agora?
PATRÍCIA – A gente tenta descobrir alguma coisa. Eles não passaram nem dez minutos na sala para ter qualquer tipo de desavença grave.
JUCA – O Felipe não tem medo de nada, se ele ficou tão refém, é porque tem algo aí.
PATRÍCIA – E eu vou descobrir.
O olhar de Patrícia é de seriedade.
CENA 10. PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. SALA. INT.
DIA
O Prefeito Lopes assina alguns papéis, quando é interrompido por uma batida na porta. Taís anuncia a entrada de Capitão Vasconcelos. Eles se cumprimentam e a secretária sai.
CAP. VASCONCELOS – Confesso que
fiquei bastante surpreso quando recebi a sua ligação, prefeito.
PREF. LOPES – Confesso que o motivo
da minha ligação também foi uma surpresa pra mim. Capitão, eu não sei o que aconteceu
no Desalento, mas o Ministério da Justiça vai ficar na cola de vocês.
CAP. VASCONCELOS – Eu não tenho
nada a esconder, prefeito. Tudo o que eu disse ao delegado foi verdade. Se
alguns dos meus homens mataram alguém durante a operação foi para se defender.
PREF. LOPES – Capitão, vamos ser
sinceros. Eu não estou acusando você, mas precisamos ser honestos, as coisas
vão ficar feias e tenho certeza que vão dar um jeito de afastar o senhor do
cargo.
CAP. VASCONCELOS – O que está
sugerindo, prefeito?
PREF. LOPES – É simples. Eu quero
pedir a sua exoneração do BOPE e quero que você venha ser o meu secretário da segurança.
Capitão Vasconcelos ri em reação e olha para o prefeito sem acreditar.
PREF. LOPES – Por qual razão você
está rindo, Capitão?
Estou sendo honesto contigo.
CAP. VASCONCELOS – Isso só pode ser
uma piada. Eu nunca largaria o meu cargo de capitão para ser um secretário de segurança,
prefeito. Isso não sou eu.
PREF. LOPES – Eu vou te dar um
tempo para pensar. Não
precisa me dar a resposta agora,
Capitão, mas no fundo, você sabe que é o melhor.
CAP. VASCONCELOS – Não perca o seu
tempo com isso.
Capitão Vasconcelos vai até a porta, abre e sai. O Prefeito Lopes olha seriamente.
CENA 11. COMPLEXO DO DESALENTO. ONG. ESCRITÓRIO.
INT. DIA
SONOPLASTIA
ON: BRASIL – GAL COSTA
Dandara abre uma gaveta e coloca uma pasta dentro. Jhonatan aparece com um homem em torno de 47 anos. Ele está vestido com um terno.
JHONATAN – Dandara, esse rapaz quer
falar com você.
DANDARA – Posso ajudar?
GUILHERME – Prazer, Dandara. Eu sou
Guilherme Neves. Sou deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro.
DANDARA (RECONHECE) – Meu Deus,
claro. Me desculpa se não te reconheci antes. Sente-se, por favor.
Guilherme senta-se em uma cadeira e Dandara também.
JHONATAN – Bom, vou deixar vocês
conversando.
DANDARA – Obrigada, Jhonatan.
Jhonatan assente e sai da sala.
GUILHERME – Ele parece ser um
menino bom, né?
DANDARA – Ele é sim. Foi um dos
primeiros da minha ONG. (T)Mas enfim, a que devo a sua visita aqui?
GUILHERME – Dandara, eu não vou
mentir, serei simples e direto com você. As eleições federais estão chegando e
nós precisamos de candidaturas fortes e que caminhem ao nosso lado,
principalmente tendo esse avanço da extrema-direita no nosso país, é
fundamental que a gente reúna forças para minimizá-los. Você é uma líder
comunitária e seria perfeito que se unisse a nós.
DANDARA (SURPRESA) – Nossa, eu
realmente não sei o que dizer. Fui pega totalmente de surpresa. Nunca pensei em
entrar na política, sei bem como esse mundo é sujo, com todo respeito.
GUILHERME – Não! Você está certa.
Se estamos contra aos poderosos, viramos alvo, mas a população precisa de nós,
é por isso que queremos pessoas como você caminhando ao nosso lado. Precisamos
de uma resposta pra ontem. As filiações dos partidos acabam em menos de quinze
dias, então temos que correr contra o tempo. Queríamos que você fosse candidata
a deputada estadual por nosso partido.
DANDARA (SURPRESA) – Deputada
Estadual? Eu acho que eu deveria começar como uma vereadora, não acha? É muito utópico.
GUILHERME – Concordo que isso pode
assustar, mas não se preocupe. Você é uma líder comunitária e que tem muita força
aqui no Desalento. Olha, aqui está o meu cartão.
Guilherme entrega um cartão a Dandara que observa. Ele vai levantando-se e ela o acompanha.
GUILHERME – Infelizmente não posso
ficar para tentar te convencer, tenho uma reunião em instantes. Dandara, mas preciso
que me diga o quanto antes.
DANDARA – Eu prometo que vou dar a
resposta o quanto antes.
GUILHERME – Foi um prazer falar com
você, Dandara.
DANDARA – O prazer foi todo meu.
Eles se olham e Guilherme sai. Dandara segura o cartão do deputado.
CENA 12. RUA QUALQUER. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA.
Miguel e outro policial saem da viatura e observam um prédio
pequeno que possui uma fachada escrita “EMPLACAMENTOS”. Ele masca o chiclete
vagorosamente e dá um tapinha na lataria do carro.
MIGUEL – Vambora.
O policial assente e eles entram no estabelecimento.
CENA 13. EMPLACAMENTOS. RECEPÇÃO. INT. DIA.
Miguel vai até a recepção. Há duas pessoas sentadas em umas cadeiras assistindo ao noticiário. Uma mulher o atende.
RECEPCIONISTA - No que posso ajudar?
MIGUEL (MOSTRA O DISTINTIVO) - Delegado Miguel Agostini. O senhor Rafael Monteiro está?
RECEPCIONISTA - Está sim. Me acompanhem, por favor.
A Recepcionista os leva até uma sala no final do corredor. Ela
bate na porta e ouve-se uma voz de dentro da sala
RAFAEL - Pode entrar!
O delegado entra e o policial fica na porta de guarda.
RECEPCIONISTA - Esse é o delegado, chefe. Se precisarem de mim, só me chamar.
A recepcionista sai. A sala é pequena. Há um ventilador de teto,
uma planta quase morta no canto. a janela está com o material em volta do vidro
enferrujado.
RAFAEL - Sente-se, delegado. O senhor gostaria de uma água, um café? Posso até pedir pra trazer uma vodka.
MIGUEL - Obrigado, mas eu não bebo em horário de trabalho.
RAFAEL - Bom, então qual o motivo da sua visita até aqui? Imagino que deva ser muito importante.
MIGUEL - Na verdade, eu só vim fazer algumas perguntas e creio que tenha as respostas que estou procurando.
RAFAEL - No que eu puder ajudar.
MIGUEL - Há algumas semanas, quatro homens foram assassinados em Jacarepaguá. Coincidentemente, quem fez o emplacamento do carro foi você.
Miguel retira de sua cintura alguns papéis e entrega para Rafael
que começa a observar.
RAFAEL - Mas aonde eu entro nisso? Está desconfiando que eu tenha mandado matar esses caras?
MIGUEL - Não. Quero saber se o senhor os conhecia. Porque esses caras eram assassinos de aluguel, sabe, participavam ativamente do tribunal do crime. Não sei por qual razão resolveram matá-los.
RAFAEL - Olha, delegado, vou te dizer uma história. Esses aí eram dos bons. Qualquer político ou bicheiro confiavam neles. Quer saber de uma? Se o senhor pesquisar bem, esse aqui (aponta para a foto) já foi do BOPE. Mas sabe, conheceu a vida fácil e se perdeu logo.
MIGUEL - Mas como? Não há registro algum dele em nenhuma corporação. A identidade…
RAFAEL (INTERROMPE) - Identidade falsa, delegado. O nome desse aqui é Lohan de Almeida. Quase virou Major do BOPE, mas preferiu o crime organizado que pagava bem mais. A Corporação descobriu e o exonerou. Acontece que ele começou a ser chamado de Anjo caído, é assim que chamam os oficiais do BOPE quando se corrompem. Há muitos por aí assim.
Miguel olha friamente para Rafael
CENA 14. AVENIDAS DO RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE
SONOPLASTIA
ON:CORAÇÃO EM DESALINHO – MARIA RITA
O sol se despedida, afundando devagar atrás do Pão de Açúcar. O
Cristo Redentor, de braços abertos, observa em silêncio, sua silhueta agora uma
sombra contra o céu que se escurece.
CENA 15. APARTAMENTO. SALA/COZINHA. INT. NOITE.
O ambiente está apenas iluminado com a luz da cozinha. Uma luz
branca que clareia boa parte da sala. Patrícia está no fogão fazendo um risoto.
Ela ouve barulho da porta se abrindo. Capitão Vasconcelos adentra. Ele vai em
direção a Patrícia e eles dão um selinho demorado.
CAP. VASCONCELOS – Nossas, mas isso aqui tá cheirando de lá do outro lado da rua. Desse jeito vou ter que engordar.
PATRÍCIA (RI) – Você é um bobo, sabia? Como foi seu dia?
CAP. VASCONCELOS – Ah, foi um saco.
Ele abre a geladeira e pega um pote com umas uvas vermelhas. O
capitão se apoia no balcão.
CAP. VASCONCELOS – Você não faz ideia do que aconteceu. O prefeito me convocou para uma reunião e me ofereceu a vaga de secretário de segurança.
PATRÍCIA (SURPRESA)- Do nada? Eu nem sabia que vocês eram próximos.
CAP. VASCONCELOS – E não somos. Apenas encontrei ele em alguns eventos da cidade, mas nada mais do que isso. A conversa foi toda estranha. É como se ele já soubesse que a operação vai ser responsabilizada pelas mortes no Desalento, mas eu tenho como provar que meus oficiais só se defenderam.
PATRÍCIA – Se você tem como provar, não precisa ficar preocupado. Você põe a mesa, por favor?
Capitão Vasconcelos deixa o pote no balcão e pega uns pratos e
talheres e coloca à mesa.
PATRÍCIA – Isso tudo é muito estranho, Diogo. Tem certeza que não foi alguma indicação?
CAP. VASCONCELOS – Não, não foi. Isso que está me deixando intrigado. Ele poderia chamar qualquer pessoa. Eu tenho 38 anos, poderia muito bem convidar alguém mais experiente, ou que estivesse aposentado. Não faz o menor sentindo.
PATRÍCIA – Contou a alguém do batalhão?
CAP. VASCONCELOS – Não. Ultimamente prefiro nem confiar na minha sombra.
Eles sentam-se a mesa e começam a se servir.
CENA 16. COMPLEXO DO DESALENTO. BAR DA GEANE. INT.
NOITE.
O samba toca de fundo no ambiente. Geane e Solange sambam. Dandara
surge e senta-se em uma mesa no canto da parede. Geane vai até ela com sua
caderneta.
GEANE – O que vai querer hoje, minha querida?
DANDARA – Eu só vou querer uma cerveja mesmo. Mas oh, quero bem gelada, hein?
GEANE – Pode deixar! Vou fazer questão de trazer a mais gelada pra tu, hein?
DANDARA – Obrigada.
Geane sorri e sai. Dandara observa do bar a rua. Jhonatan
aparece e senta ao lado.
JHONATAN – Dandara, qual era a do Deputado?
DANDARA – Boa noite para você também, Jhonatan.
JHONATAN – O Desalento inteiro tá comentando a visita dele. Dá pra acreditar que ele veio pra cá sem nenhum segurança?
DANDARA – O Desalento às vezes fala demais.
JHONATAN – E o que ele queria?
DANDARA – Ele queria que eu me candidatasse a Deputada Estadual, vê se pode?
JHONATAN – Você vai aceitar, né? Isso é incrível, Dandara. Tem noção o quanto você pode fazer? Já ganhou.
DANDARA – Ei, eu ainda não aceitei, tá?
JHONATAN – Mas deveria.
Dandara fica pensativa.
CENA 17. GALPÃO. EXT. NOITE.
Tomada rápida da fachada do Galpão.
CENA 18. GALPÃO. INT. NOITE.
Milton está olhando as máquinas caça-níqueis funcionando. Um
homem alto e branco chega perto dele.
RENATO – Milton, meu companheiro! Há quanto tempo a gente não se vê!
Milton o encara seriamente.
FIM DO CAPÍTULO 09
Obrigado pelo seu comentário!