Inferno Urbano
WEB-NOVELA
CAPÍTULO #011
CRIADA & ESCRITA POR:
WANDERSON ALBUQUERQUE
CENA 01. DESALENTO. CENTRO ESPIRITA. COZINHA. INT. DIA
Há algumas pessoas na cozinha. Alberto está na cadeira do centro
e Elizabeth está em pé ao seu lado.
ELIZABETH – Esse mês tivemos muitas
doações, Alberto. Vamos conseguir dar muitas cestas básicas para essas
famílias.
ALBERTO – Fico feliz com isso.
Espero que muitas delas consigam enxergar Deus através da caridade.
ELIZABETH – Tenho certeza que irão
enxergar. Alberto, o senhor me desculpa a pergunta que vou fazer, mas aquela
senhora que esteve aqui, Carmem, não é a mãe daquele menino que faleceu aqui no
Desalento?
ALBERTO – É ela. Por que a
pergunta?
ELIZABETH – Nada, é só que eu
realmente estava tentando lembrar de onde eu a conhecia. Fazia dias que ela
estava vindo ao Centro, bem antes do assassinato do filho.
ALBERTO – Muitas vezes os nossos
guias nos protegem e preparam, talvez tenha sido isso, nunca se sabe,
Elizabeth. Ela é uma mulher forte, infelizmente ainda irá sentir a dor por
muito tempo, mas ela vai ficar bem.
ELIZABETH – Espero que sim.
Neste momento, Alzira aparece com um bolo enrolado em um pano.
Todos a cumprimentam.
ALBERTO (CORA) – Alzira, não estava
esperando a sua visita!
ALZIRA – Eu estava sem fazer nada
em casa e resolvi fazer um bolo pra cá. Eu também fiquei sabendo que hoje era
dia de entregar as doações e achei melhor vir ajudar. Se vocês aceitarem,
claro.
ELIZABETH – Mas é claro que
aceitamos, Alzira. Você pode nos ajudar a separar os alimentos e colocando
naquelas caixas (APONTA). Não vou mentir, também quero experimentar esse bolo,
porque o cheiro dele tá chegando aqui (RISOS).
Alzira sorri e põe o bolo na mesa. Ela corta o primeiro pedaço e
entrega a Alberto que a olha fixamente com um sorriso.
ALBERTO – Obrigado
ALZIRA – Espero que goste.
Os dois se entreolham. Elizabeth olha para os dois e sorri.
CENA 02. RIO EM AÇÃO. ESCRITÓRIO. INT. DIA
Patrícia está escrevendo em seu computador. Felipe aparece na
porta da sua sala.
FELIPE – Patrícia, venha até a
minha sala, por favor.
Patrícia assente e Juca a observa com apreensão.
CENA 03. RIO EM AÇÃO. SALA. INT. DIA.
Patrícia entra na sala. Ela fecha a porta e vai em direção a
cadeira em frente a mesa de Felipe que já está sentado com uma expressão séria
no rosto.
FELIPE – Patrícia, te chamei aqui,
porque eu precisava conversar com você sobre uma coisa. Eu sou amigo pessoal do
Deputado Renato Queiróz e ele irá se candidatar a senador da República nas
eleições desse ano. Em resumo, ele está precisando de alguém para acompanha-lo
durante a campanha e veio até aqui perguntar se eu não conhecia alguém que
pudesse ficar à frente da comunicação dele.
PATRÍCIA (ENGOLE SECO) – Felipe,
com todo respeito, mas eu não tenho o menor interesse. Eu não sou assessora de político,
principalmente de alguém como ele.
FELIPE – Como assim?
PATRÍCIA – Eu sei que vocês são
amigos, mas sinceramente, eu não quero trabalhar para ele.
FELIPE – Você já o conhece?
PATRÍCIA – Não, mas ele não me
parece ser uma pessoa boa, me desculpe dizer isso, sei que é seu amigo, mas não
consigo.
FELIPE (RI) – Não, Patrícia, está
tudo bem. No fundo, achei que você não aceitaria mesmo, principalmente depois
de ter visto ele me dar um tapa.
Patrícia sente o impacto das palavras jogadas e fica apreensiva.
PATRÍCIA – Em minha defesa, eu...
FELIPE – Eu não pedi para você se
justificar, Patrícia. Sei muito bem que fez nas melhores das intenções e também
sei que foi ideia do Juca. Mas veja, não se intrometa na minha vida pessoal,
aqui não é uma coluna de fofoca, então a vida do seu chefe não te diz respeito
e tampouco a minha, tudo bem?
PATRÍCIA (ASSENTE) – Me desculpe,
prometo que isso não vai acontecer novamente.
FELIPE – Vi que estava
escrevendo.... É alguma matéria nova?
PATRÍCIA – Sim, sim. Dessa vez, não
sei como podemos proceder diante dessa situação. Recebi um vídeo de um PM
assassinando um morador do Desalento, exatamente no dia da chacina. Esse
policial matou por diversão.
Patrícia puxa o seu telefone e mostra o vídeo a Felipe.
FELIPE – Postaremos esse vídeo
cortado. Antes do policial proferir o disparo. Peça para o Juca postar no
jornal online e você pode finalizar a matéria.
Patrícia assente.
CENA 04. MANSÃO AGOSTINI. QUARTO DE ISIS. INT. DIA
Isis está de frente a sua penteadeira. Ela olha para o espelho e
dá um sorriso tímido. Ela pega a escova e começa a pentear seu cabelo longo e
ruivo. Miguel bate na porta.
MIGUEL – Atrapalho?
ISIS – Mas é claro que não.
Miguel vai até a mãe e dá um beijo em sua testa. Ele senta-se na
beirada da cama.
MIGUEL – Minha tia Victoria disse
que você estava aqui e não queria sair por nada, vim conferir se era verdade.
ISIS – Sua tia é uma cretina, é
isso que ela é. Você precisava ver a forma que ela falou comigo, como se fosse
a matriarca da família Agostini. Estou nesse lugar há mais tempo que ela e
exijo respeito.
MIGUEL – Acho que não é sobre isso,
mãe. Ela está agindo assim, porque ela quer o poder, não estou falando sobre
respeito, mas sim sobre a empresa.
ISIS – Você acha que ela quer a
presidência da empresa?
MIGUEL – Ainda tem alguma dúvida?
Já que o casamento da Alice não vai acontecer, é óbvio que ela não vai querer
perder o tempo e vai jogar duro.
ISIS – A empresa é da nossa
família, ela também tem direito. As ações dela são 30%.
MIGUEL – Enfim, mãe. Tenta não
estressar com a Tia Victoria, por favor, ela não vale a pena. Falando em
família, vou jantar com a Alice hoje.
ISIS – Tudo bem.
Miguel levanta-se e dá um beijo na bochecha da sua mãe. Ele sai
e ela volta a pentear o seu cabelo.
CENA 05. RESTAURANTE NORDESTINO. INT. DIA
SONOPLASTIA ON:OH! CHUVA -
FALAMANSA
Dandara e Guilherme estão sentados a mesa. É um restaurante de
comidas típicas nordestinas. A pintura interna é amarela e com cordéis pintados
na parede.
GUILHERME – Muito obrigado por ter
aceitado o convite Dandara. Sei que estou parecendo insistente, mas realmente
estamos precisando fechar toda a nossa chapa.
DANDARA – Eu sei. Não conversei com
a minha mãe sobre, mas eu aceito. Não fujo de nenhuma luta.
GUILHERME (VIBRA) – Fico feliz com
isso, Dandara, você não faz ideia. Precisamos de mais mulheres pretas na câmara
e não há perfil melhor que o seu. Tenho certeza que irá lutar conosco contra o
que está acontecendo em nosso estado e país.
DANDARA – É o meu sonho desde
pequena. Não ser política, mas que minha voz seja ecoada, porque não posso
aceitar de nenhuma forma viver com a injustiça.
GUILHERME – Obrigado, Dandara.
O garçom surge com uma bandeja e coloca as porções na mesa. Há
buchada de bode, feijão tropeiro e entre outras comidas. O garçom se retira.
DANDARA – Eu nunca comi buchada,
acredita? Apesar de amar a cultura nordestina, nunca tive a oportunidade de
experimentar
GUILHERME – Você vai amar.
Dandara sorri e dá uma garfada.
DANDARA – Realmente, é muito
gostoso, diferente, mas gostoso. Só preciso me acostumar com a textura.
GUILHERME – Dandara, vamos projetar
você como a voz dos marginalizados. Fazer que outras comunidades te ouçam,
através de propostas e tudo mais. Eu não tenho dúvidas de que será eleita, pode
ter certeza.
Dandara balança a cabeça em confirmação.
CENA 07. BATALHÃO DO BOPE. ACADEMIA. INT. DIA
Capitão Vasconcelos está sem camisa dando chutes e murros no
saco de pancadas. Ele suspira e começa mais uma vez. O Major Ramalho aparece e
o Capitão bate continência para ele.
MAJ. RAMALHO – O Prefeito Lopes
acabou de me ligar, Capitão.
CAP. VASCONCELOS – O que ele
queria?
MAJ. RAMALHO – Veio me perguntar o
que eu achava de uma possível exoneração sua e ida para a Secretaria de
Segurança.
CAP. VASCONCELOS – E o que o senhor
disse?
MAJ. RAMALHO – Eu disse que não
poderia perder o meu melhor oficial, mas também não posso decidir por você.
CAP. VASCONCELOS – Não posso
aceitar a proposta, major. Eu amo a corporação. Quero me aposentar no BOPE.
MAJ. RAMALHO – Sabe, Diogo, você
sem dúvidas é o melhor oficial que temos aqui, mas isso é uma oportunidade
única, principalmente, porque eu sei quem você é. Ser secretário te deixaria
muito mais livre para passar um tempo com sua esposa e pensar em construir uma
família.
CAP. VASCONCELOS – Sinto muito,
Major, mas não me convenceu. Ainda vou te amedrontar por muito tempo.
Major Ramalho balança a cabeça e dá as costas para o Capitão.
Ele vira-se novamente.
MAJ. RAMALHO – Sua mãe te procurou
no orfanato.
Capitão Vasconcelos muda a postura e seu olhar fica sério.
CAP. VASCONCELOS – Como o senhor
sabe disso?
MAJ. RAMALHO – A Madre Célia me
contou... Olha, rapaz, eu sei que você nunca quis saber quem era sua mãe
biológica, mas não acha que uma hora outra precisará saber?
CAP. VASCONCELOS – Não tenho
interesse em saber.
Capitão Vasconcelos volta a bater no saco de pancadas. Major
Ramalho o observa.
CENA 08. APARTAMENTO DE LUXO. QUARTO. INT. DIA.
Carmem olha o quarto de Guto. Uma lágrima começa a escorrer.
Intercalando com o choro dela, há risos de crianças das memórias dela. Seu
transe é interrompido por Pitaya.
PITAYA – Oh, mãe, não chora.
CARMEM (ENXUGA AS LÁGRIMAS) – Não
se preocupe, minha filha. Eu tô bem. Cadê a sua irmã?
PITAYA – Foi para a casa de uma
amiga nossa.
CARMEM – Por que você não foi?
PITAYA – Ainda não estou pronta pra
sair.
CARMEM – Tente sair,tá? Lembre que
seu irmão não iria gostar nada de te ver assim.
PITAYA – Vou tentar, mãe. Mãe, tem
outra coisa que eu gostaria de falar com a senhora.
CARMEM – E o que seria?
PITAYA – Como o Guto por ser homem
é quem iria assumir os negócios do jogo do bicho, eu pensei em acompanhar o
papai para entender como funciona tudo.
CARMEM (PERPLEXA) – Ficou maluca,
Pitaya? Eu jamais deixaria você ou sua irmã entrar nesse mundo.
PITAYA – Mas se não for eu, vai ter
que ser alguém, ou a senhora quer que venha algum familiar e roube tudo nosso?
CARMEM – Pitaya, esse mundo é
perigoso. Você acha que anda com seguranças pra cima e pra baixo por qual
motivo? Os outros bicheiros também não iriam deixar você assumir nem a
diretoria da banca do seu pai.
PITAYA – Machismo? Me conte uma
novidade.
CARMEM – Não quero você envolvida nisso.
Carmem sai furiosa e Pitaya cruza os braços.
fim do capítulo 11
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