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Entre Laços Quebrados - Capítulo 26 | Última Semana

 

 



ENTRE LAÇOS QUEBRADOS | CAPÍTULO 26

ÚLTIMA SEMANA

Criada e escrita por: Vicente de Abreu
Produção Artística: Ezel Lemos


Essa obra pode conter representações negativas e estereótipos da época em que é ambientada.



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CORTE PARA: 

CENA 01: INT. QUARTO. PENSÃO DE INÁ. 


 O quarto está meticulosamente arrumado, um contraste estranho com a tensão no ar. De repente, Iná para abruptamente. No centro do quarto, Luciana está de pé reluzente, os olhos fixos em sua mãe. Hector se mantém na porta, atônito.

INÁ: (em choque, sussurrando) Luciana...?

LUCIANA: (voz firme) Olá, mãe. Ainda se lembra de mim?


A câmera fecha em um close de Luciana, cujos olhos brilham com uma intensidade perturbadora, transmitindo uma presença que vai além das palavras. 


CONTINUAÇÃO:

CENA 02: INT. QUARTO. PENSÃO DE INÁ. 


LUCIANA: (continuando) O que foi mãe? Você parece surpresa. Surpresa por me ver aqui, viva e de volta.

INÁ: (tentando manter a compostura) Luciana, meu amor, é um milagre você ter acordado do coma. 

LUCIANA: Sabe, mãe, você deveria ter visto como ficou sua cara, agora que me viu. Aliás, como você, realmente, esperava que eu não acordasse?

Iná se esforça para manter a fachada, mas seu nervosismo é palpável.

INÁ: Luciana, eu te amo. Nunca quis…

LUCIANA: (interrompe, com amargura) Amor? Como você pôde me amar quando me abandonou? Quando preferiu sua riqueza e seu status do que cuidar da sua própria filha? E o neto? Você já contou (aponta para Hector) para o seu amigo aí, que você tem um neto? (pausa) Olha pra você, subiu mesmo de vida! Você sempre quis isso!  Agora, aqui está você, uma mulher que era simples e agora está o que? Rica? Já eu, vou passar minha vida nesta pensão, não é mamãe? Sem meu filho, sem você.. Deve ser reconfortante para você, não é?

HECTOR: (confuso) Iná, o que está acontecendo?

INÁ: (tensa, para Hector) Hector, isso é... é um momento muito difícil. Por favor, pode nos dar um minuto?

HECTOR: (claro, preocupado) Claro. Estarei lá fora.

Hector sai do quarto, fechando a porta. Luciana e Iná ficam frente a frente.

INÁ: Luciana, você não entende...

LUCIANA: (com voz baixa, mas carregada de mágoa) Eu entendo mais do que você imagina. Eu soube de tudo, mãe. 

 Tudo para manter sua nova vida perfeita enquanto eu estava aqui, lutando pela minha vida.

INÁ: (desesperada) Luciana, eu fiz o que pude! Eu pensei que estava fazendo o melhor para nós!

LUCIANA: (com ironia) O melhor para nós? Deixar sua filha em um coma induzido, enquanto você desfruta dos frutos do seu "melhor"? Você realmente acreditou que eu nunca mais acordaria, não é?

Luciana se aproxima lentamente de Iná, seu olhar fixo no rosto da mãe que agora parece mais vulnerável do que nunca.

LUCIANA: (olhos em chamas) Primeiro me expulsou de casa e me abandonou, grávida. E depois vendeu meu filho. Como você pôde?

INÁ: (sarcástica) Ah, Luciana, sempre tão dramática. Você não entende. Eu sofri também. Mas veja onde estamos agora. Eu consegui uma nova vida na Argentina. Consegui dinheiro, uma estabilidade que nunca imaginei ter. Conheci Hector e nós estamos felizes. Isso não conta para nada?


LUCIANA: (raiva e dor) Felicidade às custas da minha desgraça? Você nem imagina o que é sofrimento. Eu acordei de um coma, sozinha, sem meu filho, sem saber onde você estava.


INÁ: (fria) Eu fiz o que achei necessário. E sim, estou feliz com a vida que construí. Se isso te machuca, lamento, mas não vou pedir desculpas por ter encontrado uma forma de sobreviver e prosperar. Você precisa entender que a vida continua. Meu caminho é na Argentina, com o dinheiro que ganhei, com a vida que montei e com o homem que casei. Você é adulta, agora é sua vez de seguir seu caminho. Sozinha.

Luciana encara a mãe, o rosto uma mistura de dor e incredulidade. Iná permanece impassível, um leve sorriso cínico nos lábios.

LUCIANA: (com a voz tremendo de raiva) Você é monstruosa.

Sem aviso, Luciana desfere um tapa no rosto de Iná, o som ecoa pelo quarto. Iná leva a mão ao rosto, surpresa, mas o sorriso cínico não desaparece completamente.

INÁ: (com frieza) Isso não vai mudar nada, Luciana. Você ainda está sozinha.

LUCIANA: (determinada) Não, mãe. Eu já encontrei o meu filho, e vou fazer você pagar por tudo que fez. Você vai ver a justiça ser feita.

Luciana vira as costas, saindo do quarto com passos firmes, determinada. Iná a observa, ainda com o sorriso cínico, mas agora um leve toque de preocupação em seus olhos.


CENA 03: INT. CELA DA DELEGACIA - NOITE

A cela é um lugar sombrio, as paredes de concreto parecem fechar-se sobre Heloísa, que está encolhida em um canto, abraçando os joelhos. Seus olhos estão arregalados e vidrados, como se estivesse vendo algo que não está ali. Ela treme incontrolavelmente, sua respiração é rápida e irregular.

HELOÍSA: (sussurrando para si mesma, repetidamente) Ele é meu... ele é meu... Matheus é meu...

De repente, ela começa a ouvir risadas e sussurros ao seu redor, vozes invisíveis que zombam dela. Seus olhos se movem freneticamente, tentando localizar a fonte do som.

VOZES: (V.O.) Você é uma fraude... Ele nunca foi seu... Ele nunca foi seu...

Heloísa tapa os ouvidos, mas as vozes apenas ficam mais altas, reverberando em sua mente. Ela começa a arranhar as paredes da cela com unhas quebradas, deixando marcas de sangue.

HELOÍSA: (gritando) Calem-se! Calem-se! Deixem-me em paz!

A porta da cela se abre com um som estridente, revelando Guilherme, que entra com uma expressão de pânico e preocupação. Ele se aproxima lentamente, observando o estado frenético de Heloísa.

GUILHERME: (suave, mas urgente) Heloísa...

Heloísa se vira bruscamente, seus olhos cheios de loucura e dor. Ela corre para ele, agarrando seus braços com uma força surpreendente, quase machucando-o.

HELOÍSA: (desesperada, gritando) Guilherme! Eles estão mentindo! Matheus é nosso filho! Eu não fiz nada errado! Você tem que acreditar em mim!

Guilherme tenta acalmá-la, mas Heloísa está fora de controle, puxando-o para mais perto, como se ele fosse sua única âncora na realidade.

GUILHERME: (tentando ser firme) Heloísa, por favor, você precisa se acalmar. 

Heloísa balança a cabeça freneticamente, lágrimas escorrendo em cascata pelo seu rosto pálido. Ela aperta ainda mais os braços de Guilherme, quase implorando por sua sanidade.

HELOÍSA: (chorando, quase incoerente) Eles estão mentindo! Eu não comprei Matheus! Ele é nosso! Nosso! Por favor, acredite em mim, Guilherme!

As vozes em sua cabeça agora são ensurdecedoras, rindo e gritando ao mesmo tempo. Heloísa solta um grito estridente, um som que parece rasgar sua alma. Ela se afasta de Guilherme, arrancando tufos de cabelo, batendo a cabeça contra a parede.

VOZES (V.O.): Você nunca foi boa o suficiente... Ele nunca vai acreditar em você...

HELOÍSA: (gritando, insana) Não! Não! Eu não sou uma fraude! Ele é meu filho! Meu filho!

Guilherme a segura com força, tentando impedir que ela se machuque ainda mais. Seus olhos estão cheios de lágrimas enquanto ele tenta transmitir qualquer forma de conforto em meio ao caos.

GUILHERME: (sussurrando, desesperado) Heloísa, calma! Você vai ficar bem, vai ficar tudo bem.

Heloísa finalmente colapsa, soluçando violentamente enquanto se afunda no peito de Guilherme. As vozes em sua cabeça continuam a rir e sussurrar, mas sua exaustão emocional a deixa quase catatônica. Guilherme a segura firmemente, lágrimas caindo silenciosamente enquanto ele acaricia seu cabelo.


CENA 04: INT. CINE LUZ.

[ TRILHA ON: Elza Soares — Espumas ao Vento (Áudio Oficial) ]

Enquanto Rubi se prepara com cuidado na penumbra da cabine do Cine Luz, vestindo uma lingerie que revela mais do que esconde, seu coração está pesado com a tristeza que a acompanha. Ela ajusta o cabelo e retoca a maquiagem, tentando ignorar a sensação de vazio que a consome por dentro.

Do outro lado das cortinas vermelhas, Tigre coloca as fichas para observar a próxima performance. Seus olhos, intensos e apaixonados, fixam-se na cortina que separa o desejo da realidade. Ele espera ansiosamente, sem saber que do outro lado está Rubi.

O momento se prolonga, cada um imerso em seus pensamentos e emoções. Rubi sente o peso da noite sobre seus ombros, enquanto Tigre, com expectativa, aguarda o instante em que a cortina se abrirá.

Quando finalmente as cortinas se abrem, seus olhares se encontram em um encontro carregado de significado não dito. A intensidade do olhar de Tigre reflete o amor não resolvido, enquanto Rubi, entre a máscara da sedução e a vulnerabilidade da sua alma, enfrenta a presença inesperada daquele que um dia foi tudo para ela.


CORTA PARA:

CENA 05: INTERIOR - BAR.

Rubi e Tigre estão sentados em um canto discreto do bar, longe das luzes e da agitação da cidade. A tensão entre eles é palpável, carregada de anos de silêncios não ditos e memórias compartilhadas.

RUBI: (quebrando o silêncio, com voz sussurrante) Tigre... Por que você voltou?

TIGRE: (olhando para ela com sinceridade) Eu nunca te esqueci, Rubi. Por mais que eu tenha tentado seguir em frente, você sempre esteve aqui. Ele toca o próprio peito com um gesto significativo.

RUBI: (segurando o copo de bebida com mãos trêmulas) E por que agora?

TIGRE: (baixando o olhar por um momento, antes de encontrá-la novamente) Porque eu percebi que não posso mais fugir do que sinto. Eu só quero você de volta, Rubi. A velha amiga. A mulher que eu amo.

Rubi parece surpresa e triste ao mesmo tempo.

RUBI: (vulnerável) Você realmente me vê como uma mulher, Tigre?

TIGRE: (com sinceridade) Sim, Rubi. Sempre vi.

Rubi parece ainda mais triste, como se estivesse carregando um peso sobre os ombros.

RUBI:  (olhando nos olhos dele) Eu... eu preciso te contar algo, Tigre. Eu e Otávio terminamos. A esposa dele descobriu sobre nós. E... eu descobri algo sobre ele que mudou tudo.

Tigre a escuta atentamente, seus olhos expressando preocupação.

TIGRE: (o tom suaviza) O que foi, Rubi?

RUBI: (abaixando o olhar por um instante) Otávio... ele fantasiava sobre ficar com uma mulher trans. Eu... eu não sabia. Foi difícil aceitar que ele não me via da forma que eu desejava ser vista.

Há um momento de silêncio tenso enquanto Tigre processa as palavras de Rubi.

TIGRE: (com compaixão) Sinto muito que você tenha passado por isso, Rubi. Mas para mim, você sempre será a mulher incrível que eu conheci.

Rubi olha para ele, lutando contra as lágrimas, mas também encontrando conforto nas palavras dele.

RUBI: (um suspiro) Eu não sei o que fazer agora, Tigre.

TIGRE: (colocando a mão sobre a dela) Estou aqui, Rubi. Para o que você precisar. E se precisar de tempo, eu espero.


CENA 06: EXT. PETRÓPOLIS - MANHÃ

A câmera lentamente revela as montanhas envoltas em névoa matinal. O céu está tingido de rosa e laranja suave conforme o sol começa a surgir no horizonte. Gotas de orvalho brilham nas folhas das árvores centenárias do Palácio Quitandinha. Corta para a Praça da Liberdade, onde pedestres começam a caminhar sob a luz suave do amanhecer. Um vendedor ambulante prepara sua barraca de café, enquanto o som distante de cavalos sendo preparados para o dia ecoa pelos arredores.

No centro da praça, a estátua de Dom Pedro II parece observar silenciosamente o despertar da cidade que um dia foi seu refúgio.


CENA 07: INT. CONSULTÓRIO MÉDICO - DIA

O ambiente é tranquilo, com paredes em tons claros e alguns diplomas emoldurados pendurados. Débora, está sentada na cadeira de frente para a mesa do médico. Ela parece nervosa, mexendo nas mãos. O médico, um senhor mais velho, entra na sala com um sorriso amigável.

MÉDICO: Bom dia, Débora. Como você está hoje?

DÉBORA: (tentando sorrir) Oi, doutor. Eu... eu preciso fazer uns exames de sangue.

MÉDICO: (claro) Claro, sem problemas. Mas qual é a razão específica? Alguma coisa que esteja te preocupando?

Débora hesita, olhando para suas mãos, e então olha para cima, seus olhos cheios de lágrimas.

DÉBORA: (Ela respira fundo, desabando) Eu... eu descobri que o Otávio me traiu.

O médico se inclina para frente, com uma expressão de empatia e preocupação.

MÉDICO: Oh, Débora... sinto muito ouvir isso. Deve ser muito difícil para você. Mas me diz, há quanto tempo você descobriu?

DÉBORA: (chorando) Há alguns dias. Eu... eu não consigo parar de pensar nas consequências. E se ele... me passou alguma coisa?

MÉDICO: (voz calma e reconfortante) Entendo. Vamos fazer todos os exames necessários, está bem? Para garantir que você está saudável. Mas quero que saiba que estou aqui para te apoiar em qualquer coisa que precisar.

DÉBORA: Obrigada, doutor. Eu só... eu me sinto tão perdida.

MÉDICO: Isso é compreensível. É um choque muito grande. Além dos exames, acho que pode ser útil considerar falar com um terapeuta. Terapia pode te ajudar a lidar com essa situação. E, se você achar que é algo que possa ajudar, também pode pensar em uma terapia de casal. Às vezes, ter um espaço seguro para conversar pode ser muito benéfico.

DÉBORA: (vagarosamente acenando com a cabeça) Talvez. Eu nem sei se quero continuar com ele...

MÉDICO: Eu entendo. É uma decisão muito pessoal e difícil. Mas não precisa decidir nada agora. O importante é cuidar de você primeiro. Vou pedir os exames agora mesmo, e você terá os resultados em poucos dias. Enquanto isso, se precisar conversar, pode me procurar. E posso te recomendar alguns bons terapeutas, se você quiser.

DÉBORA: (simplesmente) Obrigada, doutor.

O médico sorri gentilmente e começa a anotar no prontuário. Débora limpa as lágrimas, tentando recuperar a compostura.

MÉDICO: Tudo bem. Vou pedir uma série de exames. Pode ir até o laboratório aqui mesmo e coletar as amostras. E, Débora, se cuide, está bem?


CORTA PARA:

CENA 08: INT. SALA DE ESPERA DE CONSULTÓRIO PSICOLÓGICO - MAIS TARDE

Débora está sentada nervosamente na sala de espera, olhando fixamente para a porta, esperando a chegada de Otávio. Ela respira fundo várias vezes, tentando acalmar seus nervos. Otávio entra na sala com passos hesitantes, percebendo a tensão no ar.


OTÁVIO: (olhando para Débora com preocupação) Débora, o que está acontecendo? Por que estamos aqui?

DÉBORA: (erguendo os olhos para ele, com seriedade) Vem comigo.

Débora se levanta e conduz Otávio até a porta do consultório da psicóloga. Ele a segue, seu semblante se tornando cada vez mais tenso à medida que se aproximam.


CORTA PARA:

CEMA 09: INT. CONSULTÓRIO PSICOLÓGICO - CONTÍNUO

Eles entram no consultório.A psicóloga, os recebe com um sorriso gentil, mas percebe imediatamente a atmosfera carregada.

PSICÓLOGA: Olá, Otávio, Débora. Por favor, sentem-se.

Ela indica duas cadeiras em frente à sua mesa. Débora se senta, visivelmente tensa, enquanto Otávio permanece de pé por um momento, ainda perplexo.

OTÁVIO: (suspeitando) Débora, o que está acontecendo? Por que estamos aqui com a psicóloga?

PSICÓLOGA: (calma e empática) Otávio, a Débora me contou que descobriu algo que a deixou muito abalada. Ela gostaria de discutir isso com você aqui, num ambiente seguro.

Otávio olha de Débora para a psicóloga, sua expressão alternando entre confusão e preocupação crescente.

OTÁVIO: (inquietação na voz) Débora, do que você está falando? O que está acontecendo?

DÉBORA: (olhando diretamente para Otávio, com determinação) Você traiu a nossa confiança, Otávio. Com a Rubi.

Otávio parece atordoado por um momento, tentando processar a acusação.

OTÁVIO: (a voz um pouco alterada) Rubi? Quem... quem é Rubi?

DÉBORA: (olhando para a psicóloga e de volta para Otávio, com uma mistura de tristeza e raiva contida) Rubi é uma travesti, Otávio.

Otávio fica visivelmente chocado, incapaz de articular uma resposta imediata. A psicóloga intervém, mantendo a calma e orientando a conversa.

PSICÓLOGA: Vamos respirar fundo, todos. Otávio, entendo que isso possa ser uma surpresa para você. Como você está se sentindo agora?

Otávio olha para Débora, sua mente lutando para entender a situação.

OTÁVIO: (tentando encontrar palavras) Eu... eu não sei o que dizer. Débora, isso não é o que você está pensando...

DÉBORA: (olhos cheios de lágrimas) Como não é, Otávio? Eu vi as mensagens, as fotos... Eu não acredito que você fez isso comigo.

O ambiente na sala é tenso e carregado de emoções não ditas enquanto todos tentam lidar com a revelação.

PSICÓLOGA: Vamos tentar manter a calma aqui. Otávio, o que você tem a dizer sobre isso?

OTÁVIO: (olhando para a psicóloga e então para Débora, com uma expressão de desespero) Eu... eu preciso explicar...

DÉBORA: (olhando para Otávio com intensidade) Eu não sei se consigo ouvir mais alguma coisa, Otávio.

Otávio olha para Débora, sua mente lutando para entender a situação. Ele respira fundo, levanta-se abruptamente da cadeira.

OTÁVIO: (com um misto de frustração e desespero)Chega! 

Otávio sai do consultório às pressas, deixando Débora e a psicóloga em silêncio, ambos visivelmente abalados com a situação.

PSICÓLOGA: (suavemente) Débora, como você está se sentindo agora?

Débora olha para a porta pela qual Otávio saiu, uma mistura de dor e incerteza em seu rosto.

DÉBORA: (com a voz embargada) Eu... eu não sei. Desculpe! 

O silêncio pesado preenche o consultório, enquanto Débora tenta processar o que acabou de acontecer.


CENA 10: INT. CASA DE MARLENE. TARDE.

Luciana está sentada no sofá, ainda visivelmente abalada pelo encontro com Iná. Marlene, senta-se ao seu lado, preocupada.


MARLENE: (com carinho) Luciana, minha querida, o que aconteceu? Você está tão perturbada.

LUCIANA: (respira fundo, tentando se acalmar) Eu vi minha mãe, Marlene. Iná... Ela está aqui.

MARLENE: (surpresa) Iná? Mas como...?

LUCIANA: (frustrada) Ela está de volta, Marlene. E não mudou nada. Continua a mesma mulher fria e cruel de sempre.

MARLENE: (pousa a mão no ombro de Luciana) Eu sinto muito, querida. Deve ter sido muito difícil revê-la depois de tudo.

LUCIANA: (com os olhos marejados) Ela me abandonou, Marlene. Grávida. E depois vendeu meu filho. Não consigo entender como uma mãe pode fazer isso.

MARLENE: (com compaixão) Algumas pessoas são assim, Luciana. Elas colocam seus interesses à frente de tudo mais, até mesmo de seus filhos.

LUCIANA: (com determinação) Mas eu não vou desistir, Marlene.

MARLENE: (apoiando) Você vai conseguir, Luciana. Eu estarei aqui ao seu lado, como sempre.

LUCIANA: (agradecida) Obrigada, Marlene. Você é como uma mãe para mim.


CORTA PARA:


CENA 11: EXT. PRAIA DE BÚZIOS. 

O som suave das ondas quebrando na areia preenche o ambiente tranquilo. Luciana caminha ao longo da orla, perdida em seus pensamentos, os cabelos ao vento.

Luciana para abruptamente ao ver Hector, de pé à beira-mar, observando as ondas. Ele pareceu notar a presença dela e se vira com um sorriso gentil.

HECTOR: (com um leve sotaque argentino) Luciana, posso falar com você?

LUCIANA: (surpresa) Hector? O que você está fazendo aqui?

HECTOR: (se aproximando) Eu queria falar com você, sem que Iná soubesse. Ela me contou uma versão da história de vocês, mas eu sinto que há mais para entender.

LUCIANA: (irritada) Ah, claro. A versão de Iná. Deve ter sido bem convincente.

HECTOR: (com calma) Ela disse que você a abandonou, Luciana. Que foi você quem virou as costas para ela quando mais precisava.

LUCIANA: (indignada) Isso é mentira, Hector! Ela me abandonou quando eu mais precisei dela. Grávida, sozinha, em um hospital.

HECTOR: (sério) Eu quero acreditar em você, Luciana. Mas por que Iná mentiria sobre algo assim?

LUCIANA: (com dor) Porque é mais fácil para ela se fazer de vítima do que admitir o que fez. Ela vendeu meu filho, Hector. Ela escolheu dinheiro e uma vida nova em vez de cuidar da própria filha.

HECTOR: (refletindo) Eu não sabia dessa parte da história. Iná nunca mencionou nada sobre um filho.

LUCIANA: (triste) Ela provavelmente achou melhor esconder isso. Mas eu sei a verdade. E vou encontrar meu filho, custe o que custar.

HECTOR: (apoiando) Eu entendo, Luciana. Se precisar de alguma ajuda, estou aqui.

LUCIANA: (grata) Obrigada, Hector. É bom saber que ainda há alguém do lado certo.

Luciana olha para o mar, sentindo um leve alívio por ter alguém ao seu lado. Hector fica ao seu lado, ambos contemplando o horizonte juntos.


CENA 12: CIDADE DO RIO DE JANEIRO. EXT. ANOITECER

O Pão de Açúcar e o Cristo Redentor destacam-se contra o céu estrelado. Luzes dos prédios da Zona Sul refletem na Baía de Guanabara. Na Avenida Atlântica, pessoas passeiam sob postes iluminados, ao som das ondas em Copacabana. Na Lapa, os Arcos se destacam sob luzes noturnas. Música ao vivo ecoa de bares, enquanto casais admiram a cidade do terraço de um prédio alto.


CENA 13: INT. APARTAMENTO DE RUBI. NOITE

[TRILHA ON: Private Dancer (2015 Remaster)]

Rubi entra no apartamento. Ela fecha a porta suavemente atrás de si e hesita por um momento, sentindo a quietude opressiva do lugar. Ao olhar ao redor, percebe que algo está estranho. O apartamento está completamente vazio. Ela avança, o coração martelando em seu peito, cada passo ecoando no vazio cavernoso das paredes nuas. Ela segue para o quarto, onde a visão apanha seu fôlego. O guarda-roupa agora está vazio. 

As roupas de Otávio, que um dia perfumaram o ambiente com sua presença, desapareceram. Em seu lugar, suas próprias roupas estão meticulosamente dobradas dentro de uma caixa de papelão, como se ela fosse a intrusa em seu próprio lar.

Rubi fica parada, a devastação desabando sobre ela com a força de um furacão emocional. Lágrimas ardentes ameaçam inundar seus olhos, testemunhas silenciosas da ferida aberta em seu peito.


CORTA PARA:


CENA 14: INTERIOR - CASA DE LEONA - NOITE

Rubi entra na casa de Leona, ela está visivelmente abalada, os ombros curvados e uma pequena bolsa em sua mão. Leona está na sala, seus olhos captando imediatamente a dor estampada no rosto de Rubi.

LEONA: (com preocupação) Rubi, meu Deus, o que aconteceu?

Rubi não responde. Em vez disso, ela se aproxima de Leona e a abraça com força, deixando as lágrimas finalmente fluírem livremente. Leona envolve Rubi em seus braços com ternura, compreendendo que palavras são desnecessárias neste momento de desolação.

Tigre, observa a cena com olhos que transbordam compaixão. Ele se aproxima de Rubi e se deita aos seus pés, como se soubesse exatamente o que ela está passando. Seu olhar é uma mistura de tristeza pela dor de Rubi e alegria por vê-la de volta

A câmera se afasta lentamente, capturando o trio - Rubi, Leona e Tigre.


CENA 15: INT. SUÍTE GUILHERME E HELOÍSA. MANSÃO ROSSI. 

Guilherme, termina seu banho na suíte. A luz fraca do abajur ilumina o quarto enquanto ele observa seu filho pequeno, Matheus, dormindo serenamente na cama ao lado.

GUILHERME: (sussurrando para si mesmo): Meu pequeno...

Ele caminha pelo quarto, passando pelo retrato de Heloísa sorrindo ao lado dele em dias mais felizes. Um suspiro pesado escapa de seus lábios enquanto ele olha para o retrato com uma mistura de amor e tristeza.

Guilherme, sentindo uma angústia crescente, decide revirar discretamente as gavetas e o guarda-roupa de Heloísa, como se procurasse respostas que temia encontrar. Entre os pertences dela, ele descobre um fundo falso dentro de uma gaveta. Com mãos trêmulas, ele abre a caixa que estava escondida ali.

Dentro da caixa, Guilherme encontra várias anotações manuscritas de Heloísa, descrevendo seu desejo ardente de ser mãe, suas esperanças e seus medos. Seus olhos se enchem de lágrimas ao perceber o quão profundo era o anseio dela por um filho.

Mas o que mais o impacta é encontrar uma barriga de grávida falsa, cuidadosamente guardada. Seu coração aperta enquanto ele entende o significado disso tudo. Ele olha para Matheus, agora uma figura inocente adormecida na cama, e a verdade se forma dolorosamente em sua mente.

GUILHERME: (sussurrando, com a voz embargada): É verdade.. não é meu filho!

Uma onda de emoções o invade - a traição da confiança, a dor da descoberta e a incerteza do futuro. Ele se senta no chão, segurando as anotações de Heloísa junto ao peito, enquanto lágrimas silenciosas rolam por suas bochechas.

A cena termina com Guilherme olhando para o quarto silencioso, abraçando as palavras deixadas por sua esposa, incapaz de desfazer a verdade dolorosa que acabou de descobrir.


CENA 16: INT. CASA DE OTÁVIO E DÉBORA. NOITE

Otávio entra em casa, tenso e visivelmente abalado. Débora o aguarda na sala de estar, com uma expressão mista de ansiedade e decepção. Assim que ele fecha a porta, ela se vira para ele.


DÉBORA: (séria) O que está acontecendo, Otávio? Por que você foi embora daquela forma e sumiu o restante do dia?

Otávio respira fundo, tentando encontrar as palavras certas.

OTÁVIO: (olhando para ela com angústia) Débora, eu não sei por onde começar... Aquilo na psicóloga foi uma surpresa para mim também.

DÉBORA: (levemente sarcástica) Uma surpresa? Então você não sabia que estava envolvido com uma pessoa como a Rubi?

OTÁVIO: (levantando a voz) Não é isso, Débora! Eu não sabia quem ela era de verdade! Ela... ela não me disse!

DÉBORA: (elevando a voz) E desde quando isso importa, Otávio? Você me traiu!

Otávio parece frustrado e confuso.

OTÁVIO: (com raiva) Eu não sou gay, Débora! Eu não sei quem eu sou ou o que eu sinto agora!

Débora o encara, os olhos cheios de lágrimas.

DÉBORA: (com voz trêmula) Então quem é você, Otávio? Porque eu não reconheço mais o homem com quem me casei.

Há um momento de silêncio tenso enquanto os dois se encaram, as emoções à flor da pele.

OTÁVIO: (mais suavemente, quase implorando) Débora, eu... eu sinto muito. Eu não queria que isso acontecesse. Eu me perdi, me confundi...

DÉBORA: (com amargura) Perdão não vai consertar isso, Otávio. Eu pensei que te conhecia, que nós tínhamos algo verdadeiro.

Débora se vira e caminha até o quarto, deixando Otávio sozinho na sala. Ele assiste, impotente, enquanto ela começa a empacotar suas roupas em algumas malas.

OTÁVIO: (desesperado) Débora, por favor, me escuta. Nós podemos superar isso juntos.

Débora retorna rapidamente com as malas já preparadas, carregando-as com determinação.

DÉBORA: (sem olhar para ele) Eu já fiz as suas malas, Otávio.

Otávio olha para as malas, atordoado e perdido por palavras.

OTÁVIO: (com um nó na garganta) Débora, por favor... Não faz assim. A gente pode tentar resolver isso de outra forma.

Débora continua silenciosa, terminando de pegar as malas.

DÉBORA: (com voz firme, finalizando) Eu preciso de um tempo, Otávio. Para pensar... e para decidir o que fazer. Por favor, saia da minha casa!

Débora sai da sala, deixando Otávio sozinho, parado no centro.


CENA 16: INT. MANSÃO ROSSI. NOITE

Hilda conversa animadamente com Dante e Stênio.. Guilherme se junta a eles, mas a tensão em seu rosto é palpável.


HILDA:: Estou tão aliviada que Otto está se recuperando bem. Vou visitá-lo amanhã, no dia de visitas.

STÊNIO: Ele é forte. Vai sair dessa mais rápido do que esperamos.

Guilherme mexe na comida, sem conseguir comer. Hilda percebe sua inquietação e se vira para ele, preocupada.

HILDA:: Guilherme, querido, como está Heloísa? Ela não veio jantar hoje?

Guilherme levanta o olhar lentamente, seus olhos cheios de uma tristeza devastadora.

GUILHERME:(com voz embargada): Heloísa... Heloísa foi presa.

Um silêncio ensurdecedor cai sobre a mesa. Hilda deixa os talheres caírem, seus olhos arregalados de choque.

HILDA:: Presa? Pelo amor de Deus, por quê?

GUILHERME: (respirando fundo, tentando conter as lágrimas): Ela... ela comprou Matheus. Ele não é nosso filho. Heloísa comprou o bebê de Luciana, aquela jovem que estava em coma no hospital.

Hilda cobre a boca com a mão, seus olhos cheios de horror e incredulidade. Dante e Stênio ficam paralisados, processando a revelação.

HILDA:: Isso... isso é impossível...

Guilherme, com uma expressão de desespero e raiva, tira uma caixa de sua bolsa e a coloca sobre a mesa. Dentro, estão as anotações de Heloísa e a barriga de grávida falsa. Ele espalha os itens na mesa, como se expusesse uma evidência irrefutável.

GUILHERME:: É verdade. Encontrei isso escondido nas coisas de Heloísa. Ela escreveu sobre como precisava ser mãe. E a barriga falsa... ela fingiu a gravidez o tempo todo.

A revelação cai como uma bomba na sala de jantar. Hilda, em estado de choque, tenta falar, mas sua voz falha.

HILDA: (com a voz trêmula): Mas... Luciana... Luciana é mãe do bebê. E... e Otto é o pai. Eu já sabia disso.

Todos se viram para Hilda, suas revelações ampliando o choque e a tensão no ar.

DANTE: (em tom de acusação): Você sabia, mãe? E não contou a ninguém?

HILDA: (com lágrimas nos olhos): Eu sabia... mas nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer.

Guilherme, tomado pela dor e pela traição, encara Hilda com intensidade.


CENA 17: INT. CELA. DELEGACIA DE POLÍCIA - NOITE

Heloísa, visivelmente perturbada, caminha de um lado para o outro na pequena cela. Seu olhar vago e agitado revela uma mente atormentada pela esquizofrenia. Ela murmura consigo mesma, perdendo o controle.

HELOÍSA: (sussurrando) Eles estão vindo... todos eles... não posso deixar... não posso deixar...

Com um movimento súbito, Heloísa começa a revirar os poucos objetos pessoais na cela, jogando-os violentamente pelo chão. Entre os destroços, seus olhos caem sobre uma pequena abertura na parede, quase imperceptível.

Seus lábios se contorcem em um sorriso maníaco enquanto ela se aproxima, examinando cada detalhe da rota de fuga escondida. Com uma determinação assustadora, Heloísa começa a manipular meticulosamente a abertura, removendo com cuidado partes da parede.

O som de tijolos se deslocando ecoa na cela silenciosa enquanto Heloísa trabalha freneticamente. Sua respiração se torna irregular, seus movimentos descoordenados misturam-se com risos histéricos.

HELOÍSA: (gritando) Liberdade! Eles não podem me prender!

Em um último esforço de insanidade, Heloísa consegue abrir um espaço suficiente na parede. Ela olha para a passagem estreita com olhos dilatados, seu corpo trêmulo de excitação.

Cortar para a escuridão que a espera do lado de fora da cela, enquanto Heloísa se arrasta para dentro da rota de fuga, desaparecendo na escuridão com um sorriso distorcido no rosto.


CENA 18: INT. PASSAGEM ESCURA - NOITE

Heloísa avança pela passagem estreita, a escuridão ao redor é opressora, seus passos ecoam como batidas de tambor em seus ouvidos. Ela se arrasta, as mãos e joelhos sujos de terra e poeira, mas seu semblante é de triunfo.

HELOÍSA: (sussurrando para si mesma) Eu escapei... eles não vão me encontrar aqui...

Os murmúrios em sua mente se intensificam, vozes indistintas ecoam na escuridão, sussurrando segredos inquietantes.

VOZES: Ela está fugindo... não devia ter deixado... vamos pegá-la...

Heloísa treme, mas sua determinação a impulsiona adiante. Ela se arrasta mais rápido, o ar úmido e o cheiro de mofo a envolvem enquanto avança pelo labirinto desconhecido.

De repente, um feixe de luz fraca surge à frente. Heloísa se aproxima cautelosamente e encontra uma escotilha enferrujada. Com mãos trêmulas, ela a empurra com dificuldade, revelando um túnel abandonado.

HELOÍSA: (gritando para as vozes) Eu sou livre! Ninguém pode me parar agora!

Ela se lança pelo túnel, correndo como uma sombra enlouquecida, sua risada ecoando pelas paredes úmidas. Cada passo a leva mais fundo na escuridão desconhecida, sua mente oscilando entre a lucidez e a loucura.

HELOÍSA: (ofegante) Eu sou invencível... nada pode me deter...

O túnel se estende à sua frente, um labirinto de possibilidades e perigos. Heloísa desaparece na escuridão, seu destino incerto, enquanto a cena desaparece em um silêncio inquietante.


 CENA 19: INT. PENSÃO DE INÁ. BÚZIOS. 


Iná está sentada no sofá, visivelmente ansiosa e nervosa, mas tentando manter a compostura. Ela se levanta ao ouvir a porta abrir, revelando Hector entrando.

INÁ: (tentando soar casual) Hector, você esteve fora o dia todo. Onde esteve?

HECTOR: (calmo, mas atento) Eu pensei que você precisaria de tempo para resolver suas questões com Luciana sozinha.

INÁ: (com um sorriso forçado) Ah, sim. Claro. Foi um encontro... difícil. Luciana nunca me amou de verdade, Hector. Ela sempre foi ingrata.

HECTOR: (cético) Nunca te amou? Isso parece um pouco extremo, Iná. Afinal, ela é sua filha.

INÁ: (fazendo drama) Você não entende, Hector. Desde que ela era pequena, sempre foi rebelde, sempre me desafiou. Quando ela engravidou, foi a gota d'água. Ela me culpou por tudo, me abandonou.

HECTOR: (franzindo a testa) E como você conseguiu dinheiro para ir para a Argentina e começar uma nova vida? Você sempre reclamava da falta de dinheiro quando vivia aqui na pensão.

Iná fica visivelmente desconfortável, tentando evitar o olhar de Hector.

INÁ: (desviando o olhar) Eu... eu fiz o que precisava ser feito. Consegui um trabalho, economizei...

HECTOR: (insistente) Iná, eu sei que tem mais do que isso. Você nunca mencionou como exatamente conseguiu tanto dinheiro em tão pouco tempo.

INÁ: (nervosa) Isso não importa, Hector. O que importa é que estamos bem agora, temos uma vida confortável na Argentina. Por que você está trazendo isso à tona?

HECTOR: (sério) Porque eu quero a verdade, Iná. Não apenas a versão que você escolheu contar. Luciana está sofrendo, e se você realmente quer resolver essa situação, precisa ser honesta.

INÁ: (perdendo o controle) Não se meta na minha relação com Luciana, Hector! Isso não é da sua conta!

HECTOR: (elevando o tom) É da minha conta, sim! Nós somos casados agora. A sua relação com Luciana afeta a nossa vida também. Eu tenho o direito de saber o que realmente aconteceu.

INÁ: (furiosa) Você não entende nada! Você não estava aqui, não sabe o que eu passei. Fiz o que precisava ser feito para garantir um futuro melhor para mim, para ela, para o bebê!

HECTOR: (diretamente) Entendo que você teve que tomar decisões difíceis, mas esconder a verdade não é a solução. Se quisermos seguir em frente, precisamos ser honestos.

INÁ: (explodindo) Honestos? Você quer honestidade? Eu vendi o filho dela! Está satisfeito agora? Eu fiz o que achei necessário para sobreviver e nos dar uma vida melhor!

HECTOR: (espantado, mas firme) Então é verdade! Você vendeu o neto? Como pôde fazer isso, Iná? Que tipo de pessoa faz isso com a própria filha?

INÁ: (defensiva) Você não entende! Eu estava desesperada. Precisava do dinheiro, precisava fugir daquela vida miserável.

HECTOR: (com raiva) E a vida da sua filha? O sofrimento dela? Você simplesmente a deixou para trás, vendendo seu próprio neto! Isso é monstruoso, Iná!

INÁ: (com frieza) Eu fiz o que tinha que fazer. E agora, você vai continuar a me julgar ou vai me apoiar?

HECTOR: (determinado) Eu não posso apoiar isso, Iná. Você precisa enfrentar as consequências dos seus atos. E eu estarei aqui para garantir que a verdade venha à tona.

Iná fica em silêncio, os olhos ardendo de raiva e frustração. Hector a encara por um momento antes de sair do cômodo, deixando Iná sozinha. 


CORTA PARA:


CENA 20: EXT. VARIEDADES DE CENÁRIOS - PASSAGEM DE DIAS

[ TRILHA ON: Lama- Elza Soares ] 


Otto está sentado em uma cadeira de plástico, olhando para fora pela janela. Ele vê a grama verde e as pessoas passeando pelos jardins. Uma enfermeira entra com um tabuleiro de xadrez, mas Otto não se move, sua mente está longe.Na rua, Heloísa está deitada no chão, encolhida sob um cobertor velho e sujo. A noite cai, e ela parece ainda mais exausta e desamparada. As pessoas passam apressadas, ignorando sua presença. A câmera se afasta lentamente, revelando a indiferença ao redor.

Na delegacia de polícia, a Detetive Maria e sua equipe analisam mapas e documentos sobre a mesa. Fotos de Heloísa, Luciana e Matheus estão espalhadas. A tensão é palpável enquanto eles tentam montar as peças do quebra-cabeça.

De volta à rua, Heloísa ainda está no chão. Um grupo de voluntários se aproxima, trazendo café e cobertores limpos. Uma voluntária se ajoelha ao lado de Heloísa, oferecendo ajuda. Heloísa hesita, mas seus olhos revelam um desejo profundo por algum tipo de alívio.

A câmera sobe lentamente, revelando a cidade ao fundo, com suas luzes brilhando enquanto a investigação continua, as vidas se entrelaçam e a esperança persiste.


CENA 21: PENSÃO DE INÁ. INT. DIA


 Iná está sentada à mesa, tomando seu café da manhã. Ela está inquieta, com o olhar perdido em seus pensamentos. O som de passos no corredor chama sua atenção. Hector aparece na porta, segurando malas.


INÁ: (transtornada) Hector, o que está fazendo?

HECTOR: (com firmeza) Estou indo embora, Iná. Não posso ficar com uma criminosa.

INÁ: (desesperada) O quê? Não, Hector, você não pode fazer isso! Nós podemos resolver isso juntos!

HECTOR: (decidido) Não há nada a resolver, Iná. O que você fez é imperdoável. Eu não posso mais ficar aqui, vivendo essa mentira.

Iná se levanta abruptamente, as lágrimas começando a escorrer por seu rosto.

INÁ: (chorando) Hector, por favor! Não me deixe! Eu fiz isso por uma vida melhor!

HECTOR: (duro) Uma vida melhor construída sobre mentiras e sofrimento? Eu não quero isso.

Hector começa a sair pela porta. Iná, em desespero, se arrasta de joelhos até ele, segurando seu braço.

INÁ: (suplicando) Por favor, Hector! Não me abandone! Eu não posso ficar sozinha de novo! Eu te amo!

HECTOR: (tentando se desvencilhar) Iná, você precisa entender que o que fez é errado. Eu não posso simplesmente ignorar isso.

INÁ: (se agarrando a ele) Eu farei qualquer coisa, Hector! Por favor, me dê mais uma chance!

HECTOR: (separando-se dela)
Não posso, Iná. Você precisa enfrentar as consequências dos seus atos.

Hector se afasta, com Iná ainda de joelhos na entrada, soluçando. Ele caminha até a rua, sem olhar para trás. Iná se arrasta até a porta, gritando por ele.


CENA 22: EXT. FACHADA DA PENSÃO. RUA. 


De repente, duas viaturas policiais chegam ao local, com as sirenes ligadas. Os policiais saem dos carros e caminham rapidamente até Iná.

POLICIAL 1: (firmemente) Iná dos Santos, você está presa.

INÁ: (surpresa, ainda de joelhos) O quê? Não, por favor!

Os policiais a levantam e algemam suas mãos. Iná tenta resistir, mas é inútil.

POLICIAL 2: (mostrando o mandato) Temos um mandado de prisão para você.

Iná olha em volta, desesperada, tentando encontrar algum apoio. Ao fundo, Luciana, Marlene, Serginho e Guilherme observam a cena com expressões variadas de choque e tristeza.

INÁ: (suplicando, enquanto é algemada) Luciana! Por favor, me ajude! Eu sou sua mãe!

Os policiais começam a levar Iná para a viatura. Ela continua gritando e chorando, mas a multidão ao redor apenas observa em silêncio. Luciana encara Iná com desprezo e desgosto.

INÁ: (gritando enquanto é colocada na viatura) Eu fiz tudo por você, Luciana! Por favor, não me deixe!

Os policiais fecham a porta da viatura e ela parte, deixando a multidão dispersa. Luciana observa enquanto Marlene a abraça, dando-lhe apoio.

Um close é dado em Iná dentro da viatura. 


FIM DO CAPÍTULO




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