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NOÇÃO DO PERIGO - CAPÍTULO 1 (ESTREIA)



Uma obra de
— SELMA DUMONT —

Cena 1. Diamantina - MG. Stock-Shots. Dia.

Ao som da música Prefixo de Verão, inicia-se a trama com belas imagens aéreas e térreas da histórica cidade de Diamantina, mostrando o cotidiano daquele município.


Cena 2. Cachoeira. Dia.

(Música continua como um som ambiente) Plano geral da bela cachoeira e sua água descendo abaixo. Vários jovens nadam e se divertem no rio em que a cachoeira deságua. Foco em Talita (23), que dá um belo mergulho... Em seguida ela sai da água, plena, torce os cabelos e vai se enxugar em sua toalha, na beira.

Talita: Ai, essa água tá uma delícia!

Seu namorado, Rodolfo (28) a abraça por trás e cochicha no ouvido dela.

Rodolfo: Não mais delícia que você!

Ele beija o pescoço dela, que gosta.

Talita: A gente tá em público, amor!

Rodolfo: Melhor assim! Quero que todos os nossos amigos tenham a certeza de que eu sou maluco por você!

Talita ri e se vira para ele, dando um beijinho.

Talita: Só você mesmo, hein!

Alice (23) sai da água e vai até o casal.

Alice: Ihhh! Já desistiram da água?

Talita: Não amiga, a gente só tá dando um tempinho! (T) E eu tô tão feliz que você saiu de casa e veio curtir a cachoeira aqui com a gente!

Alice: É... Eu me arrependo de não ter vindo antes!

Talita: Uma pena você ser tão caseira e só ter cabeça pra faculdade... Tá perdendo passeios ótimos.

Alice: Queria conseguir conciliar estudo e diversão tão bem quanto você!

Talita vai abraçar Alice.

Talita: (p/ Rodolfo) Ai amor, a Alice não é tão linda? 

Rodolfo: Eu não posso falar! (Risos) Só tenho olhos pra você!

Talita: Hummm, ela você pode elogiar!

E Talita vai dar um beijinho nos lábios de Rodolfo. Alice vira os olhos, visivelmente irritada, mas rapidamente se vira para o casal e sorri, falsamente. 

Corta para: Foco em uma churrasqueira improvisada assando algumas carnes, a movimentação é de alguns jovens nadando e outros na beira, comendo ou conversando. Talita conversa com Giovanna (21), fora de áudio. Ao fundo, Alice está sentada em uma pedra, isolada, olhando fixamente para Talita, com um olhar odioso...

Alice: (p/si) Vagabunda... Ela tem tudo! Mas com a força dele, eu hei de ter também...

A câm volta a focar em Talita e Giovanna.

Talita: Ai Gi, não é querendo me gabar, mas esse meu projeto secreto... Tá de arrebentar! Deixa qualquer aluno de engenharia de Harvard comendo poeira! E olha que eu só estou no quinto período de arquitetura.

Giovanna: Talita, eu sei que você é 10/

Talita: (interrompe) Somos 10!

Giovanna: Mas olha essa paisagem, olha essa cachoeira! Isso aqui não é hora nem lugar pra falar de faculdade. Vai aproveitar, sua louca! 

Talita ri.

Giovanna: Mas eu tô curiosa pra saber qual é a desse seu projeto! Vou esperar até o dia da apresentação!

Talita: Eu não vejo a hora.

Neste momento, Rodolfo vai até Talita trazendo uma taça de drink.

Rodolfo: Trouxe essa caipirinha de melancia pra minha rainha! (Entrega a taça a ela)

Talita: Ai obrigada, amor! (Toma um gole)

Giovanna: Ih gente, minha glicose até aumenta com esse mel de vocês! (Risos) Já fui!

Giovanna se afasta.

Talita: Rodolfo, você viu a Alice?

Rodolfo: Eu pensei que ela estivesse ali.

Ele aponta para a pedra onde Alice estava sentada, mas ela já se encontra vazia.

Cena 3. Mata. Dia.

Alice sentada no chão da mata, olhando fixamente para baixo. A câm vai se aproximando do rosto dela, enquanto ouvimos vozes embaralhadas, como se tivessem saindo de sua cabeça... Alice começa a olhar para todos os lados da mata, vultos passam em sua frente e uma fumaça preta começa a se espalhar pelo ambiente... Alice aperta os olhos e puxa seus cabelos, em um surto. Neste momento começam a se ouvir gargalhadas assustadoras, até que/

Talita: (off) Alice? Você tá por aí?

Alice retoma rapidamente sua consciência, se levanta e caminha até o encontro de Talita.

Talita: Alice, você sumiu! Tava todo mundo preocupado! Tava fazendo o quê aqui?

Alice: Ah... Eu tava aqui me conectando com a natureza... Fazia tempos que eu não vinha numa mata, entrava em uma cachoeira...

Talita: O churrasco tá pronto, a gente vai comer! Vem!

Talita puxa Alice pela mão e as duas seguem rumo ao rio. Percebe-se que algo cai de Alice. A câm vai se aproximando e vemos que se trata da parte de trás de uma carta, aparentemente de tarô. Muito suspense...

Cena 4. Cachoeira. Beira. Dia.

Os jovens comem, bebem e se divertem na beira da cachoeira. Talita e Alice saem da mata e vão se juntar aos amigos. Rodolfo e Giovanna conversam em um cantinho, enquanto tragam um cigarro.

Giovanna: Não sei não, Rodolfo... Mas o meu santo não bate muito com o da Alice...

Rodolfo: Ah, qual foi? Tudo bem que ela não é muito de papo, mas eu acho que cê tá é com ciúmes da Talita com ela! (Risos)

Giovanna: Ih garoto, claro que não! Eu sinto mesmo uma energia ruim vindo dela... Eu não sei explicar!

Rodolfo: Esse seu papo tá começando a me assustar! Vou dar um mergulho pra ver se passa!

Rodolfo pula na água e mergulha. Foco agora em Alice, que olha pra uma correntinha de ouro ao lado de uma mochila no chão.

Alice: (pensamento) Essa corrente deve ser daquela Giovanna...

Sorrateiramente, Alice pega essa correntinha e coloca discretamente na mochila de Talita... Clima de tensão. Slow motion em Talita comendo um churrasco, bebendo uma cerveja, conversando e dançando muito alegre. Alice olha para Talita, com uma expressão aterrorizante...

Cena 5. Fazenda Martins. Exterior. Dia.

Plano geral na bela casa de fazenda ao redor das altas montanhas de Diamantina.  

Cena 6. Fazenda Martins. Cozinha. Dia.

Kátia (55) e Antônio (57) conversam na cozinha.

Kátia: Eu não queria que a Talita fosse nessa cachoeira!

Antônio: E por que, hein?

Kátia: Eu ouvi dizer que lá tem cobra, onça e sei mais o quê... Eu fico preocupada!

Antônio: Esqueceu que a Talita já é adulta e tem mais de 20 anos? Ela sabe se cuidar!

Kátia: É preocupação de mãe, Antônio! Você é padrasto, não vai entender! Essa minha menina vale ouro... Ainda não superei que ela deixou essa fazenda pra morar com aquela Alice na cidade!

Antônio: Ela se mudou porque é mais perto pra ela. Dois quarteirões da universidade!

Kátia: A Alice insistiu tanto pras duas morarem juntas... Só deixei mesmo porque elas se conhecem desde o ensino médio e fazem o mesmo curso... (T) Mas nada me tira da cabeça a preocupação da Talita naquela cachoeira gente...

Antônio: Relaxa Kátia, lá tá cheio de amigo dela, tem o namorado, perigo nenhum ela vai correr...

Kátia: Tá falando daquele sonso do Rodolfo? (Ri) Aquele ali não vê um palmo na frente do nariz... Lesado que só!

Eles riem. Entram na cozinha os irmãos gêmeos Mya (17) e Rafael (17).

Mya: Pai, mãe, a gente pode ir na cachoeira que a Talita tá?

Kátia olha para Antônio e dá uma risada.

Kátia: Só quando fizerem 18 anos e olhe lá!

Rafael: Ah mãe! Qual o problema? Deixa a gente ir!

Kátia: Já disse que não! Tem lago aqui na fazenda, vão lá nadar nele!

Rafael: Aquele lago já não tem mais graça!

Mya: É, a gente toma banho nele todo dia!

Kátia: Aquela cachoeira é perigosa pra vocês! Já disse!

Antônio: Escutem a mãe de vocês e parem discutir que a minha cabeça tá doendo!

Rafael e Mya bufam.

Cena 7. Céu. Tarde.

As nuvens passam e o sol vai ficando cada vez mais amarelo...

Cena 8. Cachoeira. Topo. Dia.

Talita no topo da cachoeira, em cima de uma pedra. Ela respira fundo e fecha os olhos, deixando o vento soprar em seu rosto. Logo atrás, Alice a observa fixamente e vai se aproximando da garota, com as mãos erguidas... Até que:

Giovanna: (off) Talita, vamos! Já já anoitece!

Talita: Já tô descendo!

Alice se esconde rapidamente atrás de uma árvore e Talita passa, descendo a trilha.

Giovanna: (off/tensa) CADÊ O MEU ESCAPULÁRIO?

Cena 9. Cachoeira. Tarde.

Giovanna, preocupada, e alguns amigos procurando a corrente pelo chão.

Giovanna: (chora) É o escapulário que o meu avô me deu! Além de ser de ouro, tinha um valor sentimental pra mim. Por favor gente, procurem direito, é muito importante!

Foco nos jovens com as lanternas dos celulares ligadas, procurando o objeto.

Talita: Tem certeza que você não deixou cair na água?

Giovanna: Tenho! Eu deixei ele ali perto da minha mochila e em cima da toalha! 

Talita: Calma, a gente vai procurar e vai achar!

Giovanna fica ansiosa e aflita e continua a procurar a corrente...

Cena 10. Diamantina. Ruas do Centro Histórico. Noite.

Já anoiteceu. Uma caminhonete S10 estaciona em frente a uma casa de dois andares de arquitetura barroca. Talita, Alice e Rodolfo saltam do veículo. 

Alice: Obrigada pelo dia, gente. Agora vou entrar, tô morta de cansada!

Talita: A gente ainda vai passar no bar pra tomar alguma coisinha. Daqui a pouco eu volto, amiga!

Alice: Animados, hein!

Talita: Tchau!

Alice entra em casa. Rodolfo e Talita, na caminhonete.

Talita: Putz, amor! Esqueci de pegar aquele meu batom que eu queria passar à noite... 

Rodolfo: Não precisa, você já tá linda!

Talita: Você faria um humilde favor pra namorada mais maravilhosa existente na face da terra? Pega o meu batom pra mim...

Rodolfo: É sério?

Talita: Por favor! Meu pé tá doendo, amor...

Rodolfo: (vencido) Tá bom! Onde é que tá esse batom?

Talita: No meu quarto, em cima da cômoda.

Cena 11. Sobrado de Talita e Alice. Escadaria. Noite.

Rodolfo subindo as escadas.

Cena 12. Sobrado de Talita e Alice. Sala. Noite.

Alice por ali de toalha, de costas. Neste momento, Rodolfo entra na sala, sem perceber que Alice está lá.

Rodolfo: Alice, só voltei pra pegar um batom pra Talita/

Num rompante, Alice se vira para ele e deixa a toalha cair, ficando completamente nua. Rodolfo fica paralisado e vidrado. Alice se aproveita.

Alice: Que foi, Rodolfo? Nunca viu mulher pelada?

Rodolfo continua vidrado. Alice morde os lábios, se exibindo.

Alice: Vai lá pegar o batom da sua namorada, vai! E só não conta pra ela o que viu aqui! Fica sendo um segredo só nosso!

Rodolfo: (gagueja envergonhado) T-tá, tá bom! D-dá licença!

Rodolfo segue atordoado para o quarto de Talita. Alice solta uma discreta gargalhada e pega sua toalha no chão.

Cena 13. Caminhonete de Rodolfo. Noite.

Rodolfo entra na caminhonete, pálido e assustado.

Talita: Que foi amor?

Rodolfo: Não, nada! É que eu quase tropecei na escada! (Entrega o batom à Talita) Aqui seu batom!

Talita estranha o comportamento de Rodolfo, ele liga o veículo e segue em frente.

Cena 14. Centro Histórico de Diamantina. Bar/Restaurante. Calçada. Noite.

Numa mesa na calçada, estão: Talita, Rodolfo, Giovanna, Yasmim e Felipe. Rodolfo, com olhar distante.

Giovanna: (desolada) Eu não consigo acreditar até agora que eu perdi o meu escapulário de ouro! O meu avô me deu antes de falecer... Era a coisa mais preciosa que eu tinha... E ele também me dava sorte!

Yasmim: Tenta não pensar nisso, amiga!

Felipe: Pensa pelo lado bom: Pelo menos foi o escapulário, não foi você!

Yasmim: Que comentário mais fora de hora e sem sentido, Felipe!

Felipe: Eu só quis ajudar!

Talita: Eu sempre ouvi que quando se perde um escapulário é por que um novo caminho vai se abrir na vida... Quem sabe é um novo amor, hein?

Giovanna: Encalhada do jeito que eu tô? Duvido...

Yasmim: Você também não se permite se apaixonar... Nenhum cara presta pra você!

Giovanna: (fala baixinho) Talvez eu não goste de caras...

Felipe: Oi? Revelações aqui?

Giovanna: É, é isso gente! Cansei de me esconder! A verdade é que eu gosto mesmo é de mulheres! Mas eu ainda não me aceitei totalmente e até tinha esperanças desse sentimento mudar... Mas ele só vem crescendo! Vocês não vão contar isso pra ninguém, né?

Felipe: Claro que não, desde que a minha mulher não seja seu alvo! Não é não, Rodolfo? (Ri)

Yasmim: Deixa de ser babaca, Felipe! Nossa, quanta ignorância!

Giovanna: Fica tranquilo queridinho! A Yasmim é só minha amiga!

Foco em Rodolfo avoado... Talita percebe.

Flashback on: (cena 11 deste capítulo)

Alice se vira para Rodolfo e deixa a toalha cair, ficando completamente nua. Rodolfo fica paralisado e vidrado. 

Alice: Que foi Rodolfo? Nunca viu mulher pelada?

No close de Rodolfo; A voz de Alice ecoa...

Flashback off.

Talita estala os dedos na frente de Rodolfo, que logo desperta.

Talita: Tá tudo bem?

Rodolfo: Tá, claro! Só viajei aqui! Desculpa!

Talita transmite um olhar desconfiado, mas em seguida volta ao normal.

Talita: Ai, Gi... O primeiro passo para você começar a ser plenamente feliz é se aceitando mesmo. Não tem nada demais em ser gay!

Giovanna: O problema mesmo são meus pais! Eles são muito conservadores! Eu tenho até medo do que eles possam fazer se descobrirem que eu sou lésbica!

Talita: O importante é primeiro você se aceitar! Quando você está bem consigo mesma, qualquer barreira vira pedregulho!

Yasmim: E se quiser, eu te consigo vários contatinhos hein... Umas sapas lindas, lá da faculdade mesmo! 

Todos na mesa riem.

Cena 15. Sobrado de Talita e Alice. Quarto de Talita. Noite.

Alice entra sorrateiramente no quarto de Talita.

Alice: Agora nós vamos achar aonde é que você esconde aquele seu projetinho secreto, minha princesa... 

Alice vai até uma cômoda e abre várias gavetas, vasculhando papéis, pastas e caixinhas.

Alice: Nada aqui!

Alice abre a gaveta de uma mesa de estudos, vasculha alguns papéis, cadernos e novamente não encontra nada. Ela bufa.

Alice: Será que tá no armário?

Alice vai até o armário e o abre, procurando...

Cena 16. Fazenda Martins. Sala. Noite.

Vemos várias imagens de orixás na parede. Em frente a eles, Kátia faz sua reza, em silêncio... Antônio aparece na sala.

Antônio: Não vem dormir, meu amor?

Kátia: Tô pedindo proteção pra nossa família!

Antônio: Termina sua reza que eu estou te esperando lá na cama!

Kátia: Tudo bem!

Antônio se retira e Kátia fecha os olhos, voltando a se concentrar em sua oração...

Cena 17. Sobrado de Talita e Alice. Quarto de Talita. Noite.

Alice fecha as portas do guarda roupa, frustrada.

Alice: Merda, não tá aqui!

Alice olha para uma caneca de lápis em cima da mesa de estudos e vai até ela.

Alice: Mas pode estar ali!

Alice esvazia a caneca de lápis e um pen drive cai dela. 

Alice: Eu sabia!

Alice pega o pendrive e o analisa... Muito suspense.

Cena 18. Centro Histórico de Diamantina. Bar/ Restaurante. Calçada. Noite.

Trilha ambiente: Nosso Xote - Bicho de pé (até o fim da cena 19)


Uma roda de forró se forma na rua. Vários casais dançam no ritmo da música, entre eles Talita e Rodolfo e Yasmim e Felipe. Foco em Rodolfo girando Talita. Ela se diverte com a dança. Giovanna observa os amigos dançarem, tristonha, enquanto bebe um drink...

Giovanna: (frustrada) Não acredito que eu sobrei...

Ela se vira e vai andando em direção ao interior do restaurante.

Cena 19. Bar/ Restaurante. Toalete. Noite.

Giovanna entra no banheiro, deixa o drink na bancada da pia e fica a se olhar no espelho, chateada... Instantes e uma garota sai de uma das cabines aparentemente bêbada, com o rosto vermelho e a maquiagem borrada, chorando. Giovanna percebe e se preocupa.

Giovanna: Aconteceu alguma coisa, moça?

Camila: (chorando) Uma coisa horrível! 

Camila abre a torneira e molha seu rosto.

Giovanna: Se quiser desabafar comigo... Eu sei que a gente acabou de se conhecer, mas eu posso servir de ombro amigo já que a sua situação parece estar pior que a minha...

Instantes de silêncio e Camila desaba no choro...

Giovanna: (preocupada) O que foi?

Camila: (soluça de chorar) Eu peguei minha namorada me traindo com outra... (t) O pior é que eu amava aquela desgraçada.

Giovanna: Nossa, mas como pode? Você é uma menina tão linda! Quem perdeu foi ela!

Camila: (chorando) Eu quero me matar! Quero beber, me drogar até que eu caia dura!

Giovanna: Ei garota? Quê isso? Se matar por causa de uma canalha que te traiu? 

Giovanna limpa as lágrimas de Camila e segura o rosto dela, encorajando-a.

Giovanna: Não estraga a sua vida por uma pessoa vazia, que não te merece! Você é linda garota! Se valoriza!

Camila: Você acha mesmo?

Giovanna: Eu e a torcida do Flamengo achamos!

Camila dá um leve riso.

Giovanna: O meu nome é Giovanna! E o seu?

Camila: É Camila! E obrigada pelas palavras!

Giovanna: Quê isso!

Camila dá um beijo bem no canto da boca de Giovanna, que se surpreende, assustada.

Camila: Eu vou mostrar pra aquela vadia, que eu não preciso dela pra nada!

Camila dá um gole no drink de Giovanna e seu astral sobe.

Camila: Vem dançar comigo, Giovanna! Vem!

Giovanna: Eu vou adorar!

Giovanna sorri e Camila a puxa pela mão para fora do banheiro.

Cena 20. Centro Histórico de Diamantina. Bar/Restaurante. Rua. Noite.

Talita, Rodolfo, Yasmim, Felipe e muitos outros casais dançam alegres ao som do forró. Giovanna e Camila saem do restaurante de mãos dadas e começam a dançar, divertidas... Yasmim percebe e comenta com Talita:

Yasmim: É, Talita... Parece que a Gi se arranjou!

Talita: Vamos torcer, amiga!

As duas riem e voltam a dançar com seus pares.

Cena 21. Sobrado de Talita e Alice. Quarto de Talita. Noite.

Cena com ritmo. Alice insere o pen drive em seu notebook e começa a ler atentamente o arquivo, com brilho nos olhos.

Alice: Olha só... Aqui ela fala da preservação das fachadas barrocas com interiores modernos... Isso aqui é genial! A cachorra é mesmo boa no que faz!

Alice copia o arquivo pro seu notebook e em seguida retira o pendrive.

Alice: Pena que fui eu quem fiz tudo! (Ri) Coitadinha...

Alice fecha o notebook e olha pro além, misteriosa...

Alice: Tudo que é dela vai ser meu! É a lei, não vai falhar!

E no close de Alice,

— Abertura —


Cena 22. Sobrado de Talita e Alice. Frente. Rua. Noite.

A caminhonete de Rodolfo estaciona em frente ao sobrado. Talita e Rodolfo descem e ficam frente a frente.

Talita: Tchau amor!

Eles se abraçam e dão um beijo.

Rodolfo: Até amanhã gatinha!

Eles se despedem. Talita abre a porta e entra em casa. Rodolfo se encosta na frente da caminhonete e vidra o olhar, pensativo... Tempo.

Cena 23. Sobrado de Talita e Alice. Sala. Noite.

Talita entra em casa, exausta e se senta no sofá. Alice, de pijama, vai ao seu encontro.

Talita: Ué amiga, ainda não foi dormir?

Alice: Não tive sono por enquanto... Tava esperando você chegar!

Talita: Ai que linda! Obrigada!

Alice: A festa tava boa?

Talita: Tava ótima. Tô com o pé doendo de tanto dançar! Você devia ter ido!

Alice: Eu não gosto de festas, você sabe!

Alice se senta ao lado de Talita.

Talita: A gente é tão diferente, não é?

Alice: Acho que é por isso que somos tão amigas! Não dizem que os opostos se atraem?

Talita: Eu lembro de quando a gente começou a se aproximar... Na verdade já éramos um pouco próximas... Foi no último ano do ensino médio, eu tinha acabado de fazer 18 anos...

Alice: É melhor você não lembrar disso!

Talita: Eu nunca vou esquecer do que você fez por mim! Usou da influência do seu pai pra me ajudar a sair daquela cela!

Alice: Era uma injustiça! Eu sabia que você nunca traficaria drogas! Alguém daquele colégio colocou aquilo na sua mochila pra te fazer de boi de piranha!

Talita: Foi uma quantidade enorme de cocaína... Se não fosse você... Eu tava lá até hoje!

A câmera valoriza a expressão triste de Talita. Entra aqui um flashback inédito:

Cena 24. Diamantina. Praça. Dia.

Talita (de uniforme escolar) e alguns jovens estão sentados numa arquibancada enquanto jogam baralho, comem salgadinho e conversam. Neste momento uma viatura da polícia estaciona bem em frente aos jovens. Dois policiais descem.

Policial 1: Recebemos uma denúncia de tráfico de drogas. Vou precisar revistar todo mundo!

Fora de áudio: Os policiais revistam os jovens e quando abrem a mochila de Talita e retiram os cadernos... Encontram diversos saquinhos contendo cocaína. Talita se desespera. Os policiais a seguram e a algemam. Ela se debate e chora enquanto é levada para dentro da viatura.

Flashback termina.

Cena 25. Sobrado de Talita e Alice. Sala. Noite.

Alice segura a mão de Talita.

Talita: E logo a filha do vereador me ajudou a sair de lá.

Alice: Meu pai é influente! Conhece os policiais, o delegado... Não foi complicado!

Talita: Mas foi nobre! Podem se passar mil anos, mas eu nunca vou esquecer do maior ato de amizade que alguém já fez por mim!

Alice dá um beijo na testa de Talita, que logo se levanta.

Talita: Vou tomar um banho e cair na cama. Boa noite, Lili!

Alice: Boa noite, princesa!

Talita segue pro banheiro. Alice fica por lá e faz uma expressão irônica.

Alice: (ri maldosa) Mal sabe ela... Mal sabe!

Ela gargalha baixinho... Muito suspense. 

Cena 26. Montanhas de Diamantina. Stock Shots. Dia. 

Amanhece. Belas imagens aéreas das montanhas. Plano geral na Fazenda Martins.

Cena 27. Fazenda Martins. Sala de jantar. Dia.

Talita, Antônio, Mya e Rafael tomam café à mesa. Kátia vem da cozinha trazendo um bolo coberto de chocolate.

Kátia: Bolo de cenoura com chocolate que eu sei que você adora, Tatá!

Kátia coloca o bolo sobre a mesa.

Talita: Ai que delícia, mãe!

Mya: A mamãe só faz esse bolo quando a Talita vem! 

Rafael: Verdade! E o resto da semana é sempre o mais do mesmo!

Talita: Olha como esses dois são ciumentos!

Kátia se senta.

Kátia: Parem de reclamar! Eu fiz, porque a sua irmã quase não vem aqui! 

Talita: Eu venho toda semana!

Kátia: Você devia voltar a morar aqui, filha! O moço da van disse que pode te levar e te buscar todo dia!

Talita: É bem mais prático pra mim morar no sobrado com a Alice, mãe! É literalmente ao lado da universidade. 

Kátia: Aceito mas não me conformo...

Talita: Eu prometo que venho mais vezes na semana! Mas morando ao lado eu posso dormir mais, me atrasar com calma! (Ri)

Todos riem.

Kátia: Toma vergonha, garota! Se atrasar com calma? Essa é nova!

Talita: É a nova moda, Dona Kátia! (Ri)

Cena 28. Diamantina. Rua Histórica. Dia.

Alice desce por uma rua íngreme, até parar na frente de uma casa colonial, de paredes brancas e azuis. Ela respira fundo e bate na porta. Instantes e um homem vestindo roupas pretas e um chapéu abre uma fresta da porta.

Homem: A senha!

Alice: Destruição pela prosperidade!

O Homem abre a porta e deixa Alice entrar.

Cena 29. Casa. Interior. Dia.

No interior da casa, seis pessoas fazem uma roda ao redor de uma cruz celta pintada no chão. Alice adentra a casa e se junta a eles, agora sendo sete pessoas em volta da roda. Todos fecham os olhos e erguem as mãos. A cruz celta se acende. A iluminação do local fica nas cores preta e vermelha. Foco em Alice de olhos fechados. Uma fumaça preta começa a tomar conta do ambiente e vai subindo...

Cena 30. Casa. Telhado. Céu. Dia.

A fumaça preta sai de dentro da casa e sobe para o telhado, indo em direção ao céu... Muito suspense.

Cena 31. Casa. Interior. Dia.

Clima sombrio. A iluminação continua preta e vermelha. As pessoas já saíram do círculo e agora estão espalhadas pelo ambiente. Valorizar Alice. Dois homens adentram à casa trazendo nada menos que um bode, amarrado por uma coleira. O animal berra.

Homem: O bode chegou pro sacrifício!

O bode é colocado em cima da cruz celta. As pessoas novamente fazem uma roda, agora ao redor do bode. Um homem de vestimentas pretas e chapéu, segura uma espada afiada e fica ao lado do animal.

Homem: Saudem ao chefe!

As pessoas levantam e abaixam os braços em sinal de saudação. 

Todos: Ao chefe!

Homem: Este animal será oferecido ao chefe, em sinal de sacrifício e adoração!

O homem levanta a espada e leva em direção a cabeça do bode com violência. Foco no sangue se espalhando pelo chão... Alice assiste a tudo. Tensão e suspense.

Cena 32. Diamantina. Stock Shots. Dia.

Imagens aéreas da cidade.

DIAS DEPOIS...

Cena 33. Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Pátio. Dia.

Movimentação de estudantes andando ou realizando atividades diversas. Foco em Talita, Giovanna e Yasmim caminhando pelo pátio, enquanto conversam.

Talita: É hoje a apresentação do projeto! Me desejem sorte!

Yasmim: Você vai arrasar!

Giovanna: Eu tenho certeza que vai ser o melhor projeto! Tô muito curiosa pra ver!

Talita sorri e as três continuam andando. Logo atrás vem Alice, com um olhar malicioso.

Cena 34. UEMG. Sala de Aula. Dia.

Talita, Giovanna e Yasmim sentadas bem próximas. Talita pega sua mochila, abre o bolso da frente para pegar o pendrive e é quando o escapulário de Giovanna cai da mochila. Giovanna olha pro chão.

Giovanna: Caiu sua corrente... (olha mais atentamente) Espera... É o meu escapulário!

Talita: Quê?

Giovanna se abaixa, pega o objeto e o analisa.

Giovanna: É o meu escapulário sim! Ele tava na sua mochila! (Beija o escapulário) Graças a Deus eu o achei!

Talita: (estranhando) Mas como é que ele veio parar comigo? Eu juro que não peguei. Que coisa mais esquisita!

Yasmim: Alguém pode ter colocado por engano.

Giovanna: Não importa! O que importa é que ele voltou pra mim!

Giovanna coloca o escapulário no pescoço e sorri. Talita fica desconfiada e pensativa... Neste momento o sinal da universidade é apitado.

Talita: Vai ser agora a apresentação, garotas! Vou ser a quarta a apresentar. A Alice vai ser a segunda.

Yasmim: Eu não vi ela por aqui hoje...

Talita: Ela deve estar treinando as falas em alguma sala vazia. (T) Bom, vamos pro auditório?

Giovanna e Yasmim: Vamos.

Talita respira fundo e se levanta. Yasmim e Giovanna se levantam em seguida e todas seguem para o exterior da sala.

Cena 35. UEMG. Auditório. Dia.

Várias pessoas sentadas nas cadeiras do auditório. A câmera vai buscar Talita, Giovanna e Yasmim que estão sentadas na mesma fileira. O palestrante termina sua fala no palco:

Palestrante: Quero agradecer à todos pela paciência e passar a palavra para a próxima palestrante: Alice Vieira Paes!

Muitas palmas. O palestrante se retira do palco. Alice (muitíssimo bem vestida e maquiada) sobe as escadas, caminha até o meio do palco e vai falar no microfone.

Alice: Boa tarde à todos. Meu nome é Alice Vieira Paes, sou estudante do quinto período de arquitetura aqui da faculdade estadual e vim apresentar à vocês o meu projeto! Esse projeto irá tratar da preservação das fachadas dos imóveis de arquitetura barroca das cidades históricas, modificando o interior deles, ou seja, tornando-os mais modernos.

Neste momento, Talita estranha tudo que foi dito.

Talita: (estranhando) Mas que desgraça é essa? Isso é idêntico ao texto que eu escrevi!

Alice: No Centro Histórico da cidade é possível ver alguns bancos, farmácias, lojas com a fachada em estilo colonial, mas com o interior ainda pecando em ser antiquado.

Alice vai falando fora de áudio. Talita fica boquiaberta e completamente chocada.

Alice: Agora eu vou mostrar a vocês um projeto da planta de um desses imóveis que eu planejei:

Alice aperta o controle e o projetor mostra a imagem da planta de um imóvel. Talita se desespera, não se contém e fala para Yasmim e Giovanna:

Talita: (desesperada) Esse projeto é meu! A Alice roubou ele de mim!

Yasmim: (confusa) O quê? 

Giovanna: (confusa) Como assim?

Caem lágrimas dos olhos de Talita.

Talita: (chocada) Ela me traiu, roubou meu projeto! (Decidida) Mas isso não vai ficar assim!

Talita se levanta e corre em direção ao palco.

Talita: (grita) Chega! 

Um silêncio constrangedor é instaurado. Alice finge surpresa. Todos da plateia arregalam os olhos. Talita sobe as escadas do palco, ficando em frente a Alice.

Talita: Essa apresentação é uma farsa!

Alice: O que é isso?

Talita: (indignada) Esse projeto é meu! Você me roubou! Fui eu que escrevi esse texto, fui eu que desenhei essa planta! Quê isso, Alice? Como é que você pôde me trair dessa forma sórdida?

Alice: Dá pra dar licença? Você está atrapalhando a minha apresentação.

Talita: (alterada) Cala a boca, sua ladra!

Talita não se segura e dá uma forte bofetada no rosto de Alice, que se desequilibra e cai no chão. No close de Talita odiosa;

— Foco em Talita / A imagem congela em preto e branco e se despedaça.



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