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Para todo sempre - Episódio 01 (Estréia)


Episódio 1 - Migalhas 

-As pombas. Elas podem voar muito alto. Mas quando elas precisam se alimentar, elas vão ao chão para pegar as migalhas que estão lá. - O que achou, João? 

-Eu nunca tinha pensado dessa forma. - João diz a sua irmã. Os dois estavam sentados em cima do tronco da árvore que caiu na chuva da noite passada, em frente à casa deles. . Eles estavam brincando de descrever os animais que viam passar, afinal eles estavam num bosque. Era lá que eles viviam. 

-Então tomara que nunca deixem de haver migalhas, senão as pombas vão passar fome. - Maria conclui. 

-Sim, tomara. 

De dentro da casa, a madrasta deles, Norma, os chama. 

-Venham, o almoço está servido. 

-Já vamos - João grita pra ela. 

-Venham ou a comida vai esfriar, seus tolos. 

Maria e João se levantam, tristes pela maneira dura de Norma os tratar. 

Eles entram em casa e vão lavar as mãos num balde. Depois eles se sentam na mesa para almoçar. O pai deles, Hans, também se senta. Norma serve o prato de cada um. 

-Ainda bem que você trouxe aquele porco que trocou por lenha na vila, senão não teríamos carne pra comer. - Norma diz para Hans. 

-Por isso que todos os dias eu trabalho duro cortando lenha. Pra termos o que comer. - O lenhador responde. 

-Então trabalha mais, por favor. Porque é só um dia de carne e todo o resto da semana vivendo só de pão. - Ela fala em um tom ríspido. 

-Mas, mãe, a senhora não disse que temos que agradecer por pelo menos estar vivos? - Maria pergunta, com delicadeza. 

-Fica quieta e não me responde! E eu já disse milhares de vezes pra não me chamarem de mãe, só me chamem de senhora! - Norma grita com a menina. 

-Deixa a Maria, Norma! Ela só está repetindo o que você mesmo disse, e pelo visto não vive o que diz. - Hans a defende. 

Os quatro ficam em silêncio por um pouco. 

-É realmente uma pena que, para comermos essa carne, o senhor ter tido que derrubar uma árvore, papai. - João tenta puxar assunto, mas Norma argumenta novamente:

-Você é um mal agradecido, João! Por que não vai lá na floresta e come madeira e formiga? 

-Você fala de ingratidão, mas a um minuto atrás reclamou do pão dos outros dias da semana! - Hans rebate para Norma. 

-Basta! Eu vou me deitar! Vocês são muito irritantes. - Norma se levanta e vai se deitar.

A casa não era espaçosa, então tudo era bem simples e não havia cômodos, era tudo em um lugar só. 

João diz bem baixinho, aproveitando que Norma saiu:

-Que alívio não ser obrigado a chamar ela de mãe! - Maria ri, e Hans olha pra eles com um olhar de censura, pois Norma poderia ouvir e ficar mais irada ainda. 

Mal sabia eles que Norma estava planejando algo que levasse João e Maria pra bem longe dali. 

[Cena 2]

Uma menina corre em alta velocidade. Percebe-se que um menino vem correndo atrás dela. Enquanto a garota corre, o capuz vermelho dela sobe e bate várias vezes na cabeça dela. O vento faz os cabelos castanhos da menina flutuarem no ar. 

-Chega, você ganhou! - A garota diz ofegante, se jogando no chão. 

-Ganhei! - O menino também se joga no chão, cansado. 

-Eu sempre perco nas corridas e você sempre ganha, Max. Esse jogo já não vale. 

-É melhor eu ir. Amanhã nos vemos na escola. Tchau, Anna! - O menino dá um beijo na bochecha dela e sai correndo, desaparecendo entre as grandes árvores da floresta. 

-O Karl é muito estranho. Mas é legal! - Anna conclui. - É melhor eu voltar pra casa antes que o sol se ponha. 

Anna começa a caminhar pela floresta, prestando atenção nas árvores e plantas. Começa a escurecer e a garota fica apreensiva, pois essa floresta é conhecida por todos como a morada dos animais selvagens. 

Ela consegue olhar pra cima e ver a lua, é noite de lua cheia. Anna pode ouvir os ruídos e sons dos grilos e outros insetos
Desesperada, ela aperta o passo, e quando se dá conta já está correndo. Corre sem parar, seguindo pra frente, até que esbarra em alguém e grita. 

-Ai! 

-Filha? Finalmente! Quantas vezes eu e sua mãe não dissemos pra não chegar tarde? - O pai dela diz, a repreendendo. - Eu cheguei em casa e sua mãe estava preocupadíssima com você, e eu vim te procurar. 

-Desculpa, papai. Nunca mais vou perder a hora. É que eu estava brincando com o Karl e o tempo passou voando. - Anna tenta se defender. 

-Tudo bem, vamos pra casa. 

O pai de Anna é lenhador e trabalha com outros lenhadores da cidade. Inclusive ele trabalha com um jovem aprendiz, Bill, que é o irmão mais velho de Karl. Em uma visita à casa de Anna, Bill levou Karl e o apresentou a menina. Logo Karl e Anna se tornaram melhores amigos. 

Anna e Karl chegam em casa e Martha, mãe de Anna, respira aliviada. 

-Onde você estava, filha? Quase me matou de susto! - Ela abraça a filha. 

-Ela apareceu desesperada na floresta. Estava brincando com o Karl. 

-Você não vai mais brincar com o Karl na floresta, filha. É mais segura que o Karl venha aqui em casa ou você vá na casa dele. 

-Mas mãe, eu prefiro brincar ao ar livre!

-Anna, já conversamos sobre isso! 

Ao ver o olhar triste da filha, Martha tenta animá-la. 

-Quem é a minha chapeuzinho preferida? 

-Eu! 

Martha a abraça e as duas riem. 

-Vai pro seu quarto que daqui a pouco eu te chamo pro jantar. 

Anna sai correndo pro seu quarto e Tom, seu pai, se senta.

-Você devia ver a situação do Hans, um dos os outros lenhadores. Ele está passando necessidade com sua família. Raramente comem carne, mas hoje ele conseguiu levar um pouco pra casa. 

-Ele é o marido da Norma, não é? - Tom assente com a cabeça. - Coitado, não deve ser fácil cuidar da família, ainda mais com uma esposa tão amarga. Talvez possamos ajudá-los oferecendo alguns alimentos que restarem no final do mês. 

-Sim.

Em sua penteadeira, Anna pensa em sua avó, que lhe deu seu casaco vermelho que a fez ficar conhecida por todas como chapeuzinho vermelho. 

-Quando será que eu vou ver a vovó novamente? - Ela se pergunta enquanto se penteia. - Eu vou pedir à mamãe pra fazer uma visita pra ela. Eu não quero que ela sinta que eu não amo ela - Anna pensa um pouco. - Nossa, eu falei que nem uma adulta agora! Quando será que eu vou ficar adulta? 

Percebe-se que Anna faz muitas perguntas. Muitas não podem ser respondidas. 

[Cena 3]

-Que fome, mamãe! O que temos pra comer? - Jack se senta no banco de madeira. 

-Muito pouco, João. Pra se ter ideia, eu só tenho alguns grãos de arroz aqui. 

-Não me chama de João, mãe. Eu gosto que me chamem de Jack, porque João é um nome muito comum. E eu gosto de feijão, não tem problema. 

-Tudo bem, filho, mas com alguns grãos não dá pra se alimentar. Eu acho que já sei! Vamos ter que nos livrar da velha Liz. 

Liz é a vaca de João e sua mãe. Eles cuidam dela desde seu nascimento. 

-Não, mamãe! Não mata a Liz! - João implora. 

-Eu não vou matá-la, eu vou vendê-la. Ou melhor, você vai, lá no mercado. 

-Não, mamãe, a Liz é minha única amiga. 

-Filho, você tem que aprender a ter outras amizades além de bichos. Você tem ótimos colegas na escola, como o Sam, filho do leiteiro. Ou a Anna, filha do lenhador. 

-Eu acho eles chatos. O Sam é muito quieto, e a Anna fala demais. 

-Filho, tenta se concentrar nas qualidades deles. Mas deixa isso pra outra hora. Agora você tem que ir no mercado. 

-Eu não vou ir vender a Liz! - Jack insiste. 

-Vai sim! Nós não podemos sobreviver de migalhas! - A mãe de Jack argumenta. 

-Eu vou então. - O menino diz triste. 

-Não fique assim. A Liz vai achar alguém que cuide dela. 

Então, Jack vai levando sua vaca amarrada à uma corda no caminho da vila, onde há vendas no mercado. Jack sai repetindo as palavras de sua mãe:

-"Alguém que cuide dela..." Alguém que coma ela, isso sim! Eu não queria que fosse assim, Liz! Eu juro! - Ele fala pra vaquinha. 

Jack decide parar pra descansar, até porque é difícil conduzir algo tão pesado. No caminho, um homem muito bem vestido aparece. 

-Olá, jovem! Pra onde vai tão cedo? - Pergunta entusiasmado. 

-Vou vender a minha vaca! - Jack responde desconfiado. 

-Ora, que coincidência, eu sou um comerciante! E eu acho que não vai ter muita clientela para uma simples vaca! 

-O que você está insinuando? A Liz é uma vaca muito bem cuidada! - Jack diz bravo. 

-Me perdoe por ser tão sincero, mas na verdade eu tenho uma proposta, vou te oferecer algo em troca dessa vaca, algo que vai te agradar. 

-O que seria? - João fica interessado. 

O comerciante tira do bolso três pequenas sementes de feijão e mostra para João. 

-Isso daqui! 

João tenta ficar sério, mas em dois segundos começa a rir descontroladamente:

-Sementes de feijão! Imagina, Liz! Ele quer te trocar por sementes! - Jack ri tão alto que aos poucos começa a imaginar que Liz está rindo também. 

-Não tira sarro. Essas sementes vão te dar tudo o que você precisa. São sementes mágicas – sementes que vão te deixar rico - ele diz em um tom muito sério. 

-Você não foi ensinado pela sua mãe à não mentir? - Jack debocha. 

-Não é mentira. Essas sementes te levarão ao sucesso e a riqueza, e você nunca passará fome. - Ele falava com tanta seriedade que Jack começou a acreditar. - Como eu sou bem generoso, fica com a vaca e com as sementes! 

-Sério? - Jack pergunta. 

-Sim. Faça um bom uso. Quer dizer, você fará! - O comerciante diz isso, e depois de deixar as sementes nas mãos de Jack e de sorrir, vai embora levando consigo suas coisas. 

Jack olha pras sementes em sua mão. 

-Eu não tenho nada a perder, né, Liz? 

A vaca, obviamente, não responde. 

-São sementes, são migalhas, mas são migalhas que vão me deixar rico. Será? Será que é tudo mentira? O que eu vou falar pra minha mãe? - Ele olha pra vaca. 

-Vamos voltar, Liz! - Jack começa a puxar ela pra voltarem pra casa. 



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