Débora
CAPÍTULO 12
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1:
INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Sentado em seu trono, Jabim encara
tanto a serva chorosa quanto Sísera logo atrás dela.
SÍSERA
Com
licença, meu senhor.
Jabim faz que sim e Sísera se
aproxima e para ao lado da mulher, que tremula de pavor.
JABIM
Sísera,
você escutou o que essa serva me contou. É tudo verdade?
Sísera hesita... Olha para ela, que
mantém o olhar baixo... e de volta para o rei.
SÍSERA
Sim.
Lágrimas escorrem do rosto da
serva.
JABIM
(para ela) Olhe para
mim.
Ela levanta a cabeça e olha para
Jabim.
JABIM
Acontece,
mulher, que o que esse homem te falou na ocasião... é verdade. Ele não é apenas
um soldado, foi promovido a Capitão temporário, e é muito curioso que você,
como serva, não saiba disso. Essa situação mostra o seu desinteresse em se
inteirar nos assuntos do reino, pertinentes à vida de todos os
hazoritas!
SERVA
Perdão, meu
rei! Perdão!... (limpando as lágrimas) Mas... ele me importunou... Se
aproveitou da tua serva...
JABIM
Sísera,
você fez mesmo tudo o que ela relatou? Abraçou-a, acariciou-a, apalpou-a?
Sísera respira fundo.
SÍSERA
Sim, meu
senhor. Tudo isso aconteceu. Não consegui resistir...
Jabim se ajeita no trono.
JABIM
Sabe, só de
falar e imaginar isso, já senti um fogo nas minhas entranhas...
Surpresa e receosa, a mulher olha
para o rei.
JABIM
Você. Quero
que vá agora mesmo para os meus aposentos.
SERVA
(desesperando-se) Senhor...
O quê... Não entendo!...
JABIM
Quero você
me esperando em meu quarto. O servo lhe acompanhará. Vá!
SERVA
Senhor, por
favor!... Senhor! Meu rei! Por favor! Piedade! Eu sou casada, meu senhor! Por
favor! Não faça isso! Me perdoe, me perdoe! Deixe-me ir!...
JABIM
Se você não
estiver em meu quarto quando eu chegar lá, mandarei para o seu marido a sua
cabeça dentro de um cesto! VÁ!!!
A serva desaba em lágrimas e vai
saindo. O servo se aproxima e a conduz.
SÍSERA
Senhor...
Perdão pelo inconveniente.
Jabim respira fundo e relaxa no
trono.
JABIM
Tem o primeiro
relatório?
SÍSERA
Era sobre
isso que eu gostaria de falar com o meu soberano. Devido a alguns elementos da
geografia local até então desconhecidos, e também a uma suposta mudança na
estratégia de defesa dos amonitas, eu calculei e previ grandes riscos caso
continuássemos com as buscas naquele local e com aquela estratégia. Portanto,
meu senhor, não houve tempo o suficiente para conseguirmos informações
relevantes. Por essa razão, escolhi por alterar a entrega do primeiro relatório
em algumas horas.
Jabim não fica muito confortável...
JABIM
Você tem
certeza?
SÍSERA
Absoluta,
senhor.
JABIM
Essa
alteração devia ser solicitada a mim com antecedência. Você deveria me
apresentar o mapa de riscos e só então eu daria o aval para a mudança no
horário de entrega. É assim que funciona, Sísera. Sou eu quem tem a última
palavra.
SÍSERA
(de cabeça
baixa) Perdão, meu senhor. Peço que perdoe o erro do teu servo. Na
ânsia de fazer a melhor estratégia para o exército e para as buscas, me
atrapalhei completamente... Mas juro ao meu rei, pela minha vida, que isso não
voltará a acontecer.
Jabim respira fundo e Sísera olha
para ele.
JABIM
Tudo bem. Vou
aguardar o primeiro relatório até o final do dia.
SÍSERA
Grato,
senhor! Agradeço imensamente!
JABIM
Bom, agora
vou aos meus aposentos brincar um pouco com a sua amiga.
SÍSERA
(sorrindo) Faça um
bom proveito da serva, meu rei. Com licença.
Sísera
faz uma reverência com a cabeça e sai. Jabim se levanta e vai para outra saída.
CENA 2:
EXT. MONTE – DIA
Parados à borda do monte e de
costas para a paisagem, Débora, Jaziel e Baraque encaram o topo: porém, há ali
apenas areia e algumas pequenas elevações rochosas.
JAZIEL
Francamente...
Além de cansado, Baraque começa a
se preocupar. Débora então vira e olha para Betel. A cidade está logo ali...
DÉBORA
Só essa
vista inédita já valeu a escalada!...
Jaziel também vira.
JAZIEL
É, não dá para
dizer que você não tem razão...
Baraque parece ter a mente
iluminada.
BARAQUE
Esperem!...
O pergaminho diz que o tesouro está sobre! A areia pode tê-lo coberto!...
Débora e Jaziel não parecem muito
animados.
BARAQUE
Por favor,
me ajudem... Não parece ser uma camada muito grossa de areia. Deve estar aqui, tem
que estar!
Débora e Baraque se entreolham...
DÉBORA
(NAR.)
Eu já
estava imaginando que aquilo não tinha futuro, mas ajudaria Baraque assim
mesmo.
Os
dois então se aproximam de Baraque para procurarem o tesouro.
CENA 3:
INT. CASA DE NIRA – DIA
Nira está deitada de bruços com um
leve lençol lhe cobrindo de qualquer jeito, e Jeboão beija seus pés; vai
subindo pela perna.
JEBOÃO
Que
sorte... Sou o homem mais sortudo de Canaã!... Sorte de ter você... de ser você
o alívio na minha vida...
Ela
sorri e ele, segurando a coxa de Nira, olha para ela.
JEBOÃO
Não sei o
que seria de mim se tivesse que ver apenas aquela velha feiosa todos os dias...
Me enoja! Mas você não, Nira. Você me dá vigor, me dá saúde! Me enche de
prazeres que eu pensava que nunca mais poderia ter.
Afoito, ele engatinha até se igualar
a ela em altura e beija sua costa nua. Se empolga e começa a apertar o corpo de
Nira, que logo sai de baixo dele e senta na cama.
JEBOÃO
O quê?...
Nira se ajeita, sorri e acaricia o
cabelo dele com a mão.
NIRA
É que...
tem uma coisa...
JEBOÃO
Uma coisa?
Que coisa? O que está acontecendo, minha deusa?
NIRA
Faz tempo,
Jeboão... que eu tenho um desejo.
JEBOÃO
(gostando) Um desejo?
Hum, diga o que quer que eu faça que eu faço do jeito que quiser, agora mesmo,
pra te dar o maior prazer que já sentiu...
NIRA
Não, meu
amor, não é isso... Em relação ao nosso fogo, estou plenamente satisfeita. Você
é perfeito. Não tenho do que reclamar.
JEBOÃO
Que bom...
Então, do que se trata o seu desejo, Nira? Se eu puder, também te darei.
NIRA
Meu desejo,
Jeboão, é de ter uma joia. Igual às das mulheres nobres. Uma joia de pescoço,
um adorno...
JEBOÃO
Bom, eu...
eu posso comprar uma para você, mas precisa esperar um tempo...
Nira faz um semblante de
insatisfação.
NIRA
Eu sempre
estou disponível para você, Jeboão, sempre. E esse meu desejo já vem de muito
tempo!
Jeboão respira fundo.
JEBOÃO
Vai ser
difícil... mas vou tentar.
Deixando o lençol em que está
enrolada afrouxar e seu corpo nu mais visível, Nira se inclina para ele.
NIRA
Mas é só
tentar? Só isso? Um homem como você, com a sua honra, sua reputação, sua coragem!...
vai só tentar?
Jeboão fica mais confiante.
JEBOÃO
Não. Eu vou
conseguir!
Nira sorri satisfeita.
JEBOÃO
Mas quero
que faça uma coisa pra mim, e agora.
NIRA
O quê, meu
destemido guerreiro?
Jeboão então deita de barriga para
cima.
JEBOÃO
Quero você
por cima.
NIRA
Hum...
JEBOÃO
Todas as
noites imagino isso na cama antes de dormir... Porém é difícil com Najara do
lado. Mas agora posso. Agora quero! Quero muito! Venha, Nira, venha!
Olhando-o provocantemente, Nira
engatinha e senta em cima dele, de frente para ele.
NIRA
(acariciando
o peito de Jeboão) O que quer que eu faça agora, hum?
Jeboão,
admirando-a, sorri empolgado.
CENA 4:
INT. CASA DE NAJARA – SALA – DIA
A porta se abre e Sísera e Najara
entram em casa.
SÍSERA
E o pai?
Será que chegou?
NAJARA
Ainda deve
estar fora com alguma vagabunda.
Sísera fecha a porta.
SÍSERA
Pelo menos
poderemos ver o problema em paz.
NAJARA
Vamos logo.
Eles
vão para a cozinha, onde acendem uma tocha e abrem uma pequena porta de madeira
no chão.
CENA 5:
INT. CASA DE NAJARA – PORÃO – DIA
Sísera e Najara descem uma escada
de madeira. O local é escuro, as únicas luzes vem das frestas da porta no teto
e da tocha que Sísera carrega.
Finalmente chegam ao chão e
caminham para o fundo do porão. Não é um local grande, e há ali apenas poucos
objetos velhos jogados. Mas, conforme se aproximam do fundo, a luz da chama
revela dois pilares de madeira ligando o teto ao chão, e, em cada um, um homem.
Estão sentados, os braços para trás e presos aos pilares por cordas e as bocas
amordaçadas. Ao verem Sísera e Najara, eles começam a se debater.
NAJARA
Capitão...
E Primeiro Oficial. Estão com saudades?
Eles tentam se debater
violentamente, mas em vão.
NAJARA
Tire as
mordaças.
Sísera, ainda segurando a tocha, se
aproxima e tira a mordaça do CAPITÃO (50 anos) e do PRIMEIRO OFICIAL (30 anos).
CAPITÃO
Malditos...
Malditos... Traidores, malditos!!! Até quando isso???!!!
Najara,
sorrindo, e Sísera, sério, encaram os dois homens.
CENA 6: EXT.
MONTE – DIA
No topo do monte, Baraque e Jaziel
continuam a afastar, em diferentes pontos, a camada de areia em busca de algum
sinal do tesouro. Débora faz o mesmo, mas um pouco afastada dos dois, e parece
pensar em outras coisas. Jaziel, suado, para e respira fundo.
BARAQUE
(notando-o) Por favor,
não desistam! Podemos estar mais próximos do que pensamos!
JAZIEL
(cansado e
frustrado) É óbvio que não há nada aqui!
DÉBORA
Vocês
chegaram a ouvir sobre os rumores?
Ambos olham para ela.
BARAQUE
Que
rumores?
DÉBORA
De que algumas
regiões na fronteira ao norte estão sendo atacadas...
JAZIEL
Rum, não
seria novidade. Sangar nas últimas, o povo voltando à idolatria... É bem
possível que voltemos a ser dominados por algum outro reino.
BARAQUE
(aflito com
a ideia) Ah... Nem diga uma coisa dessa. Mas, se encontrarmos o tesouro
aqui, poderemos ficar mais tranquilos com todo o dinheiro que teremos.
DÉBORA
Não sei
vocês, mas eu não ficaria com tudo. Ajudaria o povo de Betel...
BARAQUE
Sim, claro,
há muitos necessitados entre nós...
De repente, enquanto mexe quase a
esmo na areia, Débora nota, do outro lado de uma formação rochosa, algo diferente.
Não consegue distinguir... Então dá a volta na rocha e vai até lá. Ao chegar
percebe que se trata de uma tábua de pedra, com inscrições gravadas, posta à
boca de uma caverna vedada por outras pedras.
DÉBORA
Meu Deus...
Ela se agacha e examina a
inscrição.
DÉBORA
“Misael.
Marido honrado, pai amado e servo humilde do Deus de Israel.”.
Impressionada, Débora tampa a boca
com a mão...
Por um bom instante ela fica assim,
congelada...
JAZIEL
(O.S.)
Débora!
Pálida, a garota pisca e apenas
balbucia...
JAZIEL
(O.S.)
Débora,
onde você está?!
Finalmente ela reage... Engole em
seco, tenta respirar, limpa o rosto... Sons de alguém se aproximando.
Então põe-se de pé e volta
arrodeando a formação rochosa; dá de cara com Jaziel!
DÉBORA
(assustando) Ah!...
JAZIEL
Ei!... Onde
você estava? Está bem?
DÉBORA
Sim, sim...
Estava apenas procurando lá para trás... Vamos.
Débora
volta. Jaziel olha para o lugar de onde ela veio, mas, não vendo nada dali, a
segue.
DÉBORA
Acho melhor
irmos embora, Baraque.
BARAQUE
(lamentavelmente) Sei...
JAZIEL
O que você
vai fazer agora?
Baraque se levanta e, frustrado,
respira fundo.
BARAQUE
Não sei...
Para mim a carta era tão clara... Acho que não vou ter escolha a não ser voltar
para Quedes.
Cansados, os três se entreolham... E
então vão para a borda do monte para descerem.
Débora
disfarça sua confusão de sensações...
CENA 7: INT.
CASA DE NAJARA – PORÃO – DIA
A fraca luz da tocha que Sísera
segura ilumina o rosto cruel de Najara, o semblante revoltado do Capitão e a preocupação
do Primeiro Oficial.
NAJARA
(para o
Capitão) Você ainda não entendeu o que está acontecendo aqui, não é?
CAPITÃO
O que vocês
querem?! Ahn?! Digam! Ouro! Nomeações!
NAJARA
Com essa
inocência você não serve mesmo para comandar o exército de Hazor. Parte
da culpa de os amonitas ainda serem uma ameaça para nós é sua.
PRIMEIRO
OFICIAL
(os olhos
lacrimejando) Por favor, senhora... Sísera... Por favor, deixem-me
ir... Eu tenho meus pais... Eles só tem a mim, por favor... Clemência!...
Najara o ignora.
NAJARA
Sísera é
quem merece o cargo de Capitão. Ele foi preparado por mim para isso durante
toda sua vida. É seu destino. Um destino de glória reservado a ele pelos próprios
deuses.
CAPITÃO
(enojado) Vocês...
Vocês fizeram... um plano?!
NAJARA
Sim. E
tirá-los do caminho é a parte mais importante do plano.
CAPITÃO
Como
ousam?!
NAJARA
Fique
tranquilo, ainda Capitão. Se você ama tanto o exército e a nação,
precisa morrer tranquilo, sabendo que os mesmos estarão em ótimas mãos e com um
futuro brilhante!
Os primeiros traços de desespero
começam a aparecer no Capitão.
CAPITÃO
Malditos...
São muito piores do que eu pensava... Desgraçados, malditos, canalhas!
Canalhas!!! Seus canalhas!!! Seus malditos!!! Malditos!!!
Najara saca um punhal e os dois
homens a olham, agora quietos e trêmulos.
Então ela oferece o punhal ao
filho.
NAJARA
Faça.
Sísera
olha nos olhos de Najara.
NAJARA
É você quem
vai ocupar o lugar, então é você quem deve tirá-lo do mesmo. É assim que tem
que ser.
Levemente apreensivo, Sísera pega o
punhal.
CAPITÃO
Você nunca
matou ninguém, Sísera... Do tempo em que entrou no exército até agora nunca
participamos de nenhuma batalha!... Você não consegue, não sabe! Não pode fazer
isso!
Com
raiva, Najara se abaixa e amordaça novamente o Capitão que, suado, berra e se
debate, mas em vão. Ao ver a hesitação do filho, Najara toma-lhe o punhal e se
aproxima do Primeiro Oficial.
NAJARA
(para
Sísera) Vou mostrar apenas uma vez.
PRIMEIRO
OFICIAL
Não, não,
não, não, não, não!...
Sob o olhar angustiado e
desesperado do Primeiro Oficial, Najara lhe corta o pescoço com um golpe lento,
mas certeiro. Sísera observa o sangue escorrer do pescoço e rapidamente molhar
toda a veste do homem, que desfalece. O Capitão não para de berrar.
Najara então entrega o punhal ao
filho, que pega, tentando se manter equilibrado, e se aproxima do Capitão, que
grita tanto que é possível entender o que diz, apesar da mordaça.
CAPITÃO
LOUCOS!!! LOUCOS!!!
LOOOUCOS!!!
Najara se aproxima de Sísera.
NAJARA
(sussurrando
no ouvido) Você consegue. Estará fazendo bem a si, à família, a todo o
povo do reino. Você é necessário, Sísera. Todos precisam de você... e todos te
obedecerão. Uma nação aos seus pés... Um mundo grato. Todas as injustiças que
sofreu... sendo consertadas. Justiça absoluta!... sendo feita. Todas as
peças em seus devidos lugares... onde já deveriam estar há muito tempo. E tudo
o que você quiser... ao seu alcance.
Meio que em transe, Sísera,
segurando firmemente o punhal, encara o desesperado Capitão.
NAJARA
Sísera. O grande
Sísera. Capitão do exército de Hazor. Ninguém acima dele a não ser o rei!
Quase hipnotizado, Sísera leva o
punhal até o pescoço do homem. Najara assiste com expectativa. Então Sísera
afunda a lâmina e faz um corte perfeito. Parece entrar em êxtase quando o
sangue quente jorra do pescoço e encharca sua mão até o punho...
O Capitão desfalece e Sísera, no
auge de sua sensação, cai sentado.
Najara o olha satisfeita.
Ela molha a ponta do dedo no sangue
escorrido e faz uma mancha na testa do filho. Em seguida segura sua cabeça e a
beija.
NAJARA
Tenho
orgulho de você.
Sísera, um tanto anestesiado, olha
para ela, que sorri. Em seguida ele olha para os dois corpos, mas
principalmente para o do Capitão.
No olhar ao mesmo tempo vazio e
aliviado de Sísera, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Éder diz a
Débora que precisam marcar seu casamento. Sísera e Najara dão continuidade ao
plano. E Sama e Jaziel passam por um momento complicado em seu namoro.
Obrigado pelo seu comentário!