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Débora - Capítulo 25


Débora
CAPÍTULO 25

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 No capítulo anterior: Os dois soldados zombam de Débora mas, surpreendentemente, ela luta com garra e os derrota; manda-os desaparecer. Sísera vai ao quarto das candidatas à serva e as toca e cheira, mas sai dizendo que ainda não sabe se são dignas de seu toque. Gadi diz a Laís que nunca teve uma noite como aquela, e foi como se eles dois se dessem bem demais. Ela também acaba elogiando-o antes de ir embora. Sísera avisa Bogotai que agora hebreias passarão a trabalhar na Fortaleza, e o chama para busca-las. Eloá e Danilo, os cozinheiros da casa de Najara, comemoram o dia de folga, pois as candidatas é quem cozinharão. Jaziel diz a Éder que acha que a questão do vilarejo já foi resolvida e, apesar de insistência do colega, não fala nada mais sobre. Em Quedes, Sísera e Bogotai capturam mulheres. Sama tenta se salvar com sua filha e seu marido Iru, mas Bogotai a leva, e ela tem tempo apenas de entregar a filha ao marido. Renê, a mãe de Baraque, fica aliviada por sua nora Sara não ter sido levada, pois nem imagina como Baraque reagiria. Débora diz a Lapidote que suas habilidades com espada não podem ser em vão. Lapidote diz que é muito difícil e perigoso, mas ela deposita sua confiança em Deus e em seu treino desde a mocidade. Ele também a lembra da busca de ambos, e ela diz que não desistiu de ser mãe, mas poderão continuar tentando depois. Ainda revela que, se ele não concordar, ela ficará e não partirá; e espera pela resposta dele.
FADE IN:

CENA 1: INT. DESERTO - CAVERNA – DIA
Escuro... Barulho de material sendo removido... Um buraquinho... Aumenta... Terra cai conforme dedos se mexem, e o buraco cresce... Luz... Um rosto... O buraco aumenta, a mão trabalha com vigor... E vemos o indivíduo: BARAQUE (42 anos), cavoucando a parede.
Ajoelhado na pequena caverna, ele cava incansavelmente, pois já consegue avistar um brilho vindo lá de dentro da parede. Seus olhos brilham igualmente, e seu semblante reflete sua certeza de que finalmente colocará a mão no tesouro.
Até que ele paralisa... Não cavouca mais. A empolgação dá lugar à estranheza, e sua testa se franze. Ele mexe um pouco o braço enfiado na parede, o que faz confirmar sua decepção.
Baraque tira a mão lá de dentro e olha para ela: molhada. Olha para o buraco: o que brilha lá dentro não é ouro ou prata, mas um pequeno veio de água cristalina.
BARAQUE
Nunca pensei que odiaria encontrar água!
Desanimado, ele desaba sentado.

CENA 2: EXT. DESERTO – CAVERNA – LADO DE FORA – DIA
Decepcionado, Baraque sai da caverna carregando um saco de pano. Logo ali está seu cavalo amarrado. Ele se aproxima do animal e prende o saco. Nesse instante, um barulho; ele vira. 3 homens saem de trás da formação rochosa onde está a caverna e se aproximam; ambos armados com pequenas espadas: são saqueadores.
Baraque os encara com certa raiva.
SAQUEADOR 1
Fique bem parado aí, hebreu.
BARAQUE
Hazoritas...
Sorrindo maliciosamente, os 3 se aproximam mais e param encarando-o.
SAQUEADOR 1
Você é Baraque? Aquele cuja família possui um tesouro?
Baraque aperta os olhos.
BARAQUE
Sim.
SAQUEADOR 1
Pois muito bem, hebreu Baraque. Sendo de sua família, você sabe onde está o tesouro. Diga a localização agora mesmo, ou então morra.
Baraque, firme mas cauteloso, ri. Devagar, ele dá um passo para trás, mais próximo do cavalo.
BARAQUE
Sabem, eu imaginei que em algum dia isso aconteceria.
De repente, ele rapidamente enfia a mão entre os tecidos na cela do cavalo e retira de lá uma espada. Os saqueadores se assustam, mas não se intimidam e permanecem em posição.
SAQUEADOR 1
Se não for por bem, será por mal.
Então os 3 avançam e Baraque vai contra eles. Choca com um. Desferem golpes um contra o outro, mas Baraque lhe dá um empurrão forte. Os outros 2 atacam simultaneamente, mas Baraque é rápido e consegue bloquear e desviar os golpes de ambos. Com sua espada maior por vantagem, ele os fere, porém os homens não desistem.
Os 3 se unem e são incisivos contra ele. Baraque começa a sentir a dificuldade de ter de enfrentar 3, até que batem na mão de sua espada e ela cai. Ele tenta se abaixar para pegá-la, mas um deles o chuta. Quando o saqueador tenta pegá-la, Baraque é rápido e joga um punhado de areia no rosto do homem, que grita com os olhos queimando. Baraque chuta-o ao mesmo tempo que leva um chute de outro. Apesar disso, ele consegue recuperar sua espada e, logo em seguida, bloqueia dois golpes simultâneos. Outro golpe em seguida faz um corte em seu braço, mas ele rola na areia e ganha distância.
Com essa vantagem ele bloqueia um, arranca sua pequena espada e, com o cabo dela, bate na cabeça do saqueador, que cai. Olha para o último, que corre até ele, mas Baraque apoia uma mão no chão, impulsiona o corpo de modo que as pernas levantem e chuta o saqueador duas vezes no rosto; ele e o homem caem. Baraque rapidamente se levanta e encara os 3 caídos.
BARAQUE
(chutando-os) Fora daqui!!! Vamos!!! Sumam, hazoritas malditos!!! Sumam daqui!!! Vocês se envolveram com a família errada!!! Procuraram o tesouro errado!!! Sumam daqui!!!
Assustados e derrotados, os 3 se levantam e, com dificuldade, correm dali.
Baraque os encara fugir. Então olha para sua espada...
BARAQUE
Finalmente você pôde me salvar.
Sorri cansado...



CENA 3: INT. SAPATARIA DE LAPIDOTE – DIA
Sentados próximos e de frente um para o outro, Débora e Lapidote se encaram. Ele não esperava ouvir o que acabou de ouvir da boca da esposa.
LAPIDOTE
Como é?
DÉBORA
É isso mesmo, meu amor. Se você não concordar com o que eu quero, ficarei em Betel. Não vou fazer nada do que falei. Partirei apenas com o seu apoio. (pequena pausa) E então? O que quer que eu faça, Lapidote?
Ele não sabe o que dizer... Balança a cabeça.
LAPIDOTE
Eu... não sei... Você...
Débora aguarda. Ele respira fundo e a olha.
LAPIDOTE
Faça o seguinte: fale com os anciães. Veja o que eles pensam sobre isso. Ninguém melhor do que eles para opinarem. Consulte o que acha o senhor Aliã. Se ele estiver de acordo... eu também estarei. Mas é difícil... É muito difícil saber que você estará partindo dessa forma para algo tão, mas tão perigoso...
DÉBORA
Se eu assim o fizer, confie, meu amor. Confie e ore sem cessar. Estarei fazendo o mesmo seja lá onde estiver.
Lapidote faz que sim.
LAPIDOTE
Claro. Jamais deixarei de orar.
DÉBORA
Então... falarei com o senhor Aliã.

CENA 4: INT. CASA DE ADÉLIA – COZINHA – DIA
LAILA
Pode entrar.
Mireu passa pela porta e entra na cozinha. Laila o segue.
MIREU
Uau!...
LAILA
Eu não disse que era muito?
Mireu encara a mesa e os balcões de pedra da cozinha, lotados de potes com todos os tipos de ingredientes para os doces e bolos que Adélia vende.
MIREU
Isso é muito! Como Adélia faz para que os hazoritas não tomem?!
LAILA
Mas essa é justamente a parte certa, a que cabe a nós.
MIREU
Meu Deus... Se isso é só a décima parte... mal consigo imaginar o total!
LAILA
(sorrindo) Estamos ou não estamos na Terra Prometida?
Mireu, impressionado, admira a quantidade de ingredientes.
LAILA
Não é também o campo da sua família farto como o nosso?
MIREU
Sim... Mas meu pai não tem muito tempo de cuidar, já que precisa trabalhar na plantação para os hazoritas. A função acaba ficando pra mim, mas ele não confia muito no meu serviço. Além do mais ele corre risco de perder o terreno.
LAILA
Perder? Mas por quê?
MIREU
Um homem chamado Josafe, hebreu, voltou de Ramá alegando que aquele terreno é um antigo de sua família, e como todos já morreram, pertence a ele.
LAILA
Meu Deus...
MIREU
Meu pai e ele estão disputando a posse da terra. E também por isso as coisas andam meio paradas...

CENA 5: EXT. BETEL – PLANTAÇÃO – DIA
Trabalhando na plantação, Éder tem um encontrão com outro hebreu: JOSAFE (45 anos). Após quase caírem, ambos se encaram.
JOSAFE
Olhe por onde anda, Éder!
ÉDER
Não venha com fingimentos. Você me empurrou de propósito.
Jaziel, ali perto, os observa.
JOSAFE
Você não se cansa da mentira não? Até aqui! O problema é que você não presta atenção em nada. Não presta atenção no que é dos outros a ponto de se apossar do que não é seu!
ÉDER
Pra você tudo diz respeito ao terreno. Não para de falar sobre isso. Seu miserável.
JOSAFE
Vou te mostrar quem é o miserável aqui!
Josafe e Éder então se atracam em uma luta, mas logo um capataz chega ali com o chicote na mão.
CAPATAZ
Ei!!! Vocês!!!
O hazorita separa Éder e Josafe desferindo vários chicotadas em ambos, que caem e se levantam.
CAPATAZ
Querem morrer agora mesmo???!!! Bando de malditos!!! Incompetentes!!! Se querem se matar eu mato os dois aqui mesmo!!! Vagabundos!!!
Éder e Josafe, já separados, olham para o capataz.
CAPATAZ
Já pro trabalho! Agora!!!
Os dois voltam a trocar olhares raivosos, mas não demoram a voltar às suas obrigações. Jaziel olha para Éder com reprovação no olhar.

CENA 6: EXT. BETEL - TEMPLO – PÁTIO – DIA
Sentado à margem do riacho que corta os pátios do templo, Aliã encara Débora, sentada ao seu lado.
ALIÃ
Lutar?!
Débora faz que sim...
ALIÃ
Então acha que a missão requerida por Deus a você é que você seja uma espécie de justiceira... Uma guerreira solitária. Fiquei bastante impressionado com o relato do sobrevivente que o Jaziel trouxe aqui, mas ainda assim fico surpreso com a sua interpretação, Débora.
DÉBORA
E o que pensa o senhor sobre isso?
Aliã, olhando para os lados, respira fundo e abre os braços. Parece não ter o que dizer...
Por fim, engole em seco e a olha.
ALIÃ
Débora, você tem o dom de Deus. As pessoas sabem disso. Sua fama já é grande aqui em Betel e já está se espalhando para os arredores. Quem sou eu para discordar da sua interpretação? Sou apenas o ancião.
DÉBORA
E isso não é muito?
ANCIÃO
Muito?! Quem sou eu, minha filha? Apenas o responsável por manter as tradições de Deus, por não deixar a fé morrer e por resolver as pequenas causas enquanto um juiz não é levantado. Não sei se é minha suposta humildade somada à idade em demasia, mas não creio que seja o suficiente para me qualificar como um homem digno de opinar nas decisões de uma mulher como você.
DÉBORA
A opinião do senhor vale muito para mim. É o nosso ancião... O homem que me ensinou praticamente tudo o que sei sobre o nosso povo e o nosso Deus.
ANCIÃO
Bom... Pra dizer a verdade foi assim que muitas vezes os juízes foram levantados. Libertando o povo da opressão e da escravidão.
Débora fica um tanto sem jeito.
DÉBORA
Eu... não penso nisso. Apesar de me lembrar exatamente do que disse o juiz Sangar há 20 anos... Eu quero apenas lutar, senhor. Defender e proteger os nossos.
Aliã sorri.
ALIÃ
Sabia que os mais qualificados para a liderança são aqueles que não a querem?
Débora continua sem jeito... Respira fundo.
DÉBORA
Senhor... então eu irei. Falarei com meu marido e partirei de Betel.
ALIÃ
Pois bem... Então recomendo que seja discreta, Débora. Para o bem da sua família. De Lapidote, de seus pais...
DÉBORA
Uma hora saberão. Será inevitável. Uma hora todos saberão que Débora de Efraim está lutando por aí.
Aliã então pega as mãos dela.
ALIÃ
Que Deus a abençoe, a guie e a proteja.
Ele então coloca uma mão na cabeça dela, que fecha os olhos.
ALIÃ
Que o Senhor a acompanhe, dia e noite. E faça em sua vida a Sua vontade.
DÉBORA
Amém.
Ela sorri e se levanta.
DÉBORA
Shalom, senhor Aliã.
ALIÃ
Shalom, minha filha.
Débora então sai. Num misto de preocupação e curiosidade, Aliã a observa se afastar.

CENA 7: EXT. BETEL – RUA – DIA
Isabel encontra Débora andando pela rua e se aproxima.
ISABEL
Débora! Shalom...
DÉBORA
Shalom, minha prima.
ISABEL
Débora... Deixe-me te perguntar... No que deu aquela história daquela senhora que foi atrás de você com o filho doente?!
As duas saem andando.
DÉBORA
Bem... Ela fez como a orientei e o menino foi curado. Pela misericórdia de Deus.
Isabel sorri maravilhada.
ISABEL
Louvado seja o Senhor!
Ouve-se a voz de Adélia anunciando seus doces e bolos.
ISABEL
Prima, eu não sabia dessa sua fama. É um dom de Deus!
Débora sorri simpática.
ISABEL
Por favor, venha jantar hoje em minha casa com o Lapidote...
DÉBORA
Perdão, Isabel, mas não poderei.
ISABEL
Hum... Tudo bem. Eu entendo. O passado e tudo mais... Mas acho que devíamos esquecer isso.
DÉBORA
Não, minha prima, não é por isso. Acontece que realmente não será possível, pois preciso me preparar. Eu vou viajar.
Adélia, já ali perto, ouviu esse trecho.
ADÉLIA
Viajar?!
Adélia se aproxima e Débora olha para ela.
DÉBORA
(sorrindo) Tem ótimos ouvidos, mocinha.
ADÉLIA
Não se preocupe, senhora Débora. Eu posso ser discreta. Até fico tímida quando quero. Acredite ou não.
Débora faz que sim sorrindo.
ADÉLIA
Mas a senhora ainda está preocupada. Eu posso ver, está estampado em seu rosto. É a experiência, não erro uma! Vamos, pegue um docinho. (entrega um) Esse. Fiz a receita exatamente para que quem coma perca a preocupação e relaxe.
Débora examina o doce.
ADÉLIA
Pode comer, senhora. Não tem aquelas ervas esquisitas que os hazoritas usam pra se alucinarem não. Meus produtos tem ética e seguem a moral das leis de Deus! Esse tem sabor de uma fruta amarelada que nunca me recordo do nome, mas que funciona como calmante. E também uma pitadinha de amor!
Débora morde e saboreia.
DÉBORA
Maravilhoso! Como sempre, Adélia.
Débora pega uma moeda na veste e paga.
ADÉLIA
A senhora é um doce! Dia desses vou pensar numa receita inspirada na senhora.
Débora ri.
DÉBORA
Você não existe, Adélia. Muito obrigada... Eu vou indo. Shalom.
ISABEL
Shalom!
ADÉLIA
(sorrindo) Shalom, senhoras.
Débora e Isabel saem andando.
ISABEL
Viajar?! Escondida?! Como, Débora? Por quê?! Para onde você pretender ir?!
DÉBORA
Infelizmente... eu não posso dizer. Ainda.
ISABEL
E Lapidote... está sabendo?
DÉBORA
Sim, é claro. Jamais eu tomaria uma decisão sem a ciência de Lapidote.
ISABEL
E ele deixou?
Elas param pois chegaram em um ponto onde cada uma vai para um rumo. Débora olha para a prima.
DÉBORA
Nós conversamos... Todas as decisões que tomamos é em conjunto.
Isabel arqueia as sobrancelhas.
ISABEL
É mesmo? Que diferente... Vocês formam um casal muito bonito.
DÉBORA
(sorrindo) Obrigada, minha prima. Shalom.
ISABEL
Shalom...
Débora vira e sai. Isabel fica ali parada, preocupada e um tanto aflita.

CENA 8: EXT. FORTALEZA – FRENTE – DIA
Sísera, Bogotai e os soldados chegam à Fortaleza trazendo as dezenas de hebreias, algumas chorando, outras desesperadíssimas. Sama, presa nos braços de Bogotai, derrama lágrimas sem parar.
SÍSERA
(olhando para elas) Sejam bem-vindas ao seu novo lar, hebreias.
Eles caminham para a grande porta de entrada.

CENA 9: INT. FORTALEZA – SALÃO – DIA
Sísera, de pé e com Bogotai um pouco atrás de si, observa as mulheres à sua frente, colocadas de joelho diante deles. Já repreendidas, elas tentam abafar seus choros. Várias secam as lágrimas sem parar. Guardas e alguns soldados estão ao redor.
SÍSERA
Por que ouço choro abafado? Alegrem-se, hebreias. Vocês foram promovidas! A partir de agora não são mais escravas, mas sim servas incontestáveis do grande rei Jabim. E minhas servas, também.
Sísera então começa a andar devagar por entre elas.
SÍSERA
Há um plano ocorrendo em Hazor. Esse lugar em que estamos, chamado Fortaleza, abriga crianças, todas retiradas do meio do povo de vocês.
Um burburinho começa entre elas, e ele para de andar.
SÍSERA
Silêncio!!!
As poucas vozes cessam, mas aumentam-se os choros ainda abafados. Sama, em lágrimas, encara o nada à sua frente. Sísera retoma a caminhada entre elas.
SÍSERA
O rei Jabim pretende construir uma nova geração de escravos. Escravos que não possam pensar. Nem falar. Nem contestar. Homens que não conheçam o seu passado e muito menos guardem secretamente em seus corações a esperança de uma liberdade que pode impulsioná-los à rebelião e à desordem. As crianças que aqui se mostrarem aptas crescerão apenas para trabalhar. Trabalhar incansavelmente, dia após dia. E serão vocês as responsáveis por avalia-los e prepara-los para esse fim. As crianças que não passam no teste são levadas para os braços da morte. E, de novo, vocês é que serão as responsáveis por avaliar quem vira escravo e quem morre.
As mulheres ouvem aquilo horrorizadas.
SÍSERA
Para que não haja trapaça, vide a natureza traiçoeira do povo de vocês, não é permitida aprovação de mais de 80 crianças a cada 100. Os estudiosos de nosso reino já disseram que esse é o número médio de piolhentos hebreus que se mostram aptos no processo.
Sísera continua a andar devagar por entre elas.
SÍSERA
E, como sabem, as visitas de seus familiares, todas observadas de perto por um soldado a fim de que não contem nada proibido, acontecerão uma vez por lua. E, caso insistirem na desobediência e fizerem alguma gracinha, morrerá a mulher e o familiar visitante. Está entendido?
O silêncio não se altera.
SÍSERA
Está entendido?!
MULHERES
(abatidas) Sim...
Outras choram mais.
SÍSERA
(voltando para a frente delas) Agora cada uma de vocês se levantará, virá até mim, se ajoelhará e beijará minha mão.
Pouco depois, cada uma das mulheres vai até ele, se ajoelham e beijam sua mão. Sísera as observa com superioridade e desprezo.
Quando Sama se aproxima e faz o mesmo, ele, sentindo as lágrimas dela pingando em sua mão, mete uma forte bofetada no rosto dela, que cai secamente no chão.
SÍSERA
Que nojo!
E seca a mão. Sama, com dificuldade, se levanta e segue as outras mulheres.

CENA 10: INT. PALÁCIO – CASA - COZINHA – DIA
Najara está de frente para Darda e as 4 moças candidatas.
NAJARA
Os meus cozinheiros Eloá e Danilo já arrumaram tudo para a tarefa. A missão é preparar o meu desjejum. Todos os ingredientes e utensílios dessa cozinha estão à disposição de vocês. Aquela que preparar o pior prato será descartada da disputa.
As moças ouvem ansiosas.
NAJARA
Podem começar.
Imediatamente as 5 se espalham pela cozinha e começam a pegar potes, panelas, copos e ingredientes. Darda é uma das mais ágeis...

CENA 11: INT. SAPATARIA DE LAPIDOTE – DIA
Lapidote acabou de ouvir Débora.
LAPIDOTE
Então foi isso que disso o ancião.
DÉBORA
(fazendo que sim) Essas foram as palavras do senhor Aliã.
Ele faz que sim.
LAPIDOTE
Muito me dói... e muito me preocupa. Mas, conforme eu disse... eu aceito.
Ela sorri muito suavemente.
DÉBORA
Então está acertado, Lapidote. Eu vou partir. E, com a ajuda de Deus, farei justiça ao nosso povo.
Lapidote a olha com preocupação. Débora então pula no pescoço do marido e o abraça fortemente. Ele também a abraça. Lágrimas caem pesadamente dos olhos dos dois...
No abraço extremamente sentimental do casal, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Sama desabafa com outra mulher sobre os motivos de estar ali na Fortaleza. Najara avalia os pratos preparados pelas candidatas. Hanna conta para Sísera seu novo sonho. E Débora tenta se despedir dos pais para partir, mas Elian não perde a oportunidade de bater de frente com a filha.





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