Débora
CAPÍTULO 27
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1: EXT.
BETEL – RUAS – NOITE
Apesar da pouca luz, é possível
notar a palidez do rosto de Elian, que olha para Lapidote.
ELIAN
Nós
tínhamos um acordo...
LAPIDOTE
Quando
aceitei o acordo já havia contado a verdade para ela. Débora sabe da verdade há
muito tempo.
DÉBORA
Sim. Sei do
ato vil de meu pai há mais tempo do que ele imagina.
Elian, deslocado, a encara.
DÉBORA
Mas não
precisa se preocupar, meu pai, pois não farei nada. Assim como não fiz há 20
anos. Era só mesmo para o senhor enfrentar tudo que se tem que enfrentar em um
último encontro como esse.
ELIAN
Você quer
saber?! Eu fiz mesmo tudo isso! E não me arrependo nem um pouco! Você devia
estar casada com Éder! Devia honrar a escolha de seu pai! Agora que quer ir se
matar, que vá! Vá lá fazer sua diferença, vá lá mudar o mundo! Vamos ver quanto
tempo você dura. Particularmente, acho que amanhã Tamar já recebe a notícia de
que terá que partir para sepultar sua filha.
TAMAR
Pare,
Elian!!!
Deixando a desesperada esposa, a chorosa
filha e os preocupados Lapidote e Jaziel para trás, Elian simplesmente vira e
vai embora a passos apressados.
Débora tem um princípio de choro,
mas Lapidote se aproxima e a segura nos braços.
LAPIDOTE
Débora.
Débora, meu amor! Fique firme! Fique firme em seu propósito. Não se abata.
DÉBORA
(limpando
as poucas lágrimas) Tudo bem... Está bem.
Ela respira fundo, Lapidote a solta
e ela olha para Jaziel.
DÉBORA
Por que
está com suas coisas?
JAZIEL
Bem... Eu
partirei com você.
DÉBORA
O quê?! Vai
lutar comigo?! Isso é ótimo! Terei uma grande ajuda!
JAZIEL
Não, minha
amiga... Infelizmente não estou
emocionalmente apto para isso. Vou é me tratar. Tentar me curar... Preciso ver
o que Israel ainda tem a me oferecer.
DÉBORA
Hum... Pois
tome cuidado, Jaziel.
JAZIEL
Não sou eu
quem está indo desafiar um império.
Débora sorri.
DÉBORA
Tudo bem.
Então caminharemos um trecho juntos.
Tamar abraça a filha e fica grudada
nela.
TAMAR
E você tome
muito cuidado, minha filha... Seja prudente. E, por favor, não demore a
voltar... Não podemos passar tanto tempo sem ter notícias...
DÉBORA
Mãe, se
tudo der certo, vocês terão notícias minhas mesmo eu estando distante.
Tamar faz que sim... Débora vira
para o marido. Ele pega as mãos dela.
LAPIDOTE
Débora...
No momento em que a vi... Eu com 14 anos e você com 12... eu soube que ali na
minha frente poderia estar o meu grande amor. A mulher por quem eu seria capaz
de dar minha vida. Só nunca pensei que um dia ela é quem se arriscaria em prol
de todos, até mesmo de mim.
DÉBORA
Sim, até de
você, meu amor. Faço isso também pelo futuro de nossa família.
LAPIDOTE
Se houver
algo que eu possa fazer para ajudá-la, e que não estou fazendo, diga-me. Por
favor, diga-me que farei minha função de marido e a ajudarei.
DÉBORA
Lapidote,
você já me ajuda tanto, todos os dias, de formas que nem imagina!
Lapidote sorri suavemente.
DÉBORA
Nunca, jamais
se sinta culpado ou pense que está fazendo menos do que deveria. Pois você é o
melhor que eu poderia ter.
LAPIDOTE
Obrigado,
meu amor.
Débora, sorrindo emocionada, passa
a mão no rosto dele.
DÉBORA
Vou sentir
tanto a sua falta...
Lapidote então se aproxima e a
beija, um beijo não muito rápido, um beijo de despedida...
Por fim seus lábios se desgrudam.
DÉBORA
Isso foi
maravilhoso...
Lapidote sorri.
DÉBORA
Bem... Acho
que está na hora.
Débora
ainda abraça a mãe enquanto Jaziel abre a passagem secreta. Ela então pega suas
coisas e segura em uma só mão. A outra fica grudada na de Lapidote, mesmo com
eles se afastando. Por fim só seus dedos se tocam... até que eles também se
desprendem. Débora deixa um último olhar de carinho para o marido antes de se
abaixar e passar pelo buraco na muralha. Lapidote, com os olhos marejados, a
observa sumir na escuridão...
CENA 2:
EXT. CAMPO – NOITE
Débora e Jaziel caminham
silenciosamente pelos campos. Cada vez mais Betel fica para trás...
Caminham
até amanhecer.
CENA 3: EXT.
VILAREJO – DIA
Débora e Jaziel chegam às ruínas do
vilarejo destruído pelos hazoritas. Ela franze a testa.
DÉBORA
Os
corpos...
JAZIEL
Os malditos
devem tê-los descartados...
Débora olha com pesar para o amigo.
Então coloca suas coisas no chão.
DÉBORA
Acho que é
aqui que nos separamos.
JAZIEL
Sim. E se
ainda posso te dar um conselho, não se separe da sua espada. (apontando com
a cabeça) Está aí?
Ela olha para suas coisas.
DÉBORA
Sim. Jaziel,
se hoje eu posso fazer o que estou fazendo, também é graças a você. Espero
revê-lo em breve.
JAZIEL
Antes quero
ouvir sobre o que estará aprontando por aí.
Ela sorri.
DÉBORA
Ore, viu,
Jaziel? Não desanime. Não se esqueça de Deus. Ele não se esquece de nós. Às
vezes... Ele está nos testando, para ver se somos dignos de uma grande bênção
que nos reserva.
JAZIEL
Então meu
teste está durando anos.
DÉBORA
Não fale
assim...
JAZIEL
Não vou te
atrasar e tomar mais do seu tempo.
Então eles se abraçam...
Se soltam.
JAZIEL
Shalom,
Débora.
DÉBORA
Shalom,
Jaziel.
Ele
vira e sai levando suas coisas. Débora o observa se distanciar...
CENA 3:
EXT. VILAREJO – DIA
Triste, Débora cruza as ruínas do
vilarejo... Um cenário de desolação e morte.
Quando sai do outro lado, ela olha
para trás, observa uma última vez a destruição... e vira para partir.
Mas para ao ver um vulto se mexer.
Olha... Há um barulho... Franze a testa e encara o ponto onde acha ter visto o
movimento, mas não identifica nada de diferente. Então Débora abre suas coisas,
pega a espada e se aproxima com cuidado...
Ela é cautelosa, segura a espada
com firmeza... Barulho... Parece mesmo estar vindo dali... Do outro lado de uma
parede inclinada... uma massa escura... grande... no chão... se mexendo...
Ao perceber do que se trata, Débora
abaixa a espada e vai até lá correndo.
DÉBORA
Meu
Deus!...
Ela corre e para derrapando ao lado
de um cavalo, um grande cavalo escuro ainda com a cela. Caído em meio aos
destroços, o animal agoniza...
DÉBORA
Há quanto
tempo você estará aqui, meu Deus!...
Débora percebe que a corda dele
está presa a um poste de madeira que, por sua vez, está preso por um nó em meio
aos destroços. Apesar da força, o cavalo não conseguiria desprender o nó.
Identificando o problema, ela faz força, desata o nó e tira a corda do meio do
entulho.
DÉBORA
Vamos...
Débora tenta puxar o animal,
estimulando-o a se levantar... Percebendo a possibilidade, o cavalo se esforça
e rapidamente se põe de pé. Diante dela ele fica sobre as patas traseiras e
relincha. Ao voltar à posição normal, Débora sorri e passa a mão na crina.
DÉBORA
Muito bem! O
que acha de uma água fresquinha, hum? Vamos!
Ela
volta, pega suas coisas, guarda a espada, e depois sai dali guiando o cavalo,
puxando-o pela corda.
CENA 4:
INT. CASA DO AMOR – QUARTO – DIA
Deitado, Gadi assiste Laís, nua, se
levantar da cama e se vestir.
GADI
Sempre
pontual em sua saída.
Laís, ajeitando o cabelo, olha para
ele.
LAÍS
Para mim a
ética profissional é muito importante.
GADI
“Profissional”...
“Trabalho”... Esses termos que você tanto usa não combinam com o que acontece
entre nós dois durante a noite.
LAÍS
Mas não
pode negar que é o que é.
GADI
Laís... Mas
você... não sente o mesmo? Não concorda comigo?
LAÍS
A minha
função é atender ao fogo das entranhas de meus clientes, Gadi.
GADI
Laís... Eu
estou sendo sincero. Já estive com outras mulheres, inclusive meretrizes. Mas
com você... é diferente.
Laís continua a se arrumar.
LAÍS
Eu já disse
que você é bom. Já o elogiei antes. E se não for por meio de pagamento, durante
o ato não sou de elogiar o cliente. Mas você é bom sim, Gadi. Nunca neguei. Com
você não sinto a repulsa velada que sinto com os outros...
Gadi sorri.
GADI
Quero te
pedir uma coisa.
LAÍS
Diga.
GADI
Quero
acompanha-la.
LAÍS
Acompanhar?
A mim? Até onde?
GADI
Lá
embaixo...
Laís fica meio sem jeito, pensa...
Mas faz que sim.
LAÍS
Tudo bem.
Claro...
Gadi
então se levanta e se veste. Logo os dois saem do quarto.
CENA 5:
INT. CASA DE ADÉLIA – SALA – DIA
Vindo de outro cômodo, Laila chega
à sala e se surpreende com a presença da irmã, escorada na mesa.
LAILA
Adélia?
Ainda não foi?
Adélia olha para ela.
ADÉLIA
É... Estou
imaginando a nossa lojinha bem aqui... O balcão... As prateleiras... As mesas
com os clientes...
LAILA
É... Vamos
precisar fazer uma boa mudança nessa sala. Uma verdadeira transformação.
ADÉLIA
Uhum,
irmãzinha... Bom, mas enquanto isso não se resolve, eu vou para a rua, que ainda
é o meu lugar.
Adélia pega o cesto com os doces e
pendura no pescoço.
LAILA
Tenha um
bom dia.
Adélia beija a irmã.
ADÉLIA
Shalom.
E
sai.
CENA 6: INT.
CASA DO AMOR – DIA
Hanna vem dos fundos e encontra
Sísera chegando ali no balcão.
HANNA
Sísera?
Está vindo cada vez mais cedo... Abandonou o desjejum com a mamãe?
Sísera agarra o braço de Hanna com força.
SÍSERA
Não venha
com desrespeito com a minha mãe, está entendendo?
Hanna ri.
HANNA
Não tenho
medo de você, Sísera. Principalmente agora que vou começar a estudar a arte da
feitiçaria.
Sísera solta o braço dela, onde
fica uma marca avermelhada.
SÍSERA
É
justamente sobre isso que eu vim falar. Sirva-me.
Hanna serve vinho para ele, que
bebe.
HANNA
Pode dizer.
SÍSERA
Você não
pode simplesmente tomar decisão de abandonar o nosso negócio, visto que nós
dois colocamos dinheiro nesse lugar.
HANNA
Não se preocupe,
Sísera. Você não será prejudicado. Tudo será acertado com o próximo dono.
SÍSERA
O correto
seria você pedir a minha permissão para sair.
HANNA
Sísera, não
conteste muito não. Pois você, como oficial e Capitão do exército, não poderia
jamais se envolver nesse negócio. Queira você, queira não, goste você ou goste
não, a verdade é que está em minha mão.
Sísera ri.
SÍSERA
Acha mesmo
que eu permitiria a sua entrada no palácio? O rei jamais a ouvirá.
HANNA
Sísera, em
breve serei uma feiticeira. E certamente terei capacidade de usar minha magia
para invadir o palácio da forma que eu bem quiser. Ou ainda, quem sabe, visitar
Jabim em seus sonhos...
Sísera
faz que não devagar... Hanna ri.
CENA 7:
INT. SAPATARIA DE LAPIDOTE – DIA
Ajoelhado e com as mãos para cima,
Lapidote ora fervorosamente...
LAPIDOTE
...e que o
Senhor proteja minha esposa! Traga-a de volta para casa sã, salva e, se
possível... vitoriosa.
CENA 8:
EXT. CAMPO – RIACHO – DIA
Ajoelhada embaixo das árvores e com
as mãos para cima, Débora também ora com fervor...
DÉBORA
...além de
proteção, força, ajuda e sabedoria. Quero servi-Lo, Senhor... Quero servi-Lo.
Amém.
Débora então abre os olhos e olha.
As árvores sob as quais está estão à margem de um riacho, no qual o cavalo mata
sua sede. Ela se senta ao pé da árvore e observa o animal. Então franze a
testa.
DÉBORA
Ora... Você
é uma garota... (pequena pausa) Os hazoritas certamente a encontrarão.
Farão você lutar do lado errado... Hum... Acho que lhe darei um nome. Uma
garota?... Hum... O que acha de Pérola? Pérola? O que você acha, Pérola?
A égua levanta a cabeça, vira para
Débora, lambe os beiços e volta a beber água.
DÉBORA
(sorrindo) Acho que
nos entendemos. Pérola. Um bom nome.
Débora respira fundo.
DÉBORA
Pouco tempo depois, Débora arruma a
cela de Pérola, prende suas coisas e monta; sorri e faz um afago no animal.
DÉBORA
Vamos,
garota. Vamos porque nossa jornada é longa.
Pérola relincha e dispara, deixando
o riacho para trás e avançando pelo vasto campo que se estende à frente. Nisso,
IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Eloá e
Danilo se aproximam de Darda. A competição das candidatas continua. Sama começa
a avaliar as crianças. E Éder provoca Lapidote.
Obrigado pelo seu comentário!