Débora
CAPÍTULO 46
Último Capítulo
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
CENA 1: EXT.
DESERTO – DIA
Em meio à vastidão do deserto e por
entre morros e montes áridos, corre o desesperado Sísera.
Suas vestes estão surradas, em
algumas partes rasgadas. Seu cabelo está sujo de poeira, e seu rosto manchado.
Seu olhar é de desespero, medo,
pavor... Sem sua espada, tudo o que ele quer é fugir, fugir e fugir! Quanto
mais longe, melhor!
Em algum outro ponto do deserto,
Baraque, Jaziel e outros hebreus, todos montados em cavalos, cruzam o deserto à
toda velocidade. Olham para os lados, dão a volta em montes, mudam a direção...
JAZIEL
(em cima de
um morro) Nem sinal... Nada.
BARAQUE
Vamos por
aquele lado e aí damos a volta no vale.
Eles prosseguem a busca.
E
assim vai entardecendo...
CENA
2: INT. TENDA DE JAEL – SALA – PÔR DO SOL
Jael arruma a mesa quando Héber vem
da cozinha.
HÉBER
A lenha
acabou... Vou buscar agora mesmo. Ainda bem que consegui esquentar o leite com
um resto que tinha.
JAEL
Tudo bem...
Busque mesmo, porque pelo vento, essa noite será fria.
HÉBER
Até logo,
meu amor.
Ele
a beija e sai. Ela continua arrumando as coisas.
CENA
3: EXT. DESERTO – PÔR DO SOL
Débora, montada em Pérola, guia os
quase 10.000 hebreus pelo deserto. Eles correm e gritam, pois, logo à frente,
os sobreviventes do exército de Sísera estão fugindo, de volta a Harosete.
DÉBORA
Avante,
Israel! Avante!
A
perseguição continua...
CENA
4: INT. CASA DE ADÉLIA – LOJA – PÔR DO SOL
A loja está cheia, mas ninguém ali
veio atrás dos doces de Adélia. Todas aquelas mulheres e crianças, sentadas e
em pé, estão quietas, um tanto tensas, mas a maioria clamando sem cessar.
LAILA
Ai, não sei
o que é pior... A guerra ou a espera...
ISABEL
E eu, que
me aflijo por Éder e por Mireu?!... Ai, que angústia...
ADÉLIA
Minhas
irmãs... Não é fácil, eu sei... Mas precisamos nos manter firmes na fé.
TAMAR
Adélia tem
razão! O que acham que Débora nos diria agora?
ADÉLIA
Que se Deus
nos prometeu a vitória... ela será nossa.
Algumas fazem que sim. De repente,
um grito lá fora, som de passos apressados... e uma moça entra ali ofegante.
ADÉLIA
O que está
acontecendo?!
MOÇA
Os
hazoritas... Os hazoritas!... Eles estão vindo! Eles estão vindo para cá!
A aflição cai sobre a maioria
ali...
LAILA
Meu Senhor
do céu!...
ISABEL
E agora?!
ADÉLIA
Será que
isso significa que...
ISABEL
Ai, não
fala... Nem fala que nossos homens falharam--
TAMAR
(interrompendo) Eles não
falharam!
Todas a olham.
TAMAR
Não sei o
que aconteceu, mas se tem algo que não aconteceu naquela batalha foi a
derrota dos hebreus. Precisamos nos concentrar no que faremos! No que faremos
para impedir que esses que estão vindo entrem na cidade!
MULHER 1
Os portões
estão fechados?!
MOÇA
Desde a
partida do exército.
MULHER 2
Vamos nos
esconder e fechar as portas!
ISABEL
Eles podem
abrir do mesmo jeito.
LAILA
Vamos todas
então segurar o portão e impedir que ele se abra... Talvez se todas fizermos
isso, podemos conseguir que eles não entrem.
ADÉLIA
Não dá... O
portão não é grande, caberão poucas de nós... O que não resultará em muita
força e fará com que eles consigam entrar. No máximo os atrasaremos, e seremos
pegas ali mesmo.
TAMAR
Por que é
que primeiramente não vamos até lá para vermos em quantos são e a que distância
estão? Talvez assim alguém consiga ter alguma ideia.
Elas
ficam quietas, parecem concordar...
CENA
5: EXT. TEMPLO – PÁTIO – PÔR DO SOL
Homens idosos aguardam ansiosos
sentados e em pé ali no pátio...
IDOSO
(para um
vizinho) Me sinto tão inútil aqui...
Um ancião ali perto escuta.
ANCIÃO
Senhor...
Não se sinta. O senhor também é precioso para Deus. Todos somos. Do contrário
não estaríamos vivos.
O idoso hesita, mas faz que sim e
dá um sorriso mínimo.
ANCIÃO
Vamos orar?
Vamos todos?!
Os
homens concordam e começam a se ajoelhar ali mesmo. O idoso fecha os olhos e
respira fundo.
CENA
6: EXT. MEROZ – ARREDORES – PÔR DO SOL
Estranhando o barulho que ouve,
Elói sai do meio da plantação e olha para a direção do deserto. Uma figura
desesperada se aproxima... Ele franze a testa... e logo reconhece o Capitão de
Hazor.
ELÓI
Sísera?!
Sísera chega ali cansado e, com o
olhar de pavor, agarra a veste de Elói.
SÍSERA
Maldito!...
Maldito!... Maldito!
ELÓI
Senhor, o
que está acontecendo?! O que aconteceu?! Por que está aqui, assim?!...
Os homens da plantação,
estranhando, começam a se aproximar.
SÍSERA
O seu
Deus... O seu Deus acabou com todos... Por que não me disse?! (dá uma olhada
para trás) Por que não me avisou?...
ELÓI
Senhor, eu--
SÍSERA
(interrompendo) Fale
baixo! Shh!...
Sísera olha para trás, para os
lados...
ELÓI
Por quê?...
SÍSERA
O seu
Deus... Ele vai me ouvir... Não pode... Não pode...
ELÓI
Venha, vou
leva-lo à minha casa.
SÍSERA
Não! Não...
Você é hebreu. Ele me achará aqui... Tenho que ir, tenho que ir...
HOMEM 1
Senhor
Elói... Vamos mata-lo. Esse maldito nos escravizou por anos...
HOMEM 2
Peguem a
foice, vamos cortar sua cabeça.
Sísera, preocupado, olha para todos
os lados do deserto e para o céu.
ELÓI
Não.
O povo estranha.
ELÓI
Eu jurei
lealdade a ele. Minha palavra é de honra. Se ele não quer ficar, que parta.
HOMEM 1
Mas
senhor!... É a chance de nos livrarmos do nosso inimigo! De fazermos o que
Débora não conseguiu!...
Elói engole em seco... Mas então
vira para os homens.
ELÓI
E aí o quê?
Débora, que é quem está na liderança, ganha ainda mais prestígio com a nação e
se perpetua no poder. Enquanto isso Jabim levanta outro Capitão e vem com tudo
atrás de nós. Não. Que Sísera se esconda... Logo ele poderá se recuperar,
voltar ao seu posto e colocar Débora e os seus onde merecem, no sepulcro. E
nós, vivos, nos juntaremos a Hazor e seremos prósperos para sempre.
Os homens não gostam muito, mas
parecem recuar.
ELÓI
Dou 10
moedas de ouro a cada um aqui se não mais me importunarem com isso.
Eles se entreolham... Aceitando, se
afastam e voltam para a plantação. Elói então se aproxima de Sísera, assustado
com cada bater de asas dos pássaros.
ELÓI
Vá, senhor.
Esconda-se em alguma caverna... Fique tranquilo. Ninguém saberá que esteve
aqui.
SÍSERA
Obrigado...
Obrigado...
Sísera
então sai correndo para o deserto, o medo estampado no rosto.
CENA
7: EXT. BETEL – ENTRADA – PÔR DO SOL
Dezenas de mulheres chegam ali na
entrada da cidade.
TAMAR
(à moça) Quem foi
que viu os soldados?
MOÇA
Uma mulher
que estava lá em cima à espera do regresso dos homens...
TAMAR
Vou subir.
ISABEL
Cuidado,
tia... Eles podem ter flechas...
TAMAR
Tudo bem.
Tamar então vai até o lado do
portão, sobe a escada e chega lá no topo da muralha. Olha para fora e vê, do
outro lado de uma floresta, um grupo de cavaleiros se aproximando.
TAMAR
Não estão
longe. Precisamos agir rápido!
Tamar desce.
MULHER 2
Pelo amor
de Deus, alguém dê uma ideia!
LAILA
E se
colocarmos objetos aqui? Objetos grandes que impeçam a abertura do portão!
ADÉLIA
Vai ser a
mesma coisa que se estivéssemos ali segurando... Só os atrasará.
MULHER 1
Então não
temos o que fazer! De todo jeito eles entram!
ISABEL
Precisávamos
de algo que, se colocado aqui, já os impediria de uma só vez.
MULHER 2
E o que
seria?!
Isabel dá de ombros. Mas o
semblante de Adélia muda no mesmo instante.
ADÉLIA
Esperem um
pouco...
TAMAR
O quê,
Adélia?! Diga, minha filha!
ADÉLIA
Venham umas
10 comigo, rápido! Rápido!!!
Adélia sai correndo de volta para
as ruas da cidade, e logo 10 voluntárias, mesmo sem entender nada, vão atrás
dela.
TAMAR
O que essa
menina vai aprontar?!...
LAILA
Nem eu
imagino.
E
elas olham tensas para o portão.
CENA
8: INT. PALÁCIO – CASA – SALA – PÔR DO SOL
Tensa, Najara observa o deserto
além de Harosete pela janela de sua sala. Seus dedos apertam a parede e seus
lábios pressionam um ao outro.
Atrás dela estão Darda, Elisa,
Eloá, Danilo e outras servas. Darda se aproxima.
DARDA
É impressão
minha ou a senhora está preocupada?
Najara respira fundo e vira para
ela.
NAJARA
Não posso
negar... Estou sim.
DARDA
Mas por
quê, senhora? Sísera foi enfrentar os hebreus... O Capitão não disse sempre que
esse povo nem mesmo sabe manusear uma espada?
NAJARA
É
verdade... Você tem razão. Mas mesmo assim... essa angústia não sai do meu
peito... (respira fundo) Não sei, acho que já deviam ter voltado.
DARDA
Acalme-se,
senhora... Logo os primeiros carros de ferro despontarão no horizonte.
Najara
faz que sim e volta para a janela, os olhos fixos nos montes e morros distantes
dali.
CENA
9: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – PÔR DO SOL
Sentado sozinho ali no salão, Jabim
arranha a unha no trono incansavelmente.
Ansioso,
ele então respira fundo, esfrega o rosto com a mão, pega uma taça de vinho ali
ao lado, bebe-a como se fosse água e se mexe, desconfortável em qualquer
posição...
CENA
10: EXT. DESERTO – PÔR DO SOL
Lapidote acelera, se destaca do
exército e alcança Pérola.
LAPIDOTE
Débora!...
DÉBORA
Lapidote...
LAPIDOTE
Débora, nós
não os alcançaremos no deserto! Precisamos invadir Harosete!
DÉBORA
E isso
faremos! Os homens precisam estar conscientes de que a guerra não acabou! Jabim
precisa cair!
LAPIDOTE
E cairá,
pela palavra de Deus!
Ela faz que sim.
DÉBORA
Está tudo
bem?
LAPIDOTE
Estou com
você... Então está...
Montada,
ela sorri. E eles continuam pelo deserto.
CENA
11: EXT. BETEL – ENTRADA – PÔR DO SOL
As mulheres que ali ficaram
assistem Adélia e as outras 10 chegarem ali carregando grandes sacos de pano
lotados. Isabel, no alto da muralha, olha para elas.
ISABEL
O que é
isso?!
MULHER 1
O que tem
aí?
Laila parece entender... Adélia
coloca o saco no chão.
ADÉLIA
Quem se
lembra dos meus doces que deram... um probleminha no povo? Talvez vocês não
tenham ficado sabendo, só--
Ela se interrompe quando
praticamente todas ali levantam as mãos.
ADÉLIA
Ah...
Certo. Bom, eu prometi que iria averiguar o que havia acontecido e... bem, o
problema das... flatulências... foi esse ingrediente, que está em todos
esses sacos.
ISABEL
(descendo) E o que
tem a ver com tudo isso?
ADÉLIA
Eu não sei
bem como funciona, mas parece que ele não reage bem com fogo... Mireu testou
dia desses um punhado e... estourou.
TAMAR
Estourou?
ADÉLIA
Explodiu.
MOÇA
(desconfiando) Espere um
momentinho... Está dizendo que--
ADÉLIA
(interrompendo) Vamos
colocar todos esses sacos no portão e, quando os soldados chegarem, alguém
ateia fogo e corre. Eles estarão do outro lado e... num piscar de olhos... bum:
voam pelos ares.
Isabel sorri e Tamar parece
aprovar.
LAILA
Irmãzinha,
você é demais! Estamos salvas!
TAMAR
Acalmem-se...
A ideia é ótima, mas será muito perigoso.
ADÉLIA
Sim.
Precisamos atear fogo no momento certo. Se for antes, apenas abriremos passagem
para eles. Se for depois, tudo pode desandar e alguns deles sobreviverem e
entrarem...
TAMAR
Então, como
faremos?
LAILA
Alguém
precisa ficar na muralha...
TAMAR
Eu fico.
ADÉLIA
Senhora
Tamar... é perigoso. A senhora está exposta, provavelmente ao alcance das armas
deles...
MULHER 2
Ela é a mãe
da juíza! Vai outra!
TAMAR
E ser mãe
da juíza me faz diferente de vocês? De modo algum. Se tiver que arriscar minha
vida pela cidade, eu arrisco. Mas tenho fé de que Deus me ajudará.
A maioria se aquieta.
ADÉLIA
Pois bem.
E, para atear o fogo... pode ser eu.
LAILA
Adélia--
ADÉLIA
(interrompendo) Sem essa,
Laila. Fui eu quem trouxe esse ingrediente, fui eu quem deu a ideia... Tem de
ser eu.
Laila se mantém preocupada. Adélia
se aproxima e beija o rosto da irmã.
ADÉLIA
Fique
tranquila. Deus nos protegerá.
Tamar
então sobe até o topo da muralha e vê que os soldados estão saindo da floresta.
TAMAR
Rápido,
eles estão chegando!
ADÉLIA
Vamos
colocar os sacos encostados no portão bem ajuntados. Para firmá-los, tragam
pedaços de lenha e toras... Além de ajudar na escora, vai tornar a explosão
mais letal.
As
mulheres então começam a carregar os sacos para o portão e outras trazem
pedaços de madeira. Tamar olha delas ali embaixo para os cavaleiros se
aproximando.
CENA
12: INT. TENDA DE JAEL – SALA – PÔR DO SOL
Jael trabalha tranquilamente em
seus afazeres domésticos quando ouve um barulho lá fora. Estranhando, ela larga
suas coisas e tenta escutar algo a mais...
JAEL
Héber?...
Já voltou?
Silêncio...
Então
ela resolve ir lá fora averiguar; e sai.
CENA
13: EXT. TENDA DE JAEL – FRENTE – PÔR DO SOL
Quando
sai ali fora, Jael paralisa e, assustada, cobre a boca com as duas mãos:
Sísera, ajoelhado a poucos metros dali e com as mãos no chão, respira ofegante.
Antes de ser vista, ela volta imediatamente para dentro.
CENA
14: INT. TENDA DE JAEL – SALA – PÔR DO SOL
Jael para ali no início da sala...
Está impressionada... E um tanto aflita.
SÍSERA
(O.S.)
Héber...
Jael... Ajudem-me...
Ela
ouve...
SÍSERA
Ajudem-me...
Por favor...
Jael estranha, mas pensa... Mil
coisas parecem passar por sua cabeça. Lembra-se do que viu segundos atrás, o
estado dele, suas vestes sujas e rasgadas... E agora seu pedido de ajuda...
E,
de repente, um brilho parece surgir nos olhos dela. Diante de uma oportunidade
que enxerga, Jael levanta a cabeça, vira para a saída e encara a lona...
Decidida, ela engole em seco, ajeita a postura... e sai.
CENA
15: EXT. TENDA DE JAEL – FRENTE – PÔR DO SOL
Jael sai e para na entrada da
tenda. Sísera continua ajoelhado, agora menos ofegante.
JAEL
Senhor
Capitão...
Sísera se assusta, mas se alivia ao
vê-la...
SÍSERA
Jael...
Jael, me ajude, Jael!...
JAEL
Venha, meu
senhor... Venha para mim...
Ele se assusta com um barulho de
pássaro e olha para o céu... Depois para ela.
JAEL
Não tenha
medo... (estende a mão) Venha.
Sísera
não perde muito tempo. Com medo do que pode estar vindo atrás dele, se levanta,
dá uma olhada pelo caminho de onde veio, e se aproxima de Jael, que, antes que
ele possa pegar sua mão, se afasta, entra na tenda e abre passagem.
CENA
16: INT. TENDA DE JAEL – SALA – PÔR DO SOL
Sísera, assustado, cambaleia até a
mesa e se segura nela para não cair. Jael se aproxima cautelosa...
JAEL
Senhor... O
que aconteceu?... Por que está nesse estado?
O suor de Sísera ao redor dos olhos
lhe dá um aspecto choroso e angustiado.
SÍSERA
O Deus... O
Deus dos hebreus... Ele está atrás de mim... Ele quer me matar... Os
malditos... tinham razão... E agora Ele está enfurecido... Ele está enfurecido,
Jael, está enfurecido!... Você tinha que ver... Ele mandou chuva contra meu
exército, Ele... Ele... Ele fez a terra estremecer e... não bastando tudo
isso... (olha para Jael) Mandou as estrelas contra mim.
Jael escuta com atenção e surpresa.
SÍSERA
As estrelas
se despejaram sobre a terra... fogo... fumaça... Como Ele pôde fazer tudo
aquilo?!
Sísera então treme com um barulho
vindo lá de fora.
JAEL
Acalme-se,
senhor. São apenas as ovelhas lá atrás...
SÍSERA
O Deus dos
hebreus... Ele não pode saber que estou aqui...
JAEL
Tudo bem,
senhor.
SÍSERA
Eu... estou
cansado, Jael...
Jael parece ver aí uma
oportunidade.
JAEL
Por favor,
deite-se. Venha, vou leva-lo ao quarto...
SÍSERA
Mesmo?...
JAEL
Sim. Venha
para o meu quarto, senhor. Venha...
SÍSERA
E Héber?
JAEL
Não está...
Não recuse, senhor... Venha para a minha cama... Deite-se... e descanse.
Sísera
sorri muito de leve e, tropeçando, segue-a e entra no quarto.
CENA
17: INT. TENDA DE JAEL – QUARTO – PÔR DO SOL
Jael e Sísera entram no quarto. Ela
então tira a coberta e ajeita a cama.
JAEL
Deite-se.
Sísera, cansado e dolorido, senta
na cama e respira bem fundo. Então deita de barriga para cima e se ajeita. Jael
se aproxima, pega a coberta e o cobre. Quando está voltando à posição normal,
Sísera segura o braço dela... e a puxa de leve.
SÍSERA
Deite-se
comigo, Jael.
JAEL
Se-Senhor,
mas... Não quer algo para comer? Posso preparar.
Sísera parece considerar... Então a
solta.
SÍSERA
Sim... Sim,
claro... Me dá, por favor, de beber... Um pouco de água... Tenho sede...
JAEL
Agora
mesmo.
Jael vira e sai. Sísera a olha...
Mas, cansado e assustado, encara a lona lá em cima.
Não demora muito e Jael volta
segurando um odre e uma taça prateada com detalhes em ouro. Ele se assusta
quando ela entra ali...
SÍSERA
(expirando) Ah...
Ela se aproxima da lateral da cama
e entrega-lhe a taça.
JAEL
Uma taça de
príncipes... a um homem que a merece.
Sísera passa os dedos pela taça e
sorri para ela. Então Jael abre o odre e vira o conteúdo na taça que ele
segura, porém não é água.
SÍSERA
Leite?
JAEL
Sabe que em
meu povo servimos leite apenas aos convidados de honra, não sabe?
Sísera dá outro sorriso.
SÍSERA
Você sabe
reconhecer um homem de poder...
E, com as pontas dos dedos,
acaricia a mão dela que segura o odre.
Então ele bebe o leite... Vira a
taça em poucos segundos. Jael o serve mais uma vez, e rapidamente Sísera bebe
tudo.
SÍSERA
Obrigado,
Jael.
Jael sorri de leve e pega a taça.
SÍSERA
Como eu
queria, Jael... que se deitasse comigo... Como eu queria sentir o seu corpo
quente sobre o meu... (respira fundo) Mas não dá... Preciso que me
ajude...
JAEL
O que
deseja de mim, senhor?
SÍSERA
Vá para
lá... e se coloque na entrada da tenda. E, se acontecer de alguém vier e te
perguntar se há alguém aqui... você diga então que não.
Jael faz que sim.
JAEL
Como deseja
farei, meu senhor.
Jael então vira para sair. Sísera
observa o corpo dela, mas logo ela sai.
Ele
então se ajeita, vira de lado e tenta fechar os olhos... Mas ainda está
bastante perturbado.
CENA
18: EXT. TENDA DE JAEL – FRENTE – PÔR DO SOL
Jael, já sem o odre e a taça, chega
ali na frente, para e respira fundo. Olha para os lados... Ninguém vem e nenhum
sinal de Héber.
Então
ela olha para o outro lado. Seus olhos então encontram uma das estacas que
segura a corda da tenda. E ali seu olhar fica...
CENA
19: EXT. BETEL – ENTRADA – PÔR DO SOL
As mulheres terminam de colocar os
objetos escorados no portão: os sacos com os ingredientes de Adélia estão com
as bocas encostadas umas nas outras. Toras de madeiras apoiam a maioria deles.
Ao redor, pedaços menores de lenha foram colocados para receber as chamas.
Tamar, na muralha, observa os
cavaleiros chegando ali.
TAMAR
Eles
chegaram! Preparem-se!
Uma mulher acende uma tocha e a
entrega a Adélia, que se aproxima do portão. Ela troca um olhar de confiança com
Laila.
Do outro lado, os soldados descem
do cavalo e olham para Tamar lá em cima.
SOLDADO
O que está
fazendo aí, hebreia maldita?! Quer ser a primeira a conhecer o bafo quente de
Mot?!
Os soldados riem; Tamar, apesar de
apreensiva, permanece quieta e os observando.
SOLDADO
O que está
olhando?! Ahn?! Homens! Abram esse portão imediatamente! Não vejo a hora de
colocar minhas mãos nessas malditas!
Os homens então se aproximam do
portão e, com pedaços de madeira que carregam pendurados nas celas dos cavalos,
começam a bater no portão. Aquele soldado e outros, no entanto, se mantém
afastado.
Por causa do barulho no portão,
Adélia e as mulheres olham para Tamar, que faz sinal para esperarem.
SOLDADO
Acha que
está segura aí em cima, hebreia?! Meus homens e eu vamos acabar com vocês! Vão!
Abram esse portão de uma vez!
E continuam... O portão ainda
resiste. O soldado olha para Tamar.
SOLDADO
Muito bem.
Ele então se agacha, pega uma pedra
grande e atira nela. Tamar desvia por pouco.
SOLDADO
Que falta
fazem os arqueiros... A essa hora sua cabeça estaria rachada no chão, rata
maldita!
Raivoso, o soldado bate na costa
dos outros e eles todos então se aproximam do portão e ajudam na tentativa de
abri-lo. O barulho é ensurdecedor. Ao vê-los juntos, Tamar vira e desce a escada.
TAMAR
Adélia,
agora!
Adélia faz que sim, se aproxima do
amontoado de madeira, joga a tocha e sai correndo com Tamar.
Enquanto a lenha queima e as chamas
se aproximam das bocas dos sacos, Adélia e Tamar correm o máximo que conseguem
na direção das outras mulheres.
Os soldos batem, batem, batem,
batem sem parar no portão, que parece começar a ceder.
A lenha queima...
Adélia e Tamar correm...
As labaredas atingem as bocas do
sacos...
Os soldados batem cada vez mais
forte...
Adélia e Tamar, ao alcançar as
mulheres, derrapam com a explosão. BUM!!! O portão explode em milhares de
pedaços junto a todos aqueles soldados. O fogo se levanta no ar, mas
rapidamente some, sobrando apenas uma fumaça cinza e incontáveis fragmentos de
madeira. Pedaços de vestes de soldados hazoritas caem perto delas.
Passada a explosão, elas olham... o
portão já não existe, e muito menos os soldados.
MOÇA
E lá vamos
nós para o terceiro portão...
TAMAR
Vamos até
lá.
Com cuidado, elas se aproximam...
Mas logo conferem que não há perigo algum. Os corpos dos soldados estão longe
dali, lá para fora.
Elas então gritam comemorando e
abraçam umas às outras! Logo a maioria se aproxima de Tamar e Adélia e as
abraçam.
Outras mulheres da cidade, por
causa da explosão, começam a chegar por ali.
MULHER 3
Adélia, é
verdade o que estão dizendo?! Seu ingrediente explodiu o portão?!
ADÉLIA
Foi... E
com uma pitadinha de amor!
E todas elas comemoram o livramento
e logo se ajoelham, fecham os olhos e agradecem repetidamente.
MULHERES
Obrigada,
Senhor! Obrigada!
CENA
20: EXT. TENDA DE JAEL – FRENTE – PÔR DO SOL
Jael segura o maço, uma espécie de
martelo de madeira. De pé e de costa para o deserto, ela encara a estaca
cravada no chão. Na cabeça dessa está amarrada uma das cordas que segura a tenda.
Então ela se abaixa, desamarra a
corda, pega a estaca e a arranca. Limpa-a, retirando toda a terra. E a observa
por alguns instantes...
Então
se levanta e caminha para dentro da tenda.
CENA
21: INT. TENDA DE JAEL – QUARTO – PÔR DO SOL
Sísera, ainda de lado na cama,
dorme. Apesar disso, seu semblante não é tranquilo, um assombro ainda é visível
em seu rosto.
Jael, em silêncio, entra no quarto
e o olha. Então coloca a mão que segura a estaca e o maço para trás e se
aproxima. Ela senta na beiradinha da cama, aperta os dedos na estaca e no maço
e o observa. Nisso, ele treme e abre os olhos.
JAEL
Shh...
SÍSERA
Jael?...
Jael passa a mão no cabelo dele.
JAEL
Durma, meu
senhor... Fique tranquilo e durma...
SÍSERA
Jael... A
entrada... Guarde a entrada...
Outro barulho de animais lá fora e
Sísera olha assustado.
JAEL
Não tenha
medo, meu senhor... São só os animaizinhos... Durma...
SÍSERA
O Deus dos
hebreus, Jael... Ele pode vir. Débora pode vir... Baraque...
Jael acaricia seu cabelo.
JAEL
Não tenha
medo... Eu estou com o senhor. Está tudo bem. Durma, meu senhor... Durma.
Com a carícia e a voz dela, Sísera
parece se tranquilizar. Respira mais tranquilamente e deita a cabeça na cama.
JAEL
Durma...
Pouco a pouco, Sísera vai fechando
os olhos. Enquanto sua mão direita o acaricia, ela traz a esquerda para seu
colo, com a estaca e o maço... Jael para de acariciar Sísera e, cuidadosa, tira
a mão do cabelo dele.
Tendo certeza de que ele está
novamente adormecido, ela pega com a mão esquerda a estaca e com a direita o
maço. Devagar, leva a estaca para perto do rosto de Sísera... Ele continua a
dormir. Jael então levanta o maço... Silenciosamente, aponta a estaca para a
fonte dele, entre a orelha e o olho. E o maço pronto para martelar.
Sísera continua estático. Jael
então encosta a estaca na fonte... levanta o maço... segura-o firme, com toda
sua força... E bate!
A estaca crava, o sangue espirra e
Sísera treme. Antes que ele possa reagir, Jael bate mais uma vez, e mais uma, e
mais outra! O sangue escorre pelo rosto, derrama na coberta... Desesperado, ele
grita, rola na cama e cai no chão. Um tanto assustada, mas absolutamente
determinada, Jael põe-se de pé e o vê se encurvar diante dela, o sangue
jorrando da cabeça pela estaca cravada... Sísera, em agonia, levanta o rosto,
olha-a com pavor e desespero e agarra suas pernas.
SÍSERA
Maldita!!!
É quando Jael grita, se abaixa,
empurra-o no chão de modo que a cabeça da estaca fique para cima e, com o maço,
bate com toda sua força repetidas vezes!
JAEL
AH! AH! AH!
AH! AH! AH! AAAHHH!!!
A estaca atravessa a cabeça de
Sísera por completo e, com o último golpe de Jael, crava no chão.
Uma
grande poça de sangue se formou e se espalha pelo quarto, e Jael, com as mãos
ensanguentadas e espirros de sangue no rosto, cai no chão sentada. Exausta
física e mentalmente, ela respira ofegantemente enquanto observa o corpo
estirado de Sísera e sua cabeça rachada e presa ao chão pela estaca.
CENA
22: INT. PALÁCIO – CASA – SALA – PÔR DO SOL
Observando o pôr sol sumindo atrás
dos morros e montes distantes, Najara parece de repente sentir uma dor no
peito.
DARDA
Senhora?
Está tudo bem?!
Com a mão no peito, ela vira para
os servos.
NAJARA
Não está
nada bem...
Eloá corre e traz um assento
confortável.
ELOÁ
Sente-se,
minha senhora.
Najara senta.
NAJARA
Não sei o
que está acontecendo... Mas não paro de pensar em Sísera... Sinto... que meu
filho... está em perigo...
DARDA
Mas
senhora...
NAJARA
Eu sei, eu
sei, são só os hebreus, mas... se fosse fácil assim... ele já não estaria
aqui?!
Ninguém responde. As servas se
entreolham...
Inquieta, Najara se levanta e volta
para a janela. Olhando o deserto através das grades, ela segura nas paredes.
Parece se afligir cada vez mais...
NAJARA
Por que
tarda em vir o seu carro?! Por quê?!...
Darda respira fundo.
NAJARA
Por que
demoram os galopares dos seus carros?!
Elisa, apesar de nada ver, abaixo o
rosto.
ELISA
Acho que a
senhora Najara tem razão... Eles já deviam ter voltado. Seria o fim da
guerra... Apenas lhes restariam apanhar o que encontrassem. Por acaso não
achariam e repartiriam entre eles os despojos?
Darda olha da amiga para Najara.
Apesar de fingir, não sente pena nenhuma de Najara.
DARDA
Sim... Já
daria tempo de irem até Betel e também tomarem o que lá houver... Não é? Além
dos despojos, uma ou duas moças para cada homem?
Najara sabe que elas todas têm
razão.
NAJARA
Nesses anos
todos Sísera lutou tantas guerras... Nunca me senti assim. De fato, já estaria
aqui com o que apanhassem dos hebreus... Meu filho, o Capitão... seria o que
mais ganharia. Para Sísera despojos de várias cores... Despojos de várias cores
de bordado... (olha para elas, imagina) De várias cores de bordado de
ambas as bandas... Para os pescoços do despojo... não é?...
Um
tanto aflita, Eloá se aproxima e toca o ombro de Najara. Darda abaixa a cabeça
e finge pesar. Najara, agoniada, acaricia a mão no peito...
CENA
23: EXT. HAROSETE – ARREDORES – PÔR DO SOL
Débora cavalga em Pérola quando,
após alcançar o topo de uma ladeira, ela avista a cidade de Harosete e o morro
no meio, onde, no topo, está o palácio. Os soldados fugitivos correm para lá.
Débora para e faz sinal; os quase
10.000 atrás dela também param.
DÉBORA
Povo de
Israel! Nossa missão ainda não acabou! À frente está Harosete e, no palácio de
malícia, assenta-se o rei Jabim, o último que deve cair segundo nosso Senhor!
O povo vibra!
DÉBORA
Não
desistam! Não desanimem! Próximo está o fim da nossa opressão e o início da
nossa liberdade e prosperidade! (vira para frente) Avante! Avante!!!
Débora
sai galopando e os homens disparam na direção da cidade.
CENA
24: EXT. PALÁCIO – TOPO DA ESCADA – PÔR DO SOL
Escoltado, Jabim vem do palácio e
chega ali no topo da escada. Seus olhos, espantados, observam os poucos
soldados hazoritas passarem pelo portão e, lá na frente, Pérola com Débora e a
multidão de hebreus se aproximando.
JABIM
Pelos
deuses!... Onde estão os carros?... Onde está Sísera?!
Temendo,
Jabim vira e volta para dentro do palácio.
CENA
25: EXT. HAROSETE – ARREDORES – PÔR DO SOL
Débora se aproxima do portão,
desvia para o lado e aponta.
DÉBORA
Entrem!
Porque hoje é o dia em que Deus sujeitará Jabim! Entrem!
Dentro da cidade, a gritaria
aumenta e o caos se espalha. Os poucos soldados, aterrorizados por tudo o que
aconteceu, se dividem pelos becos e ruas.
Os hebreus, no entanto, chegam com
toda velocidade e força e, após algumas poucas batidas, o portão cai e eles
entram pela estreita entrada.
Débora,
ainda ali fora e montada em Pérola, olha para o palácio lá em cima. Talvez ela
não consiga ver com clareza, mas está encarando Najara, na janela.
CENA
26: INT. PALÁCIO – CASA – SALA – PÔR DO SOL
Najara observa a figura de Débora
longe lá embaixo. Então se desespera e, pela primeira vez em décadas, chora.
DARDA
Senhora!
ELOÁ
Senhora
Najara!
SERVA
Senhora, o
que aconteceu?!
Então todos ali percebem...
DANILO
Os
hebreus... Eles estão aqui.
ELOÁ
Débora está
aqui.
Najara chora, mas não demora muito
e o ódio aflora em seu olhar.
NAJARA
Eles o mataram!...
Os malditos hebreus o mataram!... Débora matou meu filho!
DARDA
Calma,
senhora, nem sabemos se foi assim--
NAJARA
(interrompendo) DÉBORA
MATOU SÍSERA!!!
Então o silêncio reina. Najara olha
de volta para os hebreus invadindo a cidade e Débora.
NAJARA
Isso não
vai ficar assim... (limpa as lágrimas) Não, não vai. Débora pagará caro.
Najara vira na mesma hora e vai
para seu quarto.
DARDA
Senhora!
Nos segundos em que Najara não está
ali, ninguém ousa falar, apenas se entreolham preocupados.
Logo Najara volta segurando seu
punhal.
NAJARA
Hoje Débora
ressuscitará 7 vezes, pois a matarei outras 7!
Najara atravessa a sala e abre a
porta.
DARDA
Senhora,
onde vai?!
E fecha.
Silêncio.
Outras duas servas saem correndo,
desesperadas, e somem pela mesma porta.
Silêncio.
Danilo pigarreia.
ELISA
E agora? O
que faremos?! Os hebreus chegaram...
DARDA
Fiquem
tranquilos, Débora não nos fará mal. Eloá e Danilo a ajudou, Elisa é... bem,
não acho que eles farão mal a uma moça cega e eu...
ELOÁ
E você?...
DARDA
Eu vou
fazer uma coisa. Quanto a vocês, para que estejam seguros e para que se salvem,
vão para a prisão.
DANILO
Prisão?!
Por quê?! O costume dos povos é matar os prisioneiros do reino inimigo!
DARDA
Os 12
hebreus, gente! Vão para lá! Assim estarão protegidos e os hebreus terão tempo
de pensar antes de ousarem mata-los! Levem Elisa também, por favor!
ELISA
Darda,
minha amiga, para onde você vai?!
DARDA
Não queira
saber. É melhor que vocês não façam perguntas. Por favor, apenas vão.
ELOÁ
Certo...
Elisa então se aproxima e abraça
Darda que, sem palavras, a abraça também.
ELISA
Quero
encontra-la novamente, Darda.
DARDA
Nós nos
encontraremos, Elisa. Agora vá, minha amiga. Vá.
Eloá então segura o braço de Elisa
e, junto a Danilo, vão embora. Quando eles saem, Darda espera um tempo...
E
também vai embora. Fica ali apenas a casa vazia...
CENA
27: EXT. HAROSETE – RUAS – PÔR DO SOL
Apesar de fugirem, os soldados
hazoritas remanescentes logo são encontrados pelos hebreus e, mesmo tentando
lutar, são derrotados rapidamente e mortos.
Quando o último hebreu do exército
passa pelo portão, Débora guia Pérola e também entra na cidade.
Logo todas as ruas estão tomadas
pela multidão.
Débora então chega ao portão de
entrada do palácio. Com seus olhos percorrendo toda a larga escadaria, ela olha
até o topo, onde está o palácio.
Então vira, desce e se aproxima do
portão, onde está Lapidote e outros homens.
LAPIDOTE
Débora, o
portão está trancado. Todos os outros soldados que fugiram para cá já caíram.
DÉBORA
Muito bem.
Éder e Mireu chegam ali.
ÉDER
E então? (olhando
o palácio) Quanto luxo... É impressionante.
MIREU
O que
faremos, senhora Débora? Só falta entrarmos no palácio e alcançarmos o rei.
DÉBORA
Nenhum de
nós fará isso.
LAPIDOTE
Por que
não, meu amor?
DÉBORA
Porque a missão
é de Baraque. Já tomamos a cidade e cercamos o palácio. Jabim não tem por onde
escapar. Vamos enviar um mensageiro que encontre Baraque e o traga para cá para
cumprir sua missão de uma vez por todas. Ele deve deixar outros procurando por
Sísera.
ÉDER
Eu posso
ir, Débora. Faço as vezes de mensageiro.
DÉBORA
Ótimo. Pois
então vá, Éder. E traga Baraque.
Éder faz que sim e dá um abraço em
Mireu.
ÉDER
Cuide-se,
meu filho.
E sai. Débora então se aproxima de
Lapidote e ele pega as mãos dela.
LAPIDOTE
Nossa liberdade
está próxima.
Ela
faz que sim com um leve sorriso.
CENA
28: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – PÔR DO SOL
Jabim volta à sala do trono
correndo.
JABIM
Servo!!!
Servo!!!
Um servo sai de algum canto e se
aproxima.
SERVO
Estou aqui,
meu senhor.
JABIM
Servo!
Prepare minha comida e minha bebida! Vou me esconder... Vou para o cofre real.
Quando o banquete estiver pronto, leve até lá. E, para que eu saiba que é você,
bata duas vezes, depois três e, por fim, uma.
SERVO
Entendido,
senhor.
JABIM
Pois vá,
rápido!
O
servo sai para um lado e Jabim, desesperado, por outro.
CENA
29: EXT. TENDA DE JAEL – ARREDORES – PÔR DO SOL
Cansados, Baraque, Jaziel e os
outros observam todos os lados, mas não veem sinal algum.
Até que um hebreu avista a tenda de
Jael.
HEBREU
Vejam!
Eles olham.
JAZIEL
Baraque...
Vamos até lá. Seja lá quem more ali pode saber de algo.
BARAQUE
Vamos.
Eles viram e vão.
BARAQUE
Se bem que
a tenda pode ser do próprio Sísera. Armada em urgência... Que hebreu viveria em
uma? Não estamos nos tempos de Moisés e Josué.
JAZIEL
Há mais do
que hebreus e hazoritas nessas terras, Baraque.
Baraque estranha, mas nada diz.
Eles se aproximam da tenda e
diminuem a velocidade até pararem. Apenas Baraque e Jaziel descem de seus
cavalos. Nesse momento Jael sai apressada de lá de dentro e para ao vê-los.
Eles franzem a testa ao notá-la com sangue nas mãos, no corpo e no vestido.
BARAQUE
Mulher...
Está tudo bem?
JAEL
Vocês... (olha-os
bem) São hebreus, não são?
JAZIEL
Sim.
JAEL
Estão à
procura de alguém?
JAZIEL
Sim...
JAEL
Um
inimigo?...
Jaziel e Baraque se entreolham.
JAZIEL
Estamos...
Estamos à procura de um inimigo.
JAEL
Sísera?
Baraque se ajeita.
BARAQUE
O que você
sabe sobre isso, mulher?
Jael respira fundo.
BARAQUE
Você está
bem? Esse sangue... Fizeram-lhe mal?!
JAEL
Senhor...
Qual é o seu nome?
BARAQUE
Baraque...
JAEL
Senhor
Baraque... Venha, e eu te mostrarei o homem que busca.
Baraque
e Jaziel se entreolham sem entender... Então olham para os outros nos cavalos e
fazem sinal para que esperem. Por fim seguem Jael e entram na tenda.
CENA
30: INT. TENDA DE JAEL – QUARTO – PÔR DO SOL
Baraque e Jaziel entram no quarto e
param por ali mesmo ao verem a poça de sangue e o corpo de Sísera com a estaca cravada
no chão através da cabeça.
Olham para Jael, que apenas observa
tudo aquilo...
Não demora muito e escutam Héber
chegar ali na tenda.
HÉBER
(O.S.)
Jael, e
esses homens aqui na frente?
Héber entra no quarto e se assusta
com a presença dos dois. Mas seu susto é maior quando ele vê o corpo de Sísera.
HÉBER
Jael, em
nome dos deuses, o que é isso???!!!
Jael o olha...
HÉBER
O que
aconteceu aqui???!!!
Baraque
e Jaziel respiram fundo.
CENA
31: INT. ABRIGO DOS ÓRFÃOS – PÔR DO SOL
Gadi vem correndo lá de fora e abre
a porta do abrigo. Não há ninguém ali trabalhando. Preocupado, ele corre lá
para dentro, olhando de quarto em quarto.
Ao
achar o de Laís, ele entra.
CENA
32: INT. ABRIGO DE ÓRFÃOS – QUARTO – PÔR DO SOL
GADI
(aproximando-se) Laís, meu
amor! Meu amor, meu amor!...
Laís está dormindo, ou ao menos
inconsciente. Gadi, preocupado, examina-a rapidamente: escuta sua respiração e
sente o seu pulso.
GADI
Laís, amor
da minha vida... Você está viva, você está viva...
Ele então pega na barriga dela de
leve... Apesar da veste suja de sangue, não sente nada na pele. Estranha...
Então arranca sua espada, faz um pequeno corte no tecido e o rasga. No local
onde deveria estar a ferida há apenas a pele da barriga em perfeitas condições.
Ele expira maravilhado. E ri, ri de
alívio, ri quase não acreditando... Então a abraça.
GADI
Meu amor!!!
Você está salva! Está salva!!!
Laís começa a acordar... Abre os
olhos devagar.
LAÍS
Gadi?...
GADI
Amor da
minha vida...
LAÍS
O que
aconteceu?...
GADI
O Deus dos
hebreus, Laís! O Deus dos hebreus salvou você!
Laís ainda não entende direito, mas
ele a abraça.
GADI
Veja!
Ele então coloca a mão dela no
local da ferida.
GADI
Está
sentindo?! Não há nada!
LAÍS
E o
ferimento?...
GADI
Deus te
curou, meu amor!!!
LAÍS
Deus?...
Maravilhado e rindo, Gadi faz que
sim. Então a ajuda a se levantar.
GADI
Vamos,
vamos sair daqui... Nós vamos com os hebreus... Débora nos ajudará!
Ele
a levanta e, de braços dados, os dois saem.
CENA
33: EXT. HAROSETE – RUAS – PÔR DO SOL
As ruas de Harosete estão lotadas
de hebreus, e Débora passa por todas conferindo se tudo está certo e em ordem.
Então ela entra em uma ruela,
talvez a única vazia. Por ser estreita e com uma leve curva através de seu
percurso, Débora desconfia que ali pode estar algum soldado escondido. Então
avança por ela.
O que Débora não percebe é que, em
um daqueles becos escuros que cruzam a ruela, uma figura furtiva rastreia seus
movimentos: Najara, armada com seu punhal.
Débora continua. Observa as casas,
os espaços atrás dos vasos e cestos, as portas entreabertas...
Então a figura de Najara sai de um
beco logo que ela passa por ele... e a segue. O punhal na mão, o olhar
vingativo, passos silenciosos... Débora respira fundo. Najara logo atrás...
DÉBORA
Senhor...
Se ainda resta algum inimigo do Seu povo, não o deixe sair impune.
NAJARA
Foi assim
que tratou o meu filho?
Antes que Débora possa reagir,
Najara se aproxima e finca o punhal na lateral de sua barriga... Débora se
assusta, para, e fica em choque... A dor aumentando...
Najara segura-a por trás, a mão ainda
no cabo do punhal fincado.
NAJARA
E pensou
que nada lhe aconteceria?!
Ela então arranca o punhal e joga
Débora na parede, que cai sentada. O sangue sai, encharca seu vestido e derrama
na terra... Débora, agonizando, olha para Najara, de pé com o punhal na mão.
DÉBORA
Quem... é
você?...
NAJARA
Najara, mãe
do eterno Capitão de Hazor, o qual você assassinou!
Débora, dolorida, tenta estancar o
sangue com a mão... Ajeita-se, mas está difícil...
DÉBORA
Se Sísera
morreu... então foi porque mereceu. Afinal... Deus assim o quis.
Najara mete uma bofetada no rosto
de Débora.
NAJARA
Que Deus é
esse... que requer a morte de um filho?!
DÉBORA
Deus requer
a liberdade de Seu povo... Seu filho... oprimiu o meu povo violentamente por 20
anos. Deus veio... para nos livrar... e fazer justiça.
Débora olha para o ferimento, que
continua a encharcar seus dedos de sangue.
NAJARA
Mas foi
tudo em vão, Débora. Tudo em vão... Pois eu te matarei e os hebreus se perderão.
Que é um corpo sem a cabeça?
Najara sorri malignamente e levanta
o punhal para acertar o pescoço de Débora... Quando ela vai abaixar a mão para
desferir o golpe, algo parece empurrá-la para o lado! Mas não há ninguém ali.
Débora logo nota que a mão de Najara, antes com o punhal, agora está
atravessada por uma flecha e sangrando sem parar.
NAJARA
Aaahhh!!!...
Najara olha para o lado: Darda,
segurando o arco, coloca a segunda flecha no mesmo e a aponta novamente para
Najara.
NAJARA
Você...
Você!... Maldita!
Darda atira outra flecha, que
acerta o ombro de Najara, fazendo-a cair para trás agonizando. Darda se
aproxima das duas caídas ali, dá uma olhada em Débora, que a observa confusa, e
de volta para Najara, caída aos seus pés de barriga para cima.
NAJARA
Maldita...
Era você... não era?... Filha de Nira... Você é a filha de Nira...
DARDA
Com muito
orgulho.
Apesar da dor e dos sangramentos,
Najara força um sorriso.
NAJARA
Vamos...
Faça. Mate-me, filha de Nira... Não queria sua tão almejada vingança, ahn?! Não
queria que eu ouvisse o nome sujo da sua mãe imediatamente antes de morrer?!...
Vamos, diga de uma vez por todas e acabe com isso!
Darda ajeita a terceira flecha no
arco e mira em Najara.
NAJARA
Diga de uma
vez, sua imunda! Diga!!!
Darda olha Débora novamente... Seus
olhares se encontram por alguns segundos... E de volta para Najara.
DARDA
Pelo Deus
de Israel. E pelos hebreus.
NAJARA
Maldita!!!
Darda solta a flecha, que crava no
peito de Najara!
Najara perde o fôlego de repente e
sua boca balbucia... Sua cabeça então bate no chão e vira para o lado, para
Débora. Seu olhar se esvai e, por fim... ela apaga.
Darda ainda parece absorver tudo o
que fez ali. Mas, antes disso, Débora se esforça para se levantar, porém não
consegue... A dor é grande e o sangramento não para.
DÉBORA
Será... que
você pode... me ajudar?...
Darda parece lembrar que Débora
está ali e vira para ela de uma vez.
DARDA
Você...
Você é Débora... não é?
Sofrendo, Débora faz que sim.
DARDA
É claro que
posso ajuda-la... Será uma honra.
Darda então larga o arco e as
flechas e segura Débora pelos braços, ajudando-a a se levantar.
Apoiando a hebreia em seus braços e
ombro, Darda começa a caminhar.
DÉBORA
Obrigada...
por tudo.
Darda dá uma olhada nela e sorri.
DARDA
Para onde
vamos?
DÉBORA
Para a
entrada do palácio.
CENA
34: EXT. PALÁCIO – ENTRADA – CREPÚSCULO
A noite está chegando quando os
hebreus avistam Débora sendo amparada por dois hebreus, que a levam até ali.
Darda acompanha-os.
HEBREU 1
Abram
espaço, abram espaço! Débora está ferida! Rápido!
LAPIDOTE
Débora!
Os homens rapidamente se ajeitam,
abrem espaço e forram o chão com alguns tecidos, onde deitam Débora.
LAPIDOTE
O que
aconteceu?!
DARDA
Ela foi
atacada... Pega de surpresa.
DÉBORA
Lapidote...
Lapidote...
Lapidote dá a volta e se agacha ao
lado dela, que leva sua mão ao rosto dele. Aflito, ele pega a mão dela,
segura-a firme e beija.
LAPIDOTE
Meu amor...
DÉBORA
Lapidote...
Fique comigo...
LAPIDOTE
Estou aqui,
estou aqui... Débora... Precisamos leva-la imediatamente a Quedes! Precisa ser
tratada! Está sangrando muito...
DÉBORA
Não...
Apenas estanque o sangue, por favor... Rasgue umas tiras de panos e estanque...
LAPIDOTE
Débora,
você já lutou, cumpriu sua missão!
DÉBORA
A missão só
será cumprida... quando Baraque matar Jabim.
LAPIDOTE
Ele pode
fazer isso com você estando em Quedes! Vamos leva-la!
DÉBORA
Não... Eu
disse que estaria com eles... Preciso estar... até o fim...
Os
olhos de Lapidote marejam e ele fica ainda mais próximo da esposa. Darda e o
povo ao redor os assistem tristes e preocupados...
CENA
35: INT. PALÁCIO – CELA – NOITE
A noite cai.
Na cela do palácio, Elian, Sama e
alguns outros tentam ouvir algo lá de fora...
ELIAN
Já faz
algum tempo que está tudo silencioso.
SAMA
Se não há
luta, Débora e os nossos irmãos devem estar lá fora. Não restou nenhum guarda
aqui na prisão...
ELIAN
Espero
apenas... que não tenham se esquecido de nós.
Sama sorri de leve.
SAMA
Débora
jamais se esqueceria de um hebreu... Muito menos de seu próprio pai.
Elian
faz que sim e respira fundo.
CENA
36: EXT. PALÁCIO – SALA DO TESOURO – NOITE
Escondido na escura sala, Jabim
permanece sentado e escorado em um pilar enquanto come devagar...
Algo
grande está ali na sala, mais para o meio, mas, devido à fraca luz da única
tocha acesa, não é possível perceber do que se trata.
CENA
37: EXT. PALÁCIO – ENTRADA – DIA
A noite toda se passa e chega a
manhã.
Os hebreus, a maioria sentados ou
deitados ali na rua, observam Baraque, Jaziel, Éder, Mireu e Lapidote ao redor
de Débora, deitada no mesmo lugar e com tiras de pano no local do ferimento.
LAPIDOTE
Então... a
profecia se cumpriu...
JAZIEL
Deus
entregou Sísera à mão de uma mulher.
DÉBORA
Jael...
Bendita seja sobre as mulheres...
BARAQUE
Débora...
Você precisa ir... Vá para Quedes, Débora.
DÉBORA
Baraque...
Apenas invada o palácio. Leve os homens... E encontre Jabim.
Baraque faz que sim.
DÉBORA
Jaziel...
Procure os prisioneiros. Meu pai, Sama e todos os outros... Liberte-os e os
traga de volta.
JAZIEL
Pode
deixar, irmã.
DÉBORA
Vão.
Baraque, Jaziel e os homens começam
a se preparar e a se aproximar do portão de entrada.
LAPIDOTE
Meu amor...
Como está se sentindo?...
DÉBORA
Dói... Não
está fácil... Mas maior é a alegria do meu coração... em saber que Deus está
nos dando de volta... a nossa paz.
Lapidote faz que sim e a acaricia.
DÉBORA
Se não for
pedir demais... fique comigo, Lapidote...
LAPIDOTE
Claro...
Não te deixarei, meu amor.
Ele segura a mão dela com as suas
duas e a beija longamente.
Logo os homens batem no portão até
abri-lo.
BARAQUE
Vamos,
avante!
Baraque,
Jaziel e os outros sobem a larga e vazia escada a toda velocidade. Débora,
deitada, olha de canto de olho e os vê...
CENA
38: EXT. PALÁCIO – TOPO DA ESCADA – DIA
Eles chegam lá em cima.
JAZIEL
A prisão
deve ser por ali. Venham dois comigo.
BARAQUE
O restante
me acompanhe. Vamos caçar Jabim.
Eles
então se separam...
CENA
39: INT. PALÁCIO – CORREDORES – DIA
Baraque,
segurando sua espada firmemente, lidera os homens. Para no encontro de
corredores, confere salas, quartos, faz sinal a eles... E continua.
CENA
40: INT. PALÁCIO – CELA – DIA
Elian parece escutar algo e faz
sinal a todos.
ELIAN
Escutem...
Ouçam!... Alguém está vindo.
MULHER
Pode ser um
dos guardas...
HOMEM
Ou Débora.
Elian e Sama se entreolham esperançosos.
SAMA
Há de ser
Débora.
Os passos aumentam...
ELIAN
Mais de
um...
Eles olham para a grade num misto
de meda e expectativa... As pessoas se aproximam... E, de repente, aparece o
rosto de Jaziel ali.
SAMA
Ja...
Jaziel?!
JAZIEL
Graças a
Deus! Graças a Deus!!!
Os homens batem na porta,
arrebentam a tranca e entram.
ELIAN
Glória a
Deus nas alturas!!!
Os hebreus raptados se alegram e
comemoram vibrando. Jaziel então entra na cela e para quando seu olhar encontra
o de Sama.
SAMA
Jaziel... Melissa...
Você sabe o que aconteceu com ela?...
JAZIEL
Eu a
encontrei... logo depois de você ser levada. Estava no riacho...
SAMA
Meu Deus...
Minha filha...
JAZIEL
Não se
preocupe, ela está bem. Eu fiquei com ela e, antes de vir, a deixei com uma
família de confiança.
Sama sorri aliviada.
SAMA
Obrigada...
Um tanto constrangido, ele faz que
sim. Os hebreus então começam a sair da cela.
ELIAN
(para eles) Vocês não
vêm?
JAZIEL
Sim... Em
instantes.
Elian faz que sim e sai.
Jaziel olha para ela.
JAZIEL
Sama... Eu...
nem sei por onde começar... Mas... é óbvio que errei com você... e cometi erros
atrás de erros... Falei coisas terríveis... Enfim, você aceita... que depois
que tudo isso passar, a gente converse?
Sama o encara... Algo parece mexer
com ela em seu íntimo. De repente ela avança, segura o pescoço dele, puxa sua
cabeça e o beija.
Pego de surpresa, ele não reage,
apenas retribui o beijo...
Ela então o larga, se afasta um
pouco e o encara.
SAMA
Precisamos
conversar, e precisamos conversar muito sobre tudo... Mas, por enquanto...
Não se aguentando, ela o agarra
novamente e lhe dá outro beijo. E dessa vez ele se entrega por completo... Um
beijo de saudade, de paixão, de um amor genuíno...
Por fim se soltam.
JAZIEL
É melhor
irmos...
SAMA
Sim... (sorri)
Vamos.
JAZIEL
Vamos.
E
os dois saem correndo dali.
CENA
41: INT. PALÁCIO – CORREDOR – DIA
Baraque e seus homens saem em um
corredor e dão de cara com o servo de Jabim, que carrega um jarro.
Imediatamente lhe apontam as espadas; Baraque lhe faz sinal de silêncio.
BARAQUE
(baixinho) Onde está
o rei?
O
servo engole em seco... Mas não hesita em apontar com o dedo uma sala ali ao
lado. Baraque faz sinal para os homens, e dois ficam com o servo em seu poder.
Outros 3 o acompanham quando ele abre a porta e entra.
CENA
42: INT. PALÁCIO – SALA DO TESOURO – DIA
Baraque entra na sala. Está escura,
e seus olhos demoram a se adaptarem.
Ele avança, a espada sempre em
punhos. Tateia pela parede e pelos pilares, até que chega ao meio e para ao
tropeçar em algo.
Então se abaixa e leva a mão. Sente
uma superfície fria e metálica... Moedas. O coração de Baraque então se acelera
e ele observa aquilo por um tempo até seus olhos se adaptarem de vez e ele
conseguir ver tudo que está ali: pilhas e mais pilhas de moedas. Outros objetos
de ouro e prataria também estão espalhados... Seus olhos brilham ao contemplar
a imagem com que tanto sonhou em sua vida.
JABIM
Tudo isso
pode ser seu.
Assustado, ele vira apontando a
espada: Jabim, saído de trás de um pilar, se aproxima. Os 3 soldados estão mais
perto da porta, e os observa.
BARAQUE
Rei Jabim.
JABIM
Você deve
ser o subordinado de Débora, assim como Sísera é o meu.
BARAQUE
Sísera está
morto.
Jabim fica em silêncio por um
tempo...
JABIM
Faz
sentido. Do contrário, não estaria aqui, estaria?
BARAQUE
Sabe que eu
vim para mata-lo, não sabe?
JABIM
Hebreus,
hebreus... Sempre tão selvagens.
BARAQUE
Não fomos
nós que escravizamos o seu povo e os matávamos por motivos banais. Isso é
justiça.
JABIM
Justiça são
os acordos. E eu tenho um para você.
Baraque presta atenção.
JABIM
Todo esse
tesouro, tudo o que está nessa sala, pode ser seu... se me deixar sair vivo e
fugir.
Baraque franze a testa.
BARAQUE
Para que
volte depois com mais força?
JABIM
Por
favor... Eu virarei um plebeu, vou morar entre o povo em alguma cidade por aí...
Talvez até em uma caverna.
BARAQUE
E sair
impune de todos os seus crimes? Não.
JABIM
Veja esse
ouro... Essas moedas, essas joias...
Os olhos de Baraque contemplam
aquilo tudo.
JABIM
Tudo seu...
Toda essa fortuna... Basta me deixar ir.
BARAQUE
Tudo isso
pode ser meu do mesmo jeito se eu mata-lo.
JABIM
Aí é que
você se engana. O tesouro é amaldiçoado àqueles que se apossam dele. Só eu
conheço os versos que quebram a maldição.
Baraque, estranhando, vira de costa
para Jabim e observa todo o tesouro. Nisso, disfarçadamente Jabim pega um
punhal da veste, segura-o firmemente e se aproxima por trás de Baraque.
BARAQUE
Estranho...
Isso não existe. Versos que quebrem maldição... O poder de Deus é maior.
JABIM
Oh, você
acha mesmo?
HOMEM
Baraque,
cuidado!
Jabim levanta a mão para fincar o
punhal na costa de Baraque, mas ele é rápido ao se virar e se desviar; agarra o
braço de Jabim.
Baraque torce seu braço até Jabim
cair de joelhos perante ele e soltar o punhal. Baraque então agarra seu pescoço
com uma mão e a espada com a outra.
BARAQUE
Isso... é
pelo ancião Aliã!
Baraque finca a espada nas
entranhas de Jabim, que perde a voz.
BARAQUE
E isso é
por todo o meu povo.
Ele torce a espada fincada, fazendo
Jabim agonizar e sangrar pela boca... Baraque então arranca a espada e Jabim
cai aos seus pés... Morto.
E o observa por alguns segundos.
Um dos homens se aproximam.
HOMEM 2
Senhor... E
esse tesouro? Nós o levaremos?
Baraque vira para a fortuna...
Respira fundo... e olha para o homem.
BARAQUE
Caberá a
Débora decidir. Vamos embora.
CENA
43: EXT. DESERTO – DIA
O
dia passa e o exército hebreu volta devagar pelo deserto.
Montados
em Pérola, Lapidote cuida de Débora, que, apesar de acordada, mantém os olhos
fechados. No cavalo ao lado, Baraque, quieto. Jaziel e os hebreus raptados
caminham junto aos 10.000, que voltam alegres pela vitória, porém tristes pelo
estado de sua juíza.
CENA
44: EXT. MEROZ – ARREDORES – DIA
Os homens de Meroz, incluindo Elói,
se afastam da plantação quando avistam, a várias dezenas de metros à frente, a
comitiva hebreia passando.
JAZIEL
Meroz...
BARAQUE
A cidade
que não atendeu o pedido de socorro do Senhor.
Débora, fraca, vê no alto de um
monte uma luz... Uma figura de branco...
DÉBORA
Vejam...
Ela aponta e Lapidote e os outros
olham, mas nada veem além do monte.
LAPIDOTE
O quê, meu
amor?
Ela nota que é o mesmo anjo de seu
“sonho”.
DÉBORA
O anjo...
O anjo então vira para eles e,
apesar da distância, encara Débora.
ANJO
Seja
amaldiçoada Meroz. Amargamente sejam amaldiçoados os seus moradores, porquanto
não vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor com os valorosos.
De repente, todos os hebreus notam
que a plantação ao lado da cidade seca e murcha. Frutos e espigas caem e
apodrecem instantaneamente. Elói e os seus olham com espanto. Então dezenas, centenas
de insetos brotam da terra, comem o que restou e avançam para a cidade, levando
gritaria e caos entre os moradores de todas as casas.
ELÓI
Não...
Os homens de Meroz correm até lá,
mas não têm coragem de entrar dada a infestação de pragas.
É quando úlceras brotam em suas
peles, em seus rostos, em seus braços, em suas mãos...
ELÓI
Aaaahhhh!!!!
Eles gritam apavorados ao olharem
uns para os outros.
A maldição, porém, não se espalha
para fora de Meroz. Débora nota que o anjo se transforma em luz, sobe nos ares
e desaparece.
DÉBORA
Prossigamos...
Não tenham medo. Meroz apenas pagou pelos seus pecados.
Baraque
a escuta e faz sinal para todos prosseguirem.
CENA
45: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
O dia passa e, no final do mesmo,
os hebreus chegam à palmeira de Débora. Ao colocarem-na sentada na tenda, logo
notam que a ferida desapareceu. Tamar, que está ali, percebe.
TAMAR
Minha
filha... Você está curada!
Débora olha e sorri. A mãe a
abraça.
DÉBORA
Mais curada
que eu está Israel, minha mãe. Estamos livres.
Tamar faz que sim e Débora põe-se
de pé. Vira para todo o povo que está espalhado por ali.
DÉBORA
Israel!...
Estamos livres!!!
O povo vibra em gritos e palmas!
DÉBORA
Glória a
Deus!!!
MULTIDÃO
Glória a
Deus!!!
DÉBORA
Glória a
Deus hoje e eternamente!!!
MULTIDÃO
Glória a
Deus!!!
Jaziel, ao lado de Sama, levanta os
braços.
JAZIEL
Débora,
cante!!! Cante nossa vitória!!!
O povo o apoia.
DÉBORA
Então
também cante Baraque comigo!
Baraque hesita, mas Sara o cutuca e
ele se aproxima de Débora.
Ambos se olham... E ela começa,
primeiro em tom de declamação.
DÉBORA
Os chefes
se puseram
à frente em Israel, porquanto o povo se ofereceu voluntariamente!
BARAQUE
Louvai ao Senhor!
DÉBORA
Ouvem,
reis; dai ouvidos, príncipes: eu, eu cantarei ao Senhor; salmodiarei ao Senhor
Deus de Israel.
O povo bate palmas. Agora a canção
de Débora é melódica.
DÉBORA
Ó Senhor,
saindo Tu de Seir, caminhando Tu desde o campo de Edom, a terra estremeceu; até
os céus gotejaram águas.
BARAQUE
Os montes
se derreteram diante do Senhor, e até Sinai diante do Senhor Deus de Israel.
DÉBORA
Nos dias de
Sangar, nos dias de Jael cessaram os caminhos de se percorrem: e os que andavam
por veredas iam por caminhos torcidos. Cessaram as aldeias em Israel, cessaram:
até que eu, Débora, me levantei, por mãe em Israel me levantei. E se escolhia
deuses novos, logo a guerra estava às portas: via-se por isso escudo ou lança
entre quarenta mil em Israel? Meu coração é para os legisladores de Israel, que
voluntariamente se ofereceram entre o povo.
BARAQUE
Louvai ao
Senhor!
DÉBORA
(olhando os
anciães) Vós os que cavalgais sobre jumentas brancas, que vos
assentais em juízo, e que andais pelo caminho, falai disto. Onde se ouve o
estrondo dos frecheiros, entre os lugares onde se tiram as águas, ali falai das
justiças do Senhor, das justiças que fez às suas aldeias em Israel: então o
povo do Senhor descia às portas. Desperta, desperta, Débora, desperta,
desperta, entoa um cântico: levanta-te, Baraque, e leva presos a teus
prisioneiros, tu, filho de Abinoão. Então o Senhor fez dominar sobre os
magníficos, entre o povo ao que ficou de resto: fez-me o Senhor dominar sobre
os valentes.
E Débora e Baraque continuam a cantar...
O povo ouve alegremente... Famílias
se abraçam, casais se ajuntam, amigos batem nas costas uns dos outros...
DÉBORA
Bendita
seja sobre as mulheres Jael, mulher de Héber, o queneu: bendita seja sobre as
mulheres nas tendas.
E continua. O povo nunca se viu tão
alegre em toda a vida.
BARAQUE
Louvai ao
Senhor!
Débora então olha para o céu e
levanta as mãos.
DÉBORA
Assim, ó
Senhor, pereçam todos os teus inimigos! Porém os que o amam... sejam
como o sol... quando sai na sua força.
E, num ato lindíssimo, cada um dos
milhares de hebreus que ali estão se ajoelha e se prostra diante do Senhor,
inclusive Gadi, Laís, Jael e Héber, mais retraídos em um canto.
E
o povo adora a Deus.
CENA
46: EXT. CAMPO – DIA
ALGUNS DIAS DEPOIS...
Débora, com um vestido mais solto,
caminha tranquilamente pelo campo verde. Observa as árvores frutíferas, os
pássaros, os roedores que a observam por alguns instantes antes de correrem
para as suas tocas...
E ela se recorda. De sua infância,
as brincadeiras com Jaziel, as peraltices, o retorno do pai, o sentimento do
primeiro amor com Lapidote, os filisteus, a separação de Lapidote, Sangar
libertando-os dos filisteus...
Ela então avista uma parte mais
alta do campo, que acaba em um pequeno precipício; caminha para lá lembrando de
sua adolescência complicada, seu noivado com Éder, o retorno de Lapidote, o
rompimento do noivado, a reaproximação com Lapidote, seu casamento, seus
momentos juntos, a chegada dos hazoritas, o início da escravidão...
Débora chega a uma árvore onde há uma
colmeia de abelhas que ela observa com atenção. Enxerga-a, mas na verdade viaja
em pensamentos recordando os 20 anos de opressão, seu desejo de ser mãe, a
união dos hebreus apesar da amargura, os sonhos, o chamado, sua interpretação,
sua partida, sua missão, seus feitos em Harosete, sua luta contra Bogotai, sua
derrota, sua segunda luta e vitória, a libertação das mulheres e crianças da
Fortaleza, o encontro com Deus no “sonho”, o povo a clamando juíza, Elian
aceitando sua reaproximação...
Débora sorri. Então olha para a
parte mais alta da elevação do terreno e sobe enquanto aprecia a paisagem ao
redor. A palmeira, a tenda, as causas, o dom de Deus, os momentos difíceis, o
desaparecimento de Aliã, as notícias, o sequestro do pai, da prima, dos outros
hebreus... A missão de Baraque, a partida, a guerra, a vitória, o cântico.
Débora chega perto do pequeno
precipício e, com o vento balançando seu cabelo e seu vestido, observa a
paisagem que a cerca.
É quando alguém chega ali. Ela vira
e vê: Lapidote.
DÉBORA
Lapidote...
LAPIDOTE
Meu amor...
Eles se beijam.
LAPIDOTE
Débora... Aproveitei
que você veio dar uma volta para te falar uma coisa.
DÉBORA
Hum... Pode
dizer.
Ele pega as mãos dela.
LAPIDOTE
Eu pensei
muito sobre aquilo, busquei a Deus, e... cheguei a uma conclusão.
DÉBORA
Do que exatamente
está falando, meu amor?
LAPIDOTE
Sobre nossa
descendência...
Débora arqueia as sobrancelhas e,
devagar, faz que sim.
LAPIDOTE
Eu tomei a decisão
de que não mais ansiarei por essa criança. Não importa se os homens falem mal,
não importa se sejamos apontados como sem descendentes.
Débora sorri e continua a ouvi-lo.
LAPIDOTE
O que
importa é o nosso amor. Se Deus não achou graça de nos presentear com uma
criança, tudo bem. O maior presente que eu poderia ganhar está ao meu lado dia
após dia. O seu amor me basta e me preenche por completo, Débora.
Débora sorri mais.
LAPIDOTE
Por que
está rindo?...
DÉBORA
Porque eu
vim passear justamente para absorver algo que escutei mais cedo.
LAPIDOTE
Que
escutou? O quê?...
DÉBORA
As
curandeiras me examinaram e, depois de me fazerem uma entrevista e alguns
testes, chegaram a uma conclusão.
LAPIDOTE
Que
seria?...
Débora se aproxima ainda mais do
marido e o olha com um sorriso e um brilho no olhar.
DÉBORA
Eu estou
grávida, Lapidote.
O semblante de Lapidote muda
instantaneamente e seus olhos se arregalam.
LAPIDOTE
O quê?!
DÉBORA
(rindo
emocionada) Aconteceu, meu amor! Finalmente! Eu estou
grávida! Nós vamos ser pais!
LAPIDOTE
Você está grávida,
você está grávida! (vira para a paisagem ao redor) EU VOU SER
PAI!!!
Débora ri e ele a abraça forte.
Gira-a no ar e a levanta em seus braços... Logo os dois caem no chão.
LAPIDOTE
Glória a
Deus!
DÉBORA
Glória a
Deus, glória a Deus!
Caídos
ali na grama, os dois se beijam...
5 ANOS DEPOIS...
CENA
47: EXT. QUEDES – RUA – NOITE
A cidade de Quedes está em festa.
Músicas, danças, comida para todos os lados.
Em um determinado lugar estão Eloá,
Danilo, Darda e Elisa.
DANILO
Como amo as
festas da colheita...
ELOÁ
Ah, é a
melhor época do ano!
DARDA
Claro,
novos ingredientes, novas possibilidades para as receitas de vocês...
ELISA
Já posso sentir
o cheiro da comida quentinha de vocês.
Eloá e Danilo riem. Então um moço
se aproxima deles.
MOÇO
Shalom...
Com licença.
ELOÁ,
DANILO, DARDA
Shalom.
MOÇO
Elisa... O
que acha de dançarmos?
Elisa deixa escapar um sorriso.
ELISA
Claro...
Ele pega a mão dela e a guia.
MOÇO
(sorrindo) Prometo
devolvê-la a vocês logo.
DARDA
Não tenho
certeza de que ela queira, hein...
Elisa parece se constranger.
DARDA
Vá, vão,
dancem! Aproveitem!
Ele a leva para o meio do povo e
eles se juntam aos dançarinos.
ELOÁ
Fiquei tão
feliz pela Elisa desde que ele começou a cortejá-la...
DARDA
Ela
melhorou muito. Até suas cantorias estão mais animadas.
ELOÁ
E você, Darda?
Não pensa em se casar?
DARDA
Hum... Sim.
Mas, por enquanto, sem pressa.
Eloá e Danilo riem.
ELOÁ
Independentemente
de quando acontecer, não se esqueça dos amigos, hein...
Darda segura as mãos dos dois.
DARDA
Nunca.
Perto dali, Sama e Jaziel chegam de
mãos dadas.
SAMA
Onde eles
estarão?
JAZIEL
Onde mais
poderiam estar?
Então ela olha para onde ele aponta
e vê Melissa, com 8 anos, correndo e brincando com outras crianças.
SAMA
Melissa!
Logo a menina chega ali.
SAMA
Filha, deixe-me
ver sua roupa. Ô Melissa, já sujou...
JAZIEL
Deixe, meu
amor... É assim mesmo.
SAMA
Logo, logo
vai aprender a lavar suas roupas, ouviu, mocinha?
Melissa ri travessamente.
MELISSA
Eu, não...
SAMA
Rum, a
senhora sim. Cadê seu irmão?
MELISSA
Está com os
amigos dele.
SAMA
Cuide dele
quando a mamãe e o papai não puderem, viu... Você é a mais velha, também é
responsável.
MELISSA
Está bem.
SAMA
Pode ir
brincar.
Mas Melissa não vai, fica olhando
Jaziel.
SAMA
O que
foi?...
MELISSA
Faz, papai!
SAMA
Fazer o
que, Jaziel?
JAZIEL
Ah...
Jaziel então tira uma flor
avermelhada da veste e dá a Sama.
JAZIEL
Uma flor
para a mais bela das flores.
SAMA
Oh... Meu
amor... É linda!... E tão cheirosa...
MELISSA
Foi eu que
falei para o papai falar isso--
JAZIEL
(interrompendo)
Ei,
ei, ei, mocinha... Vai lá brincar, rum.
Melissa sai correndo a toda
velocidade.
SAMA
Melissa,
hum?
JAZIEL
O que
importa é a intenção.
Sama ri e eles se beijam felizes.
Não muito distante dali, Abinoão se
aproxima de Baraque, que observa à distância Sara, seus 2 filhos e Renê.
ABINOÃO
Está tudo
bem, meu filho?
Baraque o olha.
BARAQUE
Sim, meu
pai. Tudo está ótimo.
ABINOÃO
Baraque, eu
quero que saiba... que estou muito orgulhoso de você.
BARAQUE
Pelo que
exatamente?
ABINOÃO
5 anos se
passaram desde a última vez que você procurou o tal tesouro... Apesar de não
tê-lo encontrado, você entendeu que não vale a pena.
Baraque parece pensar... Então olha
o pai.
BARAQUE
Na
verdade... eu o encontrei sim.
Abinoão franze a testa.
ABINOÃO
Encontrou?!...
BARAQUE
Foi. (olha
para a família) Só que já faz muito tempo. Só não tinha me dado conta
ainda.
Entendendo,
Abinoão sorri, abraça o filho e beija seu rosto. Eles trocam olhares contentes.
CENA
48: INT. CASA DE ADÉLIA – LOJA – DIA
E é dia.
A loja de Adélia está cheia.
Débora, Lapidote, Tamar, Éder, Isabel, Mireu, Laila e Setur estão por ali.
ADÉLIA
Eu gostaria
de agradecer a todos por terem vindo ao lançamento da minha mais nova
receita... Essa que é, provavelmente, a mais importante de todas, pois faz uma
homenagem a uma grande mulher. A uma líder sem igual, uma serva de Deus
exemplar. A voz do Senhor na terra de Israel. Demorou um pouco para eu chegar ao
ponto certo da receita, mas acredito que alcancei a perfeição.
Adélia faz sinal para Laila, que se
aproxima com um pote coberto.
LAPIDOTE
(para
Débora) Você sabe o que é?
DÉBORA
(sorrindo) Não.
Adélia então descobre o pote e
todos recebem com palmas um bolo escuro que há ali.
ADÉLIA
Povo de
Betel! Apresento a vocês o pão de mel! Criação original minha inspirada na
juíza Débora! Bom, o que tem a ver? Débora, como a maioria deve saber,
significa abelha... Mel... Entenderam? Acho que tem tudo a ver...
Débora sorri e também bate palmas.
DÉBORA
Obrigada,
Adélia. Tenho certeza de que está perfeito.
ISABEL
Pão de mel?
Nunca ouvi falar.
ÉDER
Estou
curioso...
LAPIDOTE
Meu amor,
Adélia te surpreendeu?
DÉBORA
Por um lado
sim...
LAPIDOTE
O que quer
dizer?
Débora se aproxima dele e fala
baixinho.
DÉBORA
Esse pão só
era inédito aqui em Israel. Outros reinos já o criaram.
Lapidote fica surpreso.
DÉBORA
O que não
tira o mérito de Adélia. Ela não soube que já existia.
LAPIDOTE
E pretende
falar para ela?
Débora então pega um pedaço do pão
de mel que passam servindo.
DÉBORA
De forma
alguma.
Eles riem e comem. Adélia então
bate palmas chamando atenção.
ADÉLIA
Ahn... Bem,
nós temos outro anúncio para fazer.
Setur vai até ela e fica ao seu
lado.
ADÉLIA
A novidade
é que... (sorrindo) Eu estou grávida!
Uma parte do povo comemora...
ISABEL
De novo?!
Ai, desculpa...
LAILA
Mais um, Adélia?!
SETUR
Quando o
amor de duas pessoas não cabem no peito, transborda para outro ser.
ÉDER
Haja amor
entre esses dois... Quinto filho, já...
DÉBORA
Parabéns,
Adélia! Que venha com saúde assim como os outros 4!
ADÉLIA
Obrigada,
senhora!
Laila
e Mireu, casados, se aproximam de Adélia e Setur e conversam alegres. Éder pega
um pedaço do pão de mel e dá na boca de Isabel, que sorri e lhe dá um beijo.
CENA
49: EXT. BETEL – PRAÇA – DIA
Débora, Lapidote e Tamar se
aproximam de um pequeno ajuntamento. Logo veem ali Elian discursando para um
grupo de crianças de 8 a 12 anos. Ele não percebe os familiares.
ELIAN
Todos esses
que vocês citaram são sim grandes heróis. Mas há algo que diferencia os heróis
dos juízes. Alguém sabe o que é?
As crianças pensam...
MENINO
A fé?
Elian faz que sim sorrindo.
ELIAN
A fé em
Deus. Quando um herói adquire a fé em Deus e entrega sua vida de corpo e alma
ao Senhor, ele evolui, e se torna algo além...
MENINA
Juiz.
ELIAN
(fazendo
que sim) Um juiz.
MENINO
(admirado) A senhora
Débora então era uma heroína?!
ELIAN
Exatamente.
MENINO
Então, se
ela é mais do que uma heroína... ainda é uma heroína.
Elian ri.
ELIAN
Parece que
heróis e heroínas os atraem mais... Mas você não deixa de ter razão.
MENINA 2
Então eu
quero ser uma juíza quando crescer.
MENINO
Eu também
quero ser um juiz!
Débora, sorrindo, se aproxima,
deixando Elian e as crianças surpresos.
DÉBORA
Vocês podem
ser o que quiserem, crianças. Meninos e meninas... Apenas lembrem-se de
colocarem Deus à frente de todas as suas escolhas. Não façam nada sem a
aprovação de nosso Senhor. Vocês conhecem a minha palmeira, aquela sob a qual
me assento?
CRIANÇAS
Sim!...
DÉBORA
Pois bem. O
povo de Deus deve ser voltado a Ele assim como aquela palmeira é sempre voltada
ao céu.
As crianças a olham com os olhos
brilhando.
ELIAN
Crianças...
Por hoje é só. Discutam com seus papais em casa sobre o juiz Sangar. Falaremos
sobre ele na próxima reunião.
As crianças se despedem deles todos
e vão embora.
LAPIDOTE
Quem diria,
hein, meu sogro?
DÉBORA
Quanto
ânimo e quanta paciência...
TAMAR
Ai, que
orgulho do meu marido!
Tamar
abraça Elian; ele, Débora e Lapidote riem.
CENA
50: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
ALGUNS
DIAS DEPOIS...
Débora e Lapidote estão na tenda
sob a palmeira. Nesse momento não há ninguém ali para ser atendido, e o casal,
de mãos dadas, observam Tamar e Elian brincando embaixo das árvores com um
menino, de 4 anos, e uma menina de 2.
DÉBORA
Aliã,
Enair... Comportem-se!
TAMAR
Mas estão
tão comportados...
LAPIDOTE
Obedeçam ao
vovô e a vovó!
ELIAN
Fiquem
tranquilos... Criança com saúde é assim mesmo!
Débora e Lapidote observam os dois
brincando com o casal de irmãos.
Lapidote respira fundo.
LAPIDOTE
Sabe, meu
amor, toda essa paz me fez pensar... Quantas coisas já nos aconteceram, quantas
coisas tentaram nos separar, nos destruir, nos matar, nos colocar por terra...
Mas aqui estamos nós. Juntos... e em paz.
DÉBORA
Juntos e em
paz.
LAPIDOTE
Talvez seja
por isso que diminuíram as causas para você atender...
DÉBORA
O povo está
muito mais próximo do Senhor. Parecem finalmente ter entendido o que significa
ser um servo de Deus e estão com a fé fortalecida. E Deus cumpriu todas as Suas
promessas e provou que é nosso Guarda Verdadeiro e Fiel.
Ele sorri.
LAPIDOTE
Quanto amor
por um povo...
DÉBORA
Outro tanto
de amor, Lapidote... é o meu por você.
Ela então pega algo no bolso do
vestido: a semente de tamareira com as iniciais de ambos gravadas dos dois
lados, e presa a um cordão. Sorrindo, Lapidote a pega e a admira.
DÉBORA
Não imagina
como você foi essencial para eu cumprir minha missão na busca pela nossa
liberdade. Seu apoio, seus conselhos, sua força!... (pega as mãos dele)
Como eu te amo, Lapidote!
Lapidote sorri.
LAPIDOTE
Eu te amo
demais, Débora!...
Ele então acaricia o rosto dela com
o dedo, se aproxima e a beija... Um longo beijo de puro amor e carinho.
Então param ao ouvirem os gritos
dos filhos, e veem os dois correndo pelo campo, perseguidos pelos avós que
talvez estejam se divertindo mais que os netos.
Lapidote abraça Débora de lado e
eles ficam bem juntos, observando a bela paisagem ao redor com a família.
Nos
olhos de Débora, uma tranquilidade plena. Apesar de Israel ainda não ser um
reino, com um trono e um rei de fato, ela sabe que, por muitas décadas, o que
reinará naquelas terras será a paz.
FIM
------------------------------------------
E
chegamos ao fim.
Agora
sim posso dizer que minha missão está cumprida, e meu sonho – de adaptar duas
histórias bíblicas que tanto admiro, Rute e Débora – , realizado.
Só
tenho a agradecer. Primeiramente a Deus, pelo fôlego de vida para tecer todas
essas palavras e ordená-las de forma a fazer algum sentido.
À
equipe do Ranable agradeço pela força e apoio em todos os momentos. Só vocês
mesmos para aceitarem outra trama minha... rs
E,
por fim, a cada um que acompanhou a saga de Débora até o fim. Também àqueles
que não pegaram do início, mas que vieram até o ponto final. Foi um prazer e
uma honra!
Enfim,
a todos, obrigado!
Que
a literatura nos proporcione outros encontros para que viajemos e nos
emocionemos juntos novamente.
Até
outra vez...
Obrigado pelo seu comentário!