JÚLIA
Uma novela criada e escrita por
RAMON FERNANDES
CAPÍTULO 14
CENA 01. PRAIA DE COPACABANA. QUIOSQUE. EXTERIOR. NOITE
Continuação imediata do capítulo anterior.
DAVI TENTA ENCARAR VITÓRIA, QUE VAI O CONDUZINDO PARA FORA DA MOVIMENTAÇÃO DO QUIOSQUE. ELE TROCANDO AS PERNAS.
VITÓRIA — Vem comigo, meu amor. Eu vou cuidar de você. Vem!
DAVI — Vitória, eu não quero/
VITÓRIA — Quieto, Davi. Quietinho, meu amor. Não fala nada não. Deixa eu só te levar daqui.
VITÓRIA LEVA DAVI ATÉ SEU CARRO. O COLOCA NO BANCO DO CARONA, COLOCA O CINTO NELE. E ANTES DE ENTRAR NO CARRO, DÁ UM SORRISO MALÉFICO.
CORTA PARA
CENA 02. MANSÃO BACELAR. SUÍTE DE VITÓRIA. INTERIOR. NOITE
MÚSICA: "Too Bad" - Giulia Be
VITÓRIA ENTRA CARREGANDO DAVI, NA SUA SUÍTE. ELE TENTA RECONHECER O LOCAL, MAS ELA O JOGA NA CAMA.
DAVI — Cê me trouxe pra sua casa, Vitória?
VITÓRIA — Davi, você tá bêbado, meu amor. Eu te trouxe pra um lugar seguro.
VITÓRIA VAI DESABOTOANDO A CAMISA DELE. RI ENQUANTO BEIJA SUA ORELHA. ELE FECHA OS OLHOS, NÃO ESTÁ MUITO SÓBRIO. VITÓRIA VAI SE APROVEITANDO, TIRANDO SUA CALÇA. ELA TIRA O SEU VESTIDO, FICANDO APENAS DE CALCINHA E SUTIÃ. DAVI TENTA ENCARÁ-LA.
DAVI — Vitória, você/
VITÓRIA — Você não sente saudade desse corpo, hein, Davi? Não sente saudade em me tocar? Aproveita, eu sou sua! Sempre fui só sua, Davi!
VITÓRIA PEGA A MÃO DE DAVI E PASSA PELO SEU CORPO. ELE LEVANTA E A AGARRA. ELA RI, JOGANDO A CABEÇA PARA TRÁS. DAVI NÃO RESISTE E A JOGA NA CAMA, BEIJANDO SEU CORPO. VITÓRIA PRESSIONANDO A CABEÇA DELE PARA BAIXO, SENTINDO PRAZER. OS DOIS AGARRADOS. CORTES DESCONTÍNUOS DOS DOIS ENTREGUES AO CARINHO, SE BEIJAM COM TESÃO. VITÓRIA GEMENDO SOBRE DAVI, COM VONTADE. DAVI, DE OLHOS FECHADOS, APROVEITANDO O MOMENTO. CÂM VAI SAINDO POR CIMA.
FADE OUT/
FADE IN/
CENA 03. MANSÃO BACELAR. SUÍTE DE VITÓRIA. INTERIOR. DIA
MÚSICA OFF. AS CORTINAS BRANCAS BALANÇAM COM O VENTO QUE ENTRA PELA JANELA. CÂM VAI SE APROXIMANDO DA CAMA, E REVELA VITÓRIA, NUA, COBERTA APENAS COM UM LENÇOL, DEITADA NO PEITO DE DAVI. ELE VAI ACORDANDO AOS POUCOS, PASSANDO A MÃO PELO ROSTO, ATORDOADO. OLHA EM VOLTA, TENTA RECONHECER, ESFREGA OS OLHOS.
DAVI — Mas o que/
ELE OLHA PARA O LADO E VÊ VITÓRIA DORMINDO EM SEU PEITO. ELE A AFASTA. ELA ACORDANDO AOS POUCOS.
DAVI — (Completamente surpreso) Vitória?! Mas o que tá acontecendo/
VITÓRIA — (Abre um sorriso) Bom dia, meu amor. Dormiu bem?
DAVI LEVANTA-SE E SE COBRE COM O LENÇOL. ENCARA VITÓRIA.
DAVI — O que aconteceu aqui?
VITÓRIA O OLHANDO, COM UM SORRISO DE ORELHA A ORELHA. NELE, ATORDOADO.
CORTA PARA
CENA 04. APARTAMENTO CAROL E WILLIAM. QUARTO DO CASAL. INTERIOR. DIA
CAROL DORME AINDA. WILLIAM ENTRA COM UMA BANDEJA DE CAFÉ, VAI ATÉ A CAMA. A TOCA LEVEMENTE.
WILLIAM — Amor?
CAROL VAI ACORDANDO. ENCARA WILLIAM, CLIMA TRISTE.
WILLIAM — Bom dia, amor. Trouxe um café pra gente.
CAROL — Que horas são? Você não tá atrasado?
WILLIAM — Eu desmarquei o que tinha hoje pra ficar com você. Ontem, você veio pra casa, tava chorando. Demorou pra dormir, o sono foi ruim... Eu resolvi ficar pra te fazer companhia hoje.
CAROL O OLHA, OLHOS MAREJADOS. ELA O ABRAÇA. OS DOIS EM SILÊNCIO.
CAROL — Obrigada.
WILLIAM — Você quer me contar o que aconteceu ontem, hein?
CAROL EM SILÊNCIO. ELA O ENCARA, MAS NÃO FALA NADA. TOMA UM GOLE DO SUCO DE LARANJA. ELE PASSA A MÃO PELOS CABELOS DELA.
WILLIAM — Foi algum problema com algum colega? Com seu chefe?
CAROL — (Rápida) Não quero falar sobre isso, amor. Eu acho que eu vou pedir demissão/
WILLIAM — Sério, Carol?
CAROL EM SILÊNCIO.
WILLIAM — Poxa, que pena. Você tava tão empolgada no começo. E nós tínhamos tantos planos pro nosso casamento. Juntar dinheiro pra nossa lua-de-mel, pra cerimônia dos sonhos.
CAROL SE PESA COM AQUELAS PALAVRAS. FICA RETICENTE.
WILLIAM — Tem certeza?
CAROL — Eu... Eu não sei. Nós também temos dívidas. Tem o financiamento do carro... Eu não sei.
WILLIAM PEGA NA MÃO DE CAROL, ELES SE OLHAM COM AMOR. ELA COM OS OLHOS MAREJADOS.
CAROL — Eu tô tão confusa.
WILLIAM — Amor, saiba que eu tô aqui sempre. Qualquer que seja a sua decisão, eu vou te apoiar sempre. Pensa melhor nisso tudo.
CAROL BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE. ELA O ABRAÇA, CHORA.
CAROL — Só me abraça. Me abraça forte.
NOS DOIS ABRAÇADOS. CAROL CHORA BAIXINHO NO OMBRO DE WILLIAM, QUE A CONSOLA.
CORTA PARA
CENA 05. MANSÃO BACELAR. SUÍTE DE VITÓRIA. INTERIOR. DIA
Continuação imediata da cena 03.
DAVI OLHANDO VITÓRIA, QUE SORRI.
VITÓRIA — Ué, amor. Se você tá nú, eu tô também. Nós acabamos de acordar juntos, o que você acha que aconteceu entre nós?
DAVI AINDA MUITO ATORDOADO. ELE SENTA NA CAMA, VAI CATANDO SUA ROUPA PELO CHÃO. VITÓRIA O ABRAÇA POR TRÁS, VAI BEIJANDO SUAS COSTAS.
VITÓRIA — Poxa, amor, porque cê tá assim? A nossa noite foi maravilhosa.
DAVI — (Levanta) Eu não sou o seu amor, Vitória! E essa noite... Essa noite foi um erro!
VITÓRIA O ENCARA. LEVANTA.
VITÓRIA — Um erro? Você tem a capacidade de dizer, depois dessa noite, que o que aconteceu entre nós foi um erro?
DAVI — (Tom incisivo) Eu não te amo! Bota isso na sua cabeça, de uma vez por todas! Eu amo outra pessoa!
VITÓRIA LEVANTA NERVOSA, IRRITADA.
VITÓRIA — Ama quem? A filha do motorista? Aquela pobre coitada da Júlia? Isso é ridículo, Davi!
DAVI FICA CALADO, VAI COLOCANDO A ROUPA. VITÓRIA O PUXA PARA ELA.
VITÓRIA — Por favor, para! Olha pra mim! (O encara) Eu te amo!
DAVI — Que pena pra você, então, Vitória!
DAVI A AFASTA E SAI DO QUARTO. VITÓRIA SE JOGA NA CAMA, IRRITADA.
VITÓRIA — Desgraçada! Maldita Júlia! Maldita desgraçada!
NELA, FURIOSA, SOCANDO O TRAVESSEIRO.
CORTA PARA
CENA 06. FLAT DE JÚLIA. SALA. INTERIOR. DIA
CAMPAINHA TOCA. FELIPE VEM DO INTERIOR DO APARTAMENTO E ABRE A PORTA. CÂM REVELA LEANDRO.
FELIPE — (Surpreso) Leandro?
LEANDRO — Oi, Felipe. A Júlia tá aí?
EM FELIPE ENCARANDO LEANDRO, CARA DE POUCOS AMIGOS.
CORTA PARA
CENA 07. APARTAMENTO JULIANO E HELENA. SALA. INTERIOR. DIA
HELENA NA SALA, SENTADA, MEXENDO NO CELULAR. NICOLAS VEM DA COZINHA COM UMA PANELA EM MÃOS. SENTA AO LADO DELA. HELENA NEM O ENCARA.
NICOLAS — Fiz brigadeiro pra gente, tá afim?
HELENA NEM RESPONDE. NICOLAS TENTA SE APROXIMAR, E HELENA VAI PARA O OUTRO SOFÁ. NICOLAS INCOMODADO.
NICOLAS — Vai ficar sem falar comigo, Helena?
HELENA — Nicolas, você quer que eu fale o que, depois do papelão que você fez na formatura, hein?
NICOLAS — Papelão? Você chega pra mim, na minha cara, na sua formatura, com um amigo meu, dizendo que é seu namorado... Assim, sem mais, nem menos, e eu que fiz um papelão?
HELENA — Você já se perguntou porque tanto ciúme de mim? Você é meu irmão, Nick! Eu sei que você quer o meu bem, você cuidou de mim quando os nossos pais morreram, mas você é meu irmão! Você não é meu namorado, meu marido, meu ex-marido... Eu não entendo. E acho que nem você sabe, na verdade.
NICOLAS FICA ALI PENSATIVO. A CAMPAINHA TOCA. HELENA LEVANTA E VAI ATÉ A PORTA. NICOLAS PRESTA ATENÇÃO. HELENA ABRE A PORTA, E A CÂM REVELA SER JULIANO. NICOLAS LEVANTA NERVOSO.
NICOLAS — Ah, não, aí é demais. É muita cara de pau de vocês dois!
JULIANO — Nicolas, eu não vim aqui pra brigar.
HELENA — Nick, quando você vai entender que você querendo ou não, aceitando ou não, eu vou continuar namorando o Juliano?
NICOLAS OS ENCARANDO.
JULIANO — Cara, eu não entendo. Se eu fosse um vagabundo, um homem sem moral, sem princípios, eu até concordaria com você. Também ficaria preocupado se fosse com a minha irmã, mas ei, sou eu! Cê me conhece a anos, nós crescemos praticamente juntos/
NICOLAS — (Por cima) É por isso mesmo! Nós crescemos juntos, eu te conheço desde criança. Nós brincávamos juntos, azarava umas gatas juntos, e agora, eu te vejo com a minha irmã. Namorando... Isso é estranho!
HELENA — Estranho, porque, Nick? Você acabou de dizer, você conhece o Juliano desde criança, sabe do caráter dele, é amigo dele, você acha que realmente ele não serve pra mim?
NICOLAS PENSA POR ALGUNS INSTANTES, SE DÁ POR VENCIDO. CONCORDA COM A CABEÇA.
NICOLAS — Ele serve.
JULIANO — Então, cara... Poxa, eu gosto da Helena. Me apaixonei pela tua irmã, quero levar esse relacionamento a sério. Dá uma chance de fazer a tua irmã feliz.
NICOLAS — Eu não sei. Ainda é estranho.
HELENA SE APROXIMA DO IRMÃO, SORRI CARINHOSA.
HELENA — Ei, seu bobo, eu sempre vou ser a sua irmãzinha do coração. Sempre vou implicar com você, e você sempre vai ser o irmão mais velho que eu admiro, que eu amo. Porque não deixa de ser tão cabeça dura, tão ciumento, e aceita que eu também posso ser feliz namorando... Com o seu amigo?
JULIANO E NICOLAS SE ENCARAM. NICOLAS SE APROXIMA DE JULIANO, ESTICA O BRAÇO. JULIANO SORRI E APERTA A MÃO DE NICOLAS.
NICOLAS — Foi mal.
JULIANO — Obrigado pelo voto de confiança.
NICOLAS APERTA A MÃO DE JULIANO. CÂM DETALHA.
NICOLAS — É bom mesmo fazer a minha irmãzinha feliz. Se eu ver ela chorando por você, uma única vez que seja, pode ir se preparando!
JULIANO — Eu prometo que não vou fazer ela chorar!
JULIANO OLHA HELENA, OS DOIS SORRIEM UM PARA O OUTRO.
JULIANO — Sou apaixonado por ela.
HELENA PISCA O OLHO PARA ELE, QUE RETRIBUI. NICOLAS SAINDO DALI, TENTANDO ACEITAR. EM HELENA, QUE SORRI FELIZ PELA TRÉGUA.
CORTA PARA
CENA 08. MANSÃO ASSUNÇÃO. FRENTE. EXTERIOR. DIA
O CARRO IMPORTADO DE ROBERTO ENTRANDO NA MANSÃO. TAKE PARA PONTUAR.
M. EDUARDA — (OFF) Chegou cedo, Roberto.
CORTA PARA
CENA 09. MANSÃO ASSUNÇÃO. SUÍTE DE ROBERTO E EDUARDA. INTERIOR. DIA
ROBERTO AFROUXANDO O NÓ DA GRAVATA. EDUARDA DE PÉ, PRÓXIMA DA JANELA.
ROBERTO — Agora com o Arthur dando as cartas na construtora, não tem muito trabalho por lá.
M. EDUARDA — E você já pensou em um jeito de se livrar dessa chantagem dele?
ROBERTO — Que jeito? Tô me vendo sem saída. Ainda tenho uma esperança do Davi voltar com a filha do Arthur e/
M. EDUARDA — (Por cima) Então já pode perder essa esperança. Você sabe que o Davi faz o que quer.
ROBERTO — Culpa sua, que mimou esse garoto o quanto pode. Se ele tivesse sido como o Leandro e ido pra empresa, meter a mão na massa, desde cedo, talvez não tivéssemos nessa situação.
M. EDUARDA — (Suspira) Se tanta coisa tivesse sido diferente né...
ROBERTO A ENCARA. NÃO ENTENDE.
ROBERTO — Tá falando isso agora porque?
M. EDUARDA — Eu estava pensando na nossa vida, Roberto. No passado...
ROBERTO — Não consigo entender ainda.
M. EDUARDA — (O encara) Estava pensando na empregada que você engravidou no passado.
BAQUE. ROBERTO SEM REAÇÃO. MARIA EDUARDA O ENCARANDO FORTEMENTE.
CORTA PARA
CENA 10. FLAT DE JÚLIA. SALA. INTERIOR. DIA
Continuação imediata da cena 06.
JÚLIA VEM DE DENTRO DO APARTAMENTO. VÊ LEANDRO NA PORTA.
JÚLIA — Oi, Leandro.
FELIPE — Você sabia que esse rapaz ia vir aqui, Júlia?
JÚLIA — Sabia, pai, claro. Ele é quem vai me ajudar a ver uns imóveis pela cidade.
LEANDRO — Espero que o senhor não se importe.
FELIPE DÁ DE OMBROS.
FELIPE — Se a Júlia é que quis assim, não tem o que eu falar.
FELIPE VAI PARA DENTRO DO IMÓVEL. JÚLIA O ACOMPANHA COM OS OLHOS. LEANDRO CONSTRANGIDO.
LEANDRO — Acho que ele não gostou.
JÚLIA — Como ele disse, eu quis assim. Vamos?
LEANDRO SORRI E ACENA QUE SIM. JÚLIA VAI COM ELE.
CORTA PARA
CENA 11. RIO DE JANEIRO. VÁRIOS PONTOS. EXTERIOR. DIA
MÚSICA: “Heaven” – Kyle Juliano
CLIPE COM UMA SEQUÊNCIA DE IMAGENS DO RIO. LEANDRO E JÚLIA NO CARRO, DELE. ELE DIRIGE, ELA NO BANCO DO CARONA. ELES ENTRAM EM ALGUNS PRÉDIOS, CASAS E SOBRADOS. OLHAM ALGUNS, JÚLIA ANOTA ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE OS IMÓVEIS.
LEANDRO MOSTRANDO VÁRIOS DETALHES DOS IMÓVEIS, JÚLIA ATENTA A TUDO. ALGUNS BELOS, OUTROS NEM TANTO. MAS TODOS DIFERENTES ENTRE SI.
CORTA PARA, LEANDRO E JÚLIA NO CALÇADÃO DE COPACABANA, TOMAM UMA ÁGUA DE COCO, ENQUANTO ANDAM E CONVERSAM POR ALI. ELE DE CAMISA SOCIAL, MAIS FORMAL, ELA LEVE, DE VESTIDO, SOLTA. OS DOIS PARECEM SE DIVERTIR ENQUANTO CONVERSAM, RIEM.
CORTA PARA, JÚLIA EM UM IMÓVEL PRÓXIMO DA PRAIA, VÊ A VISTA PARA O MAR. SORRI. LEANDRO APARECE AO SEU LADO. ELE APONTA PARA ALGO NO HORIZONTE. OS DOIS SE OLHAM E SORRIEM. ELE, ENCANTADO, OLHANDO PARA ELA. MÚSICA OFF.
LEANDRO — Ainda tem um lugar que eu quero te levar.
JÚLIA O ENCARA. NELA.
CORTA PARA
CENA 12. MANSÃO ASSUNÇÃO. SUÍTE DE ROBERTO E EDUARDA. INTERIOR. DIA
Continuação imediata da cena 09.
ROBERTO DESCONCERTADO.
ROBERTO — Não repete mais essa história, Maria Eduarda! Você não tem esse direito!
M. EDUARDA — (Por cima/ Tom) Eu não tenho o direito? Como eu não tenho o direito, se eu fui a maior vítima dessa história toda? Você me traiu com uma empregadinha, debaixo do nosso teto. Dentro da nossa casa, com os nossos filhos brincando no jardim, enquanto você... (Cara de nojo) Com aquela safada.
ROBERTO A IMPEDE DE FALAR MAIS ALGUMA COISA. ELE VAI ATÉ ELA E A SEGURA.
ROBERTO — Eu não quero que você repita nunca mais essa história! Com essa pobre desgraçada, eu já me resolvi. Eu paguei muito bem pago por esse bastardo. Ela não é meu problema, nem seu! E até hoje, ela nunca apareceu pra reclamar nenhum direito! Isso vai ficar assim!
M. EDUARDA — E se ela resolver aparecer? Como vai ficar essa história que você insiste em enterrar debaixo dessa pedra?
ROBERTO — Isso não vai acontecer! E caso, aconteça, eu dou o meu jeito!
ROBERTO A SOLTA E VAI EM DIREÇÃO AO BANHEIRO. EM MARIA EDUARDA, PENSATIVA.
CORTA PARA
CENA 13. MANSÃO ASSUNÇÃO. CORREDOR. INTERIOR. DIA
PAULINA, QUE ESTAVA ATRÁS DA PORTA, SE AFASTA, COM A MÃO NA BOCA. CHOCADA COM O QUE OUVIU. FAZ UMA EXPRESSÃO GANANCIOSA. NELA, SAINDO DALI.
CORTA PARA
CENA 14. APARTAMENTO. INTERIOR. DIA
UMA PORTA É DESTRANCADA NA CHAVE. LEANDRO ENTRA NA FRENTE, JÚLIA MAIS ATRÁS. O IMÓVEL ESTÁ VAZIO, PAREDES BRANCAS. VISTA BONITA PARA A PRAIA AO FUNDO. JÚLIA OLHA EM TORNO.
JÚLIA — É bonito. Esse apartamento não tava no nosso roteiro. Estava?
LEANDRO CALADO. VAI ATÉ A JANELA, OLHA SAUDOSO PARA O EXTERIOR. JÚLIA VAI AO SEU LADO, OLHA TAMBÉM A PAISAGEM.
JÚLIA — Bela vista. O dono do apartamento é que tinha sorte.
LEANDRO — Nem tanta. Ele não chegou a morar aqui.
JÚLIA — Você conhecia o dono?
LEANDRO A ENCARA, ACENA POSITIVAMENTE.
JÚLIA — Quem é o dono?
LEANDRO — Esse apartamento é meu, Júlia.
JÚLIA O OLHA, SURPRESA.
JÚLIA — Eu não sabia que você tinha um apartamento, Leandro. Lembro de você sempre morando com os seus pais na mansão. Eu tô surpresa.
LEANDRO — Comprei esse apartamento a muito tempo. Mas... Eu nunca cheguei a morar aqui.
LEANDRO CALADO, ENCARANDO A PRAIA A SUA FRENTE. JÚLIA O OLHANDO, SENTINDO ALGO ESTRANHO.
JÚLIA — Quer me contar o que houve?
LEANDRO — É especial pra mim, trazer alguém aqui, depois de tudo o que aconteceu na minha vida.
JÚLIA — Me conta o que houve. Você sempre foi tão fechado, tão duro, sisudo. Porque você não abre o seu coração e me conta tudo o que você tem aí dentro? Quem sabe eu não seja uma boa ouvinte?
LEANDRO SORRI PARA ELA. OS DOIS EM UM MOMENTO DE CUMPLICIDADE.
LEANDRO — Você era muito novinha, você e o Davi, talvez ele também não lembre do que aconteceu. Mas eu já fui noivo.
JÚLIA — Realmente. Eu não lembro de você com ninguém, eu até cheguei a pensar que você... Enfim.
LEANDRO — (Ri) Que eu fosse gay? Não. (Pausa) Eu tive uma noiva a alguns anos, Paloma, o nome dela.
JÚLIA — E o que houve com a Paloma?
LEANDRO FICA OLHANDO PARA O MAR ADIANTE. OLHOS DISTANTES.
LEANDRO — Ela morreu.
JÚLIA — (Triste) Sinto muito.
LEANDRO — Nós estávamos de casamento marcado. A Paloma era arquiteta de interiores. Tava fazendo um trabalho na Serra, e quando voltou de um fim de semana de trabalho, tinha muita chuva... O carro derrapou e...
LEANDRO NÃO AGUENTA E CHORA. JÚLIA FICA PENALIZADA. ELA PASSA A MÃO PELOS CABELOS DELE.
JÚLIA — Eu não conhecia essa história, Leandro. Eu... Eu não sei nem o que dizer.
LEANDRO — Nós havíamos escolhido esse apartamento justamente por essa vista pro mar. A Paloma adorava essa vista, nós passávamos horas aqui, olhando as pessoas lá em baixo, imaginando como era a vida de cada um, pra onde estavam indo, de onde estavam vindo... (Olhos marejados/ Voz embargada) Isso nunca mais vai acontecer.
JÚLIA O PUXA PARA SI. OS DOIS SE ABRAÇAM. LEANDRO CHORANDO NO OMBRO DE JÚLIA, ELA PASSA A MÃO PELOS CABELOS DELE, PELO ROSTO. OS DOIS SE OLHAM PROFUNDAMENTE.
MÚSICA: “Heaven” – Kyle Juliano
LEANDRO — Obrigado, Júlia. Você não sabe o quanto é importante você aqui nesse momento.
JÚLIA — Pode contar comigo, Leandro. A partir de hoje, você tem uma amiga.
LEANDRO PASSA A MÃO PELO ROSTO DELA. JÚLIA SE DEIXA LEVAR, FECHA OS OLHOS. LEANDRO SE APROXIMA AOS POUCOS DELA. A OLHA INTENSAMENTE, E FINALMENTE A BEIJA. OS DOIS SE BEIJAM. CÂM VAI SAINDO POR CIMA, MOSTRA AO LONGE, A PRAIA, O MAR...
ÚLTIMO CLOSE NO PRIMEIRO BEIJO DE JÚLIA E LEANDRO.
CORTA PARA
FIM DO CAPÍTULO 14
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