OS
PROTETORES
série de
FELIPE LIMA BORGES
Temporada 1, Episódio 01
“Habitat – Parte 1”
escrito por
FELIPE LIMA BORGES
A história
que tem em mãos é aquela que considero minha primeira obra (feita antes de “A
Promessa” e “Débora”), e escrita em forma de roteiro audiovisual para TV.
Essa 1°
temporada de “Os Protetores” é dividida em 7 episódios e foi escrita ao longo
de 1 ano e meio. Em um roteiro, cada página equivale a 1 minuto de produto
final acabado, o que faria de cada um desses episódios uma produção de
aproximadamente 50 minutos.
Boa leitura!
Chegará o dia em que todo homem
conhecerá o íntimo dos animais. Nesse dia, um crime contra um animal será
considerado um crime contra a própria humanidade.
Leonardo da Vinci
FADE IN:
CENA 1:
EXT. FLORESTA AMAZÔNICA – DIA
Imagens aéreas de diversos pontos
da floresta amazônica. A mata densa, os rios que a serpenteiam...
Um jovem
MACACO-PREGO-DE-CARA-BRANCA percorre vagarosamente os galhos de uma árvore. Ele
olha para todos os lados, parece examinar o local. Há um misto de curiosidade e
temor em sua face, não está confortável.
Câmera subjetiva de um binóculo
observando o primata. Em seguida vemos GERALDO (50 anos), sentado no alto de
outra árvore, que é quem segura o aparelho. Pendurada em seu ombro, uma arma de
dardos tranquilizantes.
O pequeno macaco, muito incomodado,
solta um lamento agudo.
GERALDO
Hum...
Geraldo pega um gravador do bolso,
o aproxima da boca e aperta o play.
GERALDO
(frustrado) Pesquisa
Habitat, sexagésimo sétimo dia, elemento quatro, 5 e 13 da tarde. Resultados: (pequena
pausa) fracasso.
Ele encerra a gravação.
GERALDO
Merda!
Geraldo retira a arma de
tranquilizante do ombro, mira o macaco e... BANG!
CORTA PARA:
CENA 2:
INT. ESTRADA – CARRO DE GERALDO – NOITE
Geraldo dirige uma velha
caminhonete pela estrada. O macaco, adormecido, está em uma gaiola coberta por
um pano na carroceria.
Então, logo à frente na estrada,
cones e viaturas bloqueiam a passagem.
GERALDO
Diacho...
Só faltava essa...
Um
dos policiais indica para ele desligar o farol e parar. Geraldo obedece.
CENA 3:
EXT. ESTRADA – BLOQUEIO POLICIAL – NOITE
POLICIAL
GUTO
(aproximando-se) Boa noite,
senhor.
GERALDO
Boa noite,
doutô. No que posso lhe ser útil?
POLICIAL
GUTO
Me
apresente sua carteira de motorista e o documento do veículo, por favor.
GERALDO
Claro...
Geraldo pega os documentos no
porta-luvas e os entrega.
POLICIAL
GUTO
(lendo) Tudo bem
com o senhor, senhor Geraldo Lemes?
GERALDO
Graças à
nossa boa senhora, tudo bom que só.
POLICIAL
GUTO
E de onde o
senhor está vindo?
GERALDO
Eu tô vindo
da fazenda Boca da Serra, da casa dum velho amigo meu, o Manuel... A mulher
dele cultiva umas plantas boas pra saúde, sabe? E eu fui buscar umas ervas pra
fazer um chá pra minha esposa. A bichinha tá ruim que só... Acamada, febril...
Já tem dias assim...
POLICIAL
GUTO
E é isso
que o senhor tá trazendo aqui atrás? Plantas medicinais?
GERALDO
Exatamente,
maninho. Se o doutô quiser dar uma espiada... Só não embrome muito, por favor,
porque minha rainha tá esperando... Tá sofrendo, a coitada.
O policial analisa o carro com o
olhar.
POLICIAL
GUTO
Não será
necessário, senhor Geraldo. Está liberado, pode seguir.
O policial devolve os documentos de
Geraldo.
GERALDO
Agradecido.
POLICIAL
GUTO
Cuidado,
senhor. Essa região já não é a mesma de antes. Dirija com atenção, certinho...
GERALDO
(ligando o
carro) Isso... Com certeza. Tendo cuidado e com a boa mãe olhando por
nós, não tem mal que nos suceda, não é mesmo doutô?
POLICIAL
GUTO
Isso aí.
Boa viagem. E leva a esposa ao hospital, vai ser melhor pra ela.
A caminhonete começa a andar.
GERALDO
(acenando) Amanhã
mesmo, bem cedinho.
O policial faz um aceno discreto e
observa a caminhonete se afastar.
POLICIAL
GUTO
(exausto,
ao colega) Pronto, Binho, já pode assumir. Vou pegar o beco.
POLICIAL
BINHO
Vai lá,
Guto. Você tá precisando de um descanso mesmo, maninho.
Ao fundo, paralelo às falas
anterior e próxima, outro POLICIAL recebe uma mensagem no rádio de uma das
viaturas.
POLICIAL
GUTO
(despindo o
colete) Vou cair na cama do jeito que eu chegar, de farda e tudo...
O terceiro policial sai da viatura
e vem apressado ao encontro dos colegas.
POLICIAL
Guto, qual
era a placa desse cidadão?
POLICIAL
GUTO
(tentando
lembrar) PFS... 65--
POLICIAL
(interrompendo) A central
repassou uma denúncia anônima de possível tráfico de animais silvestres! A
placa confere! Bora, bora, bora!
Os três saem correndo chamando
outros colegas no entorno. Muito movimento. Policiais entram nos carros,
sirenes são acionadas e as viaturas disparam cantando pneu.
CORTA PARA:
CENA 4:
INT. ESTRADA – CARRO DE GERALDO/EXT. ESTRADA – NOITE
Geraldo dirige despreocupado. Olha
rotineiramente para o retrovisor. As viaturas, velozes, se aproximam cada vez
mais.
GERALDO
Venham me
pegar, seus putos...
Geraldo acelera mais. Mas
preocupado com o retrovisor, ele não percebe a tempo uma curva à esquerda e
afunda o pé no freio. O carro derrapa, sai na tangencial da curva e tomba de
lado.
Geraldo, ferido e aflito, se
esforça para se soltar do cinto de segurança, enquanto o som das sirenes
aumenta.
Seus braços alcançam a porta
direita, em cima, e a empurram. Com um gemido forte ele a abre e sai da
caminhonete. Cai, mas se levanta rapidamente.
Manquejando, ele se aproxima da
estrada e vê as luzes vermelho e azul se intensificando na escuridão. O som das
sirenes acompanha a crescente.
Ele vira para trás e, dentro do
possível, corre para a escuridão do matagal. Para subitamente.
GERALDO
Habitat.
Geraldo dá meia-volta e executa uns
passos na direção da gaiola tombada no chão, próxima ao veículo, com o macaco
ainda inconsciente dentro. Para de novo, olha da estrada de onde veio para a
gaiola; percebe que não conseguirá capturar o animal a tempo. Vira-se novamente
e adentra a escuridão.
CORTA PARA:
ABERTURA
CORTA PARA:
CENA 5:
MONTAGEM: EXT. MANAUS–AM – DIA
Imagens aéreas da cidade de
Manaus-AM.
Então, imagem da Ponte Rio Negro
com a cidade ao fundo; sobre ela, a legenda: MANAUS-AM.
Gradativamente as imagens passam a
ser mais terrestres. Detalhes de pássaros voando, barcos navegando, carros e
ônibus passando, pessoas caminhando, vendedores anunciando suas pescas e
artesanatos, turistas tirando fotos...
CORTA PARA:
CENA 6:
INT. PET SHOP – SALA DE BANHO/BALCÃO DE ATENDIMENTO – DIA
Um par de mãos femininas enxágua,
com o auxílio de uma mangueirinha, DUDU (vira-lata, amarelado), todo ensaboado.
A câmera sobe e vemos a mulher: é SOFIA (28 anos, cabelos castanho claro,
vestes civis e uma discreta tiara de pano na cabeça).
Em seguida vemos que ela está na
sala de banho de um pet shop.
SOFIA
(enxaguando
Dudu) Que banho gostoso... Eu nunca tinha experimentado uma água
morninha assim, um shampoo tão cheiroso... Olha só meu pelo, que macio... As
cachorrinhas vão tudo querer namorar comigo, é, porque agora eu tô cheirosão!
Vou tá todo apresentado. Não é, mamãe, hum?
O DONO (70 anos, cabelos alvos) do
pet shop caminha por trás do balcão. Ao passar por uma porta com janela de
vidro ele nota Sofia, do outro lado, dando banho em Dudu. Franze o cenho.
Dirige à CÁTIA (25 anos, cabelos curtos e rosados), sua funcionária atendente.
DONO
Escuta,
Cátia, por acaso eu contratei outra funcionária?
CÁTIA
Não, não,
patrão. Aquela lá é a Sofia, é cliente.
DONO
Cliente?
CÁTIA
É o segundo
cachorro de rua que ela trás pra tratar aqui esse mês. Só que hoje ela pediu
pra ela mesma dar banho nele. Eu não vi nada demais, então... Mas fique
tranquilo, o senhor não esqueceu de nada não.
DONO
Ora, não
seria surpresa nenhuma. Minha mulher vive dizendo que eu ando abestado.
O dono olha mais uma vez para Sofia
lá dentro.
DONO
Bom, se tá
pagando, tudo bem, deixa ela.
O dono sai.
DONO
(murmurando) É cada
uma...
CORTA PARA:
CENA 7:
CONT. – INT. SALA DE SECAGEM – DIA
Sofia sentada no chão e escorada em
um armário baixo. Um anel de noivado em seu dedo. Dudu, em seu colo, abraça-a
enquanto é abraçado e acariciado.
SOFIA
Hum,
cheiroso! Que que um banho não faz, né? Hum?
Sofia nota algo na pele do cão
enquanto o acaricia.
SOFIA
Que isso?
Nossa, que cicatriz é essa, Dudu? Se machucou, foi? Se meteu em encrenca?
O cão solta um chorinho.
SOFIA
Oh, meu
anjo, não se preocupe. Logo você vai estar protegido, tá bom? Vai ter uma casa,
uma família... É, vai ser muito amado.
Ele tenta alcançar o pescoço e o
rosto de Sofia para lamber. Nisso, um som duplo de vibração e Sofia pega seu
celular. Mensagem do tenente Osvaldo: “Sofia, me ligue assim que puder”. Sofia
franze o cenho e liga.
OSVALDO
(V.O.)
Sofia?
SOFIA
Oi,
tenente, vi sua mensagem--
OSVALDO
(V.O.)
(interrompendo) Sofia, te
contatei porque o comandante marcou uma reunião de última hora pra depois do
almoço e eu vou precisar finalizar o caso do Marcos o quanto antes. Já que você
quer estar presente, tô te avisando. Pode descer pra cá?
SOFIA
Sim,
senhor. Tudo bem. Tô saindo do pet shop e já sigo pra aí.
OSVALDO
(V.O.)
OK então.
Obrigado , Sô.
Sofia desliga e Cátia entra.
CÁTIA
E então,
como tá indo o garotão?
SOFIA
(para Dudu) Deixa eu
levantar, tá bom?
Sofia se levanta.
SOFIA
(para
Cátia) Não poderia estar melhor com essa semana de príncipe.
Cátia sorri e acaricia a cabeça de
Dudu.
SOFIA
Muito
obrigada, viu Cátia, por me deixar cuidar dele hoje.
CÁTIA
Nada mais
justo, foi você quem o encontrou... Hoje vamos fazer mais alguns tratamentos
com ele e amanhã mesmo já vai estar pronto para a adoção.
SOFIA
(para Dudu) Tá vendo,
Dudu?! Só notícias boas.
CÁTIA
Tô quase
vendo o momento em que você mesma vai ficar com ele.
SOFIA
Ah, eu...
Não... Infelizmente eu não posso... Mas tenho certeza que ele estará em ótimas
mãos. Agora você vai ficar com a moça, ta bom Dudu?
CORTA PARA:
CENA 8:
EXT. PRÉDIO BATALHÃO AMBIENTAL DA PM – ENTRADA – DIA
O
carro de Sofia encosta próximo à entrada do prédio. Ela sai e adentra o mesmo.
Close no letreiro na fachada: “POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS – BATALHÃO DE
POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL”.
CENA 9:
CONT. – INT. TÉRREO – DIA
Sofia caminha por entre as mesas de
trabalho, cumprimentando alguns colegas policiais. De sua mesa, a policial
BÁRBARA (26 anos, loira) a acompanha com o olhar. Abre a boca para cumprimentar
Sofia mas nada diz.
Sofia chega à porta do elevador e
aperta o botão de chamada. Espera alguns segundos. Sargento DIOGO (26 anos,
alto, magro, branco e fardado), de pé ao fundo, a nota.
DIOGO
(irônico) É verdade
o que estão dizendo, sargento Sofia? O sargento Marcos não aguentou a barra?
Ele ficou... meio leso com as esquisitices que empurraram pra ele nesse último
ano?
Sem virar para trás, Sofia revira
os olhos. Alguns, entre eles Bárbara, observam o comentário de Diogo com olhar
de reprovação, mas ficam quietos. A porta do elevador abre e ela entra.
Vira-se.
SOFIA
(contida) O sargento
Marcos é um excelente guerreiro. (apertando o botão interno) Seus
problemas são mais complexos do que a maioria pode entender e não dizem
respeito a muita gente.
A porta se fecha e Diogo, mantendo
o sorrisinho de desdém mas visivelmente constrangido, nada diz. Um COLEGA passa
por ele despejando grosseiramente um amontoado de papéis no seu peito.
COLEGA
Arreda do
pé dela, Diogo...
CORTA PARA:
CENA 10:
CONT. – INT. 3° ANDAR – CORREDOR – DIA
Close no número 3, correspondente
ao 3° andar, acendendo no visor do elevador ao som do bipe característico. A
porta se abre e Sofia sai. Caminha pelo corredor até uma porta onde, de acordo
com uma plaquinha, dá para o escritório do tenente Osvaldo. Ela vê, no fim do
corredor, a porta do seu próprio escritório, com os dizeres “DICAM” e, embaixo,
espaço para duas plaquinhas menores, embora só haja uma: “Sgto. Sofia Medeiros”
Sofia bate duas vezes na porta da
sala do tenente.
OSVALDO
(O.S.)
Entre.
Sofia
abre.
CENA 11:
CONT. – INT. ESCRITÓRIO DE OSVALDO – DIA
Sofia entra e fecha a porta.
Caminha dois passos e bate continência para o tenente OSVALDO (60 anos, negro,
fardado), sentado do outro lado de sua mesa; ele responde o cumprimento
gestual. MARCOS (30 anos) está em uma das duas cadeiras de frente para Osvaldo.
SOFIA
Bom dia,
senhor.
OSVALDO
Bom dia,
Sofia. Sente-se, sente-se aí...
SOFIA
(sentando e
estendendo a mão) Bom dia, Marcos.
MARCOS
(sorrindo e
apertando a mão dela) Dia, Sô.
Sofia se ajeita na cadeira.
OSVALDO
Bom, vamos
ao que interessa porque hoje meu dia é curto. Sargento Marcos, como o senhor
bem deve saber, chamei sua agora ex-parceira aqui em consideração a todo esse
tempo em que vocês trabalharam juntos. Sofia tem o senhor em alta estima.
MARCOS
(olhando
amigável para Sofia) E o sentimento é mútuo, senhor.
OSVALDO
Eu
acredito. Enfim, eu quero agradecer ao senhor pelos seus serviços prestados à
Corporação, ao batalhão e a esse trabalho encabeçado pela Sofia. Um trabalho
que significa muito pra ela, e o senhor não deixou de corresponder às expectativas.
MARCOS
Imagina,
tenente Osvaldo. O senhor não precisa me agradecer por nada, eu é que tenho que
ser grato ao senhor e à Sofia, que me acolheram aqui no batalhão e me confiaram esse cargo. Aprendi muita
coisa nesse último ano, evoluí como guerreiro. Tudo graças aos senhores. (pequena
pausa) Inclusive eu quero pedir desculpas, principalmente pra você Sofia,
por não ser capaz de seguir... eu... era--
SOFIA
(interrompendo) Marcos,
Marcos, você não tem culpa de nada, meu amigo. Como poderia? É tão comum
policiais sofrerem consequências psicológicas, não é, tenente? Infelizmente é
parte da profissão e não motivos pra se envergonhar ou pedir desculpas. (pequena
pausa) E ninguém mais do que eu entende o que você sentia encarando aquelas
coisas. Isso mexe com a gente, mesmo... Mas quantas vezes você lutou contra o
próprio repugno quando mais precisávamos, hein? Ahn?
OSVLADO
Aquele
curumim... (tenta lembrar) lá do Mauá... poderia estar sem o gatinho de
estimação hoje não fosse a sua determinação, sargento Marcos.
Sofia concorda veementemente com a
cabeça.
SOFIA
Arriscou a
vida pelo gato e pelo curumim. Quantos tem essa coragem? Mesmo aqui na
Polícia...
MARCOS
Acho que é
melhor eu aceitar antes que me encabulem ainda mais...
Sofia e Osvaldo sorriem.
OSVALDO
Então vamos
ao desfecho, não é? Triste perda, sargento Marcos, triste. Mas o setor
administrativo da PM de Manaus vai ganhar um grande guerreiro, um excelente
colaborador.
Osvaldo pega uma caneta e assina e
carimba alguns papéis.
OSVALDO
Feito. Seus
papéis, sargento Marcos. O senhor sabe o que fazer com eles.
Marcos pega os papéis e Osvaldo se
levanta solenemente estendendo a mão para Marcos, que se levanta de imediato.
Sofia fica de pé também.
OSVALDO
Foi uma
honra servir com o senhor.
Marcos aperta a mão de Osvaldo.
MARCOS
Foi uma
honra ter o senhor como superior.
Soltam as mãos e Marcos bate
continência.
MARCOS
Permissão
para se retirar, senhor.
Osvaldo repete o gesto.
OSVALDO
Permissão
concedida, sargento.
Marcos vira-se.
SOFIA
Eu te
acompanho.
Marcos e Sofia caminham até a porta
e Sofia a abre para ele.
SOFIA
Marcos,
obrigada por tudo. Quero que você saiba que pode contar comigo sempre.
MARCOS
Você
também, tá Sô? Precisando de alguma coisa... (sorrindo) não será difícil
me achar.
Os amigos e ex-parceiros se
abraçam. Se soltam.
MARCOS
(irônico) Quer
aproveitar que eu tô descendo e mandar um recado pro Diogo lá embaixo?
SOFIA
(revirando
os olhos) Ahh! Manda um tapão naquela cabeça dele...
Marcos ri.
MARCOS
(saindo) Vou indo
então. Tchau, Sô.
Marcos sai. Sofia acena para ele e
fecha a porta. Volta devagar para a mesa. Osvaldo se levanta e mexe em objetos
aleatórios em sua estante.
OSVALDO
Ahh, Sofia...
E o cãozinho, como está?
Sofia para, as mãos na cadeira.
SOFIA
O Dudu?
Muito bem, agora. Se tudo der certo, no final da semana ele já terá um lar.
Osvaldo faz que sim levemente.
Pensa um pouco. Então vira.
OSVALDO
Escuta,
Sofia, se você precisar de um tempo antes de efetivarmos o paulistano, sabe que
eu posso conseguir isso.
SOFIA
Não, não,
senhor. Não se preocupe. Eu estava apenas pensando... 1 ano foi o suficiente
pro Marcos e eu construirmos uma amizade muito sólida. E... eu fico com um
grande pesar pela sua situação de saúde... Espero que ele se recupere, que não
fique com nenhuma sequela.
OSVALDO
Vamos todos
torcer pela boa recuperação do sargento. Mas... assim como aconteceu com o
Marcos e você, quem sabe o paulistano não se mostra um excelente parceiro
também...
SOFIA
É, quem
sabe... Não sei. Essa história dele nem saber o que vai realmente fazer aqui me
preocupa... Sinceramente, não acho que é uma boa coisa. Soma-se a isso o fato
de alguns deles serem bastante preconceituosos com o que esteja de Brasília pra
cima...
OSVALDO
(humorado) Não
estaria você agora também sendo preconceituosa?
Sofia faz como quem diz: “O que eu
posso fazer?”
OSVALDO
Sofia, pra
bem ou pra mal, vai ser temporário. Assim que a administração se normalizar,
assim que tiver tudo certinho ele vai ser realocado pro batalhão de destino
original.
Sofia faz que sim com a cabeça.
OSVALDO
Daí eu
prometo que arranjaremos um parceiro ou parceira em definitivo pra você.
SOFIA
Tudo bem,
senhor. Obrigada.
OSVALDO
(voltando
para sua cadeira) Bom, dito isso, devo perguntar: a senhorita fez o
dever de casa?
SOFIA
Oh, sim! (senta-se)
Li tudo sobre ele, nada mal. Só fico pensando mesmo se um caçador de
traficante, como ele mesmo se intitulou em um tweet antigo, vai receber bem a
notícia de que vai trabalhar na Polícia Ambiental.
OSVALDO
Entendo.
Bom, bem bem é difícil. Mas enfim, o voo dele chega amanhã pela manhã.
Obviamente que ele já tem o endereço da vila militar, mas já que temos esse
probleminha em mãos, já que ele não sabe que vai cair aqui e isso te preocupa,
então eu gostaria que você fosse recebê-lo no aeroporto. É um pedido pessoal,
Sofia, e se você não aceitar, tudo bem, eu vou entender. Mas é a chance de...
sabe?... você ir preparando o terreno, para que o impacto seja mais... mais
macio.
SOFIA
(sorrindo) Entendi.
OSVALDO
Entendeu?
Que me diz?
SOFIA
Entendi,
tenente. Tudo bem, vou sim. Deixa comigo. Vamos ver como me saio como guia
turística. (ironicamente solene) Bem-vindo à Manaus, paulistano, terra
que experimenta seu suor mesmo sem você mover um único músculo.
Osvaldo ri. No sorriso de Sofia,
CORTA PARA:
CENA 12:
MONTAGEM: EXT. SÃO PAULO – SP – DIA
Rápidas
imagens aéreas da capital de São Paulo, com ênfase nos altos prédios. Legenda:
SÃO PAULO-SP.
CENA 13:
EXT. RUAS DE SÃO PAULO/INT. LANCHONETE – DIA
Imagens terrestres destacam o
trânsito.
Duas viaturas da Polícia Militar de
São Paulo trafegam por uma rua. Dobram uma esquina. No banco da carona da
viatura da frente está o sargento ADRIEL (29 anos, alto e cabelos escuros). Seu
olhar lá para fora é atento. FASSUR (50 anos) dirige.
Por uma panorâmica na calçada,
vemos as viaturas passarem pela rua. A câmera continua a girar, para o interior
de um estabelecimento. Nesse, homens e mulheres comem e bebem, mas estão
atentos ao telejornal exibido na televisão.
APRESENTADORA
(V.O.)
...com a
onda de violência que castiga São Paulo desde a ascensão do narcotraficante
Matias Paraná. A Polícia Federal continua com as buscas e investigações
intensas, mas Matias permanece foragido.
Detalhe de um cliente idoso
fechando os olhos com pesar.
APRESENTADORA
(V.O.)
Vale dizer
que qualquer informação sobre o paradeiro de Paraná é extremamente útil à
Polícia, e o informante será muito bem recompensado e também terá sua
identidade preservada. De acordo com o delegado/
CORTA PARA:
CENA 14:
INT. RUA – VIATURA – DIA
Na viatura, Adriel continua atento
à movimentação da rua.
ADRIEL
(apontando
um prédio à frente) Tão vendo lá? Aquele é do desgraçado.
FASSUR
O Vitória?
Do Paraná?!
ADRIEL
Trinta
andares de luxo às custas de muito sangue derramado... Que que essa
porcaria branca não faz, né? Ao menos a Justiça já esvaziou o prédio de cima a
baixo. (apontando para a entrada) Olha só aquilo lá, aqueles dois.
Homens dele, certeza. Que estranho... Pra mim é desperdício. Pra que proteger?
Perdeu o prédio, já era.
FASSUR
O cara é
arrogante. Tá encurralado pelo país todo e insiste em demonstrar poder.
ADRIEL
É um
idiota, isso sim.
As viaturas se aproximam mais do
edifício Vitória. De repente Adriel parece ouvir algo. Olha para os lados, para
fora... Está incomodado.
ADRIEL
Para, para.
Encosta aí, Fassur!
A viatura encosta na calçada,
embaixo de uma árvore, na quadra anterior ao Vitória. O segundo carro para
atrás. Os guardas do prédio não veem as viaturas.
ADRIEL
Vocês estão
ouvindo isso? Parece...
Adriel franze o cenho. Um dos
policiais de trás aponta para o alto.
POLICIAL 1
Lá em cima!
Adriel coloca a cabeça para fora e
olha. Um helicóptero azul-marinho surge de trás de um prédio e se aproxima da
cobertura do Vitória.
ADRIEL
Não é possível...
Não é possível...
O helicóptero se aproxima mais do
edifício.
ADRIEL
(para si) Será?!
Fassur, contate a central. Chame imediatamente uma Águia pro edifício Vitória.
Adriel
abre a porta e sai.
CENA 15:
EXT. RUA – DIA
Ele observa atentamente o
helicóptero no alto. Os outros policiais descem também.
ADRIEL
É o Paraná!
É, é o Paraná sim! Precisamos entrar, pessoal! Precisamos subir e pegar esse
cara!
Os policiais das duas viaturas se
misturam ali na calçada.
POLICIAL 1
Sargento?
Desculpa, mas como pode ter tanta certeza? À luz do dia o sujeito vai aparecer
de helicóptero em pleno centro de São Paulo?
Dentro da viatura Fassur fala ao
rádio.
POLICIAL 2
Tenho que
concordar com ele, sargento Adriel. Além disso, pode ser uma armadilha.
ADRIEL
Pode ser
sim, mas não podemos deixar uma chance como essa escapar. (vira-se para
eles) Senhores, se nós entrarmos lá agora, seremos maioria. Passamos pelos
dois na entrada e subimos pelas escadas, já que o elevador deve estar
desativado. No helicóptero não devem ter mais que quatro.
FASSUR
(chegando
ali)
Sargento Adriel, a Águia da PM já está a caminho. Mas sinceramente nem quis
relatar sua real suspeita.
ADRIEL
Ótimo! O
hangar não é longe daqui, talvez tenhamos apoio aéreo, então.
FASSUR
Mas
sargento, o que o Paraná, procurado até pelo diabo, vai querer num prédio
vazio?!
ADRIEL
Não sei,
mas nesse helicóptero aí não anda ninguém menos que o homem. É ele que tá ali.
Veja, por isso os guardas na entrada. Eles sabem da presença do chefe, estão em
posição, atentos...
FASSUR
Mesmo que
seja, isso é da alçada da Federal! A gente pode se complicar, Adriel!
ADRIEL
(quase
gritando) E podemos ser reconhecidos, também! Honrados, Fassur! Pelo
prefeito, pelo presidente! A tropa que parou Matias Paraná! É, é isso que
queriam ouvir? (pequena pausa) Senhores, por favor! Essa é a
chance de devolvermos a paz e a segurança a essa cidade, não podemos ignorá-la
assim! Uma oportunidade de ouro! E quem sabe também a minha oportunidade
de ficar por aqui... Pensem em suas esposas, filhos, mães... O que a
Sandra pensaria, hein Gilberto? E o Rodriguinho, Leo? Ahn?! Você seria o herói
do moleque! Então... Eu posso contar com os senhores?
Ninguém responde, mas parecem
ponderar.
ADRIEL
(mais
devagar e energético) Eu posso contar com os senhores?!
POLICIAIS
Sim,
senhor!
ADRIEL
Excelente! (firme)
Fassur, já que isso é coisa da Federal, chame os caras. Chame eles, chame o
BOPE, apoio terrestre, aéreo, a imprensa! Quero o rosto daquele desgraçado
estampado na primeira página do jornal amanhã cedo! Homens! Marcelo, leve ele,
ele e ele ali pela lateral, até aquele carro estacionado. Vão dar cobertura.
Você/
CORTA PARA:
CENA 16:
EXT. EDIFÍCIO VITÓRIA – ENTRADA – DIA
Empunhando armas de fogo, o CAPANGA
1 e o CAPANGA 2 guardam a entrada do Vitória atentos. No jardim – entre a
calçada e o edifício – uma árvore e alguns arbustos às 10 horas deles formam um
ponto cego para a calçada da quadra ao lado, de onde os policiais avançam. Esses se
dividem.
Fassur, perto das viaturas, observa
a tudo com um binóculo. Está tenso.
Parte do pelotão, liderado por
MARCELO, cruza a rua lateral e se abriga ao lado de um carro estacionado em
cima da calçada, perpendicular à rua, na quadra do Vitória, em frente a um
prédio vizinho. Eles tem os bandidos na mira.
O grupo liderado por Adriel avança
sorrateiramente pela calçada da frente. Estão abaixados, escondidos e
protegidos pela mureta do jardim em terreno elevado.
Algumas pessoas do outro lado da
rua são atraídas pela movimentação dos policiais e apontam curiosos. Adriel lhe
faz sinal de silêncio e os manda sair dali mimicamente. Os bandidos que guardam
o prédio notam a movimentação dos transeuntes do outro lado e desconfiam.
CAPANGA 1
(segurando
a arma firmemente) O que que tá pegando?...
Marcelo aperta o botão do rádio.
MARCELO
Sargento
Adriel, eles perceberam a presença do seu pelotão! Repito, perceberam o seu
pelotão!
O capanga 1 posiciona a arma na
direção da mureta, para onde alguns estavam olhando e apontando. Ele se
aproxima vagarosamente. Embaixo, Adriel pensa por uns segundos, preocupado.
CAPANGA 1
Quem tá
aí?!
MARCELO
(para o
rádio, quase sussurrando) Sargento Adriel, repito, os guardas notaram
sua presença! Um deles está apontando a arma na sua direção e está se
aproximando! Nós os temos na mira! Quais são as ordens?
Adriel pensa. O primeiro capanga
continua a se aproximar. O segundo, atrás, está atento com o revólver semi-levantado.
ADRIEL
(para sua
tropa, baixinho) Se nos levantarmos eles nos atingem. Permaneçam
abaixados. (para o rádio) Marcelo, levantem e deem ordem de parada a
eles. Assim que ouvirmos vocês, nós levantaremos também e os cercamos. Se eles
atirarem, podem abrir fogo.
MARCELO
(V.O.)
QSL.
O grupo secundário se levanta,
ainda do outro lado do carro, apontando as armas.
MARCELO
Polícia!
Parados! Larguem a arma!
No momento em que os capangas
escutam os policiais às 9 horas deles, ameaçam apontar as armas nessa direção.
Imediatamente Adriel e sua equipe levantam.
ADRIEL
Larga!
Larguem a arma!
O primeiro bandido volta a arma na
direção do grupo de Adriel e atira. No mesmo instante um disparo lateral o
atinge e ele cai. Com medo, o capanga 2 se rende deitando no chão rapidamente.
Adriel e sua equipe sobem as escadas da entrada enquanto o grupo secundário
avança pela lateral.
ADRIEL
Marcelo,
algeme esse aqui. Seu grupo permanece e cobre a entrada. Vou avançar com os
meus.
MARCELO
Entendido,
senhor.
Adriel atira na tranca da porta de
vidro. Com um chute ela se abre e eles entram.
CORTA PARA:
CENA 17:
CONT. – EXT. HELIPONTO/ENTRADA – DIA
MATIAS PARANÁ (40 anos,
engravatado) está na cobertura – um heliponto –, passando pela porta que dá acesso
ao interior do prédio. Para imediatamente.
PARANÁ
Que isso?!
Que barulho foi esse?!
Paraná volta e vai até a platibanda
da cobertura. Olha lá embaixo.
PARANÁ
Tem alguma
coisa errada.
O GUARDA-COSTAS (musculoso) pela
seu walkie talkie.
GUARDA-COSTAS
Dino, Bily,
estão na escuta?! Câmbio.
O guarda-costas e Matias esperam
por uma resposta. Nada, apenas o chiado característico.
GUARDA-COSTAS
Dino, Bily,
repito: estão/
Marcelo, Fassur e outro policial
estão na entrada, ao redor de dois walkie talkies. Próximo dali, o capanga 2
algemado e cercado por dois policiais.
GUARDA-COSTAS
(V.O.)
/na escuta?
Câmbio.
Os policiais se entreolham.
O guarda-costas e Matias Paraná
esperam alguns segundos. Nada.
GUARDA-COSTAS
Patrão,
melhor voltarmos. Tem atividade nisso aí.
PARANÁ
Não! Eu
preciso daquele pen drive. Vamos.
GUARDA-COSTAS
Então deixe
que eu desço pra pegar--
PARANÁ
(interrompendo) Não! Só eu
sei onde está escondido, e quero que continue assim. Venham dois comigo! E um
espera aqui em cima com o piloto. Vamobora!
O guarda-costas faz sinal chamando
um dos capangas e os três entram no prédio.
CORTA PARA:
CENA 17: CONT.
– INT. ESCADAS/CORREDOR – DIA
Adriel e sua equipe avançam
rapidamente pelas escadas, atentos a cada novo lance. Adriel para um instante e
olha lá para cima, pelo vão entre os lances. Vê sombras.
ADRIEL
Movimentação
lá em cima! Vamos!
Em cima, Matias Paraná chega ao
andar desejado e, decidido, toma o corredor. Alcançada a porta, pega uma chave
no interior do terno, destranca-a e entra.
PARANÁ
(para os
dois homens) Esperem aqui.
CENA 18:
CONT. – INT. APARTAMENTO – DIA
Paraná vai direto ao banheiro do apartamento.
Sobe no vaso e alcança o teto. Remove uma placa solta, enfia a mão e retira de
lá um pen drive.
Desce e corre para a saída, onde os
seguranças o esperam.
PARANÁ
Depressa.
Os
três homens correm, chegam à escada e começam a subi-la.
CENA 19: CONT.
– INT. ESCADAS/EXT. HELIPONTO – DIA
Ainda no primeiro lance de escadas
Paraná e os capangas ouvem a tropa de Adriel uns dois ou três andares abaixo e
param.
PARANÁ
Merda, tem
gente aqui!
Paraná saca sua arma. Os dois
capangas se aproximam do vão entre os lances e olham.
GUARDA-COSTAS
(assustado) É a
Polícia!
Os dois escudeiros atiram. As balas
atingem o entorno da tropa de Adriel.
ADRIEL
Atirem!
Conforme Paraná e seus
guarda-costas tentam retornar à cobertura e são perseguidos pelos policiais, o
tiroteio se intensifica. Balas são trocadas de cima a baixo, de baixo a cima;
atingem paredes, degraus e corrimões.
Paraná finalmente alcança a porta
que dá para a cobertura. Seu segundo guarda atira para baixo pelo vão mas é
atingido no ombro e cai.
Paraná e os guarda-costas não
param. Correm em direção ao helicóptero, que já está com as hélices em
movimento. Paraná entra. Adriel e seus homens aparecem na porta. O
guarda-costas atira e os policiais revidam. O homem é atingido antes de
conseguir entrar na aeronave.
PARANÁ
(para o
piloto) Toca pro céu!
Enquanto o helicóptero sobe, Paraná
atira nos homens. Adriel e os outros se escondem atrás de caixas metálicas do
prédio; os tiros castigam o metal. Quando eles param e Adriel se levanta, o
helicóptero já partiu.
ADRIEL
Não atirem!
Não vamos arriscar ninguém lá embaixo por causa desse desgraçado.
Adriel visivelmente decepcionado.
ADRIEL
Temos que
avisar sobre esse helicóptero... (frustrado) Aahh!
De repente um grande barulho e...
outro helicóptero se aproxima pelo lado oposto: a Águia da PM. Adriel dá um
sorriso cansado.
ADRIEL
Isso.
A
Águia se aproxima e pousa no heliponto. Sem perder tempo, Adriel e dois homens
entram.
CENA 20:
INT. ÁGUIA/INT. HELICÓPTERO DE PARANÁ – DIA
ADRIEL
(para o
piloto) Sargento Adriel! Uma aeronave azul-marinho com um suspeito
acaba de ir por aquele lado! Se dermos a volta naquele prédio vamos ter eles no
campo de visão! Não devem estar longe!
Dois policiais permanecem na
cobertura do Vitória enquanto a Águia da PM parte com Adriel e os dois homens.
PILOTO
(já voando) Quem é o
suspeito, sargento?
ADRIEL
Paraná.
Matias Paraná.
O piloto olha para ele; não diz
nada. Volta a atenção para frente.
Em seu helicóptero, Paraná se
aproxima do piloto, SANTOS.
PARANÁ
Você sabe pra
onde ir. Suma dessa cidade!
SANTOS
OK, patrão.
O helicóptero continua seu voo por
cima dos grandes edifícios de São Paulo. O semblante de Paraná é um misto de
raiva e alívio.
SANTOS
Patrão!
Olha, patrão! Estão vindo!
Paraná olha. É o helicóptero da PM
se aproximando.
PARANÁ
(recarregando
seu revólver) Inferno...
ADRIEL
(para o
piloto) Vamos chegando perto... mas com cuidado. Mantendo a distância
de segurança.
A Águia realiza uma curva suave de
modo que não fique exatamente atrás da aeronave de Matias e ainda tenha a
lateral da mesma visível.
Paraná destrava a arma.
SANTOS
(preocupado) Patrão,
não vai dar. Não vamos conseguir ir muito longe com eles na cola.
Paraná pensa por um momento. Então
olha para os prédios lá embaixo. Seus olhos percorrem cada um deles.
PARANÁ
(para o
capanga ao seu lado) Aquele! Aquele espelhado. É meu, não é?
O homem se inclina olhando.
HOMEM
Sim,
patrão. É um dos hotéis.
PARANÁ
Excelente.
Santos, pro hotel! Ali! Aquele prédio espelhado! Vou ficar lá com ele e você desaparece!
SANTOS
Entendido,
patrão!
O helicóptero realiza uma curva
brusca e voa em direção ao hotel.
A Águia imita a manobra. Estão mais
próximos. Adriel fica em pé na porta da aeronave, a arma em posição.
Ansioso, Paraná também está na
beira da porta aberta de seu helicóptero com o revólver pronto.
A trinta metros do terraço do
hotel, Paraná aponta a arma para a Águia e atira. Adriel se abaixa e desvia,
mas responde os tiros.
O
helicóptero azul alcança o terraço, mas a uns dois metros acima ainda, e Paraná
salta de dentro.
CENA 21:
EXT. HOTEL – TERRAÇO/INT. ÁGUIA – DIA
Paraná cai meio sem jeito. O
capanga não pula e a aeronave azul-marinho parte. Paraná levanta com pressa e
começa a correr, mancando, para a entrada do hotel no outro lado do terraço.
A Águia se aproxima. Adriel vê
Paraná correndo.
ADRIEL
(para o
piloto) Esquece o helicóptero!
Paraná, correndo com dificuldade,
dá dois tiros para trás na direção da Águia. Adriel tenta acertá-lo.
Impaciente, Adriel imita o bandido
e salta da aeronave. Mas, sendo mais preparado, rola na superfície e não se
machuca.
Paraná está quase alcançando a
porta de entrada quando os tiros de Adriel o forçam a se esconder atrás de um
reservatório d’água.
ADRIEL
Acabou,
Paraná! Joga a arma e sai com as mãos pro alto! Você tá preso!
Paraná está agachado. Começa a
recarregar a arma.
PARANÁ
(para si) Jogar
arma... Ta. Eu vou jogar é você daqui de cima, PMzinho de merda! E já
morto!
Com o revólver pronto, Paraná sai
detrás do reservatório bruscamente e dá dois tiros onde a cabeça de Adriel
deveria estar. Mas ela não está.
ADRIEL
Errou.
Paraná se assusta. Adriel está do
seu lado, a arma apontada. Certamente chegou ali vindo pelo outro lado do
reservatório. Com o susto e por instinto, Paraná realiza um movimento mínimo
com o braço do revólver.
ADRIEL
Nem pensar.
Larga, agora.
Paraná está furioso. Encurralado,
coloca sua arma no chão devagar e entrelaça os dedos atrás da cabeça.
PARANÁ
Você deve
estar se sentindo o máximo, não é? Um reles soldadinho da PM tirando o dia de
sorte.
Os dois policiais da Águia chegam
ali.
ADRIEL
(ainda
apontando a arma) Ainda que eu fosse só um soldadinho teria o maior
orgulho, meu camarada. E faz um favor: poupe meus ouvidos. Algemem!
Um policial algema Paraná, que
ainda encara Adriel.
ADRIEL
(aliviado) Acabou,
senhores. Acabou.
CORTA PARA:
CENA 22:
MONTAGEM: REPORTAGENS: EXT. HOTEL – ENTRADA – DIA
Cenas de vários telejornais:
policiais federais escoltam Paraná da porta do hotel até uma viatura. Intenso
movimento de pessoas e carros: PF, PM, bombeiros, engravatados... Alguns
policiais contêm uma multidão enraivecida de civis bradando palavras de ataque
e desdém a Paraná.
FUSÃO COM:
JORNALISTA
FEMININA (V.O.)
Notícias de
última hora! Fontes indicam que Matias Paraná da Fonseca foi capturado em São
Paulo. São informações direto do local.
JORNALISTA
MASCULINO (V.O.)
Muita
atenção. Temos informações confirmadas de que a Polícia Federal acaba de
prender o chefe do maior cartel de drogas da América Latina, Matias Paraná.
JORNALISTA
MASCULINO 2 (V.O.)
Estou em
São Paulo e confirmo as informações. O líder do poderoso cartel brasileiro está
preso de acordo com relatório emitido há cerca de quarenta minutos. Foi
encontrado na cobertura de um hotel de luxo que, especula-se, também é
propriedade do narcotraficante. Matias Paraná vinha sendo investigado e
procurado há mais de dois anos pela Polícia Federal. É um momento importante
para as autoridades e para a população.
CORTA PARA:
CENA 23:
INT. SALÃO PREDIAL DE FESTAS – ENTARDECER
Copos de bebidas levantados para o
alto. Um brinde.
MULTIDÃO
Aeeeehhh!
Os copos abaixam e dão lugar à
figura de Adriel, em vestes civis, na entrada do salão. O brinde é a ele, que
acabou de chegar.
O salão de festas está lotado de
policiais da PM – alguns fardados ou parcialmente fardados – e uns poucos
entusiastas.
Adriel sorri, um pouco tímido, com
a recepção acalorada. Tenente ROBERTO (50 anos, gorducho, bigodudo, de calças,
camisa, suspensórios e óculos) lidera o brinde.
ROBERTO
Aí está o
homem! Uma salva de palmas ao bravo sargento Adriel, o homem que enfrentou, e venceu,
Matias Paraná, o próprio!
Enquanto Adriel adentra o salão
lotado, a multidão aplaude. Ele faz que sim com a cabeça.
ADRIEL
Obrigado,
obrigado. Obrigado. Mas... realmente, por mais clichê que isso possa
soar, não foi nada além do meu dever como protetor da sociedade. Obrigado a
todos.
Roberto sorri orgulhoso.
Esse é o meu sargento! Do meu
batalhão! RÁ! (o “rá” característico do personagem soa como uma risada
engasgada)
Algumas palmas e gritos. Roberto se
aproxima de Adriel. A multidão em volta se espalha, bebendo, comendo e
conversando alegremente. Os dois andam pelo salão.
ADRIEL
Parece que
o senhor já se apossou de algumas garrafas.
ROBERTO
Rá, mas a
ocasião exige, Adriel. Por dois anos os caras da Federal caçam o homem como um
gato atrás duma ratazana gorda, e no fim quem dá o bote mortal? Um Militar. Do
meu batalhão, rá!
Roberto dá um soquinho no peito de
Adriel.
ADRIEL
E o
helicóptero dele? Encontraram?
ROBERTO
Oh, sim.
Duas horas depois foi interceptado no interior. Dois foram presos.
ADRIEL
E o que é
que o Paraná queria no Vitória, senhor? Já estava nas mãos da Justiça...
ROBERTO
Ele foi
atrás de um pen drive. Estava escondido, segundo ele mesmo, dentro do teto de
um dos apartamentos.
ADRIEL
E por que
ir lá pessoalmente? Por que não mandar alguém?
ROBERTO
Baseado no
que tem no pen drive desconfiam que ele pretendia fugir do país.
ADRIEL
E o que
tinha nesse pen drive?
ROBERTO
Informações
bancárias dos sócios. Aqueles três uruguaios que foram assassinados mês passado
em Curitiba, lembra? Paraná deve ter dado cabo deles e pretendia se apossar da
fortuna dos amigos.
ADRIEL
Amigos.
ROBERTO
Rá, alguém
já acreditou em honra entre ladrões?
Adriel pega uma bebida de um garçom
que passa por ali.
ADRIEL
Agora que
derrubamos o cartel só espero que as pessoas tenham mais confiança em andar
pelas ruas. Um pouco mais de tranquilidade.
ROBERTO
Ah, Adriel,
não seja ingênuo. Quando foi que São Paulo foi segura?! Isso não existe aqui. É
uma merda desde antes do Paraná surgir e vai continuar sendo. Quanto tempo até
o próximo barão das drogas surgir? Bandido é com um daqueles monstros da
mitologia... Aquele dragão... Como é o nome daquilo?
ADRIEL
Hidra?
ROBERTO
Isso, isso.
Você corta uma cabeça e surgem outras duas. Rá!
Eles chegam na sacada do salão. Lá
fora os prédios desviam a luz do sol poente.
ROBERTO
Mas me
diga, Adriel: já fez as malas? Tá tudo pronto?
ADRIEL
Bom... Eu
estava pensando... Devido aos últimos acontecimentos... O senhor sabe que eu
nunca escondi meu descontentamento em ser transferido pra Manaus. Talvez o
senhor consiga fazer algo a respeito, meu lugar é aqui--
ROBERTO
(interrompendo) Sim,
Adriel. Mas infelizmente você não tem escolha.
ADRIEL
Senhor, eu peguei
o cara! Eu--
ROBERTO
(interrompendo) E quer
ganhar um prêmio por isso? Não foi você mesmo quem disse há pouco pra todos que
não fez mais que sua obrigação?
ADRIEL
Sim, foi!
Não é que eu queira ganhar vantagem--
ROBERTO
(interrompendo) Mas também
não quer sair no prejuízo.
Adriel não encontra palavras.
ROBERTO
Adriel, eu
sei que você está cansado, que passou por muita coisa hoje... Mas foi você
mesmo quem escolheu trabalhar na véspera da viagem e também foi você quem
decidiu entrar naquele prédio. Prestou um grande serviço à sociedade, não nego.
Mas convenhamos, o certo seria chamar a Federal, por mais que isso fira seu
orgulho, e não arriscar a própria vida e as dos seus companheiros dessa forma.
ADRIEL
Não tenho
problemas com a Federal, senhor.
ROBERTO
Adriel, a
questão não é essa. Você sabe como funciona a Corporação, e sabe que por isso
não posso fazer nada por você. Você precisa entrar naquele avião essa noite.
Manaus te espera, meu amigo.
Roberto bate com pesar no ombro de
Adriel.
ROBERTO
Passe na
minha sala mais tarde.
Roberto volta para o salão. Adriel
fica só, abatido, encarando o sol que se despede de São Paulo.
CORTA PARA:
CENA 24:
EXT. CASA DE CLARA – PROXIMIDADES – ENTARDECER
Sofia dirige. Está chegando em uma
bonita casa de campo, a casa de CLARA, nos arredores de Manaus.
SOFIA
(olhando
para a casa) Que saudade...
O carro estaciona no gramado de
entrada. Sofia desce e caminha a passos apressados até o fundo, uma área
gramada com algumas árvores frutíferas, bancos e uma piscina. O carro de Clara
está em um canto. O quintal dá para um grande penhasco, com vista privilegiada
da planície amazônica.
SOFIA
(rumo ao
penhasco) Mãe?! A senhora está aí?
Apesar de chamar por sua mãe, Sofia
não para pra esperar Clara aparecer. A trilha sonora sobe enquanto ela,
empolgada, cruza o quintal. Seus cabelos dançam ao ritmo do vento fresco.
CENA 25:
EXT. PENHASCO DO QUINTAL DE CLARA – ENTARDECER
Sofia chega ao penhasco e abre os
braços, como se quisesse abraçar todo aquele mundo.
SOFIA
Como eu
precisava disso!...
Sofia abaixa os braços e começa a
caminhar rente à beira do penhasco. Vai até uma rocha que se destaca do
penhasco e avança sobre o abismo e para. Olha empolgada para aquilo. De repente
levanta um pé... e então caminha pela rocha bem devagar, porém com os olhos
fechados. Não há qualquer traço de tensão em seu rosto, apenas confiança e
satisfação.
Imagens aéreas circulam Sofia sobre
a rocha, valorizando a deslumbrante paisagem ao redor.
No fim da rocha Sofia para e abre
os olhos bem devagar. Ela tem o abismo sob os pés e a planície amazônica
preenchendo quase todo o seu campo de visão.
SOFIA
Minha
terrinha...
Sofia, por um momento, abre os
braços para aquele mundo mais uma vez. Depois abaixa-os, mas continua a sorrir.
Seus olhos brilham, está serena.
CLARA
(O.S.)
Sofia?
Sofia, minha filha?!
Sofia se vira. Clara (53 anos,
cabelos grisalhos) chega ao penhasco.
SOFIA
Mãe?
CLARA
Sofia!
Minha menina...
Sofia volta para o penhasco.
CLARA
O que você
tá fazendo aí, minha filha?! Que perigo!... Chegou, passou direto pela casa--
SOFIA
(interrompendo) Não se
preocupe, mãe. Conheço esse quintalzão de olhos fechados desde menina.
As duas se abraçam.
SOFIA
(abraçando) Que
saudades da senhora! (se soltam) Só estava apreciando a paisagem. A
senhora sabe como esse lugar me traz paz. E faz tempo que não venho renovar
minhas energias...
CLARA
Ah, mas faz
tempo porque a senhorita quis. Podia muito bem ter vindo me visitar antes.
SOFIA
Ah, mãe...
As coisas andam tão corridas lá na cidade... Por muito pouco não consigo essa
folga hoje.
CLARA
Eu sei,
filha, eu entendo... É só rabugice de mãe, liga não.
Sofia sorri.
SOFIA
E então? Eu
senti o cheiro quando passei por ali... É o meu bolo de laranja?
CORTA PARA:
CENA 26:
INT. CASA DE CLARA – COZINHA – NOITE
Sofia e Clara, postas à mesa,
comem. Com a mão livre Sofia acaricia CHICO, o gato de Clara, que está em seu
colo. Sofia morde um pedaço de bolo.
SOFIA
Huum...
Perfeito, mãe. Parece até que a senhora sabia que eu vinha hoje.
CLARA
Pois não é?
Vai ver foi o instinto de mãe... Bora, serve mais, pegue...
SOFIA
Ai, vou
engordar desse jeito.
CLARA
Vai não.
Pega logo...
Sofia pega.
SOFIA
A senhora
tinha que fazer bolo de laranja justo hoje...
Enquanto mastiga, Sofia observa sua
mãe comendo por uns segundos.
SOFIA
Mãe.
CLARA
Hum?
SOFIA
Sabe... Eu
fico pensando na senhora sozinha aqui... Cozinhando pra si mesma, limpando,
cuidando de tudo isso--
CLARA
(interrompendo) Aquele
assunto de novo, minha filha?
SOFIA
Ah, mãe...
A senhora devia considerar. Um companheiro com quem dividir o tempo, a
rotina... A senhora fica tanto tempo sozinha aqui.
CLARA
Não fico
sozinha, não, eu tenho o Chico, Sofia. Além dos amigos do boteco do Britinho,
minhas amigas da biblioteca, do xadrez... Eu vou lá, elas vem me visitar--
SOFIA
(interrompendo) A senhora
sabe que não é a mesma coisa. E eu também me preocupo com a senhora longe de
tudo, de uma emergência... Podia então pelo menos vender a casa e se mudar pra
cidade, mãe...
Clara larga o garfo. Chico desce do
colo de Sofia.
CLARA
(olhar
nostálgico) Sofia, seu pai e eu fomos muito felizes durante o
tempo em que estivemos juntos. E eu jamais, jamais vou esquecê-lo.
Nenhum outro homem pode ocupar o lugar do Paulo no meu coração, nem na minha
vida! É uma coisa... (não encontra palavras) Ele foi e sempre será o meu
amor, único amor. E não pretendo nem tentar substituí-lo.
Sofia a observa calada. Ela certamente
já ouviu aquelas palavras algumas vez da mãe, mas isso não a impede de molhar
os olhos uma vez mais.
CLARA
E quanto a
se mudar, sinto muito, minha filha, eu não posso ir. Quando seu pai morreu ele
não me deixou apenas você, nosso maior tesouro. Logo que nos casamos ele me
contou que seu maior sonho era ter uma casa no alto de um monte com vista pra
toda a Amazônia, pra que todo dia de manhã, quando se levantasse e fosse
apreciar a vista, se lembrasse da nossa pequenice diante da natureza, pra que não
esquecesse dos nossos deveres no mundo enquanto hóspedes.
SOFIA
Papai devia
ser incrível.
CLARA
(rindo) Ah, eu
mesma me apaixonei no momento em que ele abriu a boca! E você é toda ele, minha
filha. Sua herança foi essa paixão e esse respeito pela criação de Deus. (pequena
pausa) E assim meu Paulo lutou por esse sonho. Dias de esforço e muito
suor, até que finalmente ele o realizou. Na época já era o meu sonho,
também. Sofia, essa casa tem o DNA do Paulo gravado em cada tijolo, cada farpa
de madeira. Eu não posso simplesmente vender a conquista do seu pai assim. Além
do mais sou muito feliz e tranquila aqui, longe daquela correria e barulheira
de Manaus. E do calor, também né... Mas eu agradeço a sua preocupação, filha.
Agradeço muito. Quando à minha segurança, sei que você não é muito chegada em
religião, mas eu confio em Deus, todo o tempo. Além disso minha própria filha é
policial, oras.
Sofia sorri e limpa uma lágrima.
SOFIA
Nesse caso
vou tentar visitá-la mais vezes.
CLARA
Disso eu
não reclamo nem um pouquinho. Agora mudando de assunto, minha filha, quando é
que chega aquele moço de São Paulo mesmo?
SOFIA
Amanhã
cedo. Vou encontra-lo no aeroporto, quero só ver como vai ser esse negócio...
Aliás, esse moço, o Adriel, participou da captura do Matias Paraná hoje mais
cedo. Não se fala em outra coisa na TV.
CLARA
Oh... Então
você vai ter um grande parceiro. E o Fábio?
SOFIA
O Fábio não
tem que dizer nada. Ele tá cansado de saber que é totalmente profissional,
desde o Marcos.
CLARA
Na verdade
eu me referia ao noivado de vocês. Não voltaram a brigar, né?
SOFIA
Ah, ele e
aquele jeito dele de sempre, ciumento, mas eu andei falando as coisas pra ele.
Disse que vai mudar, vamos ver. Já tem uns dias que estamos bem, sem brigas...
É tão bom assim...
CLARA
Que bom.
Não se esqueça dos meus conselhos, hein.
SOFIA
Não, nunca,
mãe.
CORTA PARA:
CENA 27:
EXT. ESTABELECIMENTO DE LINO – CALÇADA – NOITE
Geraldo caminha pela calçada de sua
rua com um pouco de dificuldade. LINO (45 anos), seu vizinho do lado, está na
frente de seu estabelecimento colando cartazes de propaganda, quando nota
Geraldo passar com as vestes sujas e rasgadas.
LINO
(para si) Ora...
Geraldo prossegue sem olhar para o
vizinho. Chega ao portão de sua casa.
LINO
Geraldo? Tá
tudo bem? O que aconteceu, vizinho?
Antes de abrir o portão Geraldo
para e olha para Lino.
GERALDO
Nada
demais. Foi um tombo...
LINO
Um tombo?
Tem certeza? Sua roupa tá toda rasgada, você tá ferido, homem!
GERALDO
Foi um
tombo feio.
LINO
(pegando o
celular) Não, temos que chamar uma ambulância pra ver isso aí.
GERALDO
(um tanto
irritado) Não. Não chame ninguém, Lino.
Lino o escuta.
GERALDO
Não
preciso. Apesar desses rasgões na roupa não me machuquei muito não. Vou passar
umas pomadas que tenho aí e amanhã já vai tá melhor.
LINO
Não, por
via das dúvidas é melhor chamarmos o socorro.
Lino volta a mexer no celular.
Geraldo se irrita.
GERALDO
(indo na
direção de Lino) Será que você é surdo?! Eu já falei que não! Não
preciso! Que porcaria!
LINO
Calma,
homem. É pro seu bem...
Geraldo se aproxima ainda mais e
fica cara a cara com Lino.
GERALDO
Eu já disse
que não preciso!
Lino faz que sim.
LINO
Tudo bem.
Tudo bem, Geraldo. Fique calmo, não vou chamar ninguém. Veja.
Lino desliga o celular e guarda no
bolso.
GERALDO
Excelente.
É melhor assim.
Geraldo gira nos calcanhares e
entra em sua casa enquanto Lino o observa.
Lino pega o celular novamente.
CORTA PARA:
CENA 28:
INT. CASA DE CLARA – COZINHA – NOITE
Clara lava a louça enquanto Sofia
seca com um pano. O celular dessa toca e ela o atende.
SOFIA
Alô? Oi,
senhor. (pausa) Hum... (pausa) Hum, sim. Tudo bem. Em uma hora
chego aí. (pausa) Tá, tchau.
Sofia desliga.
CLARA
Era o
tenente?
SOFIA
Era. Disse
que tem um caso que quer que eu veja. Acho que não vou poder terminar aqui,
mãe...
CLARA
Deixe isso
aí, Sofia. Vai lá. Se cuida, viu filha.
SOFIA
Beijo (beija).
Se cuida a senhora, hein. (saindo) Quando eu chegar em casa te ligo.
Beijo, Chico.
O gato apenas lambe o próprio pelo
despretensiosamente.
CORTA PARA:
CENA 29:
INT. AVIÃO – DIA
Adriel está dormindo na poltrona
inclinada do avião, ao lado da janela coberta. Usa um fone de ouvido. Na trilha
sonora, uma música eletrônica (com melodia, não apenas batidas).
Adriel acorda e tira o fone; a
trilha diminui. Alguns passageiro conversam, aeromoças passam pelo corredor, os
primeiros raios de sol penetram algumas janelas descobertas e o piloto passa
informações aos passageiros pelo rádio.
ADRIEL
(para
alguém ao lado) Bom dia.
A pessoa sorri. Adriel esfrega o
rosto com as mãos.
PILOTO
(V.O.)
E dentro de
alguns minutos estaremos pousando na cidade de Manaus. A temperatura local é de
32 graus célsius com céu claro. Pedimos que...
Adriel suspira. Olha para a janela
coberta. Devagar ele levanta a tampa. E então vê a cidade de Manaus se
aproximando, como uma ilha em meio a um oceano verde.
Close em Adriel, desanimado,
observando seu novo lar, enquanto a trilha sonora volta a subir.
CORTA PARA:
CENA 30:
EXT. AEROPORTO INTERNACIONAL DE MANAUS – PISTA – DIA
Ao som da mesma música, o avião
pousa na pista.
CORTA PARA:
CENA 31:
CONT. – INT. DESEMBARQUE – DIA
Os passageiros do voo caminham pelo
corredor tendo o pátio dos aviões à direita. Outros, mais à frente, aguardam
suas bagagens na esteira; Adriel está entre esses. Pendurada em seu ombro, uma
mochila pequena.
Conforme
a música eletrônica diminui até sumir, a seguinte ação: ao ver uma mala de
rodinhas grande e preta, Adriel retira-a da esteira, coloca-a no chão e se
encaminha para a porta que dá para o saguão. Pega um papel de informações no
bolso e lê.
CENA 32:
CONT. – INT. SAGUÃO – DIA
Sofia está em frente à porta
automática, junto a outros que esperam seus conhecidos. A porta se abre e
Adriel aparece, ainda lendo. Sofia o olha bem e compara o rosto com uma foto de
documento no celular.
Ao sair no saguão Adriel olha para
todos os lados. Sofia tenta o alcançar passando por entre a multidão.
SOFIA
(aproximando-se) Adriel?
Adriel Santiago?
Adriel vira os olhos e vê Sofia.
ADRIEL
(curioso) Sim?
SOFIA
Olá, eu sou
a sargento Sofia Medeiros, da Polícia Militar de Manaus, e estou encarregada de
guia-lo à vila militar onde você vai ficar.
Adriel está surpreso.
ADRIEL
Sério?
Ótimo! Não me avisaram que haveria alguém. (mostrando o papel) Inclusive
eu tô com o endereço aqui.
SOFIA
Ah sim...
Pois é. Houve umas atualizações... Acho que você pode guardar isso, então.
ADRIEL
(simpático) Obrigado,
Sofia.
Adriel estende a mão.
ADRIEL
Ah, perdão.
Você já sabe, mas... Adriel Santiago, prazer.
Sofia aperta a mão de Adriel.
SOFIA
Prazer.
Sorriem.
FADE OUT:
Começam os créditos.
FIM
No próximo episódio:
Sofia não consegue
disfarçar e Adriel descobre a verdade sobre o trabalho dela. E eles tentam
resolver seu primeiro caso de crime ambiental juntos, mas sem que ninguém saiba
que Adriel está envolvido.
Obrigado pelo seu comentário!