OS
PROTETORES
série de
FELIPE LIMA BORGES
Temporada 1, Episódio 04
“Por Toda Nossa Breve Vida – Parte 2”
escrito por
FELIPE LIMA BORGES
O.S.: Indica que o personagem falando está no cenário, mas fora do alcance da câmera.
V.O.: Indica que o personagem falando não está no cenário, soando como uma narração.
FLASHBACK: Ação que ocorre no passado.
FLASHFORWARD: Ação que ocorre no futuro.
Tela preta.
Haverá um tempo em que os seres
humanos se contentarão com uma alimentação vegetariana e julgarão a matança de
um animal inocente da mesma forma como hoje se julga o assassino de um homem.
Leonardo da Vinci
FADE IN:
CENA 1: INT.
PRÉDIO BATALHÃO AMBIENTAL DA PM – ESCRITÓRIO DA DICAM - DIA
ADRIEL mostra (na tela do computador
e em papéis) para SOFIA as informações que conseguiu. Uma foto de Abílio pode
ser vista na tela do PC.
ADRIEL
Esse
garoto, Abílio... Há cerca de 9 meses estava desviando dinheiro do caixa da
sorveteria onde trabalhava. Mas o patrão descobriu e então ele abandonou o emprego
e fugiu da casa em que morava de aluguel por medo de retaliação do chefe e da
polícia. E junto se foi o furgão que usava no serviço.
SOFIA
Não faz
nenhum sentido levar o carro da empresa. Não acho que é um desespero grande o
suficiente. Poderia ter abandonado por aí.
ADRIEL
Sim. O que
pode indicar seu envolvimento no nosso caso. Independente de qual fosse o
objetivo com os cães, talvez ele já estivesse planejando o roubo há algum
tempo. Usar o furgão pra transportar os animais sequestrados... Só não esperava
ser descoberto antes da hora. No início ninguém desconfiaria de um carro de
sorvetes envolvido em sumiços de cachorros, mas o tempo passou e agora sabemos
que o furgão pode até ter sido o único motivo pra ele ter entrado na sorveteria.
SOFIA
E ontem,
lendo o restante dos relatórios, vi que houve outros dois avistamentos de
furgões da Manda+ nas mesmas localidades e ocasiões de sumiços registrados. Um
há quase cinco meses e outro há um mês e meio.
ADRIEL
Já temos
nosso homem.
SOFIA
E como a
polícia nunca encontrou o furgão de Abílio?
ADRIEL
Eles
procuraram na época, mas certamente ele sumiu com a placa. Até chegaram a parar
carros semelhantes, mas não é uma boa ideia, já que a Manda+ tem uma grande
frota na cidade.
SOFIA
E
provavelmente Abílio age pela madrugada, dificultando os avistamentos e
facilitando sua operação.
ADRIEL
Exato.
SOFIA
E com quem
você conseguiu todas essas informações? O patrão da loja?
ADRIEL
Um dos
funcionários, na verdade. Era colega de Abílio.
SOFIA
Teve alguma
dificuldade em arrancar dele?
ADRIEL
Nem um
pouco, Sofia. Até tomamos sorvete juntos...
SOFIA
Sei.
ADRIEL
E com o
endereço que ele me deu fui até o apê abandonado. Nada além dessa toca.
Adriel mostra a toca encontrada no
antigo apartamento de Abílio.
SOFIA
Que deve
estar conectada com minha peculiar descoberta.
ADRIEL
Como
peculiar?
SOFIA
Ontem
passei num boteco de um conhecido da família, e por lá sempre anda o Pompeo, um
andarilho conhecido em toda a região. Ele contou de um dos sumiços, em que as
crianças juram ter visto uma criatura preta fugindo com a cachorra.
ADRIEL
Ou isso é
ridículo ou é simplesmente a imaginação das crianças, em um estado de medo,
interpretando uma simples fantasia.
SOFIA
Exato, e eu
só fui chegar a essa conclusão quando visitei a dona Fátima no hospital e ela
disse que o motorista do furgão vestia uma roupa preta, e que seu rosto estava
oculto por uma máscara. Talvez usando uma toca semelhante a essa.
ADRIEL
Então temos
todo o disfarce de Abílio. Resta saber de suas armas.
SOFIA
A dona
Fátima também ajudou nisso. Abílio usou um revólver no Pingo antes de avançar
contra ela. Só quando estava presa no mata-leão dele que ela notou o dardo no
corpo inerte do cachorro, e que ele portanto não estava morto. Segundos antes
de apagar.
CORTA PARA:
CENA 2: CONT.
– INT. TÉRREO – DIA
BÁRBARA atende Sofia e Adriel em
sua mesa.
BÁRBARA
Não será
nada fácil achar um furgão específico da Manda+, eles devem ter centenas
espalhados pela cidade.
SOFIA
Mas esse
não tem as placas, Bárbara. Isso deve facilitar.
BÁRBARA
(sorrindo
para Sofia) Agora ficou interessante.
ADRIEL
(entregando
uma folha com a foto de Abílio) E esse garoto: Abílio Dutra. Tudo
que você puder achar sobre ele que possa nos ajudar a encontrá-lo.
Bárbara pega a folha e olha.
BÁRBARA
OK. Assim
que tiver algo lhes aviso.
O celular de Sofia toca e ela o
pega. É Cátia. Sofia atende.
SOFIA
Oi, Cátia.
Alguns segundos de silêncio.
SOFIA
OK! Ok,
Cátia, já estamos a caminho.
Sofia desliga com o semblante
preocupado.
ADRIEL
O que
houve, Sofia?
SOFIA
Outro
ataque.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CENA 3: INT.
RUA – CARRO – DIA
Sofia dirige.
ADRIEL
E você faz
isso com frequência?
SOFIA
Sempre que
encontro um nessas condições. Se não puder na hora volto depois. Já até levei
bronca do tenente uma vez quando cheguei atrasada por levar um pro pet shop.
Tentei ligar a importância de se salvar um animal das ruas com a natureza da
atuação da nossa Divisão, mas não colou.
ADRIEL
Sabe,
Sofia, só agora me ocorreu que nenhum de nós em nenhum momento cogitou a
possibilidade do tal sequestrador ser na verdade um benfeitor. O cara poderia
estar fazendo exatamente o que você faz, resgatando os bichos das ruas pra
levar pra um lugar melhor.
SOFIA
Mas já
sabemos que não é nada disso. No entanto você tem razão. Apesar dos furos nessa
possibilidade poderíamos sim ao menos teorizar. Acho que o convívio diário com
pessoas de natureza ruim nessa profissão escurece nossa visão e extirpa pouco a
pouco a esperança de estar lidando com bons corações...
Adriel faz que sim.
ADRIEL
E esse
Dudu, como você encontrou?
SOFIA
Dormindo
embaixo de um viaduto. Um pouco arisco no início, mas um doce depois de alguns
minutos de cafuné.
Sofia
estaciona próximo à entrada da mansão da família de Dudu, onde estão duas
viaturas da PM. Um SARGENTO guarda o portão. Sofia e Adriel descem.
CENA 4:
EXT. MANSÃO FAMÍLIA DE DUDU – RUA – DIA
ADRIEL
Uau! Uma
mansão não estava nem de longe nos tipos de casas que eu imaginei haver em
Manaus.
Sofia e Adriel caminham pela
calçada.
SOFIA
Se você
dizer que pensava que só havia ocas eu esfrego sua cara nesse asfalto.
ADRIEL
Tem
curativos no carro?
SOFIA
Idiota.
Adriel sorri. A dupla chega no portão
da mansão, onde um sargento guarda a entrada. Sofia e Adriel mostram seus
distintivos.
SOFIA
Investigadora
Sofia Medeiros e investigador Adriel Santiago. Somos da DICAM.
SARGENTO
(leve
sorriso de desdém) Ambiental, né?
Sofia e Adriel permanecem sérios.
SARGENTO
Entrem.
Sofia entra pisando duro e Adriel
deixa no sargento um olhar de cima a baixo antes de passar.
No
sorriso cínico do sargento para o nada:
CENA 5:
CONT. – EXT. QUINTAL – DIA
Alguns policiais espalhados pelo
quintal caminham à procura de pistas. O casal JOAQUIM e CECÍLIA permanece
abraçados em um canto e sua FILHA (12 anos) está sentada, triste, ao lado da
casinha de Dudu.
Ao ver Sofia e Adriel, CÁTIA se
aproxima.
CÁTIA
Sofia!
SOFIA
Cátia, oi!
Cátia e Sofia trocam um rápido
abraço.
SOFIA
(para
Adriel) Essa é a Cátia. Trabalha no pet shop onde sempre levo os cães
que te falei.
ADRIEL
Prazer,
Adriel.
CÁTIA
O prazer é
meu. Venham comigo.
Cátia os leva até Joaquim e
Cecília.
SOFIA
Quando
aconteceu, Cátia?
CÁTIA
Por volta
de uma da manhã. A família está muito abalada. A menina, então, nem se fala.
Quando acordou e deu pela ausência do Dudu nem quis tomar café. Eles chamaram a
polícia e depois ligaram me avisando. Vim na mesma hora.
SOFIA
Fez bem.
Os três chegam até o casal.
SOFIA
Senhora
Cecília, senhor Joaquim... Somos os investigadores Sofia e Adriel. E coincidentemente fui eu quem levou
o Dudu para a adoção.
JOAQUIM
Agradeço
que tenham vindo, Sofia, mas já contamos para os policiais tudo o que vimos.
SOFIA
Nós somos
sargentos da Polícia Ambiental e estamos em uma investigação de raptos de
cachorros por toda Manaus. Eles procuram por sinais de ladrões, viciados... Nós
estamos atrás do homem que veio pelo Dudu de vocês. Da sua menina.
Joaquim e Cecília trocam olhares e
a mulher faz que sim.
JOAQUIM
Acordamos
com os barulhos no quintal. Quando abri a porta a pessoa já estava pulando o
muro de volta pra rua. Carregando o Dudu no braço. Mas com a outra mão apontou
uma arma pra mim e ameaçou me matar caso o seguisse.
Cecília fecha os olhos com a
lembrança.
SOFIA
Entendo.
ADRIEL
O senhor
conseguiu identificar alguma característica na vestimenta do indivíduo?
CECÍLIA
Ele tinha uma
arma apontada pra ele! Como prestaria atenção em roupa?!
JOAQUIM
(para
Cecília) Calma, amor... (para os outros) Estava escuro, ele
cortou a energia antes de entrar. Mas pela silhueta deu pra ver que usava algo
cobrindo a cabeça, talvez um casaco, não sei...
SOFIA
Sei que não
é fácil recordar esses momentos, mas isso é tudo?
JOAQUIM
Sim.
Nisso um SOLDADO DA PM se aproxima.
SOLDADO DA
PM
DICAM?
ADRIEL
Sim?
SOLDADO DA
PM
Encontramos
isso bem ali.
O soldado apresenta um saquinho de
evidências para Sofia e Adriel. Dentro, um pedaço da calça preta de Abílio com
uma boa parte da etiqueta. Sofia pega e levanta na altura dos olhos para
analisar.
CORTA PARA:
CENA 6:
INT. PRÉDIO BATALHÃO AMBIENTAL DA PM –
TÉRREO – DIA
Sofia e Adriel vem da calçada e
entram.
SOFIA
Na
escuridão ele pode não ter conseguido apagar Dudu a tempo e então entraram em
combate. Do contrário não haveria tanto barulho pra acordar os donos. E daí o
pedaço da calça arrancada por Dudu.
ADRIEL
Abílio pode
estar com um machucado e tanto.
De sua mesa DIOGO os nota.
DIOGO
Tem gente
nesse batalhão que trabalha mais fora que dentro do prédio.
Adriel para e o olha secamente.
Sofia volta e puxa Adriel.
SOFIA
Vaaamos,
Adriel. Não dá pra perder tempo.
Adriel é puxado por Sofia sem tirar
os olhos de Diogo. Ao vê-los se afastando na direção da mesa de Bárbara, Diogo
solta um sorriso de deboche.
SOFIA
Já falei
pra ignorar esse babaca.
ADRIEL
Ainda vou
bater nesse babaca.
BÁRBARA
Acredite,
Adriel, a melhor coisa que você faz é ouvir a Sofia e deixar pra lá.
ADRIEL
Difícil.
SOFIA
Bá, só
queria te entregar isso.
Sofia entrega o pedaço de pano com
etiqueta dentro do saquinho.
SOFIA
Foi
encontrado no local do último ataque e pertence ao tal Abílio, deve ser parte
de sua roupa. Se você conseguir algo, o que for, vai ser de grande ajuda.
CORTA PARA:
CENA 7:
EXT. RIACHO – DIA
BENJAMIN e BOLACHA caminham pela
margem de um riacho na fazenda de sua família.
BENJAMIN
Aquele
senhor Eugênio... Não sei porque, mas não gosto dele, Bolacha.
Benjamin para e senta em uma pedra enquanto
Bolacha se acomoda ao seu lado. Então ele nota SARA na outra margem, um pouco
distante dali. A garota parece segui-los timidamente.
BENJAMIN
(olhando a
garota) A Sara... A mãe quer que a gente brinque.
Benjamin acaricia Bolacha.
BENJAMIN
Tsc, é tão
chato isso... Na verdade a Sara até que é legal... Lembra quando a gente
brincou de manja-esconde no quintal?
Benjamin solta um sorrisinho.
BENJAMIN
Foi bem
legal. Mas mesmo assim... É chato ter que começar tudo de novo...
No
olhar de Benjamin para Sara:
CENA 8:
CONT. – EXT. PROXIMIDADES – DIA
Ocultos por uma árvore, LÚCIA e
CARLOS observam Sara, próxima dali, e Benjamin e Bolacha mais distantes, do
outro lado do riacho.
LÚCIA
Ontem o Ben
nem deu atenção pra Sara. A menina voltou pra casa triste. Que que os pais dela
não devem estar pensando da gente? E agora aí, ela doida pra brincar e ele nem
dá bola pra ela.
CARLOS
A gente
devia levar ele pra cidade, Lúcia. Ver um psicólogo, e se precisar, fazer algum
tratamento. Ele não é assim porque quer, tá claro que tem dificuldades.
LÚCIA
Não sei...
Nós somos pais, a gente devia conseguir ajeitar ele, Carlos.
CARLOS
E não foi
por falta de tentativa, meu amor. Mas alguns problemas estão além da alçada dos
pais. O que o Ben tem é algum problema de socialização. Desde pequeno sempre
foi quietão, afastado...
LÚCIA
É... Tem
razão... Mas, por enquanto, por que você mesmo não vai lá falar com ele? (olhando
os garotos) Talvez seja do pai que ele precise nesse momento.
CORTA PARA:
CENA 9:
EXT. RIACHO – DIA
Benjamin e Bolacha continuam
sentados no mesmo lugar. Carlos se aproxima pela outra margem.
CARLOS
Lembro
quando era época de cheia e o córrego subia até lá em cima, pra lá daquelas
árvores. Você era pequeno, talvez não se lembre, mas a gente ficava dias sem
conseguir atravessar.
Carlos cruza o riacho a pé.
CARLOS
Mas teve
uma vez, quando o Bolacha já estava com nós... Você devia ter uns 5 anos... Que
deu uma chuva que parecia que o céu todo resolveu desabar na terrinha. Alagou
todas essas bandas, até lá pra fazenda do seu Trad. E a gente, sem poder fazer
nada, ficou ilhado na varanda, esperando que a chuva passasse ou diminuísse um
pouco que fosse.
Carlos para em pé em frente ao
filho e ao cachorro.
CARLOS
E sabe quem
estava lá também? Que foi em casa e acabou pega de surpresa pela tempestade?
BENJAMIN
Hum.
CARLOS
A Sara. A família dela foi merendar
conosco naquela tarde, mas quando intentaram partir já não tinha como. O tempo
virou e a chuva começou tão rápido quanto um raio.
Benjamin ouve atento.
CARLOS
E nesse meio
tempo de preocupação dos pais da Sara e de correria nossa pra tirar as coisas
do quintal, percebemos que o Bolacha não estava ali, e nem dentro de casa, em
canto algum. Só então você contou que "o totó foi fazê pipi antes da
chuva". O Bolacha tinha descido aqui, mas provavelmente não conseguiu
voltar a tempo da chuva começar.
Benjamin dá uma olhada para Bolacha
enquanto o acaricia.
CARLOS
E foi uma
preocupação geral. Lamentos, todos angustiados com o sumiço dele, você
chorando... Mas teve uma pessoinha lá que não se abalou não. Ficou firme na
esperança de que daria tudo certo.
BENJAMIN
(olhando
para Sara) A Sara?
CARLOS
Ela largou
a pernas da mãe dela e foi andando até você. Colocou as mãozinhas dela nas suas
e disse: "Não chora não. Eu sei que o seu cachorro está bem e vai voltar,
tá bom?".
BENJAMIN
Aposto que
não adiantou de nada. Continuei chorando, não foi?
CARLOS
Não. Na
hora você ficou todo admirado olhando pra ela. Então secou as lágrimas e foi
pra entrada da varanda esperar por algum sinal do Bolacha. No final da tarde,
claro, a chuva passou e lá vem o Bolacha correndo pelo quintal alagado. Parecia
que ele tinha vivido a aventura mais divertida de sua vida.
Benjamin ri para Bolacha.
CARLOS
Filho, dá
uma chance pra Sara... Ela gosta de você, te admira muito e vocês combinam... Às
vezes a gente perde uma grande chance de se sentir bem, de ficar bem,
por não dar um passo em frente. Acredite, filhão, é melhor arriscar do que se
lamentar o resto da vida por não ter arriscado.
Benjamin faz que sim discretamente.
CARLOS
Não que
haja algum risco em ir se divertir com a Sara, ela está pronta e te esperando.
Benjamin olha para Sara.
No olhar esperançoso da garota,
CORTA PARA:
CENA 10:
INT. RESTAURANTE PARADISE – BANHEIRO – NOITE
De frente para o espelho coletivo
do banheiro, Adriel é interrogado novamente pelo conselho, dessa vez
comunicando-se pelo Skype do celular. Ele apoia a outra mão na moldura do
espelho.
ADRIEL
(tom de voz
elevado) Já falei/
Adriel se interrompe.
ADRIEL
(forçando
tom calmo) ...que não havia tempo pra pensar nisso.
MEMBRO
FEMININO (O.S.)
Sargento, o
senhor está acompanhando a repercussão na mídia do seu extraordinário feito?
ADRIEL
Não. Muito
de vez em quando--
MEMBRO
MASCULINO 2 (O.S.)
(interrompendo) Senhor
sargento, poderia nos falar dos seus sentimentos atuais? Se arrepende de algo
que fez naquela tarde?
ADRIEL
Não, não me
arrependo de nada!
ROBERTO (O.S.)
Adriel.
MEMBRO
MASCULINO (O.S.)
O senhor
acha que poderia ter executado a operação sem que vidas fossem ceifadas no
processo?
ADRIEL
Vocês já
estiveram em um tiroteio?
MEMBRO
FEMININO 2 (O.S.)
O senhor
tinha noção de que estava invadindo um prédio em posse da Justiça?
ADRIEL
(forçadamente
compassado) Vocês já estiveram na merda de um tiroteio algum
dia na vida de vocês?
ROBERTO
(O.S.)
Adriel, por
favor, vamos fa--
ADRIEL
(interrompendo) Porque eu
já tô cansado de ficar aqui ouvindo perguntinha besta depois de ter colocado o
traficante mais procurado do país pra ver o sol nascer quadrado. Gente que
nunca destravou um revólver na vida querendo me julgar. Não acompanho a
repercussão na mídia mas tenho certeza que tenho a opinião pública ao meu lado.
ROBERTO
(O.S.)
Adriel, por
fa--
ADRIEL
(interrompendo) Tenente,
não acabei. Fui convocado pra falar e agora vão me ouvir. Os senhores
perguntaram dos meus sentimentos, não foi? Pois eu conto. O que eu sinto é que
fiz o melhor pelo meu país, o melhor pelo povo. Guardo aqui no peito o
sentimento de dever cumprido. Mas tem mais. Sinto também uma enorme vontade de
mandar vossas senhorias e todo esse teatrinho à merda! Considerem isso feito e
podem ir sem mim!
Com um gesto brusco Adriel desliga
o celular e encara seu reflexo ofegante.
CORTA PARA:
CENA 11:
CONT. – INT. SALÃO PRINCIPAL – NOITE
O salão do restaurante, decorado em
madeira e pedra, está repleto de clientes.
Em uma das mesas, enquanto Sofia
come tranquilamente, FÁBIO limita-se a beber pequenos goles de vinho. Está um
tanto tenso e incomodado.
Sofia olha para ele.
SOFIA
Que foi?
FÁBIO
Sô, quando
eu te convidei pra jantar, me referi somente a você. Um jantar a dois, de um
casal de noivos. Não falei pra trazer amigos.
SOFIA
Amor, eu já
te expliquei! Nos atrasamos no escritório e se eu fosse atravessar a cidade pra
levar o Adriel na casa dele chegaria aqui de madrugada!
FÁBIO
Ele é bem
grandinho, pode chamar um Uber.
SOFIA
E você acha
que eu, com carro, vou deixar meu parceiro chamar Uber?
FÁBIO
Seu
parceiro não deve vir antes do seu noivo.
SOFIA
Tem certeza
que quer falar sobre atenção no relacionamento, Fábio?
Fábio fica desconcertado.
FÁBIO
Não pensei
que iria querer pagar na mesma moeda. Ainda mais hoje.
SOFIA
Quê?! Que
pagar em mesma moeda o que, Fábio! Eu não tive nem tempo de passar em casa pra
me arrumar, devo estar fedendo, e você vem dizer que eu trouxe o Adriel pra
fazer ciúmes? Acho que você não me conhece mesmo.
FÁBIO
Amor, só
acho que se você falasse que tinha um jantar marcado com seu noivo ele
entenderia.
SOFIA
Mas eu nem
pensei que fosse um encontro de verdade. Só uma saída pra comer fora depois do
serviço. Fábio, já conversamos tanto sobre esses seus ciúmes! Não me diga que
vamos passar por isso de novo.
FÁBIO
(expirando
forte) Tá bom, Sofia, tá bom.
Sofia pega as mãos de Fábio.
SOFIA
Me perdoa,
tá? A gente marca outro dia, uma encontro mesmo, e aí seremos só nós dois. Tá
bom?
FÁBIO
Pode ser. (pequena
pausa) E ei...
SOFIA
Hum.
FÁBIO
Você tá
cheirosa. Como sempre. Esse seu aroma natural irresistível...
Sofia sorri apaixonada.
SOFIA
Tem certeza
que não é o vento vindo da mesa vizinha? Tem uma moça ali...
FÁBIO
Não. O seu
é diferente, único. Reconheceria em qualquer lugar.
Sofia e Fábio se aproximam e trocam
um suave beijo. Ao fundo Adriel sai do banheiro e vem caminhando na direção da
mesa. Sofia e Fábio terminam o beijo e voltam a comer. Adriel chega ali.
ADRIEL
Desculpem.
FÁBIO
À vontade,
amigo.
ADRIEL
(sentando-se) Ora, vejo
que minha... costela de tambaqui na brasa já chegou. Ótimo, estou faminto.
FÁBIO
Se você
demorasse mais um pouco a Sofia tomava posse do seu prato.
SOFIA
Ah, com
certeza. Num mundo paralelo.
Adriel começa a comer.
FÁBIO
E então,
Adriel? Fiquei sabendo que estão investigando sumiços de cães...
ADRIEL
Pois é, já
tivemos um bom progresso no caso.
FÁBIO
Uma tarefa
bem diferente da sua antiga em São Paulo, não é?
ADRIEL
Pra você
ver como é a vida... Mas quanto antes aceitarmos o que ela joga no nosso colo,
melhor.
FÁBIO
Que bom que
está se adaptando.
ADRIEL
Na verdade
estou na fase de aceitação... Afinal, se é pra fazer, que seja bem feito.
Fábio sorri concordando.
FÁBIO
E uma
parceria bem estruturada é essencial pro sucesso de uma tarefa assim, estou
certo?
Sofia olha para Fábio.
ADRIEL
Corretíssimo.
FÁBIO
E pelo
jeito você também já se deu bem nessa parte.
ADRIEL
É... Sofia
e eu temos nossas diferenças... Diferenças essas que eu imaginava que pudessem
ser um empecilho em um trabalho como esse, mas... (simpático) Aqui
estamos nós.
FÁBIO
Aqui estão
vocês, no Paradise. O restaurante preferido da Sofia. Ela te contou isso?
ADRIEL
Ahn... (olhando
para Sofia) No caminho pra cá, eu acho.
FÁBIO
Claro que
sim, já até foram juntos ver um espetáculo no Teatro Amazonas.
SOFIA
Fábio--
ADRIEL
(interrompendo) Fábio,
eu... não quero que pense que... que--
FÁBIO
(interrompendo;
dissimulado) Ah, não, não, não, Adriel, não, não estou dizendo
nada disso, por favor, não pense isso de mim.
Adriel limpa a boca com um
guardanapo quando o celular em sua mão toca; é Roberto. Adriel rejeita a
ligação.
ADRIEL
Eu... Acho
melhor eu ir, já está tarde e eu não quero--
SOFIA
(interrompendo) Claro que
não, Adriel, de forma alguma! Você veio comigo e eu vou te deixar na vila.
Termina de comer.
ADRIEL
Não, sério,
Sofia. Tenho que resolver aqueles problemas com o conselho de São Paulo, e eu
posso muito bem chamar um Uber. Não se preocupe.
Adriel se levanta e mexe em sua
carteira. Sofia olha para Fábio com reprovação.
ADRIEL
E tem
trampo amanhã cedo, uma investigação pra resolvermos.
Adriel coloca uma cédula de
dinheiro na mesa.
ADRIEL
Até amanhã,
Sofia. (apertando a mão de Fábio) Foi um prazer conhecê-lo, Fábio. Até
mais.
Adriel sai. Sofia olha furiosa para
Fábio.
SOFIA
Não sei nem
o que falar depois desse vexame, Fábio!
FÁBIO
(aliviado) É melhor
assim, Sofia.
Na raiva de Sofia,
CORTA PARA:
CENA 12:
EXT. FAZENDA DE EUGÊNIO – VILA DOS TRABALHADORES – ENTRADA – NOITE
EUGÊNIO caminha para a entrada da
pequena vila nos fundos da sede de sua fazenda. SYAORAN (45 anos, chinês e com
sotaque) está por ali. Ao fundo, outros chineses e suas crianças circulam pela
vila.
EUGÊNIO
Não
esperava te encontrar aqui.
SYAORAN
É o meu povo.
Sempre me verá perto deles. E o que você faz aqui?
Eugênio chega até Syaoran e para.
EUGÊNIO
É minha
fazenda.
Leve tensão no ar.
SYAORAN
Sendo assim,
devo lhe informar que o dia da festa está chegando e você está longe de ter a
quantia necessária.
EUGÊNIO
Pelo
contrário, Syaoran, a quantia está quase completa. Falta muito pouco. Pensei
que soubesse--
SYAORAN
(interrompendo) Não. Houve
uma mudança nos planos. Quon, ancião de nossa tribo e avô de minha esposa, quer
estar presente na festa para abençoar o povo. Foram anos de marginalidade e
fuga, e a bênção de bom grado do homem mais velho vivo não é apenas importante
para nossa tribo, mas fundamental.
EUGÊNIO
Ótimo, por
mim tudo bem. Não vejo como isso atrapalharia os preparativos.
SYAORAN
Acontece
que não vamos servir nosso ancião com qualquer coisa. É um homem de valor,
reverenciado, honrado e admirado por todos.
Eugênio franze o cenho. Syaoran
diminui a distância física entre eles.
SYAORAN
Não vou
retribuir as bênçãos e os conselhos do senhor Quon com carne de meros
vira-latas de rua.
Eugênio encara Syaoran.
EUGÊNIO
Nós
tínhamos um acordo.
SYAORAN
Acordos
mudam conforme as circunstâncias mudam. E agora você deve arranjar carne de
primeira o quanto antes. O número acordado, dentro do prazo que está correndo.
EUGÊNIO
Você não
está em posição de fazer exigências, Syaoran. Eu lhes dei oportunidade, abrigo,
chance de trabalho, uma vida! Não fosse por mim, você e todo esse seu povo
voltariam pra sarjeta naquele país de merda!
SYAORAN
Na verdade
acho que posso fazer exigências sim. Porque você pode até nos expulsar daqui,
nos jogar no meio da cidade para sermos pegos pelas autoridades. Mas não pense
que você não vem junto, Eugênio. O que será que farão com um fazendeiro que
abrigou imigrantes chineses ilegais?
Eugênio o encara furioso.
SYAORAN
Eu posso te
destruir, Eugênio.
EUGÊNIO
Maldito dia
que eu coloquei vocês na minha casa.
SYAORAN
É o barato que
sai caro. Mas maldição, bênção... Isso é relativo.
Syaoran coloca sua mão no ombro de
Eugênio.
SYAORAN
Melhor se
apressar.
Syaoran vira as costas e parte para
a vila, deixando ali um Eugênio atônito.
EUGÊNIO
Podemos...
Podemos arranjar 1 ou 2 de raça pra servir o tal ancião! E os outros ficam pro
povo!
Syaoran continua a caminhar.
SYAORAN
Você parece
ignorar o olfato na criação de um ambiente agradável.
EUGÊNIO
Droga,
Syaoran! Meses! Eu investi durante meses em todos eles!
Eugênio, sem parar, olha para trás
indiferente e continua sua caminhada.
Na raiva de Eugênio,
CORTA PARA:
CENA 13:
CONT. – INT. GALPÃO – NOITE
No mesmo galpão da cena 40 do
episódio anterior, que agora sabemos estar localizado na fazenda de Eugênio,
ABÍLIO entra levando PINGO e DUDU pela coleira quando vê Eugênio, pensativo,
debruçado no cercado da arena.
Abílio se abaixa atrás de alguns
equipamentos.
ABÍLIO
(para os
cães) É o seguinte: vocês vão me ajudar a ficar bem com o tio
Eugênio. E depois... terão de ir pra junto dos outros cachorros.
Pingo e Dudu, meio assustados, o
encaram curiosos.
ABÍLIO
(para Dudu) Você, mais
pesado, fica aqui.
Abílio prende a coleira de Dudu em
um objeto.
ABÍLIO
(para
Pingo) E você vem comigo.
Abílio retira a coleira de Pingo e
o pega no colo. Olha para Dudu. E então caminha para perto de Eugênio.
ABÍLIO
Tio
Eugênio?
Abílio se aproxima.
ABÍLIO
Tio
Eugênio? Tá tudo bem?
EUGÊNIO
(ainda
encarando o nada) O maldito do Syaoran... Não quer mais os vira-latas.
O ingrato agora tá exigindo cães de raça.
Abílio fica confuso.
ABÍLIO
O... O quê?
Como assim, o senhor não tinha um acordo com ele?
EUGÊNIO
Sim, nós
tínhamos um acordo. Mas não se deve confiar nesses chineses. (elevando o tom
de voz) E o que me deixa mais puto é o tempo e o investimento que eu fiz
nesses bichos! Tudo pra agora o desgraçado vir e exigir que comecemos do zero e
dentro do mesmo prazo acordado no início!
ABÍLIO
Eu... Mas
eu não entendo. Por que ele está fazendo isso?
EUGÊNIO
Porque deu
na telha de um velho decrépito aparecer na festa pra abençoar esses malditos!
Um tal ancião da tribo que eles pagam pau! Tanto dinheiro gasto, não me
conformo... Mas fazer o quê??!! Não posso mandar eles pra rua porque vão dar
com a língua nos dentes! Vamos ter que arranjar novos cachorros e nos livrar
desses que estão aí! De todos!
ABÍLIO
Mas ele não
pode! Não pode fazer isso com o senhor, com a gente! Eu não me arrisquei
durante todos esses meses pra ele jogar tudo no lixo assim!
Eugênio olha para Abílio.
EUGÊNIO
Mas ele
fez! E não temos escolha, Abílio!
Abílio coloca Pingo no chão.
ABÍLIO
Mas tio!
Deve ter um jeito! O senhor sempre dá um jeito!
EUGÊNIO
Droga, não
tem jeito, Abílio! Você não entende?! Se não fizermos o que ele tá pedindo
podemos perder a fazenda e tudo mais!
ABÍLIO
Não tem
como eu arranjar outros 100 cachorros de raça a tempo da festa acontecer!
Vira-latas de rua são fáceis de achar e pegar, mas o que ele tá pedindo é que
eu invada dezenas de casas! É loucura!
EUGÊNIO
Já estou
com meus próprios problemas, Abílio. Dê seu jeito! Livre-se desses aí e faça o
que tiver que fazer para nos manter na fazenda e em paz com esses chineses
malditos.
ABÍLIO
Mas... Me
livrar como, tio?! Como vou me livrar de mais de 100 cachorros?! Devo devolver
pras ruas, é isso?
EUGÊNIO
Se eu
tivesse conseguido a Fiorino do merda do Carlos, talvez. Mas chega de andar com
esse furgão berrante pela cidade! Uma hora ou outra vai acabar atraindo atenção
pra cá! Você sabe o que fazer.
ABÍLIO
Sei?
Eugênio não responde.
ABÍLIO
E então,
tio?... Como vou sumir com eles?
Eugênio olha furioso para Abílio.
Então saca um revólver da cintura, aponta para Pingo no chão e POW! Um clarão e
o eco do disparo; o garoto espasma assustado.
Abílio, tapando a boca com as mãos
e tremendo, observa com espanto o corpo morto e ensanguentado de Pingo aos seus
pés.
Eugênio olha para ele.
EUGÊNIO
Agora tá
claro pra você?
Enquanto Eugênio guarda o revólver
na cintura, Abílio olha para o local onde deixou Dudu amarrado. Ainda tremendo,
caminha para lá rapidamente.
ABÍLIO
(para Dudu) Preciso
tirar você daqui. O tio Eugênio enlouqueceu.
Abílio desprende a coleira de Dudu
e se levanta para sair do galpão.
EUGÊNIO
(O.S.)
Abílio! Ei!
Abílio, segurando a coleira de Dudu,
para temendo o pior.
ABÍLIO
S-sim?
Eugênio chega ali e olha para Dudu.
Em seguida ergue os olhos para Abílio.
EUGÊNIO
Sobre os
novos cães, eu sei por onde você pode começar.
ABÍLIO
Sabe?...
Por onde?
EUGÊNIO
É perto
daqui.
No nervosismo de Abílio,
CORTA PARA:
CENA 14:
INT. FAZENDA FAMÍLIA DE BENJAMIN – CASA – QUARTO DE BENJAMIN – NOITE
Benjamin e Bolacha apreciam, pela
janela, o lindo céu estrelado.
BENJAMIN
Aquela lá,
a de cima, perto da pequenininha... Eu sou ela. Olha como brilha, Bolacha! A
maior daquele lado do céu... Agora vamos achar uma pra você.
Os olhos de Benjamin percorrem as
estrelas com curiosidade.
BENJAMIN
Hum, acho
que já sei... Talvez... (apontando) aquela!
De repente, em uma fração de
segundo, uma estrela cadente corta o céu.
BENJAMIN
Uaaau! Você
viu aquilo, Bolacha?! Era... Um meteoro, provavelmente!
Benjamin olha para Bolacha
fascinado.
BENJAMIN
Que
incrível!
Benjamin transparece o surgimento
de uma ideia.
BENJAMIN
Já sei! É
isso, você é aquela, Bolacha! A estrela cadente!
Bolacha faz um som de desagrado.
BENJAMIN
É sim! Faz
todo sentido! É igualzinho você correndo atrás do Napoleão e atazanando a vó
quando todos estão conversando!
Benjamin ri e Bolacha olha de baixo
para cima: a cara de coitado.
LÚCIA
(O.S.)
Mas agora é
hora das minhas estrelinhas dormirem.
Benjamin olha para trás e vê Lúcia
entrando no quarto.
BENJAMIN
Ah, não,
mãe... Só mais um pouquinho...
LÚCIA
Sem
"ah, não".
BENJAMIN
Mas você
não nos chamou de estrelas? É de noite que as estrelas estão acordadas, mãe...
LÚCIA
Bela
tentativa, espertinho.
Lúcia se aproxima e abraça Benjamin
enquanto passa a mão na cabeça de Bolacha.
LÚCIA
Mas essas
minhas estrelinhas são especiais! Juntas elas formam uma grande e forte
estrela, o único brilho do dia!
BENJAMIN
Ai, mãe,
nada a ver... O dia existe justamente por causa do sol, e não o sol que brilha
de dia.
LÚCIA
É mesmo?
Pois chega de ganhar tempo com esse papo, hum? Já pra cama, os dois! Bora,
bora...
BENJAMIN
Aah, tá
booom...
Benjamin vai para sua cama e
Bolacha para um amontoado de panos em um canto.
LÚCIA
Vamos,
vamos, hora de dormir!
Benjamin deita.
LÚCIA
Isso. Durma
com os anjos, meu amor.
Lúcia enche de beijos o rosto de
Benjamin.
LÚCIA
Boa noite.
BENJAMIN
Boa noite,
mãe.
Lúcia se levanta e caminha para a
porta.
LÚCIA
Boa noite,
Bolacha.
Lúcia sai e fecha a porta. Benjamin
senta na cama e olha para Bolacha.
BENJAMIN
Bolacha...
Bolacha ergue a cabeça e fita o
garoto.
BENJAMIN
Boa noite.
Benjamin sorri para o cachorro e
deita novamente. Vira para o lado e fecha os olhos, adormecendo. Bolacha faz o
mesmo.
Então vemos o céu estrelado pela
janela.
CORTA PARA:
CENA 15:
INT. FAZENDA FAMÍLIA E BENJAMIN – CASA – QUARTO DE BENJAMIN – NOITE – HORAS
DEPOIS
O mesmo céu, porém a posição das
estrelas mudou ligeiramente.
A câmera percorre o quarto:
Benjamin, esparramado na cama, dorme profundamente. Bolacha, no seu canto,
idem.
Som de movimentos no lado externo
da janela. Surge um par de mãos enluvadas e em seguida a cabeça coberta pela
toca: Abílio. Mas um ruído mais alto que o esperado obriga o mascarado a se
abaixar, um segundo antes de Bolacha acordar olhando para a janela.
Não encontrando nada de estranho em
lugar algum do quarto, Bolacha adormece novamente.
Abílio reaparece na janela e a abre
silenciosamente. Com muita discrição ele passa as pernas para dentro e entra
por completo no quarto.
Abílio olha para Benjamin e depois
para Bolacha, e então pega a arma de tranquilizantes. Mas nesse momento Bolacha
abre os olhos devagar, sem se mexer. Abílio se assusta e atira três dardos no
cachorro, que ainda se levanta, caminha dois ou três passos na direção do
invasor, mas perde o equilíbrio e cai desacordado.
Abílio se aproxima de Bolacha.
CORTA RÁPIDO PARA:
CENA 16:
INT. FAZENDA FAMÍLIA DE BENJAMIN – CASA – QUARTO DE BENJAMIN – NOITE – MINUTOS
DEPOIS
Benjamin abre os olhos sonolentos.
Revira um pouco na cama até perceber a janela semiaberta. Franze o cenho e se
senta. É quando percebe que Bolacha não está no seu canto.
BENJAMIN
Bolacha?
Benjamin põe-se de pé e olha nos
cantos e embaixo da cama.
BENJAMIN
Bolacha?!
Cadê você?!
Vozes distantes. Benjamin ouve-as e
olha para a janela. Vai até ela, abre-a por completo e vê - apesar da escuridão
-, além da porteira de entrada, um veículo que acabou de entrar em movimento
indo para o lado direito da estrada.
No apavoramento de Benjamin,
CORTA PARA:
CENA 17:
INT. PRÉDIO BATALHÃO AMBIENTAL DA PM – ESCRITÓRIO DA DICAM – DIA
Sofia mexe no computador mas não
consegue se concentrar. Respira impaciente e olha para Adriel, em sua própria
mesa. Ele também olha para Sofia.
ADRIEL
Ainda
pensando em ontem, Sofia?
SOFIA
O Fábio foi
um tremendo babaca com você. Não consigo acreditar que--
ADRIEL
(interrompendo) Sofia,
esquece isso! Já te falei, tá tudo bem.
SOFIA
Não, não tá
tudo bem, Adriel, não tá! O Fábio não pode sair por aí constrangendo as pessoas
por causa de um ciúme idiota e sem fundamento! Ainda mais você, o meu parceiro.
Acabou de chegar na cidade e já tem essa bela recepção. Que vergonha...
ADRIEL
Não estou
nem um pouco preocupado com isso. Já tenho problemas o suficiente pra me
distrair. Além do mais o bom convívio com você me basta. É de você que eu
preciso, é com você que eu trabalho, não com ele. Então relaxa e se concentra
aí no trabalho, porque temos muito o que fazer ainda.
Sofia reflete. A porta se abre e
Bárbara entra.
BÁRBARA
Licença?
SOFIA
Entre, Bá.
BÁRBARA
Tenho
alguns resultados que me pediram.
Sofia e Adriel prestam atenção.
BÁRBARA
Do Abílio,
nada. E em relação à etiqueta, nada demais. Fábrica comum, loja de fantasia
qualquer... Na verdade nem fabricam mais esse modelo. O tal Abílio deve estar
com ela já há um bom tempo.
SOFIA
Certo.
BÁRBARA
Mas eu
passei as informações do furgão pra um contato meu do monitoramento e ele tem
imagens de um veículo semelhante da Manda+ num posto de gasolina afastado da
cidade. Desses que quase não tem funcionário.
ADRIEL
Mas tem as
placas?
BÁRBARA
Segundo ele
não dá pra ver. Mas o detalhe é que essa não é uma região atendida pela
sorveteria.
SOFIA
Ótimo, nos
passe tudo, por favor. Vamos atrás.
Nesse momento outro POLICIAL entra
no escritório.
POLICIAL
Investigadores?
SOFIA
Pois não?
POLICIAL
Uma família
acionou a polícia afirmando que tiveram a casa invadida nessa madrugada e o
cachorro foi a única coisa levada do local. Eles moram em uma fazenda.
SOFIA
(intrigada) Fazenda?
Sofia olha para Adriel.
ADRIEL
O tal posto
deve ser caminho.
Pensativa, Sofia faz que sim.
CORTA PARA:
CENA 18:
INT. FAZENDA FAMÍLIA DE BENJAMIN – CASA – VARANDA – DIA
Em pé, Lúcia e Carlos, abalados,
conversam com Sofia e Adriel. Afastado, Benjamin encara a paisagem com os olhos
marejados. Sara, um pouco atrás, o olha com tristeza.
CARLOS
Acordei lá
pelas 3 da manhã com o choro dele. Estava inconsolável. Estranhei a ausência do
Bolacha no quarto e a janela aberta, mas demorei pra conseguir dele uma palavra
do que havia acontecido.
LÚCIA
Agora de
manhã ele parou de chorar e comeu um pouco, mas continua assim, muito abatido.
SOFIA
Ele é muito
apegado ao Bolacha, né?
LÚCIA
Não é que
ele é apegado, são os dois. Vivem juntos pra cima e pra baixo, só se desgrudam
quando ele vai pra escola. Hoje mesmo não queria nem saber de aula. Tentei
convencer dizendo que os policiais vão atrás do Bolacha, mas não teve jeito.
CARLOS
O Ben tem
dificuldades de socialização, e o cachorro é o único com quem ele consegue se
relacionar de verdade.
ADRIEL
E a garota?
CARLOS
Sara, amiga
da escola. Eles se gostam e às vezes até brincam, mas o Ben trava sempre que
precisa se aproximar novamente, mesmo conhecendo a garota há tanto tempo. Nós
compramos o Bolacha quando o Ben estava com 4 anos, na esperança de servir como
uma espécie de terapia, e funcionou. Ele teve uma evolução assim...
extraordinária. Acho que do contrário cresceria com dificuldades de dar um simples
oi pra alguém.
SOFIA
É, os
animais tem esse poder, principalmente com as crianças. Eles se identificam. E
qual é a raça do Bolacha?
LÚCIA
Um Golden
Retriever de 4 anos de idade.
SOFIA
Certo. E o
que o Ben contou pra vocês sobre o ocorrido?
LÚCIA
Tudo que
ele viu foi um carro saindo daí de frente. Estava escuro e ele tem só 8 anos,
não conseguiria identificar o modelo. Mas disse que era grande. E estava indo
pra direita.
CARLOS
E isso é um
problema, porque indo pra direita só dá em duas fazendas. Numa o dono morreu e
a família, enquanto não resolve a disputa da herança na Justiça, não dá nem as
caras. Só fica um capataz cuidando. E a outra é do seu Eugênio, fazendeiro
rico, empresário idôneo. Com a crise ele deu uma tropeçada nos negócios, mas
nunca ouvi falar nada de ruim ou suspeito dele.
ADRIEL
Então o
senhor não teria nenhum motivo pra desconfiar desse Eugênio?
Carlos pensa por um segundo.
CARLOS
Bom,
ultimamente nosso relacionamento com o vizinho Eugênio já não anda bem das
pernas. Há tempos ele vem tentando comprar nossa Fiorino, mas sempre recusei
porque é o sustento da família, e ainda foi presente do pai dela antes de
falecer. E o Eugênio não esconde o desgosto e a insatisfação com isso.
Sofia olha para Adriel.
SOFIA
Um carro de
transporte mais discreto.
ADRIEL
Sem querer
se envolver em burocracia na cidade e deixar muitos rastros...
SOFIA
Essa
quantia absurda de cães desaparecidos deve estar de alguma forma ligada ao
tamanho dos negócios desse Eugênio.
CARLOS
Só não
entendo como a mídia demorou pra divulgar os desaparecimentos.
SOFIA
Mas ainda
não falaram nada a respeito.
CARLOS
Não viram o
jornal da manhã? Já estão falando.
ADRIEL
(para
Sofia) Quem?
SOFIA
O contato
da Bárbara deve ter vazado...
LÚCIA
Mas por que
nós? Todo os outros desaparecidos não eram vira-latas de rua? Por que o
Bolacha, um Golden Retriever da fazenda?
ADRIEL
Não podemos
descartar também represália pela recusa da venda da Fiorino.
SOFIA
O certo é
que devemos ir até lá apurar melhor isso. (pequena pausa) Licença um
minutinho.
Sofia vai até Benjamin.
SOFIA
Oi.
Benjamin?
Choroso, Benjamin permanece encarando
o horizonte.
SOFIA
Benjamin,
meu nome é Sofia. Eu e o meu amigo somos policiais, e viemos até aqui pra
salvar o Bolacha. Não importa onde ele esteja, ou quem tenha levado ele, nós
vamos até lá pra salvá-lo.
BENJAMIN
E se
tiverem machucado ele?
SOFIA
Eu fiquei
sabendo que vocês dois são muito próximos.
Benjamin faz que sim.
SOFIA
(colocando
a mão no peito de Benjamin) Você sente aqui que isso aconteceu?
Benjamin parece buscar a sensação.
Faz que não.
BENJAMIN
Mas eu
sinto que ele está em perigo.
SOFIA
Então
talvez eu deva me apressar. (pequena pausa) Não se preocupe, Ben.
Sofia acaricia o cabelo de Benjamin
e volta para junto de Adriel, Lúcia e Carlos.
CARLOS
Se vocês
forem até lá, tenham cuidado, porque o Eugênio tem muitos seguranças armados no
entorno da sede. Longe de mim falar como a polícia deve trabalhar, mas acho que
poderiam ir em mais viaturas. Não sei do que o homem é capaz, já não conheço
ele.
SOFIA
Nós
chamaremos reforços sim, obrigada. O senhor nos diz como chegar até lá? Alguma bifurcação
na estrada, algo do tipo?
Close
em Benjamin. Apesar de triste, ele presta atenção na conversa dos adultos ao
fundo. Quando Carlos começa a passar a localização, ele sai. Sara estranha e
vai atrás.
CENA 19:
CONT. – EXT. PORTEIRA DE ENTRADA – DIA
Benjamin caminha na direção do carro
de Sofia. Sara vem logo atrás.
SARA
Ben! Ben,
espere!
Benjamin para e olha para a garota.
BENJAMIN
Volta,
Sara! Por que você tá aqui?
SARA
Você não tá
pensando em ir escondido no carro, né? Me diz, Ben.
Benjamin olha para baixo, para o
carro atrás de si e de volta para Sara.
BENJAMIN
Você não
pode falar nada pros meus pais.
SARA
Ben! Não
faz isso, é muito perigoso! Você não ouviu eles dizendo que o seu Eugênio tem
um monte de guarda?!
BENJAMIN
Eu vou
estar bem, vou estar com os policiais.
SARA
Mas por quê?...
O que você quer fazer lá se eles já estão indo?
BENJAMIN
(choroso) Eu posso
encontrar o Bolacha melhor que qualquer um! E não vou deixar o seu Eugênio
fazer nada de mal com o Bolacha! Não vou ficar aqui e deixar ele fazer o que quiser
com meu irmão!
Sara se aproxima sem saber o que
dizer.
BENJAMIN
Então por
favor, Sara, por favor... Não conte nada a eles sobre o que eu tô fazendo. Não
vou demorar, eles vão achar que eu desci pro rio pra chorar ou alguma coisa
assim...
Com delicadeza, Sara pega os braços
de Benjamin e o olha nos olhos, apesar de ele olhar para baixo.
SARA
Então não
chora... Tá? O Bolacha está bem e sei que vai voltar. Mas tenha cuidado. Tenha
cuidado, Ben. Eu iria chorar muito se acontecesse alguma coisa com você, porque
seria culpa minha também.
Benjamin olha para Sara.
BENJAMIN
Obrigado.
Benjamin vira e volta a caminhar na
direção do carro. Chegando, abre a porta detrás, entra e fecha.
CORTA PARA:
CENA 20:
CONT. – INT. CARRO – DIA – MINUTOS DEPOIS
Sofia e Adriel estão no interior do
carro já ligado, e Lúcia e Carlos abraçados em pé do lado de fora.
SOFIA
Tenham
paciência com ele... Sei que não é fácil, mas é necessário muita paciência
nessas horas.
Lúcia faz que sim.
LÚCIA
Obrigada.
SOFIA
Até mais tarde.
Nos empenharemos pra trazer boas notícias.
O carro parte rumo à fazenda de
Eugênio e Lúcia e Carlos permanecem na frente da porteira, olhando o veículo se
distanciar.
No interior do carro, Adriel fala
ao telefone.
ADRIEL
Bárbara,
temos fortes suspeitas de que os cães desaparecidos estejam em um local
específico. Vou te enviar a localização. Pedimos reforços imediatos. O máximo
que puder mandar.
Então vemos Benjamin, escondido nos
pés do banco traseiro.
CORTA PARA:
CENA 21:
INT. FAZENDA DE EUGÊNIO – SEDE – COZINHA – DIA
Na entrada da cozinha estão Abílio
e Eugênio, esse segurando Bolacha por uma coleira. Alguns cozinheiros
trabalhando por ali. Syaoran, mais perto da porta, analisa Bolacha. Toca-o,
revira o pelo, passa as mãos no corpo do cão e bagunça suas orelhas à procura
de algum defeito.
SYAORAN
Está ótimo.
Se você conseguir vários outros como esse, Eugênio, tenho certeza que as
bênçãos do senhor Quon vão se estender a todos os seus negócios.
Eugênio apenas observa a situação.
Syaoran fica ereto.
SYAORAN
Muito bem.
Prepare-o para o almoço. Diga aos seus cozinheiros que fiquem à vontade pra
criar diferentes pratos usando a carne. Petiscos... Pequenas amostras, apenas.
Quero ver o que ficará melhor para servir e surpreender o senhor Quon no dia da
festa.
Syaoran olha novamente para Bolacha
e sai pela porta. Do lado de lá ele para e vira para trás.
SYAORAN
Ah! Será
que vocês ainda teriam aquela erva fina da semana passada? Acho que um caldo
com um toque meticuloso dela seria especial.
Syaoran sorri para os dois e sai.
Eugênio olha para Abílio.
EUGÊNIO
(entregando
a coleira) Leve ele.
Abílio guia Bolacha para as mãos
dos cozinheiros.
CORTA PARA:
CENA 22:
CONT. – EXT. PORTAL DE ENTRADA – PROXIMIDADES – CARRO – DIA
O carro avança pela estrada de terra.
Dentro, Sofia e Adriel já conseguem ver o portal de entrada mais à frente.
ADRIEL
Acho que
aqui tá bom, Sofia.
Sofia diminui a velocidade e guia o
carro para fora da estrada, escondendo-o no meio do matagal.
Os dois descem armados.
SOFIA
Vamos.
Sofia
e Adriel continuam o trajeto, agora a pé e pela margem da estrada, escondidos
pela vegetação.
CENA 23:
CONT. – EXT. PORTAL DE ENTRADA – DIA
Em um dos lados do portal de
entrada da fazenda há uma guarita com uma escada em dois lances levando até
ela. GUARDA 1 e GUARDA 2, armados, circulam lá dentro, atentos à estrada.
Quase aos pés da guarita, mas fora
do campo de atenção dos homens, Sofia e Adriel se aproximam, ainda ocultos pelo
matagal.
Com as armas em punho,
silenciosamente os dois circulam o pilar do portal e começam a subir as escadas
devagar e silenciosamente. Os guardas, lá em cima, continuam desatentos a eles.
Sofia e Adriel chegam ao topo da
escada, logo atrás dos homens. Olham um para o outro e trocam um sinal. Então,
com movimentos ágeis eles atacam, desarmam os seguranças e os imobilizam.
CORTA PARA:
CENA 24:
EXT. FAZENDA DE EUGÊNIO – PORTAL DE ENTRADA – DIA – MINUTOS DEPOIS
Sofia e Adriel terminam de amarrar,
com lacres plásticos, as mãos e os pés dos dois seguranças deitados de bruços
no meio do matagal.
ADRIEL
Acha que é
suficiente?
SOFIA
Vai
aguentar até voltarmos.
GUARDA 1
Ei, não
deixem a gente aqui, não! Por favor! Eu não gosto de mato, tenho pavor, senhor!
Tenho pavor de cobra, aqui é cheio de insetos!
Sofia os ignora e sai.
GUARDA 1
Aqui é
cheio de bichos, tem bicho peçonhento nesse mato! Ei! Por favor, senhor! Eu
tenho medo, não gosto de insetos, por favor! Ei!
Adriel olha para Sofia, que se
distancia, e se aproxima do guarda 1.
ADRIEL
(batendo a
mão no ombro do homem) Eu te entendo.
Adriel sai.
Close no walkie-talkie no interior
da guarita. Som de chiados vindo do aparelho.
CHEFE
(V.O.)
Entrada,
estão na escuta? Câmbio! (pequena pausa) Guarita, entrada, repito, estão
na escuta? Câmbio!
CORTA PARA:
CENA 25:
CONT. – EXT. SEDE – QUINTAL – DIA
Eugênio caminha pelo quintal
gramado da sede quando o CHEFE da segurança da fazenda se aproxima.
CHEFE
Com
licença, patrão.
EUGÊNIO
Sim?
CHEFE
Perdemos o
contato com a entrada. Já tem minutos que não dão o menor sinal de vida.
EUGÊNIO
Mesmo?
CHEFE
Devo enviar
um carro até lá pra averiguar?
EUGÊNIO
Não, não.
Nada disso, não sabemos o que pode ser. Realize o procedimento padrão.
CHEFE
Certo,
patrão.
O chefe sai.
CHEFE
(para o
walkie talkie) Atenção, todos os homens! Reforço imediato no
entorno da sede! Agora!
CORTA PARA:
CENA 26:
CONT. – EXT. PORTAL DE ENTRADA – PROXIMIDADES – CARRO – DIA
A porta traseira do carro de Sofia
se abre e Benjamin sai de dentro. Olha nos arredores, fecha a porta e avança
pelo mato.
CORTA PARA:
CENA 27:
CONT. – EXT. ESTRADA – DIA
Sofia e Adriel caminham pelo
matagal à margem da estrada.
ADRIEL
Vamos parar
aqui.
Os dois param agachados embaixo de
uma árvore, uma pequena clareira.
ADRIEL
Por acaso
você tem munição extra aí?
SOFIA
Tenho
algumas balas. (passando a mão na blusa) Depois disso, só resta o colete.
ADRIEL
O reforço
deve estar a caminho. Melhor esperarmos.
SOFIA
Sim.
De repente, um barulho estranho no
mato atrás de Sofia. Ela se assusta, pega seu revólver, vira-se e fica lado a
lado com Adriel, que também aponta sua arma para o mato.
Algo movimenta-se pelas vegetação.
Aflitos, eles viram a arma conforme o objeto desconhecido se desloca. No caso,
na direção da fazenda. Sendo lá o que for, se distancia.
Sofia abaixa a arma expirando.
SOFIA
Ah, deve
ser só um animal. Um cachorro da fazenda, talvez.
ADRIEL
Sei não.
Não combina com o contexto.
SOFIA
De qualquer
forma já se foi.
CORTA PARA:
CENA 28:
CONT. – EXT. SEDE – QUINTAL – DIA
Diversos homens armados movimentam-se
no entorno da sede. Alguns trocam suas posições de guarda, outros assumem uma.
Aproveitando
o meio-tempo de troca de guardas em um ponto da cerca, Benjamin sai do matagal
e corre. Antes que os guardas o notem, ele cruza a cerca e dispara na direção
da sede.
CENA 29:
CONT. – EXT. ESTRADA – DIA
De debaixo da árvore, Adriel
percebe Benjamin correndo.
ADRIEL
Pera, pera!
Que é aquilo?!
SOFIA
O quê?
Sofia também olha.
SOFIA
Benjamin?!
Adriel olha para Sofia franzindo o
cenho.
ADRIEL
Como?! O
que ele...
SOFIA
O barulho
no mato?
ADRIEL
Não teria
como ele chegar aqui a pé só um pouco depois de nós.
Sofia fica confusa.
SOFIA
Não faço a
menor ideia de como esse curumim chegou aqui, mas isso é suicídio. Não podemos
deixar ele fazer isso! Deve estar desesperado pelo Bolacha!
ADRIEL
Concordo.
Temos que ir.
Sofia faz que sim.
ADRIEL
(olhando na
direção da sede) Mas isso vai ficar um pouco mais difícil.
Sofia olha para onde Adriel está
olhando, e vê vários homens, espalhados pela estrada, aproximando-se.
SOFIA
(concluindo) Quanto
antes atacarmos, melhor pra nós.
Adriel concorda com o olhar e eles
ficam de pé.
ADRIEL
Polícia!
SOFIA
Polícia!
Parados! Mãos pra cima!
Os homens armados se assustam com a
ordem vinda do meio do matagal. Confusos, eles olham e veem Sofia e Adriel
apontando as armas.
ADRIEL
Agora!
Larguem as armas!
Os homens não soltam seus
revólveres apontados para baixo; trocam olhares cuidadosos entre si.
HOMEM 1
O que
fazemos?
Dois segundos de impasse.
HOMEM 2
Atirem!
O homem 2 levanta a arma na direção
da dupla no matagal mas é atingido no ombro e cai. Os outros, no entanto,
atiram e se dispersam atrás de árvores e arbustos.
Sofia e Adriel disparam, mas são
obrigados a se esconder atrás da árvore.
ADRIEL
Droga!
Entre um disparo e outro que acerta
o caule e o chão próximo, Sofia e Adriel se esforçam para atirar na direção dos
guardas.
ADRIEL
(com
pedaços de madeira explodindo perto de seu rosto) Se
gastarmos toda a muniçãõ aqui, teremos sérios problemas lá na frente!
SOFIA
Sugestões?!
Sofia sai parcialmente de trás da
árvore e atira duas vezes.
CORTA PARA:
CENA 30:
CONT. – INT. SEDE – COZINHA – DIA
Os cozinheiros param ao ouvir o
barulho do tiroteio. Estranham. Murmúrios por todo o recinto.
ABÍLIO
(para os
cozinheiros que estão com Bolacha) Ei! Sem distrações! Não se preocupem
com nada lá fora, temos gente pra isso. Se preocupem em fazer bem o que meu tio
ordenou! Vamos!
COZINHEIRO
Fique
tranquilo, seu Abílio. Já estamos fervendo a água pra escaldar o bicho.
Abílio faz que sim e olha para
Bolacha, acuado.
CORTA PARA:
CENA 31:
CONT. – INT. CORREDOR – DIA
Benjamin percorre um corredor vazio
a passos apressados, parando para olhar pelas janelas de todas as portas.
Máquinas, produtos agrícolas, ferramentas... Mas nenhum sinal de Bolacha.
Finalmente, mais à frente, ele
chega até a porta da sala de depósito onde estão todos os cachorros
engaiolados. Ao ver o estado miserável dos animais Benjamin arregala os olhos,
horrorizado. Fica nas pontas dos pés e vê que as gaiolas vão até o fundo da
sala.
De repente, sons de passos vindos
de outro corredor que cruza aquele. Benjamin olha no momento em que um
FUNCIONÁRIO - não um guarda - aparece caminhando normalmente e para ao ver o
garoto desconhecido. Por dois segundos os dois se encaram; Benjamin, temeroso,
e o funcionário, confuso.
Então o funcionário franze o cenho
e abre a boca.
FUNCIONÁRIO
Ei!
O funcionário olha para os lados
como se fosse chamar alguém.
FUNCIONÁRIO
Você!
Então Benjamin enfia a mão em um
dos bolsos, tira uma pedra de lá e joga com força no rosto do funcionário, que
leva as mãos no local de impacto e cai agachado e gritando. Benjamin corre.
BENJAMIN
(desesperado;
para si) Bolacha...
CORTA PARA:
CENA 32:
CONT. – EXT. ESTRADA – DIA
Sofia, sozinha atrás da árvore,
protege-se dos tiros inimigos enquanto tenta acertar os dois guardas que
restaram.
Um lado da árvore está sendo
alvejado. Sofia vai para o outro lado e atira, acertando a perna de um, que
cai. O segundo, acuado, atira incessantemente, explodindo pedaços de madeira e
terra ao redor de Sofia. Ela não consegue sair de trás da árvore para revidar.
Adriel aproxima-se do homem
furtivamente pela lateral e dá um único tiro no braço. O guarda cai gemendo de
dor.
SOFIA
Limpo,
Sofia!
Adriel vira o guarda de barriga
para cima e toma o revólver.
ADRIEL
Você tá bem
encrencado.
Sofia chega ali.
SOFIA
Valeu. Só é
uma pena o estado da árvore agora...
ADRIEL
Ela
aguenta. Agora pegue uma arma e vamos.
Sofia
toma um revólver de um guarda ferido e corre com Adriel para a sede, dessa vez
pela estrada, à vista de todos.
CENA 33:
CONT. – EXT. SEDE – QUINTAL – DIA
Os guardas no entorno da sede veem
Sofia e Adriel correndo e se aproximando.
CAPANGA
Chefe,
chefe! Lá!
O chefe chega ali.
CHEFE
Conseguiram
passar. Só podem ser policiais. Rum, são loucos.
O chefe saca seu próprio revólver.
CHEFE
Atirem pra
matar.
O chefe aponta a arma na direção de
Sofia e Adriel e todos os outros guardas fazem o mesmo.
SOFIA
Adriel,
atrás dos carros!
Os dois pulam para trás de alguns
carros estacionados meio segundo antes de dezenas de balas pipocarem no chão
onde estavam pisando.
SOFIA
Não vamos
conseguir derrubá-los! São muitos!
Adriel arrisca uma olhada através
da janela do carro, mas essa explode em mil pedaços.
ADRIEL
Vamos pra
sede! Por trás desses carros! É nossa única chance.
Abaixados atrás dos carros, Sofia e
Adriel partem em direção à sede.
CORTA PARA:
CENA 34:
CONT. – INT. COZINHA – DIA
A água na panela borbulha. Som do tiroteio
lá fora.
COZINHEIRO
Tragam ele.
Outros cozinheiros tiram a coleira
de Bolacha e tentam agarrá-lo. O animal recua para a parede e late para os
homens.
COZINHEIRO
Estão com
medo de latidos? Peguem logo ele!
Os cozinheiros avançam contra
Bolacha e o agarram. Ele morde algumas mãos que o levantam, mas há muitas
outras para sustentá-lo.
COZINHEIRO
Isso,
isso... Vamos, tragam.
Bolacha resiste. Contorce-se
tentando se soltar dos cozinheiros e continua a morder mãos que, irritadas,
revidam batendo nele. Bolacha não apenas late, mas grita também.
De repente Benjamin aparece na
porta da cozinha e vê a situação.
BENJAMIN
Bolacha!!!
Benjamin invade a cozinha correndo.
Desvia de um cozinheiro mas é pego por outro. No entanto, morde o braço do
homem com toda sua força e escapa. Agarra uma frigideira no caminho e corre.
COZINHEIRO
Quem é
esse?!
Benjamin sobe em uma mesa e mete a
frigideira no rosto de um dos cozinheiros. Outro larga Bolacha e avança contra
ele mas o garoto chuta, com a sola do sapato, o nariz do homem, que cai.
COZINHEIRO
(para
Benjamin) Eu te pego.
Com menos homens o segurando, Bolacha
contorce-se com mais força e morde uma das mãos que o segura. Finalmente
consegue escapar e cair no chão. Corre.
Benjamin tenta acompanhá-lo, mas o
cozinheiro o agarra com força e o imobiliza em seus braços.
COZINHEIRO
Não sei
quem você é, seu diabinho, mas não vai a lugar algum.
Ao perceber que seu amigo não o
está acompanhando, Bolacha para e olha para Benjamin preso nos braços do
cozinheiro. O cão intenta avançar contra o homem.
BENJAMIN
Não,
Bolacha! Não! Vai logo! Vai! Corre!
COZINHEIRO
Peguem o
cachorro!
Bolacha rosna e late para o
cozinheiro. Os outros homens vem para agarrar o cão novamente.
BENJAMIN
Corre,
Bolacha! Corre!
Com os cozinheiros se aproximando,
Bolacha finalmente dá meia volta e corre para o corredor.
CORTA PARA:
CENA 35:
CONT. – EXT. QUINTAL – DIA
De trás do último carro, Sofia e
Adriel atiram contra os guardas, derrubando alguns.
SOFIA
Bora!
Os dois levantam-se e correm para
uma entrada da sede. Tiros ainda são disparados em sua direção.
CORTA PARA:
CENA 36:
CONT. – INT. CORREDOR – DIA
Eugênio, segurando um revólver,
caminha firmemente pelo corredor. Abílio o alcança; continuam a caminhar.
ABÍLIO
O que está
acontecendo, tio? Ouvi dizer que estamos sendo invadidos!
EUGÊNIO
Estamos.
Não sei por quem, mas provavelmente é a polícia. São poucos, não mais que três,
mas estão fazendo um estrago e tanto.
ABÍLIO
Será que
isso tem a ver com o Syaoran?
EUGÊNIO
Não confio
nesses chineses, mas não faria sentido abrir a boca agora. Mandamos preparar
aquele cachorro como ele pediu, estava tudo ocorrendo normalmente.
ABÍLIO
Então, o
que faremos?
EUGÊNIO
Eu vou
resolver isso. E você...
Eugênio saca outro revólver.
EUGÊNIO
...segura
as pontas.
Abílio pega o revólver e para. Olha
da arma para Eugênio, que prossegue pelo corredor.
CORTA PARA:
CENA 37:
CONT. – INT. COZINHA – DIA
Benjamin tenta se soltar dos braços
do cozinheiro.
COZINHEIRO
Quem é
você?! Fala, moleque!
BENJAMIN
Me solta!
Me larga!
Abílio entra na cozinha segurando a
arma normalmente.
ABÍLIO
O que tá
acontecendo aqui?
COZINHEIRO
Pegamos esse
piá invadindo a cozinha... Não é filho de nenhum funcionário e muito menos um
dos imigrantes.
BENJAMIN
Me larga,
seu imbecil!
Abílio se aproxima. Percebemos que
ele reconhece Benjamin.
ABÍLIO
Quem é
você?
BENJAMIN
Não te
interessa!
ABÍLIO
(para o
cozinheiro) O que aconteceu?
COZINHEIRO
Ele invadiu
a cozinha, fez o maior escarcéu e infelizmente soltou o cachorro que o senhor e
seu tio me pediram pra preparar.
ABÍLIO
Incompetentes.
Então já devia ter deduzido: é óbvio que o cachorro é dele!
COZINHEIRO
Mas como
ele entrou aqui? Não deve ser coincidência ele aparecer justo quando estamos
sendo invadidos pela polícia. Diga, moleque! Como entrou aqui?!
ABÍLIO
(para o
cozinheiro) Isso não te diz respeito. Você não é da guarda e
muito menos dono da fazenda. Portanto larga ele e vai fazer sua obrigação, que
é cozinhar.
COZINHEIRO
Eu... devo
soltá-lo?!
ABÍLIO
Foi o que
eu disse. Ele vem comigo.
O cozinheiro solta Benjamin. Abílio
leva o garoto pelo braço.
BENJAMIN
Quero meu
cachorro! Quero o Bolacha!
CENA 38:
CONT. – INT. CORREDOR – DIA
Abílio arrasta Benjamin pelo braço.
Já distante da cozinha, param.
BENJAMIN
Já falei
pra me soltar!
ABÍLIO
Escuta! O
cachorro, esse Bolacha... Você veio por causa dele, certo?
BENJAMIN
Sim! E se
tocarem nele, se fizerem--
ABÍLIO
(interrompendo) Fica
quieto e escuta! Você veio resgatar ele. E eu posso te ajudar a fazer isso.
Podemos aproveitar que os policiais estão chegando. Os guardas estão todos
ocupados lá fora.
BENJAMIN
O senhor
Adriel e a senhora Sofia vão acabar com todos eles. E vão salvar os cachorros.
Abílio parece ter uma ideia.
ABÍLIO
E se nós
mesmos fizermos isso? É, claro... Depois posso ir e esperar na sua fazenda, até
que os policiais resolvam tudo por aqui.
BENJAMIN
Espera!
Como sabe que moro numa fazenda?
Abílio respira fundo.
ABÍLIO
Fui eu quem
invadiu sua casa e levou o tal Bolacha.
BENJAMIN
Você...
ABÍLIO
Mas eu não
tive escolha! Meu padrasto me obrigou! O tio Eugênio não é um bom homem, e você
não vai querer ficar perdendo tempo aqui esperando ele aparecer quando podemos
libertar os cães, vai?
Benjamin fita os olhos de Abílio.
BENJAMIN
Como posso
confiar em você?
ABÍLIO
Qual é,
pirralho?! Sou sua única chance aqui! Bora!
Abílio e Benjamin partem.
CORTA PARA:
CENA 39:
CONT. – INT. GALPÃO – DIA
Na entrada do galpão, Sofia e
Adriel lutam contra um homem. Sofia desfere um soco pela direita; quando o
homem vira com o impacto, Adriel o golpeia pela esquerda, fazendo com que ele
caia desacordado.
ADRIEL
Anda
malhando, é?
SOFIA
(ajeitando
os cabelos) Que bom que percebeu.
Eles adentram o galpão e veem o
grande cercado de areia.
SOFIA
Esse
cheiro...
Sofia abre o portão do cercado e se
agacha. Toca a areia e cheira.
ADRIEL
Só sinto
fedor de urina.
SOFIA
Tem
estimulante animal nessa areia. Devem trazer os cães aqui pra fazer as
necessidades.
Adriel olha para os fundos.
ADRIEL
Vou checar
os fundos.
SOFIA
OK.
Adriel sai e Sofia fica na quadra.
Do outro lado do galpão Eugênio aparece. Escondido atrás de uma coluna, ele
observa Sofia andando pela areia; nota a arma na mão dela. Então Eugênio ajeita
a sua própria nas mãos.
CORTA PARA:
CENA 40:
CONT. – IN. CORREDOR – DIA
Abílio e Benjamin chegam correndo à
porta da sala de depósito. Bolacha está ali, latindo para o interior do
recinto, onde os cachorros estão presos.
BENJAMIN
Bolacha!
Bolacha para de latir e olha feliz
para Benjamin, que o abraça com força.
ABÍLIO
É melhor
vocês fazerem isso depois. Me ajuda a abrir as gaiolas.
Abílio procura a chave da sala em
um molho.
BENJAMIN
Elas não
estão trancadas?
ABÍLIO
Eu tenho
todas as chaves aqui. Sou o responsável por cuidar deles.
BENJAMIN
Belo
cuidado.
Abílio destranca a porta e a abre.
ABÍLIO
Já disse, é
tudo culpa do tio Eugênio.
Abílio,
Benjamin e Bolacha entram.
CENA 41:
CONT. – INT. SALA DE DEPÓSITO – DIA
Bolacha fica agitado com o grande
número de cães e sua terrível situação. Ele percorre toda a sala cheirando as
gaiolas e emitindo sons que lembram chorinhos.
BENJAMIN
O Bolacha
não devia ver isso.
ABÍLIO
Presta
atenção. Eu vou destrancando e você se prepara pra abrir. Eles não vão correr
num primeiro momento, estão muito acostumados a andar com ordem. Mas vamos
estimulá-los a buscar a liberdade. Tudo bem?
BENJAMIN
Tudo bem.
CORTA PARA:
CENA 42:
CONT. – INT. GALPÃO – DIA
Sofia, agachada, raspa a areia nos
dedos. Do outro lado, Eugênio tem ela na mira; o dedo no gatilho.
Eugênio atira. Mas um instante
antes Sofia se levanta e a bala acerta a areia. Ela se assusta e corre para
fora do cercado ao mesmo tempo em que atira na direção da coluna onde Eugênio
está escondido.
EUGÊNIO
Não
adianta! Não me importa se você é policial! Invadiu minha fazenda, está na
minha casa! E por isso vai morrer!
Sofia se esconde atrás do cercado.
Eugênio sai de trás da coluna e avança para a quadra, ainda do lado oposto do
que está Sofia.
SOFIA
Se está tão
confiante... diga porque sequestrou os cachorros!
EUGÊNIO
Com o pé na
cova, isso é tudo que você quer? Mas já que faz questão... Os cães são pra
alimentar aqueles que vão levar meus negócios às alturas.
Sofia arrisca uma espiada por cima
do cercado.
EUGÊNIO
E isso é
tudo que você precisa saber!
Eugênio a vê e atira. As balas
acertam o cercado a centímetros do rosto de Sofia, fazendo com que ela se
abaixe novamente. Quando os tiros param Sofia se levanta pronta. Eugênio está se
aproximando pelos lados. Ela atira, mas erra. Ele pula atrás de algum
equipamento grande.
CORTA PARA:
CENA 43:
CONT. – EXT. VILA DOS TRABALHADORES – DIA
Confuso, Adriel entra na vila dos
imigrantes chineses. Uma IDOSA passa por ele.
ADRIEL
Licença,
senhora. Pode me entender?
A idosa o ignora e resmunga alguma coisa
em chinês.
ADRIEL
Que ótimo.
Adriel
nota que uma das casinhas está vazia. Olha para os lados e entra.
CENA 44:
CONT. – INT. CASA – DIA
Logo no primeiro cômodo há uma mesa
com diversos papéis e objetos espalhados. Entre eles, um recorte de jornal com
uma manchete: "IMIGRANTES CHINESES ILEGAIS PERMANECEM DESAPARECIDOS".
ADRIEL
(para si) Ora...
Ouvi falar de vocês... Quem diria...
De repente um vulto empurra Adriel
no chão e o golpeia, fazendo com que sua arma caia longe. É Syaoran.
Adriel se protege de um soco e
consegue jogar Syaoran para o lado. Levanta-se e empurra o chinês para fora da
casinha.
CORTA PARA:
CENA 45:
CONT. – INT. SALA DE DEPÓSITO – DIA
Benjamin termina de abrir as últimas
gaiolas. Mais de uma centena de vira-latas estão soltos ali. Alguns confusos,
outros começando a animar-se. Uns poucos já abanam o rabo com a situação
incomum e com a presença de Bolacha andando alegre entre eles.
ABÍLIO
Muito bem,
pirralho! Isso, bora! Todos vocês, bora! Bora! Vão! Sumam daqui! Vão logo!
Corram! Bora, cachorrada, sumam daqui logo! Vão!
BENJAMIN
Corram,
cachorrinhos! Corram! Estão livres! Corram!
Os cachorros passam pela porta e
lotam o corredor. A maioria não corre, mas alguns mais desinibidos se arriscam
a uma disparada. Pouco a pouco os outros, encorajados e inspirados, os imitam,
e então mais de uma centena de cães tomam o corredor.
ABÍLIO
Vão!
BENJAMIN
Corram!
CORTA PARA:
CENA 46:
CONT. – INT. GALPÃO – DIA
Eugênio, escondido atrás de um
equipamento, e Sofia, atrás do cercado, continuam a trocar tiros.
Algumas balas acertam o cercado.
Sofia se levanta, atira e volta a se abaixar quando Eugênio dispara. Então ela
atira novamente, mas a arma, ao invés de disparar, emite apenas um clique. No
meio tempo em que ela olha confusa para seu revólver, Eugênio sai de trás da
máquina e atira. Sofia é atingida no peito e, com o impacto, cai no chão.
SOFIA
Ah!...
Sofia olha para o buraco em sua
blusa. Ela aumenta o rasgo e vê que o colete parou a bala. Apesar de respirar
aliviada, Sofia passa a mão na região atingida com semblante de dor. É quando
Eugênio chega ali correndo. Com a arma em punhos, ele olha para Sofia caída e
impotente.
EUGÊNIO
Não devia
ter vindo aqui.
Eugênio aponta o revólver direto
para o rosto de Sofia e puxa o gatilho.
Mas a arma não dispara; apenas o
mesmo clique característico de falta de munição. Eugênio, confuso, olha para a
arma. É quando Sofia aproveita para chutar com força a mão que segura o
revólver, chutar a perna e se levantar desajeitadamente para afundar o pé no
estômago de Eugênio.
Ele é jogado para trás e se apoia
no portão do cercado. Quando Sofia avança novamente, Eugênio tenta esmurrá-la
meio sem jeito, mas ela desvia e joga o punho cerrado contra o nariz dele.
PUNCH! Eugênio cai na areia e imediatamente tenta se levantar, mas Sofia o
derruba com um forte golpe de cotovelo.
Eugênio cai com o nariz
ensanguentado e o rosto na areia.
CORTA PARA:
CENA 47:
CONT. – EXT. VILA DOS TRABALHADORES – DIA
Tendo alguns trabalhadores chineses
por plateia, Adriel e Syaoran travam uma dura luta corporal.
Syaoran joga Adriel na parede e
dispara uma série de socos. Adriel consegue se desvencilhar e empurra o homem.
Mas antes de conseguir acertá-lo, Adriel é surpreendido pela rapidez de Syaoran
e é derrubado com força. Syaoran fica por cima de Adriel e dá uma sequência de
murros fortes em seu rosto. Um, dois, três, quatro, cinco, seis e o sétimo,
mais forte.
Syaoran sai de cima de Adriel e
corre para dentro da casinha. Adriel, nocauteado, tenta se levantar, mas antes
que consiga, Syaoran volta com o revólver perdido de Adriel e o aponta para o
policial.
SYAORAN
Pelo meu
povo.
É quando um pedaço de madeira
acerta Syaoran por trás e ele cai inconsciente. Adriel olha e vê uma MULHER
chinesa segurando a madeira.
Alguns poucos chineses rebeldes
comemoram a derrota de seu líder.
ADRIEL
Demorou...
mas grato... Arigato... Ou seja lá como se agradece em chinês...
CORTA PARA:
CENA 48:
CONT. – INT. GALPÃO – DIA
Com uma mão pressionando a cabeça de
Eugênio contra a areia e a outra algemando os braços, Sofia ouve algo. Franze o
cenho e olha na direção do corredor.
De repente, o exército de mais de
100 cachorros surge no galpão e passa a toda velocidade pelo lado de fora do
cercado de areia. Sofia sorri.
SOFIA
Isso...
Eugênio, imobilizado, olha o
intenso movimento sem entender. Latidos e poeira tomam o ar. Cães de todas as
cores e tamanhos correm animados rumo à liberdade.
SOFIA
Vão,
corram!
Eles passam e somem pela porta do
outro lado do galpão.
EUGÊNIO
O que
fizeram?...
SOFIA
Quebramos
seus negócios.
Um último cachorro atrasado vem do
primeiro corredor. É um minúsculo CHIHUAHUA. Ele movimenta as pernas com
rapidez, mas devido ao tamanho, sua velocidade é baixa.
SOFIA
Um
chihuahua? Oi, amiguinho... Está atrasado.
Ao invés de prosseguir para fora, o
chihuahua entra na quadra de areia.
SOFIA
Seus
companheiros já foram. Já devem estar comemorando lá fora...
O chihuahua começa a cheirar a
areia.
SOFIA
Hum...
O cão chega aos pés de Eugênio e
cheira a areia grudada ao longo de toda sua roupa.
SOFIA
Acho que
você está no lugar certo pra fazer o que quer fazer.
O chihuahua chega até o rosto de
Eugênio, sujo de areia, e continua a cheirar.
EUGÊNIO
Sai,
cachorro... Sai daqui... Tsc, sai!
Estimulado, o chihuahua se
posiciona, levanta uma pata traseira mirando o rosto de Eugênio e libera um
jato de urina.
Eugênio, agoniado, fecha os olhos e
tenta virar o rosto, mas sem muito sucesso. Sofia observa a situação com um
sorriso de canto de boca.
EUGÊNIO
Sai daqui,
desgraça! Sai! Ai! Que nojo! Sai, cachorro! Aai! Sai, imundiça!
Terminado o ato, o chihuahua joga
areia para trás, no rosto molhado de Eugênio, e vai embora.
SOFIA
(para o
chihuahua) Te vejo lá fora...
CORTA PARA:
CENA 49:
CONT. – EXT. QUINTAL – DIA
Diversas viaturas, ambulâncias,
carros da imprensa e do CCZ estão espalhados pelo quintal de entrada da sede, e
entre eles policiais, socorristas, jornalistas e os mais de 100 cachorros.
Dezenas de cidadãos também estão ali à procura de seus cães perdidos ou a fim
de adotar um.
No meio disso, Lúcia e Carlos, preocupados,
notam Benjamin e Bolacha entre a multidão.
LÚCIA
Ben!
Bolacha!
Benjamin e Bolacha correm para o
casal e o garoto os abraça.
LÚCIA
(abraçando) Bem! Meu
filho...
BENJAMIN
Desculpa,
mãe...
CARLOS
Tá tudo
bem, filho?
Lúcia o solta.
LÚCIA
Meu Deus,
que que você foi fazer, Ben?...
BENJAMIN
Desculpa,
mãe e pai, mas eu não podia deixar eles maltratarem o Bolacha.
Lúcia e Carlos acariciam Bolacha.
BENJAMIN
(empolgado) Vocês tinham
que ver, nós fugimos de uns homens malucos e depois tivemos ajuda e daí
conseguimos soltar todos os cachorros sequestrados! O Bolacha foi muito
corajoso!
Lúcia franze o cenho.
LÚCIA
(com a mão
no peito) Que perigo, Ben... Você sabe que merece é um belo castigo, né?
Benjamin olha para Bolacha e para
os cachorros espalhados por ali.
BENJAMIN
Por eles...
acho que eu aceito...
Carlos levanta uma sobrancelha para
Lúcia. Então Sara chega ali.
CARLOS
Ben, lembra
do que eu te falei. Tá bom?
Carlos faz um aceno com a cabeça e
se afasta com Lúcia.
SARA
Ben! Que
bom que você tá bem!
A garota o abraça forte. De início
Benjamin não tem reação, depois também abraça a amiga.
SARA
(soltando-o) Eu falei que
ia ficar tudo bem com o Bolacha--
BENJAMIN
(interrompendo) Obrigado,
Sara! Obrigado por... por acreditar em mim...
SARA
Nós não
somos amigos? Minha mãe sempre diz que é pra isso que servem os amigos...
Sara sorri, beija a bochecha de
Benjamin e sai correndo. O garoto encara o nada por uns segundos e então olha
para Bolacha, deitado, que prefere virar a cabeça para o outro lado grunhindo.
Em outro canto da aglomeração,
Sofia, Adriel e Cátia observam Joaquim, Cecília e sua filha acariciando Dudu.
CECÍLIA
Nem sei
como agradecê-los! Mas seremos eternamente gratos a vocês!
ADRIEL
(para a
garota) Você está feliz?
A menina olha para Adriel com um
belo sorriso e faz que sim com a cabeça.
ADRIEL
Pronto.
Esse sorriso paga tudo.
Bárbara chega ali.
BÁRBARA
Oi...
SOFIA
(para os
outros) Licença.
Sofia e Adriel acompanham Bárbara.
SOFIA
Bárbara...
BÁRBARA
Eu já sabia
da competência de vocês, mas isso aqui... Invadir uma fazenda com uma guarda
armada... Os reforços já estavam à caminho.
SOFIA
Nós
pretendíamos espera-los, (olhando Benjamin e Bolacha perto dali) mas
houve um contratempo.
BÁRBARA
O menino
Benjamin... Fiquei sabendo.
ADRIEL
E os
gringos? Tinham mesmo a ver com o naufrágio?
SOFIA
Naufrágio?
Eles param.
BÁRBARA
Uma
embarcação lotada de imigrantes chineses naufragou há cerca de 1 ano no litoral
do Nordeste. Vasculharam os destroços, o fundo do mar e até o continente, mas
nunca encontraram ninguém. Eugênio, em busca de mão de obra barata, deve tê-los
trazido para cá com promessas de uma vida melhor.
ADRIEL
Era a única
chance deles.
SOFIA
E o que
será deles agora?
BÁRBARA
A imigração
e a embaixada chinesa já estão à par, e o processo certamente será longo, mas
dada a convergência com outro caso notável, arrisco dizer que serão inseridos
legalmente no país. É isso ou deportação.
SOFIA
Se ficarem
aqui terão que mudar o hábito alimentar.
BÁRBARA
Os cães
eram para uma festa em que comemorariam a saída do país deles. Tipo uma páscoa.
Eles não tem o hábito de consumi-los.
SOFIA
Menos mal.
CORTA PARA:
CENA 50: EXT.
FAZENDA DE EUGÊNIO – SEDE – QUINTAL – DIA – MOMENTOS DEPOIS
Atrás de um carro e afastado da
multidão, Bruno chora encarando o horizonte verde. Sofia, com os olhos
vermelhos, chega discretamente por trás, mantendo alguns metros entre eles.
Então ela nota que três dos cachorros estão sentados, um ao lado do outro,
observando atentamente o rapaz, mas ele ainda não os percebeu.
SOFIA
(limpando
uma lágrima) Parece que eles se afeiçoaram a você...
Bruno se assusta e vira para trás.
Chorosa, Sofia sorri e Bruno vê os três cães olhando para ele.
BRUNO
Não é
possível... Eles sentem... Como ainda querem alguém que... que nem conseguiu...
cuidar de um só?...
Bruno derrama mais lágrimas e Sofia
se aproxima.
SOFIA
(acariciando
os cães) O que podemos fazer se... se são eles que nos escolhem?... Eles
escolheram você, Bruno. Já existe um pacto... Pelo menos pro coraçãozinho
deles.
Bruno olha para os três cachorros e
balança a cabeça negativamente. Sofia olha para a aglomeração e de volta para
Bruno.
SOFIA
Quando
estiver preparado... você pode ir ver o Pingo. E depois, se quiser, poderá
ficar com eles. Com alguns ou com todos... Você é quem sabe, Bruno.
Sofia se aproxima mais e o abraça.
Depois o solta e sai. Bruno cai de joelhos, ao que os três cães se aproximam e
o lambem.
CORTA PARA:
CENA 51:
MONTAGEM: EXT. FAZENDA DE EUGÊNIO – SEDE – QUINTAL – DIA
A
trilha sonora sobe e vemos pessoas reencontrando seus cães desaparecidos,
outros acariciando um a fim de conquistá-lo e mais outros dando petiscos a
eles.
CENA 52:
MONTAGEM: EXT. MANSÃO FAMÍLIA DE DUDU – QUINTAL – DIA
A
montagem continua. Joaquim, Cecília e sua filha jogam bola na piscina.
Aproveitando um levantamento, Dudu, do lado de fora da piscina, corre e
cabeceia a bola. Com a jogada ele cai na água entre os três. Todos riem e o
abraçam.
CENA 53:
MONTAGEM: EXT. CASA DE BRUNO – RUA – NOITE
A
montagem continua. Com seu portão aberto e dois dos cães que o escolheram aos
seus pés, Bruno assovia para o terceiro, junto com Fátima, do outro lado da
rua. O cão vem correndo e se junta a eles, que entram. Sorridente, Bruno acena
para Fátima e fecha o portão. Ela retribui o aceno.
CENA 54:
MONTAGEM: CONT. – INT. SALA – NOITE
A
montagem continua. Bruno e os cães entram na casa. Ele fala e eles brincam,
latem... Suavemente a câmera os abandona e percorre um móvel com fotos em porta-retratos.
Em algumas vemos Bruno e Pingo, alegres, fazendo poses, e em outras somente
Pingo brincando.
CENA 55:
MONTAGEM: INT. SORVETERIA – DIA
A montagem continua. O ATENDENTE
atende os clientes com extrema gentileza e cordialidade. Sorri, distribui doces
às crianças, faz reverências desconcertantes...
Então
atende a SENHORA que destratou na cena 27 do episódio anterior. Enche-a de
brindes, gesticula firmemente para que ela não pague determinado produto, corre
de trás do balcão para acompanhá-la até a saída, abre a porta e beija sua mão.
A senhora, um tanto confusa, sai. O atendente então olha com nervosismo para o
carro preto estacionado do outro lado da rua, acena com um sorriso idiota e
volta para dentro da sorveteria. A câmera permanece no carro: o vidro se abaixa
e não é Adriel, mas um homem mal-encarado que mostra o dedo obscenamente para
onde estava o atendente.
CENA 56:
MONTAGEM: INT. DELEGACIA – DIA
A montagem continua. Abílio e uma
mulher estão sendo atendidos em uma das mesas da delegacia. O policial chega
ali segurando alguns documentos e entrega à ela, que começa a escrever. A
câmera se aproxima e vemos ela preenchendo o campo "Grau de
Parentesco": "Tia".
Com
tudo pronto, o policial os despede e Abílio sai com sua tia.
CENA 57:
MONTAGEM: INT. PRISÃO – ALA DAS CELAS – DIA
A montagem continua. Dois policiais
levam Eugênio, algemado, por um corredor com celas dos dois lados. Ele caminha
com a cabeça reta, mas o olhar baixo. Chegam à cela de destino. Um dos
policiais tira sua algema enquanto o outro abre a grade.
Com
os braços livres, ele é colocado lá dentro e a grade se fecha. Eugênio é
cercado pelos outros presos, que se aproximam cada vez mais, encarando-o com
malícia.
CENA 58:
MONTAGEM: EXT. RUA COMERCIAL DE MANAUS – DIA
A montagem continua. Por entre a
multidão, Adriel vem descendo um calçadão apenas para pedestres com barracas de
vendas dos dois lados. Ele pega o celular no bolso e há uma mensagem de
Roberto, que diz: "Nas próximas semanas estarei indo até Boa Vista. Vou
passar em Manaus. Quero te ver no aeroporto".
Com o sol no rosto, Adriel olha
para frente e guarda o celular. Volta a caminhar.
FIM DA MONTAGEM.
CORTA PARA:
CENA 59:
EXT. MIRANTE PRAIA DA PONTA NEGRA – DIA
Imagens aéreas da Praia da Ponta
Negra.
Em um dos mirantes com vista para a
orla e para a praia cheia de banhistas, Sofia observa a paisagem à sua frente
escorada no guarda-corpo metálico. Fábio chega abraçando-a por trás e beijando
seu pescoço.
FÁBIO
Vai ficar
só olhando ou vai entrar?
Sofia olha para ele.
SOFIA
Eu que te
pergunto.
E
sai correndo. Fábio a persegue.
CENA 60:
EXT. PRAIA DA PONTA NEGRA – DIA
Atravessando a praia, Sofia arranca
sua roupa e entra no rio de biquíni. Fábio tira sua camisa e a alcança na água.
Riem, jogam água um no outro e por fim se agarram e se beijam apaixonadamente.
CORTA PARA:
CENA 61:
EXT. FAZENDA FAMÍLIA DE BENJAMIN – REDONDEZAS – DIA
Lúcia, Carlos e a SOGRA com
NAPOLEÃO observam Benjamin, Bolacha e Sara próximos à laranjeira, agora grande
e já com os primeiros frutos. Surge a legenda: TEMPOS DEPOIS.
LÚCIA
(para
Carlos; observando Benjamin e Sara) Você tinha razão sobre o tratamento.
O Ben evoluiu muito de lá pra cá.
CARLOS
Eu sempre
acreditei no tratamento, mas nós dois também temos nosso mérito. Fomos sua base
e conseguimos fazer ele entender. Você é uma ótima mãe, Lúcia.
Eles trocam um beijo.
LÚCIA
(sorrindo) Obrigada,
paizão.
A sogra observa o beijo deles com a
cara amarrada.
SOGRA
E então,
vamos começar ou não vamos? Não posso ficar muito tempo no sol, eu passo mal.
Lúcia se aproxima da laranjeira.
LÚCIA
Vamos sim,
mãe. Finalmente poderemos comparar o crescimento dos meus lindões! Eu disse que
valeria a pena, Ben.
SOGRA
Mas será
que essas laranjas prestam mesmo, Lúcia? O Carlos não quis usar o adubo que eu indiquei...
CARLOS
Se forem
azedas são da senhora. Combinam.
SOGRA
Hein?
CARLOS
Nada.
LÚCIA
Tá na hora,
abram espaço, bora! Vem, mãe, vamos deixar os meninos aí.
Lúcia, Carlos, Sara e a sogra - emburrada
- segurando Napoleão se afastam. Benjamin e Bolacha se posicionam. Lúcia liga
sua câmera e aponta.
CARLOS
Segurando a
laranja, Ben!
Benjamin segura a laranja
dependurada.
LÚCIA
Prontos?
BENJAMIN
Espera!
LÚCIA
Que foi,
amore?
BENJAMIN
Sara! Vem!
Sara olha para os pais de Benjamin.
CARLOS
Vai, vai
lá!
LÚCIA
Pode ir,
Sara! A foto vai ficar ainda mais bonita!
SARA
(sorrindo) Tá bom.
SOGRA
Espere!
LÚCIA
O que foi,
mãe?
SOGRA
Leve o
Napoleão, menina. Se o Bolacha pode ele também pode.
SARA
Tá bom.
Sara pega Napoleão no colo e vai.
SOGRA
Isso. Cuidado,
ele tem alergia ao Bolacha. Não deixe aquele peste chegar perto do meu
Napoleão.
Benjamin recebe Sara com um sorriso
e eles se posicionam, da esquerda para a direita: Benjamin segurando a laranja
dependurada com a mão direita e abraçando Bolacha com a esquerda, Bolacha e
Sara com Napoleão no colo.
LÚCIA
Todo mundo,
digam chis!
BENJAMIN,
SARA, LÚCIA, CARLOS, SOGRA
Chis!
Então vemos pela câmera de Lúcia.
Bolacha late e Napoleão mia. A filmagem congela em uma foto.
FADE OUT:
Começam os créditos.
FIM
No próximo episódio:
Sofia e Adriel mergulham em uma
trama de amor e misticismo ao investigar um homem que matou um boto-cor-de-rosa
por acreditar que o bicho, em sua forma humana, seduziu sua filha.
Obrigado pelo seu comentário!