ESPERANÇA
Capítulo 16
Novela criada e escrita por
Wesley Franco
CENA
1. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE - NOITE
Isabella
e o delegado Afrânio estão sentadas em uma mesa afastada, com duas taças de vinho
à frente. Isabella sorri para o delegado, enquanto ele conta uma história
engraçada sobre suas aventuras.
AFRÂNIO (RINDO ALTO) –
E você acredita, Isabella? O sujeito estava tão bêbado que tentou me subornar
com um pedaço de queijo, achando que era uma barra de ouro.
ISABELLA (RINDO) –
Essas histórias só acontecem com você, delegado.
Isabella
desvia o olhar por um momento, percebendo uma expressão de preocupação se
formando em seu rosto.
ISABELLA (SÉRIA) –
Com licença, delegado, preciso ir até o quarto ver como está a Yvette.
AFRÂNIO
– Claro, claro, vá lá. Mande meus
cumprimentos a ela.
Isabella
se levanta e atravessa o salão, subindo as escadas com pressa. A música e o
riso ficam para trás enquanto ela avança pelo corredor silencioso em direção ao
quarto de Yvette. O quarto está à meia-luz, com apenas um abajur iluminando o
ambiente. Madame Yvette está deitada na cama, com a respiração pesada e irregular,
parecendo quase desfalecer. Sua pele está pálida, e o suor brilha em sua testa.
Isabella se aproxima rapidamente, o desespero é evidente em seus olhos, ela se
ajoelha ao lado da cama.
ISABELLA –
Yvette! Vou chamar um médico, você parece muito mal, espere só um pouco.
YVETTE (COM VOZ FRACA) –
Não...é tarde demais, minha querida. Fique aqui...segure minha mão, tudo que eu
sempre temi na vida era morrer sozinha. Não quero morrer sozinha.
Isabella segura a mão de Yvette com força, as lágrimas
começam a rolar pelo seu rosto.
ISABELLA (CHORANDO) –
Por favor, Yvette, não me deixe. Não vá agora, você ainda tem tanto para
viver...
YVETTE (COM UM LEVE SORRISO) – Eu já vivi demais, minha hora chegou, Isabella.
E...eu...agradeço por ter cuidado de mim...por ter sido como uma filha...
ISABELLA (CHORANDO) – Eu
é que te agradeço por ter me recebido aqui no momento que eu mais precisei, por
ter me ensinado tantas coisas, e por ter me ajudado a me tornar essa mulher
forte que sou hoje.
Madame
Yvette olha para Isabella com um olhar de cumplicidade, dá um leve sorriso e
inspira profundamente uma última vez e, com um suspiro, seu corpo relaxa.
Isabella, ainda segurando sua mão, soluça e se debruça sobre ela, chorando
desesperadamente.
ISABELLA
(GRITANDO EM MEIO ÀS LÁGRIMAS) –
Não! Yvette, por favor...não...
Ela
continua a segurar a mão de Yvette com força, como se tentasse trazê-la de
volta à vida, mas aos poucos, aceita a dura realidade. Isabella então se
levanta, enxuga as lágrimas, mas seu olhar permanece perdido, ela beija a testa
de Yvette com ternura antes de sair do quarto.
CORTA PARA:
CENA
2. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE - NOITE
O
salão do bordel continua repleto de vida. A música alta, risadas e vozes
embriagadas preenchem o espaço. Isabella desce as escadas lentamente, seu rosto
marcado pelas lágrimas e pela dor. Ela para no meio da escada e olha para os
presentes com um olhar firme, apesar da tristeza evidente.
ISABELLA (GRITANDO COM A VOZ EMBARGADA) – Parem essa música! Parem o som, agora!
A
música cessa de repente, e o salão mergulha em um silêncio tenso. Todos os
olhares se voltam para Isabella, que está parada no meio da escada, respirando
pesadamente.
ISABELLA –
Madame Yvette...morreu.
O
salão fica em choque com o que acabam de ouvir. Um murmúrio de incredulidade percorre
o ambiente, e o silêncio logo é preenchido pelo som de soluços e suspiros.
Robervaldo, Zuleika, Florzinha, Carolina e Mara correm em direção a Isabella
para abraça-la. Eles se abraçam em um círculo apertando, chorando pela perda de
Yvette.
ROBERVALDO (CHORANDO) –
Não pode ser...Não a nossa Yvette, nos deixou...
FLORZINHA (SOLUÇANDO) –
Ela era como uma mãe para nós...
CAROLINA (AOS PRANTOS) – Como
vai ser daqui pra frente sem ela?
Teodora
observa a cena à distância, com os olhos marejados. Embora não vá até Isabella,
ela se junta ao grupo no degrau mais próximo, com a tristeza evidente em seu
rosto. Ela cruza os braços sobre o peito, como se tentasse conter a dor.
TEODORA (EM VOZ BAIXA) –
Que Deus a tenha...
O
salão, antes tão vibrante, se transforma em um lugar sombrio e melancólico. Os
outros frequentadores, antes eufóricos, agora estão em silêncio, tocados pela notícia
da morte de Madame Yvette. Alguns homens abaixam a cabeça em respeito, outros
suspiram pesadamente, com expressões de pesar.
ISABELLA –
Nós vamos honrá-la! Vamos continuar o trabalho dela, do jeito que ela nos
ensinou...com dignidade. Ela sempre estará conosco.
Isabella
enxuga as lágrimas do rosto, mas sua voz ainda está trêmula. Robervaldo e as
meninas assentem com a cabeça, tentando se recompor.
CORTA PARA:
CENA
3. INT. CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – SALA DE JANTAR – NOITE
Rodolfo
entra em casa apressado, visivelmente suado e cansado, ao passar pela sala de
jantar, encontra Martina terminando de retirar os pratos da mesa. Ele se senta em
uma das cadeiras e solta um suspiro de cansado.
MARTINA –
Vou esquentar o jantar para você.
Antes
que Martina possa se mover, Jerônimo, que estava sentado na cabeceira da mesa,
segura firmemente o braço dela, fazendo-a parar. Ele lança um olhar severo para
Rodolfo.
JERÔNIMO –
Ela não vai esquentar nada! O jantar já acabou, e quem quisesse comer, chegasse
na hora.
Rodolfo
respira funda, tentando manter a calma, enquanto olhara para Jerônimo com um
olhar de frustação.
RODOLFO – Eu
me atrasei porque estava procurando trabalho, não deu pra chegar antes.
JERÔNIMO –
História para boi dormir! Se quisesse mesmo trabalhar, já teria arranjado
alguma coisa.
Rodolfo
se levanta de repente, a cadeira se arrasta ruidosamente pelo chão. Com raiva
nos olhos, ele encara Jerônimo.
RODOLFO –
Um dia o senhor ainda vai me respeitar.
Rodolfo
sai da sala, subindo as escadas de dois em dois degraus, e bate a porta do
quarto com força. Martina, visivelmente abalada, encara Jerônimo com
desaprovação.
MARTINA –
Você não precisava ser tão duro com ele. Ele está se esforçando para conseguir
um emprego.
JERÔNIMO –
Ele precisa é virar homem! Passar o dia vadiando na rua não vai encher a
barriga dele, nem ajudar a sustentar essa casa.
Jerônimo
se levanta e se aproxima de Martina com um olhar dominador, passa a mão pelo
cabelo dela, mas sua expressão é fria.
JERÔNIMO –
Vou subir, não demora, e quando vier, trate de estar bem cheirosa, sem esse
cheiro de gordura.
Martina
baixa a cabeça em submissão enquanto Jerônimo se afasta e sobe as escadas. Ela
respira fundo, com os olhos marejados, e retorna silenciosamente à cozinha para
terminar os afazeres domésticos.
CORTA PARA:
CENA
5. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA – NOITE
Após
o jantar, todos estão reunidos na sala de estar. O ambiente é descontraído e há
um clima de animação. Coronel Almeida está sentado em sua poltrona favorita,
com Dorotéia ao seu lado. Helena e Marcos estão próximos, enquanto Camila e Inácio
compartilham o sofá. Almeida toma um gole de conhaque e elogia a refeição.
ALMEIDA –
Jantar excelente, como sempre. Nina sabe o que faz na cozinha.
HELENA (SORRINDO) –
Minha mãe sempre foi uma cozinheira de mão cheia.
INÁCIO – Esse
tempero não tem igual! A gente fica mal-acostumado.
Camila,
sentada ao lado de Inácio, dá uma risadinha e olha para os demais.
CAMILA – Lá no
Rio Grande, minha avó Eulália mudava de cozinheira o tempo todo, nunca estava
satisfeita com nenhuma. Coitadas, mal chegavam e já estavam indo embora.
Todos
riem da história. Marcos aproveita a deixa e pergunta à irmã.
MARCOS (CURIOSO) –
E por que a vovó não voltou com você?
CAMILA –
Preferiu ficar mais um tempo por lá, mas logo estará aqui, podem apostar.
Inácio
se levantado sofá e ajeita o paletó, preparando-se para sair. Ele se despede do
Coronel e de Dorotéia com um sorriso.
INÁCIO –
Agradeço pelo jantar, estava tudo ótimo. Foi um prazer.
ALMEIDA –
O prazer é nosso, rapaz. Apareça sempre, nesta casa você é sempre bem-vindo.
Camila
se levanta para acompanhar Inácio até a porta. Do lado de fora, sob a luz suave
da lua, ela sorri agradecida.
CAMILA –
Obrigada pelas flores, foi um gesto muito lindo.
Inácio
pega delicadamente a mão de Camila e beija-a.
INÁCIO – O prazer
foi todo meu, Camila. Espero vê-la mais vezes.
Inácio
se despede, entrando em seu automóvel estacionado na frente da casa, enquanto
Camila o observa se afastar. Ela respira fundo e entra novamente na casa, com
um sorriso discreto no rosto.
CORTA PARA:
CENA
6. INT. IGREJA – DIA
Isabella
entra na igreja, vestindo um vestido preto, elegante, mas discreto, ela caminha
até o altar onde Padre Olavo, arruma alguns objetos religiosos.
ISABELLA –
Padre Olavo.
PADRE OLAVO (SURPRESO) –
Isabella, minha filha, que surpresa você aqui.
ISABELLA –
Padre Olavo, preciso pedir que o senhor realize a missa de corpo presente da
Yvette hoje à tarde. Ela apresar de não frequentar a igreja, era uma mulher muito
religiosa em seu coração.
Padre
Olavo observa Isabella por um momento, depois sorri levemente e concorda com um
aceno de cabeça.
PADRE OLAVO –
Claro, Isabella. Todos merecem uma despedida digna, e Yvette também é uma filha
de Deus.
ISABELLA (EMOCIONADA) –
Obrigada, padre. Isso significará muito para mim.
Ela
faz o sinal da cruz e se vira para sair. Ao deixar a igreja, Isabella cruza com
Chandra Dafni, Leda e Mariana. Leda, sempre vestida de preto desde a viuvez, e
Chandra Dafni, lançam olhares de desdém para Isabella e fazem o sinal da cruz,
murmurando algo entre si. Mariana, tímida, desvia o olhar. Elas se aproximam do
Padre Olavo.
CHANDRA DAFNI (IRÔNICA) –
O que uma mulher da vida estaria fazendo dentro da casa do Senhor?
PADRE OLAVO –
Ela veio pedir para que eu rezasse a missa de corpo presente de Madame Yvette,
que faleceu.
Leda
fica indignada e olha para o padre com um ar de reprovação.
LEDA – E o
senhor aceitou? Como pode? Rezar uma missa para uma meretriz? Isso é uma
afronta a esta paróquia e a todos nós, mulheres de bem!
PADRE OLAVO –
Leda, todos nós pecamos de alguma forma. E como cristãos, não podemos negar a última
prece a uma alma.
LEDA (AMEAÇA) –
Padre Olavo, com todo respeito, se o senhor realizar essa missa, não restará
uma só senhora decente que continue a apoiar a paróquia. Pode apostar que todas
as doações irão cessar. É uma vergonha dar o mesmo destino a uma pecadora que
se dá a uma alma pura.
Padre
Olavo hesita, visivelmente preocupado. Após um momento de silêncio, ele cede.
PADRE OLAVO –
Está bem...não rezarei a missa.
Ele
se vira para Gustavo, um jovem seminarista que estava próximo, assistindo à
conversa.
PADRE OLAVO –
Gustavo, vá até o bordel e avise a Isabella que, infelizmente, não poderei
realizar a missa.
Antes
que Gustavo pudesse responder, Leda o interrompe.
LEDA – E diga
também que Madame Yvette não será enterrada no cemitério da cidade. Aquele
lugar é para pessoas decentes.
PADRE OLAVO –
Mas, Leda, o cemitério é para todos...
LEDA (FIRME) –
Eu mesma vou falar com o administrador do cemitério e garantir que isso não
aconteça. Algumas coisas ainda precisam ter limite, padre.
Padre
Olavo suspira profundamente, resignado. Gustavo sai da igreja com pressa,
ciente da difícil tarefa que tem pela frente.
CORTA PARA:
CENA
7. INT. SÃO PAULO – CONFEITARIA – DIA
A
confeitaria é um ambiente de requinte, com mesas de mármore, lustres de cristal
e uma suave música clássica tocando ao fundo. Constância, uma mulher bela e
sedutora de 45 anos, está sentada sozinha em uma mesa, saboreando uma xícara de
café. Seu vestido elegante e joias discretas destacam sua sofisticação.
Fernando, entra na confeitaria e logo chama a atenção de Constância. Eles
trocam olhares, e ele percebe o interesse dela. Fernando se senta em uma mesa próxima,
observando Constância com um leve sorriso. Ela retribuiu o sorriso com charme.
Ele se levanta, caminha até ela e faz uma leve reverência.
FERNANDO (SORRINDO) – Com
licença, senhora. Não pude deixar de notar que tomava um café sozinha. Posso
lhe fazer companhia?
CONSTÂNCIA (SORRINDO) –
Senhorita! É claro. Por favor, sente-se.
Ela
indica a cadeira à sua frente. Fernando se senta à mesa, mantendo o olhar fixo
em Constância, que sorri de forma sedutora.
FERNANDO –
Perdoe a intromissão. Meu nome é Fernando. E a senhorita como se chama?
CONSTÂNCIA (SORRINDO) –
É um prazer, Fernando. Quanto a meu nome, prefiro que por enquanto não saiba.
Os
dois trocam olhares profundos e cumplices. A conversa flui naturalmente,
enquanto ambos demonstram um interesse evidente um pelo outro.
CORTA PARA:
CENA
8. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO – DIA
O
bordel está mais calmo, com as cortinas parcialmente fechadas e um ar de luto
no ambiente. Gustavo, o seminarista, entra apressado, atravessando o salão
vazio. Isabella, ainda abalada, está no fundo da sala conversando com
Robervaldo. Ao vê-lo, ela se aproxima.
ISABELLA –
Você por aqui?
Gustavo
abaixa a cabeça por um momento, depois a ergue novamente.
GUSTAVO (HESITANTE) –
O padre Olavo decidiu que não poderá mais rezar a missa de Madame Yvette.
Isabella
sente o impacto das palavras, mas ainda tenta entender a situação.
ISABELLA –
Por que? O que aconteceu?
GUSTAVO –
A viúva Leda e algumas outras senhoras fizeram pressão sobre ele. Ameaçaram
cortar as doações à paróquia se ele realizasse a cerimônia.
Isabella
aperta os punhos e tenta conter a raiva, mas Gustavo continua acrescentando a
última parte com dificuldade.
GUSTAVO –
E... também mandaram avisar que o enterro de Yvette no cemitério está proibido.
Leda disse que vai falar com o administrador para garantir que isso aconteça.
Isabella
leva a mão ao rosto, incrédula e revoltada. Gustavo, sem ter mais o que dizer,
faz uma breve reverência e sai, sentindo-se impotente. Zuleika, Florzinha,
Mara, Teodora, Carolina e Robervaldo, que escutam a conversa de perto, se reúnem
em torno de Isabella.
ROBERVALDO (PERPLEXO) –
Isso é uma crueldade sem tamanho. A Yvette merecia ser enterrada como qualquer
outra pessoa.
ZULEIKA –
Depois de tudo que ela fez por essa cidade, é uma injustiça!
FLORZINHA (INDIGNADA) –
É um absurdo que isso esteja acontecendo.
Isabella
respira fundo e seu olhar se torna determinado. Ela levanta o queixo, ergue a
voz e fala com firmeza.
ISABELLA (DECIDIDA) –
Elas podem até obrigar o padre a não rezar a missa, mas não vão impedir que
Yvette seja enterrada no cemitério. Aquele lugar é público, e ninguém tem o
direito de negar um enterro digno a ela.
As
meninas e Robervaldo observam com atenção, enquanto Isabella continua.
ISABELLA –
Espalhem pela cidade que se essa proibição continuar, o bordel vai entrar em
greve por tempo indeterminado. Não vai ter bebida, dança, nem companhia para
ninguém. E avise aos clientes que não aparecer no cortejo do enterro de Yvette,
nunca mais vai pisar aqui.
Teodora
olha para Isabella com surpresa e admiração. Carolina se aproxima e coloca a
mão sobre o braço de Isabella.
CAROLINA –
Estou com você, Isabella. Vamos lutar por Yvette.
TEODORA –
Nunca pensei que fosse dizer isso, mas você está certa. Não podemos aceitar
essa humilhação.
ROBERVALDO –
Vou espalhar o recado para todos. Eles vão ter que nos ouvir!
FIM DO CAPÍTULO
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