JÚLIA
Uma novela criada e escrita por
RAMON FERNANDES
CAPÍTULO 23
Últimas Semanas
CENA 01. MANSÃO ASSUNÇÃO. JARDIM. EXTERIOR. NOITE
Continuação imediata do capítulo anterior.
DAVI SAI DO ALTAR E VAI CORRENDO ATÉ PAULINA.
DAVI — (A sacudindo) O que você tá falando, Paulina? O meu pai o que? Grita) Fala, Paulina!
LEANDRO — (O afastando) Calma, Davi!
PAULINA — (Chorando) O doutor Roberto foi morto lá no escritório.
LEANDRO E DAVI CORREM PARA O INTERIOR DA CASA. PAULINA ALI CHORANDO. MARIA EDUARDA MUITO ABALADA COM A NOTÍCIA, TAMBÉM SE ENCAMINHA PARA O INTERIOR DA MANSÃO. INGRID E ARTHUR SE ENTREOLHAM, TENSOS. CLIMA DE TENSÃO ENTRE OS CONVIDADOS QUE ALI ESTÃO. VITÓRIA ESQUECIDA NO ALTAR, BUFA DE RAIVA.
CORTA PARA
CENA 02. MANSÃO ASSUNÇÃO. ESCRITÓRIO. INTERIOR. NOITE
DAVI ABRE A PORTA COM RAPIDEZ. CÂM DÁ CLOSE EM ROBERTO ASSASSINADO, COM UM TIRO NO PEITO, BEM NO MEIO DO ESCRITÓRIO. DAVI DÁ UM GRITO DE DOR, VAI SE APROXIMANDO DO PAI CAÍDO. LEANDRO TAMBÉM CHORA, DESOLADO. MARIA EDUARDA ADENTRA O AMBIENTE, DÁ UM BERRO, CHORA NO PEITO DE LEANDRO.
DAVI — Berrando sobre o corpo) Pai! Pai!
CÂM SAI POR CIMA, MOSTRANDO O CENÁRIO DO CRIME.
CORTA RAPIDAMENTE PARA
CENA 03. MANSÃO ASSUNÇÃO. JARDIM. EXTERIOR. NOITE
OS CONVIDADOS COMENTANDO O OCORRIDO. ENTRE OS PRESENTES, WILLIAM VEM CORRENDO POR ALI, ELE AVISTA CAROL, ATURDIDA ENTRE OS DEMAIS. SE APROXIMA.
WILLIAM — A abraçando) Vem, Carol. Vambora daqui. Antes que a polícia chegue.
CAROL — Tenta falar) Mas/
WILLIAM — Pegando em seu braço) Vem, Carol!
WILLIAM A PEGA PELO BRAÇO E SAEM DALI, SEM NINGUÉM PERCEBER.
CORTA PARA
CENA 04. CASA DE BRUNO. SALA. INTERIOR. NOITE
A PORTA SE ABRE, A LUZ SE ACENDE. GABY ENTRA EM CASA, ENTRISTECIDA. PROCURA EM TORNO.
GABY — (Tom) Bruno! Bruno, você tá aí, amor?
GABY VAI EM DIREÇÃO AO QUARTO. INSTANTES. VOLTA UM POUCO DEPOIS, COM O CELULAR JÁ EM MÃOS. PREOCUPADA.
GABY — (Onde você se meteu, Bruno?!
NELA, MUITO INTRIGADA.
CORTA PARA
CENA 05. RIO DE JANEIRO. PRAIA. EXTERIOR. NOITE
INSTRUMENTAL TRISTE. PRAIA VAZIA. CÂM EM PLANO GERAL, VAI FECHANDO EM UMA PESSOA CAMINHANDO PELA PRAIA, DESNORTEADA. CÂM SE APROXIMA E REVELAMOS BRUNO. ELE ANDA COM A CAMISA ABERTA, SAPATOS NAS MÃOS, ESTÁ COMPLETAMENTE TRANSTORNADO, OLHAR VAGO, ENQUANTO SEUS OLHOS ESTÃO INCHADOS DE TANTO CHORAR. BRUNO CAI NA AREIA, DESOLADO. SOCA O CHÃO COM RAIVA. NELE, ALI, ENTREGUE AO ÓDIO E A DOR DA HUMILHAÇÃO.
FADE OUT/
FADE IN/
CENA 06. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
INSTRUMENTAL TRISTE. TAKES DO RIO DE JANEIRO AMANHECENDO. OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL ATINGINDO OS PRINCIPAIS PONTOS TURÍSTICOS DA CIDADE. ÚLTIMO TAKE EM UM CEMITÉRIO MUNICIPAL DE ALTO PADRÃO.
CORTA PARA
CENA 07. CEMITÉRIO. EXTERIOR. DIA
PLANO ALTO, CÂM SUPERIOR MOSTRANDO O CORTEJO FÚNEBRE DE ROBERTO ASSUNÇÃO. O CAIXÃO INDO NA FRENTE, EM UM CARRINHO, PADRE INDO LOGO ATRÁS. O RESTANTE DOS FAMILIARES TAMBÉM SEGUINDO O CORTEJO. MARIA EDUARDA FRIA, AO LADO DE LEANDRO E DAVI. VITÓRIA GRUDADA EM INGRID. ARTHUR MAIS AFASTADO, ÓCULOS ESCUROS, CARA FECHADA. PAULINA TAMBÉM VAI CHOROSA PELO CORTEJO. VÁRIOS FIGURANTES TAMBÉM, MUITO BEM VESTIDOS, ACOMPANHANDO O FUNERAL.
CORTES DESCONTÍNUOS DO CAIXÃO BAIXANDO NA COVA E SENDO SOTERRADO PELA TERRA.
CORTA PARA O FINAL DO FUNERAL, ONDE A CÂM PEGA A CHEGADA DE JÚLIA. ELA VEM COM FELIPE PRÓXIMOS DA COVA. LEANDRO VÊ JÚLIA E SE APROXIMA. ELA O ENCARA, COMOVIDA, O ABRAÇA. OS DOIS SE ABRAÇAM. ELE BEM CHOROSO. DAVI SE APROXIMA DELES. ELA O ENCARA E TAMBÉM O ABRAÇA. OS TRÊS ALI COMOVIDOS, ENTREGUES A EMOÇÃO DO MOMENTO.
CORTA PARA
CENA 08. CEMITÉRIO. SAÍDA. EXTERIOR. DIA
MOVIMENTAÇÃO DE FIM DE SEPULTAMENTO. PESSOAS VÃO SAINDO POR ALI. ENTRE ELES, ESTÃO SAINDO ARTHUR E INGRID.
INGRID — Nem se tivéssemos pedido de presente, essa morte do Roberto seria tão providencial.
ARTHUR — Agora chegou a minha hora de assumir o comando da construtora.
INGRID — Quem te ouve falando isso, pode até imaginar que foi você quem fez isso.
ARTHUR — Não fala isso aqui, Ingrid! Alguém pode escutar e achar que nós temos algo a ver com esse assassinato mesmo.
INGRID FICA O ENCARANDO.
INGRID — E você não tem, Arthur?
ARTHUR — Que pergunta é essa? Você tá me chamando de assassino, Ingrid? Claro que não tenho nada a ver com a morte do Roberto. Que ideia!
INGRID AINDA DESCONFIADA. OS DOIS VÃO SE DISTANCIANDO DA ENTRADA/ SAÍDA DO CEMITÉRIO.
INGRID — Arthur, nós dois sabemos muito bem que você tinha motivos de sobra pra se livrar do Roberto/
ARTHUR PARA NESSE MOMENTO E A ENCARA.
ARTHUR — Ah, é, Ingrid? Pois bem, e onde você estava na hora que ele foi morto no escritório, hein? Porque eu te encontrei na sala, justo na hora do casamento da Vitória.
INGRID — (Nervosa) Eu tinha ido ao banheiro. Eu já falei sobre isso.
ARTHUR — Então é isso. Você foi ao banheiro, eu fui ver o alarme do carro que havia disparado e o segurança me avisou nesse momento. (A encara) Pronto? Estamos entendidos?
ELA AINDA FICA O OLHANDO POR ALGUNS MOMENTOS. CONCORDA COM A CABEÇA. ELE VIRA AS COSTAS E VAI NA FRENTE. CLOSE EM INGRID, SUSPIRANDO.
CORTA PARA
CENA 09. CASA DE BRUNO. SALA. INTERIOR. DIA
A PORTA SE ABRE, BRUNO ENTRA. GABY VEM APRESSADA DO INTERIOR DA CASA. ELA SE JOGA SOBRE O RAPAZ E O ABRAÇA FORTE. O ENCARA.
GABY — Bruno, onde você tava até agora? Você quer me matar de preocupação?
BRUNO SENTA NO SOFÁ, AINDA MUITO ABALADO.
BRUNO — Eu tava andando por aí. Eu não quero falar sobre isso, Gaby.
GABY O OLHA DE CIMA. VAI AO SEU LADO, SENTA COM O NAMORADO, SEM SABER COMO FALAR.
GABY — Tudo bem. Eu sei que você não quer falar sobre isso, eu nem sei o que houve com você pra estar assim, ter sumido da festa daquele jeito, mas não tem jeito, eu vou ter que te contar.
BRUNO — Gaby, ontem, realmente, foi um péssimo dia. Aliás, uma péssima ideia achar que aquele monstro do Roberto poderia um dia assumir minha paternidade. Vamos esquecer isso, tá bom?
BRUNO LEVANTA PARA SAIR. GABY LEVANTA TAMBÉM.
GABY — Bruno, o seu pai... O Roberto, ele foi assassinado ontem a noite. Durante o casamento da Vitória e do Davi.
BRUNO ENCARA A NAMORADA, SENTIU A NOTÍCIA. ENGOLE SECO. REAGE FRIAMENTE.
BRUNO — O mundo é quem ganha com isso. Menos um saco de lixo espalhado por aí.
GABY — Bruno!
BRUNO — Amor, desculpa, mas eu realmente tô pregado. Vou tomar um banho e dormir, tá bom? Eu só quero apagar e esquecer que o dia de ontem existiu.
GABY VAI FALAR, MAS BRUNO VAI PARA O INTERIOR DA CASA. GABY FICA ALI, PENSATIVA E ASSUSTADA.
CORTA PARA
CENA 10. APARTAMENTO DE HELENA E NICOLAS. SALA. INTERIOR. DIA
JULIANO E HELENA ESTÃO SENTADOS NO SOFÁ, VERIFICANDO VÁRIOS CONVITES SOBRE A MESA DE CENTRO. NICOLAS ENTRA EM CASA.
NICOLAS — Bom dia, bom dia.
HELENA — Oi Nick, vem cá. Ajuda a gente a decidir aqui.
NICOLAS — Ajudar?
NICOLAS SE APROXIMA, PEGA UM CONVITE. SORRI.
NICOLAS — É o convite para o casamento?
JULIANO — Então, irmão, o que cê achou?
NICOLAS — (Sorri) Eu gosto desse.
HELENA ABRAÇA NICOLAS. BEIJA SEU ROSTO.
HELENA — Obrigada pelo apoio, meu irmão.
NICOLAS — Eu também tenho novidades pra contar.
JULIANO — Opa, vai dizer que vai casar também?
NICOLAS — (Rindo) Engraçadinho o seu namoradinho, irmãzinha.
HELENA — Para de implicância, vai. Conta! Qual a novidade?
NICOLAS SENTA NO SOFÁ. ENCARA OS DOIS.
NICOLAS — Eu recebi uma proposta de emprego de uma editora.
HELENA — (Animada) Que coisa boa, meu irmão! E qual a editora?
NICOLAS — Então... É uma emissora paulista. Eu vou ter que mudar pra São Paulo.
HELENA DESFAZ O SORRISO.
HELENA — Sério, meu irmão?
JULIANO — Mas quando isso, Nicolas?
NICOLAS — Eu vou esperar o casamento de vocês e logo eu me mudo pra lá. Ou seja, o apartamento vai ficar pro casal.
HELENA — Ah, eu não tô feliz com isso. Não vou ter meu irmãozinho implicante comigo.
NICOLAS — Mas não pense a senhora e nem o senhor que eu não vou estar de olho em vocês não, hein. Tô aqui do lado, um pulo de lá pra cá.
HELENA LEVANTA, RINDO E ABRAÇA NICOLAS.
HELENA — Ah, seu chato. Vou sentir sua falta.
NICOLAS — (Ri) Eu também vou!
HELENA ABRAÇA O IRMÃO. EM NICOLAS.
CORTA PARA
CENA 11. MANSÃO ASSUNÇÃO. SALA. INTERIOR. DIA
VITÓRIA ENTRANDO COM SEU MOTORISTA, QUE VEM TRAZENDO ALGUMAS BAGAGENS EM SEGUNDO PLANO. NA SALA, ESTÃO DAVI, DE PÉ. MARIA EDUARDA SENTADA NO SOFÁ.
VITÓRIA — (Indicando) Zé Pedro, pode deixar as malas lá no quarto, ok? Depois traz as outras bolsas do carro.
MOTORISTA — Sim, senhora.
O MOTORISTA VAI SUBINDO AS ESCADAS. VITÓRIA JÁ GRUDANDO EM DAVI.
DAVI — Trouxe todas as suas coisas, Vitória?
VITÓRIA — Claro, meu amor. Que pergunta. Agora que casamos, eu vou morar aqui. Trouxe tudinho.
DAVI CONCORDA, NADA ANIMADO.
VITÓRIA — Ai, amor, até parece que não queria que eu mudasse pra cá.
DAVI — Vitória, meu pai acabou de ser sepultado. Por favor, não começa.
VITÓRIA — Tá bom, príncipe. Eu concordo. Você deve estar passando por um momento bem difícil. Tá que o doutor Roberto não valia grande coisa, mas pai é pai né.
VITÓRIA ENCARA DAVI, QUE ESTÁ FUZILANDO-A COM O OLHAR.
VITÓRIA — Eu vou subir no nosso quarto, vou descansar. Com essa gravidez, ando com um sono... Não demora, tá bom?
VITÓRIA DÁ UM SELINHO NELE. SOBE AS ESCADAS. DAVI VAI SENTAR AO LADO DA MÃE. MARIA EDUARDA O ENCARANDO.
M. EDUARDA — Não faz sentido você continuar casado com essa menina, meu filho. Seu pai morreu, acabou o acordo. Porque continuar com isso?
DAVI — A Vitória tá grávida/
M. EDUARDA — Isso nunca foi motivo pra alguém ficar casado com alguém que não ama, Davi. Quer dizer, foi um tempo, talvez no século 19, mas hoje não.
DAVI — Eu não te entendo, mãe. Juro que não entendo. Você fez a maior pressão pra eu casar com a Vitória. Você expulsou a Júlia dessa casa, mesmo sabendo que ela não tinha nada a ver com isso. E agora pra quê? Pra dizer que foi um erro o meu casamento com a Vitória?
MARIA EDUARDA OLHA PARA O FILHO. OLHOS MAREJADOS.
M. EDUARDA — Eu errei muito nessa vida, meu filho. Eu errei quando dei força pro seu pai seguir com isso, eu errei quando eu me coloquei contra o seu relacionamento com aquela moça. Eu errei demais. Mas eu me arrependo muito.
DAVI — Agora é meio tarde pra isso. A senhora não acha?
ELA SUSPIRA. TOCA O ROSTO DE DAVI.
M. EDUARDA — Eu só sei que a única coisa que eu fiz certo nessa vida, foi você e o seu irmão. Vocês são as únicas certezas que eu fiz a escolha certa em ser mãe.
DAVI ABRAÇA EDUARDA. ELA CHORA NOS OMBROS DO FILHO.
CORTA PARA
CENA 12. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE
TAKES DO RIO ANOITECENDO. ÚLTIMO TAKE NA FACHADA DO PRÉDIO DE JÚLIA.
CORTA PARA
CENA 13. FLAT DE JÚLIA. SALA. INTERIOR. NOITE
LIGAR NO ÁUDIO: CAMPAINHA. JÚLIA VEM DO INTERIOR DO APARTAMENTO. ABRE A PORTA. CÂM REVELA SER LEANDRO.
LEANDRO — Boa noite, meu amor.
LEANDRO VAI DAR UM BEIJO EM JÚLIA, QUE VIRA O ROSTO. LEANDRO ESTRANHA.
LEANDRO — O que aconteceu? Porque você tá assim?
JÚLIA — Nós precisamos conversar, Leandro. Foi pra isso que eu te chamei.
LEANDRO ENTRA NO APARTAMENTO. JÚLIA O ENCARA.
JÚLIA — Eu quero saber que história é essa de plano?
BAQUE. LEANDRO ENGOLE SECO.
LEANDRO — Eu não entendi.
JÚLIA — O Davi me contou que você se aproximou de mim, porque você e o seu pai tinham um plano pra me afastar dele e da família Assunção. Me afastar, porque tinham medo que eu voltasse a me encontrar e me envolver com o Davi. Por isso, você resolveu se aproximar de mim e me seduzir. Eu quero saber se essa história é verdade. Eu quero saber da sua boca, Leandro.
LEANDRO A ENCARA. PENSATIVO.
LEANDRO — É verdade, Júlia.
JÚLIA ENGOLE SECO. LEANDRO SEM REAÇÃO. CLOSES ALTERNADOS. EM JÚLIA.
CORTA PARA
CENA 14. CASA DE WILLIAM E CAROL. QUARTO. INTERIOR. NOITE
CAROL CHORA, SENTADA NA CAMA. WILLIAM ENTRA NO QUARTO.
WILLIAM — Carol, o que aconteceu?
CAROL — Ah, William... Tudo né. Tudo aconteceu nas nossas vidas. Nos últimos dias, a nossa vida virou de cabeça pra baixo.
WILLIAM SE APROXIMA E A ABRAÇA.
WILLIAM — Ei, com a morte desse desgraçado, agora tudo vai ficar bem. Confia em mim!
CAROL — Será, William?
WILLIAM — Confia em mim, Carol. Tudo vai ser diferente daqui pra frente.
CAROL CONCORDA. OS DOIS SE BEIJAM. EM CAROL, CHOROSA.
CORTA PARA
CENA 15. FLAT DE JÚLIA. SALA. INTERIOR. NOITE
Continuação imediata da cena 13.
JÚLIA VIRA DE COSTAS, DECEPCIONADA. LEANDRO EM SEGUNDO PLANO, TENTANDO SE EXPLICAR.
LEANDRO — Júlia, me escuta, por favor/
JÚLIA — Por cima) Leandro, eu tô muito decepcionada com você.
LEANDRO — Escuta!
JÚLIA SE VIRA. LEANDRO A ENCARANDO.
LEANDRO — Bom, quando você voltou, a minha família, principalmente meu pai, ficou desesperado com isso.
JÚLIA — Mas porque, meu Deus? Eu nunca entendi qual o risco que o seu pai via em mim.
LEANDRO — O Davi se apaixonou por você, Júlia. Você despertou algo no Davi, que eu nunca vi em nenhum momento, com nenhuma outra mulher. O Davi casaria com você, Júlia.
JÚLIA — Mas eu não sou mais apaixonada por ele, Leandro.
LEANDRO — Eu sei, Júlia! Hoje, eu sei! Mas, na época, não achávamos, eu te julgava muito mal.
JÚLIA DEIXA UMA LÁGRIMA ESCORRER PELO ROSTO. LEANDRO TENTA SE APROXIMAR, MAS JÚLIA DÁ UM PASSO PARA TRÁS.
JÚLIA — Você nunca me amou, Leandro!
LEANDRO — Não, Júlia! Você tá entendendo errado! Eu disse que te julgava muito mal, que pensava que você era um outro tipo de mulher... Eu me enganei a medida que fui te conhecendo. Nada foi mentira. Eu juro!
JÚLIA OLHANDO PARA ELE, SEM ACREDITAR.
LEANDRO — Quando eu te conheci melhor, quando você me deu a oportunidade de abrir meu coração e te contar sobre a Paloma, te contar sobre a morte dela, sobre a tristeza que eu carregava sobre o que tinha acontecido no meu passado, e depois quando você abriu as portas da sua casa, quando você confiou em mim pra contar sobre o Vinícius. Júlia...
ELE SE APROXIMA, ELA INERTE. ELE PASSA A MÃO NO ROSTO DELA.
LEANDRO — Júlia, eu me apaixonei por você. Júlia, eu te amo de verdade. Eu te amo!
JÚLIA CHORA, ENCARANDO LEANDRO. ELA VAI ATÉ A PORTA. ABRE.
JÚLIA — Não dá, Leandro. Eu não acredito mais em você. Minha confiança foi quebrada. Eu quero que você vá embora
LEANDRO — Júlia...
LEANDRO DEIXA UMA LÁGRIMA CAIR. JÚLIA TAMBÉM SENTINDO TODO AQUELE PESO DA DECEPÇÃO, NEM ENCARA MAIS LEANDRO, OLHA PARA BAIXO O TEMPO TODO.
LEANDRO — Me dá um voto de confiança. Me dá uma chance só, Júlia. Por favor.
JÚLIA — Vá embora, Leandro. Não volta mais aqui. Eu tô te pedindo, por favor.
LEANDRO — É isso mesmo que você quer, Júlia? Tem certeza disso?
JÚLIA NÃO RESPONDE NADA. LEANDRO A ENCARA UMA ÚLTIMA VEZ E SAI, EM SILÊNCIO. JÚLIA BATE A PORTA, E VAI ATÉ O SOFÁ, CHORA. FELIPE SURGE DO INTERIOR DO APARTAMENTO.
FELIPE — Júlia.
JÚLIA DISFARÇA, PASSA A MÃO PELO ROSTO, ENCARANDO O PAI. ELE SE APROXIMA DELA.
FELIPE — Júlia, desculpa, eu não consegui deixar de ouvir a conversa toda.
JÚLIA — Depois de velho, o senhor ficou bisbilhoteiro, é seu Felipe? Tá parecendo a Paulina, escutando atrás das portas.
FELIPE — Ei, você é minha filha. Eu me preocupo com você. Eu não quero te ver assim, eu não quero te ver sofrendo. Lembra que o amor mais sincero é de um pai por uma filha.
JÚLIA — Eu sei, pai. Você é o único que me ama de verdade nessa vida.
FELIPE — Filha, você sabe que eu nunca concordei com o seu envolvimento com o Davi, não sabe?
JÚLIA ACENA QUE SIM COM A CABEÇA.
FELIPE — Só que essa noite, eu vi algo diferente que eu nunca vi nas palavras do Davi, com o Leandro.
JÚLIA — Eu não entendo.
FELIPE — Filha, eu senti verdade no que o Leandro tava te falando.
JÚLIA — Verdade, pai? O Leandro me enganou! Era um plano pra se aproximar de mim e me afastar de qualquer possibilidade que pudesse existir de me aproximar do Davi, ou da família dele. Isso não se faz. Ele brincou com o que eu sentia.
FELIPE SE APROXIMA DA FILHA, FAZ UM CARINHO EM SEU ROSTO.
FELIPE — As pessoas mudam, Júlia. Você não acredita na mudança das pessoas? Você mesmo, olha pra você... Se tornou uma mulher corajosa, de fibra, uma mulher que não baixa a cabeça pra ninguém, que não se deixa pisar por mais ninguém. Uma mulher que me enche de orgulho.
OS DOIS SORRIEM UM PARA O OUTRO.
JÚLIA — Mas, pai/
FELIPE — (Por cima) Escuta, eu não tô dizendo pra você acreditar em tudo o que te falam, mas eu senti sinceridade no que o Leandro te falava, quando disse que havia se apaixonado, que estava arrependido. Pensa bem, filha. Vê se você não tá sendo dura demais com quem não merece.
JÚLIA FICA OLHANDO PARA FELIPE, PENSATIVA.
CORTA PARA
FIM DO CAPÍTULO 23
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