CAPÍTULO 04
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 04 + Capítulo 05 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: INT. CASA DE NOEMI – QUARTO DE NOEMI – NOITE
Debruçada sobre a janela de seu quarto, Noemi observa as estrelas com um semblante tranquilo. Parece estar recordando momentos.
ANJO (V.O.)— Essa é a promessa que te faço hoje: de mui longe virá um amor que transbordará as botijas de seu coração. Um amor que estará ao teu lado até à hora de repousares com os teus antepassados. Um amor puro, um amor incondicional. Um amor da parte do Senhor.
Noemi fecha os olhos sorrindo. Reabre-os... Lembra-se de outro momento.
ELIMELEQUE (V.O.)— Você não deveria se sujeitar a essas humilhações por causa de algo natural. Algo pintado no seu rosto aparentemente pelas pontas dos dedos de Deus. E se quer saber, a única coisa que vejo ao olhar seu rosto... é uma beleza sem igual.
Contente, Noemi ajeita o cabelo.
NOEMI— Como é possível... alguém como você existir?...
Noemi continua pensativa.
CENA 2: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE ELIMELEQUE – DIA
A noite passa, o novo dia vem e chegamos ao fim da tarde. Elimeleque e Neb se despem de alguns apetrechos usados durante o dia.
ELIMELEQUE— Mais um dia abençoado, primo! Quem diria que o segundo dia seria tão bom quanto o primeiro. Belém não para de me surpreender...
NEB— Tem toda razão... Suei muito, mas consegui encher meu saco de moedas.
ELIMELEQUE— Por falar nisso... Eu não estou encontrando um punhado de moedas que ajuntei num saco desses.
NEB— (cínico) Ah, sério? Será que você não deixou cair por aí?
ELIMELEQUE— Não sei, não costumo perder as coisas que coloco no bolso. Mas tudo bem. Se eu achar, bem, se não, que esteja em mãos mais necessitadas que as minhas.
Elimeleque sorri genuinamente para Neb.
CENA 3: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Enquanto Noemi varre o chão, Zaira, agitada, sova a massa do pão.
NOEMI— Você está bem, Zaira?
ZAIRA— Não! Não estou bem! Estou fuçando meus pensamentos, buscando um jeito de impedir que seu pai vá estragar o jantar de vocês.
NOEMI— E por que você quer fazer isso? Por que se importa tanto?
ZAIRA— Ora, Noemi, não foi você mesma quem ouviu da boca do anjo as palavras de promessa?
NOEMI— Hu... Então você também acha que o Elimeleque pode ser o tal amor “de mui longe”.
ZAIRA— Claro, concordo com sua mãe.
NOEMI— Hum. Mas é melhor desistir, Zaira. Não tem como. Você sabe como é o meu pai, quando coloca algo na cabeça, difícil de alguém tirar.
ZAIRA— Espere! (pequena pausa) É isso, Noemi, acabei de encontrar a solução!
Noemi disfarça a curiosidade.
NOEMI— Mesmo?
ZAIRA— Sim! Não se lembra daquela moça que Elimeleque mencionou que também estaria no jantar?
NOEMI— Sim. Seu nome é Tani, se não estou enganada.
ZAIRA— Isso, Tani! Ela é a solução! Vou pedir para que a moça venha aqui e te acompanhe. Uma vez que há outra mulher envolvida, Absalom desistirá de ir.
NOEMI— Será?...
Zaira sorri esperançosa.
CENA 4: INT. HOSPEDARIA – CREPÚSCULO
Zaira entra na hospedaria olhando as pessoas ali. Tani está com os outros da caravana, incluindo Ebede. Zaira se aproxima por trás e a toca.
ZAIRA— Licença.
Tani olha para Zaira.
TANI— Sim?
ZAIRA— Shalom, meu nome é Zaira. Eu sou serva da casa de Absalom, você--
TANI— (interrompendo, sorridente) Eu me lembro de vocês! Não estava com aquela garota...
ZAIRA— Noemi.
TANI— Noemi! Sim, claro. Mal tive tempo de lhes dar atenção, estava na outra carroça atendendo uma infinidade de gente!
ZAIRA— Tudo bem, não se preocupe.
TANI— Mas em que posso ajudá-la?
ZAIRA— Bem, você deve saber que o Elimeleque convidou Noemi para um jantar hoje à noite.
TANI— (sorridente) Sim, já fico até imaginando isso dando em casamento!
ZAIRA— Que ótimo, minha querida. Vejo que você poderá me ajudar. Porque o pai de Noemi, o senhor Absalom, é um tanto quanto... ciumento. Longe de mim falar de meu senhor, mas essa é que é a verdade. E ele colocou na cabeça que Noemi só poderá vir se ele vier também.
TANI— Puxa...
ZAIRA— Pois é. Mas eu tive uma ideia, e por isso vim lhe procurar. Se você concordar, eu gostaria que fosse buscar Noemi em sua casa, e a acompanhasse até aqui, pra que o senhor Absalom veja que ela não estará sozinha.
TANI— (empolgada) Mas é claro que eu concordo, senhora...
ZAIRA— Zaira.
TANI— Senhora Zaira! (sorri) Conte comigo! Vai ser um prazer ajudar nessa união.
ZAIRA— E será que podemos ir agora mesmo? Noemi já deve estar se aprontando...
TANI— Claro, vamos!
Zaira sorri e ambas saem da hospedaria.
CENA 5: EXT. RIO – PÔR DO SOL
No alto da ribanceira, Maya e Iago, sentados, se beijam. Logo abaixo, com a água pela cintura, Tamires atira pedras na superfície do rio, encarando o pôr do sol no horizonte. Maya e Iago desgrudam os lábios.
IAGO— Que perfeito...
MAYA— Poderia ser muito mais.
IAGO— Mesmo? Como?
MAYA— Se eu pudesse todo dia acordar com seus lábios ao meu lado, e ir me deitar com eles à minha espera.
IAGO— Só os lábios?
MAYA— (rindo) Claro que não, bobo. Eu quero tudo, tudo que eu tenho direito!
IAGO— Hum, mas você já teve algumas amostras várias vezes...
MAYA— Tive, mas estou cansada de não podermos ir além, e do pouco que conseguimos ser às escondidas. Não quero mais me preocupar com isso. Eu quero me casar com você, Iago.
IAGO— Ah, Maya, tudo bem... Depois a gente fala disso. Agora não...
MAYA— Vamos ver até quando você vai me enrolar, Iago. É triste... Enquanto quem pode não aproveita, (olhando para Tamires ali embaixo) outros lutam pra poder.
Iago observa Tamires lançar pedras na superfície.
IAGO— Continue assim, e levantará uma barragem, Tamires.
MAYA— Ela está tentando acertar o sol, ele deve tê-la ofendido.
TAMIRES— Não me ofendeu, mas se isso ajudasse eu tacaria sem parar, até que ele sumisse de uma vez atrás das montanhas.
MAYA— E por que essa pressa para que escureça?
TAMIRES— Porque hoje à noite vou visitar aquele moço na hospedaria.
Maya e Iago se entreolham.
CENA 6: INT. CASA DE NOEMI – SALA – NOITE
Zaira apresenta Tani para Noemi.
ZAIRA— Noemi, essa é Tani. Você a viu ontem na praça. Tani, essa é Noemi, o motivo de sua vinda.
TANI— (estendendo a mão) É um prazer conhecê-la, Noemi.
NOEMI— (apertando a mão de Tani) Imagina, o prazer é meu. Fico até constrangida de você ter vindo... por causa do...
TANI— Pode ir parando com essas preocupações, Noemi. É com imenso prazer que venho te ajudar. E assim farei.
Noemi sorri agradecida.
CENA 7: INT. HOSPEDAGEM – QUARTO DE ELIMELEQUE – NOITE
Deitado na cama, Neb passa uma moeda nos dedos enquanto Elimeleque se arruma para o jantar.
NEB— Pra que tudo isso?
ELIMELEQUE— Você entenderia, primo, se olhasse mais para as belemitas.
NEB— De cansaço já me basta o dia de labuta. Agradeço a sugestão, mas prefiro não adicionar mais preocupações à minha preciosa vida.
Elimeleque ri.
NEB— Mas falando nisso, teve uma moça daqui que veio falar comigo. Mal a conheço e já chegou com abraços e olhares de paixão que me deixaram assombrado! O pior é que disse que vai voltar.
Elimeleque termina de se arrumar.
ELIMELEQUE— Se ela disse isso, primo, pode esperar (ri). Até mais tarde, Neb.
NEB— Capricha, hein primo...
ELIMELEQUE— Aquela ali, a Noemi, é difícil, mas quem sabe não seja a certa... Enfim. Shalom!
NEB— Shalom.
Elimeleque sai.
CENA 8: INT. CASA DE NOEMI – SALA – NOITE
Zaira, Nina e Noemi de frente para Absalom.
ABSALOM— (para Tani) Você me garante que permanecerá por perto, seja lá para onde ele levá-la?
TANI— Sim, senhor Absalom.
ABSALOM— Você me garante que se esse rapaz tentar algo indecente, inapropriado, desonroso ou desrespeitoso com minha filha, você intervirá e o impedirá?
TANI— Não se preocupe com Elimeleque, senhor. É um moço honrado--
ABSALOM— (interrompendo) Me garante?!
TANI— Sim. Eu lhe garanto que sim.
ABSALOM— (despachando) Tudo bem, então vão.
Zaira, Nina e Tani sorriem.
NINA— Vá, minha filha. (beijando-a) Tenha um bom jantar.
ZAIRA— Vamos esperar acordadas!
NOEMI— Shalom!
Zaira, Nina e Absalom respondem. Tani e Noemi saem e Zaira fecha a porta.
ZAIRA— Que bom que o senhor permitiu que a moça acompanhe Noemi.
NINA— Fico muito orgulhosa do meu marido.
ABSALOM— Pois se vocês acreditaram nisso, estão muito enganadas.
Absalom vai até um canto, pega uma capa e a veste.
NINA— O que é isso, Absalom? Onde você vai?!
Ele se cobre e olha para Nina.
ABSALOM— Shalom.
Absalom caminha para a porta e sai. Zaira e Nina bravas.
CENA 9: EXT. HOSPEDARIA – NOITE
Noemi e Tani se aproximam da hospedaria.
TANI— ...desde aquela época. O Elimeleque e o Neb, por exemplo, são primos. Da outra parte da família o Neb tem apenas um primo, o pequeno Boaz, filho de Salmon e Raabe, você deve ter ouvido falar dela. Todos ouviram. E o Boaz é uma gracinha, você precisa ver. Chegamos.
Elas entram.
CENA 10: INT. HOSPEDARIA – NOITE
No momento em que Noemi e Tani entram, Elimeleque se levanta e se aproxima. Noemi parece ficar mais nervosa. Sorrindo, o rapaz a olha nos olhos. Tani sorri com o clima que surge ali.
TANI— Eu estarei por perto, apenas por precaução.
Tani se afasta.
NOEMI— Espere...
Tani a ignora e senta na mesa ao lado da que Elimeleque estava.
ELIMELEQUE— Não se preocupe, Noemi. Venha comigo.
Nervosa, Noemi faz que sim e eles vão até à mesa e se sentam.
CENA 11: EXT. HOSPEDARIA – NOITE
Tamires e Maya caminham na direção da porta.
TAMIRES— Eu te agradeço muito por me acompanhar, amiga.
MAYA— Na minha época com o Iago não ficava precisando de você.
CENA 12: INT. HOSPEDARIA – NOITE
Elas entram na hospedaria e param no meio do salão ao ver Noemi e Elimeleque na mesma mesa. Tamires os observa com raiva.
Ao fundo chega um homem com o rosto escondido em uma capa escura: é Absalom. Discretamente ele dá alguns passos e espia o interior da hospedaria.
Close no rosto encapuzado de Absalom.
CENA 13: INT. HOSPEDARIA – NOITE
Noemi percebe Tamires e Maya paradas olhando para ela e logo volta o olhar para Elimeleque.
ELIMELEQUE— Algum problema, Noemi?
NOEMI— Não...
Tamires e Maya caminham para outra mesa, mas passam pela de Noemi e Elimeleque.
TAMIRES— Oi, sardenta.
As garotas sentam.
TAMIRES— Absurdo! É uma injustiça que a sardenta esteja de conversinha com um rapaz e eu ainda me rastejando atrás do Neb.
MAYA— Olha, Tamires, eu não gosto nem um pouco de Noemi, mas se me chamou pra ouvir reclamações, vou embora agora mesmo e encontrar o Iago, que é muito melhor que isso.
Tamires faz sinal chamando o dono, que vai até lá de cara feia. Na entrada, Absalom observa que Tani não está exatamente na mesma mesa que Noemi. Nesse instante sua filha olha aleatoriamente para a entrada e Absalom rapidamente se esconde na penumbra. Quando ela não está mais olhando, ele reaparece, vai para o balcão protegendo o rosto com a capa e se senta. Olha para eles lá atrás brevemente.
ELIMELEQUE— Graças a Deus nossas vendas estão a todo galope. Por toda cidade ou vilarejo hebreu que passamos conseguimos boas quantias. Deus tem nos abençoado!
NOEMI— Desculpe, mas eu nem mesmo sei o seu nome...
ELIMELEQUE— Nossa, você tem toda razão... Queira me perdoar. Eu me chamo Elimeleque.
NOEMI— (sorrindo) Tudo bem, Elimeleque. Está um pouco menos estranho agora.
ELIMELEQUE— (rindo) Ah, Noemi... Sabe, eu acho que tenho em nossas mercadorias algo ideal pra você. Uma coisa perfeita para acalmar os seus ânimos.
NOEMI— Você está me chamando de nervosa, louca?...
ELIMELEQUE— Sem essa.
Elimeleque se abaixa e tira algo de um saco de pano: uma espécie de flauta de osso.
ELIMELEQUE— Uma flauta. Pra você tocar e se acalmar. O poder de relaxamento desse instrumento é formidável.
NOEMI— Eu aprecio o som, mas sinto muito... Eu não sei tocar e nem mesmo pretendo aprender.
ELIMELEQUE— Nesse caso... eu posso tocar pra você.
NOEMI— Tocar pra mim?
ELIMELEQUE— Mas não aqui. Venha comigo para um passeio no portão da cidade, amanhã à noite, sob a luz das estrelas. O cenário me inspira!
Noemi não sabe o que dizer.
CENA 14: INT. HOSPEDARIA – NOITE
Noemi franze o cenho.
NOEMI— Você é realmente muito atrevido, hein! Me fazendo um convite desses...
ELIMELEQUE— O que foi agora, Noemi?... Por que se esquiva tanto? Tani pode ir novamente, caso você prefira.
Na mesa ao lado, Tani, de costas, vira a cabeça para Noemi e, empolgada, confirma com a cabeça. E volta a comer.
NOEMI— Tudo bem, Elimeleque. Mas com uma condição.
ELIMELEQUE— Além de Tani?
NOEMI— Exatamente. Já que vocês da caravana são tão habilidosos na arte da venda, quero vê-lo dobrar um morador daqui, um senhorzinho que não abre a mão nem que sua vida dependa disso! Ele tem aversão a mercadores, já se meteu em brigas por causa disso. É um desafio, Elimeleque. Será muito divertido pra mim presenciar sua tentativa, e um momento histórico se ele gastar uma moeda que seja. Se você conseguir fazer isso, amanhã à noite eu acompanho você no passeio.
Elimeleque se inclina para Noemi.
ELIMELEQUE— (descontraído) Gostei. Eu topo.
Noemi sorri empolgada. Absalom os observa de canto de olho. Neb está descendo a escada quando vê Tamires na outra mesa. Paralisa, dá meia volta e retorna.
Tamires olha para Noemi e Elimeleque e de volta para Maya.
TAMIRES— Se eu ficar mais um pouco aqui vou devolver o que comi mais cedo. (levantando) Vou atrás do moço.
MAYA— Não tem como, Tamires! Como vai subir sem ser vista pelo dono?
TAMIRES— Observe.
Ao invés de ir para a escada, Tamires vai para o balcão e esbarra de propósito em Absalom, encapuzado, que derrama sua bebida.
TAMIRES— Ai! Meu Deus, que desastrada que sou! Por favor, senhor, queira me perdoar! Eu não o vi!
O dono olha feio e Absalom se esforça para não revelar seu rosto.
ABSALOM— Tudo bem, mocinha, não foi nada... Tudo bem...
TAMIRES— Deixe que eu limpo.
Tamires vai para trás do balcão, onde está o dono, mas ele a bloqueia.
DONO— Fique aí mesma! Francamente! Vai acabar é sujando mais. Tinha que ser você. Vai, vai, eu resolvo isso!
TAMIRES— (olhar de zombaria) Rum!
Tamires se afasta.
DONO— (para Absalom) Por favor, senhor, me perdoe, eu arrumo para o senhor. Pode deixar que eu cobrarei apenas metade do valor da bebida.
Enquanto o dono se distrai limpando o balcão e a capa de Absalom, Tamires aproveita para ir para a escada... e sobe. Maya fica tensa.
ABSALOM— Eu vou me sentar em outro lugar.
DONO— Fique à vontade, meu senhor.
Cuidando o rosto, Absalom atravessa o salão e se senta no canto mais escuro. Noemi e Elimeleque continuam a conversar.
CENA 15: INT. HOSPEDARIA – CORREDOR – NOITE
Tamires chega ao corredor dos quartos. Passa pelas portas imaginando em qual Neb estará. Ela olha para um com mais atenção.
TAMIRES— Talvez aqui...
Tamires abre a porta de uma vez. Um velho se assusta e olha furiosos para a entrada. Mas ao ver a moça jovem e bonita, seus olhos brilham e sorri com interesse.
VELHO— Pode entrar, querida!
TAMIRES— (enojada) Argh!
Tamires bate a porta, deixando o velho triste. Ela continua pelo corredor, passa por mais algumas portas e para em uma das últimas. Bate devagar duas vezes. Um barulho e Neb abre a porta.
NEB— (frustrado) Você?...
No mesmo instante Tamires agarra Neb em um abraço apertado. Logo o solta.
TAMIRES— Eu vim te ver!
NEB— Mesmo?...
TAMIRES— (entrando) Sim, eu disse que voltaríamos a nos ver. Passei o dia morrendo de saudades!
CENA 16: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE ELIMELEQUE – NOITE
TAMIRES— O que você estava fazendo?
NEB— Eu? Han... Estava só... só aí--
TAMIRES— (interrompendo) Como foi o dia de trabalho hoje? Muitos clientes? Muitas... moças?
NEB— Eu... bem, são muitos--
TAMIRES— (interrompendo) Cuidado com essas belemitas, são muito atiradas, sabe. É um perigo pra moços decentes como você... (sorrindo) e eu.
Neb assustado...
CENA 17: INT. HOSPEDARIA – NOITE
ELIMELEQUE— Desde bem jovem eu sou um nômade, não paramos em um lugar por mais de uma lua. Acho que estou cansado dessa vida. Acho que está chegando a hora de firmar minhas raízes em um lugar e trabalhar com algo mais tranquilo. De preferência em minha terra natal.
NOEMI— Belém...
ELIMELEQUE— Minha simples e doce Belém.
NOEMI— Conhecer o mundo deve ser uma boa opção de vida, mas nada como saber que você tem um lugar certo pra repousar a cabeça à noite.
ELIMELEQUE— Sem dúvidas...
Noemi sorri.
ELIMELEQUE— E então? Tudo certo para nosso passeio amanhã à noite?
NOEMI— Isso se durante o dia você conseguir dobrar o senhorzinho de que falei.
ELIMELEQUE— Será um prazer. Mas... creio que já está tarde e seus pais podem se preocupar. Tani a acompanhará de volta para casa.
Noemi faz que sim. Elimeleque pega as mãos dela com delicadeza e beija suavemente. Absalom, que observa bebendo, engasga e cospe a bebida. Algumas pessoas, entre elas Noemi, olham para a penumbra, mas não veem nada demais. Noemi se levanta.
NOEMI— Vejo você amanhã.
ELIMELEQUE — Shalom.
NOEMI— Shalom.
Acompanhada de Tani, Noemi atravessa o salão e sai. Elimeleque sorri apaixonado. Absalom o fulmina com seu olhar sob a capa.
CENA 18: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE ELIMELEQUE – NOITE
Tamires fecha a porta do quarto e empurra Neb, confuso, mais para dentro do quarto.
NEB— O que você está fazendo, moça?
TAMIRES— Preciso mostrar uma coisa pra você.
NEB— Que coisa?...
Tamires leva as mãos às alças do vestido e as solta. O mesmo cai até sua cintura e ela fica nua da cintura para cima. Neb se assusta e se afasta um pouco.
NEB— Você está louca?! Vista sua roupa!
Neb se aproxima dela e tenta vesti-la, mas ela não deixa.
TAMIRES— Pare, pare com isso! Qual é o seu problema?!
Tamires o empurra novamente e faz pose pra ele, se mostrando.
TAMIRES— Veja, veja bem... Aprecie...
Neb tenta tampar o rosto com a mão e olhá-la apenas no rosto.
NEB— Você não devia estar fazendo isso... O que você quer com isso?!
Provocativa, Tamires se aproxima de Neb.
TAMIRES— Isso tudo é pra/
Ela para de falar porque ele ainda fica tentando tampar parte de seu campo de visão.
TAMIRES— Pare com isso!!! Me olhe nos olhos, aqui!
Mas ele não consegue.
TAMIRES— Ahh!!!
Tamires então levanta o vestido e veste as alças.
TAMIRES— Pronto! Está melhor assim?!
Neb finalmente consegue olhá-la nos olhos.
TAMIRES— Isso é pra saber se você aceita me pedir em namoro.
Neb fica ainda mais confuso e assustado.
NEB— Pedir você em namoro?!
TAMIRES— Sim! (pequena pausa) E então, Neb? Qual é a sua resposta?
Na confusão de Neb, IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!