CAPÍTULO 10
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Capítulo 15 + Parte do Capítulo 16 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Neb encara Tamires.
NEB— Tamires?! É você mesma?
TAMIRES— Fico muito contente que me reconheceu, Neb. É bom saber disso...
NEB— Mas... Mas... O que está fazendo aqui?...
TAMIRES— Voltei. Simples assim. Belém é minha casa, e daqui não saio mais.
NEB— Tão rapidamente quanto desapareceu, reaparece.
TAMIRES— Foi... Mas naquela época era necessário. Ao menos eu via assim. Eu havia acabado de sofrer o maior baque da minha vida inteira, Neb. Fui embora para Hebrom porque não podia continuar a viver no mesmo lugar que você, principalmente quando se casasse. Mas... pelo visto, não se casou.
NEB— Não. E nem vou!
Neb espirra.
NEB— Depois do que me fez, das cobranças, das perguntas intermináveis, do controle sobre meus passos, do controle sobre minha vida inteira, fiquei traumatizado! Casamento, namoro, compromisso... atacam minha alergia! Sou um homem feito, resolvido comigo mesmo. Quero viver só, gozando de minha plena liberdade.
TAMIRES— É realmente uma pena... E você tem sorte por ser homem, sabe? Imagine só se uma mulher diz essas coisas... Malvista seria só o início.
Neb concorda com a cabeça.
TAMIRES— Bom, mas você sabe onde me encontrar, estarei na hospedaria. Shalom, Neb. Foi um prazer revê-lo.
Neb faz para ela um sinal com a cabeça.
NEB— Shalom, Tamires...
Neb observa Tamires ir. De repente espirra... Funga, limpa o nariz, se recompõe e sai.
CENA 2: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Noemi e Tani sentadas à mesa tomando chá.
TANI— Esse povo é muito duro. Teimosos, ignorantes... E pelo jeito insistirão na desobediência.
NOEMI— Prefiro acreditar que alguns corações foram tocados por nossas palavras. Ou serão, conforme forem absorvendo o que ouviram.
TANI— O problema, Noemi, é que talvez esses corações não sejam o suficiente para salvar todo o povo.
Noemi lamenta fazendo que sim.
CENA 3: EXT. CAMPO – DIA
Malom e Quiliom caminham pelo campo.
QUILIOM— Que dia quente!...
MALOM— Não bastasse o calor, minha barriga já está me dando ordens.
QUILIOM— Veja, Malom. Uma colmeia...
Malom olha e vê uma colmeia em uma árvore ali perto.
MALOM— Acho que vai me servir. Preciso de algo doce.
Eles se aproximam da árvore. De repente, IAGO (42 anos) chega ali.
IAGO— Se eu fosse vocês, não mexeria nisso.
Malom e Quiliom olham para ele.
MALOM— Iago?... Não se preocupe, sabemos lidar com abelhas.
IAGO— O problema não é lidar. O problema é que eu vi essa colmeia primeiro, e por consequência é minha.
Os rapazes franzem o cenho.
QUILIOM— Viu primeiro?... E daí? Nós chegamos primeiro. Você está chegando agora.
MALOM— Pra que isso? Podemos dividir o mel sem problema algum.
IAGO— O mel não vai ser dividido por uma razão muito simples: eu não quero. Portanto, se afastem dessa colmeia.
MALOM — Iago, isso é totalmente desnecessário.
IAGO— (se aproximando) Sabem, rapazes, vocês não deveriam gostar de mel. Muito menos se aventurar em colmeias. Pelo que eu me lembro, o histórico dessas coisas na sua família não é muito bom... Não foi uma dessas que humilhantemente rachou na cabeça da mãe de vocês há alguns anos?
QUILIOM— Vou te mostrar que eu também posso fazer as vezes de uma colmeia!
Quiliom avança contra Iago, mas Malom o segura.
MALOM— Não, Quiliom! Contenha-se, meu irmão!
Iago ri da situação.
MALOM— Melhor você ir embora, Iago. Estávamos em paz aqui e você chegou caçando encrenca. Melhor voltar para o seu trabalho.
IAGO— Vocês também deveriam estar trabalhando. O que será que Elimeleque pensaria disso, hein?
MALOM— (avançando contra Iago) Se contar algo pro meu pai, eu--
Malom se interrompe ao agarrar Iago e os dois se confrontarem fisicamente. De repente, MAYA (42 anos) chega por ali.
MAYA— Iago! Iago!!! O que está acontecendo, Iago?!
Malom e Iago se soltam e esse olha para a esposa se aproximando.
MAYA— O que significa isso, Iago?! Por que está brigando com o filho de Noemi?!
IAGO— Esses idiotas acham que podem se apropriar do que não é deles.
MALOM— Você não queria a colmeia coisa nenhuma! Só queria confusão!
QUILIOM— E conseguiu!
MAYA— Francamente, Iago! Brigando com crianças?! Não sabe que é de família o desejo de se apropriar do que não é deles?
QUILIOM— Não bateria na senhora, mas tenho amigas que poderiam fazer isso.
IAGO— Toque na minha esposa, seu idiota, e eu bato em você até sua cabeça se transformar em uma colmeia!
MAYA— Pare já com isso, Iago! Vamos embora! Não vale a pena, e você sabe disso! Vamos!
Olhando raivoso para Malom e Quiliom, Iago se deixa levar por Maya, que o pega pelo braço e sai. O casal se afasta. Malom respira fundo, balança a cabeça negativamente e olha para seu irmão, que faz um sinal apontando a colmeia. Eles vão até ela.
CENA 4: EXT. MOABE – RUA – DIA
A suntuosa cidade de Moabe!
Os guardas abrem os portões, e uma multidão de moabitas aguarda, dos dois lados da rua, aqueles que retornam: o rei Zylom e seu capitão, cada um em seu cavalo, o Sumo Sacerdote Faruk e a Sacerdotisa Myra no banco da frente de uma carroça, as sacerdotisas Rute e Orfa no banco de trás, e em seguida todos os soldados sobreviventes do exército. Todos esses escoltados à frente e atrás por guardas.
A caravana adentra a cidade e o povo grita saudando e parabenizando o rei e o exército. Zylom acena para os seus súditos. Faruk e Myra felizes, mas mais contidos. Rute e Orfa observam, estando essa visivelmente mais contente.
ORFA— Mas o que é isso, Rute? Nem parece que você escapou de morrer pelas mãos dos amorreus! Parece tão distante... O que está acontecendo?
RUTE— Não é nada, Orfa. Talvez seja o calor...
Rute continua a observar toda aquela movimentação, e Orfa olha para ela curiosa e estranhando-a.
CENA 5: INT. TEMPLO – SALA DE BANHO – DIA
No ponto mais alto da cidade está o grande palácio de Moabe. Próximo a ele, em um nível mais baixo, encontra-se o templo, um grande terreno composto de vários edifícios, pátios e jardins.
Em um desses salões, na sala de banho, estão Rute e Orfa; elas vestem um vestido leve e simples. No centro da sala há um tanque onde algumas servas despejam óleos perfumados e pétalas de flores. Ao redor, bancos aconchegantes e plantas ornamentais.
SERVA— Está pronto, senhoras.
ORFA— Ótimo!
RUTE— Obrigada.
Outras duas servas se aproximam delas e as auxiliam a se despir. Em seguida as duas sobem a escadinha e entram na água.
RUTE— (sentando) Está mesmo ótimo! Que fragrância...
ORFA— Como é relaxante... Nada melhor depois da tensão de uma batalha.
Com apenas a cabeça para fora da água, Rute e Orfa aproveitam a água.
ORFA— (fazendo um sinal) Servas... Por favor.
As servas se aproximam das sacerdotisas e começam a massagear suas nucas e costas. Relaxadas, elas aproveitam. É quando a Sacerdotisa Myra chega na sala.
MYRA— Vejo que minhas sacerdotisas não perderam tempo.
ORFA— Nem poderíamos, senhora. Temos que aproveitar cada segundo que os deuses nos concedem. Se não fosse assim, a essa hora estaríamos todos estirados naquele deserto, (dançando os braços na água) e os amorreus desfrutando do que é nosso.
MYRA— Nem me diz. Bom, que aproveitem. E descansem bem, pois amanhã daremos início à seleção da nova oferenda. Como viram hoje, nem só de homens e espadas a guerra se sustenta.
RUTE— As candidatas já estão no templo?
MYRA— Chegaram há pouco. Vim apenas lhes dizer isso. Agora vou me encontrar com o Sumo Sacerdote para acertarmos os últimos detalhes da seleção.
RUTE— Claro.
Orfa faz que sim sorrindo.
MYRA— Com licença.
Myra sai. Orfa e Rute relaxam com o banho e as massagens.
CENA 6: INT. CASA DE NOEMI – SALA – NOITE
Malom e Quiliom sentados à mesa. De pé, Noemi e Elimeleque os observam.
NOEMI— Vocês não têm nada que se meter em brigas com o Iago. Esse tipo de envolvimento com pessoas com quem já tivemos problemas antes! Nunca se sabe do que alguém é capaz, meus filhos!
QUILIOM— Ele falou mal da senhora, mãe!
NOEMI— Eu não me importo com isso, e portanto vocês também não devem dar ouvidos. Esse tipo de coisa, esse veneno... só afeta a quem o lança. Eu estou tranquila, meus filhos. Alcancei tudo que esperava de Deus. (olhando Elimeleque) A Promessa se cumpriu... dela veio vocês, nosso maior tesouro... Eu não tenho mais nada com que me preocupar. A não ser, claro, com nossa descendência, que está demorando muito para vir.
ELIMELEQUE— E talvez eles nem tenham tempo para isso.
MALOM— O que quer dizer com isso, pai?
Elimeleque respira fundo.
ELIMELEQUE— A situação das plantações está só piorando. Talvez... Talvez nós tenhamos que deixar Belém.
Todos ali sentem o peso do que Elimeleque diz, e seus semblantes mostram o misto de surpresa e preocupação. Close em Elimeleque abatido. Malom, Quiliom e Noemi não esperavam ouvir aquilo do pai.
QUILIOM— Deixar Belém?!
MALOM— Como assim, meu pai?!
NOEMI— Do... Do que você está falando, meu amor?...
ELIMELEQUE— Eu sinto muito, mas é isso mesmo. Se as coisas continuarem assim, nós teremos que partir daqui em busca de um lugar melhor.
MALOM— Mas pai, nós não podemos simplesmente ir--
ELIMELEQUE— (interrompendo) Se não quiserem ir embora, então dobrem os joelhos e orem. Orem muito, peçam a Deus que tenha misericórdia dessa terra. (para Noemi) E que você e Tani continuem a pregar nas ruas como começaram. Se possível, com a ajuda de outros que já abriram os olhos.
QUILIOM— Mas caso realmente formos sair daqui... para onde iríamos? Outra tribo israelita?
ELIMELEQUE— Israel inteira está sendo afetada. É o que dizem os rumores. (respira fundo) Nossa nação jaz no pecado.
Todos ali se entreolham tristes e preocupados.
CENA 7: EXT. BELÉM – TRIGAL – DIA
Os dias se passam e as plantações só diminuem mais e mais e mais...
Um grupo de homens preocupadíssimos discutem entre si sobre o que fazer. Entre eles está Yuri.
YURI— A única solução possível é estocarmos o que ainda nos resta...
Aqueles homens balançam a cabeça concordando e se dispersam.
CENA 8: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom comem sentados à mesa. Malom e Quiliom terminam e se levantam para ir servir mais, um tentando passar na frente do outro.
NOEMI— Meninos...
Eles param e olham para sua mãe.
NOEMI— (lamentando) Não adianta disputarem quem chegará primeiro até à comida, porque... isso é tudo o que tínhamos para hoje.
Malom e Quiliom decepcionados, mas não reclamam.
MALOM— Tudo bem.
Tristonhos, os dois saem para a rua. Elimeleque observa Noemi fechar os olhos com tristeza.
ELIMELEQUE— Meu amor...
NOEMI— (chorosa) É difícil, Elimeleque... É muito difícil! Meu coração se parte ao ter que dizer para os meus filhos que não há mais o que comer...
Elimeleque sai do seu lugar e se aproxima da esposa. Abraça-a encostando a cabeça dela em seu peito. Lágrimas brotam dos olhos de Noemi e riscam seu rosto. Elimeleque extremamente preocupado...
CENA 9: EXT. CASA DE NOEMI – RUA – DIA
Tristes e preocupados, Malom e Quiliom caminham de um lado para o outro na frente de casa.
QUILIOM— Está pensando o que estou pensando, Malom?
MALOM— Vamos--
QUILIOM— (interrompendo) Orar.
MALOM— Sim.
QUILIOM— Vamos.
Meio sem jeito, Malom e Quiliom se ajoelham ali mesmo. Se olham e então fecham os olhos.
MALOM— Ó Senhor, nosso bom Deus! Aos teus pés viemos para... para te pedir... que tenha misericórdia de nós... Tenha misericórdia de nosso povo, Senhor...
Eles continuam em oração...
CENA 10: INT. HOSPEDARIA – DIA
Escorada no balcão, Tamires olha para o DONO (87 anos, baixinho, barbudo, carrancudo) com um olhar mandão.
TAMIRES— Eu quero bastante comida, está entendendo? Muita! Eu tenho ouro, estou pagando, portanto o senhor deve me atender. E agora!
DONO— Não adianta ficar falando e falando e repetindo a mesma coisa, porque não tem comida, e não tem mesmo e não adianta bater o pé porque não vai brotar comida do nada!
TAMIRES— Eu sempre achei esse lugar uma espelunca, mesmo! Não aguento ficar nem mais um dia nesse chiqueiro!
DONO— Olha o respeito, hein! Olha como fala! Olha o respeito, minha senhora!
TAMIRES— Que respeito o quê! É a verdade! Não, é pior! Porque num chiqueiro ainda tem comida!
DONO— Ah, vá pra lá então! Suma da minha frente, tenho mais o que fazer!
O homem dá as costas para Tamires e ela cospe no chão. Nesse momento, Maya e Iago entram na hospedaria e ela reconhece Tamires.
MAYA— Espera, quem é aquela? Tamires?!
Tamires olha para a entrada e vê o casal.
TAMIRES— Finalmente pessoas que valem alguma coisa nessa cidade!
MAYA— Tamires! É você mesma?!
Maya corre até Tamires.
MAYA— Não estou acreditando que estou te vendo aqui!
TAMIRES— Maya, minha amiga... Pode ter certeza que sou eu.
MAYA— Ah, que alegria!
Maya abraça Tamires.
MAYA— Minha amiga querida... Quanto tempo...
TAMIRES— 25 anos...
Maya e Tamires se soltam.
MAYA— Lembro que foi embora por causa do Neb, mas... desistiu da ideia de manter distância? Superou? Não é pra menos, ahn? 25 anos... Ou está aqui apenas de passagem?
TAMIRES— Vim de definitivo, mas já estou começando a me arrepender, vide essa hospedariazinha que não tem mais comida alguma.
IAGO— Então acabou aqui também? Viemos justamente para ver se podíamos comprar algo.
MAYA— Há quanto tempo está na cidade, Tamires?
TAMIRES— Hum, algumas semanas...
MAYA— Semanas?! E como não nos procurou? Por que está hospedada aqui?
TAMIRES— Nesses anos em que estive em Hebrom, meu velho pai morreu e a casa foi comprada. Vocês devem saber. Quanto a procura-los, agradeço a preocupação, minha amiga, mas eu não queria incomodá-los.
IAGO— Sabe bem que não é incômodo algum.
MAYA— Ao menos costumava saber, quando éramos todos jovens.
TAMIRES— (sorrindo) É... Bons tempos.
MAYA— Bons tempos...
IAGO— Que não voltam mais.
Os três fazem que sim.
MAYA — Bem, não pense que vou deixar minha amiga continuar a viver em uma hospedaria. Ainda mais em uma que não tem comida. Venha ficar conosco, Tamires.
TAMIRES— Ah, Maya, não sei... Sinto que estarei incomodando.
MAYA— Pare com isso, Tamires. Pegue logo suas coisas e vamos.
TAMIRES— (sorrindo) Tudo bem, então. Mesmo depois de todo esse tempo, você continua sendo a mesma Maya de sempre.
Maya sorri.
MAYA— Agora vá logo pegar suas coisas. Vamos te esperar para irmos.
TAMIRES— Certo!
Tamires vira para subir a escadaria que leva aos quartos, mas para, vai até o balcão e pigarreia chamando o dono, que está em um canto. Ele vira para ela, já bravo.
DONO— O que é?!
TAMIRES— Eu quero meu ouro de volta. Vou embora dessa coisa que você chama de hospedaria.
DONO— Ah, graças a Deus! Em qualquer outra ocasião, eu protestaria e tentaria convencer o hóspede a permanecer aqui. Mas no seu caso, eu faço questão de que vá!— Sorrindo, o velho pega algumas moedas e faz que vai entregar na mão dela, mas despeja no balcão.
DONO— Até nunca, minha querida.
Com raiva, Tamires pega as moedas no balcão.
TAMIRES— Pensando bem, acho que isso aqui é sim um chiqueiro! E você é o porco! Velho porco! Nojento! Até nunca pra você também!
Pisando duro, Tamires vai para a escadaria. Maya e Iago ficam ali achando graça da situação. Sem ser afetado pelas ofensas, o dono fica rindo de alegria. Minutos depois, Tamires volta com suas coisas.
TAMIRES— (sem parar) Nojento!
Tamires sai acompanhada de Maya e Iago. Muito feliz, o dono continua a rir.
DONO— (mais para si; ainda rindo de alegria) Vai encher a botija de outro...
E ri...
CENA 11: EXT. TEMPLO – PÁTIO – DIA
Um grande pátio ao ar livre, com jardins e esculturas ao redor. Nas principais entradas, soldados em forma.
No meio do pátio, dezenas de meninas entre 6 e 10 anos estão reunidas em pé e alinhadas, à espera. Aos seus pés, um tapete e uma mesinha de madeira.
Rute e Orfa chegam ali. Rute caminha com a graciosidade que o cargo de sacerdotisa lhe exige. Passa pelas primeiras meninas observando-as. Ao chegar no meio, à frente de todas, Rute para e vira de frente para elas. Orfa fica logo atrás. Escondida atrás de uma coluna, a Sacerdotisa Myra observa Rute.
RUTE— No dia em que vocês nasceram, já haviam sido escolhidas para essa missão há muito tempo. Logo após seus olhos enxergarem a luz do mundo pela primeira vez, vocês foram consagradas nas águas de Tiamat, Mot e Baal. E tudo isso para que, um dia, a paz e a prosperidade alcancem nosso reino por meio do sacrifício de seu puro sangue.
As meninas olham Rute atentas.
RUTE— Vocês já passaram por várias etapas na seleção da próxima oferenda de Moabe, mas agora os testes serão mais dificultosos. Além de estar à altura de tal honra, a escolhida precisa também estar muito bem preparada para servir a Moabe, assim como a anterior serviu na guerra contra os amorreus, livrando nossas vidas da morte certa. E na primeira parte dessa nova fase, vocês deverão provar que ainda retém todo o conhecimento que lhes foi passado desde sua mais tenra infância. A candidata que não atingir a pontuação mínima, estará eliminada da seleção e voltará vergonhosamente para suas famílias.
Leve apreensão em algumas meninas.
RUTE— Orfa, por favor.
Orfa traz alguns papiros e penas e entrega metade para Rute, que vai distribuir de um lado enquanto ela distribui de outro. Myra continua escondida, observando-as. As sacerdotisas terminam de distribuir os papiros e voltam para a frente das garotas.
RUTE— Podem começar a prova.
As meninas sentam no tapete, à frente da mesinha onde estão o papiro e a pena com tinta, e começam a fazer a prova. Rute e Orfa as observam. Nesse instante, Myra sai de trás da coluna e se aproxima caminhando majestosamente. Rute e Orfa se surpreendem com a presença de sua superior.
RUTE— Sacerdotisa!...
Myra chega ali e para. As meninas deixam de fazer a prova para olharem, admiradas, a Sacerdotisa.
MYRA— (sorridente) Rute. Estive observando-a escondida, espero que não se importe.
RUTE— Imagine, senhora. Claro que não.
MYRA— Você tem jeito com as meninas. Na verdade com tudo que tange a arte de adorar e servir aos deuses. Sabe que um dia pode vir a ser a Sacerdotisa de Moabe em meu lugar, não sabe?
RUTE— (humilde) Agradeço a confiança, senhora.
MYRA— Bom, agora vou deixa-las continuar. Com licença.
Rute e Orfa fazem uma reverência com a cabeça e a Sacerdotisa Myra sai sob os olhares das meninas. Rute então olha para Orfa.
RUTE— Vi como olhou, Orfa. Não tenha ciúmes, não almejo o cargo de Sacerdotisa. Se quiser, deixo o caminho livre.
ORFA— Não, ouvir isso da própria Sacerdotisa é uma honra sem tamanho, Rute. E essa honra é toda sua.
A contragosto, Rute faz que sim e volta a observar as meninas realizando a prova.
CENA 12: INT. CASA DE IAGO – SALA – DIA
Maya, Iago e Tamires estão chegando na casa.
MAYA— Não se engane, entendeu, Tamires? Apesar de ainda termos comida, não é muito, não. A crise é em todo lugar.
TAMIRES— Eu entendo. Mas precisamos pensar em um jeito de resolver isso.
IAGO— Já foi pensado e já começará a ser feito. Construiremos alguns lugares para guardar o trigo que ainda resta.
TAMIRES— Mas pelo andar da carruagem, essa praga não vai acabar na próxima lua, e o trigo estocado findará. Nós precisamos fazer outra coisa.
MAYA— Que outra coisa poderíamos fazer, Tamires?
TAMIRES— Não sei ainda. Não sei...
Tamires permanece pensativa.
CENA 13: EXT. BELÉM – TRIGAL – DIA
Mais dias se passam, e encontramos Elimeleque, Yuri e outros homens no trigal que já não tem trigo algum. Eles observam um outro homem que vem dos lados mais distantes do campo.
ELIMELEQUE— E então?
O recém-chegado faz que não com a cabeça.
HOMEM— Acabou. Acabou tudo.
Uma sombra de tristeza cai sobre todos aqueles rostos.
YURI— Agora só temos o trigo armazenado...
ELIMELEQUE— Amigos, antes de irmos mexer com a estocagem, orem comigo. Vamos pedir a Deus que não deixe que a miséria nos destrua...
Aqueles homens, revoltados, fazem gestos grosseiros se negando e saem pisando duro, ficando apenas o que acabou de chegar e Yuri. Elimeleque olha para eles e se ajoelha. Eles o imitam.
ELIMELEQUE— (choroso) Senhor... Senhor... Misericórdia, Senhor...
Eles continuam a orar, e... IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!