CAPÍTULO 26
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 39 + Capítulo 40 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 01: EXT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE
Aylla prestes a fugir. Barulhos na porta.
FARUK (O.S.)— Abram logo essa porta!
AYLLA— É o senhor Faruk, o Sumo Sacerdote!
MALOM— Eles descobriram! Precisamos ser rápidos! Venha, Aylla!
Aylla passa uma perna enquanto Malom a segura. A porta se abre de uma vez e dois soldados entram, seguidos de Faruk, que para ao ver Aylla saindo pela janela com Malom do outro lado, auxiliando-a.
FARUK— Maldito! É um impostor! Peguem-na!!!
Mais soldados entram e correm até a janela. Malom puxa Aylla com mais força, mas um homem agarra a perna da menina e a puxa também.
MALOM— Quiliom, se prepare!
Quiliom se posiciona embaixo. Então outro homem agarra a perna de Aylla, e Malom a puxa de uma vez e a solta. Ela despenca, mas Quiliom a agarra no ar e eles caem amortecidos.
QUILIOM— Oi, Aylla! Eu sou o irmão dele!
Aylla faz que sim. Ao ver Aylla a salvo, Malom olha para os homens à sua frente.
FARUK— Acabem com ele!
Os soldados sacam suas espadas e golpeiam. Malom tenta desviar enquanto se esforça para não cair. Se mexe para lá, para cá, se equilibra alternando as mãos, tenta se segurar em outros pontos... Mas uma espada faz um corte em seu braço. Ele se desequilibra e outro soldado o fere na costa da mão. Malom então se desprende e despenca meio sem jeito. Quiliom tenta amortecer a queda do irmão.
Os dois se olham assustados.
QUILIOM— Você está bem?!
MALOM— Só o suficiente para sairmos daqui!
Faruk chega na janela e os vê.
FARUK— (para os soldados) Rápido, para fora!!! Atrás deles!!! Não deixem saírem com a oferenda! Reforços!!!
MALOM— Não podemos perder tempo, temos que ir agora!
Malom e Quiliom se levantam e vão até Aylla.
MALOM— Me dê os braços, eu te carrego.
QUILIOM— Não quer que eu faça isso, Malom? Você está ferido.
MALOM— Eu consigo. Venha, Aylla.
Malom pega Aylla e ela se segura no pescoço dele.
MALOM— Vamos, rápido!
Malom e Quiliom saem correndo. No outro pátio, Rute e Orfa observam com apreensão Quiliom e Malom, com Aylla no colo, correndo em sua direção. Eles não param, apenas diminuem.
MALOM— Fomos descobertos, os soldados estão vindo! Vamos, vamos!
Orfa sabe o motivo da descoberta, mas todos eles então correm.
Logo, soldados correndo surgem dos dois lados, tentando emparelhar com eles.
QUILIOM— Para onde vamos?!
RUTE— Vamos por cima do muro!
QUILIOM— Como?!
RUTE— É perigoso, mas será a única saída!
Eles mudam a direção levemente para a direita, se aproximando mais de um grupo de soldados que tentam alcança-los. Quiliom olha com receio para os homens. Liderados por Rute, eles sobem uma escadaria externa de um prédio com rapidez. Os soldados fazem o mesmo. Rute, Orfa, Quiliom e Malom com Aylla chegam na cobertura do prédio e correm pela laje. Logo atrás, os homens também alcançam a cobertura e continuam a persegui-los. Faruk os segue pelo chão, cuidando lá em cima.
RUTE— Cuidado aqui!
Da laje eles pulam para um muro onde cabe apenas uma pessoa por vez.
QUILIOM— Uou, uou!...
MALOM— Cuidado! Corram, mas tomem cuidado!
Malom olha para trás e vê os soldados pulando com agilidade para o muro onde estão. Percebe que Aylla os observa com medo. Então vira a cabeça dela para frente. Rute, liderando-os, corre pelo muro alto. Orfa vem logo atrás, e por fim Malom e Quiliom. Lá embaixo, Faruk pega objetos do chão e lança neles.
QUILIOM— Cuidado!
Apesar disso, nenhum os acerta. Furiosos, Faruk é obrigado a desviar a rota por causa de outro prédio. Eles continuam pelo muro.
QUILIOM— Onde que pensamos que um dia estaríamos fazendo isso, Malom?! Fugindo, com nossas vidas em risco, por um muro alto e estreito desse!
MALOM— Não vejo graça alguma, Quiliom! Só por Deus que ainda não me desequilibrei com ela!
RUTE— (gritando) Não se preocupe, Aylla!
Eles correm, mas os soldados são ágeis e continuam em seu encalço.
O muro finalmente chega ao fim e eles param. Atrás, os soldados se aproximam a toda velocidade, porém, ao vê-los parar, alguns da frente param e os de trás batem neles, desequilibram e caem. Os que sobram se aproximam.
ORFA— Como vamos descer?!
QUILIOM— Esperem!
Quiliom então senta, se segura no muro e desce escalando o quanto pode. A certa altura ele se solta e cai.
QUILIOM— Jogue ela!
MALOM— (para Aylla) Confie em mim.
AYLLA— Eu confio...
Malom então pega Aylla, a abaixa e solta. Ela despenca e Quiliom a agarra.
QUILIOM— (para Aylla) Melhor que a anterior. Estou ficando bom nisso.
Aylla sorri minimamente e Malom desfere um empurrão no soldado que chega nele. O segundo tenta feri-lo à espada, mas ele desvia.
MALOM— Vocês duas, desçam logo!
Rute e Orfa escalam o muro descendo até onde podem, e depois se soltam e caem lá embaixo. Quiliom pega algumas pedras grandes e lança nos soldados que lutam com Malom, e alguns deles caem. Malom aproveita para descer.
Lá embaixo, uns dos que caíram tenta se levantar e Malom se prepara para lhe dar um soco... Mas PAN! Quiliom mete o chute no rosto do soldado, que cai desacordado.
MALOM— Eita...
QUILIOM— O quê?!
MALOM— Essa foi violenta...
QUILIOM— Vamos!
Eles saem correndo e logo avistam o portão do templo.
MALOM— Peguem pedras, vamos precisar.
Rute e Orfa pegam algumas pedras que estão por ali.
MALOM— Abra, Quiliom.
Quiliom abre o portão. Antes que os guardas do lado de fora possam reagir, Rute e Orfa jogam as pedras neles, que caem. É o suficiente para eles correrem e fugirem pelas ruas. Os guardas, sangrando em algumas partes do corpo, tentam se levantar. Pouco tempo depois, Faruk e um grupo de soldados chega ali correndo.
FARUK— Idiotas!!! Para onde eles foram?!
Os guardas caídos apontam e Faruk corre com os soldados. Eles se dividem em diferentes ruas.
CENA 02: EXT. MOABE – RUAS – NOITE
Rute, Orfa, Quiliom e Malom ainda com Aylla no colo correm, correm, correm muito... Rua após rua, dobram esquinas, passam pelas pessoas que não entendem direito... Até que chegam em uma viela vazia.
MALOM— Esperem... Esperem...
Ainda assustados, eles param desengonçadamente...
RUTE— Estão todos bem?...
Eles se olham.
RUTE— Você está bem, Malom? Seus cortes...
MALOM— Eu aguento...
RUTE— Aylla?
No colo de Malom, Aylla olha para Rute.
AYLLA— Eu estou bem, senhora Rute.
ORFA— Não é bom continuarmos assim, juntos... Chamaremos atenção nas ruas.
QUILIOM— Sim... É bom nos separarmos.
RUTE— Você e Quiliom, vão por aquele lado. Eu fico com Malom e Aylla.
ORFA— Certo. Vamos, Quiliom.
Quiliom e Orfa saem correndo por um lado. Rute se aproxima de Malom.
RUTE— Me faltam palavras para te agradecer.
MALOM— Tente encontra-las quando isso tiver acabado. Precisamos ir.
RUTE— Sim, sim...
Rute, Malom e Aylla segurando firme no pescoço de Malom saem por um lado. Malom para na esquina, olha lá para cima... Nem sinal dos soldados. Então continua, sai em outra rua pequena... Apenas mercadores e alguns transeuntes. Continuam a ir. Viram em uma rua que desce a ladeira e vão. Todo o tempo olhando para trás e paras as ruelas que cruzam aquela... De repente um barulho acima e eles se assustam, mas era apenas um pássaro levantando voo. Eles tomam um beco.
Avançam cuidadosamente pelo beco. Algumas pessoas conversam tranquilamente na porta de suas casas e lojas, alheios à angústia deles. E continuam.
De repente, ali na frente, dois soldados aparecem e vem em sua direção. Eles param de uma vez e viram para trás, mas outro vem por ali com a espada na mão.
RUTE— Ah, não... E agora?!
Eles ficam enrascados. Não há para onde ir... Os dois soldados chegam tranquilamente ali e sorriem para eles. O soldado de trás para, cuidando-os.
Malom aperta Aylla em si e Rute agarra o braço de Malom.
Um dos soldados se aproxima bem e, com seu olhar maldoso, passa a mão carinhosamente no cabelo de Aylla.
SOLDADO— Que gracinha...
VOZ— Fale isso para a minha espada, ela vai gostar!
De repente o transeunte tira uma espada de trás de si e faz um corte feio no braço do soldado que acariciava Aylla. Ele cai. Malom e Rute percebem que é Quiliom!
MALOM— Perfeito, irmãozinho!
Os outros dois soldados vão em direção a Quiliom. Um consegue, mas o outro é interceptado por Malom, que o agarra por trás, apertando o pescoço com seu braço, e depois o joga contra a parede. O soldado cai e fica com dificuldade de se levantar. Quiliom e o último soldado duelam à espada. Golpes em cima, em baixo, pulos, desvios, gritos... Tudo isso é interrompido com Malom chegando por trás do soldado e quebrando em sua cabeça um vaso pego por ali.
QUILIOM— Eu ia vencê-lo...
MALOM— (sorrindo) Eu sei... Vamos!
Eles saem correndo. Em outra rua, Orfa desce a ladeira correndo. Um vulto está próximo dela. Sem dificuldade, o homem a agarra e a para; é Faruk.
FARUK— Pare! Pare!!! Orfa!!!
Orfa olha cansada e assustada para Faruk.
FARUK— Para onde eles foram?! Para onde???!!!
ORFA— Senhor!... Diga-me a verdade... Para quê quer fazer o sacrifício?!
PAH! Faruk mete o tapa em Orfa.
FARUK— PARA ONDE???!!!
ORFA— Não sei!!!
FARUK— FALA!!! FALA!!!
ORFA— Não sei!!! Pra lá, talvez!... Não sei!...
Faruk corre na direção apontada por Orfa. Ela, quase chorando, respira ofegante e confusa. Olha para onde ele foi... Então sai correndo por outro lado.
Malom carregando Aylla, Quiliom e Rute correm por outra rua. Um grupo de soldados os avista e começam a persegui-los. Rua após rua, esquina após esquina... As pessoas paradas ficam confusas com eles passando a toda velocidade por elas. Ao ver os soldados vindo, elas se afastam com rapidez.
MALOM— Rute, Quiliom!... Continuem pelo chão! Vou com Aylla por cima.
RUTE— Por cima?!
Malom olha as casas ao lado.
QUILIOM— O que você vai fazer, Malom?!
Segurando Aylla firmemente em seus braços, Malom dá um salto e sobe em uma varanda. Rute e Quiliom parecem diminuir a velocidade para vê-lo.
MALOM— Vão! Vão!!!
Os dois continuam. Malom escala a varanda e sai na laje da casa. Dali para baixo do morro, as casas são muito próximas umas às outras. Malom avista que os soldados estão já próximos daquela casa.
MALOM— Segure...
Aylla agarra o pescoço de Malom, que respira fundo e pula de uma laje para outra.
MALOM— Não foi tão difícil... Nós vamos por cima, de telhado em telhado.
Aylla olha para as próximas casas e faz que sim um tanto receosa. Malom então começa a correr e a saltar de uma laje para outra. Em cada uma, objetos diferentes. Cestos, vasos, plantas, varais com tecidos pendurados, cadeiras...
Lá embaixo, um soldado o ultrapassa pelo chão e sobe, com agilidade, em uma casa à frente. Malom é surpreendido com o homem e obrigado a desviar. Cai meio sem jeito em uma varanda cheia de gente que, assustados, abrem caminho. Ele continua de varanda em varanda e, ocasionalmente, por cima de lajes.
O soldado que o havia surpreendido sinaliza para os outros, que se espalham pelos telhados, becos e varandas. Malom corre muito. Desce de uma laje para um quintal, dali para outra laje em nível mais baixo, e vai morro abaixo.
Em outra rua...
QUILIOM— (olhando para as casas ao redor) Eu não os vejo...
Rute também procura.
RUTE— Precisamos ajuda-los...
QUILIOM— Sim... Pegue o que achar pela rua.
Enquanto Quiliom procura pelo irmão, Rute sai pegando coisas aleatórias jogadas por ali.Finalmente ele avista, não muito longe dali, Malom pulando de um telhado para outro.
QUILIOM— Lá! Ali! Vamos!
Quiliom corre e logo avista que os soldados também estão por cima.
RUTE— Por isso os objetos?
QUILIOM— Sintonia!
Rute dá um leve sorriso exausto e arremessa as coisas nos soldados. Quiliom pega alguns das mãos dela e também joga nos homens que perseguem Malom.
Os soldados não chegam a cair com os arremessos, mas se distraem e se atrasam com as coisas jogados em seu rosto. Um grita de raiva e outro tropeça e rola dali.
Um pouco mais livre, Malom avista Quiliom e Rute, que correm pela rua e emparelham com ele.
QUILIOM— Me dê ela, Malom!
Malom fica receoso e olha para Aylla.
AYLLA— Já sei... Eu confio!
Malom sorri, olha para a posição de Quiliom e joga a menina. Mais uma vez Quiliom a agarra no ar, a ajeita em seus braços e sorri para ela.
AYLLA— Já sei... O senhor já está ótimo nisso!
QUILIOM— Menina inteligente!
Quiliom e Rute disparam. Malom vai pular para a rua quando dois soldados surgem em seu caminho. Por causa da velocidade, ele não consegue parar e bate em um, que cai seco para trás. Malom cai desengonçadamente na rua, entre os transeuntes, e sai atrás dos amigos. Logo os alcança e eles continuam.
CENA 03: INT. HOSPEDARIA – NOITE
Iago e Gael bebem sentados à mesa. Iago encara o nada parecendo enjoado... De repente, ele desaba sobre a mesa, desacordado.
Imediatamente Gael faz um sinal para o dono.
GAEL— Não aguentou, coitado. Muito vinho...
O dono vai até ali.
GAEL— Eu preciso ir. Cuide do meu amigo. Não está em boas condições.
DONO— Entendido, senhor.
GAEL— E lembre-se: nunca me viu aqui.
DONO— (confuso) Ce-certo...
Gael se levanta e vai embora. O dono, um tanto aflito, olha da saída para Iago, adormecido sobre a mesa.
CENA 04: INT. CASA DE IAGO – SALA – NOITE
Maya cantarola baixinho enquanto faz seus serviços. Ouvimos o barulho da porta se abrindo.
MAYA— Iago? Voltou cedo, meu amor... Pensei que demoraria mais.
A porta se fecha e Maya olha para lá. Não é Iago quem está ali, mas Gael. Maya se assusta e vira de uma vez pra ele. Gael a encara tranquilamente.
CENA 05: EXT. CASA DE LEILA – LOJA – FRENTE – NOITE
Noemi, Elimeleque e Leila da mesma forma de antes: ansiosos e aflitos.
De repente, barulhos vindos lá de cima da rua.
ELIMELEQUE— São eles.
Logo Malom, Quiliom com Aylla e Rute aparecem lá em cima e se aproximam correndo. Eles param derrapando os pés.
NOEMI— Meu Deus! Vocês estão bem?! Malom, está ferido!
ELIMELEQUE— O que aconteceu?! Por que a correria?!
Leila encara Aylla nos braços de Quiliom.
LEILA— Essa é a menina...
MALOM— Sim, e precisamos entrar. Estão vindo atrás de nós.
RUTE— E Orfa?! Não chegou?!
NOEMI— Ninguém chegou...
RUTE— Precisamos esperar por ela...
MALOM— Rute, entre com Aylla.
Rute faz que sim, pega Aylla dos braços de Quiliom e entra. Leila as acompanha.
Quase no mesmo instante, Orfa vem correndo por outra rua e para ali.
QUILIOM— Orfa! Estava tão preocupado!
Orfa o abraça.
NOEMI— Vamos entrar, vamos logo...
Quando eles estão entrando na loja, PÁ! Uma flecha passa por eles a altíssima velocidade e crava na madeira da porta. Eles viram para a direção de onde ela veio e veem Faruk com alguns soldados se aproximando.
FARUK— Não se mexam! (pequena pausa em que sorri) Estão encurralados.
Noemi, Elimeleque, Malom, Quiliom e Orfa olham assustados para ele, que se aproxima e para, encarando-os vitoriosamente.
CENA 06: INT. CASA DE IAGO – SALA – NOITE
Maya, assustada, encara Gael, parado na porta.
MAYA— Quem é você?
GAEL— Não se assuste. Sou amigo da sua amiga. Sou da Caravana.
MAYA— E por isso eu deveria ficar tranquila?
GAEL— Eu vim fazer algo bom...
Maya franze o cenho.
GAEL— (completando) ...para o seu marido.
Gael então se aproxima calmamente da mesa. Maya o observa mantendo distância. Ele se senta tranquilamente.
MAYA— Você não tem direito de entrar aqui assim... Nem bateu, nem chamou!...
GAEL— É necessário que seja assim.
MAYA— O que você quer?
GAEL— Maya, primeiro vou falar do que não quero. Eu não quero que em momento algum você pense que isso será pessoal.
Maya balança a cabeça confusa e cada vez mais assustada.
GAEL— Por favor, sente-se.
Ela olha para a cadeira, mas fica em seu lugar, distante.
GAEL— Agora falemos do que você quer saber, que é o motivo da minha estadia. Depois de presenciar o que o seu marido fez com os saqueadores, Segismundo passou a querer muito Gael na Caravana.
MAYA— Presenciar?...
GAEL— Infelizmente Iago não aceita, e isso é por causa de você.
MAYA— Onde... você quer che-chegar?...
Encarando-a, Gael respira fundo.
GAEL— Enquanto você viver, Iago não entrará para o nosso grupo.
Maya o encara cada vez mais aflita.
GAEL— E ele é a peça que falta para levar a Caravana da Morte para um patamar imbatível.
Maya já entendeu tudo. Por alguns segundos ela o encara. De repente, abre a boca tentando achar forças para gritar. Imediatamente Gael se levanta, vai até ela e a agarra em seus braços. Maya tenta gritar, mas ele tampa sua boca e impede qualquer movimento seu de fuga.
Gael então vai até a porta mantendo Maya presa em seus braços e com a boca tampada. Lá, ele a abre e pega algo no chão do lado de fora: uma corda. Por causa das unhas de Maya e do atrito com a porta, um pedaço da veste de Gael se rasga e cai no chão. Ele fecha a porta e volta para a cadeira. Ele então a senta e começa a amarrá-la pelos braços, sempre mantendo uma mão tampando a boca.
Com os braços amarrados, Gael passa a corda duas vezes pela boca dela, impedindo-a de fechar a mandíbula e também de emitir som. Ela tenta se debater e gritar, mas em vão. Olhando-a, Gael respira fundo. Então volta para a porta, abre-a novamente e pega outra coisa lá fora: uma tocha ainda apagada. E volta para dentro.
Maya o olha com extrema aflição. Gael vai até alguma chama que ilumina o local e acende a tocha. Logo, as labaredas ardem maliciosamente vivas.
Maya desesperada...
CENA 07: EXT. CASA DE LEILA – LOJA – FRENTE – NOITE
Noemi, Elimeleque, Leila, Malom, Quiliom e Orfa olham assustados para Faruk, com os soldados atrás de si, alguns arqueiros. Rute, lá dentro, coloca Aylla atrás de uma prateleira e se aproxima de onde todos estão. Faruk a olha com extremo rancor.
FARUK— Essa traidora pensou que escaparia?!
Rute franze o cenho. Olha para Orfa e de volta para Faruk.
FARUK— (para Rute) Confia nela, Rute? Pois foi ela quem te denunciou.
Rute muda o semblante, fica abismada... Quiliom também está surpreso. Confusa, Rute olha para Orfa.
ORFA— Eu posso explicar, Rute! Eu juro que posso--
FARUK— (para os soldados) Entrem e encontrem a oferenda.
Os guardas passam por ele e intentam entrar na loja, mas Malom e Quiliom, segurando suas espadas, bloqueiam o caminho.
FARUK— Como ousam?! Eu sou Faruk, o Sumo Sacerdote de Moabe! Tenho o poder de condená-los à morte! E de condená-los à ressuscitarem apenas para morrerem de novo!!!
QUILIOM— Então avance, e vamos ver se esse seu poder todo vai poder parar a minha espada viajando na direção do teu estômago!
Faruk fica vermelho de ódio. Rute se aproxima de Faruk e o encara com firmeza.
RUTE— Fora daqui.
FARUK— Como é?!
RUTE— Fora... daqui!
FARUK— Isso é algum piada?!
RUTE— Você vai embora agora mesmo e nunca mais voltará aqui, nem mesmo mandará alguém.
Faruk gargalha.
FARUK— E como é que acha que vai conseguir isso, ahn, Rute?!
RUTE— Eu vou abandonar o sacerdócio, sairei do templo e vou morar aqui na cidade. Vou--
MALOM— (interrompendo) Vai se casar.
Faruk e Rute olham para Malom.
RUTE— Sim.
Faruk a olha enojado.
FARUK— E você, Orfa?!
Orfa engole em seco. Olha receosa para Quiliom, que mal a olha.
ORFA— Vou... Vou me casar.
Faruk balança a cabeça negativamente.
FARUK— Qual é o seu problema?! Vou denunciar tudo ao rei. Certamente serão condenadas à morte ainda hoje!
RUTE— Você não vai fazer isso, não vai falar nada para ninguém! E garantirá que esses homens não falem também.
Faruk a encara.
RUTE— Aliás, você vai falar sim sobre Orfa e eu, mas à favor. Vai nos apoiar e nos defender para que Zylom não retalie.
FARUK— Nunca!!!
RUTE— OU ENTÃO!... (respira fundo; firme) Ou então eu vou contar diretamente ao rei que o Sumo Sacerdote de sua confiança sequestra crianças para realizar sacrifícios. Sacrifícios esses que não são para o benefício do rei ou do reino, mas para si.
Faruk sente o baque e fica pálido.
RUTE— Eu sei de tudo, Faruk. Eu o vi. Era eu no santuário. Joguei meu anel para escapar, mas vi o suficiente.
Faruk está claramente perdido. Então tenta recuperar alguma força e olha para ela.
FARUK— O rei nunca acreditaria em você. Uma desertora, uma traidora! Eu tenho muito mais palavra, muito mais prestígio!
RUTE— Você veio com tudo atrás de nós, de Aylla... Quase a cidade toda está aí de testemunha.
FARUK— Estava apenas cuidando dos negócios do reino!
RUTE— É mesmo, Faruk? É do ofício do Sumo Sacerdote comandar soldados em perseguições pelas ruas? Admita que muita, mas muita suspeita cairá sobre você. E, dependendo do ânimo do rei no dia, suspeitas são mais que o suficiente para o destino do acusado ser a forca.
Faruk percebe que está encurralado.
RUTE— Nunca mais você importunará essa família, Aylla... ninguém. Vai embora e vai nos deixar aqui, em paz. E nunca mais sequestrará criança alguma.
Nervoso, Faruk olha para todos os lados.
RUTE— (estendendo a mão) Nós temos um acordo, Faruk?
Faruk aperta os lábios, olha com raiva para Rute, mas, com muita dificuldade, pega a mão dela. Por fim se soltam.
QUILIOM— Agora vá embora. E rápido.
Faruk olha para Quiliom, para Orfa, para Leila, para Elimeleque e para Noemi. Depois olha para Aylla, já na entrada da loja, como um cão que perdeu seu pedaço suculento de carne.
QUILIOM— Vamos, fora!
FARUK— (para Rute e Orfa) Vocês não levarão nada de lá! Nem, até então, seus pertences! Absolutamente nada--
RUTE— (interrompendo) Eu não quero nada! O que tenho é o suficiente.
Os músculos do rosto de Faruk tremem de raiva e nervoso. Ele a olha uma última vez de cima a baixo e vira, indo embora. Os soldados o acompanham e eles sobem a rua. Faruk não olha nem uma vez para trás.
Todos ali sorriem aliviados e se abraçam. Aylla vem correndo de dentro da loja e se junta a eles.
LEILA— Obrigada, sacer--
RUTE— (sorrindo) Rute, apenas Rute.
Eles riem.
ELIMELEQUE— Você foi muito corajosa. Parabéns.
NOEMI— Que fibra, hein, Rute?
Rute sorri para Noemi e eles voltam a se abraçar. Elimeleque pega Aylla no colo e brinca com ela. Por fim, os olhares de Rute e Orfa se cruzam. Um mal-estar no ar...
RUTE— Nós temos que conversar. Muito sério.
Orfa, ciente de sua culpa, a encara.
CENA 08: INT. CASA DE IAGO – SALA – NOITE
Gael, de pé e segurando a tocha em chamas, encara Maya amarrada, desesperada e com o rosto molhado de lágrimas.
GAEL— Iago precisa perder tudo, absolutamente tudo, para que possamos ganha-lo. Eu sinto muito, mas é bom que você aceite. Estaremos dando uma vida melhor para o seu marido.
Friamente, Gael começa a colocar fogo nas coisas. Nos tecidos, nas madeiras... Maya grita com os olhos arregalados. Gael não a olha, apenas dá início a focos de incêndio em todos os cantos da casa. As chamas se juntam e o incêndio se espalha com rapidez.
Ele volta para onde ela está. Fogo para todos os lados... Gael abandona a tocha nos pés da cadeira de Maya. Seus gritos aumentam, mas o som é abafado pela corda e seus movimentos não resultam em nada.
Já sem nada nas mãos, Gael a observa.
GAEL— É o que acontece com quem fica no caminho da Caravana da Morte.
Ela grita, implorando... Ele vira as costas e caminha, entre as chamas, para a porta. Abre-a e sai.
Maya usa todas as suas forças para tentar se soltar, mas nada. O fogo se espalha e cresce ao seu redor. Molhada de suor e lágrimas, seu desespero apenas aumenta. As coisas ao redor começam a desabar. O teto à frente dela cai com as chamas. Mal a enxergamos... O fogo a cerca.
CENA 09: EXT. CASA DE IAGO – FRENTE – NOITE
Um fumaceiro sai da casa. Gael pega suas coisas do lado de fora quando nota o pedaço rasgado de suas vestes caído. Então chuta-o para mais próximo da casa, para que seja queimado, e sai. Gael se afasta da casa tranquilamente. Atrás dele, BUM!!! As janelas explodem e as chamas saem para fora. Gael não esboça reação e nem olha para trás, apenas continua a caminhar, se afastando da casa, e IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!