CAPÍTULO 37
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 52 + Capítulo 53 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 01: EXT. MOABE – CAMPOS – ALVORADA
Rute, inconformada, continua a olhar Noemi.
NOEMI — Que o Senhor dê a vocês descanso e segurança na casa de outro marido.
Noemi se aproxima de Orfa, que chora, e a beija na testa demoradamente. Depois vai até Rute, também chorando, segura seu rosto e beija sua testa. Rute olha para ela.
RUTE — Eu não voltarei para Moabe. Vou com a senhora!
ORFA — Iremos contigo, Noemi.
NOEMI — Esse fardo é meu, e apenas meu. Não tenho mais nada para dar a vocês...
As duas a encaram em lágrimas.
NOEMI — Por acaso tenho eu ainda no meu ventre mais filhos para que sejam maridos de vocês? (pequena pausa) Voltem, filhas minhas. Vão embora.
Rute e Orfa choram bastante, principalmente Rute.
NOEMI — Já sou muito velha para me casar, para ter marido. Ainda que eu dissesse a vocês que tenho esperança, ou ainda que nessa noite eu me casasse e tivesse filhos... por acaso esperariam até que eles crescessem e fossem grandes? Interromperiam toda sua vida, no auge de sua juventude, quando mais têm chance de gerar, apenas para esperarem por eles? Sem se casarem com outros?!
Rute não quer aceitar...
NOEMI — Se assim... com a única coisa que eu poderia lhes oferecer, já seria praticamente impossível... então não há nada que eu possa lhes dar.
RUTE — No que quiser que esperemos, esperaremos!...
NOEMI — Palavras de uma jovem... no calor da emoção. Não, minhas filhas. Esse fardo é mais amargo para mim do que para vocês mesmas... Eu perdi tudo... Meu amor, meus dois filhos... A mão do Senhor se descarregou contra mim.
Rute e Orfa choram muito... Orfa então se aproxima e abraça Noemi.
NOEMI — Você tem um coração de ouro, Orfa.
Orfa a solta e sorri para ela. Então a beija no rosto. Noemi retribui com um sorriso.
ORFA — Espero que a senhora entenda... que eu nunca consegui inclinar verdadeiramente o meu coração para as coisas do seu Deus. E a culpa nunca foi de Quiliom.
NOEMI — Eu entendo, Orfa. Eu entendo.
ORFA — Obrigada por tudo. Nunca me esquecerei da senhora... Espero um dia revê-la.
Noemi então leva suas mãos à cabeça de sua nora, como se a abençoasse.
Por fim, Orfa olha Rute... Então deixa as coisas de Noemi, pega as suas e se afasta, voltando por onde vieram. Rute limpa suas lágrimas.
NOEMI — Rute...
Rute funga enquanto limpa os olhos. Então se aproxima de Noemi e a abraça.
Quando se soltam, Noemi olha bem para ela.
NOEMI — Fique em paz. Deus a recompensará por tudo. Você tem um grande coração.
Noemi também a abençoa com as mãos sobre sua cabeça. Então Noemi pega suas coisas, passa por Rute e vai. Caminha, se distancia da nora... Rute fica exatamente no meio. De um lado, Orfa voltando para Moabe. Do outro, Noemi partindo para Belém. Chorosa, Rute olha para Noemi, se distanciando... Chora. Olha para Orfa, que para e vira para ela, esperando-a... Rute olha mais uma vez para Noemi... Para Orfa... Não está se aguentando... Faz que não... Então ela segura suas coisas firmemente, franze o cenho e corre! Corre! Corre na direção de Noemi! Corre até chegar lá e Noemi virar para ela.
NOEMI — Rute. O que está fazendo? Sua cunhada já voltou ao seu povo e aos seus deuses. Siga-a. Volte também.
RUTE — Eu gostaria de perguntar ao seu Deus... o que será do dia de amanhã. O que será da minha vida, o que será de mim.
Noemi a encara, tentando entender.
RUTE — Eu não sei o que o Senhor responderia, mas de uma coisa eu sei, Noemi: eu estou com você nesse amanhã.
NOEMI — (emocionada) Rute, você não--
RUTE — (interrompendo) Noemi, não insista para que eu te deixe! E que me afaste dos teus pés!
Noemi começa a chorar. Rute, em lágrimas, a olha de forma totalmente decidida.
RUTE — Aonde quer que for, eu irei. E onde quer que pousar à noite, ali eu pousarei.
Chorando, Noemi sorri como não acreditando no que Rute está fazendo.
RUTE — O teu povo é o meu povo! E o teu Deus... é o meu Deus! Noemi... Onde você morrer, ali também eu serei sepultada. Que o Senhor me castigue com todo o rigor, e ainda mais... se outra coisa que não a morte!... me separar de você.
As duas choram.
Muito emocionadas, elas se encaram...
Rute sorri. Então se atira ao pescoço de Noemi e elas desabam a chorar.
As duas se abraçam apertado! Estão aos prantos!
Por fim elas se soltam e se olham. Rute sorri para a sogra e ajeita o cabelo dela. Noemi também sorri.
NOEMI — Ah, Rute...
Então Noemi olha para sua outra nora, lá atrás, e Rute também vira. Orfa parece entender que Rute vai mesmo embora, e faz um aceno. Rute acena de volta, despedindo-se.
Orfa vira e caminha de volta para Moabe. Rute a observa com um certo pesar.
RUTE — Que Deus a acompanhe.
NOEMI — Amém.
Rute e Noemi se olham. Então encaram o deserto à sua frente.
Respiram fundo...
Elas se olham mais uma vez... e então começam a caminhar, partindo de uma vez por todas.
CENA 2: EXT. CASA DE LEILA – RUA – MANHÃ
A alvorada dá lugar à luz da manhã. Os primeiros moabitas começam a circular.
O Capitão e mais dois soldados vêm descendo pela rua.
CAPITÃO — Aqui foi onde o corpo foi encontrado.
Na casa em frente à de Leila, um homem espia pela janela. O Capitão se aproxima mais e observa o local com atenção. Então um soldado nota o vizinho de Leila.
SOLDADO — (apontando) Senhor, veja.
Agachado, o Capitão olha e nota o homem, que, um tanto assustado, tenta disfarçar.
CAPITÃO — (levantando) Ei! Você!
Os soldados abrem a porta da casa do homem, entram e o trazem para fora.
VIZINHO — Perdão, senhor!... Eu estava apenas curioso...
CAPITÃO — Você soube que o Sumo Sacerdote foi morto aqui, na frente de sua casa?
O vizinho engole em seco.
VIZINHO — Sim...
CAPITÃO — Você viu alguma coisa?
O homem fica receoso, está desconfortável.
VIZINHO — Vi... Vi tudo.
O Capitão fica surpreso e altamente interessado.
CAPITÃO — Você presenciou o assassinato? Assistiu a tudo?!
VIZINHO — Sim...
SOLDADO — (sorrindo) Um bisbilhoteiro de mão cheia.
CAPITÃO — Um bisbilhoteiro iluminado! Muito bem, quero o seu relato sobre o que viu.
VIZINHO — Será uma honra, senhor. Ahn, eu... terei... uma recompensa?
Os soldados riem.
CAPITÃO — Mas é claro que terá. Sua recompensa será uma enorme distância da lâmina da minha espada. Agora se começar a complicar minha investigação, essa distância começará a se encurtar.
Acuado, o vizinho conta para o Capitão tudo o que aconteceu entre Malom, Quiliom, Faruk e o servo. Por fim...
VIZINHO — E ela está aí, em sua casa...
CAPITÃO — Qual é mesmo o nome dela?
VIZINHO — Leila.
CAPITÃO — (para os soldados) Fiquem aqui com ele.
O Capitão então se aproxima da loja de Leila e bate na porta. Nada. Bate de novo, mais forte. Por fim, ela vem e abre; acabou de acordar.
LEILA — Sim?
CAPITÃO — “Sim”? Sabe quem sou eu?
Leila o olha de cima a baixo.
LEILA — O Capitão do exército?
CAPITÃO — Entendeu agora, não é? Autoridade.
LEILA — Quer que eu me ajoelhe e beije os seus pés?
O semblante dele muda para muita raiva. Se aproxima mais dela.
CAPITÃO — Vou perguntar apenas uma vez: onde estão as esposas dos falecidos Malom e Quiliom? As ex-sacerdotisas do reino.
LEILA — Para uma pergunta feita apenas uma vez, uma resposta basta: não sei.
CAPITÃO — Não sabe.
LEILA — Não.
CAPITÃO — Saia da minha frente.
O Capitão passa empurrando-a, que por pouco não cai. Invade a loja e começa a procurar em todo lugar.
LEILA — Não pode entrar na minha casa assim!
Ele a ignora e vai para a casa. Leila o segue.
CENA 3: INT. CASA DE LEILA – SALA – MANHÃ
Pouco depois, Aylla já está acordada, assustada. Vai até Leila.
AYLLA — Mãe!... O que está acontecendo?!
Terminado de olhar todos os cômodos da casa, o Capitão vai até elas, ali na sala.
CAPITÃO — É o seguinte, minha senhora: se não me dizer onde essas mulheres estão, eu vou levar sua filha presa.
Aylla começa a chorar.
LEILA — Calma, Aylla. Calma, minha filha.
CAPITÃO — E então?! Onde estão elas?!
LEILA — Não estão aqui, não moram aqui. Elas têm sua própria casa!
CAPITÃO — Onde fica?!
CENA 4: INT. CASA DE ORFA – MANHÃ
Um soldado chuta a porta e eles entram. Olham tudo.
CENA 5: INT. CASA DE RUTE – MANHÃ
Invadem a casa de Rute. Vasculham todos os cômodos... Nada.
CENA 6: INT. CASA DE NOEMI – MANHÃ
O Capitão e os soldados reviram as poucas coisas que ficaram na casa de Noemi. Mas não encontram nada.
SOLDADO — Parece mesmo que fugiram, senhor.
CENA 7: INT. CASA DE LEILA – LOJA – MANHÃ
Os três encaram Leila e Aylla.
CAPITÃO — Para onde elas foram?
LEILA — Mesma resposta de antes: não sei.
CAPITÃO — Quer que eu leve sua filha presa, sua maldita?!
LEILA — Eu já disse que não sei para onde elas foram! E, se quer saber, não contaria se soubesse!
Por alguns segundos o Capitão a encara. Então olha para um dos soldados.
CAPITÃO — Os falecidos eram hebreus, assim como a mãe. Podem ter voltado para Israel.
SOLDADO — Se fugiram recentemente, ainda podemos alcança-los.
Entendido isso, o Capitão sai imediatamente. Os soldados o seguem. Leila e Aylla ficam ali, abraçadas e preocupadíssimas.
CENA 8: EXT. MOABE – CAMPOS – MANHÃ
Orfa vem caminhando e limpando as lágrimas quando ouve um barulho. Olha para frente. Três cavaleiros se aproximam a toda velocidade. Ela limpa o rosto e continua a andar, mas estranhando aquilo. Então o Capitão e os dois soldados, montados, diminuem a velocidade e a rodeiam; ela para. Eles galopam ao redor dela.
CAPITÃO — Ex-sacerdotisa... Onde estão sua sogra e sua cunhada?
Orfa fica assustada... Engole em seco e olha para eles. O Capitão então para e vira o cavalo de frente para ela.
CAPITÃO — Vou fingir que você tem algum problema para ouvir e não entendeu o que eu te perguntei. Então vamos lá de novo... Onde estão sua sogra e sua cunhada?
Orfa, aflita, não responde nada.
SOLDADO — Acho que o problema é na língua, senhor.
CAPITÃO — Não faz mal. Há uma forma de curar. Pegue-a.
Um deles desce do cavalo, a agarra e amarra seus pulsos.
ORFA — Me soltem!
CAPITÃO — Ah, ela sabe falar?
Ela o encara.
CAPITÃO — Tarde demais. Virá comigo.
O soldado coloca Orfa em cima de seu cavalo e monta.
CAPITÃO — (para o outro) Convoque homens na região e vá atrás das outras duas.
O segundo soldado sai galopando na direção do rio Jordão. Orfa, no cavalo do primeiro, é levada na direção de Moabe.
CENA 9: EXT. CASA DE BOAZ – FRENTE – MANHÃ
Josias está saindo de casa quando Jurandir, raivoso, se aproxima puxando Diana pelo braço.
JURANDIR — Josias!
Josias se assusta e olha para ele.
JOSIAS — Senhor Jurandir? (olha para ela) Diana?...
Diana o olha como que lamentando profundamente. Jurandir se aproxima mais de Josias, intimidando-o.
JURANDIR — Eu não quero saber de você perto de minha filha. O ocorrido na hospedaria foi a última vez em que estiveram juntos.
JOSIAS — Senhor, nós--
JURANDIR — (interrompendo) Feche a tua boca quando eu estiver falando, menino.
Conturbado, Josias o encara. Diana está balançada.
JURANDIR — Seja lá o que há entre minha filha e você, está acabado. Se se aproximar de Diana, você vai se ver comigo. (se aproxima ainda mais) E vai pagar pelos pecados de seu pai.
Josias o encara sem dizer nada. Diana agarra o braço do pai, tentando puxá-lo.
DIANA — (chorosa) Pai... Não fale dos mortos...
Jurandir solta seu braço das mãos de Diana com rispidez. Olha mais uma vez para Josias.
JURANDIR — (o dedo no peito de Josias) Está avisado.
Imediatamente ele vira, puxa Diana e vai. Ela tenta olhar para trás, mas seu pai a puxa. Assustado e surpreso, Josias fica ali, observando-os ir embora.
CENA 10: EXT. MOABE – CAMPOS – MANHÃ
Noemi e Rute caminham um tanto animadas. Estão passando por uma região de grandes formações rochosas quando Rute para.
NOEMI — O quê, Rute?...
RUTE — Não está escutando, minha sogra?... Cavalos...
NOEMI — Quem pode ser?
RUTE — Soldados, comerciantes, pessoas comuns... saqueadores... Vamos nos esconder. Venha, vamos para trás daquela rocha.
Rapidamente elas dão a volta e se abaixam atrás de uma grande rocha. O som do galope aumenta e os cavalos dos soldados passam por ali. Rute e Noemi, mesmo escondidas, conseguem espiar os homens passando perto delas. Apreensão...
Por fim eles passam e o barulho diminui conforme se distanciam. Elas se entreolham.
RUTE — Apenas soldados.
NOEMI — Nunca se sabe... Não confio neles.
RUTE — Nem eu.
NOEMI — Precisamos cruzar o Jordão o mais rápido possível.
Elas se levantam e retomam a caminhada.
CENA 11: EXT. VILA – MANHÃ
Segismundo caminha pelas árvores na orla da vila enquanto come uma fruta. Está tranquilo nesse início de manhã. De repente ele para de uma vez! Seus olhos esbugalhados miram os galhos de uma árvore logo à frente! A fruta de sua mão cai e sua boca se abre involuntariamente... No lugar onde ele olha, dois corpos muito feridos estão dependurados nos galhos por cordas. Ele saca sua espada.
SEGISMUNDO — Gael... Gael!... Gael!!!
Um barulho e Gael chega ali correndo.
GAEL — O que aconteceu, Segis--
Gael percebe os corpos ali e encara.
SEGISMUNDO — (um tanto desesperado) Gael!... Não vou contar. Dessa vez não, dessa vez não vamos dizer nada!... Não dá, não quero espalhar!
Gael olha para Segismundo... e de volta para os corpos.
SEGISMUNDO — Identifique-os.
Gael se aproxima mais e olha bem para os rostos.
GAEL — Bariel, o cuidador dos animais, e Jaoel, guarda do paiol de armamento.
Gael vira para Segismundo, que passa a mão pelo rosto.
GAEL — Logo darão falta deles, Segismundo.
Segismundo dá de ombros.
SEGISMUNDO — Não importa. Não quero aterrorizá-los ainda mais. No mais, preocupe-se agora com uma outra coisa, algo que é um grande desejo meu.
GAEL — Do que se trata?
SEGISMUNDO — Um tecido babilônico. Livre-se dos corpos e de qualquer vestígio, e depois me procure para eu te dar todas as informações.
Segismundo volta para a vila. Gael vira para os corpos e os encara, um tanto preocupado.
CENA 12: EXT. BELÉM – TEMPLO – FRENTE – MANHÃ
A porta do templo se abre e o Ancião e Tamires saem. Ela encara os dois guardas que a aguardam ali.
ANCIÃO — Pronto, está livre.
Tamires olha para ele.
TAMIRES — Livre? Com esses dois idiotas atrás de mim o tempo todo?
ANCIÃO — Esses dois—- guardas... me reportarão sobre qualquer deslize que você vier a cometer. Portanto, respeite-os.
TAMIRES — Rum.
Tamires olha para eles com desdém. Então passa entre os dois, forçando-os para os lados. Sorri.
TAMIRES — Vamos, meus criados. Acompanhem sua senhora.
O Ancião revira os olhos e os guardas viram para seguirem Tamires, que sai sorrindo.
TAMIRES — Minha própria escolta!
E ri pela rua. O Ancião, observando-a, balança a cabeça em desaprovação.
Então Tamires para subitamente, forçando-os a parar para não bater nela. Retoma... e para de novo. Eles quase tropeçam nos pés dela, que ri da situação.
TAMIRES — Mais cuidado!... Rum...
Os dois se entreolham com raiva, e Tamires sai a passos apressados. Eles se apressam para alcança-la.
TAMIRES — Depois de muito tempo, (abrindo os braços) de volta a Belém! E o primeiro lugar para onde vou é a hospedaria! Comer até me fartar!
E vai. O Ancião volta para dentro do templo.
CENA 13: INT. BELÉM – TEMPLO – CELA – MANHÃ
Mathos está sentado no chão de sua cela quando o Ancião chega ali.
MATHOS — Onde está Tamires?
ANCIÃO — Não lhe diz respeito.
Mathos apenas o observa.
ANCIÃO — Se der a localização de mais homens da Caravana, poderá ganhar vantagens legais em Hebrom.
MATHOS — Quero uma garantia.
ANCIÃO — Podemos conseguir isso.
Mathos o encara.
MATHOS — Eu aceito.
ANCIÃO — Ótimo.
Mathos se prepara para falar.
CENA 14: INT. CASA DE LEILA – LOJA – MANHÃ
Leila e Aylla arrumam as peças de barro na entrada da loja quando o Capitão e o soldado param ali na frente, montados. Sentada atrás do soldado, Orfa com as mãos amarradas.
LEILA — Orfa?!
CAPITÃO — Isso!... é o que acontece com quem sabe das coisas... e não conta.
Então os dois saem. Partem subindo o morro. Leila e Aylla ficam ali, aflitas.
LEILA — Meu Deus!...
AYLLA — Pegaram apenas Orfa?! E Noemi?! E Rute?!
LEILA — Não sei, minha filha!... Não sei!...
CENA 15: EXT. HOSPEDARIA – FRENTE – MANHÃ
Tamires para na entrada da hospedaria.
TAMIRES — Esperem aqui.
GUARDA 1 — Negativo. Temos ordens de segui-la em todos os lugares.
GUARDA 2 — Públicos e casas.
TAMIRES — Ô, seus bichos... Sou uma goiaba para ficarem atrás de mim?!
GUARDA 1 — Se a senhora entrar, entraremos também.
TAMIRES — (murmurando) Maldição...
Tamires então entra e os dois a seguem.
CENA 16: INT. HOSPEDARIA – MANHÃ
O movimento na hospedaria ainda é fraco. Tamires entra e vai direto para o balcão. Ali, bate bem forte na madeira e o dono se assusta!
TAMIRES — Eu quero que você me prepare a melhor comida e me sirva o melhor vinho que tem aí!
O dono aperta os olhos e analisa o rosto dela.
DONO — Eu me lembro de você...
TAMIRES — Deve se lembrar mesmo, velho fedorento. TAMIRES!!! A própria! Livre! (olhando para os dois) Ou quase isso...
Com a lembrança sobre Tamires recuperada, o dono faz um semblante um tanto irritado e vira para preparar a comida.
DONO — Rum.
Tamires sorri com desdém.
CENA 17: EXT. DESERTO – DIA
A manhã avança.
Rute e Noemi descem a encosta gramada às margens do rio Jordão. Ao molharem seus pés, elas param. Rute encara a margem do outro lado.
RUTE — Finalmente... meus olhos podem contemplar a terra prometida por Deus a Abraão... A nossa terra.
Noemi sorri.
NOEMI — A nossa terra, Rute.
Então elas começam a atravessar o rio. Do outro lado, ao pisar em grama, Rute abraça sua sogra.
RUTE — É uma emoção, minha sogra! Pisar nessa terra maravilhosa!...
NOEMI — Reserve a emoção, porque ainda temos muita Terra Prometida para pisar.
RUTE — Pois então vamos.
Elas sobem a encosta sorridentes.
CENA 18: EXT. DESERTO – RIACHO – DIA
Em um riacho no meio do deserto, alguns homens da Caravana bebem água, enchem seus odres e se lavam. De repente, um barulho vindo lá de cima. Eles estranham. Alguns pegam suas espadas, outros preparam as flechas em seus arcos... De outra direção, os Guardiões da Terra surgem e avançam subitamente. Surpreendidos, os arqueiros da Caravana atiram, mas não acertam ninguém. Guardiões arqueiros escondidos atiram: dezenas de flechas voam e acertam mortalmente vários homens da Caravana. O restante se espalha tentando fugir, mas todos são cercados e presos.
CENA 19: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
A grande porta da sala do trono se abre e o Capitão entra. Conduz Orfa, cujas pulsos ainda estão amarrados. Curioso, Zylom os observa se aproximar de seu trono. Chegando aos pés do trono, o Capitão faz uma reverência. Olha para Orfa, e ela se limita a um movimento de cabeça.
ZYLOM — Essa é... a ex-sacerdotisa?
CAPITÃO — Exatamente, soberano.
ZYLOM — Orfa... Não é?
Orfa não diz nada, apenas o encara.
ZYLOM — Muito bem, muito bem... Conte.
CAPITÃO — Encontrei um homem, cuja casa fica na mesma rua em que o Sumo Sacerdote foi assassinado, que diz ter presenciado o que aconteceu.
ZYLOM — Mesmo?
O Capitão faz que sim.
ZYLOM — E então?!
CAPITÃO — Em suma, houve um confronto entre Faruk e o marido e o cunhado de Orfa. Ao que parece, a ex-sacerdotisa fugiu com sua sogra. Encontramos Orfa, no campo, quando ela voltava para a cidade.
ZYLOM — Desistiu de fugir, Orfa? Não se entenderam? Resolveu voltar para denunciá-las?
Orfa permanece quieta.
CAPITÃO — Ela não responde à nenhuma pergunta.
De repente, Zylom põe-se de pé, desce as escadinhas e encara Orfa, olho no olho.
ZYLOM — Traidora!
Cospe no chão.
ZYLOM — Você e sua amiguinha maldita, traidoras! Eu sei bem o que fazer para você falar. (para o Capitão) Jogue-a na prisão! E, apenas de início, 10 chicotadas!
Obrigado pelo seu comentário!