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A Promessa - Capítulo 38 (Últimas Semanas - REPRISE)



CAPÍTULO 38

(Últimas Semanas) 

 

uma novela de 

FELIPE LIMA BORGES 

 

livre adaptação do livro de Rute 

 

Edição da Versão Reprise por 

RAMON FERNANDES 

 

EDIÇÃO: 

Capítulo 54 + Parte do Capítulo 55 ORIGINAL (SEM CORTES)   


CENA 1: EXT. CASA DE ADAMA – DIA 

É uma casa isolada, no meio do campo. Ao lado, um pequeno rebanho de ovelhas dentro de um cercado de madeira. À porta, um homem aguarda ser atendido. 

 

CENA 2: INT. CASA DE ADAMA – SALA – DIA 

ADAMA (65 anos) se aproxima da porta. 

ADAMA — Já vai... 

Ela abre e vê um homem com roupa gasta e aparência sedenta: é Gael. 

ADAMA  (simpática) Pois não? 

GAEL  Shalom... Me perdoe, senhora, mas eu estou perdido... Desviei um pouco para tomar água e perdi o meu grupo... Não faço ideia de onde estou e há horas estou caminhando-- 

ADAMA  Meu Deus!... Por favor, entre, entre, vamos!... 

Gael entra e ela fecha a porta. 

ADAMA  Sente-se à mesa que eu vou buscar água fresca para você. 

GAEL  Muito obrigado, minha senhora. É muito bondosa. 

Ela vai para a cozinha e Gael senta. Uma vez que ela está longe, ele para de fingir e olha para os lados, à procura... Finalmente localiza: o tecido babilônico, objeto de desejo de Segismundo. 

 

CENA 3: INT. VILA – CASA DE SEGISMUNDO – SALA - DIA 

Segismundo e Iago estão na sala quando um homem chega ali na porta correndo. 

HOMEM  Senhor! Senhor... 

SEGISMUNDO  O que é? 

O homem respira fundo, recuperando o fôlego. 

HOMEM  Senhor... É urgente!... Vários... Vários homens foram capturados... outros, mortos... 

Segismundo se levanta. 

SEGISMUNDO  Como é?! 

HOMEM  Foram surpreendidos por soldados especiais quando estavam no riacho. Ao que parece... há um novo grupo caçando nossa Caravana. 

Tentando conter sua surpresa, Segismundo olha para Iago, que, também surpreendido, se levanta devagar. 

SEGISMUNDO  Que grupo? 

HOMEM  Um destacamento do exército de Hebrom... os Guardiões da Terra. 

SEGISMUNDO  Guardi-- Guar-- Que raios!!! 

O homem, aflito, e Iago, curioso, encaram Segismundo, perdido em pensamentos tempestuosos. 

 

CENA 4: INT. HOSPEDARIA – DIA 

Neb entra ali. Ao vê-lo, o dono fica bicudo. Neb se aproxima do balcão, onde Tamires come e bebe com os guardas atrás dela. Ao se sentar, ela olha ocasionalmente para ele... e para de mastigar. Contempla-o por alguns instantes... e engole sua comida. 

TAMIRES  Neb?! 

Neb olha para ela e franze o cenho. 

NEB  Tamires?! É você mesma?! O que está fazendo aqui?! 

Tamires sorri para ele. Então olha para o dono. 

TAMIRES  Que semblante caído é esse, velhote? Só porque o homem chegou... Vamos, sirva-o. Dê a ele de comer e de beber. 

Neb tenta disfarçar seu contentamento. 

NEB  Não, Tamires, não precisa se preocupar... 

TAMIRES  Já foi. (sorri) 

NEB  Obrigado. 

Tamires levanta uma taça a ele e bebe. 

NEB  E como você está?... 

TAMIRES  Poderia estar melhor... vide essas duas prateleiras me seguindo. 

NEB  Ah, estão com você? 

TAMIRES  (suspira) Longa história, meu amigo... 

Neb a olha curioso, mas logo sua atenção se desvia para a comida que o dono coloca à sua frente. 

 

CENA 5: INT. PALÁCIO – PRISÃO – DIA 

O Capitão passa pelas celas puxando Orfa pelo braço. Ao chegar em uma, ele a abre, corta as cordas que prendem os pulsos dela e a empurra no chão sujo da cela. 

CAPITÃO  Soldado! 

Um soldado ali perto se aproxima rapidamente. 

CAPITÃO  10 chicotadas nela. 

SOLDADO  Sim, senhor. 

O soldado pega o chicote preso em sua cintura e entra na cela. Orfa, caída, olha aflita para ele. 

ORFA  Por favor... 

Ele aperta bem o chicote na mão, o levanta e aplica o golpe na costa de Orfa, que grita. Outra levantada e outro golpe ainda mais forte! O Capitão assiste parado. Terceira chicotada, e o vestido de Orfa se rasga e aparece a ferida, ensanguentada. 

Orfa ainda treme das chicotadas anteriores quando a quarta atinge sua costa... Ela agarra as grades com todas as suas forças. Quinto! Sexto! E continuam... 

 

CENA 6: INT. CASA DE ADAMA – SALA - DIA 

Enquanto Adama prepara um chá lá na cozinha, Gael aproveita para tentar pegar o tecido babilônico. Se levanta e se aproxima devagar... mas ela volta nesse mesmo momento e, ao vê-lo, para. 

ADAMA  Está tudo bem? 

Gael olha para ela. Sorri... 

GAEL  Sim... Eu... (apontando) Achei interessante... Muito bonito. 

Ela coloca o chá na mesa. 

ADAMA  Ah, sim. Foi um presente. 

GAEL  Oh... 

ADAMA  De meu falecido namorado. Beba, beba o chá... 

GAEL  (sorrindo) Obrigado. 

Ele pega o chá e senta. 

ADAMA  Éramos jovens, apaixonados... mas nossos pais nunca permitiram nossa união, e por isso nos encontrávamos às escondidas, com apenas a Lua por testemunha... 

GAEL  Eu sinto muito, senhora Adama. 

ADAMA  Tudo bem... Já faz uma vida inteira. 

GAEL  (pausadamente) Há um homem rico e influente... que soube do tecido, e agora o deseja profundamente. 

Ela olha por alguns instantes para o tecido... E de volta para Gael. 

ADAMA  Infelizmente não será possível. É a única lembrança que eu tenho do meu amado. 

GAEL  Esse homem pode lhe pagar muito. Diga um preço e ele lhe pagará o quádruplo. 

ADAMA  Você não é um forasteiro perdido, é? 

Gael sorri. 

GAEL  Algumas coisas são mais complicadas do que parecem, senhora Adama. Será que eu estaria tomando chá agora se lhe dissesse, ali na porta, a minha real intenção? 

ADAMA  No caso de insistência, tanto apenas lá fora quando sentado aqui, pode acabar encharcado de chá quente. Oh, meu filho... Eu estou no final da vida, não tenho mais meu coração em riquezas, fortunas... Quero apenas sentar no final da tarde e navegar pelas boas recordações... E esse tecido me permite isso. 

Gael coloca o copo vazio na mesa, limpa a boca e se inclina. 

GAEL  Senhora Adama... 

ADAMA  Sim? 

GAEL  O que eu posso fazer para conseguir esse tecido? 

Ela o encara. 

 

CENA 7: EXT. CASA DE ADAMA – DIA 

Algum tempo depois, Gael caminha tranquilamente, se afastando da casa. Enrolado em seu braço, o tecido babilônico... Na pontinha do mesmo, uma minúscula mancha recente de sangue. Ele vai embora. 

 

CENA 8: INT. HOSPEDARIA – DIA 

Neb ainda come quando Tamires termina. 

TAMIRES — Bom... Agora terei que ir, Neb. Preciso descansar.  

NEB — Tudo bem. 

TAMIRES — Mas... (se inclina) Eu quero encontra-lo... (sussurrando) Hoje à noite. 

Ele a olha com os olhos bem abertos. 

NEB  Hoje à noite? 

TAMIRES  Sim. Aqui mesmo. Podemos jantar juntos. 

NEB  Tudo bem... Tudo bem, Tamires. 

TAMIRES  (sorrindo) Ótimo. 

 

CENA 9: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA 

Aylla despede uma cliente e volta para dentro. Encontra Leila confeccionando um vaso de barro, porém está claramente abatida. A garota se aproxima e a abraça. 

AYLLA  Ah, mãe... Eu sei o que a senhora está sentindo. 

Leila força um sorriso mínimo. 

AYLLA  Vamos tentar não pensar no pior... 

LEILA  Então precisamos orar... Só assim para eu ficar um pouco mais tranquila. 

AYLLA  Pois vamos. Vamos agora... 

Leila faz que sim e se levanta. Limpa as mãos e as duas se ajoelham e fecham os olhos. 

 

CENA 10: EXT. DESERTO – DIA 

Noemi e Rute continuam sua longa jornada pelo deserto. Cruzam uma planície de vegetação rasteira... Rute olha para Noemi. 

RUTE  Está bem, minha sogra? 

Noemi faz que sim. 

NOEMI  Estou, Rute. 

Rute sorri e elas continuam. 

 

CENA 11: INT. PALÁCIO – PRISÃO – DIA 

Jogada no chão da cela e sem forças para se mexer, Orfa chora de dor... Sua roupa, na costa, está toda estraçalhada, e sua pele, mutilada e ensanguentada... 

Sozinha, ela chora amargamente... 

 

CENA 12: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA 

O Capitão está diante do trono de Zylom. 

ZYLOM  Você ordenou soldados para procurarem por Rute e sua sogra no deserto? 

CAPITÃO  Sim, meu senhor. Eles partiram assim que capturamos Orfa. 

Zylom faz que sim. 

CAPITÃO  Mas não podemos avançar muito pelas terras dos hebreus... Que as encontrem ainda em território moabita. 

 

CENA 13: INT. VILA – CASA DE SEGISMUNDO – SALA – DIA 

Gael entra na casa e fecha a porta devagarinho. 

GAEL — Segismundo... 

Segismundo está em pé, aflito, olhando pela janela. 

SEGISMUNDO  O que é? 

GAEL  O tecido. 

Gael se aproxima. Segismundo olha. 

SEGISMUNDO  Coloque ali. 

Gael estranha um pouco, mas coloca o tecido por ali. 

GAEL  Pensei que ficaria mais empolgado. 

SEGISMUNDO  Pode ficar com o tecido, se quiser. Não consigo mais ter ânimo, Gael. Estou muito preocupado. 

Gael franze o cenho e se aproxima mais, de frente para Segismundo. 

SEGISMUNDO  Algo muito grave está acontecendo. Mortes, capturas... Nós precisamos fazer alguma coisa. 

GAEL  Vamos nos preparar, Segismundo. Vamos nos preparar para os Guardiões. 

Segismundo olha para ele. 

 

CENA 14: EXT. BELÉM – TRIGAL – DIA 

No trigal, Boaz, Josias e Tani conversam. 

BOAZ — Viram a quantidade de homens presos? Todos da Caravana, ao que parece. 

TANI — Finalmente! Eu sabia, eu tinha fé que os Guardiões da Terra fariam um bom trabalho! 

JOSIAS  E foram bem rápidos... 

TANI  Sim... Merecem muitas congratulações. 

Uma moça trabalhando no trigo chama Tani. 

TANI  Com licença. 

Ela se afasta e vai até a moça. Boaz e Josias ficam ali. 

BOAZ  Já faz um tempo que percebo que não está bem, Josias. O que aconteceu? Dormiu mal? 

JOSIAS  Talvez deveria ter continuado a dormir, para não ter que vivenciar o que vivenciei. 

BOAZ  Mas o que aconteceu, amigo?... 

JOSIAS  Jurandir... Eu estava saindo quando ele chegou com Diana e me ameaçou... 

BOAZ  Ameaçou?!... 

Josias faz que sim. 

JOSIAS  Proibiu que Diana e eu nos aproximemos... E disse que se isso acontecer, vou pagar pelos pecados de meu pai. 

Boaz fica de boca aberto. 

BOAZ  Que absurdo... Jurandir não pode fazer isso. 

JOSIAS  Como não, Boaz? Ele é o pai dela, é claro que pode... 

Boaz não sabe o que responder, apenas fica pesaroso pelo amigo... 

 

CENA 15: EXT. DESERTO – DIA 

Noemi e Rute continuam sua longa caminhada... 

Estão no fim da planície com vegetação rasteira. Logo à frente o solo começa a mudar, e mais para frente, dunas de areia. Noemi parece mais exausta que o comum... 

RUTE  Dunas... 

NOEMI  Não será fácil atravessá-las... 

RUTE  Nunca andei em uma, mas sei que não podemos parar. A senhora aguenta? Não quer parar? 

NOEMI  Não, não... Eu aguento sim. Vamos continuar... 

RUTE  Então vamos. Sem desanimar, senhora. 

Noemi faz que sim e elas continuam. Mas, de repente, dois homens saem de trás de um pequeno morro de terra e se colocam à frente delas. Rute se assusta e as duas param. Eles sorriem com malícia para elas. 

HOMEM 1  Veja, meu pai. Será que são mãe e filha? 

HOMEM 2  Não queria um presente de aniversário? Eis aí, meu filho. 

Eles riem, tiram um punhal da veste e, devagar, se aproximam delas que, aflitas, respiram cada vez mais rápido.

Rute e Noemi olham aflitas para os dois homens que se aproximam com punhais e olhares de malícia. Elas se seguram, braço com braço... Noemi, que já vinha mais exausta que o normal, parece estar perdendo os sentidos... fecha os olhos, abre, respira mal, fecha... Então ela perde a sustentação e cai de joelhos. Rute se assusta. 

RUTE  Senhora?! Senhora Noemi! 

Noemi, de joelhos, passa muito mal. Rute olha para os homens. 

RUTE  Me ajudem! Por favor, ela não está nada bem! 

HOMEM 1  O senhor se vira com essa aí, meu pai. Vou ficar com a sã! 

O mais jovem se aproxima de Rute, que, desesperada, tenta levantar Noemi. 

RUTE  Por favor, senhora, tente se levantar... Precisamos ir, precisamos sair daqui! 

Noemi não consegue, mal abre os olhos... Usa o pouco de força que tem para não desabar de vez no chão. 

HOMEM 2  Se a outra está quase morrendo, vai dividir essa comigo! 

O mais jovem chega em Rute e a levanta. Ela luta para se soltar dele. 

RUTE  Por favor! Me solte!!! Me solte!!! 

HOMEM 1  Cale sua boca! 

HOMEM 2  Sai da frente, deixa eu te mostrar como se faz! 

O outro toma Rute dos braços do filho. 

RUTE  Não!!! Me solte!!! Por favor!!! 

Noemi continua mal, quase perdendo os sentidos. O homem então agarra a roupa de Rute para arrancá-la. Ela olha para o céu. 

RUTE  Senhor, salve Tuas servas!!! 

De repente, o homem que segura Rute paralisa e empalidece. Ela, ainda aflita, olha para ele, que encara o horizonte de onde elas vieram. 

Rute se solta de seus braços e se aproxima de Noemi, abaixada no chão. Olha para eles... Ambos, com semblantes de pavor, contemplam o mesmo lugar. Rute vira para lá, mas não vê nada demais. 

HOMEM 1  Meu pai... O que é isso?... 

HOMEM 2  (assombrado) Meu... Deus... 

Rute continua confusa, não entende o que eles veem... Pois apenas eles enxergam. Em suas visões, uma gigantesca nuvem marrom, semelhante a uma avalanche ou às cinzas de um vulcão, de tal altura que emenda com as nuvens, se aproxima no horizonte. 

HOMEM 1  Isso é uma tempestade de areia?! 

HOMEM 2  Nunca vi isso. É muito pior! 

De repente, a nuvem amarronzada começa a relampejar, e se aproxima cada vez mais. 

HOMEM 1  Meu Deus... Meu Deus! Nós vamos morrer! Meu Deus! 

HOMEM 2  Vamos sair daqui! 

HOMEM 1  Não devíamos ter mexido com elas! 

O homem 2 corre... Ao ver que o filho está paralisado de pavor, volta e o puxa. Os dois saem correndo. Rute, começando a entender, sorri, mas continua não vendo nada anormal. Aqueles dois correm como se não houvesse amanhã. A todo momento olham para trás. 

HOMEM 1  Está chegando! Não vamos conseguir! É muito rápida! 

HOMEM 2  Apenas corra, meu filho! 

HOMEM 1  Não vai dar!!! 

HOMEM 2  CORRA!!! 

A gigantesca nuvem em relâmpagos, um verdadeiro fim do mundo, se aproxima cada vez mais, e mais, e mais... Eles gritam! A sombra daquela massa de poeira os cobre. 

HOMEM 2  Se sairmos vivos dessa, eu vou trabalhar!!! 

HOMEM 1  Nunca mais cometerei mal algum!!! 

AMBOS  AAAAAHHH!!! 

A nuvem colossal finalmente os alcança e os engole por completo. Com o vendaval, os relâmpagos e a quase total escuridão, eles não conseguem mais correr... Apenas se esforçam para não serem carregados. 

Olham seus braços... Estão descascando e sendo levados junto aos grãos de areia. Horrorizados, gritam! Olham um para o outro, e veem os rostos se dissolvendo junto à areia. Rute, ao lado de Noemi, sorri extremamente emocionada. Se a nuvem fosse real, elas já teriam sido atingidas. Mas, ao invés disso, apenas um vento forte passa por ali. Rute põe-se de pé. Seus cabelos balançam sem parar e seu sorriso é enorme! Ela cai de joelhos e, sorrindo, olha para o céu. 

RUTE  Obrigada! Obrigada, Senhor!!! 

Rute se aproxima de Noemi. 

RUTE  Noemi, minha sogra! Minha sogra, levante-se! Vamos, a senhora precisa ouvir isso! Nem imagina o que aconteceu! Consegue, senhora?! Está melhor?! 

NOEMI  Estou, estou... Um pouco melhor... 

RUTE  Segure, levante-se... 

Rute ajuda Noemi a se levantar. 

RUTE  Sinta esse vento, minha sogra! É o Senhor! É o livramento do nosso Senhor! 

NOEMI  Do que está falando, Rute? Onde estão aqueles homens? 

RUTE  Algo extraordinário aconteceu aqui, senhora! Deus nos salvou! 

Noemi, ao contrário de Rute, não parece muito animada. Rute olha para a direção em que eles fugiram. 

RUTE  Venha aqui, senhora. Veja isso! 

As duas vão até ali perto e olham, lá na frente, os dois homens, de joelhos, olhando para as diferentes partes do corpo com pavor. Porém, nada lhes aconteceu realmente. 

RUTE  Esses aí nunca mais farão nada de errado. 

As duas continuam observando-os. 

NOEMI  Que bom que Deus nos salvou. 

Rute, ainda muito emocionada, olha para a sogra. 

RUTE  Vamos. Agora podemos ir. 

 

CENA 16: INT. PALÁCIO – PRISÃO – NOITE 

O dia passa e a noite cai. 

Deitada de bruços no chão e sem forças, Orfa escuta uma porta se abrir. Mexendo praticamente apenas os olhos, ela olha pensando ser algum soldado, mas quem chega ali em sua cela é a Sacerdotisa Myra acompanhada de um soldado, que abre as grades e sai. Myra olha aflita a situação de Orfa. 

MYRA  Orfa... 

ORFA  Senhora Myra... O que está fazendo aqui? 

Myra se ajoelha e toca muito de leve na costa dela. 

MYRA  O que fizeram com você, Orfa?... 

ORFA  Descobriram... que meu falecido marido e seu irmão... estavam envolvidos na morte... de Faruk... O Sumo Sacerdote... foi até nós para pegar Aylla... e a sacrificar em seu próprio benefício... Meu marido e meu cunhado lutaram para impedir... 

MYRA  (entendendo) E agora querem você e Rute para serem presas, conforme manda nossa lei... Mas por que esse castigo?! 

ORFA  Não contei onde Rute está... Não disse para onde ela foi... E me fizeram isso... 

MYRA  Orfa... Vou mandar alguém avisar aquela mulher, Leila... sobre você. E fique deitada, eu trouxe algumas coisas para tratar suas feridas. Mal acreditei quando soube que te trouxeram para cá e que te chicotearam!... 

ORFA  Obrigada, senhora... 

Myra rasga os fios estraçalhados da roupa e começa a limpar e a tratar das feridas de Orfa. Algum tempo depois, ela termina. 

MYRA  Pronto. Procure dormir de bruços, para que não suje ou piore... 

ORFA  Tudo bem... 

Myra olha para ela como se quisesse testar algo. 

MYRA  E eu te recomendo, Orfa, a falar com os deuses. 

Orfa a encara. 

MYRA  Mesmo tendo abandonado o sacerdócio anos atrás, tenho certeza que eles te escutarão. 

Orfa fecha os olhos. 

ORFA  Obrigada, senhora. Farei isso sim. 

Myra a observa por alguns segundos. Então faz que sim e se levanta. 

MYRA  Tenha uma boa noite. Apresentarei você em minha oração. 

ORFA  Muito obrigada, senhora Myra... 

Myra sorri minimamente e sai. O soldado vem, tranca a cela e também vai. Orfa fica ali, deitada, encarando o nada... 

 

CENA 17: EXT. DESERTO – NOITE 

Em meio à escuridão do deserto, Rute e Noemi estão sentadas à beira de uma fogueira. 

NOEMI  Se não fosse por você, Rute, provavelmente eu nem estaria mais viva. 

Rute apenas a olha. 

NOEMI  Obrigada. 

RUTE  Não foi nada além do que eu podia e queria fazer. 

Rute sorri e deita no ombro de Noemi. Por alguns instantes elas apenas encaram as chamas ardendo melancolicamente. Então Noemi quebra o silêncio. 

NOEMI  Há muitos anos eu passei por essa região. Estava triste por estar saindo de minha terra... e indo para um lugar totalmente diferente. Mas... apesar de tudo... eu tinha meu marido... meus filhos... Comparando com hoje, eu era a mulher mais feliz do mundo naquele momento. 

Rute acaricia o rosto de Noemi enquanto ouve escorada em seu ombro. 

NOEMI  Isso foi há uns 10 anos... Mas parece que já se passaram uns mil... 

No semblante saudoso de Noemi, IMAGEM CONGELA. 

 

CONTINUA...

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