CAPÍTULO 50
(Último Capítulo)
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 65 ORIGINAL (SEM CORTES)
Em memória de meus tios Carlindo e Jurandir e de meu avô Osvaldo. Cada um à sua maneira, mas todos crentes incontestáveis do Deus Único.
CENA 1: EXT. DESERTO – DIA
Os mercadores continuam levando a fileira de escravos pela imensidão do deserto. Chicotadas, gritos... Neb percebe que o dono está fraco.
NEB — (para um mercador) Senhor! Senhor!... Por favor, imploro que dê um pouco de água para ele... Está fraco, não poderá continuar assim!...
Os mercadores gargalham do pedido de Neb.
MERCADOR 2 — Querem água, é?
Ele pega um odre cheio de água.
NEB — Por favor... Dê um pouco que seja a ele...
O mercador então vira o odre em sua boca e bebe, bebe muito. Depois levanta o recipiente e deixa a água cair em seu rosto. Refresca-se com ela.
MERCADOR 2 — Delícia!
Neb o observa. O mercador vira o odre para o chão e derrama toda a água que restava. O dono e outros escravos se abaixam rapidamente para tentar beber o líquido antes que infiltre. O mercador então pega seu chicote e começa a bater na costa de todos eles.
MERCADOR 2 — Malditos!!! De pé, de pé, de pé!!!
Neb ajuda o dono e alguns outros a se levantarem para seguirem.
MERCADOR 2 — Andando, agora!!! Não vai ter água para ninguém não!!! Rápido, andando!!!
Neb, exausto pelo esforço físico e pelo sol sobre suas cabeças, continua junto aos outros.
CENA 2: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Soldados impedem que os belemitas se aproximam. Ali, o Ancião e o Comandante observam Segismundo e Iago, vestido como soldado, mortos.
COMANDANTE — É mesmo Iago, um dos foragidos da Caravana.
ANCIÃO — (com pesar) Eu me lembro dele. Conheço-o desde jovem.
COMANDANTE — Vou mandar que preparem tudo para serem sepultados.
ANCIÃO — Não são dignos das honrarias de um sepultamento comum. Mas façam o que for preciso.
O Comandante faz que sim e o Ancião se encaminha para a entrada da cidade, para onde Noemi, Rute e Boaz estão indo.
CENA 3: EXT. BELÉM – ENTRADA – DIA
O Ancião alcança os três.
ANCIÃO — Noemi... O que está fazendo aqui?
Noemi olha para as carroças paradas lá fora, cercadas de soldados. Mais precisamente para a carroça onde está Tamires.
NOEMI — Senhor... Apenas um momento. Só isso que eu preciso.
O Ancião olha para Tamires e respira fundo.
BOAZ — Noemi... Você tem certeza? Pode ser perigoso.
RUTE — A senhora já se arriscou muito com aquele seu plano.
NOEMI — Eu preciso.
ANCIÃO — Tudo bem. Os soldados ficarão atentos.
O Ancião então abre caminho e Noemi, sob os olhares preocupados de Boaz e Rute, se aproxima da carroça e para, no lado de fora, olhando para Tamires. Os soldados ficam ao redor.
Noemi então sobe na carroça, se senta ao lado de Tamires e fica olhando para frente.
TAMIRES — Sabe qual foi um dos dias mais felizes da minha vida, Noemi?
Noemi olha para ela.
TAMIRES — Foi o dia em que você voltou para Belém, e eu descobri que, além de viúva, você havia perdido seus dois filhos.
Noemi tenta disfarçar seu choque diante de tanta frieza e maldade.
NOEMI — Aonde foi que o seu preconceito, essa sua raiva, sua revolta te levaram, hein, Tamires?
TAMIRES — Me levaram à conquista de grandes coisas. Mais do que você jamais teve!
NOEMI — Você está acabada.
Tamires a fita nos olhos.
NOEMI — Daqui a poucos dias você estará morta por apedrejamento ou presa em uma cela pelo resto de sua vida, e isso não é bom, Tamires!
TAMIRES — Rum, até parece que ficarei lá.
Noemi a olha com o cenho franzido.
TAMIRES — De uma forma ou de outra, vou sair. Ficarei livre novamente.
Noemi respira fundo.
NOEMI — Você matou Elimeleque, meu marido. Tentou matar meus filhos... (se ajeita, mais próxima) Mas você não vai me matar.
Tamires olha fixamente para ela.
NOEMI — (um tanto emocionada) Sabe por quê? Depois de tudo pelo que passei, toda a dor, todo o sofrimento... Deus reservou agora um tempo de prosperidade na minha vida. Tempo de alento. Eu tenho Rute, a bênção que qualquer mãe gostaria de ter, e eu a amo muito! Em breve terei um neto... Estou na minha cidade... com o meu povo...
Tamires permanece quieta.
NOEMI — Até nunca mais, Tamires. Shalom.
Noemi então desce da carroça e Tamires, sozinha, fala.
TAMIRES — Shalom.
Noemi volta para junto de Rute, Boaz, Ancião e agora Tani. Essa abraça sua amiga. Mais tarde, todos os membros da Caravana são colocados nas carroças, e essas saem da cidade rumo aos campos. Nisso, Jurandir olha para Tani e sorri. Josias e Diana ficam de mãos dadas. Boaz abraça Rute ao seu lado.
RUTE — (para Noemi) Agora está tudo bem, mãe.
Noemi não entende e parece sentir um baque...
NOEMI — O que foi que disse?... “Mãe”?...
RUTE — (sorrindo) Mãe.
Emocionada, Noemi tampa a boca e limpa uma lágrima.
NOEMI — Desculpe-me, Rute, é que... Há muito tempo não ouço isso.
Também emocionada, Rute abraça Noemi, e todos ficam ali, parados na entrada de Belém.
CENA 4: EXT. MOABE – PALÁCIO – ENTRADA – DIA
A população moabita está de frente para a entrada do palácio onde, montado em seu cavalo, o rei Amorreu, com seus líderes ao redor, fala com eles.
REI AMORREU — Acaba aqui a era de injustiça, de desprezo, de descaso, de autoritarismo! Agora Moabe é território amorreu! Agora!... terão um governo de verdade! Calcado em lutas justas e honradas! Com aproximação maior entre eu e vocês! E terão liberdade para praticarem seus cultos religiosos conforme queiram, seja lá a que deus sirvam!
O povo parece satisfeito e alegre.
REI AMORREU — Acaba aqui a era da miséria! E começa a era da prosperidade! Viva Moabe!!!
POVO — Viva!!!
O povo grita em comemoração. Leila, Aylla, Myra e Orfa se entreolham alegres.
CENA 5: EXT. CASA DE NOEMI – FRENTE – DIA
Os dias se passam...
Boaz trouxe uma carta para Noemi, que a leu.
NOEMI — (contente) É de Leila.
BOAZ — Como ela está?
NOEMI — Ela diz aqui que vão esperar um tempo para ver como será esse novo governo, mas estão pensando seriamente em se mudarem para Israel, mesmo com as coisas tendo melhorado em Moabe.
BOAZ — Ela virem para cá? Isso é muito bom.
NOEMI — Ela diz que o novo rei é bondoso, gentil e é mais receptivo aos estrangeiros. Minha nora Orfa e a Aylla estão se recuperando de tudo o que aconteceu por lá... mas estão se dando bem. Leila sente que, com Orfa, ganhou uma nova filha.
BOAZ — Pra quem, até pouco tempo, não tinha nenhuma...
NOEMI — (sorrindo) Pois é. E Myra está preparando seu projeto relacionado às crianças. Quer fazer o melhor possível.
BOAZ — Que maravilha. Elas estão todas bem, então.
NOEMI — (sorrindo) O Senhor está com elas.
Boaz faz que sim.
NOEMI — Agora, Boaz, não perca mais tempo, ahn? Vá, vá se preparar! Logo mais é o seu casamento, homem! E nem pense em entrar! Rute, Diana e Tani estão se arrumando! Você só poderá ver Rute na festa, rum.
Boaz ri.
BOAZ — Tudo bem, eu vou indo, então. Nós homens levamos menos da metade do tempo que vocês levam, mas ainda assim é trabalhoso. Shalom!
NOEMI — Shalom, Boaz.
Boaz sai animado e Noemi, contente com a carta, entra em casa.
CENA 6: EXT. DESERTO – DIA
Todos os escravos estão sentados na areia, com as mãos ainda amarradas. Comem uma pequena porção grudenta que os mercadores lhes distribuíram.
Neb, ao lado do dono, respira cansado e fala baixo.
NEB — O que vamos fazer?...
DONO — Não tem o que fazer, Neb... Não somos nada... nada contra eles. Aceite... Nosso destino está selado.
NEB — Não, não, não!... Isso não está certo, não pode ser assim! O povo de Deus não nasceu para ser escravizado!
O dono está fraco demais para discutir.
NEB — Éramos escravos no Egito e Deus nos tirou de lá. Não será agora que voltaremos a ser!
DONO — E o que pretende fazer?
Neb respira fundo, olha para os mercadores (alguns comem, outros cuidam os escravos) e olha para o dono.
NEB — O senhor confia em Deus?
DONO — (dando de ombros) É o nosso Deus.
NEB — Mas o senhor confia verdadeiramente, de coração, e não apenas por costume?
O dono parece pensar...
DONO — Nesses últimos dias, nessas condições... eu tenho buscado mais a Ele.
NEB — Ótimo! Pois então clame!
DONO — Clamar? Por quê?...
NEB — Apenas clame, senhor.
Sem entender direito, o dono pensa um pouco e fecha os olhos. Neb olha para os mercadores, as carroças em volta, para seus punhos amarrados... E se lembra de algo.
CENA 7: FLASHBACK: INT. BELÉM – TEMPLO – PÁTIO – DIA
Neb e o Ancião conversam ali no pátio do templo.
ANCIÃO — Neb, mas preste atenção: não desista desse propósito! Se você tiver fé, nada lhe será impossível, tudo poderá alcançar. Mas precisa ter essa fé guardada no coração. E aí... até os montes poderá transportar.
CENA 8: EXT. DESERTO – DIA
Neb sorri minimamente. Mas então se concentra, fecha os olhos, e faz força para romper as grossas cordas que apertam seus pulsos...
NEB — Senhor, me dê forças para salvar meus irmãos e fazer justiça! Honre o teu servo!
O dono então olha para Neb, que esforça as mãos, esforça, esforça!...
Um mercador percebe e chama outro, que chama os outros. Todos assistem e gargalham. Apontam Neb com zombaria.
MERCADOR 1 — Homens 3 vezes maiores que você já tentaram romper essas cordas, e só o que ganharam foi chicotada e falta de água!
Eles gargalham enquanto Neb usa toda a sua força para romper as cordas ao mesmo tempo em que clama ao Senhor balbuciando.
MERCADOR 2 — Chega de brincadeira! Vou dar uma lição nesse vagabundo!
Então o mercador pega seu chicote e vai na direção de Neb... Mas CRÁC! Os olhos de Neb abrem arregalados. O mercador paralisa.
FADE OUT:
FADE IN:
O céu... O tranquilo azul do céu...
De repente, lá em cima, um homem cruza o céu azul gritando desesperado. Foi arremessado pelos ares...
Cai pesadamente na areia lá na frente. Assustados, todos os mercadores olham para quem o jogou: Neb, de pé e com as cordas arrebentadas. O dono e os outros escravos sorriem maravilhados. Furiosos, três mercadores avançam contra ele; Neb os encara.
NEB — Pelo Deus de Israel!
Sem muito esforço, Neb faz um voar longe com um soco, arremessa outro com um empurrão e chuta o terceiro no peito, que voa para trás, bate na carroça e cai desacordado. Impressionado, ele olha para as próprias mãos, e sorri.
Mais mercadores se aproximam para linchá-lo, mas ele é imune aos socos! Agarra uns e os atira para longe, e outros joga-os no chão e os chuta, fazendo-os rolar na areia.
Os escravos estão maravilhados. Vendo que mais mercadores estão vindo, e outros se levantando para ataca-lo novamente, Neb vai até uma carroça, arranca uma tora de madeira como se fosse de papel, e a segura pronto para usá-la. Os homens se aproximam, e ele bate neles com a tora: três voam para trás. Outros quatro vêm, mas vão parar a metros dali com o golpe da tora.
DONO — Louvado seja o Senhor!
NEB — Cuidado, fiquem abaixados!
Os mercadores restantes e outros que se levantam se ajuntam e olham para ele com ódio mortal. São muitos. Neb então caminha vagarosamente para trás de uma carroça lotada de coisas. Os mercadores não desconfiam. Então eles gritam com toda sua força e vêm correndo, a toda velocidade! Neb coloca suas mãos na carroça e... com um forte impulso, arremessa o veículo pesadíssimo! Ela sai arrastando pela areia a toda velocidade e pega aqueles homens em cheio. Todos são atropelados e interrompidos.
Os escravos, quase não crendo no que presenciam, se levantam felizes! Nenhum mercador ali está de pé.
DONO — Neb! Mas o que é isso?! Que força é essa???!!!
NEB — É a força de Deus! (para todos) É a força de Deus!!! Pela fé!!!
DONO — Empurre essa outra!
Neb põe a mão em outra carroça e tenta empurrá-la da mesma forma... nada. Nem se mexe.
NEB — Só serviu para aquele momento! Deus não correria o risco de entregar tanto poder a mim! Serviu, e agora estamos livres! Todos vocês estão livres!
Neb sai desamarrando a todos, que se abraçam felizes.
DONO — E agora?
Neb pega nos ombros do dono.
NEB — (sorrindo) É hora de voltarmos para casa!
O dono sorri satisfeito e eles se juntam aos outros.
CENA 9: EXT. BELÉM – ARREDORES – NOITE
Todo o povo de Belém está reunido ali, de frente para a tenda onde o Ancião discursa para os três casais: Tani e Jurandir, Diana e Josias, e Rute e Boaz. Cada noiva com um penteado diferente e vestes belíssimas! Na fileira da frente do povo, Noemi sorri irradiante.
Depois do vinho e das palavras proferidas, Tani dá as sete voltas ao redor de Jurandir. Após, o Ancião os declara casados. Os dois trocam um suave beijo e o povo grita em comemoração.
Depois, Diana e Josias terminam de beber o cálice e ela o rodeia por sete vezes. Por fim, o Ancião os casa. Ambos sorriem um para o outro e se beijam. Todos aplaudem e gritam. Então o Ancião olha para Rute e Boaz e entrega o cálice a ele.
BOAZ — (olhando Rute com doçura) De acordo com as leis de Moisés e Israel, você é consagrada a mim.
E toma o vinho. Então Rute pega a taça.
RUTE — (fitando-o apaixonada e emocionada) Eu pertenço ao meu amado, e o meu amado me pertence.
Rute bebe o vinho e entrega para o Ancião. Então ela dá as sete voltas ao redor de Boaz. A cada volta seus olhares se cruzam e um sorriso escapa. Então Rute para de frente para o Ancião.
ANCIÃO — Se nem o vento pode decidir para onde a semente vai seguir, também não pode o homem traçar seu destino com absoluto controle. Poderia Rute, em seus tempos de moabita, imaginar que um dia estaria aqui, se casando?
Rute sorri, emocionada.
ANCIÃO — Povo de Belém! Eu declaro Boaz e Rute, marido e mulher. Os noivos podem se beijar.
Boaz e Rute se aproximam e trocam um delicado beijo. Noemi puxa o coro de gritos e palmas! Então os três casais olham para o povo e se aproximam levantando os braços em comemoração. Flores e cereais são jogados neles e colorem o ar, mas não ofuscam os semblantes de pura felicidade dos recém-casados.
CENA 10: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – PÔR DO SOL
Em outro dia, Rute e Boaz caminham de mãos dadas. Suas mãos livres passam sentindo a plantação de trigo e cevada. Os dois se olham apaixonados e felizes. Então param e, abraçados, observam o sol sumindo no horizonte.
CENA 11: EXT. PENHASCO – DIA
Dias depois, Noemi caminha tranquilamente pelo mesmo penhasco onde, 35 anos atrás, o anjo apareceu, lhe salvou e lhe fez a Promessa.
NOEMI — Onde tudo começou...
Próxima da borda onde havia escorregado, ela para e observa o local. Então se ajoelha e fecha os olhos.
NOEMI — Meu Senhor... Por muito tempo pensei que jamais encontraria paz novamente. Mas agora... eu sei que estás comigo. Sempre esteve. (sorri) Sou muito grata pelo conforto... Por ter curado o meu coração com paciência. Foi paciente comigo... até eu entender o porquê de tudo.
Alguns metros atrás de Noemi, sem ela notar, uma figura de luz desce do céu e toca o chão com os pés.
NOEMI — Agora eu estou em paz. Sei que, no tempo certo, reencontrarei Elimeleque, Malom e Quiliom. (pequena pausa) Estou em paz.
Contente, Noemi se levanta olhando para o céu, sorri e respira fundo.
Então vira para ir embora... Paralisa! Sua boca se abre ao ver o anjo, e imediatamente ela se prostra e cola a testa no chão. De repente, o anjo já está bem à sua frente.
ANJO — Por meio da criança que nascerá, alcançarás ainda mais alegria que a de agora. Esta será uma linhagem abençoada.
NOEMI — (chorosa) Obrigada, obrigada, obrigada!!!
O anjo então começa a subir devagar pelo ar, de volta ao céu. Nesse momento, Rute, à procura de Noemi, chega por ali. Ao ver o anjo, ela paralisa impressionada! Ainda no ar e subindo, o anjo vira um pouco na direção de Rute e aponta a palma da mão para ela. Um vento a atinge e seus cabelos balançam bastante. Sorrindo emocionada, ela se inclina diante dele.
E o anjo some. Rute olha... Extasiada, se levanta e corre até Noemi.
RUTE — Mãe!!! Mãe! Eu o vi, mãe! Eu vi o anjo!!!
Tremendamente alegres e emocionadas, Noemi e Rute se abraçam e seus olhos lacrimejam.
CENA 12: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA
O tempo passa...
E Rute engravida. Ela e Boaz ficam ansiosos e felizes durante a gestação.
CENA 13: INT. CASA DE BOAZ – QUARTO DE RUTE E BOAZ – DIA
Deitada e suada, Rute se esforça para parir seu filho. Várias parteiras em volta. Noemi segura sua mão e Tani segura a outra. Boaz, do lado de fora, aguarda aflito.
Rute faz tremenda força... até que, finalmente, as parteiras tiram o bebê.
PARTEIRA — É um menino!
RUTE — Ele não está chorando! Ele não está chorando!!!
NOEMI — Calma, Rute, fique calma!
RUTE — Meu filho!!! Chore, meu filho!!!
Então o bebê finalmente chora.
PARTEIRA — Pronto...
RUTE — Não chore, meu filho! A mamãe está aqui...
Noemi ri e Rute pega seu filho.
NOEMI — Vai ficar tudo bem, Rute.
Mais tarde, Noemi, Tani, Jurandir, Diana, Josias e outras vizinhas de Noemi e de Rute já estão ali no quarto, ao redor de Rute com o bebê.
TANI — (para Noemi) Bendito seja o Senhor, que não deixou de te dar mais essa bênção!
NOEMI — Amém!
TANI — Que o nome desse menino seja famoso em Israel!
DIANA — Qual será o nome dele?
RUTE — Bom, Boaz e eu... não pensamos...
BOAZ — Não conseguimos decidir nenhum.
JOSIAS — É bom pensarem em um logo.
JURANDIR — Vamos dar algumas ideias.
Boaz pega o filho no colo. Tani olha para Noemi, que observa emocionada o seu neto.
TANI — Noemi...
Noemi olha para ela.
TANI — Esse menino será um consolo para a sua alma, e conservará a sua velhice... quando essa chegar.
Elas riem.
TANI — E eu tenho certeza disso porque ele é filho de Rute, sua nora que tanto te ama. E, para ser sincera, ela é melhor para você do que sete filhos.
Noemi levanta as sobrancelhas e faz que sim devagar.
NOEMI — Você tem razão, Tani.
Elas olham para Rute, que ainda tenta decidir o nome do filho com Boaz. Nesse instante, uma vizinha surda abre caminho e entra no quarto.
VIZINHA — Que que está acontecendo aqui?
MULHER — A Noemi—-
VIZINHA — (interrompendo) Quê???!!!
MULHER — A Noemi nasceu um filho!
VIZINHA — Ah! E qual é o nome do menino?!
RUTE — Ainda não decidimos...
VIZINHA — Como não decidiram?! No meu tempo as mães davam o nome assim que descobriam que estavam grávidas! Essas moças de hoje em dia, hein...
BOAZ — (sorrindo) Agradecemos sugestões, minha senhora.
VIZINHA — Quem falou?!
BOAZ — Aqui, eu! Se a senhora quiser sugerir um nome, fique à vontade!
VIZINHA — Mas que sugerir o quê! Vou é dar um nome a ele.
Diana e Josias tentam conter o riso.
VIZINHA — Coloquem o nome de Obede!
RUTE — Obede...
BOAZ — Obede...
RUTE — Eu gostei!
Todos ali se alegram.
NOEMI — Obede... Meu neto amado.
JURANDIR — A velha tem bom gosto...
VIZINHA — Eu ouvi! Eu ouço tudo, viu?! Velho é você!!!
Todos riem. Boaz entrega Obede para Rute e fica ao lado dela. Sorridentes, os dois admiram o filho... sorriem um para o outro e trocam um beijo.
CENA 14: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA
Conforme os dias passam, Noemi passa bastante tempo com Obede. Brinca com ele em seu colo, cantarola... Em determinado dia, enquanto Rute faz a comida, Boaz chega em casa.
BOAZ — Amor... Shalom!
RUTE — Shalom, meu amor!
Eles se beijam.
BOAZ — E Obede?
RUTE — Noemi levou ele para passear.
CENA 15: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Rute e Boaz caminham pela rua quando avistam Noemi toda feliz segurando Obede. Sorridente, ela fala com ele em seu colo, que já sorri para ela.
Rute e Boaz, contentes, se abraçam e ficam observando-a, até que ela os nota.
NOEMI — Veja, Obede! Olha lá! Mamãe e papai chegaram! Ahn?! Vamos lá?! Vamos ver a mamãe! Será que o papai trouxe algum presente?! Hum?!
E ela volta na direção deles.
CENA 16: EXT. HEBROM – TEMPLO – FRENTE – DIA
Em outro dia, na capital de Israel, Hebrom, o julgamento dos membros da Caravana da Morte acontece de frente para a entrada do templo, que fica na grande praça central. Chega a vez da sentença de Tamires.
JUIZ — Tamires, na condição de autora intelectual do grupo, mandante de 28 assassinatos e cúmplice de 114, é condenada à prisão perpétua. Os guardas a levam dali.
CENA 17: INT. HEBROM – PRISÃO – DIA
Dois guardas levam Tamires pelo corredor. Há celas com presos dos dois lados.
TAMIRES — Saúdam-me! Atentem-se, pois Tamires, sua senhora, chegou!
E gargalha. Ao chegar à cela, eles a abrem.
TAMIRES — É nisso aqui que eu vou ficar?! Nesse lugar sujo e úmido?! Isso aqui está fedendo!
Os soldados a empurram de leve e ela entra ali. Logo uma mulher alta e corpulenta passa por eles e também entra na cela. Estranhando, Tamires olha para ela.
TAMIRES — Quem é você?
MULHER — Pode me chamar de Flor. Sou a comandante responsável pela prisão.
TAMIRES — Bom pra você.
FLOR — Meus pais foram mortos pela Caravana da Morte há alguns anos.
Tamires a encara.
FLOR — Quando eu soube que a criadora de tudo viria para minha prisão...
Aproxima-se de Tamires.
FLOR — ...pensei em matá-la.
Tamires engole em seco.
FLOR — Mas eu consegui superar isso, e não vou me rebaixar ao seu nível.
Tamires respira um pouco mais aliviada. Flor se afasta e circula pela cela.
FLOR — No entanto, as coisas aqui serão um pouco diferentes do que você pode estar esperando. Como disse, eu sou a comandante. A chefe. E, apesar de não matar, posso fazer com que você durma por uns... sei lá... 7 dias com as costelas ardendo.
Tamires fica acuada. Flor volta para perto dela e a encara.
FLOR — Portanto, quando for andar por esses corredores, é nariz para baixo e boca fechada. Quando os guardas vierem aqui, é nariz para baixo e boca fechada. Quando tiver que ir em qualquer lugar, para fazer seja lá o que for, como deve ser?
Tamires não responde nada.
FLOR — Não ouvi!!!
TAMIRES — Nariz para baixo... e boca fechada.
Flor sorri.
FLOR — Ótimo, Tamires, ótimo! Muito bem. Teremos o resto da vida para sermos grandes amigas. (sorrindo) Shalom!
Flor sai da cela e os guardas fecham e trancam a porta. Tamires vai para o canto e senta no chão. Está acabada...
FADE OUT:
3 ANOS DEPOIS
FADE IN:
CENA 18: EXT. BELÉM – CAMPO - DIA
Ao pé de um pequeno monte verde, há um grande campo relvado e cheio de árvores. Diversas famílias estão reunidas por ali brincando, comendo sentados no chão ou apenas conversando.
Rute, Boaz, Diana, Josias, Tani e Jurandir estão com Leila, Aylla, Myra, Orfa e o marido dessa. Noemi está brincando com OBEDE (3 anos) um pouco afastada, mas ouvindo a conversa.
RUTE — Por que vocês não vêm para Belém?
LEILA — Ah, Myra já está com seu projeto consolidado lá em Hebrom.
MYRA — (animada) Já consegui vários músicos voluntários para ensinar as crianças mais pobres a tocarem.
LEILA — E eu encontrei um ponto ainda melhor para a minha loja. Aylla também está bem animada, não é, filha?
AYLLA — Eu amo Hebrom! Nunca pensei que iria gostar tanto de uma cidade.
ORFA — Talvez parte dessa alegria seja porque tem um certo alguém por lá a rodeando... Só talvez.
Aylla fica enrubescida e eles riem.
AYLLA — Rum!
RUTE — E você, Orfa? Como está, minha amiga?
ORFA — Comigo foi um pouco difícil, mas... No fim das contas eu consegui encontrar Deus de verdade. (olhando o marido) Há 2 anos nós nos conhecemos... (a mão na barriga) e mais alguns meses e o fruto do nosso amor nascerá.
NOEMI — (brincando com Obede) Orfa, você está grávida?!
RUTE — Que incrível, minha amiga!
Rute e Orfa se abraçam felizes.
RUTE — Amei saber! E, realmente, já dá para ver a barriguinha!... Ai, que lindo...
NOEMI — E Myra? Não lhe apareceu nenhum pretendente, minha amiga?
MYRA — Eu... não acho que mereço, vide o meu passado... Quero apenas me dedicar às crianças.
Noemi, preocupada, se aproxima. Rute pega o filho no colo e Noemi vira para Myra.
NOEMI — Myra, quando nós nos arrependemos de verdade e vamos para o Senhor, todos os nossos erros de antes são apagados, e Ele não se lembra mais deles.
Myra a escuta.
NOEMI — Dê uma chance a si mesma. Abra o coração para que possa perdoar a si mesma.
Myra sorri.
MYRA — Obrigada, Noemi.
NOEMI — Bom, vocês todos... podem ficar à vontade. Esse lugar aqui é maravilhoso para se passar o dia de folga, então... Divirtam-se!
Eles sorriem e se espalham. Tani e Jurandir passeiam sobre as árvores. Ele pega uma flor e coloca na orelha dela, que sorri para ele. Diana e Josias se sentam e observam as famílias. Trocam um beijo. Leila, Aylla, Myra, Orfa e seu marido se sentam para comer.
Noemi olha para o pequeno monte ali do lado e de volta para Rute e Boaz.
NOEMI — Eu vou subir ali e me sentar um pouco... Gosto da visão.
RUTE — Eu vou junto. Boaz, fique com o Obede...
BOAZ — Tudo bem.
RUTE — Vai com o papai, meu amor. Dá um beijo na mamãe.
Obede beija o rosto de Rute.
RUTE — Eu te amo, meu filho.
OBEDE — Também te amo, mamãe!
Noemi pigarreia.
OBEDE — Eu te amo, vovó!