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Na Boca Do Povo - Capítulo 31

 

Capítulo 31

Cena 01 – Túnel Presidente Jânio Quadros [Externa/Noite]

(De longe, surgem dois novos carros no interior do túnel. Para não ser visto ou capturado, Caruso atira para o alto fazendo com que os veículos freiem e tentem retornar pelo túnel).

 

SUZANA: (permanece inconsciente e caída no chão).

CARUSO: (Corre até onde o taxista está caído, recolhe sua carteira e vai embora na moto).

(Aos poucos, pessoas se aproximam para ajudar e chamam a polícia).

MULHER: Alô, é da polícia? Aconteceu um assalto aqui no túnel Jânio Quadros, tem duas pessoas feridas, não sei se elas estão mortas. Venham depressa! (Diz enquanto fala ao celular).

 

Cena 02 – Na Boca do Povo, Redação [Interna/Noite]

(Em sua sala, Ângelo permanece surpreso com a notícia que Fernanda havia acabado de lhe contar).

 

FERNANDA: Que foi? Porque você está com essa cara? Diz alguma coisa, Ângelo!

ÂNGELO: Eu só fiquei surpreso, não esperava uma notícia dessas! (Responde).

FERNANDA: Nem eu sei o que dizer! Essa gravidez não foi planejada, o pai do meu filho já está em outra, nem sei o que vai ser do nosso futuro ao certo.

ÂNGELO: O pai da criança já sabe?

FERNANDA: Ainda não! Na verdade, nem sei se devo contar a verdade para o Rafael. Tudo o que menos quero agora é atrapalhar a vida dele.

ÂNGELO: Ele precisa saber, Fernanda. Se eu fosse o pai dessa criança, coisa que eu adoraria que fosse verdade, eu iria querer saber de cara. Por mais que vocês não estejam juntos, o Rafael precisa dividir essa situação com você. (Explica).

FERNANDA: (Se emociona) Agora eu entendi porque ando tão chorona ultimamente. Devem ser os hormônios. Você estava de saída e eu chego te jogando uma bomba dessas, pode ir, me desculpe!

ÂNGELO: O meu compromisso pode esperar um pouco, vou mandar uma mensagem explicando, com certeza serei compreendido. Por nada desse mundo eu te deixaria sozinha num momento assim.

Música da cena: Best Part – Daniel Caesar, H.E.R.

FERNANDA: As vezes eu me pergunto se mereço tanto carinho vindo da sua parte. Você é um cara incrível, merece uma mulher que te ame na mesma intensidade.

ÂNGELO: Eu já disse que não tenho pressa. O meu amor por você é grande, cabe você e o seu filho. Eu posso ser um pai para essa criança, se você quiser! (Responde).

FERNANDA: Você é o melhor amigo do mundo, sabia? Queria muito poder responder a esse amor que você sente por mim. Talvez um dia eu consiga, não sei o que esperar do destino, mas por hoje eu sou completamente grata por você estar aqui comigo! (Estende a mão para Ângelo).

ÂNGELO: (Segura a mão de Fernanda) Eu não vou soltar a sua mão, te prometo.

 

Cena 03 – Umbu-Cajá [Interna/Noite]

(O movimento no restaurante de Zeca havia sido intenso, mas com o decorrer da noite foi cessando naturalmente. Maria Rita havia passado no restaurante para ajudar Marcelo assim que saiu da revista).

 

MARIA RITA: (Varre o restaurante que já está fechado e sem clientes) Esquisito olhar para a frente e ver o restaurante da Francesca fechado, né? Eu espero que tudo se resolva logo, que o Enrico se recupere e que todos voltem a tocar a sua vida.

MARCELO: Eu acho que vai ser meio difícil, principalmente com a condição que o filho dela está agora. Ela vai precisar adaptar muita coisa nessa nova fase da vida! (Diz enquanto seca alguns copos).

MARIA RITA: O bom é que o povo do nosso bairro é muito unido, tenho certeza de que não faltarão braços para ajudá-la! Principalmente o seu primo, né? Esses dias eles deixaram de lado as picuinhas e estão mais unidos que nunca, acho que vai acabar saindo casamento, sabia?

MARCELO: E por falar em casamento, você não acha que já está na hora de começarmos a planejar o nosso?

MARIA RITA: Você acha? (Questiona).

MARCELO: Acho! Podemos ir planejando devargarzinho e deixar tudo certo para daqui uns dois meses. O que você acha?

MARIA RITA: É, vamos esperar a poeira baixar um pouco e damos prosseguimentos aos preparativos. Quero algo simples e bonito!

MARCELO: (Se aproxima de Maria Rita) Simples? Para a minha tigresa? Nem pensar! Quero tudo do bom e do melhor. Casamento não é todo dia, pode escolher tudo do bom, faço questão! (Segura Maria Rita pela cintura e a traz para perto dele).

Música da cena: Jeito Sexy - Sambô

MARIA RITA: Ai, você sabe que eu não resisto quando você me pega desse jeito, tigrão!

MARCELO: Já vamos escolher o nosso cantinho, quero uma casa aqui pela Mooca. Tenho algumas economias, acho que dá pra comprar alguma pequena. Com o tempo vamos reformando e vai ficando do nosso jeito. (Diz com a boca bem próxima a de Maria Rita).

MARIA RITA: Não importa se a casa vai ser grande ou pequena, a única coisa que não pode faltar é amor e o meu tigrão! (Beija Marcelo em seguida).

 

Cena 04 – Apartamento de Evandro [Interna/Noite]

(Só de toalha, Evandro resolveu ir abrir a porta após saiu do banho quando ouviu a campainha tocar).

 

EVANDRO: Eu imagino que para você ter vindo até a minha casa uma hora dessas, seja bem importante. Que eu me lembre, eu te proibir de fazer isso, não? (Diz ao abrir a porta).

TAMARA: Eu tenho meus motivos, não iria vir aqui à toa! (Responde ao entrar).

EVANDRO: (Fecha a porta) E eu posso saber o que trouxe você até aqui?

TAMARA: Pode, mas tem um “porém” para poder saber. (Diz ao se sentar no sofá).

EVANDRO: Que porém, garota? Está brincando comigo? (Esbraveja).

TAMARA: Muito dinheiro! A informação que eu tenho é muito valiosa e com certeza vai mudar a sua vida, pois aí você ficará com a Luiza Helena nas mãos como você tanto desejou. (Explica).

EVANDRO: (Surpreende-se com a fala de Tamara e senta-se numa cadeira) Tem certeza que está falando a verdade? Eu acabo com você se estiver me enganando.

TAMARA: Não tenho porque mentir, mas se você acha que eu estou mentindo. Posso ir embora, sem problema! (Levanta-se e caminha em direção à porta).

EVANDRO: Espera! Quanto é que você quer para me dizer o que descobriu?

TAMARA: 100 mil reais para começar! (Diz com um sorriso nos lábios enquanto olha para Evandro).

EVANDRO: 100 mil reais? Ficou doida? Eu não tenho todo esse dinheiro agora, menina.

TAMARA: Disse bem, não tem hoje, mas vai conseguir amanhã. Acredite, vai valer a pena. Quero jantar amanhã à noite em um desses lugares bem chiques, receber o meu pagamento e aí sim, eu te digo o que você precisa saber.  Aguardo as coordenadas em breve! (Sai do apartamento de Evandro e fecha a porta).

EVANDRO: O que será que essa aprendiz de pilantra descobriu? Será que ela está blefando? Se ela estiver blefando, eu acabo com a raça dela. Eu acabo! (Pensa em voz alta).

 

Cena 05 – Túnel Presidente Jânio Quadros [Externa/Noite]

Música da cena: Sampa – Caetano Veloso

(Imagens da Avenida Paulista são apresentadas, em seguida percorremos pelas ruas Augusta e Oscar Freire, por fim surge o Túnel Jânio Quadros. Agora parte dele está interditado pela polícia que está fazendo a perícia na cena do crime).

 

INSPETOR ERIBERTO: (Interroga algumas testemunhas no local).

DELEGADA RAQUEL: (Atravessa a barreira de segurança e mostra seu distintivo, em seguida se aproxima do inspetor Eriberto) O que temos aqui, inspetor?

INSPETOR ERIBERTO: Doutora! Pelo o que vemos aqui até então, um possível latrocínio com duas vítimas fatais. O condutor do veículo foi identificado por conta do documento que estava no porta-luvas, já a mulher ainda não conseguimos, pois lhe roubaram os pertences, ela está sem documento. Segundo as testemunhas, o suspeito estava numa moto preta. (Explica).

DELEGADA RAQUEL: (Caminha pela cena do crime, entre os corpos que estão nos sacos do IML. Em seguida, resolve abrir o zíper de um deles e podemos notar o corpo de Suzana) Ferimento a queima roupa no peito. Pela localização do projetil, quem atirou, atirou de perto. Talvez não tenhamos aqui um simples latrocínio! (Diz enquanto observa o corpo de Suzana).

INSPETOR ERIBERTO: O que a senhora quer dizer com isso? (Questiona ao acompanhar a delegada analisar a cena do crime).

DELEGADA RAQUEL: Eu quero dizer que não podemos descartar a hipótese de uma possível queima de arquivo. Descubra quem era a moça, vamos avisar a família e investigar, é claro! (Responde fechando o zíper).

 

Cena 06 – Casa de Durant [Externa/Noite]

(Um carro se aproxima da fachada da casa de Durant e estaciona. Trata-se de Betinha e Rafael).

 

RAFAEL: Uma pena que o Enrico não queira receber visitas, mas é compreensível depois de tudo o que aconteceu. (Diz em tom de lamentação).

BETINHA: É verdade, mas não vamos desistir dele. Ele quer se isolar, mas não vai conseguir. Com o apoio de todos ele vai se recuperar e reagir mais rápido, você verá!

RAFAEL: Você não quer entrar? (Pergunta ao soltar o cinto de segurança).

BETINHA: Não, agora com a Tamara em casa, fico meio sem jeito de ficar tanto tempo longe, afinal ela é minha amiga e está passando por um momento difícil também, perder a única pessoa da família não deve ser nada fácil.

RAFAEL: Dessa vez eu vou te perdoar, mas da próxima você não vai ter desculpas, Roberta Miranda!

BETINHA: (Revira os olhos) Eu nunca vou me acostumar com esse nome tenebroso.

RAFAEL: Isso é o que menos me importa, desde que você fique aqui, comigo! (Beija Betinha).

BETINHA: Você pedindo assim, com tanto jeitinho, estou até repensando em ficar. (Beija Rafael novamente).

(Pela rua, Fernanda caminhava em direção a casa de Rafael para contar que estava esperando um filho dele, porém antes de chegar ao local, foi surpreendida com uma cena que não esperava, Rafael e Betinha aos beijos).

FERNANDA: Sempre ela! Eu sabia que não deveria ter vindo, foi uma péssima ideia. (Fala consigo mesmo).

 



Cena 07 – Hospital Santa Veridiana [Interna/Manhã]

Música da cena: Um Pôr do Sol Na Praia – Silva e Ludmilla

(O sol surge assim que a manhã chega. O clima no hospital era de tranquilidade quando Enrico foi transferido por fim ao quarto, deixando a UTI).

 

ENFERMEIRA: Está confortável? (Pergunta endireitando o travesseiro na cabeça de Enrico).

FRANCESCA: Grazie Dio, você veio para o quarto. Em breve estaremos em casa!

ENRICO: Está sim! (Diz ao responder a enfermeira).

LOLA/AMARA: Assim que você for para casa, vamos te mimar ainda mais. Vou fazer uma comidinha deliciosa, você vai amar.

ENFERMEIRA: Eu vou deixa-los a vontade, com licença! (Diz ao sair do quarto).

ENRICO: Eu não sei quem vocês duas pensam estar enganando. A partir do momento que sairmos desse hospital, vamos nos chocar com outra realidade. A realidade de que eu me tornei dependente de todo mundo! (Grita).

FRANCESCA: Enrico, me escuta! Non torne as coisas mais dificiles. Io compreendo que tudo isso foi um choque pra você, mas você precisa reagir bambino, a sua mamma está aqui!

ÍTALO: E eu também! E nem por um decreto, por mais que você grite, chame a segurança, eu não vou sair daqui. Nós precisamos conversar! (Diz parado na porta do quarto).

 

Cena 08 – Apartamento de Glória [Interna/Manhã]

Música da cena: Gloriosa – Glória Groove

(Vestida em seu último hobby de seda, Glória adentrou a sala de casa após sair do quarto. Ainda bocejando, ela se aproximou da mesa de jantar onde encontrou Fernanda colocando a mesa).

 

GLÓRIA: Ué, porque você está colocando a mesma? Já disse que não é para dar folga a estrupício no meio da semana. Esses empregados de hoje em dia, a gente dá a mão e eles querem o corpo todo.

FERNANDA: Bom dia para a senhora também, né? Eu estou fazendo isso ou ninguém iria comer. Ou seja, agradeça! (Diz enquanto coloca os pratos na mesa).

GLÓRIA: Como assim? Cadê a jamanta velha da Judith? Qual será a desculpa da vez? O ônibus quebrou? Pobre adora criar história para patrão, nunca vi...

JUDITH: Tem desculpa não, Dona Glória! (Diz ao surgir na sala carregando uma mala).

GLÓRIA: Não morre mais, galinha velha ciscadeira. Eu quero minha omelete e café fresquinho, anda, vai buscar. E olha só, eu vou descontar o atraso da sua diária. Generosidade tem limite, eu não sou santa!

JUDITH: Eu acho que a senhora ainda não entendeu. Eu estou indo embora!

GLÓRIA: Como assim, embora? E que mala é essa, estrupício? Não estou com humor para brincadeiras.

FERNANDA: Mãe, pela cara dela dá pra ver que ela não está brincando. (Diz ao perceber que Judith não está blefando).

GLÓRIA: Ela não pode ir embora, ela não tem para onde ir. Dê meia volta estrupício e vá preparar o meu café da manhã.

JUDITH: Eu não vou, Dona Glória, já disse! Acabaram-se os insultos, os maus tratos, a pindaíba, a falta de dinheiro. Eu cansei! Estou abandonando esse barco a partir de agora e tem mais, vou casar e não vou mandar o convite de casamento.

GLÓRIA: Casar? Quem é o doido que vai querer uma jamanta velha que nem você?

JUDITH: Pois espere e verá, Dona Glória! Cuidado que a senhora vai cair esse pedestal e essa mão que hoje a senhora usa para bater, pode ser a mesma mão que vai usar para pedir ajuda. Adeus! Fernanda, meu amor se cuide, mas eu não posso mais. Conte sempre comigo, mas ela não!

FERNANDA: Eu vou sentir muito a sua falta, Juju! (Dá as mãos a Judith).

JUDITH: Eu também, minha linda. Para mim, você é a filha que eu não tive. Não se preocupe, as palavras que eu joguei para essa daí, não são para você. Você vai sempre poder contar comigo, ouviu? (Responde segurando as mãos de Fernanda).

GLÓRIA: Pois agora sou eu que não te quero mais aqui, vá embora. Rua, rua! (Grita).

JUDITH: Pode deixar, Dona Glória! Daqui eu não quero levar nem um ovo cozido, afinal é só isso o que a senhora come. Com licença! (Vai embora e bate a porta com força).

 

Cena 09 – Na Boca do Povo, Redação [Interna/Noite]

(Ao sair do elevador, Ângelo encontrou boa parte dos funcionários da revista reunidos assistindo ao noticiário).

 

ÂNGELO: Bom dia! O que aconteceu aqui? (Pergunta ao se aproximar de Luiza Helena).

LUIZA HELENA: Você ainda não soube? (Estranha a reação de Ângelo).

ÂNGELO: Não, o que houve? Porque estão todos com essas caras de velório?

LUIZA HELENA: Acabou de sair no noticiário do estado. A Suzana morreu após reagir a um assalto. Ela foi baleada e infelizmente não resistiu aos ferimentos.

MARIA RITA: (Chora lamentando) Tão jovem, tão bonita e cheia de vida. Não merecia um destino desses. Meu Deus, que país é esse?

ÂNGELO: Não! Não pode ser, não tem como. A Suzana estava bem ontem, ela falou comigo, íamos sair juntos. Acabou que eu não pude ir ao nosso encontro, mas eu não pude ir.

LUIZA HELENA: Provavelmente ela estava indo te encontrar quando ocorreu essa tragédia. Infelizmente diante os fatos, não há o menor clima para trabalharmos. Vou dispensar todos os funcionários pelo menos pelos próximos três dias. A Suzana era uma funcionária antiga, era o mínimo que podia fazer em sua homenagem. Sabe dizer se ela tem algum familiar? Algo que possamos fazer?

ÂNGELO: Não, a Suzana não tinha irmãos, sua família era toda do interior e seus pais já haviam falecido. A única coisa que eu sei é que ela morava com uma amiga, nada além disso.

LUIZA HELENA: Eu gostaria de custear todas as despesas com o funeral, que ela tenha uma despedida digna.

ÂNGELO: Pode deixar, eu me encarrego disso.

LUIZA HELENA: Está bem, quando tiver novidades você me liga?

ÂNGELO: Ligo sim! (Responde).

LUIZA HELENA: Então nos vemos depois. Se cuida, eu sei que vocês eram amigos e essa noticia deve ter mexido muito com você, tire o tempo que precisar. Com licença! (Diz se despedindo e logo em seguida deixa Ângelo sozinho).

ÂNGELO: Morta! Eu não posso acreditar, a Suzana está morta e morreu sem me contar o que tanto queria. O que será que ela tinha para me dizer? (Fala consigo mesmo em pensamento).

 

Cena 10 – Hospital Santa Veridiana [Interna/Tarde]

(Francesca e Lola/Amara percebem o clima de tensão com a chegada de Ítalo).

 

ENRICO: Nos deixem a sós, por favor.

LOLA/AMARA: Vamos deixa-los conversar a sós e mais a vontade, Chesca. (Diz conduzindo Francesca rumo a saída do quarto).

FRANCESCA: Tem certeza, bambino?

ENRICO: Absoluta, mamma. Nos deixe a sós, por favor. (Repete).

FRANCESCA: Va bene, bambino!

LOLA/AMARA: Vamos tomar um café na lanchonete, disseram que tem uma torta de maçã ótima lá, vamos experimentar. (Diz puxando Francesca para fora do quarto).

ÍTALO: Você não sabe como eu estava com vontade de ver! (Diz ao ficar sozinho com Enrico).

ENRICO: Será que estava mesmo? Ou estava apenas com a necessidade de satisfazer os seus desejos as escondidas?

ÍTALO: Porque você está falando assim comigo? Eu não estou entendendo? (Diz ao perceber a frieza de Enrico).

ENRICO: Sabe que hoje eu te dou razão? Hoje eu entendo o seu medo de ser quem você quer ser verdadeiramente. Ser gay incomoda, ser trans incomoda, ser lésbica incomoda, ser livre incomoda. E o que ganhamos em troca? Agressões, intolerância, desamor, ódio, desprezo. Olha só o que me aconteceu, quem diria, né? Eu entrei para as estatísticas. Mais uma vítima que tentaram calar por querer ser apenas quem é de verdade. Eu estou cansado, sabe? Cansado das pessoas acharem que podem decidir o que é bom ou não para a minha vida, porque é a minha vida.

ÍTALO: Enrico...

ENRICO: (Interrompe Ítalo e continua falando) Apesar de tudo o que me aconteceu e de estar nessa cama diante uma nova realidade, eu reafirmo o que eu sou e para onde vou. Eu não quero voltar para o armário e eu não vou mudar a minha essência para agradar a sociedade ou para não ser falado pelos vizinhos. Eu vou continuar sendo esse aqui, mesmo que isso custe a minha vida. Que custe, mas que outras pessoas tenham a coragem de falar, de se aceitarem. Daí eu pergunto, é esse mundo que você quer viver comigo, mesmo agora com todas as incertezas do meu quadro clinico, ou você quer continuar ficando as escondidas, pensando no que as pessoas vão falar?

ÍTALO: (Olha para Enrico em silêncio, completamente sem reação com o choque de realidade que acabara de levar).

ENRICO: Foi o que pensei! Silêncio também é resposta e o seu diz muito. Vai embora, Ítalo. Eu não quero mais ver você!

ÍTALO: Espera, você precisa me ouvir, me entender.

ENRICO: Não, eu não preciso. Para que entender você? E eu? Quem vai me entender? Eu estou farto de viver assim, eu não vou viver assim. Se você quer continuar vivendo essa vida dupla, que viva. Eu não vou compactuar com isso, então por favor, mantenha o mínimo de dignidade, saia e não volte mais.

Música da cena: Não Esqueço – Niara e Pabllo Vittar

ÍTALO: (Faz o que Enrico pede e vai embora).

ENRICO: (Ao perceber que está sozinho, chora em silêncio).

 

Cena 11 – Casa de Durant [Externa/Tarde]

(Durant e Rafael estavam prontos para sair quando ouviram a buzina de um carro, tratava-se de Betinha que estava esperando por eles, juntos os três iriam tentar visitar Enrico).

 

DURANT: Nossa senhora, não é que você fica bonitona dirigindo? (Diz ao abrir o portão e ver Betinha parada no carro).

RAFAEL: Mais bonita ainda, fica com a minha companhia no banco do carona. (Diz ao cruzar pelo tio e entrar no carro, sentando-se ao lado de Betinha).

DURANT: Ih, eu ainda vou segurar vela? Gosto disso não!

BETINHA: Entra logo, aqui tem amor para todo mundo.

DURANT: Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Você sabe pilotar essa máquina mesmo, não sabe? (Diz após entrar no carro e sentar no banco de trás).

BETINHA: Isso é o que você vai descobrir agora! Senhores, apertem os cintos que a emoção vai começar. (Diz ao acelerar e dar partida).

 

Cena 12 – Restaurant Le Vielmont [Interna/Noite]

Música da cena: Sampa – Caetano Veloso

(Conforme prometido, Evandro levou Tamara em um dos restaurantes mais caros da cidade para conseguir arrancar dela o segredo que ela havia descoberto).

 

GARÇOM: (Serve um pouco de vinho tinto nas taças).

TAMARA: Só isso? Rico é tudo mão de vaca mesmo! Moço, isso só dá um gole. Quer ver? (Diz ao beber todo o vinho de uma única vez).

GARÇOM: (Olha para Evandro constrangido e em seguida serve mais um pouco).

TAMARA: Poxa moço, de novo? Me empresta a garrafa, eu vou te ensinar como eu gosto. (Tamara arranca a garrafa das mãos do garçom e enche a taça até a borda).

EVANDRO: Tamara, já chega!

TAMARA: Viu como faz, moço? Agora aprenda, estou num restaurante de gente chique, sem mesquinharia, por favor.

GARÇOM: Aprendi sim, senhora. Com licença! (Diz ao se retirar).

EVANDRO: Pronto, agora que você já provou até ao garçom que uma pessoa sai de Porto de Pedras, mas Porto de Pedras não sai dela, vamos o que interessa. O que foi que você descobriu? Você não acha que eu te trouxe aqui de graça, acha?

TAMARA: (Bebe mais um gole de vinho) Eu poderia dizer o mesmo. Você sabe muito bem que a minha informação vale muito, não sabe? Cadê meu dinheiro, Evandrinho?

EVANDRO: (Sorri ironicamente, em seguida coloca um envelope em cima da mesa) Aí está, uma parte é claro. Primeiro eu preciso confirmar se a informação vale a pena, dinheiro não dá em árvore.

TAMARA: (Abre o envelope e dá uma olhada no dinheiro) Você não vai se arrepender, a informação que eu trouxe é bem quente.

EVANDRO: E o que você está esperando? Que eu fique esperando você roubar as garrafas de todos os garçons que cruzarem a nossa mesa? Me fale de uma vez, menina. Eu não tenho tempo a perder!

TAMARA: Está bem, foi você quem pediu que eu despejasse isso sem preparação. A Luiza Helena e a Betinha não são irmãs! (Dispara).

EVANDRO: Não? Como não? (Pergunta surpreso).

TAMARA: A Luiza Helena é mãe dela! E tem mais, sabe quem é o pai dela? O pintor! (Diz as gargalhadas).

EVANDRO: Do pintor? (Repete chocado).

 

A imagem foca em Evandro completamente surpreso com a revelação de Tamara. A cena congela e vira uma capa de revista.



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