Capítulo
33
Cena 01 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
(Surpreendida com o que Evandro
acabara de falar, Luiza Helena resolve não ceder).
LUIZA HELENA: Eu não vou a lugar algum. Que história é essa? Quem te disse
isso?
EVANDRO: Você vai sim! Está pensando o que? Que vai contar a história para o
pintor, os dois juntos revelam a verdade para a pentelhazinha...
LUIZA HELENA: Não fala assim da minha filha! (Grita).
EVANDRO: Isso, coloca para fora essa história! A única coisa que eu te digo é que
o final dessa história está muito mais longe do que você imagina.
LUIZA HELENA: Bem que me avisaram que você não passava de um mal caráter!
O que é que você quer? Dinheiro? Quanto? Me fale de uma vez e depois desapareça
de uma vez por todas, inclusive da empresa. Você está no olho da rua!
EVANDRO: Eu gosto mais dessa Luiza, sabia? A outra versão era muito sonsa! Mas
respondendo a sua pergunta, sobre quanto eu quero... Eu respondo, eu quero
tudo. Eu quero o dinheiro, a revista, a casa, você.
LUIZA HELENA: Você só pode estar ficando louco, eu vou sair agora mesmo.
(Diz enquanto caminha rumo a porta).
EVANDRO: Saia! Eu aproveito, ligo para a sua filhinha bastarda, conto a verdade
para ela e depois do baque ao descobrir a verdade, eu a coloco na cadeia.
Homicídio doloso, com intenção de matar. Já ouviu falar?
LUIZA HELENA: (Fica imóvel ao ouvir o que Evandro sabe).
Cena 02 – Casa de Durant
[Interna/Noite]
(Maria Rita estava deitada no sofá da
sala enquanto Marcelo massageava suas pernas após um dia longo e trabalho,
quando Durant desceu).
MARIA RITA: Sabia que eu vou cobrar massagem todos os dias depois do
casamento, né? Está no acordo pré-nupcial.
MARCELO: Se for para agradar a minha tigresa, pode ter certeza que eu faço com o
maior prazer.
DURANT: (Desce a escada e vai até a janela observar a rua, em seguida olha a
hora no relógio).
MARIA RITA: (Observa Durant) O que foi, primo? Parece nervoso!
MARCELO: É verdade, você já olhou para o relógio várias vezes.
DURANT: Eu estou esperando a Luiza Helena, ela ligou e disse que viria, que tem
algo importante para me contar.
MARIA RITA: Então senta aí, homem. Se ela disse que está vindo, espera!
DURANT: É que tem mais... Ela não é a única que te alguma coisa para contar.
MARIA RITA: Como assim? Do que você está falando, homem?
DURANT: (Senta-se numa poltrona, perto de Marcelo e Maria Rita) Vocês não são os
únicos que irão se casar, isso quer dizer, se a Luiza Helena aceitar.
MARIA RITA: Para tudo que eu estou passada! Quer dizer que você que você
vai pedir a loirona em casamento?
DURANT: (Tira um anel do bolso) Sim!
MARCELO: Isso é incrível...
MARIA RITA: Está pensando no que eu estou pensando, tigrão?
MARCELO: Acho que sim, tigresa!
DURANT: Do que vocês estão falando?
MARIA RITA: Casamento duplo... Será incrível, imagina só. A igreja, as
flores, os convidados... É uma ideia maravilhosa!
DURANT: É, só que para isso a noiva precisa aceitar o meu pedido antes. Porque
ela não chega logo? (Diz ao voltar até a janela para observar a rua).
Cena 03 – Apartamento de Glória
[Interna/Noite]
Música da cena: Flores No Jardim-
Llari
(Imagens noturnas externas da cidade
são apresentadas. Veículos percorrem toda a cidade pelas grandes avenidas. Em
seguida, surge a fachada do prédio em que Glória mora com os filhos).
FERNANDA: (Caminha pelo corredor do andar onde mora, quando repentinamente sente
desejo de vomitar. Assim, ela abre a porta rapidamente, joga a bolsa no chão
sem perceber que sua mãe estava deitada no sofá e corre até o banheiro para
vomitar).
GLÓRIA: O que deu nessa menina? Porque ela entrou desse jeito? (Diz ao se
levantar. Ao olhar para o chão, Glória avista a bolsa de Fernanda entreaberta).
(No banheiro).
FERNANDA: (Baixa a tampa do vaso sanitário. Em seguida vai até a pia, lava a boca
e o rosto) Meu Deus, quase não deu tempo! (Ao sair do banheiro, Fernanda dá de
cara com Glória).
GLÓRIA: O que significa isso, Fernanda? Você
está grávida? (Questiona com o teste de gravidez em mãos).
FERNANDA: (Pega o teste da mão de Glória) A
senhora não deveria mexer na minha bolsa, isso é invasão de privacidade.
GLÓRIA: Você ainda não me respondeu! Esse
teste deu positivo, ele é seu?
FERNANDA: (Deixa Glória sozinha e vai até seu
quarto) E se for? A vida é minha!
GLÓRIA: (Segura o braço de Fernanda com
força) Como a vida é sua, menina? Você me fica grávida assim, tão jovem e
provavelmente daquele suburbano de quinta. O que irão fazer? Vocês não têm onde
cair mortos!
FERNANDA: Eu trabalho, eu vou dar tudo ao meu
filho. Não vou deixar que nada falte a ele! A senhora está me machucando...
(Diz ao se desvencilhar de Glória, soltando o braço).
GLÓRIA: Não seja burra, menina. Esse não é o
futuro que eu sempre sonhei para você, você ainda tem chances de mudar de vida
e sair dessa mediocridade. Você vai interromper, não vai?
FERNANDA: Não se atreva a repetir isso de
novo! Eu jamais faria isso para suprir essa sua ganância asquerosa. Eu tenho
vergonha de ser a sua filha, sabia?
GLÓRIA: Um dia você vai me agradecer por
isso ainda, você não sabe o que está dizendo.
FERNANDA: Você realmente não me conhece, mamãe. Eu não vou te agradecer por isso
nunca e desejo que Deus te perdoe por isso. Porque essa vida que você quer que
eu me desfaça, é o seu neto, sangue do seu sangue. Saia do meu quarto, eu não
quero ver a senhora tão cedo. Retire-se!
GLÓRIA: Eu vou, mas sei que você vai mudar de ideia e vai se arrepender de não
ter me dado ouvido quando perceber que é tarde demais. (Sai do quarto de
Fernanda).
FERNANDA: (Fecha a porta com força. Em seguida acaricia o ventre) Não escuta o que
ela disse, bebê. Eu te amo e jamais faria nada contra você.
Cena 04 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
(Luiza Caminha até onde Evandro está
e o encara de perto).
LUIZA HELENA: Você está blefando!
EVANDRO: Não, eu não estou. Tomei a iniciativa de investigar o passado de vocês
naquela vila de pescadores no interior de Alagoas e descobri muitas coisas.
Robeval, não é esse o nome dele?
LUIZA HELENA: (Fica estarrecida ao ouvir o nome de Robeval).
EVANDRO: Você sabe como são essas coisas, né? Basta molhar a mão de um aqui,
outro ali e vamos abrindo portas. Tive acesso ao inquérito, que ainda não foi
arquivado, vale lembrar. Tinham trechos bem interessantes... O indivíduo
Robeval foi atacado de surpresa pelas costas, em local de difícil acesso o que
leva a crer que ele foi vítima de uma emboscada. Em sua cabeça, constavam
marcas que pareciam ter sido deferidas comum metal pesado, ocasionando lesão
grave e hemorragia fatal...
LUIZA HELENA: (Grita interrompendo Evandro) Chega! O que você quer? Fale
de uma vez, eu não aguento mais olhar para essa sua cara sórdida. Você estava o
tempo todo tramando, como eu pude ser tão burra em acreditar que você havia
mudado? Você só estava me usando para se apoderar de tudo o que o Demétrio
conseguiu durante a vida toda.
EVANDRO: (Se aproxima de Luiza Helena e segura o seu queixo) Não é que você
acertou? Como pode ver, as regras desse jogo agora serão ditadas por mim. Não
se atreva a abrir a boca, ou a sua filha bastarda vai parar na cadeia e eu dou
um jeito de me livrar do pintorzinho de viaduto.
LUIZA HELENA: Não se atreva a chegar perto da minha família! Você não
seria capaz de fazer nada contra eles. (Diz se afastando de Evandro).
EVANDRO: Você ainda não percebeu? Eu sou capaz de coisas que até Deus duvida.
Podemos negociar ou você prefere continuar bancando a esperta e ver a sua filha
querida terminar na cadeia como assassina e ter o pai dela comendo merda no Rio
Tietê? (Esbraveja).
LUIZA HELENA: Porque será que eu não me surpreendo? Ladrão e assassino,
seu currículo é mais extenso do que eu imaginei...
EVANDRO: Tentando me ofender? Não esqueça que a Betinha é tão assassina quanto
eu, a diferença é que eu sei fazer e ela não. A idiota deixou rastros!
(Ironiza).
LUIZA HELENA: Ele ia abusar dela, ela só estava se defendendo... (Diz ao
se sentar no sofá).
EVANDRO: Você quer que eu ligue para a polícia? Aí você conta essa versão, só não
sei se eles irão acreditar. Afinal, a assassina fugiu da cena do crime e está
foragida há tanto tempo. Dificilmente a justiça será a favor dela! (Diz ao
pegar o telefone na mesinha ao lado do sofá).
LUIZA HELENA: (Arranca o telefone da mão de Evandro) Diga de uma vez o que
é que você quer para nos deixar em paz.
EVANDRO: Eu já disse o que eu quero! Eu quero tudo, inclusive você. Eu vou te
contar como será a partir de agora, preste atenção, porque eu não gosto de ser
repetitivo. (Em seguida, Evandro começa a narrar todo o seu plano para Luiza
Helena, que ouve horrorizada).
Cena 05 – Ruas da Mooca [Externa/Noite]
(Após deixar Rafael em casa, Betinha
foi pega de surpresa com a notícia que o namorado acabara de lhe dar).
BETINHA: Grávida? (Diz ao fechar a porta do carro).
RAFAEL: É, eu acabei de descobrir. Ela me contou e estamos atônitos.
BETINHA: Meu Deus! E agora? Você tem que assumir esse filho, é sua obrigação.
RAFAEL: Sim, eu farei isso. Darei todo o meu apoio, não faltará assistência para
ela durante esse tempo, muito menos ao meu filho. Porque você está me olhando
assim? (Pergunta olhando para Betinha).
BETINHA: Eu estou pensando, o que será de nós dois?
RAFAEL: Como o que será de nós dois? Nós vamos continuar juntos, não vamos?
BETINHA: Eu não sei, eu estou um pouco confusa, preciso pensar um pouco. Eu
cheguei na sua vida de repente, vivenciei um pouco do seu relacionamento e sei
como a Fernanda é uma mulher incrível, não sei se é justo com ela passar esse
momento sozinha.
RAFAEL: Mas ela não vai ficar sozinha, eu vou apoiá-la incondicionalmente. Eu
não quero perder você!
BETINHA: Eu preciso ficar um pouco sozinha e pensar sobre tudo isso. Você
entende, não é?
RAFAEL: Entendo sim! (Responde entristecido).
Música da cena: Anjos – Gabi Luthai
BETINHA: Eu preciso ir agora, boa noite! (Diz ao entrar no carro e ir embora
rapidamente).
RAFAEL: (Observa o carro de Betinha seguir
pela avenida).
(No carro)
BETINHA: (Chora enquanto dirige) Essa
história estava bonita demais para ser real! (Fala consigo mesma).
Cena 06 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Manhã]
(O dia amanhece, surgem imagens
externas dos principais pontos de São Paulo. O mercado municipal está
completamente movimentado. A 25 de Março surge em seguida em todo o seu grande
fluxo de clientes. As imagens transitam para a Avenida Paulista e seus grandes
prédios. A fachada da Mansão Martins de Andrade surge logo após).
LUIZA HELENA: (Toma café em silêncio ao lado de Tamara).
BETINHA: (Entra na sala de jantar e estranha o silêncio) Nossa, que clima de
velório. Vocês estão tão caladas. (Diz ao se sentar e colocar o guardanapo no
colo). Aconteceu alguma coisa?
TAMARA: Eu acho que não, deve ser impressão sua! (Disfarça enquanto toma um
pouco de Iogurte cremoso numa taça com cereais).
BETINHA: E você Luiza Helena, porque está assim, tão estranha? (Questiona a irmã
enquanto passa geleia em uma torrada).
EVANDRO: Bom dia, bom dia! Eu estou faminto, que mesa bonita... (Diz ao entrar na
sala de jantar).
BETINHA: O que esse homem está fazendo aqui? Quem o convidou? (Pergunta
surpresa).
Cena 07 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Manhã]
(Luiza Helena e Tamara permanecem
encarando Evandro parado na entrada da sala de jantar, enquanto Betinha
continua cobrando explicações).
BETINHA: Eu fiz uma pergunta! Quem convidou esse homem? O que ele está fazendo
aqui?
EVANDRO: Nossa, Betinha! Falando desse jeito até parece que você não gosta de
mim. Você ainda não contou para ela, meu bem? (Pergunta ao se aproximar de
Luiza Helena e massagear seus ombros).
BETINHA: Eu não estou entendendo. O que ela não me contou? O que está
acontecendo, Luiza? Porque você está calada.
EVANDRO: Deve ser emoção! Acontece sempre isso diante esse tipo de situação.
TAMARA: (Observa a cena enquanto continua comendo, como se nada estivesse
acontecendo).
BETINHA: Continuo sem entender. O que você quer dizer com isso?
EVANDRO: Eu e a sua irmã estamos juntos e pretendemos oficializar a nossa união
em breve.
BETINHA: O que? Isso não pode ser verdade. Ele está mentindo, não está? (Pergunta
surpresa).
LUIZA HELENA: Não, ele está dizendo a verdade. (Diz secamente após quebrar
o silêncio).
BETINHA: Isso não faz sentido, que loucura é essa, Luiza Helena e o Durant? Vocês
se amam...
LUIZA HELENA: O Durant ficará no passado! (Responde com um nó na
garganta).
EVANDRO: E eu sou parte do seu presente e formaremos um lindo futuro.
BETINHA: Isso só pode ser loucura, eu devo estar imaginando isso.
EVANDRO: Eu sei que tudo isso é novo, mas eu prometo conquistar o seu carinho.
Serei como um pai para você!
BETINHA: (Levanta-se bruscamente e joga o guardanapo em cima da mesa) Perdi o
apetite, com licença! (Diz ao sair da sala de jantar).
TAMARA: (Levanta-se em seguida) Eu vou atrás dela... Amiga, me espera! (Diz ao
sair atrás de Betinha).
LUIZA HELENA: (Ao perceber que estão sozinhos, se afasta de Evandro) Me
solta, seu canalha!
EVANDRO: (Senta-se ao lado de Luiza Helena) Você está cumprindo muito bem o seu
papel, seja amorosa da próxima vez, para que a insuportável da sua filha note
esse clima de tensão. Agora que tal você me servir um pouco desse café?
(Debocha).
LUIZA HELENA: Você tem duas mãos, sirva-se você mesmo. (Diz ao se levantar
e deixar a sala de jantar).
EVANDRO: (Sorri da situação e em seguida recolhe a torrada no prato de Betinha e
a morde).
Cena 08 – Casa de Durant
[Interna/Manhã]
Música da cena: Rock Roll And Lullaby
– Alexandre Poli
(Imagens do bairro da Mooca são
apresentadas. Podemos ver todas as cores das casas com arquitetura antiga,
surgindo logo após a fachada da casa de Durant).
RAFAEL: Que olheiras são essas, tio? Até
parece que não dormiu! (Diz enquanto passa manteiga em um pedaço de pão).
DURANT: E não dormi mesmo! Fiquei até tarde esperando a Luiza Helena e ela não
apareceu. Ligo para ela e ela não me atende, estou começando a ficar
preocupado.
RAFAEL: Eu percebi, quando cheguei ontem à noite, percebi a luz do seu quarto
acesa. Mas não se preocupa, logo ela aparece e não será nada demais esse
sumiço.
DURANT: Falando em sumiço, como você está lidando com a Fernanda ter reaparecido
esperando um filho seu? Conversou com a Betinha?
RAFAEL: Conversei, mas ela ficou muito abalada com a notícia. Não sei se ela vai
querer me ver de novo depois de tudo isso.
DURANT: A Betinha é uma boa menina, tenho certeza de que você está enganado e
logo mais ela estará aqui, com você. É engraçado, mas eu sinto um carinho por
ela que não consigo descrever, talvez seja porque eu sempre quis ser pai de uma
menina e nunca tive a oportunidade...
RAFAEL: Ainda! O senhor e a Luiza ainda são jovens, ainda podem ter filhos.
DURANT: Deus te ouça, Deus te ouça! (Conclui).
Cena 09 – Apartamento de Glória
[Interna/Manhã]
(O clima entre Glória e Fernanda não
estava nada amigável, principalmente depois que ela havia descoberto a gravidez
da filha).
GLÓRIA: Volta aqui Fernanda, eu não terminei
de falar! (Diz seguindo Fernanda pelo corredor).
FERNANDA: E nem vamos começar. Você já disse o que tinha de dizer ontem, eu não
quero continuar essa conversa! (Diz ao chegar na sala de estar e se deparar com
Thierry deitado sem camisa no sofá da sala).
THIERRY: Treta logo cedo? Ah não... (Resmunga sozinho).
GLÓRIA: Pelo contrário, nós precisamos falar dessa estupidez em manter essa
gravidez daquele João Ninguém.
(A campainha toca).
THIERRY: (Senta-se no sofá) Eu ouvi bem? A Fernanda está grávida?
GLÓRIA: Está e ainda por cima vai ser mãe solteira, só pode estar ficando louca.
Meu Deus, onde foi que eu errei? (Diz em tom de lamentação).
(A campainha toca novamente, dessa
vez de forma insistente).
THIERRY: Ninguém vai abrir a porta? (Diz, mas não é levado em consideração).
FERNANDA: Em que século vive Glória Martins de Andrade? “mãe solteira”, desde
quando maternidade é status de relacionamento? Não existe isso, mãe é mãe e eu
vou ter o meu filho, entendeu? Fui clara? (Dispara).
(Mais uma vez, a campainha toca).
THIERRY: Já que ninguém abre, eu abro!
(Levanta-se e abre a porta).
FERNANDA: (Olha surpreendida para quem estava
tocando a campainha) Você?
GLÓRIA: Você? (Diz ao mesmo tempo que
Fernanda).
JUDITH: Ué, não gostaram de me ver? Não
imaginam o prazer que é estar de volta! (Diz ao entrar vestida de forma
extravagante).
FERNANDA: Juju! Não esperávamos te ver, como
você está diferente... (Abraça Judith).
JUDITH: Como disse, eu me casei...
GLÓRIA: Muito mal, eu imagino... Percebe-se pelas roupas! (Diz ao interromper
Glória).
SHEIK KALED: Vamos demorar muito, habibti? Não gosto desse lugar, muito
feio. (Diz ao entrar no apartamento de Glória).
JUDITH: Não, habib! Vim só dar um oi aos vizinhos.
GLÓRIA: Vizinhos? Como assim? E quem é esse daí?
JUDITH: Não é esse daí, é o meu marido.s Sheik Kaled Naim, sua estrupício. Nós
compramos o edifício, vamos reformar o lugar, porque tudo aqui está decadente.
Acho melhor você acertar as contas, porque se não vai acabar expulsa. Nos
veremos em breve! (Diz ao sair).
SHEIK KALED: (Olha para Glória e sai de cara feia).
GLÓRIA: Era só o que me faltava... É o apocalipse! (Diz chocada).
Cena 10 – Chesca’s, Restaurante
Italiano [Interna/Tarde]
(Francesca caminhava pelo corredor de
sua casa segurando uma bandeja, trata-se de um lanche para Enrico que estava se
alimentando muito mal nos últimos dias).
FRANCESCA: (Abre a porta do carro com dificuldade e entra no quarto)
Pronto, a mamma trouxe uma comidinha deliciosa... Ué, cadê você bambino?
(Questiona ao perceber que Enrico não está na cama).
(Ao não encontrar Enrico, Francesca
desespera-se. Coloca a bandeja em cima de uma cômoda e sai procurando pelo
filho por toda a casa).
FRANCESCA: (Entra na sala de estar correndo).
ANDREINA: Sorella, porque está correndo desse jeito? (Questiona ao ver Francesca
empalidecida).
FRANCESCA: O bambino, o mio bambino. Ele non está no quarto!
GIOCONDA: Como que o mio nipote non está no quarto? Ele non tem como sair.
FRANCESCA: Non, ele non está. Io procurei por toda a casa e ele não
está.
ANDREINA: Será que ele non saiu com aquela moça que mora aqui com vocês?
FRANCESCA: A Lola? Non, ela teria avisado...
GIOCONDA: E non saiu mesmo. Io vi a Lola tomando um táxi sozinha mais cedo, o
Enrico non estava com ela.
FRANCESCA: Valha mio San Gennaro, non abandone o mio bambino! Que ele
não esteja em perigo, io te imploro! (Diz com as mãos erguidas para o alto).
Cena 11 – Delegacia [Interna/Tarde]
(As pessoas caminham pelas ruas de
São Paulo, quando entre elas Enrico surge empurrando sua própria cadeira de
rodas).
ENRICO: É aqui! (Diz ao olhar a fachada da
delegacia. Em seguida, ele entra na repartição).
(No interior da delegacia, a delegada
recebe Enrico).
DELEGADA RAQUEL: Me disseram que você está a minha procura, eu posso te
ajudar meu jovem? (Questiona olhando para Enrico).
ENRICO: Ajuda sim, ajuda a fazer justiça. Eu vim prestar queixa contra um ataque
que me deixou assim, paraplégico. Eu não quero que mais ninguém tenha o mesmo
destino que o meu.
DELEGADA RAQUEL: Bom, vamos te ouvir a escrivã irá digitar o seu depoimento.
Pode começar a falar! (Incentiva Enrico a prosseguir).
ENRICO: Eu fui vitima de homofobia. Eu fui agredido brutalmente sem chance de me
defender apenas por ser quem sou, como se juízes pudessem definir a respeito da
minha orientação sexual. Três homens me cercaram em meio a penumbra e me
espancaram até me deixarem abandonando na rua quase morto, a mercê do nada.
DELEGADA RAQUEL: Infelizmente essa é uma triste estatística em nosso país, um
dos que mais matam LGBTS no mundo. Porém, hoje a homofobia é considerada crime
e temos como parar pessoas com esse ímpeto de matar pessoas. Você conseguiu ver
ou consegue até mesmo descrever algum dos seus agressores?
ENRICO: Acredito que não com muita precisão, mas posso tentar!
DELEGADA RAQUEL: Ótimo, eu vou chamar um retratista e você irá descrever o
que lembra do dia em que tudo isso aconteceu. Só um momento! (Diz ao pegar o
telefone e ligar para outra sala).
(Alguns instantes depois, o
retratista não consegue capturar muita coisa devido Enrico não lembrar com
tantos detalhes da noite em que tudo aconteceu).
ENRICO: E então? A senhora acha que podemos fazer alguma coisa? (Questiona
ansioso).
DELEGADA RAQUEL: Eu vou ser sincera com você, Enrico. Eu lamento
profundamente o que fizeram com você, mas com as poucas informações que você
passou, fica difícil encontrar um norte para chegar até os agressores, entende?
ENRICO: Não! Eu não entendo. A senhora tem noção do que é fechar os olhos todos
os dias para dormir e ouvir as vozes das mesmas pessoas? Quando eu fecho os
olhos, parece que volto a reviver aquele horror. Eu sinto muito que não possa
me ajudar, mas eu digo uma coisa, eu não vou desistir de fazer justiça.
DELEGADA RAQUEL: Calma Enrico! Eu não estou dizendo que não vamos te ajudar,
apenas...
ENRICO: (Interrompe a delegada) Não precisa se dar ao trabalho, delegada. Eu já
entendi tudo. Eu sou apenas uma estatística e enquanto essa estatística não
fizer parte da família de alguém importante, de renome, nada será feito. Mas eu
garanto, eu não vou desistir! (Deixa a sala logo em seguida).
Cena 12 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Tarde]
(Luiza Helena desceu a escada
rapidamente quando ouviu certo alvoroço no pavimento térreo da mansão).
LUIZA HELENA: Durant? (Perguntou surpresa ao rever o pintor).
DURANT: Você sumiu, o que aconteceu? Os seguranças não queriam me deixar entrar,
então eu invadi mesmo.
LUIZA HELENA: Como assim os seguranças não te deixaram entrar? Eles não
tem esse direito.
EVANDRO: Eles só estavam cumprindo ordens... As minhas ordens! (Diz ao sair da
biblioteca).
DURANT: Como assim, suas ordens? O que esse cara está fazendo aqui, Luiza
Helena? (Diz se referindo a Evandro).
EVANDRO: Que foi? Ela não te contou nada?
LUIZA HELENA: Cala a boca, Evandro! (Grita).
EVANDRO: Alguém tem que contar a verdade, meu amor.
DURANT: De que verdade ele está falando? E porque ele está te tratando assim?
EVANDRO: Você já era, ficou no passado. Ela agora está compromissada com alguém
no nível social dela, alguém que gere prestigio a essa família e a essa
empresa, esse alguém não é você, sou eu.
DURANT: Que brincadeira é essa? Isso só pode ser uma piada...
LUIZA HELENA: Calma, eu posso te explicar Durant!
EVANDRO: Explicar o que? Que você não quer terminar esquentando a barriga num
fogão e vivendo num sobrado de quinta categoria e o pior, sendo esposa de um
pinto fracassado?
DURANT: Canalha! (Acerta um soco na cara de Evandro que cai no chão).
A imagem foca em Evandro caído no
chão encarando Durant. A cena congela e vira uma capa de revista.
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