Por que, pai?
Episódio 1
Takes mostrando paisagens do Rio de Janeiro, cidade onde se passa a história. Passam imagens do bairro Vila Isabel e corta pra imagens de Ipanema, ambientando a primeira cena.
Cena 01:Casa de Marina/Copa/Interior/Manhã
É manhã. Marina e sua mãe, Viviane, estão à mesa. Elas tomam café enquanto conversam.
VIVIANE - Marina, hoje quando você e seu irmão chegarem da escola eu não vou estar em casa. Eu vou ao shopping e depois ao cabeleireiro, vou demorar um pouquinho pra chegar.
MARINA - Entendi. Tem que aproveitar mesmo desses luxos que meu pai banca. Eu falo pai, mas nem sei se devo classificá-lo como pai.
VIVIANE - Eu já te disse pra parar com essa revolta. Seu pai tem o jeito dele, mas como você mesma disse, ele que banca tudo que temos. A gente já se separou, mas até as minhas coisas é ele quem paga.
MARINA - Sim, ele paga escola, roupa, médicos, bastante coisa. Mas porque ele é rico, aí é fácil. Só que o dinheiro não paga tudo não. Amor de pai, eu e Marcelo nunca tivemos. Até pra ver meu pai é difícil, ele nunca tem hora, está sempre ocupado. Acho que ele não tem vontade de ter contato com a gente mesmo.
VIVIANE - Enfim Marina, vou sair como já te disse, já avisei pra Dona Glória que não vou estar para o almoço, mas que é pra fazer por causa de você e Marcelo. Chama seu irmão no quarto, que o motorista está esperando pra levar vocês pra escola.
MARINA - Tá bom mãe.
Elas se despedem e Marina se direciona ao quarto de Marcelo.
Takes de imagens do bairro Vila Isabel, ambientando a cena seguinte.
Cena 02: Casa de Juliano/Quarto/Interior/Manhã
Juliano acorda, levanta de sua cama, caminha do seu quarto até o banheiro, escova os dentes e depois vai até a cozinha, onde conversa com sua mãe sobre seu novo emprego.
JULIANO - Bom dia mãe! Bênção!
MARLENE - Deus te abençoe meu filho! Oh, tá saindo um cafezinho agora, do jeito que você gosta.
JULIANO - Humm, esse cheiro do café, de manhãzinha, bom demais.
MARLENE - Oh, tá aqui um copo de café.
Marlene entrega o copo com café para Juliano.
MARLENE - Tem bolo e pão em cima da mesa.
Juliano parte um pedaço do bolo.
MARLENE - E o emprego novo, o que você tá achando?
JULIANO - Então mãe, é como entregador né. Não é um emprego excelente, mas é respeitável. E não dá pra ficar sem trabalhar também. Agradeço a Deus por esse emprego.
MARLENE - Ontem você chegou tarde, foi muito cansativo? Trabalhar no período noturno não é mole né.
JULIANO - Não é mesmo não. Entreguei muita pizza, mas foi tranquilo. O Sr. Klaus é um bom patrão também, pelo que vi nesse primeiro dia.
MARLENE - O Sr. Klaus é bom sim. Tem quem ache ele enjoado; mas é quando se trata do estabelecimento dele. Ele ama aquela pizzaria. Aquela pizzaria é coisa de família. Dizem que era do avô dele, nessa época era restaurante. Passou para o pai dele, que transformou em pizzaria. E agora ele quem comanda.
JULIANO - Falando em família, avô, pai… E o meu pai hein mãe?
Marlene se direciona à pia da cozinha
MARLENE - Seu pai é como eu sempre falo. Sabe aquela história do pai que saiu pra comprar cigarro e até hoje não voltou?
JULIANO - Sei.
MARLENE - Então, é a história dele.
JULIANO - Como que pode né? O cara tem um filho, aí some e deixa a mulher com um filho pra criar sozinha.
MARLENE - Pra você ver.
JULIANO - E o relacionamento de vocês era ruim?
MARLENE - Ah, ele era meio "mandão", mas não brigávamos muito. Até que era uma relação tranquila.
JULIANO - Vai entender. Mas também não precisei dele até hoje. Mas por que será que ele agiu assim né?
Juliano fica pensativo
Cena 03: Escola Guedes Tavares/Pátio/Dia
Marina e Fernanda conversam durante o horário de intervalo das aulas. Marina, cabisbaixa, conta para a amiga sobre a conversa que teve com Viviane
MARINA - Hoje cedo já meio que discutir com minha mãe.
FERNANDA - Por que, amiga?
MARINA - É meu pai, você sabe né. Falei pra minha mãe que ele não é um bom pai, que mesmo que ele pague todas as nossas despesas, ainda assim não o torna um bom pai, porque o básico que é o amor de pai, ele não dá, ele não sente. Mas ela acha que o que ele faz já tá bom. Para o Marcelo acho que faz mais falta ainda.
FERNANDA - Eu te entendo amiga. Super entendo. Se quiser desabafar.
Elas ficam em silêncio por um tempo, mas Fernanda logo continua a conversa
FERNANDA - Você sabe que eu vivo algo parecido também né.
MARINA - Sei.
FERNANDA - Só que no meu caso, eu nem conheço meu pai. O que eu sei é que ele é rico, e que deposita um dinheiro pra minha mãe todo mês pra garantir nossas despesas. Por isso sei o que você sente.
MARINA - Você gostaria de conhecer seu pai? Ou pensa que já que ele não quer, então tanto faz?
FERNANDA - Eu gostaria. Já perguntei minha mãe sobre ele mas ela não fala quem é, já pesquisei, não acho nada.
MARINA - Mas por que sua mãe não te fala quem é ele?
FERNANDA - Não sei Marina. Ela não fala nada dele. Parece até que não pode falar sobre.
Fred, aluno da escola, passa por elas
MARINA - Amiga, o Fred tá tão bonitinho né. Tenho um crush nele.
FERNANDA - Ele é gatinho, mas não é meu tipo.
Elas riem.
Cena 04: Faculdade Local/Pátio/Dia
Bárbara e Lizandra, alunas da faculdade, conversam durante o intervalo das aulas
BÁRBARA - Hoje eu vou encontrar com Juliano. Ele está trabalhando de entregador lá na pizzaria do Sr. Klaus.
LIZANDRA - Ah é? Estava sabendo ainda não.
BÁRBARA - É porque ele começou ontem.
Lizandra rindo responde à Bárbara
LIZANDRA - Ah tá.
Bárbara inicia um sorriso
BÁRBARA - Aí antes dele pegar no serviço, eu vou encontrar com ele. Só pra dar um beijinho e desejar bom trabalho.
LIZANDRA - Você gosta muito dele, né?
Bárbara em tom apaixonado
BÁRBARA - Amo, eu amo ele, Lizandra.
LIZANDRA - Eu estava namorando o Gustavo. Mas terminei. O marido da minha mãe implicou tanto com ele, até que convenceu minha mãe de que nós tínhamos que terminar o namoro. Aí minha mãe falou que a gente tinha que terminar porque ele não é pra mim, que ele é rico e eu sou pobre, enfim, terminamos.
BÁRBARA - Nada haver amiga. Por que você não insistiu no relacionamento. Você tem 22 anos, já pode tomar certas decisões de acordo com o que você quer.
LIZANDRA - Não gosto de contrariar minha mãe, sabe. Eu moro com ela, dependo dela, acabei respeitando o que ela quis.
BÁRBARA - Ah, poxa. Torcia tanto por vocês.
Lizandra troca de assunto e mexe em seus cabelos
LIZANDRA - Estava pensando em colocar umas tranças.
BÁRBARA - Coloca sim. Eu amo nossos cabelos. Afros, volumosos, cacheados, crespos, amo muito. Mas coloca sim. Eu respeito todo mundo: quem alisa, quem tem o liso natural, quem usa tranças. Cada um faz o que quer no cabelo, o que importa é o respeito.
LIZANDRA - É o que eu acho também amiga.
Cena 05: Saída da Escola Guedes Tavares/Exterior/Dia
Fred vai até Marina
FRED - E aí, Marina? Tudo bem? Estava pensando, a gente podia sair pra comer alguma coisa qualquer dia desses?
Marina responde de prontidão
MARINA - Claro! Anota meu contato.
Fred pega o contato
FRED - Então eu te mando mensagem e a gente combina certinho.
MARINA - Fechou!
Marina comemora com Fernanda
Ainda na saída da escola, Lorena já saiu, mas espera por Danilo. Logo Danilo vem e Lorena chama Danilo pra conversar
LORENA - Dan.
DANILO - Oi!
LORENA - Vamos lá na lanchonete da Dona Líria. Preciso conversar com você.
DANILO - Mas tem que ser agora?
LORENA - É coisa séria. Tem que ser agora.
Cena 06: Lanchonete da Dona Líria/Dia
Lorena e Danilo pedem um suco e se sentam numas cadeiras de uma mesa
DANILO - Então, fala o que é. Algum problema no nosso namoro?
Lorena, preocupada, relata à Danilo
LORENA - Depende de como você vai encarar, mas eu acho que estou grávida.
Danilo se espanta e vai embora, deixando Lorena sozinha
Cena 07: Pizzaria do Sr. Klaus/Exterior/Noite
Bárbara e Juliano se encontram. Já é noite
BÁRBARA - E aí, meu amor? Como você está?
JULIANO - Estou bem. Estava pensando no meu pai hoje.
Bárbara brinca com a situação
BÁRBARA - O seu pai, que foi comprar cigarro e até hoje não voltou?
JULIANO - A história é meio doida, mas é sério tá. Às vezes fico pensando no porquê ele fez isso.
BÁRBARA - Eu sei amor, estou só brincando.
JULIANO - Eu sei. Eu vou indo porque já deve ter pizza pra entregar.
BÁRBARA - Então tá, só mais um beijo.
Eles se beijam e Juliano vai pra pizzaria
Cena 08: Casa de Stéfany/Cozinha/Interior/Noite
Stéfany chama Conrado e sua filhinha Kika pra jantar. Eles se sentam à mesa
STÉFANY - Você ficou sabendo Conrado, que o Juliano está trabalhan/
Conrado interrompe e fala em alta voz
CONRADO - Já fiquei sabendo que o tal que mora aqui do lado está trabalhando na pizzaria do Sr. Klaus, por que?
STÉFANY - Por nada, só iria comentar.
CONRADO - Não precisa.
KIKA - Papai, não precisa falar alto assim com a mamãe.
CONRADO - Criança não dá palpite, fica quieta e come essa comida, que não é barato.
Stéfany fala abaixando a cabeça
STÉFANY - Não fala assim com a menina.
Conrado se levanta e fala alto
CONRADO - Vai me dizer o que tenho que fazer? Eu sou o homem dessa casa. Você cozinha, limpa, lava porque é mulher. E essa menina fica quieta.
STÉFANY - Tá bom Conrado, tá bom.
CONRADO - Não tem nada bom, nem essa comida que é o mínimo que você tem que fazer, está boa.
Conrado joga o prato de comida na lixeira e Stéfany intervém
STÉFANY - Pra quê fazer isso Conrado? Você cobra mas você mesmo não valoriza o seu esforço.
CONRADO - Eu faço o que eu quero, quem pagou fui eu.
Stéfany encara Conrado e fala mais alto
STÉFANY - E quem fez fui eu.
Conrado dá um tapa na cara de Stéfany
A cena congela
Fim do episódio.
Obrigado pelo seu comentário!