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Na Boca Do Povo - Capítulo 50 (Última Semana)

 


Capítulo 50 (Última Semana)

Cena 01 – Ruas do Morumbi [Externa/Noite]

(Paula permanecia de costas e imóvel, pois também havia reconhecido aquela voz).

 

PAULA: (Vira-se e encara o homem, tentando disfarçar) Oi, eu estou fazendo ponto nessa área. Sabe como é, estou vendo se daqui dá dinheiro!

(Nesse momento o homem misterioso sai do escuro e se aproxima de Paula, notamos que se trata de Thierry).

THIERRY: Você é boneca, não é? (Diz acariciando o rosto de Paula).

PAULA: Você quer saber se eu sou trans? Sim, eu sou.

THIERRY: Taí, gostei de você. Você está livre agora?

PAULA: Se eu estou livre agora? (Repete).

THIERRY: Sim, você é garota de programa. Não é? (Questiona).

PAULA: Sou... Sou! (Diz nervosa).

THIERRY: Eu conheço um lugarzinho reservado aqui perto, bora?

PAULA: (Observa Enrico de longe e em seguida responde) Vamos!

ENRICO: (Olha para Paula e faz um gesto para que ela continue com o plano).

(Paula e Thierry começam a se afastar no parque do Morumbi e se aproximam de ruas extremamente desertas).

PAULA: Tem certeza que é por aqui, esse lugar é escuro, não é?

THIERRY: Você vai gostar, eu tenho certeza! (Responde maliciosamente).

(Os dois entram em uma propriedade abandonada).

PAULA: É aqui? (Diz olhando para o local com pouca luz e de condições precárias.

THIERRY: Que foi? Vai dizer que não gosta de adrenalina?

(Do lado de fora do local, Enrico observa a fachada e em seguida pega o celular).

 

Cena 02 – Apartamento de Judith [Interna/Noite]

(Glória coloca uma bandeja com café em cima da mesinha de centro no apartamento de Judith, as duas estavam na sala de estar).

 

JUDITH: Quer dizer que finalmente a policia colocou as mãos naquele canalha? A justiça tarda, mas não falha.

GLÓRIA: É e pelo tamanho da ficha de acusações, não acho que ele consiga se safar tão cedo. (Diz ao entregar uma xícara de café a Judith).

JUDITH: (Mexe o café com auxílio de uma colher) Deus que me perdoe, mas ele tá pagando por todo mal que fez a família. Um pai que se preze, jamais faria o que ele fez. Espero que a justiça seja dessa vez!

GLÓRIA: Hoje eu me pergunto, como pude ser tão cega e ter me deixado levar por aquele homem tão sórdido? O Demétrio sempre teve razão e eu não quis ver.

JUDITH: Por mais que você tente negar, você não é mais a Glória vazia de antes. Aí dentro tem uma pessoa e essa pessoa está começando a aparecer.

GLÓRIA: Que besteira! Esse papo é uma bobagem, você como sempre com essas conversas de gente pobre. Pobre é quem gosta de filosofar, sabia? De ser sonhador, bem que dizem que o dinheiro chega, mas a pobreza não sai delas.

JUDITH: Taí, vou ter que concordar com você. Não se pode dar liberdade aos serviçais, não me julgue estrupício. Eu sou a sua patroa!

(Assim como antes, Glória e Judith voltam a discutir incansavelmente).

 

Cena 03 – Delegacia [Interna/Noite]

(Diante os últimos acontecimentos, a situação de Evandro se complicava cada vez mais perante a justiça).

 

EVANDRO: Como você não vai me tirar aqui? Você acha que eu estou bancando os seus honorários à toa? (Esbraveja com Hugo).

HUGO: Não é isso, meu caro. Não coloque palavras em minha boca! O que está acontecendo é que a sua situação só piora e principalmente agora com a volta do fantasma, ou melhor, do Ângelo Vasconcelos. Com tantas provas contra você, me diga qual juiz vai querer se queimar com a imprensa te concedendo um habeas corpus? Além disso, ainda tem o Caruso que vai a julgamento, esse quando der com as línguas nos dentes será como a última pá de terra. (Responde enquanto caminha de um lado para o outro da cela).

EVANDRO: Esse daí será carta fora do barulho, desde que você tenha seguido à risca todas as minhas instruções. Eu não vou me decepcionar com esse serviço, vou?

HUGO: Evidentemente que não. A pessoa quem eu contratei é muito experiente e tem fama de estripador, se isso te anima. (Responde em tom irônico).

EVANDRO: Maravilha! (Diz as gargalhadas).

 

Cena 04 – Penitenciária [Interna/Noite]

Música da cena: Instrumental de Suspense

(Zóio senta-se em sua cama, enquanto Caruso dorme na cama debaixo. Em seguida ele desce a escada do beliche silenciosamente, com o intuito de não faze barulho. Em meio a penumbra, notamos o brilho de uma lâmina, trata-se de um canivete que ele havia escondido dentro de seu próprio travesseiro).

 

ZÓIO: (Se aproxima de Caruso para matá-lo, enquanto fala consigo mesmo em pensamento) Hora de ir conhecer o capeta com passagem só de ida! (Ergue a mão para esfaquear Caruso em sua cama).

 

Cena 05 – Ruas de São Paulo [Externa/Noite]

(O carro de Thiago percorria pelas ruas de São Paulo, enquanto ele e Ítalo tentam impedir a todo custo que Enrico cometa uma besteira).

 

PROFESSOR THIAGO: E aí, nada? Ele não te respondeu?

ÍTALO: Nada, eu já liguei e mandei mensagens, mas nem sinal dele. Será que vamos demorar a chegar nesse lugar? Já estou começando a ficar aflito.

PROFESSOR THIAGO: Não, não. Já estamos bem próximos, não se preocupe. Vamos conseguir evitar que o Enrico se meta numa roubada.

ÍTALO: Eu vou continuar tentando! (Responde enquanto segue tentando falar com Enrico pelo celular).

 

Cena 06 – Hotel Ouro Branco [Interna/Noite]

Música da cena: Me Leva – Alice Caymmi

(Imagens externas aéreas mostram as luzes dos grandes edifícios da capital paulista, em seguida cruzamos pela Avenida Paulista e Avenida Ipiranga. Surge então a fachada do hotel onde Evandro havia hospedado Tamara).

 

TAMARA: (Estava deitada em sua cama, quando ouviu batidas na porta e abriu os olhos) Ué, quem será que é? Não estou esperando ninguém...

(Tamara levanta da cama e caminha em direção a porta do quarto. Em seguida, observa a maçaneta, receosa se deveria abrir ou não).

TAMARA: Seja o que Deus quiser! (Respira fundo e abre a porta em seguida).

NEIDE: Finalmente eu te encontrei, miserável! (Diz ao se deparar com Tamara parada na porta).

TAMARA: Mãe? (Questiona completamente perplexa, já que a última pessoa que ela esperava reencontrar seria a própria mãe).

NEIDE: (Invade o quarto) Que foi? Não esperava encontrar um fantasma? Fantasma, porque é isso que as pessoas viram quando são supostamente mortas pelos próprios filhos, não?

TAMARA: Eu não estava te esperando, que surpresa! (Responde ao fechar a porta).

NEIDE: Eu é que não esperava a sua punhalada pelas costas. Logo eu, a sua própria mãe! Como foi que você teve coragem de me aplicar um golpe desses? Você vendeu tudo o que tínhamos sem se preocupar como eu iria sobreviver e ainda por cima ajudou a chantagear pessoas tão boas como a Luiza Helena e a Betinha. Quando foi que você se tornou esse monstro, hein Tamara? Nem pense que você vai continuar chantageando as duas com essa mentira sobre a morte do Robeval. Eu já dei o meu depoimento para a delegada daqui analisar o inquérito e adivinha, a Betinha vai ser absolvida desse crime, foi legítima defesa e blefe da sua parte. Nada que um bom advogado não dê jeito! (Grita).

TAMARA: Mamãe, olha o escândalo. Aqui é um hotel de gente fina, não podemos fazer barraco. Além disso, eu não sei do que você está falando.

NEIDE: Não seja mentirosa, Tamara. Não me tire do sério! Assuma de uma vez por todas o que você fez e talvez eu te perdoe...

TAMARA: Me perdoar? Me perdoar porquê? A única coisa que eu fiz foi dar banana para aquela vida de pesca e pobreza. Que culpa eu tenho que querer correr atrás de um futuro melhor?

NEIDE: Passando por cima da sua própria mãe pra isso?

TAMARA: Sim e não me arrependo de nada, inclusive faria de novo.

NEIDE: Meu Deus, você está agindo igualzinho a Glória Pires na novela Vale Tudo, ela roubou tudo da mãe dela e se mandou para o Rio de Janeiro. Já que você quer bancar a Glória Pires, eu vou bancar a Regina Duarte que era a mãe dela e vou te consertar nem que seja na base da porrada! (Diz ao esbofetear Tamara).

TAMARA: Nunca mais volte a encostar...

NEIDE: (Acerta outra bofetada em Tamara) Nunca mais o que? Agora você não fala mais, só eu. Eu vou cobrar a minha indenização com juros e correções monetárias! Você não vai ficar no bem bom, enquanto eu fico na miséria. Você vem comigo, projeto de Maria de Fátima! (Agarra Tamara pelo cabelo e sai arrastando a filha pelos corredores do hotel).

 

Cena 07 – Ruas do Morumbi [Externa/Noite]

(Thierry continuava encurralando Paula, que tentava disfarçar o seu pavor).

 

THIERRY: Que foi, que cara é essa? Até parece que você está com medo de mim. (Diz ao se aproximar ainda mais dela).

PAULA: Não, não é isso...

THIERRY: (Acaricia o rosto de Paula) Você é tão bonita, até parece ser mulher de verdade...

PAULA: Mas eu sou uma mulher de verdade! (Rebate).

THIERRY: Você sabe que não, tem um adereço a mais! (ironiza).

PAULA: Ser mulher independe da genitália, meu querido. Quer saber? É melhor ir embora, esse lugar e isso aqui tudo é uma grande roubada. (Diz ao se afastar de Thierry).

THIERRY: (Puxa Paula pelo cabelo e a traz para perto dele novamente) Quem foi que disse que você pode ir? Não sem antes eu me divertir com você.

PAULA: Me solta! (Diz ao empurrar Thierry bruscamente).

THIERRY: Boneca nenhuma me dispensa, sua vadia! (Dá um soco em Paula que vai no chão).

(Enquanto isso, Thiago e Ítalo procuram por Enrico e Paula pelas imediações).

ÍTALO: Nem sinal deles! Você tem certeza de que foi mais ou menos por aqui que você os encontrou da última vez?

PROFESSOR THIAGO: Tenho sim e posso apostar que eles não devem ter ido muito longe).

(Na casa abandonada, Thierry levanta Paula pelo cabelo e a coloca contra a parede).

PAULA: (Olha para Thierry aterrorizada).

THIERRY: Se você colaborar, não vai ter muito sofrimento...

PAULA: Socorro! (Grita).

THIERRY: (Começa a enforcar Paula) Eu já disse que não gosto de que cantem de galo comigo. Eu que comando as regras desse jogo e eu vou te ensinar a ser homem. Mulher que é mulher, não nasce com isso que você tem entre as pernas... (De repente Thierry solta Paula e começa a gritar).

ENRICO: E homem que é homem não se vangloria através da força, diminuindo a orientação sexual das pessoas. O seu pênis não te faz mais homem! (Diz ao atacar Thierry com uma arma de choque nas costas).

THIERRY: (Cai no chão se contorcendo de dor).

PAULA: (Tenta recobrar o fôlego com as duas mãos no pescoço).

ENRICO: Que foi? Não estava esperando por isso, não era? Você não gostou de ser atacado? Eu também não gostei seu desgraçado, muito menos de ficar assim. (Diz ao aproximar a arma de choques na barriga de Thierry e lhe disparar um novo choque).

PAULA: Cadê a sua virilidade agora, canalha? (Diz ao chutar Thierry).

ENRICO: Olha pra mim, seu infeliz! Olha pra mim que eu quero que a última imagem que você tenha em sua mente antes de ir para cadeia seja o meu rosto. Eu ainda lembro perfeitamente quando você e a sua gangue me cercaram e me agrediram a troco de nada. Olha o que você fez comigo, olha! (Grita).

THIERRY: (Olha para Enrico tentando raciocinar).

PAULA: Chama a polícia, Enrico!

ENRICO: Eu já chamei, fiz isso assim que vocês entraram aqui. Eles não devem demorar! (Responde).

 

 

Cena 08 – Chesca’s, Restaurante Italiano [Interna/Noite]

(Francesca e Zeca estavam em meio a um jantar romântico na mesa que ficava no jardim de inverno do restaurante).

 

ZECA: Você fica ainda mais linda sob a luz da lua, sabia? (Questiona após beijar Francesca).

FRANCESCA: Desde quando você ficou tão galanteador, bode velho? Io nunca pensei ouvir isso de você. (Observa a hora no relógio de pulso).

ZECA: Que foi, carcamana? Essa é a terceira vez que você observou o relógio nos últimos dez minutos que eu reparei. Alguma coisa está te preocupando?

FRANCESCA: Non, é que desde que aconteceu o que aconteceu com o mio bambino, io só consigo ficar sossegada quando sei que ele chegou são e salvo. Ele ainda não chegou e por isso fico assim.

ZECA: Eu te entendo perfeitamente e respeito, mas não fique assim. Eu tenho certeza que o Enrico não vai demorar e logo mais ele estará aqui.

FRANCESCA: Tem razão! (Tenta se acalmar e volta a beijar Zeca).

 

Cena 09 – Casa de Durant [Interna/Noite]

Música da cena: Um Pôr Do Sol Na Praia – Silva e Ludmilla

(Com a transição de cenas, surge a fachada da casa de Durant. No interior da propriedade, Durant, Rafael, Betinha, Maria Rita, Marcelo e Fernanda comemoram a volta de Ângelo e a prisão de Evandro).

 

DURANT: Um brinde a justiça que tarde, mas nunca falha. (Diz ao erguer a taça).

BETINHA: E eu proponho outro brinde ao Ângelo que nos pregou uma peça, mas que felizmente está vivo. (Também ergue a taça).

(Todos brindam com sidra).

ÂNGELO: Eu ainda estou um pouco confuso, mas estou feliz por estar entre amigos.

LUIZA HELENA: Será que eu posso me juntar a vocês na comemoração? (Diz ao surgir na porta de entrada da casa).

BETINHA: Bom, se vocês me permitem. Eu vou me retirar agora, estou muito cansada. Com licença! (Diz após avistar a mãe).

LUIZA HELENA: Você não precisa se retirar por minha causa, Betinha... (Aproxima-se da filha).

BETINHA: E quem foi que disse que é por sua causa, Luiza Helena? (Responde secamente e em seguida sobe a escada, em direção ao quarto).

LUIZA HELENA: (Permanece parada, sem graça).

RAFAEL: Acho melhor ir com ela. Seja bem-vinda Luiza, fique à vontade! (Cumprimenta Luiza Helena com um beijo no rosto e em seguida sobe a escada atrás de Betinha).

DURANT: (Vai até Luiza Helena e a conduz para que ela se aproxime dos demais convidados) Vem meu amor, fica aqui juntinho de nós. Você é muito bem-vinda, não ligue pra ela.

MARIA RITA: Muitíssimo bem-vinda, a propósito vou pegar um suquinho para você brindar conosco, porque como a cegonha se adiantou, a senhorita não pode beber álcool. Já volto! (Diz ao se retirar para ir até a cozinha).

 

Cena 10 – Ruas do Morumbi [Externa/Noite]

(Thierry permanece deitado no chão, com os olhos fechados e aparentemente neutralizado).

 

PAULA: Será que não fomos longe demais? Será que ele morreu?

ENRICO: Não! Vaso ruim não quebra. Ele deve ter apagado, no máximo isso.

PAULA: E a polícia que não chega? Que demora! (Questiona andando de um lado para o outro).

ENRICO: Acalme-se, eles não devem demorar...

(Nesse momento, aproveitando-se de um momento de distração dos dois. Thierry dá uma rasteira em Paula, derrubando-a).

ENRICO: (Tenta pegar a arma de choques novamente, porém Thierry o derruba da cadeira de rodas).

THIERRY: Então quer dizer que isso tudo aqui foi um plano para me pegar? Vocês estavam me caçando?

ENRICO: (Rasteja pelo chão e tenta pegar novamente a arma de choques).

THIERRY: Que foi aleijadinho, tá precisando de ajuda? É isso aqui que você quer? (Thierry pisa na mão de Enrico propositalmente e pega a arma de choques).

PAULA: (Salta em cima de Thierry por trás e começa a gritar por socorro) Socorro, socorro!

(Na rua, Thiago e Ítalo ouvem gritos).

PROFESSOR THIAGO: Você ouviu isso?

ÍTALO: Ouvi sim, parecia a voz de uma mulher pedindo ajuda.

PROFESSOR THIAGO: Sim e eu poderia jurar que é a voz da Paula.

ÍTALO: (Observa ao redor para tentar identificar de onde vinham os gritos) Parece vir daquela casa abandonada, ali!

PROFESSOR THIAGO: Vamos até lá dar uma averiguada.

(No casebre abandonado, Thierry e Paula travavam uma luta corporal).

THIERRY: (Empurra Paula violentamente contra a parede, que cai novamente) Vocês são muito amadores, sabiam? Acharam mesmo que iriam me pegar? Só conseguiram me deixar ainda mais irritado. Agora eu vou precisar me livrar dos dois, menos duas bichinhas na face da terra e eu até já sei por onde vou começar. Será por você, aleijadinho metido a detetive de filme barato! (Se agacha, sobe em cima de Enrico e começa a estrangular o rapaz).

(Ítalo e Thiago adentram na casa a abandonada e se deparam com Thierry prestes a matar Enrico).

ÍTALO: Solta ele seu desgraçado! (Empurra Thierry e começa a agredi-lo brutalmente).

PROFESSOR THIAGO: (Levanta Enrico no colo e o põe na cadeira de rodas novamente) Você está bem?

ENRICO: É ele, Thiago... É ele, o cara que nos agrediu e que me deixou nessa cadeira de rodas, é ele. Ajude o Ítalo, ele vai matá-lo!

ÍTALO: (Soca o rosto de Thierry diversas vezes).

THIERRY: (Enfia os dedos nos olhos de Ítalo, deixando-o desorientado, em seguida lhe acerta um soco nas costelas e o empurra).

ENRICO: Cuidado, não deixem ele fugir!

PROFESSOR THIAGO: (Avança em cima de Thierry, porém é empurrado por ele).

(Thierry corre em direção a saída, mas é surpreendido).

THIERRY: (Para de correr e observa aterrorizado).

DELEGADA RAQUEL: Quietinho, quietinho! É a polícia, mãos para cima, agora! (Grita apontando a arma para Thierry, acompanhada de Eriberto).

 

Cena 11 – Delegacia [Interna/Noite]

(Deitado em sua cela, Evandro estava com um semblante distante, pensativo).

 

EVANDRO: (Fala consigo mesmo em pensamento) Eu preciso dar um jeito de sair daqui. Eu não vou acabar os meus dias fazendo refeições com presidiários e nem comendo em um bandejão. Eu vou sair daqui, ah se vou!

 

Cena 12 – Galeria de Arte [Interna/Tarde]

Música da cena: Sampa – Caetano Veloso

(O dia amanhece e através de imagens externas, percorremos todos os cantos de São Paulo. Pessoas transitam de um lado para o outro, carros percorrem grandes avenidas e pontos comerciais seguem movimentados. Com a transição de cenas, surge a fachada da galeria de arte. Veículos estacionam na rua e os convidados adentram no espaço).

 

MARIA RITA: (Caminha pela galeria acompanhada de Marcelo, enquanto observa as telas de Durant) Sabia que eu fico emocionada vendo que enfim os sonhos do meu primo se realizaram? Uma exposição prestigiada, uma mulher a quem ele ama, uma filha adulta e outro a caminho. Agora sim, tudo vai dar certo!

MARCELO: Vai sim, assim como deu certo para nós dois! (Beija a esposa).

RAFAEL: (Observa uma tela junto a Betinha) É impressionante, por mais que vocês estivessem afastados por quase duas décadas, vocês sempre estiveram presentes. Basta olhar essas telas, sabemos que é a Luiza Helena, mas é como se víssemos você através do olhar dela. Vocês são tão parecidas...

BETINHA: Por falar no meu pai, você sabe onde ele está? (Responde mudando de assunto).

ÂNGELO: (Se aproxima dos dois) Cheguei a tempo?

RAFAEL: Chegou sim, o meu tio ainda nem fez a sua entrada triunfal.

BETINHA: E a Fernanda? Pensei que ela viria com você.

ÂNGELO: Vocês não ficaram sabendo? O irmão da Fernanda também foi preso.

BETINHA: O Thierry foi preso? (Questiona surpresa).

RAFAEL: Eu soube! Só que com a exposição do meu tio, acabei esquecendo de comentar. Ele era o agressor em série das vítimas LGBTS do Morumbi, incluindo o Enrico. Parece que ele foi preso graças ao Enrico que armou uma emboscada, você acredita?

BETINHA: Meu Deus, que horror! Eu preciso falar com o Enrico, saber como ele está...

RAFAEL: Assim que sairmos daqui, iremos até lá. Eu vou com você!

FRANCESCA: (Entra na galeria de mãos dadas com Zeca) Que lugar mais chique, parece romanzo de TV.

ZECA: O nosso amigo merece tudo isso e muito mais! O Durant é muito gente boa e esse sucesso é o mínimo para ele, tenho certeza de que isso será apenas o começo).

(Lígia sobe ao palco e começa a falar com todos usando o microfone).

LÍGIA: Boa tarde a todos, senhoras e senhores. Sejam muito bem-vindos a esse evento do nosso querido artista brasileiro, Jean Michel Durant. Através de suas telas, ele apresenta suas vivências, suas angústias, amores e dissabores. Sem mais delongas, recebam com uma salva de palmas, Jean Michel Durant!

(Em meio aos holofotes e flashes da imprensa, Durant surge acompanhado por Luiza Helena sob fortes aplausos).

 

Cena 13 – Delegacia [Interna/Tarde]

Música da cena: Me Leva – Alice Caymmi

(Com a transição de cenas, surge a fachada da delegacia. Novamente, Evandro recebe uma visita de seu advogado).

 

EVANDRO: (Observa o pacote que Hugo havia lhe entregue e fica furioso) Mas o que é isso? Eu acho que você está realmente ficando maluco. Um bolo? Quer que eu comemore o que? Três dias na cadeia, seu imbecil?

HUGO: (Começa a gargalhar) E para comer bolo você precisa de que?

EVANDRO: Você está testando a minha paciência ou o que?

HUGO: Como sempre querendo colocar a carroça na frente dos bois. Eu vou te responder, já que você não sabe brincar. Para comer seu bolinho de chocolate, você vai precisar disso aqui... (Abre a sua maleta e retira um garfo, em seguida ele entrega o talher para Evandro).

EVANDRO: Um garfo? (Questiona).

HUGO: Sim, um garfo. Porém, um garfo diferenciado. Me empresta que eu vou te mostrar como ele faz mágicas! (Hugo segura o garfo novamente e retira o cabo de plástico, revelando uma lâmina do outro lado).

EVANDRO: (Observa empolgado) Ora, ora, ora! Finalmente você deu uma dentro. Isso sim é que é um apetrecho bem utilizável. (Responde segurando o garfo novamente, enquanto tira e encaixa novamente o cabo do garfo).

HUGO: Agora cabe a você saber usar ou não!

EVANDRO: Pode deixar, eu vou saber usar isso aqui muito bem. (Diz encarando a lâmina).

 

Cena 14 – Umbu-Cajá, Restaurante Nordestino [Interna/Tarde]

(Sozinho no restaurante, Ítalo organizava algumas mesas quando foi surpreendido com uma visita).

 

ENRICO: Será que eu posso dar uma palavrinha com você? (Pergunta ao entrar no restaurante).

ÍTALO: Enrico, que surpresa!

ENRICO: Fiquei em dúvida se deveria vir ou não, pensei que você pudesse estar na exposição do Durant, todo o bairro está naquela galeria.

ÍTALO: Nada, eu estava sem cabeça para ir até um evento assim, cheio de gente... Mas não era sobre isso que você queria falar comigo, era?

ENRICO: Não, não era. Eu gostaria de te agradecer por tudo o que você fez ontem! Eu planejei aquela armadilha tantas vezes, que fiquei cego e não consegui pensar que algo poderia falhar. Você se arriscou por mim e talvez se não fosse você, eu não estaria aqui agora. Muito obrigado!

ÍTALO: Eu faria isso quantas vezes mais fosse preciso e sabe porquê? Porque eu te amo, daria a minha vida pela sua. (Responde acariciando o rosto do Enrico).

ENRICO: (Empurra a cadeira de rodas para trás por impulso e se afasta).

ÍTALO: Não adianta, não é? Nada que eu faça vai abrir os seus olhos e demonstrar que eu mudei. Quantas vezes mais você vai querer que eu te prove que eu mudei?

ENRICO: Desculpe! Eu não queria ser grosseiro, nunca quis... Eu apenas queria agradecer o que você fez por mim.

ÍTALO: Já agradeceu, agora se você me dá licença, eu gostaria de continuar organizando as coisas. (Responde magoado).

ENRICO: Está bem, com licença! (Diz sem jeito e em seguida vai embora do restaurante de Zeca).

ÍTALO: (Sozinho no restaurante, Ítalo senta em uma cadeira e cai no choro).

 

Cena 15 – Centro de Reclusão [Interna/Tarde]

(A casa de reclusão era um lugar provisório para detentos que estavam aguardando julgamento em casos mais especiais, como o de Thierry. Glória e Fernanda estavam na sala de visitas a espera de Thierry. Um guarda o conduziu algemado até o local).

 

THIERRY: (Em silêncio, senta-se em frente a mãe e a irmã).

GLÓRIA: O que foi que você fez com a sua vida, meu filho? O que foi que você fez? (Questiona chorando).

THIERRY: (Tenta amenizar a tristeza de Glória, fingindo que não se importa, quando na realidade ele está tão surpreso com a reação da mãe, como Fernanda também estava).

FERNANDA: Como você está?

THIERRY: Levando, o que queria que eu dissesse? Eu estou preso.

GLÓRIA: Está e é por minha causa. Eu nunca soube ser a mãe que vocês precisaram durante todos esses anos. Eu estava cega pelo meu próprio ego, não conseguia ver nada além do meu próprio reflexo. Se eu tivesse sido mais amiga de você, minha filha ou tivesse te dado conselhos corretos, Thierry e tivesse te corrigido quando você errou, não estaríamos vivendo isso aqui agora. (Responde colocando a mão em cima da mão de Thierry).

FERNANDA: O que passou, passou mãe. Vamos viver o presente agora!

THIERRY: Isso tudo é muito bonito, é muito emotivo, mas vamos ao que interessa? Vocês vão me tirar daqui, não vão?

GLÓRIA: Não! Nós não vamos. O que você fez foi um crime, você destruiu a vida de pessoas inocentes e prejudicou a de outras dezenas. Leve isso como uma possibilidade de recomeçar, como eu estou fazendo e cumpra sua pena perante a justiça, depois você seguirá em frente e nós estaremos ao seu lado.

THIERRY: (Afasta as mãos bruscamente) Que papinho moralista é esse, mamãe? Você pensa que eu vou me adaptar a pobreza como você tem feito? Já não basta você ter virado diarista, quer me ver como? Como peão de obra? Pedreiro? (Questiona com desdém).

FERNANDA: E se for, Thierry? São profissionais honestas, de respeito. Muito diferente do que você andou fazendo, ou será que você se orgulha de como tudo isso terminou?

GLÓRIA: Deixa Fernanda! Vai acontecer com o seu irmão como aconteceu comigo, de forma gradativa. O seu irmão vai continuar pensando que está correto, que é melhor que os outros, afinal eu fiz com que ele pensasse isso a vida inteira. Porém, ele irá ver uma hora ou outra que todos nós somos falhos e estamos passivos a receber em troca tudo o que fazemos aqui. Mude meu filho, mude! Você é jovem, tem uma vida pela frente. Acerte suas contas com a justiça e nós iremos esperar por você, eu prometo te apoiar quando você sair daqui.

(Nesse momento, um guarda se aproxima e leva Thierry embora).

GUARDA: A visita acabou, vamos embora! (Diz arrastando Thierry).

THIERRY: Mãe, você não pode me deixar aqui. Mãe, você tem que me tirar daqui... Mãe! (Diz em meio aos gritos).

GLÓRIA: (Chora enquanto é consolada por Fernanda).

 

Cena 16 – Delegacia [Interna/Noite]

Música da cena: Fogo – Karin Hils

(A noite chega e São Paulo se acende com todas as suas luzes, através dos grandes edifícios. No interior da delegacia, um policial serve as quentinhas pelas celas. Nem todas estão ocupadas, por isso Evandro permanecia sozinho).

 

POLICIAL: (Observa Evandro caído no chão no momento em que havia ido levar seu jantar) Que palhaçada é essa? Levanta daí ou você vai ficar sem o seu jantar.

EVANDRO: (Permanece deitado e imóvel).

POLICIAL: Levanta daí, Evandro. Eu não estou brincando!

(Após chamar Evandro diversas vezes e perceber que ele não responde, o policial começa a acreditar que havia acontecido algo).

POLICIAL: Será que ele morreu? Era só o que me faltava... (Coloca a quentinha no chão e abre a cela. Em seguida ele se aproxima de Evandro para checar sua pulsação). Ué, ele está respirando. O que será que aconteceu? (Questiona a si mesmo).

EVANDRO: (Abre os olhos) Aconteceu que você é o meu passaporte para sair desse inferno! (Corta a jugular do policial e o empurra para o lado).

POLICIAL: (Agoniza com a mão no pescoço, tentando controlar a hemorragia).

 

A imagem foca em Evandro ao lado do policial ferido. A cena congela e vira uma capa de revista.



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