Capítulo 05:
Cena
01 – Avenida Food Park [Externa/Noite]
(Marcela
tenta acalmar Maria Eduarda, porém é em vão e as duas permanecem aflitas sem
notícias de Rosana e Francisco).
MARIA EDUARDA: Eu vou ter um
ataque, ninguém traz notícias e os meus pais não aparecem. Será que aconteceu
alguma coisa?
MARCELA: Calma, não
pense desse jeito. Já, já eles trarão notícias e meus tios virão com eles. Vai
ficar tudo bem! (Marcela tenta acalmar Maria Eduarda).
(Policial se
aproxima com um semblante sério).
MARIA EDUARDA: Cadê? Onde
eles estão?
POLICIAL: Infelizmente
as notícias que eu trago não são boas...
(A cena permanece
em silêncio em sinal de que Maria Eduarda está tão atordoada, que não consegue
prestar atenção com clareza nas coisas, exceto com parte da notícia, a de que
seus pais não sobreviveram).
MARIA EDUARDA: Mortos? Não,
eles não podem estar mortos. Os meus pais não podem ter me deixado, não! (Grita
e se desespera).
MARCELA: (Visivelmente
chocada, tenta acalmar a prima, mas é em vão).
Cena
02 – Mansão Germai (Quarto de Ingrid) [Interna/Noite]
(Ingrid
entra em seu quarto furiosa)
INGRID: Maldita, quem
ela pensa que é para falar comigo daquele jeito? Ela acha mesmo que eu não
consigo administrar aquela agência? Ah, mamãe! Eu não só posso como vou.
(Ingrid deita na
cama e olha para o teto enquanto permanece falando sozinha consigo mesma)
INGRID: Eu vou fazer
a senhora pagar por todos esses anos de rejeição. Eu nunca existi, tudo sempre
foi em função da Isabela, depois vieram os outros dois e foi aí que fui apagada
de vez. Eu vou ficar com o que mais lhe importa nessa vida, a sua empresa. Você
vai ver!
Música da cena:
Agora Só Falta Você – Sky e Anne Jezini
INGRID: Você vai se
arrepender por cada palavra que me disse essa noite, principalmente quando eu
ficar com a sua empresa, mamãezinha.
Cena
03 – Casa de Rosana e Francisco [Interna/Manhã]
ALGUNS
DIAS DEPOIS...
(Maria
Eduarda e Marcela chegam em casa após a missa em memória aos sete primeiros
dias depois do falecimento de Rosana e Francisco).
MARCELA: (Senta no
sofá) E então, você já sabe o que irá fazer da vida agora?
MARIA EDUARDA: Ainda não.
Não sei se quero continuar nessa casa depois de tudo o que aconteceu, tudo me
faz lembrar aos meus pais, ainda não consigo me conformar como tudo aconteceu,
sabe?
MARCELA: Eu sei, eu
também me senti tão desorientada quando a minha mãe morreu. A minha sorte foi o
Tio Francisco e vocês por terem me acolhido.
MARIA EDUARDA: (Pega na mão
de Marcela) Somos uma família e agora você está retribuindo tudo o que eles
fizeram por você. Eu não gosto nem de imaginar como teria sido enfrentar tudo
isso sozinha, prima. Bom, agora eu vou tentar ocupar a minha cabeça de alguma
forma... (Levanta-se de uma poltrona onde estava sentada).
MARCELA: O que vai
fazer?
MARIA EDUARDA: Vou organizar
algumas coisas deles, ver algumas roupas para doação e organizar documentos.
Precisamos seguir em frente, não é?
(Maria Eduarda vai
até o quarto que era dos mais, por alguns instantes pensa em chorar, porém
consegue controlar as emoções. Abre as cortinas, de modo que a luz do sol
ilumina todo o ambiente. Com o quarto sendo arejado, Maria Eduarda percorre todo
o quarto com o olhar, de modo como se estivesse perguntando para si mesmo por
onde começaria, resolveu então pelo armário).
MARIA EDUARDA: (Abre a porta
dos armários e começa a retirar coisas, até encontrar uma caixa de papel, com
fita. A caixa tinha aparência antiga e cheirava a mofo, porém para saber o que
continha em seu interior, teria que abri-la) Vejamos o que tem aqui... (Maria
Eduarda começa a folhear os recortes que estavam dentro da caixa).
(Marcela corta
alguns legumes que irá utilizar no preparo do almoço, eis que um grito
estarrecedor interromper sua cantoria, é Maria Eduarda. Marcela então joga a
faca em cima da tábua de cortar e corre desesperada em direção ao quarto de
Rosana e Francisco).
MARCELA: O que
aconteceu? Por que gritou?
MARIA EDUARDA: (Ainda
chocada com o que acabara de ler e estende a mão para entregar um jornal antigo
a prima) Leia isso!
MARCELA: (Pega o
jornal e começa a ler) Sim, conta a história de uma criança desaparecida há
mais de vinte anos, não estou entendendo...
MARIA EDUARDA: Olhe a data
que essa criança supostamente desapareceu...
MARCELA: (Procura a
informação com os olhos rapidamente) 27 de julho de 1993...
MARIA EDUARDA: (Interrompe a
prima) É a data do meu aniversário. Porque minha mãe tem esses recortes? Porque
ela guardaria? Será que eu sou essa criança desaparecida? E se eu for a menina
do jornal que desapareceu há mais de vinte anos? Eu posso ser Isabela Germai!
Cena
04 – Casa de Rosana e Francisco [Interna/Manhã]
(Marcela
permanece avaliando todos os recortes e arquivos que Rosana colecionou durante
anos em sua caixa)
MARCELA: São apenas
recortes de jornais e revistas antigos, Maria Eduarda. Isso não quer dizer
muita coisa...
MARIA EDUARDA: Você não está
entendendo Marcela, agora muita coisa começou a maquinar na minha cabeça. Minha
mãe sempre me falou muito pouco sobre a época da gravidez, principalmente do
meu nascimento. É muita coincidência que isso tenha acontecido justamente no
dia do meu aniversário. Porque a minha mãe guardaria uma caixa cheia de tanto
recorte, se não tivesse uma ligação direta?
MARCELA: Sei lá, as
pessoas tem manias estranhas. Essa pode ser apenas mais uma delas.
MARIA EDUARDA: A história,
Marcela. Lembra daquele dia que os meus pais estavam estranhos, dizendo que eu
não podia saber de uma certa história?
MARCELA: Não sei, eu
ainda não consigo ver ligação nessa história. Acho que deveria jogar essa caixa
velha no lixo...
MARIA EDUARDA: (Observa
fixamente a manchete de jornal relatando o desaparecimento de uma menina após
um acidente na estrada).
Cena
05 – Praça da Sé [Externa/Manhã]
(Pérola
fotografa as pessoas transitando pela praça, enquanto aguarda Antônio chegar
para almoçar com ela).
Música da cena:
Inspiração – Liah Soares
PÉROLA: (Se aproxima
de uma mulher amamentando no banco da praça) Oi, a senhora se incomodaria se eu
fizesse umas fotos suas, com a sua filha? Não precisa fazer nada, somente
continuar desse jeito que está.
(A mulher consente
com a cabeça e Pérola começa a fotografá-la).
PÉROLA: Obrigada!
(Pérola se afasta da mulher após fazer algumas fotos e continua andando pela
praça fotografando).
(Antônio anda pela
praça apressado após avistar a irmã até chegar próximo dele).
ANTÔNIO: Atrapalho?
PÉROLA: Você não
atrapalha nunca, irmãozinho. (Pérola abraça o irmão).
ANTÔNIO: Vamos
almoçar? Eu conheço um restaurante ótimo, pertinho daqui. Só tenho uma hora,
tenho que voltar para o hospital ainda.
PÉROLA: O papai tá
tirando seu couro lá no hospital né?
ANTÔNIO: Sim. Quem
pensou que ser filho do diretor me traria algum tipo de benefício se enganou
redondamente, porque o papai não dá moleza, evita até me olhar nos olhos,
acredita?
PÉROLA: Coisas do
Doutor Alfredo. Bem, vamos lá? (Pérola guarda a câmera na bolsa).
ANTÔNIO: Agora mesmo,
sem perder tempo.
(Antônio e Pérola
andam rumo ao restaurante para almoçar).
Cena
06 – Paradise Models (Sala de Reunião) [Interna/Tarde]
Música da cena:
Agora Só Falta Você – Sky, Anne Jezini.
(Malu,
Renata e todos os membros do conselho, assistem à apresentação de René, o
vice-presidente da Paradise Models).
RENÉ: Para
concluir, sem mais delongas senhoras e senhores, como podem acompanhar de
acordo com os gráficos que estão em mãos, o contrato com as três revistas,
assinados no mês anterior apresentaram um crescimento significativo nos lucros
da agência, mais um acerto da Malu.
MALU: Sem dúvidas,
fechar contrato principalmente com a Cláudia e Marie Claire fizeram uma grande
diferença, a parceria tem tudo para dar certo. Eu gostaria de uma análise mais
detalhado do balanço de entrada e saída financeira do mês passado, também
gostaria de um relatório sobre a contratação das novas modelos na minha sala.
Bom, os senhores estão liberados.
(Os membros do
conselho pouco a pouco saem da sala, restando apenas Malu, Renata e René).
RENÉ: Então Malu,
você conseguiu entender sobre a parte que me referir sobre o contrato?
MALU: Sim, afinal
fui mesma que corri atrás desse contrato com a revista, fiz todas as
negociações e fechei. Se existe alguém que está por dentro desse contrato, esse
alguém sou eu.
RENÉ: Eu sei, eu
quis dizer...
MALU: René se você
me permite, gostaria que nos desse licença. Eu e Renata teremos uma conferência
com os americanos sobre um catálogo de moda que iremos fazer.
RENÉ: (Recolhe
alguns papéis da mesa) Claro, se precisar de mim, estou na minha sala.
(René sai da sala
de reunião)
RENATA: É
impressionante, o quanto o René não perde a chance de jogar charme pra você.
MALU: Ele pode
cansar, sentado, porque em pé vai cansar. Eu sou uma mulher bem casada e com
outros propósitos, bem mais interessantes de que flertar com um homem mais novo
que eu.
(René caminha em
direção a sua sala, enquanto Simone, a secretária corre em sua direção,
tentando lhe dar uma informação).
RENÉ: Simone, dá
pra você parar de correr atrás de mim? Por um acaso você me ouviu te chamar,
inseto?
SIMONE: Mas Senhor
René, acontece que...
RENÉ: (Interrompe
Simone) Acontece que eu estou estressado, mal humorado e que se você não sumir
da minha frente, eu vou te jogar por essa janela e você vai viajar do décimo
andar ao térreo em segundos. Vai embora agora, ou prefere voar?
SIMONE: Mas Senhor, é
para lhe avisar que...
RENÉ: Se eu
quisesse receber seus avisos, eu mesmo solicitava. Simone, não perca tempo. Já
não basta o excesso de pausas com café que você gasta, agora vai tomar o meu
tempo me importunando?
SIMONE: (Permanece em
silêncio).
RENÉ: Foi o que eu
pensei. Vou entrar na minha sala agora e não quero ser interrompido com a sua
carinha de sonsa sem motivos, entendeu? Agora pode ir, vai! (René entra em sua
sala e fecha a porta).
Música da cena:
Apaga A Luz – Gloria Groove
(A cadeira de René
está virada ao contrário. Lentamente ela começa a girar, revelando que Ingrid
está sentada nela).
INGRID: Oi bebê,
sentiu minha falta? (Ingrid seduz René).
RENÉ: (Se aproxima
de sua mesa) Você voltou. Soube hoje cedo pela sua mãe...
INGRID: Senti a sua
falta, nenhum homem é como você.
RENÉ: Vadia! Você
acha que eu não sei que você deve ter pego metade da Espanha? (René joga Ingrid
em cima de sua mesa e tira sua roupa).
INGRID: Cachorro!
Tava morrendo de saudade dessa pegada. (Ingrid e René se beijam e fazem sexo em
cima da mesa).
Cena
07 – Restaurante [Interna/Tarde]
(Antônio
e Pérola almoçam juntos).
PÉROLA: Como anda
essa sua vidinha de estagiário?
ANTÔNIO: Corrida, tem
dia que não para de chegar pacientes. Ossos quebrados, lacerações, múltiplas
fraturas, bebês nascendo dentro da ambulância...
PÉROLA: Credo, já
chega, eu estou comendo.
ANTÔNIO: Ué, foi você
quem perguntou.
PÉROLA: Prefiro falar
de outras coisas, do tipo, sua vida amorosa...
ANTÔNIO: Que vida
amorosa, Pérola? Eu nem tenho uma.
(Os dois caem na
risada)
PÉROLA: Mudando de
assunto, você viu como a Ingrid agiu ontem? Pareceu obcecada, me assustou um
pouco esse fato de querer trabalhar na empresa, pareceu querer tomar o lugar da
mamãe.
ANTÔNIO: Acho louvável
ela querer mudar de ramo, é natural. Ela se tornou modelo muito cedo, não acho
que ela esteja querendo roubar o lugar da mamãe.
PÉROLA: Não sei, vi
algo no jeito, no olhar dela... Me deu medo!
ANTÔNIO: Que bobagem,
Pérola! Come logo, se não vai esfriar e eu tenho que voltar para o hospital.
Cena
08 – Hospital Paulo Toledo [Interna/Tarde]
(Alfredo
caminha pelo hospital, enquanto instrui alguns funcionários).
ALFREDO: Enfermeira,
eu preciso que você monitore a pressão arterial desse paciente a cada uma hora,
em caso de alterações, você poderá entrar com essa medição que estou deixando
prescrita aqui e se ainda assim, a pressão não normalizar, você me chama que eu
venho dar uma olhada. (Alfredo fala com a enfermeira, enquanto faz anotações no
prontuário).
ENFERMEIRA: Certo Doutor,
pode deixar.
(A enfermeira volta
a entrar no quarto do paciente para monitorá-lo, enquanto Alfredo volta a
caminhar pelos corredores do hospital).
MIGUEL: Doutor?
(Chama por Alfredo que está de costas).
ALFREDO: (Se vira)
Você? O que está fazendo aqui?
MIGUEL: Nossa, é
assim que você demonstra a saudade pelo seu sobrinho?
(Alfredo e Miguel
se abraçam)
ALFREDO: Mas o que
aconteceu? Você está doente? É a sua mãe?
MIGUEL: Não, eu só
vim te visitar mesmo. Vim averiguar uma ocorrência e interrogar uma testemunha,
já estava de saída, daí resolvi passar aqui para te cumprimentar. Fora que meu
carro deu pau esses dias e está numa oficina aqui perto, estou andando de
ônibus acredita? Eles ainda não me deram previsão de finalização do conserto.
ALFREDO: Entendi. Você
some hein, rapaz? Nunca mais tive notícias suas.
MIGUEL: Não? A Malu
me ligou esses dias.
ALFREDO: Ligou? Ela
não me contou.
MIGUEL: Pelo o que
entendi, parece que ela está precisando dos meus serviços como investigador.
ALFREDO: Ela não
comentou nada, mas até já imagino do que seja.
MIGUEL: Então me
conta, ué!
ALFREDO: Primeiro
vamos tocar um café e colocar a conversa em dia, vamos é por ali.
(Alfredo e Miguel
vão até a lanchonete do hospital).
Cena
09 – Casa de Rosana e Francisco [Interna/Noite]
(Marcela
acabara de sair do banho e caminha em direção do quarto, quando abre a porta,
se depara com uma cena inesperada).
MARCELA: O que
significa isso? O que você está fazendo?
MARIA EDUARDA: (Arruma uma
mala) O que eu estou fazendo? Estou indo tirar uma história a limpo.
MARCELA: (Marcela
pensa por alguns segundos e chega à uma conclusão) Não, se você quer dizer
que...
MARIA EDUARDA: Não, eu não quero dizer, eu vou fazer, é bem diferente. Eu estou indo até São Paulo, preciso investigar essa história, tirar esse peso que essa história caiu sobre mim, eu quero saber se eu sou o bebê desaparecido, se eu me chamo Isabela e se aquela é de fato a minha família biológica, se eles forem a minha verdadeira família, eu quero conhecer a minha verdadeira história e nem você, nem ninguém vai me impedir.
MARCELA: Eduarda, o
que você pensa que vai acontecer? São Paulo é enorme, você acha que vai
encontrar essa mulher como nas novelas, vai tocar a campainha da casa dela e
vocês duas vão se abraçar? A vida real não é assim.
MARIA EDUARDA: Eu sei muito
bem como é a vida, Marcela. A vida é um mistério, um dia você acha que é a uma
pessoa e de um momento para o outro, você pode não ser essa pessoa. Pode ter
outra família, outra mãe, mãe essa que te perdeu e deve procurar pela filha há
mais de vinte e cinco anos. A vida não é uma novela, a vida é difícil. Você
acha que eu quis descobrir isso? Que eu queria que a minha vida deixasse de ser
essa que eu acho que tenho? Eu não preciso das suas críticas, Marcela. Eu já
decidi, eu vou para São Paulo e vou investigar até encontrar.
MARCELA: Então você
está mesmo decidida e não irá mudar de ideia? Pelo o que vejo já está
irredutível.
MARIA EDUARDA: (Encara a
prima) Eu vou até São Paulo e descubro se essa história é ou não verdade. Se
não for, eu volto para cá e finjo que nada aconteceu, mas se for...
MARCELA: Se for? O que
você irá fazer?
MARIA EDUARDA: Se essa
história for verdade e eu for a criança do jornal, eu não sei o que irá
acontecer.
MARCELA: Ok, já
entendi. Se você me permite, vou até meu quarto fazer uma coisa...
MARIA EDUARDA: Que coisa?
(Maria Eduarda tenta descobrir, porém Marcela sai do quarto sem responder).
(Maria Eduarda
segue Marcela que está de toalha até seu quarto)
MARCELA: (Tira várias
roupas do armário).
MARIA EDUARDA: O que está
acontecendo?
MARCELA: Está pensando o
que? Que você é a única a tomar decisões por aqui? Eu acabo de tomar a minha
decisão.
MARIA EDUARDA: Ah é? E qual foi?
MARCELA: Eu vou com
você. Somos uma família, lembra? Quando eu perdi minha família, vocês ficaram
do meu lado. Agora eu vou ficar do seu, mesmo que ache isso tudo uma loucura,
eu não vou te deixar sozinha, eu vou com você e nem se atreva a dizer que não.
(Maria Eduarda se
emociona e abraça Marcela).
Cena
10 – Mansão Germai (Quarto de Malu e Alfredo) [Interna/Noite]
(Malu
passa hidratante pelo corpo, enquanto Alfredo a observa deitado na cama)
ALFREDO: Quando você
iria me contar?
MALU: (Malu passa
creme na perna) Contar o que?
ALFREDO: Que contratou
o meu sobrinho para investigar o desaparecimento da sua filha?
MALU: (Para de
passar hidratante na perna e olha Alfredo através do espelho da penteadeira) Eu
não quero que vocês passem por tudo isso de novo. Foram tantas pistas falsas
que não deram em nada, que se dessa vez algo desse errado, somente eu estaria
sabendo e sofreria sozinha, em silêncio.
ALFREDO: Um casamento
não é isso, Maria Lúcia. É na alegria e na tristeza, lembra? Eu jamais vou
deixar você nessa luta sozinha, eu sou o seu marido e sempre vou te apoiar.
MALU: (Se vira, de
modo que ficou de frente para Alfredo) Me desculpe, eu deveria ter te contado.
Eu não consigo viver feliz plenamente desde aquela noite em que tive minha
filha roubada. Eu só serei feliz no dia que ela aparecer.
(Alfredo descobre o
lado da cama onde Malu costuma deitar e faz sinal de que é para ela se deitar
ao seu lado).
ALFREDO: Eu sei, eu
tenho sido seu companheiro de luta há mais de vinte e cinco anos. Eu vi as
muitas noites que você chorou em silêncio para não me acordar, pensando nela.
Se ela estaria bem, se alguém cuidou dela durante todos esses anos, se ela
tinha o que comer, vestir....
MALU: (Deita ao
lado do marido) Eu não vou desistir nunca, nem que gaste cada centavo do meu
dinheiro, cada dia restante da minha vida, eu não vou descansar enquanto não
encontrar a Isabela.
(Sem perceber, Malu
e Alfredo estão sendo observados, pois Ingrid acabara de ouvir a conversa atrás
da porta).
INGRID: Sinto muito
em dizer mamãezinha, a Isabela não irá aparecer, pois eu darei o meu jeito. Ela
não vai pisar nessa casa, não vai ser mais uma a dividir nossos bens, nem que
pra isso eu precise matá-la. (Fala consigo em pensamento).
Cena
11 – Aeroporto de Congonhas [Externa/Manhã]
Música da cena:
Hoje Lembrei do Teu Amor – Tiago Iorc
(Um
avião voa próximo ao chão, pois está prestes a aterrissar no aeroporto de
Congonhas. Os passageiros pouco a pouco desembarcam. Conforme as portas abrem e
fecham, pessoas saem da sala de desembarque, incluindo Maria Eduarda e
Marcela).
MARIA EDUARDA: Obrigada por
ter vindo comigo e por me apoiar. (Maria Eduarda pega sua mala na esteira de
bagagens enquanto conversa com Marcela).
MARCELA: Eu jamais
iria deixar você vir para essa cidade imensa, sozinha. Nem em pensamento, você
precisa de mim e eu vou ficar contigo.
(Marcela e Maria
Eduarda caminham pelo aeroporto e tomam um táxi e descem nas imediações do
Morumbi).
MARIA EDUARDA: Eu acho que
estamos perdidas. Esse bairro é nobre demais para as nossas condições
financeiras. (Diz ao descer do táxi)
MARCELA: (Desce do
táxi) Droga! Eu confundi o endereço, deveríamos ter usado o GPS. Precisamos
pedir ajuda, informação de como pegar um ônibus para chegar ao centro, acho que
de lá fica mais fácil encontrar um ônibus que nos leve até a Kitnet que
alugamos.
MARIA EDUARDA: (Olha para a
rua dos dois lados e avista um ponto de ônibus) Vou pedir informação ali,
alguém daquele ponto de ônibus deve saber qual devemos pegar para ir para São
Paulo).
(Maria Eduarda vai
até o ponto de ônibus e chama por Miguel, que está de costas e com fone de
ouvido, não ouvindo a moça chamar por ele).
MARIA EDUARDA: Moço, nós
estamos um pouco perdidas com relação ao endereço. O senhor poderia me dizer
que ônibus a gente poderia pegar para chegar no centro de São Paulo? Moço?
(Fala mais alto).
MIGUEL: (Distraído,
balança a cabeça na batida da música enquanto toma um gole de café em seu copo,
ainda de costas para Maria Eduarda).
MARIA EDUARDA: Mas que homem
mal educado, moço é só uma informação, não seja grosseiro. Moço? Moço! (Maria
Eduarda dá um tapa nas costas de Miguel, fazendo com que ele derrame o café em
si mesmo).
MIGUEL: Que droga,
olha só o que você fez! (Miguel tira os fones de ouvido e vira-se). Você me
sujou... (Para de falar ao olhar impressionado para Maria Eduarda).
Música da cena:
Encostar Na Tua – Ana Carolina
(Maria Eduarda e
Miguel permanecem estáticos, olhando-se fixamente nos olhos).
A imagem foca em Maria Eduarda com as mãos na cabeça, após
avistar a prima caindo em meio ao túnel, a cena congela e o capítulo encerra
com o som de uma câmera fotografando.
Obrigado pelo seu comentário!