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VILAREJO - Capítulo 02



Capítulo 02

Cena 01 - Campo [Externa/Tarde]

Música da cena: Amor Gitano - Beyoncé ft. Alejandro Fernández

[Ana Catarina e Antônio continuavam se beijando quando, por fim, foram interrompidos.]


AUXILIAR DE MAQUINISTA: [Surpreende-se] - Mas o que significa isso?


GUARDA: [Sorri com malícia] - Oras, vosmecê não sabe mesmo o que os dois estavam fazendo aqui, a sós?


ANTÔNIO: [Para de beijar Ana Catarina e encara os dois] - Disse corretamente, meu caro guarda. “Estávamos” no passado. Acaso não percebe que está sendo conveniente? Eu e minha noiva estávamos a sós, em um momento íntimo. 


ANA CATARINA: - Espero que o senhor não seja indiscreto e mantenha sigilo sobre o que viu. 


AUXILIAR DE MAQUINISTA: - Mas e o negro fujão, vosmecês não o viram? Não é possível…


GUARDA: - De certo que não viram. Os dois estavam bem ocupados! Vamos procurar em outros compartimentos. Venha! [Diz para logo em seguida adentrar novamente no vagão].


AUXILIAR DE MAQUINISTA: [Encara os dois com um semblante de desconfiança e em seguida vai embora].


ANTÔNIO: [Volta a olhar para Ana Catarina, ainda com as mãos em volta de sua cintura].


ANA CATARINA: [Afasta-se bruscamente de Antônio] - Mas quem o senhor pensa que sou? Disse que era pra distrairmos os dois, não o autorizei a me tocar, tão pouco a me beijar. Eu não sou da sua laia, cafajeste! [Esbraveja].


ANTÔNIO: - Eu não pensei bem na hora, foi um impulso. Me desculpe, senhorita. Não quis ofender!


ANA CATARINA: Aposto que vosmecê é mais um desses fidalgos vindo da capital, acreditando que as moças do interior, são fáceis. Não somos assim, nos damos ao respeito. A minha vontade era de lhe dar uma sonora bofetada. Mas eu vou poupar a minha mão de tocar pessoa tão insignificante, com licença! [Segura o vestido bruscamente, para poder andar mais facilmente e em seguida adentra no vagão].


ANTÔNIO: [Sorri ao observar Ana Catarina caminhar furiosa pelo interior do trem].


[Através de imagens aéreas, notamos o trem entrar na cidade de São José dos Vilarejos, rumo à estação de trem.]


Cena 02 - Casarão D’ávilla (Sala de Estar) [Interna/Tarde]

[Carlota e Idalina continuavam paradas no alto da escada, enquanto Gonçalo esperava uma resposta.]


GONÇALO: - Vamos, Carlota. Eu estou esperando, onde você esteve a tarde toda?


CARLOTA: [Disfarça] - Ora, meu marido… Onde mais eu podia estar? Fui me refrescar no rio, junto com minhas mucamas. Acaso é errado sair para tomar a fresca?


ROSAURA: [Adentra na sala de jantar para forrar a mesa e começa a observar a conversa].


GONÇALO: [Aproxima-se de Carlota e a olha nos olhos] - Tem certeza, minha esposa?


CARLOTA: - É claro que sim, não lhe dou direito de desconfiar de mim. Acaso quer que eu chame minhas duas mucamas para confirmar? Se quiseres, posso me tornar prisioneira e não cruzar mais os portões do engenho. É isso que quer?


GONÇALO: [Estranha a resposta da esposa] - Eu só não quero que vosmecê vire alvo de comentários do povo desse vilarejo por estar se dando ao desfrute nadando no rio. Você não é mais uma jovenzinha para estar fazendo isso, minha esposa. Agora eu vou voltar ao banco. Notícias do doidivanas do seu filho? [Questiona ao cruzar o local onde Carlota estava parada e se preparar para descer a escada].


CARLOTA: - Antônio, esse é o nome dele. Vosmecê sabe que eu não gosto quando fala assim dele. Antônio lhe quer bem como se fosse seu próprio pai. Eu não quero ver os dois brigando, ele deve estar para chegar a qualquer momento. 


GONÇALO: - Certamente. Estarei em casa para o jantar, se precisarem de mim, estarei no banco. [Conclui e desce a escada].


CARLOTA: [Observa o marido descer] - Vai… Vosmecê não perde por esperar! [Fala consigo mesma através do pensamento].


Cena 03 - Estação de Trem de São José dos Vilarejos [Externa/Tarde]

[Com a transição de cenas, surge a fachada da estação de trem da cidade. Em seguida, no interior do local. Pessoas caminham de um lado para o outro, apressadas para deixar o local].


ANA CATARINA: [Desce do trem, furiosa].


ANTÔNIO: [Coloca o chapéu e carregando uma mala, desce logo em seguida] - Espera, nem ao menos eu sei vosso nome. Não vai se apresentar?


ANA CATARINA: [Continua andando, sem se importar] - Faz diferença? Felizmente, não iremos voltar a nos ver. Se Deus quiser e certamente, ele há de querer.


ANTÔNIO: - Eu não teria tanta certeza, sabemos que esse vilarejo é muito pequeno, que hora ou outra, nossos destinos voltarão a se cruzar. [Segura o braço de Ana Catarina, para que ela pare de andar]. - E então, vai me dizer o seu nome ou não?


ANA CATARINA: - Vosmecê vai me deixar em paz, após isso? Se sim, para findarmos isso de uma vez por todas, o meu nome é Luciana. Satisfeito? Até nunca mais! [Vai embora apressadamente].


ANTÔNIO: [Suspira] - Eu tenho certeza de que iremos nos ver de novo, Luciana! [Pensa em voz alta].


Cena 04 - Casarão D’ávilla (Senzala) [Interna/Tarde]

Música da cena: Ecoou um Canto Forte na Senzala - Roberto Souza

[Imagens externas mostram os escravos trabalhando nos canaviais e em seguida surge a parte externa do casarão. Rosaura desce as escadarias ao sair da propriedade e em seguida caminha pelo pátio rumo a senzala.]


ROSAURA: [Adentra na senzala] - Idalina… Idalina! Menina, o que vassuncê está fazendo aqui? Eu preciso de ajuda para organizar os quartos. Já pra dentro!


IDALINA: [Revira os olhos] - Inferno, diacho de vida… Será possível que nem descansar um pouco eu posso?


ROSAURA: - E desde quando nós pretos temos esse direito? Aqui, ou se trabalha ou vai pra chibata. Eu não quero ir pro tronco, vassuncê também não há de querer. Então, já pra dentro!


[Resmungando, Idalina deixa a senzala e esbarra com Zeferino na saída, indo embora ainda mais irritada.]


ZEFERINO: Vassuncê não olha para onde anda, não? Qualquer dia desse, tu vai ver a chibata cantar nesse tronco, negra metida. [Grita com Idalina, que não lhe dá ouvidos e em seguida, adentra na senzala].


ROSAURA: [Observa Zeferino e percebe que ele chegou molhado, ficando imediatamente desconfiada].


ZEFERINO: [Estranha o olhar da mucama] - E vassuncê, perdeu alguma coisa? Vai trabalhar, anda!


ROSAURA: [Encara Zeferino e em seguida deixa a senzala].


ZEFERINO: - Bando de abusada, eu ainda vou acertar os ponteiro dessas escravas. [Reclama sozinho].


Cena 05 - Casarão D’ávilla (Sala de Jantar) [Interna/Noite]

Música da cena: Vilarejo - Marisa Monte

[O dia se vai e a noite chega, as ruas da cidade começam a acenderem os seus lampiões para iluminar as estradas. Em seguida, surge a fachada do Casarão. Ana Letícia e Maria Letícia caminhavam juntas rumo a sala de jantar, enquanto conversavam.]


MARIA LETÍCIA: - Eu espero que o papai nem sonhe o que vosmecê andou aprontando, minha irmã. Nem sei do que ele seria capaz ao saber que se envolveu na fuga de mais um escravo.


ANA CATARINA: - Eu não me importo com a bronca, desde que eu não tenha mais o desprazer de ver aquele bon-vivant. [Diz ao se aproximar da mesa de jantar].


MARIA LETÍCIA: [Fica intrigada com a insistência da irmã em falar sobre o rapaz] - Acaso ele é tão horrível assim? Vosmecê não parou de falar sobre ele a tarde inteira. Se não lhe conhecesse tão bem, diria que está interessada nele. [Responde em tom de brincadeira].


ANA CATARINA: [Bate na madeira ao chegar na mesa] - Deus me livre! 


GONÇALO: - Até que enfim chegaram e enfim jantarei com toda a minha família. Você está muito difícil, Ana Catarina! [Diz ao ver as duas se acomodarem nas cadeiras].


ANA CATARINA: - Não seja exagerado, papai. Quantas vezes o senhor não sai para grandes reuniões e nós mal nos vemos nessa casa enorme? Eu estou sempre aqui, só saio para me distrair às vezes…


GONÇALO: - Distrair, é? Sei! [Responde com ironia].


ROSAURA: - Posso mandar servir o jantar, sinhô?


GONÇALO: [Tira o relógio do bolso do paletó para checar a hora] - Ainda não, está faltando a Carlota e o filho dela. Ela deve estar paparicando ele como se ainda fosse uma criança!


MARIA LETÍCIA: - Será que a minha madrasta e o filho irão demorar?


[Nesse momento, Carlota entra na sala de jantar de braço dado com o filho.]


CARLOTA: - Não, minha querida enteada. Já estamos aqui. Meninas, não sei se lembram dele, mas esse daqui é o meu filho… Antônio!


[Ana Catarina se vira para olhar para Carlota e o filho, quando percebe que já o conhece.]


ANA CATARINA: [Surpreende-se] - Vosmecê?


ANTÔNIO: [Repete ao mesmo tempo que Ana Catarina] - Vosmecê?





Cena 06 - Casarão D’ávilla (Sala de Jantar) [Interna/Noite]

[Estranhando a reação de Ana Catarina e Antônio ao se verem, Gonçalo logo tratou de esclarecer o que estava acontecendo.]


GONÇALO: - Eu não estou entendendo. Antônio não vem ao engenho há muitos anos, pelo menos desde quando era criança. Como podem se reconhecer assim? Não entendo.


CARLOTA: [Estranha] - Eu também não entendo, Ana Catarina. De onde conhece o meu filho? [Questiona].


ANTÔNIO: [Surpreende-se] - “Ana Catarina”? [Repete].


ANA CATARINA: [Atordoada, permanece em silêncio].


GONÇALO: - Vamos, Ana Catarina. Responda de uma vez, estamos esperando!


ANTÔNIO: [Interrompe os dois] - Eu posso explicar, Gonçalo. Acontece que nem eu e nem a Ana Catarina nos reconhecemos. Encontrei com ela quando estava chegando na fazenda e pedi confirmação sobre o endereço, foi só isso.


CARLOTA: [Acomoda-se ao lado do marido] - Não duvidamos, meu filho. Todos aqui sabemos que a Ana Catarina adora passar o dia explorando a propriedade e todas as redondezas, não é mesmo? Rosaura, pode mandar servir o jantar.


ANTÔNIO: [Senta-se ao lado de Ana Catarina e sussurra, de modo que apenas ela ouve]. - Mentir é muito feio, “Luciana”...


Cena 07 - Acampamento Cigano [Externa/Noite]

Música da cena: Flor de Lis - Melim

[Imagens mostram a movimentação tranquila das ruas na cidade de São José dos Vilarejos, logo após surge o acampamento dos ciganos, iluminado pela luz das fogueiras. Ao redor, um grupo de ciganos reunidos dançavam e cantavam.]


VICENTE: [Percebe que Vladimir está afastado e solitário observando a cidade, do alto da montanha onde estava o acampamento] - Porque estás aí tão sozinho, meu filho? Venha com seu bato, vamos nos reunir com nossos irmãos e comer um pouco de manrro, tomando cáfa!

Tradução: bato - pai

Tradução: manrro - pão

Tradução: cáfa - café


VLADIMIR: - Eu estou bem, bato! Só estou pensativo…


VICENTE: - Aconteceu alguma coisa? Conta pra mim, seu bato é e sempre será seu melhor amigo. Acaso está pensando em uma romi? [Pergunta sorridente].

Tradução: Romí - Mulher cigana


VLADIMIR: [Pensa em como contar ao pai e em seguida resolve falar] - Eu estou pensando em uma romi, sim bato. Só que ela não é do nosso povo!


VICENTE: [Arregala os olhos] - Como? Meu filho, o futuro rei dos ciganos está apaixonado por uma gají? Não, não e não… Isso não é possível, eu não vou permitir tamanha falta de respeito. Barô lajau kan keresa! Quem é ela? [Grita].

Tradução: Gají - Mulher não cigana

Tradução: Barô lajau kan keresa - “É uma vergonha para o nosso povo!”


VLADIMIR: [Se assusta com a reação do pai] - É a filha do dono da casa grande, Ana Catarina D’ávilla!


VICENTE: - D’ávilla? Filha do dono do banco? [Repete aterrorizado].


VLADIMIR: - Sim, bato. Ela mesma, o senhor conhece a família dela?


VICENTE: - Eu não quero falar sobre isso, quero ficar sozinho, vosmecê já deixou seu bato muito triste por hoje. [Vai embora reclamando, deixando o filho sem entender nada].





Cena 08 - Casarão D’ávilla (Quarto de Ana Catarina e Maria Letícia) [Interna/Noite]

[Maria Letícia seguiu Ana Catarina após o jantar e as duas entraram no quarto onde dormiam.]


ANA CATARINA: - Abusado, cafajeste! Quem ele pensa que é para falar comigo assim? Era só o que me faltava, ter que aturar esse mequetrefe dentro de casa! [Reclama ao sentar- se sentar na cama].


MARIA LETÍCIA: - Eu ainda estou boba com tamanha coincidência. Não lembrava que o filho da nossa madrasta era tão bonito. Agora entendo o porquê de vosmecê estar tão mexida com ele. Faz todo sentido!


ANA CATARINA: - Eu, interessada nele? Uma ova! [Resmunga].


MARIA LETÍCIA: - Ana Catarina, eu sou a sua irmã. Te conheço como a palma da minha mão, acaso esqueceu? Sei muito bem que o beijo do nosso irmão postiço mexeu com você, por isso vosmecê não para de reclamar. Queres negar a si mesma que não gostou, quando na realidade sabe que seu corpo vibrou quando seus lábios tocaram os dele!


ANA CATARINA: [Vira-se e deita na cama aborrecida] - Eu acho que você está lendo muita falácia nesses seus livros de poesia. É melhor irmos dormir… Eu… Interessada naquele Don Juan de tupiniquim. Era só o que me faltava! [Responde e em seguida assopra a luz da vela ao lado da cama].


Cena 09 - Banco D’ávilla [Interna/Manhã]

Música da cena: Apesar de Você - Chico Buarque

[Após a transição de cenas, o céu estrelado dá lugar a uma manhã ensolarada. Em seguida surgem imagens da cidade, mulheres caminham com escravos nas ruas. Carroças percorrem de um lado para o outro e surge por fim, a fachada do banco D’ávilla.]

GONÇALO: [De pé e encostado em uma mesa de apoio, serve dois cálices com um pouco de vinho. Em seguida, vai até a mesa, onde conversa com seu amigo] - Vinho do porto! [Diz ao entregar um dos cálices ao Comandante Juvenal].


COMANDANTE JUVENAL: [Segura o cálice] - Obrigado! Então quer dizer que vosmecê está pensando em levar as meninas na viagem a São Paulo?


GONÇALO: [Acomoda-se na poltrona] - Estou sim! A Carlota me convenceu de que seria melhor, investir na educação das duas. Isso é primordial nos dias atuais para que elas consigam um bom casamento, o dote apenas não é mais suficiente. Vosmecê há de me compreender!


COMANDANTE JUVENAL: [Estranha] - Ah, a Carlota… Estranho! Eu acho que as meninas foram criadas com muito esmero pela falecida Adelaide, que Deus a tenha. 


GONÇALO: [Sorri melancólico] - Adelaide… Que saudade da mãe das minhas filhas! Certamente, ela jamais ficaria longe das duas. Acontece que Ana Catarina cada dia que passa, fica mais rebelde e não aceita com bons olhos a Carlota, as duas vivem se enfrentando. Estou certo de que Carlota a quer muito bem, como se fosse sua própria filha. [Bebe um gole de vinho].


COMANDANTE JUVENAL: - Certamente, meu amigo. Certamente! [Bebe para disfarçar].


Cena 10 - Cachoeira [Externa/Manhã]

Música da cena: Flor de Lis - Melim

[Imagens aéreas apresentam os campos e vegetação da cidade, em seguida com a transição de cenas, surgem as imediações do rio no território do engenho.]


ANA CATARINA: [Corre e se aproxima da margem do rio, sorridente. Em seguida, ergue o rosto para cima e sente os raios solares atravessando sua pele].


MARIA LETÍCIA: [Caminha esbaforida, segurando uma sombrinha em uma das mãos e uma cesta com a outra] - Me espera, vosmecê está andando rápido demais.


ANA CATARINA: [Vira-se para a irmã] - O dia está lindo, eu adoro esse paraíso que temos aqui. Eu quero viver sempre nesse vilarejo!


MARIA LETÍCIA: [Pousa a cesta no chão e fecha a sombrinha] - Pois eu bem que quero ir morar na capital. Quero ir aos teatros, aos museus, aos parques e que os meus filhos tenham uma boa educação. Esse lugar é um fim de mundo, certamente vosmecê deve estar falando isso da boca para fora!


ANA CATARINA: - E vosmecê, não pode falar uma frase sem que casamento esteja envolvido? Minha irmã, o casamento não pode ser o fio condutor de vossa vida. Bem, mas eu não quero discutir. Vamos dar um mergulho? Está muito quente!


MARIA LETÍCIA: - Mergulhar? Nem por um decreto. Tenho medo do rio, além disso, vosmecê sabe que eu não sei nadar muito bem. Diferente de uma pessoa que eu conheço, mais parece que tem barbatanas ao invés de pernas e braços. De certo, deveria me dar aulas. Eu prefiro ficar aqui, lendo meus livros de poesia! [Diz ao retirar um livro de poesia do interior da cesta e mostrar a irmã].


ANA CATARINA: [Sorri] - Não precisa ter medo, eu sou sua irmã e nunca vou deixar nada de mal te acontecer, minha irmã. Eu prometo!


Cena 11 - Canavial [Engenho de Cana-de-açucar] [Externa/Manhã]

[Uma carruagem se aproximava do canavial, até parar um pouco antes da entrada. Em seguida, um dos escravos deu a mão ao abrir a porta, para que Carlota descesse. Com um leque em uma das mãos, para se abanar, Carlota caminhou em meio a plantação de cana, até que avistou Zeferino sozinho, em uma posição mais afastada.]


CARLOTA: - Vosmecê está aqui, precisamos continuar a conversa de ontem. Aqui, não seremos incomodados! [Diz ao se aproximar].


ZEFERINO: [Sorri com um semblante malicioso] - Eu sabia que a sinhá ia voltar, vassuncê há de tá querendo mais, né mesmo? [Responde ao se aproximar].

CARLOTA: [Afasta o capitão do mato com apoio do leque] - Não seja apressado, meu caro. Vosmecê há de ter tudo e mais um pouco, mas pra isso precisamos planejar tudo com muita cautela. Nada pode dar errado, serão três pessoas de uma vez só, quero que pareça aos olhos da autoridade como uma fatalidade. Entende? Quero que se livre do meu marido e das duas filhas dele. 


ZEFERINO: [Surpreende-se com a frieza de Carlota] - Vassuncê fala com tanta tranquilidade, nem parece que está prestes a se livrar de uma vez só de marido e enteadas. Do jeito que fala, parece que já fez isso antes!


CARLOTA: [Encara o escravo com um olhar sombrio] - Isso, vosmecê terá que ficar na suspeita para sempre. Porque se algo sair fora da curva, não permitirei que dê com a língua nos dentes!


FLASHBACK

Há alguns anos atrás…

[Debilitada e completamente fraca, Adelaide era mãe de Ana Catarina e Maria Letícia, com apenas 10 e 8 anos respectivamente.]


ADELAIDE: [Abatida, tosse cobrindo a boca com um lenço].


CARLOTA: [De costas, coloca uma substância em uma xícara de chá, mexe e em seguida vira-se para Adelaide] - Eu vou cuidar de vosmecê, já disse que irá ficar boa logo. Ah, Adelaide… Vosmecê precisa sair dessa cama, voltar a frequentar as festas, os saraus e suas filhas, elas precisam da mãe. [Entrega a xícara].


ADELAIDE: [Pega a xícara e bebe um gole de chá] - Vosmecê é uma amiga maravilhosa. Certamente, irei melhorar logo e sair dessa cama. Não posso abandonar o Gonçalo e nem as meninas! [Tosse novamente].


CARLOTA: [Sorri e acaricia o cobre a amiga com um lençol] - Com toda certeza, vosmecê há de melhorar. Disso, eu mesma irei me encarregar! [Conclui].


FIM DO FLASHBACK


Cena 12 - Cachoeira [Externa/Tarde]

Música da cena: Amor Gitano - Beyoncé Ft. Alejandro Fernández

[Ana Catarina estava somente na presença da irmã quando resolveu tomar um banho de rio. Lentamente, ela começou a desabotoar o vestido e a tirar as botas e meias. Em seguida, trajando apenas roupas íntimas, saltou no rio dando um mergulho].


ANTÔNIO: [Caminha pela mata e se aproxima do rio, sem saber que Ana Catarina e Maria Letícia também ali estavam. Deparando-se então com Catarina nadando] - O que essa mulher está fazendo comigo? Por que ela mexe tanto comigo? [Questiona a si mesmo. Nesse momento, ele pisa em um galho seco do chão e faz barulho].


[Ana Catarina e Maria Letícia ouvem o barulho e começam a procurar com o olhar, pelos arredores.]


ANA CATARINA: [Cobre-se com os dois braços] - Quem está aí? Apareça! [Grita].


[A imagem congela com Antônio entre as árvores observando Ana Catarina no Rio, surge um efeito de uma pintura envelhecida e o capítulo se encerra].


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