Capítulo 14
Cena 01 - Clube do Vilarejo [Interna/Noite]
[Todos estavam fascinados com a entrada triunfal da condessa, entre eles estava Antônio.]
LAURA: - Meu amor, aconteceu alguma coisa? [Pergunta sem entender o motivo da expressão atônita de Antônio].
ANTÔNIO: - Não… É… Está tudo bem, por quê a pergunta?
LAURA: - Sei lá, por um minuto eu tive a impressão de que vosmecê estava babando por causa dessa mulher! [Responde inconformada].
PEDRO: - Condessa, permita-me! [Diz ao beijar a mão de Ana Catarina].
ANA CATARINA: - Encantada! [Responde puxando a mão para trás logo após o cumprimento].
MIGUEL: - Venha comigo, condessa. Quero apresentá-las para algumas personalidades distintas da cidade.
ANA CATARINA: - Naturalmente. Com licença! [Diz ao se despedir de Pedro, cruzando por Laura e Antônio como se não os visse].
LAURA: - Não gostei dela. Antipática! Vamos pegar um pouco de ponche, Antônio. Estou com sede! [Responde dando as costas a Ana Catarina].
ANTÔNIO: - Sim, vamos! [Conclui dando o braço para que Laura entrelace o seu].
Cena 02 - Casa dos Lobato [Interna/Noite]
Música da cena: Corre - Gabi Luthai
[Sozinha em seu quarto, Maria do Céu segue com uma expressão serena, perdida entre suas lembranças].
MARIA DO CÉU: [Lembra do passeio que deu às escondidas, vestida como um rapaz, com um sorriso no rosto].
TOMÁSIA: [Abre a porta, mas ao ver a expressão de Maria do Céu, resolve sair e deixá-la sozinha].
Cena 03 - Acampamento dos Ciganos [Externa/Noite]
[Com a transição de cenas, surge o acampamento ciganos. Em uma mesa ao lado da sua barraca, na área externa, Madalena colocava as cartas sob a luz do luar e da fogueira que ajudava a iluminar.]
MADALENA: [Desvira uma carta] - Já se cumpriu, os dois corações já se reencontraram. Ainda falta muito para que os dois sejam felizes, livres do ódio e da vingança.
AÇUCENA: - Falando sozinha, vovó? [Diz ao se aproximar].
MADALENA: - Na verdade, as cartas que estavam falando comigo, xaborrí. As cartas não mentem!
Tradução: Xaborrí = Menina
AÇUCENA: - Vovó, por quê vosmecê nunca tira as cartas pra mim? Eu também quero saber o meu futuro.
MADALENA: - Porque eu não preciso ver nas cartas o seu futuro, xaborrí. Muitas coisas bonitas, amor, um casamento feliz e muitos filhos para abençoar a união do casal que há de trazer muito orgulho ao nosso povo.
AÇUCENA: [Suspira e senta-se ao lado da avó, com um semblante reflexivo] - Só isso. Esse é o destino da vida das mulheres do nosso povo. Casamento arranjado, sem a possibilidade de escolher o próprio caminho.
MADALENA: - Açucena, minha neta. O que está acontecendo com vosmecê? Acaso não quer mais casar? Saiba que se desistir desse casamento, será o fim da nossa tradição e uma maldição cairá sob as nossas cabeças. Aí, sua avó morrerá!
AÇUCENA: [Olha para Madalena e permanece em silêncio].
Cena 04 - Clube do Vilarejo [Interna/Noite]
[Com a transição de cenas, surge a fachada do clube da cidade. Em seguida, adentramos ao interior do salão de festas do clube da cidade. A orquestra tocava animada, enquanto as pessoas não paravam de comentar sobre as roupas e jóias de Ana Catarina.]
MIGUEL: - Esses são o Comendador Silva Prado e sua senhora. [Apresentou Miguel].
ANA CATARINA: [Estende a mão ao comendador] - É uma satisfação conhecê-los.
[Ao se virarem, Miguel e Ana Catarina deram de cara com Carlota e Graça, que estavam à espreita, esperando o melhor momento para se aproximarem.]
GRAÇA: - Majestade, é uma honra conhecê-la.
ANA CATARINA: - Creio que vosmecê deve estar se confundindo com os títulos. Majestade é utilizado nos casos de rei e rainha, nos quais eu não me aplico. Sou condessa da província de Burgos.
CARLOTA: [Observa Ana Catarina com desconfiança].
ANA CATARINA: [Olha para Carlota com desprezo] - E vosmecê, vai ficar me encarando? Saiba que não é de bom tom.
MIGUEL: - Deixe-me apresentá-las. Essa é Maria da Graça Lobato Ribeiro Alves e essa é a dona do banco e do maior engenho de cana-de-açúcar da região, Carlota Guerra, viúva de D’ávilla.
CARLOTA: [Estende a mão para Ana Catarina] - Muito gosto, condessa!
ANA CATARINA: [Olha para a mão de Carlota e a ignora] - Devo dizer o mesmo. Encantada em conhecê-la!
GRAÇA: - E como devo chamá-la então?
ANA CATARINA: - De condessa, apenas. Vamos manter as formalidades! [Diz secamente].
CARLOTA: - Naturalmente, condessa. Permita-me elogiar suas belíssimas jóias. São diamantes com rubis? [Fala impressionada observando a gargantilha usada por Ana Catarina, junto com um par de brincos].
ANA CATARINA: [Olha ao redor e fala um pouco mais alto] - Mas o que há com esse sarau? Será que ninguém dança por aqui? Música maestro. Música! [Diz se dirigindo ao centro do salão, sem responder a Carlota].
[Mais uma vez, Ana Catarina volta a atrair os olhares de todos ao se dirigir ao centro do baile.]
PEDRO: [Aproxima-se] - Me daria a honra? [Diz ao estender a mão para Ana Catarina, convidando-a para dançar a valsa].
ANA CATARINA: - Certamente! [Diz apertando a mão de Pedro, começando a girar pelo salão logo em seguida].
[Todos observam os dois dançarem e logo mais casais começam a dançar empolgados].
LEONORA: - Devemos admitir que além de bonita, essa condessa dança como uma nobre. Que porte! [Comenta].
LAURA: [Torce o nariz] - Pra mim, ela não passa de uma desfrutável. Viram como ela se ofereceu ao meu irmão? A mim, ela não engana.
ANTÔNIO: [Não consegue parar de observar Ana Catarina].
[Enquanto dançava e girava pelo salão, Ana Catarina aproveitava para observar ao redor, enquanto refletia sobre Antônio e Carlota].
ANA CATARINA: - Não me reconheceram. Antônio e Carlota não sabem nem de longe quem sou. [Fala consigo mesma através do pensamento].
Cena 05 - Casarão D’ávilla (Senzala) [Interna/Noite]
Música da cena: Ecoou um Canto Forte na Senzala - Roberto Souza
[Após um dia de trabalho, os escravos já haviam se recolhido na senzala, Rosaura servia um pouco de angu enquanto os demais comentavam sobre a festa.]
IDALINA: - Eu ouvi, é verdade. A condessa mandou tirar um negro do tronco, enfrentou o capitão do mato e o comprou só para alforriá-lo.
ZEFERINO: - Bem se vê que essa tal condessa é uma doida. Onde já se viu comprar um negro pra depois alforriar? É uma perda de dinheiro…
ROSAURA: - A liberdade não é uma perda de dinheiro, Zeferino. A liberdade é a mais importante condição de vida para um negro como nós. Eu nem conheço essa tal condessa, mas se ela luta pelos nossos, eu já gosto dela. [Conclui].
Cena 06 - Clube do Vilarejo [Interna/Noite]
[Ana Catarina e Pedro continuavam dançando na companhia de outros casais, quando por fim a orquestra concluiu aquela valsa.]
LAURA: - Já não era hora! [Disse ao ver Pedro agradecer à condessa pela dança].
ANTÔNIO: [Afastou-se de Laura e caminhou em direção ao centro do salão].
LAURA: - Espera… Antônio, onde pensa que vai? Antônio! [Esbraveja].
ANTÔNIO: - Será que a estimada me daria a honra da próxima dança? [Disse ao se aproximar de Ana Catarina].
ANA CATARINA: [Encara Antônio por um breve momento e em seguida o responde] - Claro, vamos! [Diz ao estender a mão].
Música da cena: Amor Gitano - Beyoncé ft. Alejandro Fernández
[Antônio e Ana Catarina começaram a dançar a valsa seguinte, enquanto todos os que ali estavam presentes, assistiam e comentavam.]
Cena 07 - Clube do Vilarejo [Interna/Noite]
[Ana Catarina e Antônio se olhavam enquanto dançavam em sintonia.]
GRAÇA: - Minha filha, o que significa isso? [Perguntou ao se aproximar de Laura].
LAURA: - Essa condessa é uma verdadeira oferecida. Uma oportunista, se vê de longe. Pensa que eu não notei os olhares dela pra cima do meu noivo.
GRAÇA: - Faça alguma coisa, porque se continuar desse jeito, vai ficar sem o noivo. Todos estão comentando!
LAURA: - Eu vou intervir agora mesmo. [Responde ao sair caminhando].
[Laura caminha pelo salão e se aproxima de um grupo de pessoas, entre essas pessoas está o jornalista da cidade e dono do jornal, Ricardo Bonifácio.]
LAURA: - Jornalista Ricardo Bonifácio, muito boa noite. Como vai?
RICARDO: - Senhorita Laura, boa noite. É muito bom vê-la, permita-me dizer que está muito bonita. [Responde com os olhos brilhando].
LAURA: - Sempre tão galante, agradeço pelo elogio. Será que poderia vir comigo um momento?
RICARDO: - Ir com vosmecê? Para onde? [Estranha].
LAURA: - Venha comigo e verá! [Diz ao arrastar o jornalista pela mão].
[Laura e o jornalista se encaminharam ao centro do salão do baile, de modo que se aproximaram de Antônio e Ana Catarina.]
LAURA: - Com licença, será que podemos trocar de pares?
ANA CATARINA: [Encara Laura e olha para Ricardo] - Naturalmente. [Responde sorridente, dando lugar a Laura].
ANTÔNIO: [Começa a dançar] - Mas o que significa isso, crise de ciúmes agora?
LAURA: - E o que vosmecê queria que eu fizesse? A condessa estava te devorando com os olhos. Ela não passa de uma desfrutável! [Reclama].
ANA CATARINA: [Dança com Ricardo, enquanto observa Antônio e Laura].
Cena 08 - Acampamento dos Ciganos [Interna/Noite]
[Ao entrar na tenda onde morava, Vladimir deu de cara com Vicente.]
VICENTE: - Meu filho, por onde andou? Estava preocupado com vosmecê. Eu e Madalena finalmente chegamos a uma conclusão da data.
VLADIMIR: - Eu fui dar uma volta, queria espairecer e ficar sozinho um pouco. [Responde ao deitar em sua cama].
VICENTE: [Estranha o jeito do filho] - Não vai falar nada sobre a data do casamento?
VLADIMIR: - Não, bato. Faça tudo como achar melhor!
Tradução: Bato = Pai
VICENTE: [Se aproxima de Vladimir e senta-se na cama do filho] - Meu filho, eu juro que não entendo o que está acontecendo com vosmecê nos últimos tempos. Vosmecê está diferente, distante. Acaso se interessou por outra romí? É isso? Se abra com o seu bato. Conheceu outra moça?
VLADIMIR: - Ah… Eu esbarrei com uma xaborrí muito bonita na estação de trem…
Tradução: Xaborrí = Menina
VICENTE: - Eu sabia! Meu filho, escute o seu bato. Eu vou te contar uma história que nunca mencionei antes. Há muitos anos eu me envolvi com uma gají que não era do nosso povo. Essa foi a minha maior desgraça. Não quero que essa mesma maldição recaia sobre a sua cabeça!
Tradução: Gají = Mulher não cigana
VLADIMIR: - O senhor apaixonado por uma gají? Eu já desconfiava, confesso. Mas… O senhor nunca mais voltou a encontrar essa mulher, bato? O que aconteceu?
VICENTE: - Fomos vítimas de uma rede de intrigas e nunca mais nos encontramos, meu filho. [Completa].
Cena 09 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]
Música da cena: Vilarejo - Marisa Monte
[Com a transição de cenas, surge a área externa da Fazenda Santa Clara. Uma charrete parou em frente a entrada principal e logo Miguel desceu. Em seguida, ele desceu e deu a volta, abrindo a porta do outro lado para que Ana Catarina descesse.]
ANA CATARINA: - A vigarista não me reconheceu. Não me reconheceu! [Diz eufórica].
MIGUEL: - Eu gelei quando pensei que ela iria te reconhecer, mas acho que o ego pelo fato de estar diante uma condessa, cegou Carlota.
ANA CATARINA: - Ele também não me reconheceu. Uma prova de que eu estava certa, Antônio sempre esteve brincando comigo. Me esqueceu na primeira chance, mas ele também não perde por esperar. [Responde friamente].
MIGUEL: - Espero que vosmecê esteja certa do que pretende fazer para não sofrer no futuro.
ANA CATARINA: - Pode apostar que eu estou, meu querido. Carlota e Antônio Guerra serão esmagados como insetos. [Conclui].
Cena 10 - Casa dos Lobato [Interna/Noite]
[Ao chegarem em casa após o baile, todos já haviam se recolhido.]
GRAÇA: - Finalmente em casa… Ah, eu só queria tirar meus sapatos! [Diz ao se acomodar no sofá].
PEDRO: - O baile de máscaras foi um verdadeiro acontecimento. Tenho certeza de que amanhã sairemos no jornal da cidade. A condessa é uma mulher lindíssima, final, elegante e muito requintada. Uma mulher como essa, a cidade jamais viu! [Senta-se ao lado da mãe].
GRAÇA: [Sorri satisfeita] - Vosmecê gostou dela, não foi? Isso é bom, porque eu tenho planos de uní-los. Já pensou meu filho, vosmecê um membro da nobreza? Esse vilarejo todo morreria de inveja!
LAURA: - Eu não entendo o motivo de tanto entusiasmo. Aquela mulher é uma oferecida, uma desfrutável! [Diz ao se acomodar de pé, atrás do sofá onde Pedro e Graça estão sentados].
PEDRO: [Dá uma gargalhada] - Ah, minha irmã. Não se faça de sonsa! Isso o que vosmecê está sentindo é inveja, acaso pensa que eu não vi como o Antônio ficou babando pela condessa. Que foi, está com medo de perdê-lo? [Ironiza].
LAURA: - Ora, seu…
GRAÇA: - Não, não e não. [Interrompe]. - Vosmecês não irão brigar. Está tarde e além disso, o seu irmão tem razão, Laura. Minha filha, abra o seu olho. O Antônio está te ludibriando há muitos anos, tome cuidado para ele não te enrolar. Vosmecê e o Antônio precisam se casar, não podemos aturar a essa altura a humilhação de vê-lo te abandonar para ficar com outra.
LAURA: - Ah, mamãe… Faça-me o favor! O Antônio jamais me trocaria por uma mulher daquela. Jamais! [Responde tentando demonstrar firmeza, porém insegura].
Cena 11 - Casarão D’ávilla [Interna/Noite]
Música cena: Amor Gitano - Beyoncé ft. Alejandro Fernández
[Após chegar do baile, Antônio foi direto para o seu quarto e enquanto preparava-se para dormir, voltou a pensar na condessa.]
ANTÔNIO: - Aqueles olhos… Porque essa mulher mexeu tanto comigo? E que sensação estranha de que já a conheço! Quem será essa condessa, quem será? [Questiona-se a si mesmo, enquanto desabotoa a própria camisa].
Cena 12 - Fazenda Santa Clara [Interna/Manhã]
Música da cena: Apesar de Você - Chico Buarque
[A noite se vai, o sol surge como plano de fundo e o dia amanhece. Imagens aereas percorrem os grandes canaviais do engenho da família D’ávilla. Em seguida, as ruas da cidade são apresentadas movimentadas e logo após com a transição, somos direcionados para a fachada da fazenda de Ana Catarina.]
ANA CATARINA: - A criada disse que a senhora estava à minha espera. A que devo a honra da visita? [Questiona ao adentrar na sala de estar da fazenda].
CARLOTA: [Sorri ao deixar o sofá, colocando-se de pé].
[A imagem congela focando em Carlota, surge um efeito de uma pintura envelhecida e o capítulo se encerra].
TRILHA SONORA OFICIAL
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