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VILAREJO - Capítulo 16

 




Capítulo 16 

Cena 01 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]

[Chocado com o que Ana Catarina tinha acabado de ouvir, Miguel tentou intervir.]


MIGUEL: - Ana Catarina, vosmecê me assusta quando fala desse jeito. Vosmecê não pode comprar um marido. Como pode falar assim?


ANA CATARINA: - Eu estou cega de ódio, ressentimento e amargura. Só vou me curar disso quando conseguir destruir a família Guerra.


MIGUEL: - Ainda dá tempo de desistir, minha amiga. Vamos voltar para a Espanha, esse ódio vai acabar com vosmecê…


ANA CATARINA: - Isso nunca, eu não vou arredar os pés de São José dos Vilarejos sem concretizar todos os planos.


MIGUEL: [Em silêncio, Miguel levantou do sofá onde estava e foi até a janela apreciar a noite].


ANA CATARINA: [Observa o amigo e nota algo diferente nele] - Agora vosmecê está diferente, parece distante. Aconteceu alguma coisa?


MIGUEL: - Aconteceu sim, na verdade foi algo bem peculiar. Acredita que hoje eu socorri o que aparentava ser um rapaz, mas ao me aproximar, percebi que era uma moça disfarçada!


Música da cena: Corre - Gabi Luthai


ANA CATARINA: - Uma moça disfarçada? [Estranha].


MIGUEL: - Sim, a mais linda moça que eu já conheci na vida.


ANA CATARINA: [Sorri ao entender onde Miguel quer chegar] - E naturalmente vosmecê se encantou com essa moça, dá pra sentir na sua voz isso e no brilho dos seus olhos.


MIGUEL: - Talvez vosmecê esteja certa, apesar de nem sequer eu saber o nome dela. Só espero poder vê-la de novo.


Cena 02 - Casarão D’ávilla [Interna/Noite]

[Sozinha no corredor, Rosaura estava completamente surpresa com o que acabara de descobrir durante a discussão acalorada das duas irmãs, Carlota e Leonora.]


CARLOTA: - Chega, cala essa maldita boca! [Grita].


LEONORA: - A verdade dói, não é minha irmã? Só não dói mais que essa ferida que vosmecê e os nossos pais me convenceram a fazer.


CARLOTA: - E o que vosmecê queria? Comportava-se como uma cortesã de vida libertina. Tão jovem, se envolveu com o cigano e pegou barriga.


LEONORA: - Vosmecê enche a boca para despejar desprezo, mas na primeira oportunidade que teve, quis se envolver com o meu amor, é realmente uma invejosa.


CARLOTA: - Isso é uma mentira, eu era uma mulher casada.


LEONORA: - Por interesse, porque isso é o que te move Carlota. Das duas vezes que vosmecê se casou, foi por dinheiro… Mas Deus te castigou e vosmecê perdeu o seu filho, por isso vosmecê convenceu nossos pais e te darem o meu filho para colocar no lugar.


CARLOTA: - Vosmecê deveria me agradecer, que destino teria tido se todo mundo soubesse que não passava de uma perdida com um filho sem pai?


LEONORA: - Depois que ficou viúva, pensou que iria fazer do meu filho, o filho que o Gonçalo não havia tido e por isso se casou novamente, por dinheiro. Vosmecê faz tudo pelo dinheiro, se vendeu por dinheiro, me separou do Vicente por dinheiro e agora está querendo vender o meu filho. Mas eu não vou deixar, entendeu? Eu não vou deixar!


CARLOTA: - Ah, não? Então me diga o que vosmecê pretende fazer? Vai contar que é mãe dele? [Sorri debochando]. - Vosmecê é uma fraca, sempre foi e sempre será. Pode ficar com suas lembranças, é o que te resta. Boa noite! [Diz ao sair do quarto].


[Instantaneamente, Rosaura se esconde em um dos quartos e Carlota não a vê.]


LEONORA: [Olha para o sapatinho e chora copiosamente em sua cama]. 


Cena 03 - Acampamento dos Ciganos [Interna/Noite]

Música da cena: Flor de Lis - Melim

[Com a transição de cenas, surge o acampamento cigano. Em sua tenda, Vicente continuava tentando convencer Vladimir a se casar com Açucena.]


VICENTE: [Coloca um pouco de café em uma caneca] - O que vosmecê está sentindo é insegurança, é normal, afinal nunca se casou. Confie no seu bato, vai dar tudo certo. Toma! [Diz ao entregar a caneca ao filho].

Tradução: Bato = Pai


VLADIMIR: [Segura a caneca e observa o antebraço do pai] - Eu acho esse seu sinal engraçado, parece um monte de estrelas.


VICENTE: - Seu avô também tinha essa marca, é de nascença. Muitos dos nossos antepassados tinham também.


VLADIMIR: - E não era para eu ter nascido com ele também?


VICENTE: - Era, mas Deus sabe o que faz e por isso vosmecê não nasceu com ele, mas isso é uma bobagem. O importante é que estamos aqui e que nós somos uma família, cheia de amor. [Completa].


Cena 04 - Casa dos Lobato [Interna/Noite]

[Após sair mais uma vez durante o dia, Maria do Céu já estava recolhida no sótão quando ouviu alguém destrancar a porta e abri-la em seguida.]


GRAÇA: - Olha quem veio te visitar… Titia Graça! [Diz ao entrar].


MARIA DO CÉU: - Titia, vosmecê aqui…


GRAÇA: - Ué, vosmecê está surpresa com isso? Eu sou a única que te visita há anos. Na verdade eu sou a única pessoa que tem coragem de vir aqui, por causa da sua doença. Vosmecê sabe, pode ser contagioso, mas em nome do amor que sinto, eu tenho que vir aqui.


MARIA DO CÉU: - Escuta, titia… A senhora nunca pensou em consultar outro médico? Outra opinião? Tem dias que não me sinto tão doente e gostaria de sair um pouco.


GRAÇA: - Sair? Isso é impossível, vosmecê não pode sair. Sua doença é muito perigosa, além disso as pessoas vão rir de vosmecê. Vosmecê assim, pálida e abatida, vai ser feita de boba da corte pela sociedade. Entenda, meu amor… Eu estou tentando te proteger da maldade humana. Vosmecê deve ficar acá, onde não lhe falta nada, no seu quarto.


MARIA DO CÉU: - Mas, titia…


GRAÇA - Sem mais, minha sobrinha. Vá dormir e descanse, pois a sua doença é muito traiçoeira. Vosmecê deve ficar aqui até o final. Eu vou ficar com você até o seu último suspiro, prometo! [Conclui].


Cena 05 - Acampamento dos Ciganos [Externa/Noite]

Música da cena: Lua Cheia - Dienis (Participação Especial: Letícia Spiller)

[Açucena terminava de preparar uma sopa quando Vladimir se aproximou da fogueira onde ela cozinhava.]


VLADIMIR: - Aí está vosmecê, xaborrí. Eu estava mesmo te procurando!

Tradução: Xaborrí = Menina


AÇUCENA: - Me procurando? Aconteceu alguma coisa?


VLADIMIR: - Na verdade não, eu só queria te entregar isso. [Diz ao entregar um pequeno saco a Açucena].


AÇUCENA: [Pega o saco, conforme Vladimir lhe entrega] - O que é isso?


VLADIMIR: - Algumas moedas que economizei, agora que nosso casamento já tem uma data para acontecer, quero que providencie tudo o que acha necessário.


AÇUCENA: - Vladimir, vosmecê precisa nos salvar. Nós nos gostamos, mas como irmãos. Eu vejo nos seus olhos que também não quer se casar. 


VLADIMIR: - O nosso destino já foi definido, não posso mudá-lo. Não posso envergonhar o meu pai, essa é a lei dos ciganos. Que o filho mais velho seja o rei do nosso povo e como único filho, não posso dar esse desgosto ao meu bato.


Cena 06 - Fazenda Santa Clara [Interna/Manhã]

Música da cena: Acreditar no Seu Amor - Liah Soares

[A lua se vai e logo o dia amanhece ensolarado. Os grandes campos da cidade de São José dos Vilarejos são apresentados, homens trabalham na fazenda de Ana Catarina e em seguida adentramos ao interior da propriedade.]


ANA CATARINA: - Obrigada, vosmecê já pode se retirar. [Disse após a criada lhe servir um pouco de café].


MIGUEL: [Surge caminhando apressadamente].


ANA CATARINA: - Miguel, vosmecê não vai tomar café?


MIGUEL: - Eu estou com um pouco de pressa, preciso ir ao centro da cidade.


ANA CATARINA: [Sorri] - Naturalmente para encontrar a moça disfarçada novamente.


MIGUEL: - De certo. Vejo que vosmecê também acordou bem animada. Posso saber o que há?


ANA CATARINA: - Claro que pode. Hoje a Carlota vai receber uma visita de um novo investidor. 


MIGUEL: - Certamente, afinal ela administra um banco. O que tem demais nisso?


ANA CATARINA: - O que tem demais é que esse cafeicultor não passa de um laranja. Vou aplicar na Carlota o maior desfalque que ela já recebeu e vou precisar da sua ajuda.


MIGUEL: - Minha ajuda? [Questiona surpreso].


ANA CATARINA: - Quero que doe todo o dinheiro daquela megera aos pobres e aos escravos que fogem para o quilombo. Quero só ver a cara daquela víbora quando descobrir o que eu estou fazendo com os bens dela. [Completa bebendo um gole de café, sentindo-se vitoriosa].



Cena 07 - Banco D’ávilla [Interna/Manhã]

Música da cena: Flor de Lis - Melim

[As ruas do vilarejo surgem como plano de fundo. Movimentadas, as pessoas percorrem as grandes avenidas em meio às charretes. Em seguida, somos direcionados à fachada principal do banco.]


CARLOTA: - Muito bom dia, entre! [Diz ao abrir a porta do escritório, recebendo o cafeicultor].


CAFEICULTOR: - Bom dia, senhora. Gostaria de agradecer por me receber assim, sem marcarmos horário.


CARLOTA: - Ora, não se preocupe. É sempre uma honra poder ter negócio com empresários tão distintos como vosmecê. Sente-se! [Orientou, também se acomodando em sua cadeira].


CAFEICULTOR: - Bom, não vou dar muitas voltas. Como sabe, sou um prestigiado produtor de café em Minas Gerais. Estou expandindo o meu negócio, que já vai muito bem por sinal, tenho fazendas produtoras no Rio, São Paulo, Goiás e agora pretendo expandir para o Nordeste do Brasil.


CARLOTA: - Claro, eu entendo perfeitamente. De certo precisa de um capital de giro para adiantar as coisas, correto?


CAFEICULTOR: - Certamente. Preciso de tudo com muita brevidade, pois tenho pressa em aumentar a minha produção.


CARLOTA: - Sim, claro. Agora, como o senhor já deve saber e é um processo de praxe, precisarei ficar com algumas escrituras das suas propriedades, como garantia do empréstimo é claro, a partir disso e caso vosmecê concorde, assinará alguns termos e promissórias, daí o dinheiro será liberado conforme deseja.


CAFEICULTOR: - Naturalmente. Já havia pensado nisso, por isso tomei a liberdade de me adiantar, trouxe as escrituras comigo. Aqui estão! [Responde entregando um envelope volumoso à Carlota].


CARLOTA: [Abre o envelope, retira alguns papéis e os analisa] - É, vejo que aparentemente estão todos nos conformes. Poderemos fechar negócio! [Diz sorridente, estendendo a mão ao falso empresário].


CAFEICULTOR: [Aperta a mão de Carlota].


CARLOTA: - Se esse infeliz se enrolar nas contas e me deixar esse mundaréu de café, eu estou feita na vida e com isso consigo me estabelecer financeiramente. [Fala consigo mesma pelo pensamento].


Cena 08 - Igreja São José dos Vilarejos [Interna/Manhã]

Música da cena: Esquadros - Gal Costa

[Com a transição de cenas, surge a fachada da igreja do vilarejo. Em seu interior, Graça e Laura conversavam com o novo padre.]


LAURA: - E então padre, o que acha da data? O senhor acha que dá para nos casarmos?


PADRE JÚLIO: - Certamente não haverão impeditivos. A única coisa que não posso abrir mão e vosmecê já sabe, são dos proclames. É de praxe!


GRAÇA: - Claro, o senhor tem toda razão. Pode ficar tranquilo, que irei providenciar a entrada nos proclames. Padre, dinheiro não é problema, entende? Para a minha princesa, quero o melhor e maior casamento que essa cidade já viu.


PADRE JÚLIO: - Não se preocupe quanto a isso, Dona Graça. O casamento de Laura e Antônio ocorrerá nos moldes tradicionais estipulados pela santa igreja.


GRAÇA: - Excelente! [Responde sorridente].


PADRE JÚLIO: - Falando nisso, preciso conhecer o noivo.


LAURA: - Conhecer o noivo? Mas por quê, padre? [Questiona sem entender muito bem].


PADRE JÚLIO: - Porque é preciso me certificar que ambas as partes desejam contrair matrimônio, nada demais.


LAURA: - Claro, tudo bem. Eu vou providenciar a visita dele o mais breve possível, não se preocupe. [Completa].


Cena 09 - Gazeta Vilarejo [Interna/Manhã]

[Ricardo conferia algumas matérias que iriam entrar na próxima edição do jornal, quando um de seus jornalistas se aproximou.]


JORNALISTA: - Vosmecê já viu quem está aí?


RICARDO: - Não, quem é? Dom Pedro? [Ironiza enquanto checa os papéis].


JORNALISTA: - Muito boa a tentativa, mas não foi dessa vez. Quem está aí é o noivinho da sua amada, Antônio Guerra.


RICARDO: [Automaticamente interrompe a leitura e olha para o outro canto da redação, onde Antônio está parado] - O que ele está fazendo aqui? Não lembro de termos marcado nada.


JORNALISTA: - Eu também não sei. Vosmecê só vai saber indo até lá!


RICARDO: - Claro, tem toda razão. Eu vou até lá! [Diz ao ficar de pé].


[Ricardo então percorreu toda a redação e em seguida se aproximou de Antônio.]


RICARDO: - Senhor Guerra, a que devo a honra da sua visita? [Diz ao estender a mão para Antônio].


ANTÔNIO: - Dispenso tantas formalidades, me chame apenas de Antônio. [Responde apertando a mão de Ricardo].


RICARDO: - Perfeitamente, Antônio. Como posso ajudá-lo?


ANTÔNIO: - Bom, eu vou tentar ser direto. Soube que o advogado que cuidava das questões jurídicas do seu jornal se aposentou e vim me candidatar a vaga de substituto.


RICARDO: - Vosmecê, trabalhando acá? [Questiona surpreso].


Cena 10 - Cachoeira [Externa/Manhã]

[Após lavar algumas roupas no rio, Açucena preparava-se para tomar um banho de cachoeira, quando ouviu passos na mata.]


AÇUCENA: - Saia daí, covarde. Sei que está aí, novamente! [Grita].


PEDRO: - Quando diziam que os ciganos eram tão espertos assim, eu pensava que não passava de uma falácia. [Responde ao se aproximar].


AÇUCENA: - Vosmecê é mesmo um homem sem vergonha. Fica sempre observando as ciganas às escondidas?


PEDRO: - Não, todas não. Só as bonitas como vosmecê! [Responde com um ar de malícia].


AÇUCENA: - Ora, seu abusado! [Ergue a mão para esbofetear Pedro].


PEDRO: [Segura a mão de Açucena e a beija].



Cena 11 - Acampamento dos Ciganos [Externa/Tarde]

[Vicente caminhava pelo acampamento, enquanto orientava alguns ciganos e coordenava algumas atividades, resolveu voltar até a sua tenda para descansar um pouco.]


VICENTE: [Desabotoa a camisa, sem perceber que tem mais alguém dentro da sua tenda].


LEONORA: - Vicente? [Diz ao se aproximar].


VICENTE: [Permanece estático ao ouvir aquela velha voz conhecida].


Cena 12 - Igreja São José dos Vilarejos [Interna/Tarde]

Música da cena: Coleção - André Leonno

[Uma carruagem percorria as avenidas da cidade, até parar em frente à igreja.]


ANA CATARINA: - Obrigada! [Disse ao dar a mão ao motorista, que ajudava a descer da carruagem].


[Ao descer e subir a escadaria que dava acesso à igreja, Ana Catarina percebeu que outra pessoa também se aproximava.]


ANTÔNIO: - Vejo que quanto mais a senhora me detesta, mas o destino faz por onde nos encontrarmos. 


ANA CATARINA: [Encara Antônio].


[A imagem congela focando em Ana Catarina e Antônio frente a frente, surge um efeito de uma pintura envelhecida e o capítulo se encerra].


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