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Débora - Capítulo 04

 


Débora
CAPÍTULO 04

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 No capítulo anterior: Débora se admira com as opiniões de Lapidote sobre as mulheres e diz que a moça que se casar com ele terá uma sorte rara. Após, conta sobre o retorno de seu pai. Elian diz a Tamar que quer recomeçar e eles se beijam; Débora os flagra. Lapidote conta a Misael sobre Débora, e o homem recomenda o filho a fazer amizade com ela. Débora diz ao pai que não está nada satisfeita com o fato de ele morar com elas, e ele fala que quando ela estiver pronta, ele estará ali, pronto para abraça-la. No dia seguinte Elian pergunta à esposa se a filha nunca falou de nenhum interesse amoroso, e Tamar explica que Débora ainda é muito criança e tem um bloqueio para assuntos de casamento. Ele cogita firmarem um compromisso entre ela e um bom moço para que, quando tiverem idade, se casem. Lapidote procura Débora e eles se aproximam mais. Elian, desconfiado, passa a persegui-los em oculto. Dias depois, Lapidote a convida para se encontrarem na torre da cidade, e ela aceita. Lá eles se encontram e trocam um beijo, o que é visto por Elian.
FADE IN:

CENA 1: EXT. TORRE – TERRAÇO – NOITE
Parado na rua lá embaixo, Elian observa Débora e Lapidote, no alto da torre, trocando um delicado beijo sob o luar.
Então os lábios de ambos se desgrudam e eles ficam levemente constrangidos; sorriem desconcertados.
Tendo visto o suficiente, Elian dá meia volta e vai embora. Lá em cima, Lapidote parece ter uma ideia.
DÉBORA
O quê?...
Então ele ajoelha só uma das pernas diante da garota, que fica um tanto surpresa.
LAPIDOTE
Débora...
Ela o olha com expectativa.
LAPIDOTE
Você aceita se casar comigo?
Ela, impressionada, começa a ficar eufórica.
DÉBORA
Casar?!...
LAPIDOTE
(sorrindo apaixonado) Sim!
DÉBORA
Casar... Mas, Lapidote... Nós não temos idade para casar... Não deixariam...
LAPIDOTE
Até termos idade e condições, será apenas um namoro...
Entendendo, Débora sorri. Mexe a boca tentando falar...
DÉBORA
Eu... não esperava passar por isso tão cedo...
Lapidote continua parcialmente ajoelhado.
DÉBORA
Mas eu sinto algo... por você... Eu gosto de você...
Lapidote sorri ainda mais.
DÉBORA
Você é um garoto incrível...
Ele continua aguardando a resposta... Débora respira fundo.
DÉBORA
Sim... Sim, eu aceito.
Felicíssimo, Lapidote se levanta e eles se abraçam!
DÉBORA
(soltando-o) Mas você precisa falar com a minha mãe.
LAPIDOTE
Seu pai, você quer dizer...
Débora age como se dissesse “Então...”.
DÉBORA
Sempre foi só minha mãe. Não estou certa de que meu pai tem condições de decidir isso.
LAPIDOTE
Pois irei agora mesmo falar com eles.
DÉBORA
Tem certeza que quer ir hoje? Agora?
LAPIDOTE
Toda a certeza.
Débora sorri e pegam a mão um do outro. Viram para a cidade e apreciam a paisagem por alguns instantes...
DÉBORA (NAR.)
Depois de 12 anos de vida, finalmente eu havia descoberto o amor.
Então os dois viram e vão embora.



CENA 2: INT. CASA DE TAMAR – COZINHA – NOITE
Tamar olha muito atentamente para Elian.
TAMAR
Você tem certeza disso?
ELIAN
Absoluta! Foi agora mesmo, vim direto de lá!
Tamar parece pensar.
TAMAR
Isso é tão estranho... Débora nunca demonstrou nada, nenhum sinal. É como se... ela ainda tivesse 8 anos.
ELIAN
Tamar, nós dois a vimos muito próxima de Lapidote.
TAMAR
Eu nem sei o que dizer, Elian! Estou muito surpresa...
ELIAN
Uma coisa é certa: nós precisamos cortar isso. E quanto antes, melhor.
TAMAR
Cortar?
ELIAN
Sim, Débora é muito nova. Precisa se concentrar no trabalho, nos seus afazeres, não pode se casar. Esse garoto não pode fazer isso, ainda mais sendo filho de um sapateiro.
TAMAR
E qual é o problema nisso?
ELIAN
Ora, ele pode não ter como sustentar nossa filha, Tamar.
Tamar suspira.
TAMAR
Olha, se eles estão mesmo namorando, conhecendo minha filha do jeito que conheço, logo ela me contará. E eu não concordo em separá-los. Se Débora, se a Débora está namorando, é porque esse moço é um ótimo partido! Nas poucas vezes em que falamos sobre casamento, ela me disse que só se casaria se fosse com um rapaz de características sensacionais. Coisas que eu nem acho que exista!
ELIAN
Mas esse é o problema, Tamar. Essas coisas não acontecem pela razão... Nessa idade os sentimentos afloram e aí não tem jeito! A razão se esfarela e só o que sobra é a loucura da paixão!
TAMAR
Eles podem se amar... O amor juvenil, puro...
ELIAN
Tamar, como eu disse, nós precisamos sim reservar alguém para ela, mas tem que ser alguém que seja mais responsável, que tenha mais perspectiva de futuro, para que nossa filha não venha a ser mais uma dessas mulheres insatisfeitas no casamento, que sofrem sem contar para os pais, com marido que também se frustra com as mazelas--
TAMAR
(interrompendo) Chega, chega, chega, Elian! Chega.
Ele fica olhando para ela.
TAMAR
Eu não quero discutir com você, tudo bem? Não quero que a gente fique novamente de mal um com o outro, mas você voltou muito recentemente, e é óbvio que ainda não sabe tudo sobre a Débora, diferente de mim. E eu estou achando muito exagero da sua parte. Não pretendo separar os dois. Caso realmente haja algo ali, vou deixar que namorem. Claro, com respeito e decência. Se tiver que ser, Deus preparará todos os caminhos. Se não, uma hora o sentimento passará ou alguma outra coisa vai acontecer e eles se afastarão. Mas não vou impedir a felicidade de minha filha, não. Isso não vai acontecer. E espero que concorde porque, com todo o respeito ao homem da casa que você voltou a ser, isso já está decidido.
Nada satisfeito, Elian apenas encara a esposa.

CENA 3: EXT. CASA DE TAMAR – FRENTE – NOITE
Débora e Lapidote estão chegando em casa quando ele para. Ela o olha.
DÉBORA
O que foi? Está nervoso?...
Lapidote força um sorriso e olha para ela.
DÉBORA
Não precisa ter vergonha de dizer...
LAPIDOTE
Sim... Um pouco.
DÉBORA
Não se preocupe, minha mãe é um doce, você vai ver.
LAPIDOTE
O problema é o seu pai.
DÉBORA
Ah, isso não é problema algum. Venha, vamos entrar.
Eles andam os passos finais e Débora abre a porta; entram.

CENA 4: INT. CASA DE TAMAR – COZINHA – NOITE
Elian, sentado à mesa, e Tamar, cozinhando, olham para os recém-chegados. Débora fecha a porta.
TAMAR
(notando Lapidote) Filha...
DÉBORA
Shalom... Mãe... (olha para Elian) Pai... Certamente já o conhecem, mas esse é Lapidote.
Elian se levanta e se aproxima um pouco.
ELIAN
Claro, claro... É o seu amigo.
Débora não diz nada por uns instantes... Então, com um sutil tom de desafio, fala a verdade.
DÉBORA
Lapidote, meu namorado.
Tamar e Elian os encaram. Lapidote parece cada vez mais nervoso.
ELIAN
Eu os vi na torre.
Débora fica surpresa.
DÉBORA
Viu?...
LAPIDOTE
(atropelado) Senhor, eu não tinha a intenção de desrespeitar sua filha. Muito menos de desonra-la... Eu... amo sua filha.
ELIAN
Vocês são muito novos.
LAPIDOTE
Entendo, senhor, mas minha intenção é que namoremos até termos idade de firmar compromisso diante de Deus e das leis de Moisés.
ELIAN
Ahn, as leis de Moisés... Lembra-se delas?
Ainda um tanto nervoso, Lapidote faz que sim.
ELIAN
“Não adulterarás”... “Não furtarás”... “Honra a teu pai e a tua mãe”... “Não cobiçarás a mulher do teu próximo”...
TAMAR
Elian, por favor! É óbvio que o rapaz conhece as leis.
LAPIDOTE
Eu gostaria então... de pedir a permissão dos senhores... para namorar com Débora.
Elian, com semblante de insatisfação, olha para Tamar. Então volta para mesa e se senta.
TAMAR
(sorrindo) Está permitido, meu rapaz. Vocês podem namorar.
Feliz e antes mesmo de abraçar Lapidote, Débora corre para a mãe e a abraça forte.
DÉBORA
Obrigada, minha mãe!
Lapidote, no entanto, fica preocupado com a postura e o semblante de Elian.
LAPIDOTE
Senhor Elian... O senhor tem algo a dizer sobre isso?...
Elian olha para ele.
ELIAN
De minha parte tudo bem. Apenas não tenham pressa de se casarem.
Lapidote sorri.
LAPIDOTE
Obrigado, senhor.
TAMAR
Por favor, vamos sentando, vamos sentando que o jantar já está quase pronto! E aí poderemos fazer os combinados de como o namoro deverá proceder.
Débora e Lapidote sentam à mesa, mas Elian ainda está visivelmente contrariado. O jovem casal sorri um para o outro.

CENA 5: EXT. CASA DE TAMAR – FRENTE – DIA
Conforme o tempo passa, o namoro de Débora e Lapidote avança. A maioria de seus encontros é na frente de casa, vigiado de perto pelos pais.
Apesar do romance, a idade de ambos não permite que deixem de fazer algumas peraltices juntos e, também nesses momentos, Jaziel se dá bem com os dois.
Num desses dias, diante do olhar de insatisfação de Elian, Tamar o repreende, e ele tenta disfarçar.

CENA 6: EXT. CAMPO – DIA
Em outro dia, Débora e Lapidote correm pelo campo, por entre as várias tamareiras! Até que ela, cansada, para sob a maior e mais bela daquela região.
LAPIDOTE
Alcancei você!...
DÉBORA
Mas demorou mais dessa vez...
LAPIDOTE
É... Você está ficando mais rápida mesmo.
Débora ri e senta ao pé da árvore.
DÉBORA
Nunca te contei, mas foi exatamente aqui que eu nasci. Sob essa palmeira.
LAPIDOTE
Uau... Isso é fantástico! Isso faz desse lugar--
DÉBORA
(interrompendo) Sagrado? Para mim?
LAPIDOTE
Especial, no mínimo.
DÉBORA
É... É especial, sim. Não venho o tanto de vezes que gostaria, mas eu me sinto bem quando estou aqui.
Lapidote pega algumas tâmaras que encontra, senta-se ao lado dela e eles comem.
Logo ele encontra uma semente caída perto deles. Alcança-a e pega-a.
DÉBORA
O que é isso?
LAPIDOTE
Uma semente de tamareira. E pensar que uma igual a essa deu origem a essa palmeira linda...
Débora pega a semente, a olha um instante e devolve.
LAPIDOTE
Pensei numa coisa... Pensei em selar o nosso amor aqui.
DÉBORA
Selar? Como assim?
LAPIDOTE
Veja.
Então ele pega uma pedra pontuda e começa a riscar a superfície da semente.
DÉBORA
O que está fazendo?
Lapidote não responde, mas continua a, aparentemente, desenhar na semente. Em seguida faz de forma parecida no outro lado. Terminado, limpa-a e mostra a Débora.
DÉBORA
Eu sei o que significa esse sinal!
Ele sorri.
DÉBORA
É a primeira letra do meu nome!
LAPIDOTE
Isso, você está certíssima!
DÉBORA
E o outro?
LAPIDOTE
Esse é a inicial do meu.
DÉBORA
É bonito... Gosto desse sinal.
Então eles pegam juntos na semente.
LAPIDOTE
Somos nós dois... Juntos.
Ela o encara com os olhos brilhando. Então ele pega algo no bolso da veste, um pequeno cordão. Débora o observa unir a semente ao cordão por meio de um nó, e entregar o conjunto a ela.
LAPIDOTE
Pegue. É o símbolo do nosso compromisso até podermos ficar juntos definitivamente.
DÉBORA
(pegando, admirada, o cordão com a semente) É lindo, Lapidote... Vou guardar com muito carinho! Obrigada!
Débora então o abraça e eles trocam um suave beijo.

CENA 7: INT. SAPATARIA – DIA
Em outro dia, Lapidote ajuda seu pai Misael nos trabalhos da sapataria que eles finalmente conseguiram montar na cidade de Betel. Trata-se de uma oficina na esquina, com uma grande entrada, o que torna o local bem iluminado e arejado.
LAPIDOTE
Ah, pai, a Débora é uma menina fantástica! Ela tem uma energia, uma alegria! O jeito dela me fascina... A voz, o amor por Deus...
MISAEL
Que maravilha, meu filho, que maravilha! Fico muito contente em saber disso! Mas me fale uma coisa: e Elian? Como está reagindo o pai dessa menina?
LAPIDOTE
Bom... Confesso que, às vezes, acho que se dependesse do senhor Elian nós nem namoraríamos. Por outro lado, a senhora Tamar parece ter mais voz em casa. Curioso, não?
MISAEL
Nada curioso, dada a história deles... Você mesmo me contou. Ele ficou anos fora, foi expulso de casa. Claro que ela manda mais que ele. Mas olha, meu filho, seja respeitoso com essa menina, ouviu bem? Não se esqueça de tudo o que eu te ensinei desde criança! Seja respeitoso, cuidadoso, para que Elian não venha ter motivos para emperrar o namoro de vocês dois.
LAPIDOTE
Claro, meu pai, eu jamais a desrespeitaria.
MISAEL
Mas eu faço é muito gosto nessa união! Oh, se faço! Queira Deus que esse negócio tenha futuro!
LAPIDOTE
Amém! Bom, mas agora vou lá fazer essa entrega. Graças a Deus os serviços estão aumentando!
MISAEL
Isso, meu filho, graças ao bom Pai! Agora vá, faça mais um hebreu feliz com nossos sapatos.
LAPIDOTE
Já volto.
Lapidote sai, mas na entrada ele encontra Elian chegando.
LAPIDOTE
Shalom, senhor Elian...
ELIAN
Shalom...
Lapidote não para por completo, segue seu caminho. Na rua, olha para trás, mas continua. Misael percebe Elian entrando na sapataria.
MISAEL
(conhecendo-o) Shalom...
ELIAN
Shalom! Como vão as coisas?
MISAEL
Graças a Deus tudo vai muito bem!
Elian faz que sim.
MISAEL
Elian, antes de mais nada eu peço perdão por ainda não ter conversado com o senhor e com a sua esposa sobre a união de nossos filhos.
Lá fora, Lapidote se esconde atrás de um andaime de madeira e observa o pai e o sogro conversando. Porém, não ouve nada.
ELIAN
Eu vim falar justamente sobre isso, Misael.
Misael fica levemente apreensivo.
MISAEL
Hum. Mesmo? Tudo bem, podemos conversar sim.
ELIAN
Como todo bom pai, eu prezo pelo futuro de minha filha. Tenho certeza que você me entende.
MISAEL
Claro, claro.
ELIAN
Pois bem. E acontece que, apesar de as coisas estarem indo bem com vocês, isso aqui não é o suficiente para sustentar uma família. Para sustentar Débora.
Misael começa a ficar mais desconfortável.
MISAEL
Eu vivo bem com Lapidote, Elian.
ELIAN
Não, meu amigo, você acha que vive bem, mas isso aqui não é vida. Débora merece mais.
MISAEL
Ela... lhe contou algo? Confidenciou alguma insatisfação?
ELIAN
Não. Vim por conta própria, Misael.
MISAEL
Então você está sugerindo que Lapidote consiga outra ocupação, uma que seja mais lucrativa que trabalhar com seu pai sapateiro?
ELIAN
Não. Eu estou sugerindo que acabe o namoro entre nossos filhos, e que vocês dois vão embora de Betel.
Misael franze a testa e encara Elian por alguns segundos.
MISAEL
Quê?!...
ELIAN
Eu lhe pagarei uma boa quantia para sumir com seu filho dessas terras.
Na surpresa e preocupação de Misael, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Elian diz para Misael aproveitar a vinda dos filisteus e ir embora com o filho. Débora percebe o distanciamento de Lapidote. E os filisteus chegam à cidade.





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