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Débora - Capítulo 17


Débora
CAPÍTULO 17

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 No capítulo anterior: Aliã encaminha Baraque para Sangar. Tamar se impressiona com a presença de Lapidote. Jeboão dá um colar de pedras preciosas para Nira. Débora explica para a mãe que Lapidote precisa de ajuda, e elas fazem ele esperar ali mesmo. Sangar recomenda Baraque voltar para sua casa e o aconselha a não se esquecer do verdadeiro tesouro. Nira mostra o colar para Debir, e ambos comemoram e falam de arrumar tudo para fugirem de Harosete. Tamar e Débora entregam suprimentos para Lapidote e os dois jovens saem para irem à hospedaria. Sísera, o Primeiro Oficial e mais 500 soldados recebem a frota de carros de ferro trazida por um homem, o Entregador. Esse conta que saqueadores os atacaram e roubaram 100 dos carros. Apesar de atordoado e com raiva, Sísera pede o estorno do dinheiro correspondente aos carros roubados, mas o Entregador diz que não é essa a política de seu reino. Temendo pagar com sua própria vida, Sísera manda amarrarem o Entregador. Em seguida sobe em um dos carros, avança contra o homem e o atropela violentamente. Débora e Lapidote caminham pela rua quando Éder chama pela noiva e pergunta quem é aquele com quem ela está andando e conversando.
FADE IN:

CENA 1: EXT. BETEL – RUAS – DIA
Éder, com claro semblante de raiva, encara Débora.
ÉDER
E então, Débora? Diga-me! Quem é esse que insiste em não se virar e mostrar o rosto para mim?! Quem é esse com quem você está de conversa?!
Antes que ela possa responder, Lapidote finalmente vira para Éder e descobre sua cabeça.
LAPIDOTE
Com licença. Me desculpe, eu não pude deixar de ouvir... Percebi que você interpretou que eu estava com essa moça... (sorri) Me desculpe, mas foi apenas um mal entendido. Nós estávamos apenas caminhando próximos, as ruas estão cheias como sempre...
Éder franze a testa e se aproxima mais dos dois.
ÉDER
Não tentem me enganar porque eu sei o que vi! Vocês dois estavam conversando, estavam próximos! Como amigos, como...
DÉBORA
Como o quê, Éder?! Ahn?! Qual é o problema de eu andar com um amigo?!
ÉDER
Então por que não falam a verdade, se não têm o que esconder?! Por que mentirem?!
Débora respira fundo e olha para Lapidote; olha de volta para Éder.
DÉBORA
É o seguinte: eu não vou mentir pra você não, Éder. Vou ser sincera, completamente sincera.
Éder, curioso, aguarda tenso. Débora o olha firmemente.
DÉBORA
Este é Lapidote, com quem namorei tempos atrás.
A expressão de Éder muda para espanto e Lapidote fica apreensivo; Débora mantém o olhar firme para o noivo.


CENA 2: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Sísera, com um embrulho ao lado dos pés, está diante do trono de Jabim.
JABIM
Roubados?!
SÍSERA
Foi exatamente o que o Entregador me contou. E ainda disse que não haveria acordo. Segundo ele, deveríamos ficar com menos carros e sem nenhum valor estornado.
JABIM
Mas que afronta! Quem eles pensam que são?! Com quem imaginam que estão lidando?! Podemos esmigalhá-los como insetos! (pequena pausa) Mas você resolveu isso, não resolveu, Sísera?
SÍSERA
O mais justo aos meus olhos foi executar o Entregador, meu senhor. Sangue em troca de nosso prejuízo.
JABIM
E é o que está nesse embrulho?
SÍSERA
Sim.
Sísera se abaixa e desenrola parcialmente o embrulho.
SÍSERA
O que restou da cabeça do Entregador.
JABIM
Muito bem. Pode enrolar novamente. (mais relaxado) Isso aplaca a minha fúria. Porém, continuaremos com menos carros.
SÍSERA
Senhor, esses 900 carros são mais do que suficientes. Na boca de alguém pode não soar majestosamente como “1000 carros de ferro”, mas tenha certeza de que transformaremos o termo “900 carros de ferro” em uma temível característica intrínseca ao nosso reino. E continuaremos invencíveis, o mais poderoso reino de Canaã.
Entendendo, Jabim faz que sim.
JABIM
Você foi eficiente. Resolveu o problema sem me consultar, mas resolveu de forma satisfatória. O coração de seu rei não precisou ficar mergulhado na amargura da raiva por muito tempo. Acho que nomeá-lo Capitão do exército foi a melhor decisão que tomei em todo o meu reinado até aqui.
SÍSERA
A honra que me enche o peito ao ouvir isso é imensurável, grande rei.
JABIM
Bom, mas acho que precisamos estrear devidamente esses carros, não é? Não apenas um, como já fez. Precisamos fazer os boatos começarem a correr por essas terras.
SÍSERA
(sorrindo levemente) Acho que sei a que o rei se refere.
Jabim então se levanta.
JABIM
Todos os nobres, aproximem-se imediatamente!
Todos os nobres espalhados pelo salão rapidamente se aproximam e se juntam a Sísera.
JABIM
Há anos os amonitas representam uma pedra em nosso caminho, um obstáculo no crescimento de nossa nação. Representam até mesmo uma ameaça à sobrevivência de todos aqui. Chegou a hora de mudarmos isso de uma vez por todas! Chegou a hora de as peças irem para seus devidos lugares! Os amonitas, no chão! Esmagados! E nós, no topo!
Todos ali sorriem e balançam a cabeça em apoio.
JABIM
Por essa razão, hoje, oficialmente, eu declaro guerra contra os amonitas!
Um burburinho surge entre os nobres.
JABIM
Silêncio! Sísera, prepare todas as coisas! O exército deve partir amanhã pela manhã! Invadam o reino de Amom e destruam aquele maldito rei com todos os seus!
SÍSERA
Sábia decisão, soberano! Como deseja, assim será feito!
Jabim sorri satisfeito.

CENA 3: INT. CASA DE NAJARA – SALA – DIA
Najara e Jeboão estão à mesa. Enquanto ela corta legumes, ele bebe uma taça de vinho encarando o nada. Mas ela também observa o jeito dele.
NAJARA
Que cara é essa?
Com raiva, ele olha para ela.
JEBOÃO
É a minha, oras. A de sempre! A mesma desde que saí da barriga de minha mãe! Pergunta idiota...
NAJARA
Além disso, péssimo humor... Parece um cachorro chutado quando estava prestes a conseguir um pedaço de carne.
Estressado, Jeboão bate a taça na mesa, fazendo vinho se espalhar, e se levanta.
JEBOÃO
Perdi a vontade de beber! (saindo dali) Vou descansar um pouco, é muito melhor que ouvir sua voz irritante!
Indiferente, Najara observa o marido subir a escada.
NAJARA
Aí tem coisa... E eu vou descobrir.
E continua a cortar os legumes...

CENA 4: INT. CASA DE TAMAR – SALA – DIA
Enquanto Tamar sova uma massa de pão na mesa, Elian conserta alguns baldes de madeira.
TAMAR
Elian... Você está satisfeito com os rumos do noivado de Débora?
ELIAN
O casamento, você quer dizer.
TAMAR
É... Sim.
ELIAN
Vou te dizer que não vejo a hora de chegar o dia da festa. Estou convidando todos os meus amigos de Betel! Mas o que você quis dizer?
TAMAR
Ora... Quis dizer exatamente o que perguntei. Está satisfeito? Pelo jeito, muito.
ELIAN
Mas é claro que é muito. Éder é um homem trabalhador, honesto, esforçado, de boa índole, bem visto, bem falado... O genro ideal! O marido que toda moça quer!
TAMAR
Engraçado... Você só elogiou Éder. Não falou nada sobre Débora.
ELIAN
Lá vem você com essas conversas. O que é que tem pra elogiar em Débora? Tudo bem que ela é trabalhadeira e tudo o mais... Mas é a obrigação de toda mulher! Nós a criamos bem, Tamar. (fica levemente desconcertado) Você, principalmente... Criou ainda melhor. Débora será uma excelente esposa.
TAMAR
Será? Pois ela claramente não gosta de Éder, e isso não é novidade para nós.
ELIAN
Eu já disse que isso não importa. É o de menos. O menor dos detalhes. Com o tempo ela vai aprender a gostar dele.
TAMAR
Eu só tenho medo de que minha filha seja mais uma dessas infelizes no casamento. Mulheres jovens, mas que vivem tristes o dia todo, sem ânimo, e à noite precisam agradar os maridos, precisam satisfazê-los...
Desconfiado, Elian vira totalmente para a esposa.
ELIAN
Tamar, você por acaso... está insinuando que--
TAMAR
(interrompendo) Não! Não, Elian, não estou falando de nós dois. Ao contrário de você, eu penso em minha filha e não apenas em mim!
Tamar larga a massa de pão e sai. Sobe a escada pisando duro. Elian permanece ali, confuso e contrariado.
ELIAN
Mulheres procuram problema mesmo quando não há nenhum! Francamente.
E continua seu serviço.

CENA 5: EXT. BETEL – RUAS – DIA
Débora, firme, e Lapidote, tenso, encaram Éder, revoltado.
ÉDER
Como é que é?!
DÉBORA
É isso mesmo!
LAPIDOTE
Débora...
ÉDER
(para Lapidote) Cale a sua boca!
DÉBORA
(gritando) Fale baixo, Éder!
Algumas pessoas os olham enquanto passam por ali. Com raiva, Éder encara a noiva.
DÉBORA
(em tom normal) Não há a menor necessidade de você se comportar dessa forma!
ÉDER
Ah, não?! Você está andando com um homem por quem já teve sentimentos, com quem já se envolveu, e vem me dizer isso?!
DÉBORA
Eu tinha apenas 12 anos! Éramos crianças, você não pode levar isso a sério!
Lapidote os observa.
ÉDER
Ah, não posso levar isso a sério. Então por que você estava andando com ele?
DÉBORA
Lapidote passou anos fora, e o encontrei há pouco. Ele estava precisando de ajuda, apenas dei o necessário para ele se virar.
ÉDER
E por que andando juntos?
DÉBORA
Eu ia levando-o à hospedaria.
O semblante de raiva não sai do rosto de Éder.
ÉDER
Não me interessa! Ele pode se virar, já é bem grandinho! E é incrível, Débora, é incrível como você se esforça em fazer o que mais me dá ódio! Em fazer o que mais me diminui como homem! Agora, já para casa! Rápido! E esse aí que se vire! (puxando ela) Já!
DÉBORA
(soltando o braço da mão de Éder) Não!!!
Um tanto surpreso, Éder para e encara a noiva.
DÉBORA
Em nenhum momento eu te desrespeitei, Éder. Em nenhum momento eu te desonrei ou desonrei a mim como noiva. Apenas conversei normalmente com um conhecido de infância e o ajudei, assim como ajudaria qualquer um que precisasse, qualquer um! Por minha consciência estar limpa, não vou aceitar ser tratada como suspeita. Informarei a localização da hospedaria a Lapidote com paciência. E, tendo ele plena condição de chegar até lá, aí sim voltarei para casa com você.
ÉDER
Quem você pensa que é?!
DÉBORA
Débora! Sua noiva. Pode me respeitar como sua futura esposa, Éder?
Com os músculos do rosto tremendo de raiva, Éder aponta o dedo para o rosto de Débora.
ÉDER
Se nós fôssemos casados--
DÉBORA
(interrompendo) Mas nós não somos!
Lapidote, apesar de furioso, perde as palavras. Ela ainda o encara, certificando-se de que não falará mais nada... Então vira para Lapidote.
LAPIDOTE
Eu não queria arranjar problemas para você, Débora.
DÉBORA
Você não tem culpa de nada. Agora vou te dizer como chegar lá. Está vendo aquela barraca maior? Ao lado do...
Sob os olhares ressentidos de Éder, Débora, ignorando-o, explica para Lapidote como chegar à hospedaria.
DÉBORA
Entendeu?
LAPIDOTE
Sim, sim. Gostaria de agradecer por toda a ajuda... Bem, já vou... Shalom, Débora.
DÉBORA
Shalom, Lapidote. Deus te abençoe.
LAPIDOTE
(sorrindo timidamente) Amém. (olha para Éder) Shalom, Éder.
Éder permanece estático. Vendo que não terá resposta, Lapidote vira e sai andando pela rua. Débora vira para Éder.
DÉBORA
Agora podemos ir.
Éder agarra-a pelo braço e sai puxando-a e bufando.

CENA 6: EXT. CASA DE TAMAR – FRENTE – DIA
Éder chega à frente da casa, para e vira para ela.
ÉDER
À noite nos encontraremos com o juiz Sangar e com os anciães para tratarmos do casamento. Avise seus pais.
Ele então larga o braço dela com rispidez e vai embora raivoso. Inconformada, Débora ainda o observa... Então entra em casa.

CENA 7: EXT. CASA DE JAZIEL – FRENTE – DIA
Rindo bastante, Jaziel e Sama chegam à frente da grande e bonita casa da família dele.
JAZIEL
(rindo) Ah, meu amor... É cada uma...
SAMA
Jaziel... (se recuperando das risadas) Ai, olha... Há tempos eu não ria tanto!...
Ele ri mais.
SAMA
Eu acho... que nós precisamos sair mais, meu amor. Namorar mais...
Sem que nenhum dos dois percebam, Gaja, a mãe de Jaziel, aparece na janela e os observa escondida.
JAZIEL
Nós precisamos é nos casar!
Ao ouvir isso, Sama sorri, mas logo seu sorriso amarela...
JAZIEL
O que foi, Sama? Você sempre fica assim quando falamos de casamento.
SAMA
Você sabe quais são os motivos, Jaziel. Não preciso recordá-lo. Principalmente agora, depois de um passeio tão agradável.
JAZIEL
Meu amor, por favor, não se preocupe. Tudo dará certo, confie!
Sama faz que sim. Então ele a beija rapidamente.
JAZIEL
Shalom. Mal posso esperar para amanhã chegar e nós nos revermos.
SAMA
(sorrindo) Acho que vou dormir mais cedo para amanhã chegar logo.
Ele sorri e a beija novamente.
SAMA
Shalom.
Nesse instante, Gaja sai da janela, mas Sama percebe seu vulto quando está virando para ir embora... Franze a testa, mas se afasta, desconfiada. Quando ouve o som da porta se fechando, denunciando que Jaziel já entrou, ela vira e volta rápida e silenciosamente. Se abaixa e espia pela janela. Gaja já está falando com o filho.

CENA 8: INT. CASA DE JAZIEL – SALA – DIA
GAJA
...ficando com essa aí na frente de casa, Jaziel! Será possível que você nunca entenderá?! Já que insiste em descer o nível, então que seja escondido, e não para que todos que passem na rua saibam que estamos ligados a esse tipo de gente! Quer mesmo sujar nossa imagem, Jaziel?!
JAZIEL
Eu estou cansado! Eu estou cansado de ouvir tanta sujeira dos meus próprios pais!!!
PÁH! Gaja mete uma bofetada no rosto do filho, que leva a mão ao local.
Raivoso e ressentido, Jaziel sai e some em outro cômodo.

CENA 9: EXT. CASA DE JAZIEL – FRENTE – DIA
O corpo de Sama, que mal sabe como reagir, amolece e ela cai sentada embaixo da janela. Soluça quase em desespero... Logo lágrimas brotam de seus olhos e derramam aos montes.
Por fim, temendo ser descoberta ali, Sama se levanta e sai chorando pela rua.

CENA 10: INT. CASA DE SANGAR – SALA – NOITE
O dia passa e a noite cai.
Na sala da casa estão sentados Débora, Elian, Tamar, Éder, Aliã e outros anciães. Deitado na cama está Sangar.
ELIAN
Bem... Estamos aqui reunidos para acertarmos as questões pertinentes à lei sobre o casamento desses jovens Débora, minha filha, e Éder. Por se tratar de leis, é um assunto mais interessante aos homens. Caso Débora e minha esposa Tamar queiram ir para a cozinha e nos preparar algo, fiquem à vontade. Débora mesma faz coisas excelentes com tâmaras, vocês precisam experimentar.
Um silêncio cai na sala e todos olham para Débora e Tamar. Com o clima desconfortável, essa parece tentada a se levantar e sair, mas a filha olha firme para ela e faz sinal para ficar.
DÉBORA
Nós ficaremos.
TAMAR
Sim... Preferimos ficar.
Sangar e Aliã sorriem muito sutilmente.
ELIAN
Hum... Tudo bem. Mas estejam cientes de que pode ser bem entediante para vocês. Passo a palavra ao juiz Sangar.
Sangar pigarreia.
SANGAR
Bom, quero dizer primeiramente que é um prazer atender a esses dois moços que vi crescerem, principalmente Débora, que esteve mais por perto. Apenas sua felicidade poderá fazer esse coração adoentado aqui feliz.
Débora sorri. Sangar se ajeita na cama.
SANGAR
Então, apesar de as coisas que diremos aqui serem ditas no dia da festa, os noivos devem chegar lá já sabendo. É importante que eles tenham pleno conhecimento da decisão que tomaram, pois será para o resto de suas vidas.
DÉBORA
Senhor Sangar, perdão, mas a que decisão o senhor se refere?
Elian se indigna.
ELIAN
Ora, é óbvio!
ÉDER
Senhor juiz, peço perdão pela pergunta de minha noiva. É coisa de mulher, a maioria é lenta para raciocinar.
Débora olha para Éder com uma leve raiva aparente.
SANGAR
Bom, a decisão que tomaram a que me referi foi a de se casarem.
DÉBORA
Senhor, perdão mais uma vez, mas eu não tomei decisão alguma, e é aí que estava minha dúvida. Meu pai tomou essa decisão por mim.
Um dos anciães pigarreia.
ANCIÃO
E não são todos os casamentos dessa forma?
DÉBORA
Exatamente. Por isso digo que não tomei decisão alguma. Com todo o respeito.
SANGAR
Eu entendo, você está certa, minha filha. Por favor, queira me perdoar.
Elian e Éder trocam olhares de insatisfação.
DÉBORA
Eu não disse tudo isso para ofender ao senhor, juiz Sangar, pois tenho grande respeito e admiração pelo senhor, um caro homem de Deus. Mas acho que a letra da lei precisa ficar clara.
ELIAN
(rindo e olhando para os homens presentes) Uma mulher falando de leis! Uma garota...
Éder sorri, e alguns anciães sorriem minimamente.
SANGAR
Bem, bem. Como eu ia dizendo, é necessária muita prudência em tudo o que vamos fazer em dias como esses, em que o povo está mais próximo dos ídolos de barro e pedra do que do Senhor Deus de Israel, único soberano de todo o Universo. Portanto, meus jovens, eu lhes pergunto: vocês sabem o que dizem as leis acerca do casamento?
DÉBORA
(prontamente) Sim! As leis de Moisés são claras. Por exemplo, um dos Mandamentos diz para não adulterar, e outro para não se desejar a mulher do próximo. Só com isso já fica clara a importância da fidelidade absoluta em um relacionamento.
Os olhares de Elian e Éder para ela são horríveis.
ELIAN
Tenho certeza de que Éder poderia responder isso se você não fosse tão afoita.
DÉBORA
Eu apenas respondi o que o juiz perguntou.
ÉDER
(uma das veias do rosto saltando) Pois então deixe-me responder primeiro.
Débora faz que sim.
ELIAN
Senhor Sangar, será que meu futuro genro Éder pode dar sua resposta?
SANGAR
Ahn, creio já não ser necessário. O que acha, ancião Aliã?
ALIÃ
A resposta que ouvimos é mais do que satisfatória.
ANCIÃO
A garota foi intrometida, mas surpreendeu para uma mulher. E uma tão jovem ainda...
Éder encara Débora com profundo rancor, mas ela fixa seus olhos em Sangar.
SANGAR
Muito bem, então passemos para a próxima.
Éder se ajeita, quer impressionar.
SANGAR
Qual é a única ocasião em que é permitido ao marido adquirir uma segunda esposa?
Débora claramente sabe a resposta, mas se limita a abaixar a cabeça.
ÉDER
Eu sei, eu posso responder a essa!
SANGAR
Pois diga, meu jovem.
ÉDER
O marido pode arranjar uma segunda mulher quando a primeira não atende suas necessidades, quando ela não cumpre seus deveres como esposa. Nesse caso, o homem tem todo o direito de ir atrás de outra mulher.
Elian, orgulhoso, sorri de orelha a orelha e olha para Sangar.
SANGAR
As divisões de deveres devem ser bem claras em um casamento, mas as leis não preveem a falta delas como justificativa para a entrada de uma segunda esposa no lar. Débora sabe a resposta?
Éder e Elian são pegos de surpresa.
ELIAN
Se Éder não sabe, Débora também não saberá!
Mas logo os dois olham para Débora, que levanta a cabeça e olha para o juiz.
DÉBORA
É permitido ao homem ter uma segunda esposa quando o ventre da primeira não tem condições de gerar.
Éder força um sorriso.
ÉDER
Mas que resposta é essa? É um absurdo a permissão ser apenas para essa ocasião!
SANGAR
Ahn... Débora está absolutamente correta. É uma garota muito inteligente! Que mulher se interessa por leis?!
ALIÃ
Eu tenho orgulho de Débora. Ela me visita todos os dias no templo para falarmos sobre as coisas de Deus. Ela tem sede de conhecimento.
Tamar sorri orgulhosa e Éder está ressentido.
SANGAR
Então é claro o dever do homem em amar sua esposa, ainda que ela não gere. E esse amor não pode diminuir com a chegada de outra mulher. A casa precisa permanecer unida! Porém... que isso não venha a acontecer. Que Débora gere muitos, mas muitos filhos! Que seja sua casa repleta de crianças assim como um pasto repleto de ovelhas! Mas lembrem-se: para que isso vá longe, com as bênçãos do Senhor, é preciso amor genuíno e entranhável! Além de respeito, muito respeito. O verdadeiro amor não traz desavenças, agressões, não, nada disso. Ele traz respeito. Da mulher para o homem e do homem para a mulher. Porque Deus não fez Eva dos pés de Adão, mas sim...?
Sangar espera por eles falarem, mas nada se ouve.
ÉDER
É para completar?
SANGAR
Sim!...
Éder busca palavras, pensa... Elian se mantém ansioso. Então se aproxima do ouvido do rapaz.
ELIAN
(sussurrando) Fale qualquer coisa!
ÉDER
Das mãos? Das mãos de Adão?...
É visível a decepção no rosto de Sangar. Porém Aliã percebe a tranquilidade de Débora.
ALIÃ
Débora?
Débora olha para Aliã, rapidamente para Elian e Éder, e por fim para Sangar.
DÉBORA
Deus não fez Eva dos pés de Adão, mas sim da costela. Portanto, ambos são iguais perante o Senhor.
ELIAN
(baixinho, para Éder) Francamente, não sabia disso?!
ÉDER
O senhor sabia?!
SANGAR
Ótimo, Débora! Bem, é visível que precisamos de um pouco mais de estudo, e terei prazer em dividir essa tarefa com o ancião Aliã. Aliás, seria ótimo que Éder acompanhasse sua noiva nas visitas diárias que ela faz ao templo. Bom, agora acho que podemos dar uma olhada nos--
ÉDER
(interrompendo) Senhor! Com licença.
Sangar olha para ele.
ÉDER
Será que podemos fazer uma breve pausa para que eu possa falar com minha noiva a sós?
Silêncio...
SANGAR
Sim... Claro. Uma breve pausa.
Os anciães não gostam, mas nada dizem. Éder faz sinal chamando Débora e os dois vão lá para fora.

CENA 11: EXT. CASA DE SANGAR – FRENTE – NOITE
Quando Débora sai, Éder fecha a porta e se afasta um pouco; ela o segue e ele olha com raiva nos olhos dela.
DÉBORA
O que você quer, Éder? Por que está fazendo isso?
Éder está transtornado. Não se controla, seus olhos estão vermelhos e molhados; pura raiva.
ÉDER
Por que você tem que ser assim?! Ahn?! (engole um soluço de ódio) Por que tem que se esforçar em ser superior a mim na frente dos outros?! Na frente dos homens mais importantes dessa cidade e do juiz de Israel!
DÉBORA
Éder, eu apenas respondi aos questionamentos!
ÉDER
Mas eu não pude responder!!!
Ela o encara confusa e inconformada.
ÉDER
Você devia ficar ao meu lado, quieta! Devíamos ser como apenas um! Unidos sempre! Na vergonha e na derrota, inclusive!
Os olhos de Débora também começam a lacrimejar.
DÉBORA
Então por que você não é unido comigo nas coisas que quero fazer, como estudar as leis de Deus?!
Éder fica sem resposta, apenas soluça e tenta engolir o choro de raiva.
Por fim aponta o dedo no rosto dela.
ÉDER
Nunca mais... Nunca mais me envergonhe... na frente das pessoas. (pequena pausa) Nunca mais.
No semblante choroso de Débora, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Elian e Débora têm uma perigosa conversa. Sama toma uma decisão drástica sobre seu namoro com Jaziel. E Sísera comanda o exército hazorita na invasão do reino de Amom.

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