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Débora - Capítulo 26


Débora
CAPÍTULO 26

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 No capítulo anterior: Baraque luta contra saqueadores que procuram o tesouro de sua família e os vence. Lapidote fala para Débora consultar o ancião Aliã, e que se esse estiver de acordo, ele também estará. Mireu se impressiona com a quantidade de ingredientes para as receitas de Adélia. Éder e Josafe, que têm uma questão de disputa por um pedaço de terra, se desentendem no campo. Aliã pergunta a Débora quem é ele para discordar da interpretação dela, mas ela insiste na opinião do ancião. Ele comenta que foi assim, lutando, que muitas vezes os juízes foram levantados. Débora então decide partir, e Aliã a abençoa. Isabel convida Débora para jantar, mas essa recusa dizendo que vai viajar, porém não conta para a prima o destino. Sama e as outras hebreias são levadas à Fortaleza. Ali, Sísera anuncia a elas o plano de Jabim de construir uma nova geração de escravos, e que serão elas as responsáveis por avaliar as crianças. Najara diz às candidatas que a primeira tarefa delas é preparar seu desjejum. Com muito pesar Lapidote aceita a partida de Débora, que, determinada, diz que fará justiça ao seu povo. O casal se abraça fortemente.
FADE IN:

CENA 1: INT. PALÁCIO – CASA - COZINHA – DIA
Bastante discretos, Eloá e Danilo, da porta da cozinha, espiam o progresso das 5 candidatas à serva. Darda, apesar de ágil, está bastante atenta ao andamento de suas concorrentes.
Ao perceber que uma veio para o seu lado, propositalmente ela vira e tem um encontrão com a moça, fazendo o trigo dessa cair no chão. A moça se assusta e Darda finge.
CANDIDATA 1
O que você fez?!
DARDA
Me desculpe, eu não a vi...
CANDIDATA 1
E agora?! O meu trigo! O que eu vou fazer?!
Mas Darda não perde tempo: vira e continua trabalhando enquanto a moça encara desolada o trigo derramado. Eloá e Danilo trocam olhares de desconfiança.
Darda vai então para o balcão do outro lado da cozinha, onde está a comida de outra candidata, ficando de costa para o casal na entrada. Esse, ainda mais desconfiado, tenta ver o que ela está fazendo, mas nenhum dos dois conseguem. Se conseguissem, veriam Darda tirando um frasco minúsculo do bolso e despejando o líquido na refeição de sua concorrente. Rapidamente ela guarda e volta para seu próprio preparo.
Eloá e Danilo se entreolham sabendo que ali tem coisa.



CENA 2: INT. CASA DE TAMAR – SALA – DIA
Débora está conversando com Elian e Tamar.
ELIAN
Viajar?! Para lutar?!
Tamar, se desesperando, se aproxima de Débora e a abraça.
TAMAR
Não diga uma coisa dessa, minha filha!
DÉBORA
Minha mãe... Os sonhos... A voz... Minha habilidade com espada... Nada disso pode ser em vão.
Elian ri.
ELIAN
Não importa a idade, Débora sempre vai me impressionar negativamente. Onde já se viu uma mulher segurando uma espada?! Nem nas proibidas lendas babilônicas isso existe.
DÉBORA
Existirá na vida real, meu pai. Aqui, em Israel.
Elian ri novamente.
ELIAN
Escute, o seu marido por acaso bateu na sua cabeça?
Um fio de raiva passa pelo semblante de Débora.
DÉBORA
O senhor deve estar se enganando... Não sou casada com Éder.
Elian encara a filha. Sentindo que passou do ponto, Débora fecha os olhos e respira fundo. Tamar olha feio para o marido e passa o braço pela nuca de Débora, segurando o outro ombro.
DÉBORA
Pai, o senhor não sabe que eu treino à espada?
ELIAN
Sim. Já sei há muito tempo. Sei inclusive que fazia isso na mocidade, quando ainda estava debaixo do meu teto. Sei de como ocultamente passava por cima de minhas ordens.
DÉBORA
Pois então essa peraltice de moça terá grande serventia, meu pai. Trará bem para todos!
Elian ri...
ELIAN
Você realmente acha, em sã consciência, que tem alguma chance de sucesso nessa loucura que quer fazer? Acha que os seus treinozinhos criminosos com Jaziel são suficientes para enfrentar soldados que respiram violência desde criança?! Homens que conhecem não só o cheiro, mas até o sabor de sangue?!
Débora apenas ouve o pai.
ELIAN
De todas as bizarrices que você já nos trouxe, Débora, essa é a maior delas. Tenho certeza de que partirá de Betel e nunca mais pisará aqui.
TAMAR
(chorosa) Pare, Elian!
ELIAN
Estou falando apenas a verdade, Tamar! E é bom que você se prepare, está entendendo?! Não sou eu o errado, mas ela! Uma mulher egoísta! Acha que Débora está preocupada se a mãe e o marido terão que chorar amargamente e sepultá-la?! Ela quer apenas amaciar o próprio ego! É a mesma menininha de sempre! Desesperada por atenção! Ávida por mostrar para o mundo o que não é, nunca foi e jamais será!
Chorando, Tamar abraça a filha, que apenas encara o pai.
DÉBORA
Não se preocupe, mãe... O pai se esquece de que existe um Deus com promessa de liberdade para todos nós.
ELIAN
Sim, sim, Deus tem sim uma promessa de liberdade para nós. Mas essa liberdade não virá pela mão de uma mulher. Muito menos pela mão de uma como você: arrogante, prepotente... e louca!
Com os olhos extremamente marejados, Débora é firme ao continuar olhando para Elian.
DÉBORA
Então... dê um abraço em sua filha, meu pai. Já que é a última vez que a verá...
Elian, pego de surpreso, fica sem jeito. Constrangido, morde os lábios e olha para baixo...
ELIAN
Não... Não, não farei isso. Se o fizer, significará que estarei compactuando com sua loucura.
Imediatamente ele passa por elas, abre a porta e sai.
Tamar desaba a chorar nos braços de Débora, cujas lágrimas finalmente transbordam e riscam seu rosto.

CENA 3: INT. FORTALEZA – ALOJAMENTO – DIA
É um cômodo grande, porém pobríssimo em decoração. As paredes lisas, frias e vazias contrastam o chão forrado de pedaços retangulares de tecidos, sobre os quais há uma hebreia deitada em cada um.
Próxima à parede, Sama conversa melancolicamente com a mulher ao seu lado.
MULHER
(chorosa) Não sei... porque Deus... permitiu isso conosco...
SAMA
Você ainda acredita em Deus?
A mulher olha para ela.
MULHER
Você não?
Sama respira fundo.
SAMA
Sim... Sim, eu acredito. Mas não vejo muitos hebreus iguais a mim por aí. A maioria se converteu aos deuses dos hazoritas há muito tempo e adoram apenas a eles.
MULHER
Parece. Apenas parece. As coisas já vinham mudando, Sama. Não ouviu dizer que lá mais para o sul, nas bandas de Efraim, aumentaram os burburinhos sobre o Deus único de Israel?
Sama franze a testa.
SAMA
Mesmo?
MULHER
Sim. Muito me alegrei quando soube... Se os boatos forem verdadeiros, o povo está se voltando para o Senhor. E, pelas histórias que meu avô me contava, esse é o prenúncio para a libertação.
Sama ouve atenta.
MULHER
Eu só não entendo porque então, com o povo se voltando para Deus, Ele permitiu que isso nos acontecesse.
SAMA
Eu sei exatamente porque isso tudo aconteceu em minha vida.
MULHER
O que quer dizer com isso?...
Sama respira fundo.
SAMA
Há muitos anos eu fiz todas as escolhas erradas. E desde então venho pagando caro por isso.
MULHER
Não entendo...
SAMA
20 anos atrás... Eu abandonei o grande amor da minha vida. Seu nome era Jaziel. Ainda é... eu acho.
MULHER
Por que fez isso?
SAMA
Porque eu era fraca... covarde... e egoísta. A família dele não aprovava a nossa união pela razão de minha família ser pobre. Ao invés de lutar contra tudo ao lado dele, como ele bem queria, escolhi esperar por um moço cuja família me receberia de braços abertos... E assim foi. Conheci Iru e... não poderia ser melhor recebida. Seus pais pareciam ser meus pais. Pensei que finalmente havia encontrado o meu príncipe... O homem com quem dividiria minha vida inteira. Ledo engano...
A mulher escuta com atenção.
SAMA
Depois que nos casamos não demorou muito para surgirem os primeiros sinais da verdadeira natureza de Iru. Paciência curta, tom de voz mais elevado, um objeto atirado ao chão... E logo veio o primeiro tapa. O primeiro empurrão. O primeiro soco... Quanto mais eu demorava a gerar, mais constantes eram todas essas coisas. E o pior: não havia uma vez sequer em que, depois da agressão, ele não voltava se dizendo arrependido, se colocando como vítima, como injustiçado...
A mulher está impressionada com a história de Sama.
SAMA
Há muito tempo eu quero apenas proteger minha filha.
MULHER
Você ainda foi arranjar filha com esse homem?!
SAMA
E o que eu podia fazer?! Ele chegava bêbado e me queria... Não havia como impedir.
MULHER
E onde ela está? Sua filha...
SAMA
Está com ele... Com Iru. Espero muito que ele venha me visitar para eu vê-la... Mas não me surpreenderia se nunca mais pudesse fazer isso. Eu nasci pra sofrer... Para errar e pagar pelos erros. Estar aqui, nesse lugar... é só mais uma de minhas consequências.
Quieta, a mulher lamenta com o olhar...

CENA 4: INT. CASA DO AMOR – DIA
Sísera chega ao estabelecimento quase vazio e vai direto para o balcão. Atrás está Hanna.
HANNA
Não está cedo para o Capitão?
SÍSERA
Apenas me sirva.
HANNA
Servirei duplamente!
Hanna enche dois copos de vinho.
SÍSERA
E por quê?
Ela entrega os copos para Sísera.
HANNA
Enquanto você me enrolou, um homem rico veio até aqui e me deu o dinheiro de que eu tanto precisava.
SÍSERA
(bebendo) De bom grado?
HANNA
E o que nesse mundo é feito de bom grado?!... O preço foi fazer tudo o que ele queria, e mais um pouco. A noite toda. Sem descanso algum, nem para tomar água ou vinho. Amanheci morta... Mas valeu o esforço.
SÍSERA
Eu acho é bom por não ter que desembolsar meu ouro.
HANNA
Você é ruim, mesmo.
Sísera ri e bebe.
HANNA
Apesar de ter quitado minha dívida, não sei se continuarei com a Casa.
Sísera franze a testa.
SÍSERA
Mas era o seu sonho...
HANNA
Que já foi alcançado e realizado. Agora eu tenho um novo sonho.
SÍSERA
E qual seria?
Sísera vira o restante do vinho e Hanna se inclina para ele.
HANNA
Já ouviu falar das feiticeiras?
Sísera franze a testa...

CENA 5: INT. PALÁCIO – CASA – SALA – DIA
Najara está sentada à mesa. Atrás dela, em pé, estão Eloá e Danilo. E à frente, do outro lado da mesa e também de pé, Darda e as outras 4 moças. Na mesa, os 5 diferentes pratos.
NAJARA
Muito bem.
Najara então começa a provar um pouco de cada prato... Saboreia-os por um bom tempo. Enquanto isso, Darda mantém o olhar fixo para ela.
Por fim Najara limpa a boca e as mãos e olha para as moças.
NAJARA
Já tenho minha decisão. Já sei quem será eliminada.
As moças aguardam ansiosas.
NAJARA
(apontando) Será você.
É a candidata 1, cujo trigo foi derramado no encontrão com Darda. Ao ouvir a decisão, essa pisca aliviada, mas a candidata eliminada se aflige.
NAJARA
(pegando a comida) Veja, olhe que bolo esquisito... Está todo estranho esse negócio. Claramente falta trigo na massa. Eloá, Danilo!
Eles tremem e se aproximam.
NAJARA
Vamos, provem isso. Digam-me se não está uma porcaria.
Eloá e Danilo comem e, antes mesmo de saborearem, já confirmam com a cabeça.
DANILO
Tem razão, senhora.
ELOÁ
Horrível.
NAJARA
Não estou dizendo?
CANDIDATA 1
Senhora... Sinto muito, mas... Ela... Darda... Ela esbarrou em mim, fez com que o meu trigo caísse todo no chão e se perdesse!... E eu jamais colocaria algo sujo na refeição de uma mulher como a senhora. A culpa é de Darda...
Darda olha preocupada para Najara.
NAJARA
(para a candidata) Por que então você não se desviou de Darda? Por que não prestou mais atenção e foi cuidadosa com os seus ingredientes? Darda não teve nenhuma das suas coisas jogada ao chão. Eu queria a melhor refeição. Não me interessa o processo para chegar até ela. Você está eliminada e conversa encerrada. Serva! Acompanhe essa moça. Pegue suas coisas e a leve para fora do palácio.
Acompanhada de uma serva, a moça sai dali chorando. Najara então olha sorridente para Darda e as outras 3.
NAJARA
Meus para--
Najara é interrompida por uma forte vontade de espirrar... E espirra!
NAJARA
Desculpem-me. Como eu dizia, meus--
Mas a vontade volta e Najara espirra novamente. Olha para as moças, mas espirra outra vez. E mais outra. E mais uma vez... Ela tem uma forte crise de espirros.
ELOÁ
Senhora Najara, está tudo bem?!
As moças a olham sem entender, mas Darda parece saber o que está acontecendo.
Suspeitando, Najara pega cada um dos pratos e os cheira... No penúltimo, ela parece sentir um embrulho no estômago e espirra mais e mais!
Furiosa, olha para as moças.
NAJARA
De quem é esse prato?!
Uma das candidatas, apreensiva, levanta o dedo.
CANDIDATA 2
Meu, senhora...
NAJARA
O que você colocou aqui?! Hein?!
CANDIDATA 2
Eu... Nada demais... Somente carne, vinho... Ervas...
NAJARA
Jamais, jamais eu poderia ter uma serva assim! Tão desastrada e que usa ingredientes que me causam alergia! (espirra)
CANDIDATA 2
Minha senhora... Perdão... Usei apenas os ingredientes que a senhora disponibilizou--
NAJARA
(interrompendo) Não quero saber! Você também está eliminada! Fora! Agora!!!
A moça corre dali desesperada. Eloá e Danilo, porém, olham com suspeita para Darda, que mantém o olhar baixo. Najara espirra e olha para as 3 restantes.
NAJARA
Vocês... Podem descansar. Foram aprovadas nessa etapa. (massageando o nariz avermelhado) Em breve as chamarei para falar da próxima tarefa.
As 3 fazem uma reverência com a cabeça. Najara espirra. Darda finge que nada sabe... e sai com as outras. Eloá e Danilo se entreolham.

CENA 6: INT. CASA DE DÉBORA – QUARTO – NOITE
O dia passa e a noite cai.
Lapidote ajuda Débora a arrumar o que ela vai precisar levar para a viagem.
Por um momento eles param... se olham... trocam um carinho... sorriem suavemente... e continuam.

CENA 7: INT. CASA DO AMOR – NOITE
No palco, Laís termina sua dança.
Então vira para trás para descer, mas dá de cara com Gadi.
LAÍS
Que susto!...
Gadi sorri.
LAÍS
Não o vi aí. Por que não quis ficar na frente como sempre?
GADI
Porque é da penumbra que se aprecia melhor as estrelas.
Laís gosta do elogio e seu sorriso se abre. Por estar mais alta que ele, ela pula em seu colo e os dois se agarram e se beijam ali mesmo.
Levando-a pendurada em si, Gadi vai para a escada e eles sobem se beijando afoitamente.

CENA 8: INT. CASA DE TAMAR – SALA – NOITE
Tamar e Elian jantam sentados à mesa, mas ela está de cara fechada.
ELIAN
Por que está assim, Tamar?
Ela olha para ele.
TAMAR
Ainda pergunta. Isso é vergonha! É decepção! Pelo seu desprezo com Débora. Por sua total falta de amor. Pela própria filha!
ELIAN
Você não sabe o que diz, apoiando uma insanidade dessa. Sempre foi assim: apoia Débora em tudo!
TAMAR
E você sempre foi assim, Elian: nunca teve amor por Débora. Aliás, o que poderia esperar de alguém que tentou sumir com ela quando era apenas uma bebê, não é mesmo?
Elian fica desconfortável.
ELIAN
Pare de remexer no passado.
TAMAR
Se não quer saber do passado, por que então não abandona o velho homem, o velho Elian?
Elian fica quieto, mas Tamar parece se arrepender do falou há pouco.
TAMAR
Me desculpe... Porque, na verdade... eu acredito que, com o tempo, mesmo do seu jeito torto... você aprendeu a sentir algo por sua filha. Não é possível que não.
Elian a encara.
ELIAN
Enquanto Débora for a criança imatura de sempre, que acha que pode agir como um homem, eu não mexerei um único músculo para mudar. Débora é quem tem que se adequar ao mundo, à realidade, e não eu me adequar às suas loucuras.
Tamar nada diz, mas expira frustrada.
ELIAN
Seria muito melhor se ela tivesse se casado com Éder. Lapidote é um fraco. Tenho certeza de que Débora manda nele. Faz do marido o que bem quer. Se fosse Éder, Débora seria uma boa esposa. Submissa, obediente... Não teria tempo para maquinar sandices. E já teria me dado neto, também. Mulher sem ter o que fazer pensa demais, se ilude demais, cria fantasias demais! Veja Isabel... uma esposa exemplar! Débora deveria aprender com a prima.
Tamar parece tomar um pouco de coragem.
TAMAR
Veja Isabel... Uma mulher sofrida. Deveria aprender com a prima e enfrentar as maldades do marido.
Elian se irrita.
ELIAN
Você tome cuidado, Tamar. Se embarcar nas loucuras de Débora e tentar implementar essas coisas aqui em casa, nós teremos graves problemas em nosso casamento, está entendendo?! Graves problemas!
TAMAR
(um tanto constrangida) Não... Não estou fazendo isso, Elian!
ELIAN
Pois ótimo!
Elian bebe vinho e Tamar encara o nada...

CENA 9: INT. CASA DE ADÉLIA – SALA – NOITE
Adélia traz seu prato para mesa e se senta. Laila já está jantando.
ADÉLIA
E então, irmãzinha? Pensou naquele assuntozinho que eu havia lhe comentado?
LAILA
O assuntozinho que havia me comentado ou o assuntozinho que já me comentou umas mil vezes?
Adélia sorri em tom jocoso.
LAILA
Pois então... Eu pensei sim, Adélia, e... (sorrindo) Acho que pode mesmo ser uma boa ideia.
ADÉLIA
Ai, que legal!!!
Adélia faz um carinho no rosto da irmã e quase derruba o vinho.
ADÉLIA
Desculpe...
LAILA
Rum.
ADÉLIA
Bom, mas nós precisaremos de novidades na loja. Precisamos inaugurá-la com ares de frescor! Para isso estou pensando em minha nova receita, o doce inspirado na senhora Débora. Ela vem ajudando tantas pessoas...
LAILA
Adélia, você tem é que pensar em uma receita que atraia os moços! Uma que eles comam e não queiram mais sair daqui!
Adélia arregala os olhos.
ADÉLIA
Melhor: uma receita que faça com que eles se apaixonem! Que se apaixonem por nós, Laila!
LAILA
Eu já ouvi falar de algo assim... Mas não sei se realmente existe.
ADÉLIA
Existe. Só tem que saber fazer.
LAILA
Mas e se eles comerem e não olharem para nós? E se olharem para uma outra qualquer? Vão se apaixonar por elas!
ADÉLIA
Então teremos que dar jeito de sermos vistas.
LAILA
Acho que posso conseguir isso.
ADÉLIA
Espero que tenha razão.
LAILA
Então pense nessa receita e tente agilizá-la.
ADÉLIA
Não se preocupe, pode deixar comigo. Finalmente vamos casar, irmãzinha!
As duas riem empolgadas.

CENA 10: INT. CASA DE BARAQUE – SALA – NOITE
Na cidade de Quedes, Baraque finalmente entra em sua casa. Ali na sala estão Sara, Renê e ABINOÃO (65 anos), que se levantam na mesma hora.
BARAQUE
Shalom!
SARA
Graças a Deus!
Sara corre e abraça o marido. Fica ao seu lado. Renê e Abinoão se aproximam.
RENÊ
Shalom, meu filho!
ABINOÃO
Shalom, Baraque! Finalmente!
SARA
Estávamos todos tão preocupados, meu amor...
RENÊ
O que é isso, Baraque?
Ela aponta para um pano enrolado em seu braço e manchado de sangue.
BARAQUE
Ahn, isso aqui é porque fui atacado... Por 3 saqueadores.
SARA
Meu Deus!...
RENÊ
Baraque...
BARAQUE
Eu os enfrentei... Lutei, usei minhas habilidades e os derrotei.
ABINOÃO
Os três?!
Baraque faz que sim.
ABINOÃO
Baraque, meu filho... Depois de tanto tempo, será que já não está na hora de esquecer isso tudo?
Baraque faz que não.
BARAQUE
Não, meu pai. Vou encontrar esse tesouro e mudarei de vida. Vou cuidar de Sara, dos filhos que virão... (olhando os pais) e dos senhores, também. Provarei ao senhor que eu estava certo, e que meu avô também estava.
Renê encara o filho com preocupação. Abinoão e Sara, desaprovando, fazem que não...

CENA 11: EXT. BETEL – RUAS – NOITE
A noite avança e a fria madrugada chega.
Débora e Lapidote, quietos e abraçados, estão na penumbra da rua, próximos à muralha, no ponto onde fica a passagem secreta.
DÉBORA
Jaziel já deve estar chegando...
Pouco tempo depois um som e eles veem Jaziel, Tamar e Elian chegando ali. Ao ver as coisas que Jaziel carrega e também a presença do pai, Débora franze a testa. Ela e Lapidote se soltam e olham para os recém-chegados.
DÉBORA
Eu não esperava que o senhor viria, meu pai.
ELIAN
Vim porque sua mãe me arrastou.
Apesar da fraca luz, é visível que Débora fica um tanto triste. Tamar respira fundo.
DÉBORA
Já que o senhor acha que essa é a última vez que nos veremos, então que falemos todas as verdades.
Lapidote não entende e estranha.
DÉBORA
Guardei isso durante grande parte da minha vida em respeito ao convívio entre nós, e também na esperança de um dia sermos como uma família normal. Mas parece que chegou a hora de o senhor saber que eu sei.
LAPIDOTE
Débora--
DÉBORA
(interrompendo) Eu sei que foi o senhor quem expulsou Lapidote e seu pai Misael quando eu tinha apenas 12 anos.
Elian, surpreso, se empalidece, e Lapidote olha preocupado da esposa para o sogro.
Na contida revolta de Débora, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:

No próximo capítulo: O passado vem à tona diante de Débora, Lapidote e Elian. Hanna conta a Sísera sobre seus planos na feitiçaria. E uma descoberta pode ajudar Débora em sua missão.

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