Budapeste – Hungria
Escrita e criada por: Wanderson Albuquerque
Cena 01 –
Delegacia – Sala – Int. – Dia.
Emese está
sentada na cadeira. Há uma luz amarela que comanda o local. Apesar da luz, o
ambiente ainda está escuro. A porta se abre e Konrad aparece algemado com um policial.
Konrad:
Emese. Não acredito que você veio até aqui para tripudiar de mim.
Emese: Eu
não vim te tripudiar, Konrad. Vim te oferecer ajuda
Konrad:
Ajuda? Só pode ser piada! Por qual razão você me ajudaria?
Emese: Se
você denunciar todo o grupo nazista, eu coloco todos os advogados do país a sua
disposição. Caso contrário, farei de tudo para que seja condenado à prisão
perpétua.
Close no
rosto de Konrad com pouca iluminação
Konrad:
Você só pode estar brincando com a minha cara, Emese. Jamais faria algum tipo
de parceria contigo.
Emese: Não
estou falando de parceria, mas sim, em respeito a sua mãe. Será se você não
pensa na tia Ilona e o quanto ela está sofrendo com toda essa situação?
Konrad:
Minha mãe é a única coisa que realmente me importa, mas acredito que ela esteja
melhor sem mim.
Emese: Ela
nunca vai estar bem vendo você nessa situação, Konrad. Será se você não
percebeu que esse grupo vai te deixar a beira da amargura?
Konrad:
Emese, se eu quisesse sua opinião, teria ligado para você.
Emese: Estou
sendo franca com você. Não vale a pena defender pessoas que querem te destruir.
Konrad:
Você não entende! Nunca irá entender.
Emese: Não
quero entender suas ideologias, porque pra mim, isso é crime, qualquer coisa
que fere o outro, vai contra os meus ideais. Por favor, Konrad, pensa na tia
Ilona. Eles vão te matar e você sabe disso.
Konrad: Entenda, Emese... Tudo que aconteceu comigo tem um motivo maior,
não me importo se eu passar anos na cadeia, porque sei que um dia, toda a minha
raça será a superior.
Emese: Como você ainda consegue ser tão frio mesmo vendo toda desgraça
diante da sua vida? Você diz que se importa com a tia Ilona, mas claramente não
se importa.
Konrad: Eu me importo sim!
Emese: Se importa mesmo? E por quê você resolveu fazer parte do grupo do
homem que matou a sua tia? A minha mãe!
Konrad: O quê?
Emese: Isso, Konrad, eu já sei sobre o Domokos, não é mais segredo para
ninguém.
Konrad: Como você descobriu isso?
Emese: Tive meus meios. Eu estou te dando uma chance de fazer o que é
certo pelo menos uma vez na vida.
Emese levanta-se e vai em direção a porta e Konrad fica pensativo.
Konrad: Espera... Como a minha mãe está?
Emese: Ela não está nada bem. Se fosse por mim, eu faria questão de
contratar todos os advogados para fazer você pegar prisão perpetua e pagaria
caro para te darem uma boa surra dentro da cadeia, mas estou pensando na tia
Ilona antes de tudo, era o que você deveria fazer.
Emese bate na porta e o policial abre. Konrad fica ali pensativo.
Cena 02 – Igreja de São Matias – Int. – Dia.
Há um silêncio. O eco do ambiente é de paz. Eva está sentada em um banco
da primeira fileira. Está vestida com uma roupa bege e um chapéu que possui
véu. Kimerul chega e faz uma reverência a imagem de São Matias que está no alto
do altar e senta-se ao lado de Eva
Kimerul: Acredito que tudo agora está de cabeça pra baixo, não é?
Eva: Está um verdadeiro caos. O Konrad foi preso e não sei como a Ilona
está, ela não atende as minhas ligações.
Kimerul: Sabe, Eva... Eu ainda tinha esperanças que a Anita estivesse
viva.
Eva: Eu sei. Me desculpe não ter te contado antes.
Kimerul: Mas como a Melánia conseguiu tirar o corpo da Anita de lá. Isso
pra mim ainda é inadimissivel. Eu quero o corpo da minha esposa de volta ao
lugar que era dela.
Eva: Irei conversar com a Ilona. Bom, você sabe, não é?
Kimerul: Do que você está falando?
Eva: A Melánia vai voltar e eu tenho certeza que se tudo já estava ruim,
pode ter certeza que irá piorar.
Kimerul: Você acha que o Domokos irá atrás dela?
Eva: Da Melánia? Acredito que não, mas da Emese, com certeza.
Cena 03 – Delegacia – Escritório – Int. – Dia.
Nala está nervosa, ela continua andando de um lado para outro.
Severus: Nala, você precisa ficar calma.
Nala: Severus, eu sabia! Eu tinha certeza que o próprio grupo nazista
iria querer colocar a culpa no Konrad. A mulher que fez a chacina, ela
usou o carro do Konrad, porque tinha
certeza que ele estava sendo investigado.
Severus: Nala, mas temos o Konrad em mãos. Precisamos fechar essa
investigação o quanto antes. Temos nomes concretos.
Nala (corta): Mas não temos provas, Severus! Temos o nome do Domokos,
mas apenas isso! Não temos nada que o ligue de fato aos crimes de nazismo.
Severus: O que você quer saber?
Nala: O Konrad é o único que pode nos ajudar a ter provas contra o
grupo. A Emese não conseguiu convencê-lo.
Severus: E se trouxermos a mãe dele?
Nala: Não. Eu irei interroga-lo.
Cena 04 – Gellért Hiltt – Dia.
Otávio e Frank observam a imagem de Budapeste da colina. O Sol vai se
preparando para se pôr. O tom alaranjado com amarelo toma conta do céu.
Frank: Você está bem mesmo?
Otávio: Acho que sim. Esses últimos dias tem sido difícil. Porém, ter
ido a delegacia me revigorou, é como se eu tivesse me vingado de alguma forma
de quem cometeu essa desgraça.
Frank se aproxima de Otávio. Seus rostos estão próximos. A luz do sol
paira nos rostos dos dois.
Frank: Eu sei que já falei sobre isso, mas acho que preciso reforçar
mais uma vez.
Otávio: Não estou entendendo, Frank.
Frank: Otávio, eu quero ficar com você. Quero estar ao seu lado todos os
dias. Preciso te ver assim que eu acordar, porque só de olhar pra você, eu
sinto meu mundo é mais completo. Não quero que sejamos apenas namorados, quero
dividir toda uma vida e compartilhar os bons momentos, claro, os ruins também.
Frank ajoelha-se diante de Otávio e tira uma caixinha do seu bolso e
mostra uma aliança. Algumas pessoas ao redor olham e sorriem. A música “Need
You Now – Lady A” começa a tocar durante a cena.
Otávio (envergonhado): Frank, o que é isso? Está todo mundo olhando
(risos)
Frank: Otávio, se você permitir, farei com que seja o homem mais feliz
do mundo. Quero que tenhamos uma vida calma e boa e não quero estar longe de
você um minuto se quer. Otávio, quer casar comigo?
As pessoas gritam em coro “Aceita”.
Otávio: Frank, é claro que eu aceito. Não tem outra resposta, além de
sim.
Frank levanta-se e beija Otávio. As pessoas ao redor comemoram e gritam.
ANOITECE EM BUDAPESTE
Cena 05 – Angyal Alimentos – Presidência – Int. – Noite.
Emese pega sua bolsa e se prepara para sair, quando András entra na
sala.
András: Já estava se preparando para ir embora?
Emese: Na verdade, sim. Eu estava querendo passar no jornal, estou precisando
falar com o Zóltar.
András: Ótimo! Era sobre isso que eu queria falar.
Emese: Sobre o Zóltar? Então podemos conversar, enquanto tomamos um
café.
András assente e os dois saem da sala.
Cena 06 – Cafeteria – Int. – Noite.
Emese e András estão sentados tomando seus cafés.
András: O Zóltar me contou que o Domokos foi preso, porque seus pais
descobriram o desvio de dinheiro na Angyal Alimentos.
Emese: Esse cara sempre foi um verdadeiro canalha, incrível como ele
consegue emanar tudo de ruim.
András: O pior, Emese. É que eu tenho certeza que esse dinheiro ainda
está com ele. Se conseguirmos provar que o dinheiro foi desviado, podemos pedir
para que a delegada reabra o caso. Porque na época ele foi preso, mas foi
solto.
Emese: Claro! Se pegarmos as provas, conseguimos. Podemos conseguir com
a contabilidade.
András: Eu acho que seria interessante se conseguíssemos o livro caixa
do período.
Emese: Tenho certeza que temos. O Gabor sempre guardou todos os
documentos da empresa.
András: Emese, se conseguirmos o livro caixa, podemos pedir a reabertura
do caso imediatamente e coloca-lo na cadeia. Sei que não é muito, mas por ora,
conseguiremos um bom tempo.
Emese: Exatamente. Amanhã irei verificar todos os documentos.
Cena 07 – Avenida – Noite
Música: Iris – The Goo Goo Dolls
A música mostra uma visão da noite noturna de Budapeste. Diversos pontos
são mostrados. As luzes dos carros se completam com as luzes dos postes.
Pessoas correm em sua corrida habitual. O asfalto está molhado
Cena 08 – Avenida – Noite
Lorenzo está de capuz, está vestido com um casaco cinza e uma calça
jeans. Ele está embaixo de um post de luz. Um homem se aproxima dele e ambos se
cumprimentam.
Lorenzo: Achei que não fosse vir.
Salvatore: Pensei muito, mas acabei vindo.
Lorenzo: Sei que você não gosta de mim, mas eu não pediria sua ajuda se
não fosse realmente necessário.
Salvatore: Entendo. E qual o assunto?
Lorenzo: Preciso que você me fale sobre o Domokos.
Salvatore parece tremer ao ouvir o nome de Domokos.
Salvatore: Melhor conversarmos em outro lugar.
Lorenzo assente e ambos saem.
Cena 09 – Delegacia – Sela. – Int.
Konrad está deitado em sua beliche. Chaves são ouvidas do lado de fora.
Nala aparece.
Konrad: Veio zombar de mim, delegada?
Nala: Acho que você ainda não entendeu o quão grave é a sua situação,
não é Konrad? Você irá ser sentenciado por crimes como: nazismo, estupro,
tortura, homicídio e atentado terrorista, porque farei você cumprir pena sob a
acusação da chacina que você fez na Fame Magazine.
Konrad tem um rompante e levanta-se.
Konrad: Chacina? Você não pode me culpar por algo que eu não fiz.
Nala: Como não, Konrad? O seu carro estava na cena do crime, o que nos
leva a crer que era você, o assassino
Konrad: Ficou maluca? Não fui eu!
Nala: Não é o que as provas dizem.
Konrad (p/si): Barbara...
Nala: E, então? Ainda tem certeza que vai querer assumir a culpa por
todos esses e outros crimes? Konrad, a sua ficha criminal é a maior que eu já
vi.
Konrad: Não fui eu quem fez a chacina.
Nala: Aposto que não foi você também que matou e torturou o jovem Luca
Abudahlli, não é?
Konrad: Quem?
Nala: Sua resposta diz muito sobre, Konrad. Se você acha mesmo que o
grupo vai te salvar, está enganado. Vou te dar proteção, caso precise, mas não
ache que estou fazendo isso, porque merece, pelo contrário, tenho asco por
você, por tudo que representa e pela barbárie que fez com aquela garçonete.
Konrad: Chame minha mãe, por favor. O mais rápido possível.
Nala assente e sai.
Cena 10 – Rua Qualquer – Noite.
Lorenzo e Salvatore caminham vagarosamente, eles se aproximam de um muro
que está pichado.
Salvatore: Como você sabe sobre o Domokos?
Lorenzo: Digamos que ele tem atormentado a minha família e eu preciso
fazer com que ele pare o mais rápido possível. Eu sei que você deve saber de
alguma coisa.
Salvatore: Cara, falar sobre esse homem é perigoso. Só de citar o nome
dele me causa arrepios.
Lorenzo: Então, preciso que você me ajude a prendê-lo, caso contrário,
ele vai continuar tocando o terror sempre.
Salvatore: Olha, você sabe, nossa comunidade italiana aqui em Budapeste
é grande, mas todo mundo se conhece, até mesmo fora da cidade. O que eu ouvir
nos últimos dias, é que o Domokos fez questão de cortar a cabeça do cavalo
favorito do Nozorine e colocou no quarto dele.
Lorenzo: O Nozorine? O produtor de queijo?
Salvatore: O próprio. Ele está morando no norte do país. O Domokos tem
uma fazenda em Salgótarján.
Lorenzo: É possível descobrir?
Salvatore: Lorenzo, não quero fazer isso. Já te dei muita informação.
Contei apenas, porque tenho carinho e respeito por sua mamma e tudo que ela fez
por mim e meus irmãos.
Lorenzo: Não quero que se envolva nisso, tenha certeza disso, mas
preciso saber de mais! Esse cara não vai parar até matar todos da família
Angyal.
Salvatore: Escuta, o Domokos traz armas para a Hungria fornecidas de um
grupo terrorista do Afeganistão. Essas armas chegam no porto de Budapeste toda
semana por volta das 3 da manhã.
Lorenzo: Quando é o próximo dia?
Salvatore: Amanhã.
Close no rosto de Lorenzo
Cena 11 – Hotel – Saguão – Int. – Noite.
Domokos está tomando seu vinho. Gizzela senta-se ao seu lado.
Gizzela: Já vi que você está nervoso, tomando vinho três vezes só essa
semana.
Domokos: Nunca é demais para aproveitar um bom vinho.
Gizzela: A volta da Melánia está te incomodando, não é?
Domokos: Ela pode voltar a qualquer momento, se ela tiver coragem mesmo
de me enfrentar, será um páreo duro. A Melánia nunca gostou de perder.
Gizzela: Por qual razão ela só voltou agora?
Domokos: Não está percebendo, Gizzela? Tudo está se encaminhando para
uma verdadeira catástrofe para nós, mas é claro que se eu cair, irei levar
alguns comigo, especialmente a vadia da Emese.
Gizzela: Por que não fugimos? A gente pode ir para os Estados Unidos,
afinal, lá temos pessoas que são iguais a nós.
Domokos: Jamais, Gizzela. Se eu lidei com uma Angyal antes, posso lidar
com duas. Vou matá-las, não duvide disso.
Domokos volta a beber o seu vinho e Gizzela fica com uma feição
preocupada.
Cena 12 – Casa de Barbara – Quarto – Int. – Noite.
Barbara está deitada em sua cama. Ela está com um olhar vazio, fixando
no ventilador no teto do quarto. Não há barulho, apenas um som distante de
carros passando na rua. Ela é tomada por lembranças.
FLASHBACK ON
Barbara e Miklós estão deitados na cama. A Vilã está com sua cabeça no
peito dele que faz um carinho em sua cabeça.
Miklós: Já pensou em desistir de tudo isso?
Barbara: Como assim? Do grupo?
Miklós: Sim... Sabe, viver sem essas preocupações. Não consigo imaginar
que tudo possa ser realmente do jeito que a gente pensa.
Barbara: Miklós... Você sabe que não posso abandonar o grupo. Tenho uma
divida eterna com o Domokos e a Gizzela por terem me acolhido.
Miklós: Mas essa dívida já passou, Barbara. Estamos fazendo algo que
jamais pode ser concreto.
Barbara: Aonde você quer chegar com essa conversa, Miklós?
Miklós: Eu estou dizendo que eu quero me casar com você, quero sair
disso tudo. A gente pode viver em uma cidadezinha na Suíça. Mudamos de nome,
não tem problema.
Barbara retira a cabeça do peito de Miklós. Ela olha ele fixamente e o
beija intensamente.
FLASHBACK OFF.
Close no rosto de Barbara. Ela sente-se insegura neste momento. Ela
respira fortemente e uma lágrima sai do seu rosto.
Cena 13 – Mansão Angyal – Sala – Int. – Noite.
Emese abre a porta e põe a sua chave em um móvel no hall de entrada. Ela
se depara com Sebestyénne que está preparando a sala com algumas flores. Emese
sente um cheiro de comida muito forte.
Emese: Nossa, o cheiro do jantar está delicioso.
Sebestyénne: Fiz um jantar especial. Pedi para que as cozinheiras
fizessem Carpaccio de Fillet, além de um bacalhau português que está divino.
Emese: Olha só, há tempos eu não vejo algo tão elaborado por aqui. Qual
a razão para esse jantar?
Sebestyénne: Não estou entendendo, Emese.
Emese: Quem não está entendendo sou eu, Sebestyénne.
Sebestyénne: O jantar é para comemorar a volta da sua mãe. A Ilona não
te avisou que a Melánia chegaria hoje? Ela foi buscar a sua mãe no aeroporto.
Emese congela e fica ofegante.
Cena 14 – Aeroporto de Budapeste – Int. – Noite.
Há um movimento intenso no aeroporto. Pessoas caminham com suas malas.
Ilona está sentada em pé esperando. Melánia surge carregando sua mala, elas se
encontram nos olhares e partem para um abraço.
Ilona (chorando): Minha irmã, não acredito que você veio mesmo.
Melánia: Eu não poderia deixar que o Domokos machucasse a Emese.
Ilona: Chegou a hora!
Melánia: A partir de hoje, começa a ruína dos filhos da puta.
Close no rosto de Melánia.
A História não tem conexão real com a realidade. O
preconceito e o ódio jamais deverão ser aceitos em qualquer sociedade! Apologia
ao Nazismo no Brasil é crime previsto no art. 20, da Lei nº 7.716/89 do Código
Penal, que define os crimes resultantes de preconceito de
raça ou de cor.
DENUNCIE!
Fim
do Capítulo 26
Obrigado pelo seu comentário!