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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 10

 




Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
RAIMUNDA
MOISÉS
MACIEL
RATO
CÁSSIA
MAURÍCIO
BEATRIZ
JORGE
ROSENO
KALEB
VALDOMIRO
OSVALDO 


Participação Especial:
GARÇOM, TAXISTA

aCENA 01/ INT/ RESTAURANTE/ NOITE

A iluminação suave do restaurante cria um clima romântico enquanto Jorge e Beatriz se sentam à mesa. Jorge parece um pouco nervoso, mas feliz por ter Beatriz ali com ele. Ele mexe as mãos sobre o colo, demonstrando sua ansiedade. 

JORGE

(sorrindo timidamente enquanto falava)

- Este é um dos melhores restaurantes que conheço... Assim, não costumo frequentar lugares chiques, né? Mas acho esse aqui bem massa.

 

Jorge olha para Beatriz, buscando uma resposta ou algum sinal de tranquilidade. Beatriz apoia o queixo em uma mão e sorri gentilmente para ele, transmitindo calma e encorajamento. Jorge levanta uma mão discretamente para chamar a atenção do garçom.

 

JORGE

(chamando)

- Garçom!

 

O garçom se aproxima prontamente, mantendo uma postura ereta aguardando o pedido.

 

GARÇOM

- Pois não?

JORGE

- O cardápio, por gentileza!

 

O garçom entrega o cardápio a Jorge. Ele folhea, examinando as opções com interesse. Enquanto isso, Beatriz cruza os braços e observa Jorge, sorrindo divertida.

 

GARÇOM

- Gostaria de fazer o pedido das bebidas agora?

 

Jorge olha para Beatriz, levantando uma sobrancelha e inclinando a cabeça ligeiramente em busca de sua opinião.

 

JORGE

- Vinho! Acho que vinho é uma bebida chique, né? Ou cê prefere champanhe?

 

Beatriz ri suavemente, colocando uma mão sobre o peito em um gesto descontraído.

 

BEATRIZ

- Eu prefiro chopp!

 

Ela se vira para o garçom e faz um gesto com a mão aberta, representando a torre de chopp.

 

BEATRIZ

- Nos traz, por favor, uma torre de chopp. Cês têm a torre aqui, né mesmo?

GARÇOM

- Sim, temos.

 

O garçom assente com um sorriso e anota o pedido. Jorge fica boquiaberto com o pedido de Beatriz, arregalando os olhos levemente.

 

GARÇOM

- Uma torre de chopp, então. Já vou trazer. Fiquem a vontade. Com licença.

 

O garçom se afasta da mesa. Jorge olha para Beatriz com admiração e surpresa.

 

JORGE

- Chopp? Oxente, pensei que não gostasse de cerveja.

BEATRIZ

(rindo)

- E por que achou isso? Cê me chamou pra a gente se divertir, né mesmo? Vamos beber, encher a cara e esquecer um pouco os nossos problemas. Acho que vou até deixar meu carro aqui e voltar pra casa de táxi.

 

Jorge ri junto com Beatriz, mostrando que está se divertindo com a ideia.

 

JORGE

- Nossa, tô surpreso, viu? Como queira então, doutora.

 

O garçom traz a torre de chopp, coloca sobre a mesa com cuidado. Ele enche os copos de Jorge e Beatriz. Jorge pega o copo de chopp, observa com curiosidade. Seus olhos brilharam de animação. Beatriz levanta o copo de chopp em um brinde, sorrindo para Jorge e esperando que ele fizesse o mesmo. Jorge, agora sorridente, ergue seu copo e brinda com Beatriz, batendo suavemente o copo no dela. Jorge e Beatriz conversam animadamente, gesticulando com as mãos enquanto discutem as opções do cardápio.

 

CENA 02/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ NOITE

Moisés caminha inquieto pela sala, com o olhar perdido. Seus passos são agitados, demonstrando sua preocupação. Raimunda está sentada no sofá, com os olhos fixos em sua bíblia aberta sobre o colo. Ela observa o marido com atenção, levantando o olhar ocasionalmente para acompanhá-lo, mas logo volta a concentrar-se em sua leitura.

 

MOISÉS

- Laura tá escorregando feito quiabo. Passei no Central hoje cedo, mas não a vi. Nem sei se ela continua indo pro colégio. Pensei em passar na loja daquela mulher, aquela... Enfim. Mas eu tinha uns compromissos dentro da igreja, não tive tempo.

 

Raimunda levanta a cabeça e olha para Moisés com uma expressão de desdém, seus lábios apertados e os olhos semicerrados.

 

RAIMUNDA

- Esquece Laura, Moisés. Não adianta ficar implicando com a menina, ela escolheu o jeito torto dela viver. O que nos resta é orar e esperar que Deus toque no coração dela e a traz de volta.

 

Moisés franze a testa e se aproxima de Raimunda, olhando-a com intensidade, buscando entender suas palavras.

 

MOISÉS

- O que tá acontecendo mulher, me diga? Não tô lhe entendendo, viu? De uns tempos pra cá tô lhe achando muito conformada. Antes vivia se lamentando pela sua filha não tá mais em casa, agora parece que simplesmente aceitou.

RAIMUNDA
- Não é questão de ter aceitado, não. Porém do que adianta eu ter brigado? O que não aguento mais é essa confusão. Será que não percebe? Cês são pai e filha, tem que viver em paz.

 

Raimunda responde com uma voz cansada, suas mãos repousa sobre a bíblia em seu colo. Moisés se afasta de Raimunda, agitado, passando as mãos pelos cabelos em um gesto de frustração.

 

MOISÉS

- O que há com você mulher virtuosa? Por acaso tá me escondendo alguma coisa? Tô lhe achando muita estranha, viu?

 

Raimunda fica visivelmente abalada com a acusação de Moisés. Ela levanta a cabeça, com os olhos marejados, e responde com firmeza.

 

RAIMUNDA

- Oxe que isso? Por que fale assim comigo, varão? Não lhe escondo nada não, viu?

 

Moisés se aproxima novamente de Raimunda, apontando o dedo para ela.

 

MOISÉS

(com convicção)

- Acho bom, pois cê conhece bem a palavra do Senhor. A mulher virtuosa é a coroa do seu marido; porém a que procede vergonhosamente é como apodrecimento nos seus ossos. Tá aí na palavra, não sou eu que tô dizendo.

 

Raimunda olha para Moisés, desapontada, e balança a cabeça negativamente. Ela pega sua bíblia e retoma sua leitura, buscando consolo nas palavras sagradas, enquanto Moisés fica em silêncio, pensativo.


CENA 03/ EXT/ RUA/FRENTE AO PRÉDIO DO APT DA BEATRIZ/ NOITE

Beatriz e Jorge saem do táxi, um pouco embriagados, mas ainda mantendo o equilíbrio. Beatriz, impulsionada pela empolgação, abre a porta do táxi e salta para fora com entusiasmo. Ela segura seus sapatos nas mãos e os calça assim que sai do carro. Jorge sai logo atrás dela, com um sorriso divertido no rosto. Os dois se posicionam ao lado do táxi, continuando sua conversa animada.

 

BEATRIZ

(rindo)

- Vale-me meu Deus, acho que bebi demais!

JORGE

(também rindo)

- Pois é, né? Mulher não tem costumo de beber,e cê acabou exagerando.

 

Beatriz franze a testa, mostrando-se incomodada com o comentário de Jorge.

 

BEATRIZ

- Mulher não tem costume de beber? Não estrague nossa noite com seu machismo.

JORGE

- Não tô sendo machista não, ué. Mas é que homem é diferente de mulher, né?

BEATRIZ

(seriamente)

- Não meu amor, homens e mulheres são iguais. Já passou da hora de cê aprender isso.

(mudando de assunto)

- Mas venha cá, nossa noite não precisa acabar agora. Que cê acha da gente dispensar o táxi, e subir pro meu apartamento? Tenho cerveja na geladeira.

JORGE

(animado)

- Aí é massa, né? Ideia excelente.

 

Beatriz e Jorge se aproximam do taxista, que aguarda pacientemente ao dentro do carro. Beatriz retira sua bolsa e começa a procurar pela carteira. Jorge observa a cena com uma expressão hesitante, já prevendo o que estava por vir.

 

BEATRIZ

(sorrindo)

- Boa noite, senhor. Quanto ficou a corrida?

TAXISTA

- São 30 reais, senhora.

 

Beatriz pega algumas notas de dinheiro de sua carteira, contando-as com cuidado. Ela olha para Jorge com um olhar divertido, desafiando-o de forma amigável.

 

 

BEATRIZ

- Vamos dividir a conta, certo?

 

Jorge, tira sua carteira do bolso e rapidamente pega uma nota de 50 reais.

 

JORGE

- Oxe, mas que isso? Deixa que eu pago, não precisa se preocupar. Imagina, já basta no restaurante que cê insistiu em pagar a conta. Pode descontar daí meu senhor.

 

Beatriz decide não insistir no assunto. Ela guarda sua carteira e sorri para o taxista. O taxista devolve o troco de Jorge.

 

BEATRIZ

- Muito obrigada, senhor. Tenha uma ótima noite!

TAXISTA

- Igualmente, senhora. Divirtam-se!

 

 

Beatriz e Jorge se afastam do táxi, caminhando em direção ao prédio onde Beatriz mora. Ela segura o braço de Jorge, mantendo um ritmo animado enquanto se aproximam do edifício.

 

CENA 04/ INT/ APT DA BEATRIZ/ QUARTO/ NOITE

Os dois vão entrando e se beijando. Ele tira a camisa dele, depois tira a blusa dela, deixando-a só de calcinha sutiã. Eles beijam ardentemente, ele beija o pescoço dela. Ele pega Beatriz no colo e ela entrelaça as pernas na cintura dele. Os dois continuam se beijando ardentemente, ela passa as unhas pelas as costas dele. Em seguida eles estão deitados. Jorge beija a barriga dela e tira sua calcinha. Rosto de Beatriz de olhos fechados e boca aberta de prazer. Jorge vai subindo beijando o corpo dela, passando por entre os seios e subindo até chegar a boca. Eles transam com Jorge por cima dela, enquanto lhe beija a boca. Ela está com a perna flexionada, e ele alisa sua perna enquanto faz movimentos vai e vem com a cintura. Os dois se beijam de olhos fechados.




CENA 05/ EXT/ PLANO GERAL

A cena começa à noite com luzes da cidade e agitação. Barcos na Baía de Todos os Santos e o Pelourinho iluminado. A cena escurece gradualmente para a noite. Então, amanhece com o sol tingindo o céu de tons quentes. A cidade acorda, pessoas caminham, edifícios históricos e praias ganham vida sob a luz do dia.

 

CENA 06/ INT/ LOJA DE QUEIJO/ DEPÓSITO/ DIA

A loja está vazia, exceto por Rato e Valdomiro, que estão no depósito da loja, cercados por caixas e sacos de queijo. Rato está visivelmente animado, dando pulinhos de excitação enquanto segura seu telefone.

 

RATO

(comemorando)

- Estamos ricos, estamos ricos!

 

Valdomiro curioso com a empolgação de Rato se aproxima, preocupado com a possibilidade de que algo poderia dar errado.

 

VALDOMIRO

- Te acalme Rato! Diga aí, que aconteceu? Deu tudo certo?

 

Rato, ainda segurando o telefone começa a explicar, com um sorriso estampado no rosto.

 

RATO

- Ora se não! Deu tudo certo, tudo certinho Seu Valdomiro. A carga chegou em perfeito estado em seu destino. Passaram pela fronteira tranquilamente. Como o senhor mesmo disse, só olharam a nota fiscal e pronto.

 

Valdomiro relaxa um pouco, mas ainda estava cético.

 

VALDOMIRO

- Tem certeza que não houve nenhum problema? Ninguém suspeitou de nada?

RATO

(comemorando)

- Oxe homem, se tô dizendo! Foi tudo muito tranquilo. Agora só esperar e logo logo a grana vai tá na nossa mão.

VALDOMIRO

(sorrindo com satisfação)

- Ótimo trabalho, viu Rato? Mas não podemos relaxar agora. Temos que produzir, o outro caminhão tem que sair o mais depressa possível.

 

Rato já está discando o telefone e falando rapidamente.

 

RATO

- Já vou ligar aqui para Maciel que ele tem que vir pra cá urgente.

 

CENA 07/ INT/ APT DA BEATRIZ/ DIA

Beatriz abre os olhos lentamente, percebendo que já era de manhã. Seu rosto se ilumina ao ver a luz do sol invadindo o quarto, mas logo seu semblante se transforma em puro espanto ao olhar para o relógio e constatar que está atrasada. Ela se levanta num pulo repentino. Ao olhar para o lado, depara-se com Jorge ainda dormindo tranquilamente do outro lado da cama. Um misto de surpresa e confusão a invade, e ela puxa o lençol para se cobrir, como se isso pudesse apagar a realidade.

 

BEATRIZ

(gritando)

- AAAhhh!

 

Jorge vai despertado bruscamente pelos gritos de Beatriz, senta-se na cama de supetão e olha para ela, igualmente assustado.

 

JORGE

- AAAhhh!

BEATRIZ

- Mas que diabos cê tá fazendo aqui?

JORGE

(passando a mão pelo o rosto)

- Oxente, cê tá louca é? Não se lembra do que aconteceu ontem?

BEATRIZ

(colocando a mão na cabeça)

- Ai, minha cabeça. Acho que exagerei no chopp.

 

Beatriz se dá conta da hora, e joga as roupas de Jorge em cima dele, instigando-o a se arrumar rapidamente.

 

BEATRIZ

- Ande, ande, não temos tempo a perder!

JORGE

- Te acalme, mulher! Ainda tá cedo.

(fazendo manha)

- Essa noite foi tão perfeita, viu? Não quero que ela termine assim. Deite aqui vá, vamo aproveitar mais um tiquinho.

BEATRIZ

(irritada)

- Como aproveitar, criatura? Não viaja! 

(dando ordem)

- Dez minutos pro cê se vestir. É o tempo do meu banho, viu?

 

Beatriz vai para o banheiro, mas Jorge a segue.

 

JORGE

- E eu? Também quero banhar.

 

Ela o olha de cima a baixo, com um misto de desejo e reprovação.

 

BEATRIZ

- Cê vai tomar banho lá naquela sua oficina, seu indecente, seu imoral...

(mordendo os lábios inferiores)

- Seu gostoso.

 

Jorge se aproxima de Beatriz e a abraça com um sorriso malicioso, deixando-a sem palavras. Ele vai falando enquanto beija o pescoço dela, fazendo-a fechar os olhos e jogar a cabeça para trás. Chega perto do ouvido de Beatriz e sussurra provocativamente.

 

JORGE

- Podemos banhar juntos. Que cê acha?

BEATRIZ

(olhando bem nos olhos de Jorge)

- Banhar? Comigo?

(empurrando-o)

- Never, baby!

 

Beatriz fecha a porta do banheiro, deixando Jorge do lado de fora.

 

JORGE

(falando para a porta)

- É barril, viu?  Que mulher cruel!

 

CENA 08/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA

Maurício entra na clínica e observa ao redor, seus olhos varrem a recepção antes de se aproximar do balcão onde Jana e Cássia estão digitando em seus computadores.

 

MAURÍCIO

- Bom dia, meninas! A Beatriz ainda não chegou?

JANA

- Ainda não, doutor.

MAURÍCIO

- Mas aconteceu alguma coisa? Ela avisou o porquê do atraso?

JANA

(balançando a cabeça)

- Pra mim ela não falou nada.

CÁSSIA

- E nem pra mim!

 

Maurício suspira e uma sombra de tristeza passa por seus olhos. Ele olha para a flor em cima do balcão.

 

MAURÍCIO
- A noite deve ter sido boa, como sempre. Gostei da flor que cês colocaram aqui.

 

Ele se afasta, dirigindo-se ao consultório, mas lembra-se de algo.

 

MAURÍCIO

- Ah! Depois quero dá uma olhada em minha agenda, viu Cássia?

CÁSSIA

- Sim, senhor!

 

As duas trocam um olhar cúmplice assim que Maurício deixa a recepção.

 

CÁSSIA

- Olhe, ou ele tá sendo bem irônico, ou não foi ele que deu essa flor para Dra. Beatriz.

JANA

- Se foi ele ou não, não sei. Agora uma coisa é certa, viu Cássia? Ele tá com uma baita dor de cotovelo por conta da doutora. Vou lhe falar, viu menina?

CÁSSIA

- Agora nem consegue mais disfarçar.

 

Jana sorri e volta a digitar em seu computador.

 

CENA 09/INT/ CASA DO MACIEL/ QUARTO/ DIA

Maciel está sentado na cama, olhando fixamente para a maleta aberta, com as fotografias das moças que estuprou. Ele toca delicadamente nas imagens e nas mexas de cabelo, sentindo prazer em vê-las. De repente, Laura chega e vai entrando no quarto. 

 

LAURA

(off)

- Maciel? Meu amor, cê tá em casa? 

 

Maciel, ao ouvir a voz de Laura, fica visivelmente nervoso e rapidamente esconde as fotografias na maleta.

 

LAURA

(entrando no quarto)

- Oxe! Mas que maleta é essa, Maciel?

MACIEL

(nervoso)

– Oi, minha linda! Cê chegou cedo. O que aconteceu?

LAURA

(ainda com olhar curioso)

– Pois é alguns professores faltaram, dispensou a nossa turma. Mas me diga aí, que cê guarda nessa maleta? Cê ficou nervoso quando eu entrei.

 

Maciel sente seu coração disparar e um suor frio percorrer sua testa. Ele tenta disfarçar sua agitação, forçando um sorriso.

 

MACIEL

– Oxe Laura, que isso? Fiquei nervoso não. É que tu foi entrando assim de repente, né mesmo? Aí me assustou.

LAURA

(desconfiada)

- Cê ficou muito estranho ao me ver, viu?... Mas não me respondeu. Que cê tanto guarda nessa maleta?

 

Maciel para por um instante, respira fundo e prossegue.

 

MACIEL

– Olhe Laura, cê vai me prometer que nunca vai chegar perto dessa maleta, ouviu bem?

LAURA

– Mas por quê isso, hein Maciel? Não tô entendendo.

 

 

Maciel tenta controlar sua ansiedade e decide inventar uma desculpa convincente. Ele tranca a maleta com cuidado e a coloca no chão, ao lado da cama.

 

MACIEL

– Aqui dentro tem umas coisas muito íntimas minhas. Sabe? Coisas de minha infância que nunca superei. Oh minha linda, cê me ver assim durão, mas tu não tem ideia da fragilidade que carrego dentro de mim, viu?... Quando eu era criança passei por alguns traumas que nunca conseguir superar. Um dia se cê quiser eu lhe conto. Mas ainda não me sinto preparado pra isso nesse momento, viu? Laura, cê vai me prometer que nunca vai chegar perto dessa maleta. Cê promete?

 

Laura percebe a tensão nos olhos de Maciel e sente-se intrigada. Ela se aproxima da maleta e acaricia a superfície, pensativa.

 

LAURA

– Não tô lhe entendendo, Maciel. Porque isso agora, hein?

 

Maciel segura a mão de Laura e a olha intensamente, buscando transmitir sinceridade e vulnerabilidade.

 

MACIEL

– Laura, escute bem. Cê precisa me prometer que nunca vai mexer nessa maleta. Tem coisas aqui dentro que são bobagens, viu? Mas que significam muito pra mim. Por favor, minha linda, promete que nunca mexerá aqui?

 

Laura sente um misto de curiosidade e preocupação. Ela olha nos olhos de Maciel e compreende que aquele pedido era importante para ele.

 

LAURA

– Cê é tão cheio de mistérios, Maciel. Isso às vezes me assusta.

MACIEL

– Sei bem disso, meu bem. Minha vida é uma loucura, só faço merda atrás de merda, né? Mas as coisas aos tiquinho tão se alinhando, não tão?

 

Maciel suspira e aperta a mão de Laura, agradecido por sua compreensão.

 

MACIEL

 - E lhe ter aqui comigo me faz forte. Tudo o que mais quero é que a gente fique sempre assim juntinhos. Me promete por tudo que é sagrado que tu nunca vai chegar perto dessa maleta? Isso é muito importante. Cê promete Laura que nunca vai chegar perto dessa maleta?

 

Laura olha nos olhos de Maciel, sentindo a profundidade do seu pedido. Ela sabia que aquele gesto era uma demonstração de confiança e quebrar essa promessa poderia abalar a relação deles.

LAURA

– Tudo bem... Eu... Eu prometo. Se isso é tão importante pro cê.

MACIEL

– Cada dia que passa eu lhe amo ainda mais, sabia? Tu é uma garota incrível.

(com orgulho)

- Minha mulher!

 

Maciel sorri, aliviado, e puxa Laura para um abraço apertado. Com delicadeza, acaricia o rosto da garota com uma mão, enquanto a outra desliza pelas suas costas, num gesto de carinho e proteção. Laura corresponde ao abraço, sentindo-se envolvida e segura nos braços de Maciel. O beijo que se segue foi cheio de paixão e emoção.

 

CENA 10/ INT/ OFICINA DO JORGE/ DIA

Jorge estaciona seu carro em frente à oficina, desliga o motor e sai do veículo, ainda cantarolando a música animada que ouvira no rádio. Com um sorriso estampado no rosto, caminha em direção à porta da oficina e a abre, revelando seu entusiasmo contagiante.

 

JORGE

- Bom dia!

 

Jorge adentrou a oficina e avista Roseno ocupado arrumando suas ferramentas, limpando cada uma delas com um pano e organizando tudo dentro da caixa. Aproxima-se por trás e surpreende Roseno com um beijo estalado no rosto.

JORGE

- Bom dia meu amigo!

 

Roseno, levemente surpreso, empurra Jorge e limpa o local que recebeu o beijo.

 

ROSENO

- Lá ele! Sai fora, nego véi! Oxe, e posso saber o motivo de tanta alegria?

 

Jorge solta uma risada diante da reação engraçada de Roseno, apoiando-se em uma das bancadas da oficina.

 

JORGE

- Eu passei a noite todinha com ela, Roseno.

(encolhendo os braços simulando um abraço apertado)

- Dormimos juntinhos.

(abrindo os braços de alegria)

- Melhor noite da minha vida, viu? Aquela mulher me levou a loucura. Não sabe?

 

Roseno franze a boca e levanta os braços, demonstrando não entender de quem Jorge está falando.

 

ROSENO

- De que mulher cê está falando, meu brother?

JORGE

- Como “de que mulher”? Da Dr. Beatriz, é claro. Ontem saímos, fomos a um restaurante e bebemos... Aliás, bebemos muito, viu? Depois fomos pro apartamento dela, e o resto prefiro deixar em off.

 

Roseno solta um assobio admirado, balançando a cabeça em sinal de aprovação.

 

ROSENO

- Rapaz, então aquela história de entregar uma flor por dia funcionou, foi? Vou aderir essa técnica.

JORGE

- É isso aí meu caro Roseno.

(dando uma piscadela)

- Aprende com o painho aqui, viu?

 

 

CENA 11/ INT/ CLINICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ TARDE

Giovana se aproxima da recepção da clínica, e é recebida por Cássia.

 

CÁSSIA

- Oi, Giovana! Jana foi ao banheiro, mas já volta.

GIOVANA

- Vá bem, vou esperar aqui ela aqui.

 

Giovana assente e decidiu esperar ali, enquanto Cássia voltou a cuidar de seu serviço. Enquanto espera, Giovana começa a olhar as revistas na mesa de centro, tentando distrair-se. Pouco tempo depois, Jana retorna do banheiro e cumprimenta Giovana.

 

JANA

- Oi, Gih!

GIOVANA

- Vamos?

JANA

- Ah, Giovana, não sei se tenho coragem pra isso. E se ele me reconhecer?

 

Giovana olha para Jana, compreendendo seus medos, mas enfatiza a importância da ação.

 

GIOVANA

- Jana, precisamos aproveitar o apoio dessas outras mulheres.  Cê não tá sozinha nessa não, mana. Temos que agir rápido e fazer a denúncia, para que esse monstro seja preso. Cê não quer que ele continue fazendo isso com outras mulheres, quer?

JANA

(hesitante)

- Oxe, mas claro que não. Mas é que... Não sei!

CÁSSIA

- Jana, sua irmã tá certa, viu? Cê não pode deixar isso simplesmente passar. Aproveita a coragem dessas outras mulheres e se junta a elas. Cê tem que fazer a sua parte e ajudar a colocar esse cara na cadeia.

 

Jana fica com os olhos marejados, expressando sua tristeza e vulnerabilidade diante da situação.

 

JANA

- Olhe, é triste, viu? Ter que reviver tudo isso novamente. Nunca me senti tão desamparada, tão suja como naquele dia.

 

Giovana se aproxima de Jana e coloca a mão em seu ombro.

 

GIOVANA

- Mas cê agora não tá mais sozinha, meu amor. Estamos todas juntas, né?

 

Jana e Giovana dão um abraço caloroso.

 

 GIOVANA

 - Vamos logo, não podemos perder tempo.

 

Determinadas, as duas deixam a recepção da clínica e se dirigiram à delegacia.

 

CENA 12/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DA BEATRIZ/ TARDE

Beatriz está sentada à sua mesa, com uma expressão concentrada no rosto, revisando alguns relatórios. Ela está imersa em suas responsabilidades quando Maurício entra na sala. Ao perceber a presença de Maurício, Beatriz levanta o olhar e um leve sorriso surge em seus lábios, demonstrando uma mistura de surpresa e curiosidade.

 

BEATRIZ

- Maurício, tudo bem? Precisa de algo?

 

Maurício está ansioso, e isso era evidente em seus gestos inquietos. Ele se aproxima da mesa de Beatriz, com uma expressão um tanto desconcertada. Maurício hesita por um momento, como se buscasse as palavras certas antes de falar.

 

MAURÍCIO

- Desculpe ter entrado assim, sem bater, viu?

BEATRIZ

(curiosa)

- Tudo bem, sem problema nenhum. Sente-se. Agora me diga, o que houve?

 

Maurício respira fundo, buscando coragem para expor seus sentimentos. Ele se acomodou na cadeira, um tanto desconfortável, enquanto suas mãos inquietas brincavam nervosamente uma com a outra.

 

MAURÍCIO

- Eu... Bem... Sabe o que é Beatriz? Queria conversar com cê sobre algo pessoal. Eu notei que cê chegou tarde aqui na clínica. E ontem aquele homem tava aqui na frente te esperando, né mesmo?

 

Beatriz capta o tom de preocupação em sua voz e se inclina ligeiramente para a frente, demonstrando interesse genuíno em suas palavras.

BEATRIZ

(interrompendo)

- Onde cê está querendo chegar exatamente, Maurício? Cê quer saber se meu atraso tem a ver ou não em eu ter passado a noite com ele?

MAURÍCIO

(com receio)

- Então cê passou mesmo a noite com ele?

 

Beatriz olha para Maurício com um sorriso enigmático e responde.

 

BEATRIZ

- Sim, passei a noite com Jorge. Ele me convidou pra jantar e nós fomos a um restaurante italiano maravilhoso. Bebemos um chopp, exageramos um pouco... E terminamos a noite em meu apartamento. Agora me diga. Cometi algum crime?

 

Maurício sente um aperto no peito e um misto de emoções conflitantes: tristeza, ciúmes, insegurança. Maurício, sentindo-se inseguro e magoado, decide se levantar da cadeira, como se precisasse de espaço para processar tudo aquilo.

 

MAURICIO

- Não. É claro que não, né? Vou deixar cê trabalhar em paz.

 

Beatriz observa Maurício se afastar, dirigindo-se à porta da sala. Ela chama por ele, demonstrando uma mistura de tristeza e determinação em seu tom de voz.

 

BEATRIZ

- Maurício!

 

Ele para um momento ainda de costas e depois vira-se pra ela.

 

BEATRIZ

- Oh moço, já conversamos tanto sobre isso, né mesmo? Gosto muito de você. Mas nossa história não tem como dá certo, né? Se sabe bem que não tem como.

 

Maurício, tenta esconder a dor, força um sorriso ao responder.

 

MAURÍCIO

- Tá tudo bem, vou superar. Desculpe por ter sido tão impertinente. Com licença!

 

Mauricio sai e Beatriz fica olhando para os relatórios em sua mesa e pensando em toda aquela situação.

 

CENA 13/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DE ESPERA AO LADO DA SALA DE BEATRIZ/ TARDE

Cássia está sentada atrás do balcão de recepção da clínica, organizando alguns documentos quando nota Maurício sair da sala de Beatriz, com um semblante triste e abatido. Ela se levanta rapidamente e caminha em direção a ele.

 

CÁSSIA

- Maurício, tudo bem? Cê parece abatido. Aconteceu alguma coisa? Posso lhe ajudar?

 

Maurício suspira profundamente, sentindo-se um pouco desconfortável em compartilhar seus problemas com Cássia.

 

MAURÍCIO

(tímido)

- Não é nada não, Cássia. Só tô um pouco cansado. Preciso de um momento de tranquilidade.

(caminhando em direção ao seu consultório)

- Com licença.

 

 

Maurício agradece com um aceno de cabeça e entra em seu consultório. Cássia, preocupada, observa-o até que a porta se fecha.

 

CENA 13/ INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ TARDE

Osvaldo e Kaleb chegam à Igreja. encontrando Moisés ocupado organizando a bíblia no púlpito. Osvaldo se aproxima de Moisés com uma expressão séria no rosto, enquanto Kaleb segue ao lado, mantendo uma postura respeitosa.

 

OSVALDO

- A paz do Senhor, Pastor Moisés!

KALEB

- A paz do Senhor, meu pastor!

MOISÉS

- A paz do Senhor, meus irmãos!

OSVALDO

- Pastor, quero conversar com Senhor sobre um assunto muito importante.

 

Osvaldo lança um olhar significativo para Moisés, indicando que tinha uma questão importante para discutir. Moisés fecha a bíblia e volta seu olhar para Osvaldo, pronto para ouvir.

 

MOISÉS

- Oxe, mas que houve, irmão Osvaldo?

OSVALDO

- Podemos sentar um tiquinho para ficarmos mais a vontade?

MOISÉS

- Claro, vamos sentar ali.

 

Osvaldo e Moisés se dirigem a um banco próximo, enquanto Kaleb acompanha-os em silêncio. Sentam-se, criando um ambiente mais acolhedor para a conversa que estava por vir.

 

OSVALDO

- É sobre meu filho Kaleb. Não sabe? Tenho procurado uma esposa pra ele há muito tempo, mas não encontrei nenhuma moça que fosse assim de caminhada, que pudesse servir como uma boa esposa pra ele. E me lembrei então de uma conversa que tivemos sobre sua filha, Laura. O senhor havia mencionado que ela tá meio rebelde, e se recusa a seguir na caminhada. E senhor conhece Kaleb desde criança e sabe das pretensões que ele tem com sua filha. Né mesmo? Então pensei... E se nós fizéssemos um casamento arranjado entre Kaleb e sua filha Laura? Ele é um menino de caminhada, e como marido ele iria saber colocar ela no caminho certo.

 

Moisés fica pensativo por alguns instantes, enquanto observa Osvaldo e Kaleb. Ele sabe que ambos eram membros fiéis da igreja, mas nunca havia considerado essa possibilidade.

 

MOISÉS

- Bem, irmão Osvaldo. Eu realmente conheço Kaleb desde criança. E admiro muito suas virtudes e sua fé. Mas vou lhe ser bem sincero, minha filha Laura tá de um jeito recalcitrante. Não sei se Kaleb teria sucesso em trazê-la para o caminho certo.

KALEB

- Meu pastor, desde cedo sempre fui muito encantado pela a sua filha. Senhor sabe bem disso. E sempre senti que ela é a mulher que Deus escolheu pra mim. Tenho certeza meu pastor que com a sua benção a gente vai conseguir ter um casamento feliz e de acordo com as leis de Deus.

OSVALDO

- Eu entendo suas preocupações, Pastor Moisés. Mas às vezes é preciso tomar medidas drásticas para guiar os nossos filhos para o caminho certo. Né mesmo? Acredito que Kaleb e Laura poderiam aprender muito um com o outro, e quem sabe, esse casamento arranjado poderia trazer bênçãos para ambos.

MOISÉS

- O senhor talvez esteja certo... Pois bem, eles têm a minha benção!

 

Os três se levantam do banco da igreja e apertam as mãos.

 

CENA 15/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ TARDE

Jana e Cássia estão sentadas na recepção da clínica, mexendo no computador e cuidando dos seus trabalhos. Jana com os ombros caídos e um olhar cansado. Ela suspira e olha para Cássia, com os olhos um pouco marejados.

 

JANA

- Nossa Cássia, foi tão difícil lá na delegacia, viu? Ter que reviver tudo aquilo. Mas sinto que foi o certo a fazer. Giovana tava certa em insistir.

CÁSSIA

- Meu Deus, Jana, nem consigo imaginar o quão difícil deve ter sido pro cê. E como cê tá se sentindo agora?

 

Jana coça a nuca e olha para o horizonte por um momento antes de responder.

 

JANA

- Sei lá, Cássia. É difícil de descrever tudo isso que tô sentindo, sabe?... Lá na delegacia eu vi outras mulheres que esse monstro também abusou. E foi bom encontrar elas, pois assim a gente se fortalece uma na outra, e usamos a nossa dor como uma arma de repudio. Precisamos lutar contra esses crimes e fazer justiça... Giovana me chamou para um movimento feminista que vai acontecer hoje à noite. Tô pensando em ir, acho que pode ser uma forma de me fortalecer ainda mais.

CÁSSIA

(assentindo com a cabeça)

- Isso é ótimo, viu Jana? Cê não tá sozinha nessa luta. Eu lhe apoio totalmente, e tenho certeza de que outras mulheres também estarão lá para lhe apoiar. Vai lá mesmo com sua irmã.

 

Cássia pausa por um momento e seu olhar se desvia para a sala de Beatriz.

 

CÁSSIA

- Humm! E mudando de assunto... Eu vi Maurício saindo da sala da Dra. Beatriz. Arrastando corrente em uma tristeza que dava dó, viu menina?

JANA

– Tadinho, gente! Ele realmente é apaixonado por ela. Oh Cássia, bem que cê poderia voltar a sair com ele. Curtir um cineminha como cês costumavam fazer. Ele era tão mais animado.

 

Cássia balança a cabeça negativamente, soltando um riso discreto.

 

CÁSSIA

– Oh nega, agora a fila andou, né?

JANA

(curiosa)

- Como assim? Pois trate de me dizer quem é esse novo pretendente. Tô curiosa pra saber, tu que não me esconde nada.

 

Cássia sorri misteriosamente, como se estivesse guardando um segredo.

 

CÁSSIA

- Cê sabe como sou, né Jana? Conheci um cara incrível recentemente. Ele é engraçado, gentil e temos muitos interesses em comum, viu? Vamos nos conhecer melhor e ver o que o destino nos reserva.

 

Jana olhou para Cássia, curiosa e animada pela amiga, querendo saber mais sobre esse novo pretendente que trouxe um brilho em seu olhar.

 

CENA 16/ INT/ CASA DO MACIEL/ QUARTO/ TARDE

Laura entra no quarto com algumas roupas dobradas na mão. Ao lembrar da maleta de Maciel, decide investigar e começa a vasculhar o guarda-roupa. Ela examina cada canto, passando pelos objetos pessoais e roupas, procurando pela maleta. Sua busca é meticulosa, mas a maleta está bem escondida em um fundo falso. Ela move as peças de roupa com cuidado, na esperança de desvendar o segredo do guarda-roupa. A curiosidade aumenta, e seu coração acelera enquanto o mistério persiste. Maciel se aproxima lentamente e a flagra no ato. Os dois ficam frente a frente, em silêncio, por um momento carregado de tensão.  








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