JANA
GIOVANA
PAULO
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
BEATRIZ
JORGE
ROSENO
FÁTIMA
MARIA
PANDORA
DARLAN
RAUL
KIRA
VANESSA
JÚNIOR
Participação Especial:
JAIR, OSCAR, CATARINA
CENA 01/ INT/
CIRCO/ BASTIDORES/ NOITE
Rebeca está visivelmente nervosa, ainda
relutante em participar da mágica que Júnior, o Palhaço Pirulito, propôs. Ele
tenta acalmá-la, oferecendo-lhe um copo de água.
JÚNIOR
(tentando tranquilizar)
- Te acalme, viu?
(entregando o copo de água)
- Bebe água.
(mostrando a caixa mágica)
- Olhe aqui, tá vendo? Cê não vai
ser cortada ao meio, é tudo uma brincadeira. Não passa de um faz de conta.
Rebeca, ainda ansiosa, começa a se acalmar
lentamente, observando a caixa mágica.
REBECA
(refletindo)
- Então, a magia é de mentirinha?
Júnior sorri, aliviado por ver Rebeca mais
calma, e começa a explicar.
JÚNIOR
- Sim, é apenas uma brincadeira
para divertir o público. Cê nunca foi em circo?
Rebeca balança a cabeça negativamente.
REBECA
- Não. Painho é pastor, ele sempre
falou que circo é coisa do diabo.
JÚNIOR
(explicando)
- Como cê vê, não há nada de errado
no circo. Fazemos apenas brincadeiras onde todos se divertem.
Nesse momento, Jair, outro membro da equipe do
circo, chama a atenção de Júnior.
JAIR
(chamando a atenção)
- Júnior, tá na hora de voltar para
o picadeiro.
Júnior confirma com um aceno de cabeça e volta
a olhar para Rebeca.
JÚNIOR
(decidido)
- Cê vai me ajudar nessa mágica,
não vai, Senhorita Bíblia?
Rebeca, agora mais relaxada, sorri e corrige o
nome.
REBECA
- Meu nome é Rebeca. Se cê me
explicar direitinho como funciona, lhe ajudo.
Júnior retribui o sorriso, aliviado por ter
conquistado a confiança de Rebeca.
JÚNIOR
(sorrindo)
- Pois vou lhe explicar direitinho,
minha assistente Rebeca Meleca.
Rebeca limpa o nariz achando que está com
meleca.
REBECA
- Eu tô com meleca?
JÚNIOR
(sorrindo enquanto explica)
- Não! Rebeca Meleca será seu nome
artístico.
REBECA
(animada)
-Gostei, sou uma artista.
Os dois se preparam para retornar ao picadeiro
e continuar a mágica, agora com Rebeca mais disposta a participar da
brincadeira.
CENA 02/ INT/
MORRO DE SÃO PAULO/ PRAIA/ FESTA/ NOITE
A festa na praia está em pleno vapor, com luzes
coloridas iluminando a areia e a música pulsando enquanto Kira, comanda as
batidas vibrantes da pista de dança. Giovana está sentada em uma mesa próxima à
praia, olhando admirativamente para Kira em ação. Enquanto isso, Oscar Miranda,
um homem elegante e carismático, se aproxima de Giovana com um sorriso
amigável.
OSCAR
(educadamente)
- Boa noite!
GIOVANA
(surpresa e animada)
- Oi! Boa noite!
Oscar estende a mão para cumprimentá-la.
OSCAR
(apresentando-se)
- Sou Oscar Miranda. Kira me falou
sobre seu projeto. Como é mesmo o nome?
Giovana estende a mão para apertar a de Oscar.
GIOVANA
(entusiasmada)
- CAMPA. Muito prazer em
conhecê-lo, Seu Miranda. Sou Giovana.
Oscar e Giovana se cumprimentam e começam a
conversar, enquanto a música continua ao fundo.
OSCAR
(curioso)
- Me fala um pouco sobre seu
projeto, Giovana.
GIOVANA
(entusiasmada)
- Bem, o projeto CAMPA é a
realização de um grande sonho meu. O objetivo é oferecer um ambiente seguro e
acolhedor para mulheres em situação de vulnerabilidade, como vítimas de
violência doméstica, abuso sexual ou em situação de rua. Nosso trabalho é
inteiramente voluntário, sem nenhuma ajuda do governo.
Oscar ouve atentamente e parece impressionado.
GIOVANA
(dando continuidade)
- O número de mulheres que nos
procura vem sempre aumentando. E com isso precisamos cada vez mais de ajuda.
Muitas chegam apenas com a roupa do corpo, sem nenhuma estrutura. Qualquer tipo
de apoio é sempre bem-vindo.
Oscar assente com um sorriso gentil.
OSCAR
(claramente interessado)
- Claro, imagino. Vamos conversar.
Estou ansioso para conhecer o CAMPA.
GIOVANA
- Seria um prazer lhe receber lá.
Enquanto eles continuam a conversa, Kira, ao
longe, observa Giovana e Oscar interagindo com um olhar curioso e pensativo.
CENA 03/ INT/
CIRCO/ PICADEIRO/ NOITE
O circo está cheio de expectativa enquanto a
plateia aguarda o próximo número. Vanessa está preocupada, olhando para o palco
vazio.
VANESSA
(preocupada)
- Vala-me Deus, o que aconteceu com
Rebeca?
De repente, Júnior de Palhaço Pirulito, aparece
no centro do picadeiro com um sorriso travesso.
PIRULITO (JÚNIOR)
(anunciando)
- Respeitável público, o palhaço
Pirulito tá de volta! E trouxe de volta sua assistente, Rebeca Meleca.
Rebeca limpa o nariz de novo, mas aí se lembra
que é só um apelido.
VANESSA
(aliviada)
- Graças a Deus, Rebeca voltou!
PIRULITO (JÚNIOR)
- Que rufam os tambores! Pois agora
vamos serrar Rebeca ao meio.
REBECA
(apavorando)
- Não! Cê disse que não iria me
serrar!
PIRULITO (JÚNIOR)
(sussurrando)
- Te acalma, moça. Vamos fazer do
jeito que a gente ensaiou.
REBECA
(confusa)
- Ah sim, tudo de faz de conta, né?
PIRULITO (JÚNIOR)
- Agora nossa assistente Rebeca
Meleca vai entrar na caixa e a gente vai serrá-la no meio.
REBECA
(gritando)
- De mentirinha, é só faz e conta,
viu gente?
A plateia ri, e Rebeca, ainda nervosa, se
prepara para entrar na caixa mágica enquanto Júnior fecha a porta. Assim que a
porta se fecha, Rebeca fica apavorada.
REBECA
(gritando)
- Socorro! Me tirem daqui! Socorro!
A plateia fica em silêncio, observando com
tensão enquanto Júnior começa a executar sua mágica.
PIRULITO (JÚNIOR)
- Agora chegou o grande momento!
Ele faz gestos dramáticos e empunha uma serra,
aparentemente cortando a caixa ao meio. A tensão aumenta no picadeiro. Quando a
mágica termina, Júnior abre a caixa e Rebeca sai ilesa, com um grande alívio
estampado em seu rosto.
REBECA
(com lágrimas nos olhos)
- Eu tô viva, meu Deus!
Misericórdia! Oxente, pensei que fosse morrer!
A plateia irrompe em aplausos e risadas,
aplaudindo a performance de Rebeca. Vanessa corre até ela e a abraça, feliz em
vê-la se divertindo.
VANESSA
(rindo)
- Oxe, cê arrasou, viu Rebeca?
Rebeca enxuga as lágrimas e começa a rir,
percebendo que tudo não passou de uma grande brincadeira.
REBECA
(rindo)
- É, Vanessa, eu morri, mas aí não
morri. Tava tão nervosa que esqueci que era só faz de conta! Eu adorei o circo!
A plateia continua aplaudindo e se divertindo
com a situação, enquanto Rebeca e Vanessa compartilham um momento de alegria no
picadeiro.
CENA 04/ INT/
CASA DA JANA/ SALA DE JANTAR/ NOITE
Maria entra em casa e encontra Paulo, que está
sentado à mesa comendo. Seu semblante fica tenso ao vê-lo, e ele imediatamente
começa a questioná-la.
PAULO
(desconfiado)
- Onde cê tava, hein? Por que
chegou tão tarde?
MARIA
(amedrontada)
- Fui ao CAMPA.
PAULO
(com expressão de desaprovação)
- Passei pelo Central, cê não tava
lá.
MARIA
(explicando)
- Saí mais cedo, fui levar Pandora
ao CAMPA, ela queria conhecer o projeto.
PAULO
(descontente)
- De novo essa menina? Quem é essa
garota hein Maria? Agora vive pregada com essa menina pra cima e pra baixo.
MARIA
- Pandora é minha amiga, painho.
Ela é a única amiga que tenho naquele colégio.
PAULO
- Tô gostando disso não, viu? Cê tá
ficando muito assanhadinha.
MARIA
- Eu gosto de Pandora. Não vejo
nada de errado em nossa amizade.
Nesse momento, Jana chega em casa, animada, e
cumprimenta a família com carinho.
JANA
(alegre)
- Boa noite, família! Ah, como é
bom chegar em casa e encontrar meus dois amores.
Jana dá um beijo em Maria e depois em Paulo.
Ela percebe a expressão preocupada de Maria.
JANA
(preocupada)
- O que foi, minha linda? Que
carinha é essa? Aconteceu alguma coisa?
Paulo toma a palavra e explica a situação.
PAULO
- Maria chegou agora mesmo, ainda tava
na rua.
JANA
(com compreensão)
- Oxe, e foi filha? Se tivesse me
avisado, eu poderia ter passado no CAMPA e lhe trago.
MARIA
- Não era preciso, mainha. A mãe de
Pandora me trouxe.
JANA
- Tá certo, então. Vá tomar seu
banho e venha jantar.
MARIA
(desanimada)
- Não tô com fome. Já merendei na
rua. Vou tomar banho e deitar.
Maria segue para o banheiro.
JANA
(saindo)
- Vou tomar meu banho também, né?
PAULO
(sério)
- Isso não tá certo, Jana.
Jana retorna pra Paulo, sem entender.
JANA
- O quê mesmo?
PAULO
(intrigado)
- Maria. Saiu cedo pra ir pro
colégio, olha a hora que chega. Passou o dia com essa tal de Pandora que a
gente nem sabe direito quem é.
JANA
- Oxe Paulo! Se a bichinha vivia
presa dentro de casa, agora que conheceu essa amiguinha foi que criou ânimo pra
sai. Não podemos colocar empecilhos. Mas cê tá certo vou procurar saber melhor
quem é essa Pandora.
Enquanto Paulo e Jana conversam, Maria ouve a
conversa escondida, preocupada com o que seus pais estão falando sobre ela.
CENA 05/ EXT/
MORRO DE SÃO PAULO/ PRAIA/ NOITE
Giovana e Kira caminham juntas pela praia à
noite, com o mar calmo e as estrelas cintilando no céu. Elas seguram uma
garrafa de vinho e aproveitam a brisa suave que sopra do oceano. A conversa
flui naturalmente entre elas.
GIOVANA
(suspirando)
- Meu Deus, não consigo deixar de
admirar a beleza deste lugar. Às vezes, dá vontade de não voltar ao mundo real.
Cê que acha?
KIRA
(sorrindo)
- E por que mesmo, nós deveríamos
voltar?
GIOVANA
- Tá azuada, menina? A vida não é
só diversão não.
(grata)
- Mas muito obrigada, viu Kira? Cê
só trouxe coisas boas pra minha vida.
KIRA
- Massa! Espero poder lhe trazer
mais coisas boas. Como, por exemplo, Oscar Miranda. Diga aí como foi a conversa
entre vocês?
GIOVANA
- Ah ele ficou muito empolgado com
o projeto, viu? E comprometeu em nos ajudar.
KIRA
- Ó paí, que maravilha! Temos que
comemorar.
Kira brinda com Giovana, e elas se sentam
juntas na areia, olhando para o mar e as luzes da cidade ao redor, aproveitando
a serenidade da noite.
KIRA
(curiosa)
- Me conte um pouco mais sobre cê e
Raul. Como é estar casada por tanto tempo com a mesma pessoa? Não enjoa?
GIOVANA
(sorrindo)
- Sabia que não? Raul é tudo o que
sempre desejei em um homem. Carinhoso, atencioso, dedicado, delicado... Aquele tipo
que presta atenção nos detalhes e lhe surpreende com coisas pequenas que acaba
significando muito. A gente tem os mesmos interesses, vivemos na mesma
sintonia. Não consigo me cansar dele.
KIRA
(decepcionada)
- Uau, isso é incrível! Mas também
deve haver momentos de estresse, certo? Em situações assim, cê nunca sentiu
vontade de largar tudo e viver uma nova aventura?
GIOVANA
(refletindo)
- Claro que há momentos de tensão,
como em qualquer casamento. Às vezes, discutimos e nos desentendemos. Mas querer
largar tudo? Não. Eu amo Raul profundamente, e não consigo imaginar minha vida
sem ele.
KIRA
(desapontada)
- Que bonito isso. Será que um dia
vou ser amada desse jeito?
GIOVANA
(sorrindo)
- Ah com certeza, é porque a pessoa
certa ainda não apareceu.
KIRA
(jogando indireta)
- Talvez a pessoa certa pode já ter
cruzado meu caminho, mas ainda não se deu conta.
Giovana fica sem entender direito, se deita na
areia e fica olhando as estrelas. Kira olha pra ela, e depois resolve deitar ao
seu lado. Elas continuam desfrutando da paz da noite na praia, com o som suave
das ondas quebrando ao fundo.
CENA 06/ INT/
CASA DA RAVENA/ QUARTO DE PANDORA/ NOITE
Pandora está deitada em sua cama, com seu
celular nas mãos, navegando em suas mensagens. Seu rosto ilumina-se quando ela
vê uma mensagem de Maria.
Pandora sorri e começa a digitar sua resposta.
A resposta de Maria surge rapidamente na tela
do celular.
Pandora digita novamente, com um sorriso crescente.
Pandora fica olhando a tela do celular esperando a resposta de Maria.
Pandora percebe que seus sentimentos por Maria estão começando a se tornar mais profundos a cada mensagem que trocam.
CENA 07/
EXT/ PLANO GERAL
A tela
escurece à noite sobre a Baía de Todos os Santos com o Farol da Barra em
destaque. O sol nasce, iluminando a Praia de Porto da Barra, seguida pela Praia
de Itapuã. O Mirante da Boa Viagem oferece uma vista panorâmica, e a cena se
desloca para a Lagoa do Abaeté sob a luz dourada da tarde. A cena termina
mostrando a fachada da casa dos Sirqueiras.
CENA 08/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE JANTAR/ DIA
Rebeca está sentada à mesa, preparando seu
lanche, Raimunda em pé terminando de arrumar a mesa, quando Moisés se aproxima.
MOISÉS
(rude)
- Estava onde, hein Rebeca? Depois
do culto ontem não lhe encontrei.
REBECA
(nervosa)
- Tava com Vanessa, painho.
RAIMUNDA
(explicando)
- Ouvi dizer que a mãe de Vanessa
não tá muito bem. Aposto que Rebeca e Vanessa foram lá para fazer uma oração
por ela, não é mesmo?
MOISÉS
(com aprovação)
- Humm! Tá certinho, viu filha? Tem
que orar pelos enfermos, porque se morrer no pecado não tem mais salvação.
Rebeca se sente aliviada por não ter que
revelar a verdade sobre sua ida ao circo e concorda com as palavras do pai,
mantendo o segredo de sua diversão noturna.
INT/
FEIRA DE SANTANA/ CASA DO JORGE/ QUARTO DO CASAL/ DIA
Fátima está de pé diante do espelho, terminando
de se arrumar, enquanto Jorge entra no quarto com uma expressão curiosa.
JORGE
- Tá aí toda emperiquitada, tá indo
aonde?
FÁTIMA
(sorrindo, animada)
- Tô indo em Salvador, na clínica
de Dra. Beatriz. Vou fazer os exames pra começar logo o tratamento. Tenho
certeza que desta vez vai dá certo, viu nego? Vou engravidar e vou segurar esse bebê. Não só
esse, mas os outros três que vou ter depois. Vou lhe dá os cinco filhos que cê
sempre desejou.
Jorge fica sem graça e começa a explicar sua
mudança de pensamento.
JORGE
(ponderando)
- Fátima, vamos com calma, né? Cê
já me deu Vinícius que é alegria de minha vida, não precisa de mais filho.
FÁTIMA
(confusa)
- Cê tá estranho, viu Jorge? Era o
tempo todo falando que queria ter mais filho. Agora mudou tudo, foi?
JORGE
(desconcertado)
- Eu... É que as coisas mudam, né Fátima?
A vida nos ensina outras prioridades.
FÁTIMA
(desconfiada)
- Sei!
Fátima se aproxima de Jorge, tentando
conquistá-lo com seu desejo de aumentar a família.
FÁTIMA
(apaixonada)
- Lembra quando eu tava grávida de Vinícius? Cê
ficava todo meloso, todo carinhoso conversava com minha barriga, era um sonho
se realizando. Agora imagine minha barriga crescendo novamente, e cê sabendo
que tem um filho seu ali dentro.
JORGE
(emocionado)
- Realmente era um sonho. Ter uma
família grande sempre foi meu desejo, né? Não tive irmãos.
Fátima se anima com a resposta de Jorge e se
aproxima dele com um sorriso.
FÁTIMA
(animada)
- Pois então, nego. Desistiu desse
sonho, por quê? Vou começar o tratamento e teremos quantos filhos Deus nos
permitir.
Jorge dá um sorriso sem graça olhando Fátima
que volta a se arrumar.
CENA 10/ INT/
MORRO DE SÃO PAULO/ HOTEL/ QUARTO/ DIA
O quarto do hotel é banhado pela luz suave do
sol da manhã, criando um ambiente sereno. Kira acorda e, ao virar-se na cama,
encontra Giovana dormindo ao seu lado. Ela sorri, observando-a com carinho por
um momento. Giovana lentamente abre os olhos, com um sorriso sonolento no rosto.
GIOVANA
(sonolenta)
- Bom dia, Kira.
KIRA
(sorrindo)
- Bom dia. Dormiu bem?
Giovana olha em volta, tentando identificar a
hora.
GIOVANA
- Que horas são, hein?
KIRA
(relaxada)
- Ainda é cedo.
Giovana faz uma careta, parecendo um pouco
desconfortável.
GIOVANA
- Acho que bebi demais ontem à
noite, não deveria ter abusado tanto do vinho.
Kira ri suavemente.
KIRA
(tranquila)
- Foi só uma garrafa, nem dá pra
ficar bêbada.
Giovana suspira, olhando para Kira.
GIOVANA
- É que não sou acostumada a beber,
né?
Giovana se levanta da cama apressadamente.
GIOVANA
- Preciso me cuidar. Temos que ir
embora, mulher.
KIRA
(com tranquilidade)
- Não te aperreie! O carro que vem
nos buscar só chegará mais tarde. Ainda dá tempo de aproveitar um pouco a
piscina do hotel. Parece agoniada pra ir embora. Não tá curtindo está aqui
comigo?
GIOVANA
(com humor)
- Ah, daqui a pouco nem marido eu
terei mais. Raul já deve ter colocado minhas coisas pra fora.
Kira fala baixinho, quase inaudível.
KIRA
- Eu não teria tanta sorte.
Giovana percebe que Kira disse algo e pergunta.
GIOVANA
- Disse alguma coisa?
KIRA
(disfarçando)
- Nada, esquece. Vamos aproveitar o
dia na piscina.
Kira também se levanta da cama, pronta para
aproveitar o último dia junto de Giovana.
CENA 11/ EXT/
COLÉGIO CENTRAL/ PORTÃO/ DIA
Pandora está concentrada, fazendo um grafite
incrível em uma parede próxima ao portão do colégio. A arte é vibrante e cheia
de detalhes, mas há algo especial nela: Maria é a figura central da pintura,
representada com cores vivas e um sorriso radiante.
MARIA
(surpresa e tocada)
- Pandora, isso é... Oxente, sou eu
no seu grafite?
Pandora se vira lentamente ao ouvir a voz de
Maria e sorri amplamente.
PANDORA
(orgulhosa)
- Claro que sim. Maria, você é
minha maior inspiração. Quis expressar através de minha arte um pouco dos seus
sentimentos. Foi assim que lhe vi pela primeira vez, cantando com toda emoção.
Dá até pra ouvir sua voz nessa pintura.
Maria fica emocionada, com os olhos marejados
de lágrimas, diante da homenagem da amiga.
MARIA
(grata)
- Ave Maria Pandora, isso ficou
lindo por demais. Ninguém nunca fez isso por mim, nem sei o que dizer.
Enquanto isso, Darlan se aproxima, curioso, e
olha para o grafite de Pandora.
DARLAN
(apreciativo)
- Uau, ficou massa demais! Cê tem muito
talento, viu?
Pandora sorri, agradecida pelo elogio.
PANDORA
(humilde)
- Obrigada, Darlan. Mas esse foi
até fácil, a imagem não sai de minha mente.
(falando enquanto olha pra Maria)
- Cada traço, cada detalhe desse
rosto eu conheço de cor.
Maria sorri sem graça. Darlan se vira para
Maria, aproveitando a oportunidade.
DARLAN
(tímido)
- Maria, cê poderia me ajudar com
uma matéria que não entendi muito bem?
MARIA
(sorrindo)
- Claro, Darlan. Podemos nos
encontrar depois da aula.
Enquanto Maria e Darlan conversam sobre os
estudos, Pandora, que estava observando a interação entre os dois, começa a se
sentir enciumada. Ela fica inquieta, perde o equilíbrio e acaba caindo no chão,
sujando-se com tinta.
MARIA
(preocupada)
- Pandora, cê está bem?
DARLAN
(rapidamente)
- Precisa de ajuda?
Pandora levanta-se, um pouco envergonhada, mas
com um sorriso no rosto.
PANDORA
(rindo de si mesma)
- Tô bem. Só desequilibrei, mas não
foi nada sério.
Maria e Darlan suspiram aliviados.
MARIA
(ainda preocupada)
- Tá bem mesmo?
PANDORA
- Tô sim. Me sujei toda, vou ao
banheiro me limpar.
Pandora entra, Maria e Darlan fica a olhando
preocupados.
CENA 12/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DA BEATRIZ/ DIA
Beatriz está revisando alguns documentos quando
Jana entra.
JANA
(anunciando)
- Dra. Beatriz, Fátima tá do lado
de fora e aguardando para ser atendida. E aí, posso mandar ela entrar?
Beatriz fica visivelmente nervosa ao ouvir o
nome de Fátima e fecha os documentos com um suspiro.
BEATRIZ
(nervosa)
- Fátima? Ela tá aqui? Oh Jana,
veja bem minha situação. Vou ajudar a mulher ter um filho com o homem que eu tô
louquinha pra levar pra cama. Cê que acha?
Jana ri levemente, entendendo a preocupação de
Beatriz.
JANA
- Oxe Dra. Beatriz, e porque não
transfere ela pra Dr. Maurício?
Beatriz pondera por um momento, mas depois
balança a cabeça.
BEATRIZ
(decidida)
- Não, que isso? Tenho que ser
profissional, né não? Jorge é gostoso? Jorge é gostoso. E agora que ficou mais
velho, ficou mais gostoso ainda. Mas é um homem casado, pai de família...
Contenha-se Beatriz! Eu vou atendê-la. Por favor, Jana, peça pra Fátima entrar.
Jana assente e sai da sala para trazer Fátima. Pouco
depois, Fátima entra na sala, e Beatriz tenta esconder sua ansiedade ao
cumprimentá-la.
BEATRIZ
(sorrindo forçadamente)
- Olá Fátima, por favor, sente-se.
CENA 13/ EXT/
FEIRA DE SANTANA/ OFICINA DO JORGE/ DIA
Jorge e Roseno estão na oficina, trabalhando em
um carro enquanto conversam. Jorge parece distraído, com a mente em outro
lugar.
ROSENO
- Oxe homem, mas que diabo de
agonia é essa?
JORGE
- É Fátima, Roseno. Cê acredita que
ela foi lá em Salvador no consultório de Beatriz?
ROSENO
- E porque isso tá te deixando tão
aperreado? O que rolou entre cê e Beatriz foi antes de cê conhecer Fátima, né
não?
JORGE
- Foi, claro que foi. Mas lhe
confesso viu Roseno? Depois de rever Beatriz ali naquele restaurante, me
acendeu uma labareda, meu amigo. Um desejo, uma chama que eu pensei que
estivesse apagada. Queria muito ter aquela mulher de novo.
ROSENO
- Oxente homem, e por não procura
Beatriz de novo? Não seria o primeiro chifre que Fátima levaria, né?
JORGE
- Pensei nisso. Mas é que Beatriz
sempre foi diferente, né? Ela mexe com meu corpo, mexe com meu coração, mexe
com minha imaginação. Aquela mulher é um furacão que quando chega bagunça tudo,
meu amigo.
ROSENO
- Tô vendo que essa história vai
render, viu?
CENA 14/ INT/
COLÉGIO CENTRAL/ SALA DE AULA/ DIA
A sala de aula está tranquila, com os alunos
ocupados em suas mesas. Catarina está sentada em sua mesa, enquanto Darlan está
ao lado de Maria, que está ajudando-o com uma matéria. Pandora entra na sala e
pede licença para entrar.
PANDORA
(tímida)
- Com licença.
Catarina olha para Pandora e sorri.
CATARINA
(elogiando)
- Pandora, entre se sente! Cê é uma
artista, viu menina? Seu grafite ficou lindo por demais, deu um novo tom no
muro do colégio.
Pandora agradece o elogio, com um sorriso
tímido.
PANDORA
(humilde)
- Obrigada, Catarina. Fico feliz
que tenha gostado.
No entanto, ao perceber Maria ao lado de
Darlan, Pandora fecha a expressão e decide se afastar. Ela caminha até o fundo
da sala e se senta em uma carteira vazia, olhando para longe com uma expressão
desconfortável. Maria, confusa com a mudança de atitude de Pandora, olha para
ela com uma expressão de incompreensão.
CENA 15/ EXT/
RUA/ DIA
Rebeca e Vanessa estão pedalando juntas pela
rua, aproveitando o dia ensolarado. Quando passam perto do circo, Rebeca decide
parar e Vanessa, que já está um pouco à frente, volta para se aproximar da
amiga.
REBECA
(com brilho nos olhos)
- Olhe lá Vanessa, gostei tanto de
ir ao circo, não sabe? Não tem como algo tão divertido ser pecado, né?
VANESSA
(sorrindo)
- Não lhe falei que iria gostar. É
claro que não tem nada de errado, mas que bestagem. Se quiser, podemos voltar
lá outro dia.
REBECA
(cheia de culpa)
- Vala-me Deus, Vanessa! Mas se
tiver algo se errado, vou direto pro inferno. Pois além de ter ido ao circo,
ainda menti pra painho. Ele acha que eu tava orando pela sua mãe.
Vanessa tenta acalmar a amiga, esclarecendo a
situação.
VANESSA
(pacientemente)
- Deixe disso menina, ninguém aqui
vai pro inferno. Entenda bem, cê não mentiu, viu? Não foi sua mãe que falou que
cê foi orar por mainha?
REBECA
- Sim, foi ela mesmo.
VANESSA
- Pois então, cê não disse nada,
quem disse foi sua mãe. Cê ficou foi calada, mas também não mentiu.
REBECA
(se dando conta)
- Oxente, não é que é mesmo. Se eu
não disse nada, então não menti.
Vanessa confirma e sorri para a amiga.
VANESSA
(suavemente)
- E outra, mainha realmente não tá
muito bem de saúde.
Enquanto as duas conversam, Júnior, o Palhaço
Pirulito, que agora está sem sua maquiagem de palhaço, as vê paradas perto do
circo e se aproxima delas.
JÚNIOR
(sorrindo)
- Olhe só, se não é Rebeca Meleca.
E aí como cê tá?
Rebeca limpa o nariz.
REBECA
(confusa)
- Oxente homem, e lhe conheço de
onde?
VANESSA
- Rebeca, ele é o Pirulito.
REBECA
- Ele chupou o pirulito e quem?
VANESSA
(explicando)
- Ele é o palhaço Pirulito!
REBECA
- Ó pai! Mas também, com essa cara
lavada nem lhe conheci.
Júnior assente, sorrindo.
JÚNIOR
(afável)
- Mas cê lembra que meu nome é
Júnior, né? Pirulito é meu nome
artístico.
Rebeca fica um pouco confusa e, inocentemente,
faz uma pergunta.
REBECA
(curiosa)
- Ah, verdade. Mas venha cá, por
que Pirulito? É porque cê gosta de ser chupado, é?
Vanessa fica constrangida e chama a atenção de
Rebeca.
VANESSA
(repreendendo)
- Rebeca, mulher! Mas isso é
pergunta que se faz?
Júnior fica sem graça com o comentário de
Rebeca.
JÚNIOR
(tentando disfarçar)
- Bem, não é bem por isso, mas... Enfim,
é só um nome artístico, sabe?
VANESSA
- Desculpe, viu Júnior? É que
Rebeca não regula muito bem das ideias, sabe?
REBECA
(ingênua)
- Temos que passar na oficina pra
regular isso, viu? Será que na oficina da bicicleta dá pra fazer isso?
VANESSA
- Esquece Rebeca!
Júnior ri e se diverte com toda aquela
situação.
JÚNIOR
- Tá tudo certo! Olhe, tenho aqui
duas cortesias para um show inédito que teremos em breve. Cês não podem perder!
Rebeca fica animada com a oferta das cortesias.
REBECA
(animada)
- Oxente, que maravilha Júnior!
Olhe Vanessa, vamos poder ir de novo.
Júnior confirma com um aceno de cabeça.
JÚNIOR
(de forma simpática)
- Vai ser um prazer recebê-las.
Agora preciso ir, tenho umas coisas pra arrumar.
VANESSA
- Obrigada Júnior!
Júnior se retira, e as duas vibram com a
cortesia que ganhou.
CENA 16/ EXT/
MORRO DE SÃO PAULO/ TARDE
Giovana caminha ao lado de Kira, sob o sol
quente da tarde. Ela segura o telefone junto ao ouvido, com uma expressão de
preocupação. Enquanto isso, Kira a acompanha, atenta à conversa.
GIOVANA
(ao telefone, preocupada)
- Raul, não tinha como eu voltar
antes. Só deu pra ir agora. Estamos em Morro de São Paulo, lembra? Aquele lugar
mágico que visitamos uma vez?
No telefone, Raul responde com uma frieza que
deixa Giovana desconcertada.
RAUL
(off)
- Giovana, eu sei onde cê tá. Mas
que isso? Liguei várias vezes, lhe mandei mensagem e nada de cê responder. O
que tanto faz aí que não pode pegar o telefone.
GIOVANA
- Oh preto, lhe entendo! Mas tô no
paraíso cê acha que vou ficar mexendo no telefone toda hora?
RAUL
(off)
- Tá certo então, aproveita aí seu
paraíso!
Raul desliga o telefone, Giovana vira-se para
Kira, com os olhos cheios de incerteza.
GIOVANA
(preocupada)
- Ele desligou. Kira, Raul tá com
raiva de mim. Não entendi porquê.
Kira tenta acalmar a amiga, colocando uma mão
em seu ombro.
KIRA
(com calma)
- Gih, relaxa. Quando chegarmos, cês
vão conversar e tenho certeza de que tudo vai se esclarecer.
Giovana assente, mas ainda está preocupada. As
duas se aproximam do carro estacionado nas proximidades, prontas para seguir em
frente.
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