LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
PAULO
RAIMUNDA
REBECA
RAVENA
MARIA
PANDORA
DARLAN
RAUL
KIRA
VANESSA
Participação Especial:
POLICIAIS, PROSTITUTA, DELEGADO
CENA 01/ INT/
CASA DA RAVENA/ QUARTO DA PANDORA/ TARDE
Pandora está sentada em sua cama, segurando um
telefone celular e conversando com Maria. Ela parece um pouco chateada enquanto
fala.
MARIA
(V.O.)
- Oxente, o que aconteceu? Cê ficou
tão distante de repente. Na hora do intervalo lhe procurei e não lhe encontrei.
Pandora suspira, olhando pela janela com um
olhar pensativo.
PANDORA
(enciumada)
- Durante o intervalo, eu voltei
para o muro para terminar meu grafite. Eu não queria atrapalhar você e Darlan, cês
estavam tão envolvidos...
A voz de Maria soa preocupada do outro lado da
linha.
MARIA
(V.O.)
- Pandora, cê sabe que nossa
amizade é mais importante do que qualquer coisa, né? Darlan só queria que eu o
ajudasse em uma tarefa que estava tendo dificuldade.
Pandora assente, mesmo que Maria não possa
vê-la.
PANDORA
- Eu sei, Maria. A verdade, eu
confesso que fiquei enciumada, mesmo. Vai saber, né? Estava tentando não ser um
obstáculo para vocês.
MARIA
(V.O.)
- Oxente menina, azucrinou de vez,
foi? Quero saber de Darlan, não. O que me interessa é nossa amizade. Lhe
conhecer foi a melhor coisa que me aconteceu, Pandora.
PANDORA
(sorrindo sem graça)
- Desculpe, acho que fui uma boba
mesmo. Nada a ver tudo isso. Obrigada por ter ligado, Maria. Te adoro, viu?
MARIA
(V.O.)
- Também lhe adoro!
Pandora beija o telefone como se beijasse
Maria.
CENA 02/ EXT/
RUA/ TARDE
A rua está movimentada, com pessoas indo e
vindo em meio à agitação do dia. Raimunda, Rebeca, Vanessa, Eliete e outros
membros da igreja Cajado da Fé caminham pela calçada, cada um segurando um maço
de panfletos religiosos. Eles abordam transeuntes, entregando os folhetos e
proferindo mensagens sobre o arrependimento e a conversão, alertando sobre a
iminente volta de Jesus.
ELIETE
(persuasiva)
- Arrependam-se e convertam-se,
meus irmãos! A vida do Senhor tá próximo!
Eliete nota uma mulher vestida de forma
provocante parada na esquina. Determinada a compartilhar a mensagem religiosa,
Eliete se aproxima da mulher e estende um panfleto em sua direção.
ELIETE
(com fervor)
- Você, pecadora, também precisa
ouvir a palavra do Senhor!
A prostituta olha para Eliete com desdém e
responde com sarcasmo.
PROSTITUTA
- Oxente, ó pai! Meu edy, mesmo,
viu? Quem cê acha que é pra falar dos meus pecados? Já olhou para os seus
próprios pecados, antes de sair apontando os meus?
Eliete fica furiosa com a resposta da
prostituta e começa a gritar.
ELIETE
(gritando)
- Eu sou serva do Senhor, e meus
pecados não chegam aos pés dos seus, servidora do diabo! Arrependa-se antes que
seja tarde demais!
A prostituta, não disposta a recuar, responde
com ironia.
PROSTITUTA
(sarcástica)
- Ah, tá bom. Vou parar de
trabalhar e ir orar na sua igreja, né? Vai pagar minhas contas e me sustentar?
Eliete fica ainda mais enfurecida e eleva o tom
de voz.
ELIETE
(gritando mais alto)
- Não vou sustentar a vida de uma
pecadora como cê! Vá trabalhar honestamente e se arrependa dos seus pecados!
PROSTITUTA
- Vai procurar um tanque de roupa
suja pra lavar minha senhora, me deixa em paz.
Eliete parte pra cima da prostituta com
agressividade, tentando exorciza-la.
ELIETE
- Saia desse corpo demônio, liberta
essa pobre alma!
PROSTITUTA
- Cê tá louca? Mas que isso?
A prostituta se afasta e dá um tapa na cara de
Eliete.
ELIETE
- Não vou dá minha outra face pro
cê demônio.
Eliete continua sua tentativa de exorcismo, e
as duas acabam rolando pelo chão em uma briga tumultuada. Os outros membros da
igreja tentam separar a briga, mas a confusão só aumenta. Nesse momento, um
carro da polícia passa pelo local e vê a briga em curso, decidindo intervir.
POLICIAL
(gritando)
- Pare com isso! Todos, parem!
Os policiais conseguem conter a briga e algemam
tanto Eliete quanto a prostituta. As duas são levadas para o carro da polícia,
enquanto os outros membros da igreja ficam atônitos com a reviravolta da
situação.
CENA 03/ INT/
CASA DA JANA/ QUARTO DA MARIA/ TARDE
Maria está sentada em sua mesa, estudando,
quando Paulo entra no quarto com uma expressão curiosa. Ao ver Paulo Maria
fecha seus livros e fica apreensiva.
PAULO
- Maria, cê tem passado muito tempo
com essa amiga Pandora, né mesmo?
MARIA
(com cabeça baixa sem olhar pra Paulo)
- Pandora é só uma amiga do
colégio.
Paulo se aproxima de Maria, com um olhar sério.
PAULO
- Me conte mais sobre essa Pandora. Porque ela é tão especial pro cê? Quem são os pais dela?
MARIA
- Pandora não tem pai, ela é filha
de duas mães.
Paulo fica surpreso e intrigado com essa
informação.
PAULO
(curioso)
- Venha cá, me diga uma coisa com
seriedade. Cê e essa Pandora... São
apenas amigas, né mesmo?
Maria olha diretamente nos olhos de Paulo, suas
pupilas saltitam com medo do que poderia acontecer.
MARIA
- Sim, painho. Não há nada mais
entre nós duas.
Paulo passa a mão pelos cabelos cacheados de
Maria e levando-os até sua narina sente prazer com o cheiro.
PAULO
(possessivo)
- Isso é bom mesmo, viu Maria?
Porque cê é minha princesinha, e não quero que se envolva com mais ninguém.
Porque se isso acontecer, as coisas não vão terminar muito bem.
Maria fica assustada, as lágrimas escorrem
involuntariamente pela sua face. Paulo sai do quarto, deixando-a sozinha. Depois
que a porta se fecha, Maria tranca a porta, visivelmente amedrontada. Ela
começa a chorar, balançando a cabeça negativamente.
MARIA
(sussurrando para si mesma)
- Ele não vai mais me tocar, eu não
vou deixar ele me tocar. Nunca mais...
CENA 04/ INT/
APT DOS REIS/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Raul está sentado em uma escrivaninha,
concentrado em seu notebook, quando Giovana entra na sala e se aproxima dele.
Ela o beija, mas Raul responde de forma fria. Giovana percebe a diferença e
fica preocupada.
GIOVANA
(preocupada)
- Oxe meu amor, que aconteceu?
RAUL
(indiferente)
- Nada, Giovana. Aqui tá tudo
certo, né? Mas diga aí, como foi seu passeio no Morro São Paulo.
Giovana se senta ao lado dele e começa a falar
empolgadamente sobre a viagem.
GIOVANA
(animada)
- Ah cê já conhece aquele paraíso,
né? Aquelas praias maravilhosas, aquela vista de encantar os olhos. E a festa
que Kira tocou, cê tinha que ver. Tudo incrível, Raul! E o melhor de tudo é que
o Sr. Oscar Miranda, dono da festa e do hotel que ficamos, quer nos ajudar com
o CAMPA. Ele está disposto a ser padrinho do nosso projeto! Olha que massa,
preto!
Raul, no entanto, parece mais interessado em
outro assunto.
RAUL
(curioso)
- Massa, tudo muito massa! E lá no
hotel em que cê e Kira ficaram, como foi? Ficaram no mesmo quarto, na mesma
cama?
Giovana percebe as desconfiança de Raul, mas
responde.
GIOVANA
- Ah Raul, o hotel estava cheio,
né? Acabamos ficando no mesmo quarto, nada demais nisso.
Raul pega seu celular e mostra o perfil do
Instagram de Kira, cheio de fotos das duas juntas.
RAUL
(acusatório)
- Olhe aqui, esse é o Instagram de
Kira. Só vejo foto de cês duas, parecendo um casalzinho de namoradas curtindo o
paraíso. Qualé dessa mulher, hein Giovana? Ou melhor, qualé a sua?
GIOVANA
- Como assim, qualé a minha? Ah não
Raul! Bora parar com isso, né? Cheguei aqui toda animada falando de minha
viagem, empolgada por ter conseguindo um padrinho para o meu projeto. E cê
querendo estragar tudo isso.
RAUL
(frustrado)
- Giovana, não é possível que cê é
tão ingênua assim e não percebe. Desde que essa Kira apareceu, cê só fala nela!
Está óbvio que ela tá interessada em você!
Giovana fica surpresa com a reação de Raul e
tenta se explicar.
GIOVANA
(defensiva)
- Raul, não é nada disso que cê tá
criando, viu? Não é sobre o interesse de Kira em mim. É sobre o meu próprio
interesse em explorar novas amizades, novas oportunidades... Sim, porque desde
que Kira apareceu, as coisas no CAMPA tem só melhorado.
RAUL
- Como se eu não tivesse feito nada
pelo o CAMPA, né mesmo?
GIOVANA
- Não é sobre isso, cê sabe que não é. Oh meu amor, o CAMPA é um projeto nosso.
Eu sonhei, mas foi cê que ajudou a idealizar. Kira não veio para tirar o seu mérito,
ela só veio pra somar.
RAUL
- Sei não, viu Giovana? Sinto que
em alguns momentos tô sobrando.
GIOVANA
- Cê nunca vai sobrar meu lindo.
Giovana se aproxima, abraça Raul e os dois se beijam.
CENA 05/ INT/
DELEGACIA/ NOITE
Eliete está sentada em uma cadeira na sala de
espera, ao lado da sala do delegado. Ela mantém uma expressão séria e
determinada, com os olhos fixos na prostituta. Por outro lado, a prostituta
está sentada, com as pernas cruzadas. Ela balança a perna, denotando uma certa
impaciência. A expressão em seu rosto é mais neutra, exibindo total
desinteresse pela conversa. Ela está vestida de forma provocante, com roupas
que realçam sua sensualidade.
ELIETE
(fervorosa)
- Cê não tem vergonha de viver
dessa forma? De se entregar para os desejos da carne e desonrar seu corpo?
A prostituta se mantém calada, passando as mãos
pelo o cabelo e virando a cabeça para o lado oposto de Eliete, já sem
paciência.
ELIETE
(prosseguindo)
- O filho do Homem tá voltando, e
cê vai queimar no fogo do inferno. Converta pecadora e quem sabe assim Deus te
leva pra glória!
PROSTITUTA
- É barril, viu?
Enquanto Eliete continua a pregar, o delegado
passa pelo local e a prostituta o aborda.
PROSTITUTA
(indo até o delegado)
- Doutor, me libera aí. Eu estava
lá parada só esperando o meu cliente, quem começou essa confusão toda foi essa
senhora aí.
ELIETE
- Deus me enviou na hora certa,
sabe lá o que cê taria fazendo agora com esse cliente. Lhe livrei foi do
pecado.
PROSTITUTA
(irritada)
- Com certeza estaria fazendo algo
que cê não faz a muito tempo, pois ninguém lhe atura!
(virando-se para o delegado)
- Olhe aí doutor, essa mulher não
regula bem!
DELEGADO
- Vão quietando as duas que isso
aqui não é bagunça não! Já atendo cês, isso aqui hoje tá complicado. Se fizerem
baderna mando as duas para o xilindró.
O delegado entra pra sua sala, Eliete continua
sentada e já a prostituta fica andando de um lado para o outro, agoniada.
PROSTITUTA
- É barril dobrado, viu?
ELIETE
(insistente)
- Deus tem um propósito para todos
nós, minha filha. Ele pode transformar sua vida, se você permitir.
PROSTITUTA
(irritada)
- Ave Maria! Cala a boca criatura,
que já não aguento mais ouvir sua voz!
Neste momento, a porta se abre e Genivaldo
entra apressado.
GENIVALDO
(preocupado)
- Eliete, pelo o amor de Deus o que
tá acontecendo aqui?
Eliete olha para o marido com determinação.
ELIETE
(resoluta)
- Oxente, não te aperrei, Genivaldo.
Assim como fez com Pedro e Paulo, o Senhor enviará um anjo pra me libertar se
for necessário.
A prostituta, ouvindo a conversa, ironiza as
palavras de Eliete.
PROSTITUTA
(rindo)
- Acho meio difícil, viu? Pois nem
Deus deve lhe aturar. Venha cá, o senhor é marido dela é? Tá precisando comer
ela mais vezes, quem sabe assim ela não se preocupa tanto com a vida alheia.
ELIETE
- Não nos envolve nas suas
fornicações.
GENIVALDO
- Eliete, fiquei na sua!
PROSTITUTA
- Como o senhor atura, hein?
(jogando charme)
- Se quiser relaxar, me procure.
Você não vai se arrepender!
ELIETE
- Isso é o demônio lhe tentando. Não
olhe!
O delegado surge na porta e chama as duas.
DELEGADO
- As duas baderneiras, podem vim
aqui.
Eliete, Genivaldo e a prostituta são conduzidos
até a sala do delegado, onde a situação será resolvida.
CENA 06/
EXT/ PLANO GERAL
À noite,
Salvador se ilumina com as cores do Pelourinho e a luz do Farol da Barra,
enquanto o céu estrelado proporciona uma atmosfera romântica. Com o nascer do
dia, as praias douradas e os coqueiros ganham vida, e a cidade desperta sob o
sol. A Praça da Sé, o Parque São Bartolomeu e o Mercado de São Joaquim revelam
sua beleza sob a luz do dia, enquanto a Baía de Todos os Santos brilha ao sol.
Salvador transita suavemente da noite para o dia, oferecendo um espetáculo
visual fascinante.
CENA 07/ EXT/
COLÉGIO CENTRAL/ PÁTIO/ DIA
O pátio do Central está movimentado, com alunos
chegando para mais um dia de aula. Darlan está sentado no canteiro, observando
a agitação ao seu redor. Ele nota Maria se aproximando, entre os outros
estudantes. Sua expressão triste não passa despercebida por Darlan, que
imediatamente se preocupa e a aborda.
DARLAN
(preocupado)
- Maria! Tá tudo bem? Posso lhe ajudar em alguma coisa?
Maria olha para Darlan com olhos marejados e
voz embargada.
MARIA
(triste)
- Só quero ficar sozinha, Darlan.
Maria continua andando, e Darlan vai lhe
acompanhando, insistindo na conversa.
DARLAN
- Deixa eu lhe ajudar, tô vendo que
cê não tá bem. Me conta o que aconteceu?
Darlan a toca no braço, Maria se altera com
raiva.
MARIA
(irritada)
- Não toque em mim! Já não lhe
disse que quero ficar sozinha? Que saco!
Maria sai correndo, deixando Darlan confuso e
preocupado com sua reação. Enquanto Darlan fica ali, perplexo, Pandora observa
a cena e se aproxima dele.
PANDORA
(acusatória)
- Seu macho escroto, o que cê fez
com ela, hein?
Darlan parece genuinamente confuso.
DARLAN
(defensivo)
- Não fiz nada! Apenas a
cumprimentei.
PANDORA
(autoritária)
- Fique longe dela, tá ouvindo?
Idiota!
Pandora sai apressadamente em busca de Maria,
deixando Darlan sozinho e perplexo com a situação.
CENA 08/ INT/
COLÉGIO CENTRAL/ BANHEIRO FEMININO/ DIA
Maria entra correndo no banheiro, claramente
perturbada, e se apressa em entrar em uma das cabines. Ela tranca a porta,
senta no vaso sanitário e começa a chorar compulsivamente. As palavras
perturbadoras ditas por Paulo ecoam em sua mente como uma tortura constante.
PAULO
(off)
- "Cê é minha, não vou lhe
aceitar com mais ninguém." "Venha cá, senta no colo de seu
painho." "Se cê contar pra alguém, lhe mato e depois me mato."
"Cê é minha princesinha” “Venha cá, só vou lhe dar carinho."
"Oxente, sou seu painho, só quero cuidar de você."
As lágrimas de Maria não cessam, e sua angústia
é palpável. Do lado de fora da cabine, Pandora entra no banheiro e começa a
chamar por Maria, preocupada.
PANDORA
(preocupada)
- Maria? Onde cê tá? O que
aconteceu minha linda? Foi Darlan que te fez alguma coisa?
Maria, ainda soluçando, grita através das
lágrimas, sua voz cheia de dor.
MARIA
(gritando)
- Vá embora, Pandora! Só quero ficar
sozinha!
Pandora se mantém do lado de fora da cabine,
preocupada e determinada a ajudar Maria, mesmo contra sua vontade.
PANDORA
(compreensiva)
- Maria, só quero ajudar. Cê não
precisa passar por isso sozinha. Eu te amo, por favor, fale o que tá acontecendo.
Maria grita novamente, ainda mais forte, sua
dor transbordando.
MARIA
(gritando)
- Vai embora! Não quero a ajuda de
ninguém!
Pandora fica do lado de fora, ouvindo o choro
angustiado de Maria, impotente diante da situação.
CENA 09/ INT/
APT DOS REIS/ COZINHA/ DIA
Raul e Giovana estão sentados à mesa, tomando
café juntos. O telefone de Giovana começa a tocar, e ela olha rapidamente para
o identificador de chamadas, vendo que é Kira. Ela desliga o telefone e o
coloca de lado. Raul não perde a oportunidade de fazer um comentário irônico.
RAUL
(ironizando)
- Quer que eu saia da cozinha pra
você conversar com sua amada?
Giovana suspira, claramente irritada com a
implicância de Raul.
GIOVANA
- Raul, pare de falar besteira.
Kira é uma grande amiga e tá me ajudando muito com o CAMPA.
RAUL
- Será que ela lhe ver assim
também, apenas como amiga?
Giovana revira os olhos, exasperada.
GIOVANA
(irritada)
- Oxente, mas que implicância é
essa agora? Isso já tá ficando chato, viu Raul?
Raul levanta o braço para pegar um pedaço de
pão, e Giovana nota uma mancha roxa em seu braço.
GIOVANA
(preocupada)
- Que isso? Que aconteceu com seu
braço?
Ele olha para o braço surpreso ao ver a mancha.
RAUL
(confuso)
- Não tinha notado isso. Deve ter
sido alguma pancada, não sei.
Giovana franze sua testa com preocupação.
GIOVANA
- Eu venho lhe falando não é de
hoje, viu Raul? Tá passando da hora de cê procurar um médico. Não é normal
aparecer mancha assim.
Raul concorda com um aceno de cabeça.
RAUL
- Cê tá certa. Vou fazer isso.
GIOVANA
- Sempre a mesma coisa, né? Cê fala
que vai procurar um médico, mas nunca vai.
Nesse momento, o telefone de Giovana toca
novamente, indicando que ela recebeu uma mensagem. Raul faz um comentário
sarcástico.
RAUL
(irônico)
- Ó pai! Essa Kira não desiste,
hein?
Giovana pega o telefone e verifica a mensagem,
mas sua expressão muda rapidamente para uma mistura de surpresa e preocupação.
GIOVANA
(preocupada)
- Não é Kira... É uma mensagem de
painho. Ave Maria, mainha foi presa.
Raul e Giovana ficam perplexos com a notícia.
CENA 10/ INT/
COLÉGIO CENTRAL/ BANHEIRO FEMININO/ DIA
Após um tempo angustiante dentro da cabine,
Maria finalmente sai. Seus olhos ainda estão vermelhos e inchados por causa do
choro. Quando ela vê Pandora no banheiro, seus olhares se encontram e há um
momento de silêncio carregado de emoção. Pandora se aproxima de Maria e a
abraça com carinho, sussurrando palavras reconfortantes.
PANDORA
(carinhosa)
- Estou aqui, meu amor. Cê poderá
sempre contar comigo, viu?
Maria, no entanto, se afasta e vai até a pia
lavar o rosto.
MARIA
(reservada)
- Cê deveria ter ido pra sala. A
aula já começou.
PANDORA
(compreensiva)
- Não faz diferença. Eu não iria
conseguir concentrar na aula mesmo, sabendo que cê tava aqui.
Enquanto fala, Pandora pega uma toalha de papel
e entrega para Maria secar o rosto.
PANDORA
(com carinho)
- O que aconteceu meu amor? Quer
compartilhar?
MARIA
- É coisa minha... É melhor cê ir
pra aula, estou indo embora.
Maria joga sua mochila nas costas e sai do
banheiro. Pandora vai logo atrás.
CENA 11/ INT/
BOUTIQUE DA RAVENA/ DIA
Ravena e Laura estão ocupadas organizando algumas
roupas na boutique. Kira entra, falando alto e surpreendendo as duas.
KIRA
- Cachorras! Cês são duas
cachorras!
LAURA
(sem reconhecer)
- Que isso, gente?
Ravena, que estava de costas, ao virar
reconhece Kira imediatamente.
RAVENA
- É Kira! Não acredito, quanto
tempo!
Ravena larga o que está fazendo e se aproxima
rapidamente da amiga.
KIRA
(entusiasmada)
- Olhe, tive que ligar pra todas
minhas colegas do feminismo. Até encontrar o paradeiro de cês duas.
RAVENA
(rindo)
- Deixa de prosa, e me dê aqui um
abraço.
As duas amigas se abraçam comemorando o
reencontro. Kira olha para Laura com admiração e elogia sua transformação.
KIRA
(entusiasmada)
- Laura, cê tá maravilhosa! Mudou
completamente, virou um mulherão. Lembro bem que cê tinha uma carinha de menina.
RAVENA
(sorrindo)
- É verdade, Laura agora é um
mulherão. E digo uma coisa, viu? Tá cada dia mais gostosa.
As três riem e Laura se junta à conversa.
LAURA
- Bem, não é à toa. Antes, eu tinha
dezoito anos, quase a idade de minha filha hoje.
KIRA
(surpresa)
- Oxe, é mesmo, cês tem uma filha?
Então no fim cês resolveram mesmo ficar com aquela criança?
LAURA
- Melhor decisão de minha vida.
Pandora é tudo pra mim.
RAVENA
- E cê Kira, casou? Tem filhos?
KIRA
- Não casei, não tenho filho. Mas
tô completamente apaixonada por uma deusa. E também completamente perdida,
menina. Ela é casada.
RAVENA
(rindo)
- Oxe, gente!
KIRA
- Ela tem um projeto maravilhoso
chamado, CAMPA. Não sei se cês já ouviram falar. É uma casa que fica ali no
Pelourinho que acolhe mulheres em situações vulneráveis. Ela se joga de corpo e
alma nesse projeto para ajudar essas mulheres.
LAURA
- Nossa que bacana, quero ir lá
depois conhecer esse projeto.
KIRA
- Ela me falou que lhe conhece
desde a infância, viu Laura? Que cês estudaram juntas, e tudo.
LAURA
- Espere um pouco. Cê tá falando é
de Giovana?
KIRA
- É dessa deusa mesmo. Tô
completamente apaixonada por essa mulher.
RAVENA
- Giovana sempre foi linda. Ela
falava muito em montar um projeto assim, mesmo.
LAURA
(emocionada)
- Ave Maria, quanto tempo não vejo
Giovana. Que saudades!
CENA 12/ EXT/
COLÉGIO CENTRAL/ PORTÃO/ DIA
O colégio está terminando suas atividades do
dia, e os alunos começam a sair. Pandora está entre os estudantes, indo em
direção ao portão. Darlan corre para alcançá-la e começa a conversar com ela,
claramente preocupado.
DARLAN
(preocupado)
- Pandora, cê sabe de Maria?
Pandora olha para Darlan, percebendo a preocupação
em seu rosto.
PANDORA
(preocupada)
- Maria já foi embora.
DARLAN
- Ela lhe contou o que aconteceu?
PANDORA
- Não. Ela foi pro banheiro e ficou
chorando, mas não quis me contar do que se tratava.
DARLAN
- Tem algo muito grave acontecendo,
viu? Ela tava muito abalada.
Pandora concorda com a cabeça, também
preocupada com a amiga.
PANDORA
- Sim, também notei. Na verdade
desde que conheci Maria que sempre notei seu olhar triste. É como se tivesse
algo a incomodando, mas que ela não quer que ninguém descubra.
Pandora olha para Darlan com seriedade.
PANDORA
(séria)
- Darlan, por favor, fique longe
dela por um tempo. Não a pressione. Ela precisa de espaço para lidar com o que
quer que tá acontecendo.
Darlan compreende a preocupação de Pandora e
concorda com um aceno de cabeça.
DARLAN
(respeitoso)
- Vá bem. Só queria ajudar.
PANDORA
- Cê vai ajudar muito, se ficar na
sua.
Pandora agradece com um sorriso fraco e
continua seu caminho, enquanto Darlan permanece no portão, observando o
movimento e pensando em como ajudar Maria.
CENA 13/ EXT/
PRAIA/ TARDE
Maria caminha pela areia da praia descalça, com
seus sapatos nas mãos, enquanto as ondas suaves molham seus pés. Ela está
sozinha e perdida em pensamentos, e um sorriso escapa de seus lábios ao lembrar
dos momentos felizes que passou com Pandora no mar. A imagem se transforma em
um FLASHBACK, mostrando Maria e Pandora se divertindo no mar, rindo e brincando
juntas. De volta ao presente, Maria deixa a praia e se aproxima da calçada,
ainda sorrindo pelas lembranças. No entanto, seu sorriso desaparece rapidamente
quando ela vê Paulo de pé ali.
PAULO
- venha comigo!
Ela fica amedrontada e hesita por um momento.
PAULO
(grosseiro)
- Tá surda? Não tô lhe chamando?
Ela sente que não tem escolha a não ser se
aproximar dele. Com a cabeça baixa e uma expressão triste, Maria se aproxima de
Paulo, temerosa do que ele possa fazer. Paulo passa o braço pelo o pescoço de
Maria, lhe abraçando e a levando com ele.
CENA 14/ INT/
CASA DOS FERNANDES/ SALA DE ESTAR/ TARDE
Giovana está visivelmente irritada e reclama
com sua mãe, Eliete, pelo incidente com a prostituta na delegacia.
GIOVANA
(irritada)
- Oh minha mãe o que deu na
senhora, hein? Não pode sair aí pelas
ruas abordando os outros desse jeito, não.
Eliete parece tranquila e responde com
convicção.
ELIETE
(resoluta)
- Cês não têm o conhecimento da
Palavra, cês não entende minha gente. Deus me deu uma missão em sonho. Ele quer
que eu converta os ímpios e os pecadores. Se Ele me deu essa missão, é porque
sabe que vou cumpri-la.
Giovana tenta argumentar com a mãe, expressando
suas preocupações.
GIOVANA
(preocupada)
- Tô ficando muito preocupada com a
senhora, viu minha mãe? Não pode sair por aí pegando a sua fé e colocando como
soberana, obrigando as pessoas a seguir o que cê acredita. E essa mulher
fizesse algo contra a senhora? Ó pai!
ELIETE
- Nada de ruim me acontece. Deus não
desampara uma serva fiel. Sua mão se pesará naquele que me fizer algum mal. Agora
cê também tá em pecado, viu Giovana?
GIOVANA
- Oh mainha não começa, pelo o amor de Deus.
ELIETE
- É por amor a Deus mesmo que faço
isso. Por amor a Deus, e por amor a você. Pois lhe quero ver no céu. Minha
filha, procure a igreja e regulariza sua situação com Raul. É... Porque cês são
casados na lei do homem, mas não foram a igreja receber a benção de Deus.
Enquanto a discussão continua, Genivaldo decide
se envolver na conversa.
GENIVALDO
- E assim agora Giovana, o dia inteirinho.
Cê observou aí algumas coisas que tão faltando, né? Eliete agora deu pra isso,
vender e doar as coisas de dentro de casa dizendo que atrai o demônio.
ELIETE
- Deus tem me mostrado muito cê em
meus sonhos, Genivaldo. E nos meus sonhos cê tava sentado no caldeirão do
diabo. Gritava por socorro, mas aí já era tarde....
GENIVALDO
- Olhe filha, tô pensando
seriamente em me separar de sua mãe. Não aguento mais tudo isso.
CENA 15/ EXT/
SORVETERIA/ TARDE
Paulo e Maria estão sentados em uma das mesas
do lado de fora da sorveteria, aproveitando seus sorvetes em uma tarde
ensolarada. O ambiente é alegre e movimentado, com pessoas rindo e conversando
ao redor. Paulo sorri enquanto observa Maria, mas ela tá séria e de olhar
triste.
PAULO
(nostálgico)
- Sabe, Maria, tava aqui lembrando
de quando cê era pequena. Sempre adorávamos passar por essa sorveteria e tomar
sorvete juntos.
Maria dá uma olhada no sorvete e, de forma
hesitante, responde.
MARIA
(cabisbaixa)
- Nunca gostei e cê sabe disso.
Paulo olha sério para Maria, seu semblante muda
de repente.
PAULO
(autoritário)
- Cê tá ficando atrevida, viu menina?
Não tô gostando nada disso. Cê é minha filha, e deve me obedecer. Tá me
entendendo?
Maria fica amedrontada com a reação de Paulo e
assente com a cabeça concordando.
PAULO
(mais calmo)
- Tome seu sorvete. Depois vamos pra
casa.
Maria começa a tomar o sorvete obedientemente,
mas ainda está inquieta com a repreensão de seu pai.
PAULO
(carinhoso)
- Lembra de como nós costumávamos
brincar quando cê era criança?
Paulo dá uma olhada ao redor e depois alisa as
pernas de Maria por debaixo da mesa.
PAULO
- Sinto saudades das nossas
brincadeiras.
Maria, arregala os olhos e fica preocupada diante
de tudo aquilo.
CENA 16/ INT/
IGREJA CAJADO DA FÉ/ TARDE
Vanessa e Rebeca estão ocupadas limpando a
igreja.
REBECA
- Olhe, não entendi bem o porque
que irmã Eliete foi presa.
VANESSA
- Oxe, mas se ela tava brigando com
a prostituta bem na hora que a polícia passou.
REBECA
- Aquele mulher que tava parada é
uma prostituta?
VANESSA
- Claro que sim. Que se acha que ela tava fazendo ali?
REBECA
- Esperando ônibus... Será que irmã
Eliete também queria ser prostituta?
VANESSA
(abismada)
- Vale-me Deus!
REBECA
- Oxente, mas Maria Madalena não
era prostituta e andava com Jesus? Vai ver que é isso que irmã Eliete queria.
VANESSA
- É melhor nós dá continuidade em
nossa faxina, né Rebeca?
CENA 17/ EXT/
RUA/ TARDE
Paulo sai da sorveteria e caminha em direção ao
táxi que está estacionado nas proximidades. Ao longe, no semáforo, Darlan
observa a cena, mantendo-se discretamente à espreita. Maria, visivelmente
abalada, sai da sorveteria logo após Paulo. Seus olhos estão marejados, e seu
rosto revela a angústia que está sentindo. Ela se aproxima de Paulo, com medo
do que ele poderia fazer.
MARIA
(chorando)
- Painho, por favor, não faça isso
comigo.
Paulo a encara com um olhar frio, mas seus
traços suavizam um pouco ao ver o estado emocional de Maria.
PAULO
(com falsa ternura)
- Oh minha princesa! Cê sabe que lhe
amo, não sabe? Nunca faria nada pra lhe machucar.
Ele acaricia o rosto dela com o polegar,
fazendo-a tremer ainda mais.
MARIA
(soluçando)
- Por favor, meu pai, não aguento
mais isso.
Paulo a abraça, apertando-a com força, enquanto
sussurra palavras reconfortantes.
PAULO
(afável)
- Shhh, minha princesinha, tô aqui
pra cuidar de você. Vou lhe dá todo o carinho que cê precisa. Seja boazinha
comigo e só tem a ganhar.
Maria chora ainda mais, ela sabia bem os tipos
de carinho aos quais Paulo se referia. Paulo rapidamente muda de tom, seu rosto
tornando-se sombrio.
PAULO
(ameaçador)
- Agora me escute direitinho, viu Maria?
Se cê ousar contar a alguém sobre isso, eu juro que mato o infeliz ou a infeliz.
Você é minha, e não vou permitir que ninguém lhe tire de mim.
Maria, sentindo-se impotente diante das ameaças de Paulo, concorda com a cabeça em sinal de submissão. Ela entra no carro com ele, ainda chorando, e os dois partem. Darlan observa tudo de longe, percebendo claramente que algo está errado. Seus olhos seguem o carro de Paulo até que ele desaparece na distância.
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