JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
PAULO
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
RAVENA
BEATRIZ
JORGE
MARIA
PANDORA
DARLAN
KIRA
VANESSA
JÚNIOR
OSVALDO
Participação Especial:
OFICIAL, FIÉIS, ALDAIR
CENA 01/
INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ NOITE
Moisés está no púlpito, pronto para conduzir o
retiro espiritual. Os fieis estão sentados nos bancos, ansiosos para participar
do evento.
MOISÉS
(com fervor)
- Amados irmãos e irmãs, a presença
do mal se infiltrou em nossa igreja! Mas hoje, com a graça divina, vamos
expulsar essas forças malignas! O retiro que começamos esta noite é mais do que
uma simples reunião. É uma sessão de descarrego e purificação, onde cada alma
aqui presente será purificada pelo poder do Altíssimo! Aleluia!
TODOS
- Aleluia!
Moisés olha para Osvaldo, e ambos compartilham
um olhar cúmplice.
MOISÉS
(em tom solene)
- Assim como Jesus cuspiu na argila
e deu visão ao cego, eu, como seu servo, irei abençoar esta água! Ela se
tornará um veículo sagrado, uma arma contra as trevas!
Moisés pega uma pequena garrafa de água e
começa a recitar uma oração em voz baixa, seus olhos brilhando com uma
intensidade fanática. Os fieis observam com devoção clamando e um coro.
TODOS
- Aleluia! Aleluia!
MOISÉS
(com fervor)
- Esta água é a representação da
pureza divina! Ela nos limpará de todo mal!
Moisés toma um gole da água e cospe sobre a
congregação, que assiste saltitante, gritando e dançando em louvor. Alguns com
lágrimas nos olhos, acreditando que estão sendo purificados.
OSVALDO
- Glória,
Aleluia!
TODOS
- Aleluia! Sai
demônio!
Moisés acena com a cabeça, satisfeito com a
devoção dos fieis.
CENA 02/
INT/ APT DOS REIS/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Genivaldo, Jana, Maria e Paulo estão reunidos
oferecendo apoio a Giovana, que está emocionalmente abalada.
GIOVANA
- Vão liberar o corpo amanhã pra
cerimônia de cremação. Parece mentira que tudo isso tá acontecendo. Ele tava
aqui tão animado com a esperança de encontrar um doador.
JANA
- No fundo a gente já sabia que o
caso dele era grave, né? Sem parente próximo fica difícil achar um doador
compatível.
A campainha toca e Maria se levanta para abrir
a porta.
MARIA
- Pode deixar tia, eu abro.
(depois de abrir a porta)
- Oi Kira! Entra!
Kira entra com um semblante sério,
cumprimentando a todos com um aceno de cabeça. Seus olhos encontram os de
Giovana, e há uma comunicação silenciosa entre elas, carregada de entendimento
e empatia.
KIRA
(gentil)
- Oh nega, sinto muito pela sua
perda, viu?
Giovana corre para Kira e a abraça, encontrando
conforto nos braços dela. Genivaldo observa a cena com uma expressão
desconfiada, seus olhos analisando cada movimento.
GIOVANA
(emocionada)
- Obrigada, viu nega por ter vindo?
Tão bom ter cê aqui comigo. Nem sei como vou lidar com tudo isso.
Enquanto isso, Jana, Maria e Paulo decidem dar
um pouco de privacidade às duas e começam a se preparar para sair.
JANA
(gentil)
- Gih, nós vamos indo. Se precisar
de qualquer coisa, é só chamar. Cê não melhor ir dormir lá em casa?
GIOVANA
- Tá tudo bem, vou ficar por aqui
mesmo.
MARIA
(sorrindo)
- Tchau tia! Se quiser, posso
ficar, viu?
GIOVANA
- Precisa não, meu amor!
Agradecida, viu?
PAULO
(colocando a mão no ombro de Giovana)
- Força, viu cunhada? Raul era um
cara formidável, com certeza fará muita falta.
GENIVALDO
- Tchau filha! Que Deus lhe
abençoe. Qualquer coisa me ligue, viu?
GIOVANA
- Agradecida painho.
Giovana assente, agradecendo a todos com um
leve sorriso. Eles se despedem e saem, deixando Giovana e Kira a sós no
apartamento. Kira olha para Giovana com compreensão.
KIRA
(gentil)
- Vou passar a noite aqui com cê,
viu meu amor. Não é bom cê ficar sozinha hoje.
GIOVANA
(emocionada)
- Sua presença significa muito pra mim, viu? Só queria um milagre pra curar Raul, mas o milagre não aconteceu.
CENA 03/ EXT/
FEIRA DE SANTANA/ RUA/ AO LADO DO CIRCO/ NOITE
Vanessa e Rebeca estão
sentadas no meio-fio. Rebeca está nervosa, sua ansiedade estampada em seus
olhos, enquanto Vanessa tenta acalmá-la.
VANESSA
(com determinação)
- Não viemos de Salvador até aqui,
pra ir embora sem falar com Pirulito, né mesmo? Ele tem que saber o que cê sente. Não vamos
desistir tão facilmente.
REBECA
(nervosa)
- Ai Vanessa, não sei, viu? Por mim
a gente já caçava era um jeito de ir embora. E se ele não quiser falar comigo, Vanessa? E
se ele não quiser nem me ver?
VANESSA
(determinada)
- Enquanto ele mesmo não vier aqui
e nos disser um "não", nós vamos insistir. Tá certo o que aquele cara
fez, não. Onde já se viu, expulsar nós do circo daquele jeito? A gente tava
pagando ingresso como qualquer outro.
REBECA
- Aquele cara lá é pai dele, tá
sabendo?
VANESSA
- É mesmo? Sabia não.
Nesse momento, Rebeca avista Júnior vestido
como palhaço Pirulito, saindo do circo acompanhado por outro palhaço. Vanessa,
percebendo a oportunidade, incentiva Rebeca a se aproximar.
VANESSA
(sussurrando)
- Tá esperando o quê, hein? Vai lá mulher! Chegue mais perto e chame por
ele. Cê precisa fazer isso.
Rebeca respira fundo e se levanta do meio-fio.
REBECA
(chamando)
- Júnior!
Júnior se vira, seus olhos encontram os de
Rebeca, e ele fica surpreso ao vê-la ali.
JÚNIOR
- Rebeca!
REBECA
(com determinação)
- Oi Júnior! Precisava lhe ver. Olhe...
vim de mala e cuia. Se cê quiser, eu fico. Eu fico com cê.
JÚNIOR
- Oh minha linda! Cê sabe que sua
família nunca vai aceitar esse namoro, né mesmo?
REBECA
- Painho não sabe que tô aqui, vim
escondida. Sei que o que tô fazendo é pecado, mas Vanessa me disse que o maior
pecado é não ser feliz. E só consigo ser feliz tanto ao seu lado, Júnior. Cê
não quer mais casar comigo?
JÚNIOR
- Claro que quero, lhe quero por
demais!
Ela o beija apaixonadamente, seu gesto
carregado de emoção e desejo. Enquanto estão se beijando, Aldair aparece.
ALDAIR
(furioso)
- O que cê tá fazendo, Júnior? Não
aprendeu nada com o que aconteceu?
JÚNIOR
- Painho, te acalme, Rebeca tem
culpa de nada que aconteceu, não.
ALDAIR
(determinado)
- Essa garota não é pro cê. Cê sabe
que isso só trará problemas para todos nós. Deixe-a ir. Vai te embora e não
aparece nunca mais!
JÚNIOR
- Oh meu pai, a gente já tinha
conversado sobre isso. O senhor antes havia aceitado Rebeca. O que foi agora?
ALDAIR
- Cê ainda pergunta? Eles tacaram
fogo em nosso circo. Olhe Júnior, esse povo é fanático e quando descobrir que
essa menina tá aqui vão vim atrás, aí a desgraceira tá feita.
VANESSA
(se aproximando)
- Ninguém aqui tem nada a ver com o
que irmã Eliete fez, não, meu senhor. Ela é uma louca varrida e já tá até
internada em um manicômio.
ALDAIR
- Quero nem saber de nada. Olhe meu
filho faça sua escolha, se insistir em ficar com essa menina, pode arrumar suas
trouxas e cair fora. Aqui no meu circo ela não entra.
Júnior, olhando para Rebeca, toma uma decisão.
JÚNIOR
(com pesar)
- Sinto muito, viu Rebeca? Mas
painho tá certo. Isso não vai funcionar. Cê precisa ir embora.
Júnior se afasta.
REBECA
(chorando)
- Oh Júnior! Como vou ficar sem meu
pirulito?
VANESSA
(xingando)
- Frouxo! É isso que cê é! Simbora
Rebeca, ele não lhe merece.
CENA 04/ INT/
IGREJA CASADO DA FÉ/ NOITE
Moisés se aproxima de Raimunda que está sentada
em um dos bancos da igreja.
MOISÉS
- E Rebeca cadê que ainda não vi?
RAIMUNDA
- Sei não varão. Liguei, mandei mensagem e ela não me respondeu.
MOISÉS
- Oxende, ondé que essa menina se
meteu? E venha cá, tô lhe achando meio avexada. Diga aí, o que houve?
RAIMUNDA
(nervosa)
- Encontrei um panfleto em casa
informando que aquele circo tá em Feira de Santana. Tô aqui avexada, né Moisés?
Vai que ela tenha ido pra lá. Ela tá apaixonada pelo o palhaço do circo, essa é
a verdade.
MOISÉS
- Pois se ela tiver ido atrás do
circo pode esquecer que é minha filha.
RAIMUNDA
- Mas o que é, homem? Agora é isso? Já não basta ter afastado Laura agora quer
afastar Rebeca também?
MOISÉS
- Não afastei nenhuma delas. Foram
elas que fizeram escolhas erradas. O que não dá Raimunda é a gente ser complacente
com o pecado, só para acolher nossas filhas.
CENA 05/ INT/
APT DOS REIS/ QUARTO DO CASAL/ NOITE
Giovana, com os olhos cheios de tristeza, está
sentada na beira da cama, olhando para o vazio. Kira está de pé ao lado dela,
expressando carinho e preocupação em seu rosto.
GIOVANA
(com tristeza)
- Nunca me senti tão sozinha, viu Kira?
Raul era meu porto seguro, meu companheiro em todas as horas. Sem ele, parece
que tudo perdeu o sentido.
KIRA
(com carinho)
- Cê nunca estará sozinha, Gih. Tô
aqui... sempre estive, e sempre estarei. Cê pode contar comigo para o que
precisar. (gentil)
- Agora, tente descansar um pouco,
acredito que o dia hoje foi muito corrido pro cê. Vou tá aqui no quarto ao
lado, qualquer coisa me chame.
Kira se prepara para sair do quarto, mas
Giovana, com um olhar suplicante, a chama de volta.
GIOVANA
(com ternura)
- Não, por favor, fique aqui. Dorme
aqui comigo.
Kira, surpresa, sorri gentilmente em resposta.
KIRA
- Claro! Se preocupe não, vou ficar
aqui com cê.
Kira se aproxima e senta na cama, enquanto
Giovana se deita, abraçando-a com força, buscando conforto nos braços da sua
amiga.
CENA 06/ EXT/
DIQUE DO TORORÓ/ DIA
Maria está sentada tocando suavemente seu
violão. Darlan, casualmente passando pelo local, avista Maria e se aproxima
dela.
DARLAN
(sorrindo)
- Cê sempre tem o dom de tornar
tudo mais bonito.
MARIA
(com simplicidade)
- Oi Darlan! Às vezes, a música é a
única maneira que encontro para me expressar.
Darlan senta-se ao lado de Maria, e os dois
começam a conversar.
DARLAN
(com sinceridade)
- E para que eu me expresse o que
devo fazer?
MARIA
- Lá vem o cê com essas conversas
bestas, né Darlan?
DARLAN
- Falar de amor pro cê é besteira?
Oh Maria eu lhe amo, e sei que cê também gosta de mim. O que lhe faz tanto
medo?
MARIA
- Cê tem que gostar é de Pandora, é
com ela que cê tem que ficar.
DARLAN
- Tentei. Mas ninguém manda no
coração, né mesmo? Pandora sabe disso , e também torce pra que a gente se
entenda.
Darlan pega na mão de Maria e olha em seus
olhos.
DARLAN
- Dê uma chance pra nós, é só o que
lhe peço!
Maria fica mexida encarando Darlan. Ele, movido
pela paixão que sente, inclina-se e a beija suavemente. O momento é
interrompido por Paulo, que estava observando a cena pela janela de casa,
furioso com o que acabou de ver.
PAULO
(chamando com raiva)
- Maria! Entre agora!
Maria se levanta apressadamente, lançando um
último olhar para Darlan antes de obedecer às ordens de Paulo. O olhar furioso
de Paulo se fixa em Darlan, deixando claro que essa situação não será
facilmente esquecida.
CENA 07/ INT/
CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ DIA
Maria entra em casa, visivelmente abalada.
PAULO
(furioso)
- Que isso mesmo, hein Maria?
MARIA
- Não tava fazendo nada demais!
PAULO
- Ah não? Uma semvergonhice
daquelas.
Jana, ao perceber a tensão, se aproxima.
JANA
- O que tá acontecendo aqui minha
gente? Por que essa discussão?
PAULO
(irritado)
- Pequei Maria aos beijos com um
rapaz na praça! Cê que acha?
JANA
(calma)
- Oh Paulo, e o que tem isso
demais? Eles são jovens, Isso é normal.
Paulo explode de raiva, incapaz de aceitar.
PAULO
(gritando)
- Normal? O que é, hein Jana? Normal
seria ela estudar, se dedicar aos estudos, não andar por aí beijando qualquer
um que aparece pela frente!
MARIA
(furiosa)
- Não beijei qualquer um, o único
que beijei foi Darlan!
Maria, com lágrimas nos olhos, parte para o
quarto. Jana olha para Paulo com reprovação.
JANA
(firme)
- Oh Paulo, cê precisa entender que
Maria cresceu. Ela vai se apaixonar, vai ter relacionamentos. Isso faz parte da
vida dela. Oh meu amor, sua filha não é mais criança, não. Pare com esse ciúme
besta! Vou lá conversar com ela.
CORTA
PARA:
CENA 08/ INT/
CASA DA JANA/ QUARTO DE MARIA/ DIA
Maria está sentada em sua cama chorando. Jana
entra no quarto, preocupada. Ela se senta ao lado de Maria, colocando uma mão
reconfortante em seu ombro.
JANA
(com carinho)
- Oh amor de mãe! O que aconteceu
mainha?
MARIA
(com raiva)
- Esse cara não tem o direito de se
meter em minha vida. Nem meu pai de verdade ele é.
JANA
- Oh Maria fale isso não! Paulo
sempre cuidou do cê como uma filha. Isso é só ciúme de pai. Mas venha cá, me
diga. Quem é esse rapaz que cê tava beijando?
MARIA
- É Darlan... eu gosto dele mainha!
JANA
- Oh gente, minha bichinha cresceu!
Maria cê tá apaixonada.
MARIA
(sorrindo)
- Para com isso! Ele quer namorar comigo,
mas não posso namorar com ele.
JANA
- Oxente, e porque não?
MARIA
- Pandora também gosta dele, minha
mãe.
JANA
- Que situação hein minha linda.
Mas se é do cê que ele gosta, Pandora há de entender.
MARIA
- Ela entende, mas sou eu que não
acho certo.Os dois tava juntos, mas aí Darlan terminou com ela pra ficar
comigo. Tenho medo de me machucar. Mas gosto demais dele.
JANA
- Não posso dizer que cê não vai se
machucar. Mas o que adiante se privar e não viver as emoções de um grande amor?
Se cê goste mesmo dele, seria importante cê se arriscar.
CENA 09/ INT/
BOUTIQUE DA RAVENA/ DIA
Ravena tá arrumando alguns acessórios quando
Laura vai entrando de cabeça baixa.
RAVENA
(estranhando)
- O que foi, hein Laura? Donde cê tava
tão cedo? Aconteceu alguma coisa?
LAURA
(resoluta)
- Aconteceu sim, mas não agora, há
muito tempo. Porém só agora tomei providência.
RAVENA
(preocupada)
- Não tô entendendo. Do que é que
cê tá falando?
Laura respira fundo antes de revelar sua
decisão, sua voz firme, mas carregada de peso.
LAURA
(revelando)
- Tô vindo da delegacia. Fui me
entregar sobre o caso que aconteceu no Acre. Assumi a responsabilidade pelo
atropelamento, contei para o delegado que eu é que quem tava no volante do
carro que atropelou Maciel.
Ravena fica chocada, suas mãos instintivamente
cobrindo a boca enquanto processa a informação.
RAVENA
(indignada)
- O quê? Cê tá louca, Laura! Por
que fez isso?
LAURA
- Não podemos mais fugir, Ravena! Precisamos
enfrentar logo tudo isso. Tô cansada de viver com esse peso em minha
consciência.
RAVENA
(irritada)
- Cê não tinha esse direito! Aquele
maldito já deveria ter morrido há muito tempo, foi um favor que fiz para a
humanidade! Olha o inferno que cê tá nos enfiando.
LAURA
- Mas eu assumi toda a culpa. Cê
não tem culpa de nada, só confirma que eu quem tava no volante do carro.
RAVENA
- Cê é uma idiota, não tinha nada
que ter feito isso!
CENA 10/ EXT/
RUA/ TARDE
Pandora está concentrada, segurando uma lata de
spray enquanto transforma o muro em branco em uma explosão vibrante de cores e
formas. Darlan se aproxima confuso.
DARLAN
(elogiando)
- Uau, Pandora, sua arte é
incrível! Mas olhe, confesso que não entendi muito bem o que tá representando.
Pandora sorri e para por um instante para dá
atenção pra Darlan.
PANDORA
- Sempre usei minha arte para
expressar o que sinto, mesmo que às vezes seja confuso até para mim.
Ultimamente, tenho me sentido um pouco perdida, e acho que minha arte está
refletindo isso.
DARLAN
(compreensivo)
- Às vezes, a confusão pode ser
bonita também. É como se cada traço contasse uma história diferente.
PANDORA
(suspirando)
- É exatamente isso. Tantas coisas tão
acontecendo ao meu redor, Darlan. Às vezes, parece que tô tentando organizar
meus pensamentos e sentimentos em um mural.
DARLAN
- Tá falando da gente?
PANDORA
- Também, é claro. Mas já entendi
que o meu lance com cê, era apenas uma paixão que veio pra me ensinar, que
havia outras formas de amar... Tô muito confusa com tudo isso que veio
acontecendo. Minhas mães podem ser condenadas por terem matado o meu pai
biológico. Que por sua vez era um abusador de mulheres. E que também é pai
biológico de minha melhor amiga, por quem o carinha que gosto tá apaixonado. E
então, dá pra organizar tudo isso?
Darlan sorri diante da explicação confusa de
Pandora.
DARLAN
- Realmente tá fácil pro cê, não.
Agora sua arte fez sentido.
CENA 11/ EXT/
FEIRA DE SANTANA/ OFICINA DO JORGE/ TARDE
Beatriz, determinada, entra na oficina
procurando por Jorge. Ele a avista de longe, seus olhos expressando uma mistura
de surpresa e incerteza.
BEATRIZ
- Olhe, deu trabalho pra encontrar
essa oficina, viu?
JORGE
(relutante)
- Boa tarde Beatriz, e tchau! Não
vem me tentar não, pois tô tentando levar meu casamento a sério...
BEATRIZ
(firme)
- Acho isso louvável, apesar que cê
é saliente e duvido que consiga.
JORGE
- Fique longe de mim tentação!
BEATRIZ
- Deixe de bestagem e me ouve. O
assunto que me trouxe aqui é sério.
JORGE
(preocupado)
- É alguma coisa com meu filho?
Pelo o amor de Deus!
BEATRIZ
- Calma, não é nada com seu
filho... Cê precisa tomar cuidado. Fátima tá hackeando o seu celular, ela sabe
de todas suas conversas.
JORGE
(furioso)
- É o quê, moça? Não acredito que
Fátima fez isso!
Jorge pega seu celular e começa a olhar as
conversas do whatsapp.
JORGE
- Então ela viu minha conversa com
Sabrina do Peitão, A Neguinha dos pneus, Joaninha da suspensão. Ave Maria, ela
também viu minha conversa com Julinha capô de fusca...
BEATRIZ
(assustada)
- Me poupe das suas intimidades, me
faz favor! Vim dá o recado, até mesmo porque do jeito que cê é indecente
poderia inventar de me mandar mensagem e Fátima ver, né? Imagina, eu no meio
dessa listinha sua aí.
JORGE
- Mas venha cá, cê veio lá de
Salvador só pra me dá esse recado?
BEATRIZ
- Cê acha isso mesmo? Te enxerga,
né Jorge? Eu vim encontrar com um boysinho que conheci no tinder e aproveitei e
passei aqui. Tenha uma boa tarde, e já sabe não me mande mensagem.
CENA 12/ INT/
CASA DA RAVENA/ QUARTO DO CASAL/ TARDE
Ravena, determinada, dobra suas roupas e as coloca
na mala. Laura entra no quarto, seus olhos cheios de desespero enquanto ela
observa Ravena se preparando para partir.
LAURA
(implorando)
- Ravena, por favor, repense isso! Vai
fugir até quando? É isso mesmo, cê vai me deixar assumir a culpa toda sozinha?
RAVENA
- Cê não tem que assumir nada.
Arrume suas coisas e as coisas de Pandora e vamos comigo.
LAURA
- Não dá mais pra ficar fugindo,
meu amor. Ravena, vamos procurar um advogado e resolver logo isso.
RAVENA
- Sem chance, viu Laura? Ainda dá
tempo minha linda, ajeite suas coisas. Tem uma cidadezinha aqui no interior da
Bahia, chamada Carinhanha. É pra lá que nós vamos! Uma das Amazonas mora lá, e
já me garantiu um lugar. Venha Laura, chame Pandora e foge comigo!
LAURA
(resoluta)
- Não! Desta vez vou assumir as
consequências. Não irei pra lugar nenhum até me regularizar com a justiça.
RAVENA
(afastando-se)
- Então não tenho escolha. Irei
sozinha.
CENA 13/ EXT/
MAR/ BARCO/ DIA
Giovana está em um pequeno barco, segurando uma
urna com as cinzas de Raul. Kira está ao seu lado. Giovana, com os olhos
marejados, abre a urna com cuidado. As cinzas de Raul são levadas pelo vento
suave.
GIOVANA
(emocionada)
- Adeus, meu amor. Sentirei tanto
sua falta! Descanse em paz meu lindo.
Kira coloca uma mão no ombro de Giovana,
demonstrando solidariedade. Giovana fecha a urna com delicadeza e guarda-a com
cuidado em um lugar seguro no barco.
GIOVANA
(respirando fundo)
- Agora, é hora de seguir em
frente, né Kira? Raul sempre me disse para encontrar a felicidade, mesmo nos
momentos mais difíceis.
KIRA
(sorrindo suavemente)
- Tô bem aqui, viu nega? Poderá
contar comigo sempre.
GIOVANA
- Acho que nunca vou esquecer Raul,
ele sempre será uma parte de mim.
Giovana olha uma última vez para o mar, onde as
cinzas de Raul se dispersaram.
CENA 14/ EXT/
PRAIA/ TARDE
Genivaldo, Jana e Maria aguardam à beira da
praia. Ao longe, um barco se aproxima da costa. A bordo, Giovana está ao lado
de Kira. Genivaldo franze a testa, surpreso ao ver Kira ali.
GENIVALDO
(confuso)
- Kira tá com Giovana, é?
JANA
- Sim, painho! E qual o problema,
hein?
GENIVALDO
- Problema nenhum não. Ela gosta
muito de Giovana, né? Nunca desgruda.
O barco se aproxima da praia, suas âncoras
sendo lançadas na água rasa. Giovana, Kira descem do barco. Jana se aproxima
para abraçar a irmã.
JANA
- Vai ficar tudo bem, viu meu amor?
Estamos aqui para o que precisar.
GIOVANA
- E mainha, como é que tá meu pai?
GENIVALDO
- Sua mãe é outra preocupação, né
minha filha? Mas ela tá lá sendo bem cuidada, e achando que tá no céu.
GIOVANA
- Tadinha, ainda não pude ir lá ver ela.
MARIA
- Não tinha nem como né minha tia?
Esse tempo todo cuidando de tio Raul.
GIOVANA
- Tanto cuidado, tanta esperança...
E no fim ver ele se transformar em cinzas.
KIRA
(abraçando Giovana)
- Raul se foi, mas estamos aqui. Não
podemos nos fraquejar, Raul não iria gostar disso.
CENA 15/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ TARDE
Rebeca, com os olhos vermelhos e inchados, está
sentada no sofá, rodeada por restos de comida, seu semblante marcado pela
tristeza. Ela se entope de comida enquanto lágrimas escorrem pelo seu rosto. Raimunda
entra na sala e fica furiosa.
RAIMUNDA
(furiosa)
- Oh Rebeca! Ondé que cê tava,
menina? Seu pai tá na igreja conduzindo aquele retiro, viu? Mas tá arretado
contigo!
Rebeca soluça, tentando encontrar palavras
entre suas lágrimas.
REBECA
- Eu... eu perdi meu pirulito, mainha.
Júnior não quer mais falar comigo! A gente iria se casar, agora ele não quer
mais.
RAIMUNDA
(seriamente)
- Oh minha filha, cê precisa
esquecer esse rapaz. Esse namoro dos cês não iria dá certo. Nunca que seu pai
iria aprovar uma relação dessa.
REBECA
(desesperada)
- Mas eu amo o Pirulito, mainha. Queria
ficar com ele!
RAIMUNDA
- Mas as coisas são assim mesmo, né minha filha? Nem sempre a gente tem o que
quer. Agora cê fez muito errado, viu Rebeca? Não tinha nada que ir em Feira de
Santana atrás desse rapaz.
REBECA
(estranhando)
- E como é que a senhora sabe que
eu tava em Feira de Santana?
RAIMUNDA
- Oxente! E cê não deixou jogado aqui um panfleto do circo desse Júnior?
REBRECA
- Valha-me Deus, então deixei
pista, foi?
RAIMUNDA
- Vai lavar essa cara e cuidar dos afazeres!
CENA 16/ INT/
CASA DA RAVENA/ SALA DE ESTAR/ TARDE
Ravena está
terminando de ajeitar suas coisas que já estão em cima do sofá. A companhia
toca. Ela abre a porta.
OFICIAL
- Ravena Montebello?
RAVENA
(assustada)
- Sou eu!
O oficial entrega a
intimação a Ravena, que a observa com crescente ansiedade.
OFICIAL
- Assine aqui.
Ravena assina, apreensiva.
OFICIAL
- Essa é uma intimação sobre o caso
do atropelamento de Maciel dos Santos no Acre. A senhora precisa comparecer na
delegacia o quanto antes.
RAVENA
- Obrigada!
O oficial se afasta,
deixando Ravena perplexa. Ela fecha a porta e olha assustada para Laura, que a
encara com uma expressão séria, compartilhando a gravidade do momento.
Obrigado pelo seu comentário!