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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 42

 


Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
PAULO
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
RAVENA
BEATRIZ
JORGE
MARIA
PANDORA
DARLAN

KIRA
VANESSA
JÚNIOR
OSVALDO 


Participação Especial:
OFICIAL, FIÉIS, ALDAIR

CENA 01/ INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ NOITE

Moisés está no púlpito, pronto para conduzir o retiro espiritual. Os fieis estão sentados nos bancos, ansiosos para participar do evento.

 

MOISÉS

(com fervor)

- Amados irmãos e irmãs, a presença do mal se infiltrou em nossa igreja! Mas hoje, com a graça divina, vamos expulsar essas forças malignas! O retiro que começamos esta noite é mais do que uma simples reunião. É uma sessão de descarrego e purificação, onde cada alma aqui presente será purificada pelo poder do Altíssimo! Aleluia!

 

TODOS

- Aleluia!

 

Moisés olha para Osvaldo, e ambos compartilham um olhar cúmplice.

 

MOISÉS

(em tom solene)

- Assim como Jesus cuspiu na argila e deu visão ao cego, eu, como seu servo, irei abençoar esta água! Ela se tornará um veículo sagrado, uma arma contra as trevas!

 

Moisés pega uma pequena garrafa de água e começa a recitar uma oração em voz baixa, seus olhos brilhando com uma intensidade fanática. Os fieis observam com devoção clamando e um coro.

 

TODOS
- Aleluia! Aleluia!

 

 

MOISÉS

(com fervor)

- Esta água é a representação da pureza divina! Ela nos limpará de todo mal!

 

Moisés toma um gole da água e cospe sobre a congregação, que assiste saltitante, gritando e dançando em louvor. Alguns com lágrimas nos olhos, acreditando que estão sendo purificados.

 

OSVALDO

- Glória, Aleluia!

 

TODOS
- Aleluia! Sai demônio!

 

Moisés acena com a cabeça, satisfeito com a devoção dos fieis.

 

 

CENA 02/ INT/ APT DOS REIS/ SALA DE ESTAR/ NOITE

Genivaldo, Jana, Maria e Paulo estão reunidos oferecendo apoio a Giovana, que está emocionalmente abalada.

 

GIOVANA

- Vão liberar o corpo amanhã pra cerimônia de cremação. Parece mentira que tudo isso tá acontecendo. Ele tava aqui tão animado com a esperança de encontrar um doador.

 

JANA

- No fundo a gente já sabia que o caso dele era grave, né? Sem parente próximo fica difícil achar um doador compatível.

 

A campainha toca e Maria se levanta para abrir a porta.

 

MARIA

- Pode deixar tia, eu abro.

(depois de abrir a porta)

- Oi Kira! Entra!

 

Kira entra com um semblante sério, cumprimentando a todos com um aceno de cabeça. Seus olhos encontram os de Giovana, e há uma comunicação silenciosa entre elas, carregada de entendimento e empatia.

 

KIRA

(gentil)

- Oh nega, sinto muito pela sua perda, viu?

 

Giovana corre para Kira e a abraça, encontrando conforto nos braços dela. Genivaldo observa a cena com uma expressão desconfiada, seus olhos analisando cada movimento.

 

GIOVANA

(emocionada)

- Obrigada, viu nega por ter vindo? Tão bom ter cê aqui comigo. Nem sei como vou lidar com tudo isso.

 

Enquanto isso, Jana, Maria e Paulo decidem dar um pouco de privacidade às duas e começam a se preparar para sair.

 

JANA

(gentil)

- Gih, nós vamos indo. Se precisar de qualquer coisa, é só chamar. Cê não melhor ir dormir lá em casa?

 

GIOVANA

- Tá tudo bem, vou ficar por aqui mesmo.

 

MARIA

(sorrindo)

- Tchau tia! Se quiser, posso ficar, viu?

 

GIOVANA

- Precisa não, meu amor! Agradecida, viu?

 

PAULO

(colocando a mão no ombro de Giovana)

- Força, viu cunhada? Raul era um cara formidável, com certeza fará muita falta.

 

GENIVALDO

- Tchau filha! Que Deus lhe abençoe. Qualquer coisa me ligue, viu?

 

GIOVANA

- Agradecida painho.

 

Giovana assente, agradecendo a todos com um leve sorriso. Eles se despedem e saem, deixando Giovana e Kira a sós no apartamento. Kira olha para Giovana com compreensão.

 

KIRA

(gentil)

- Vou passar a noite aqui com cê, viu meu amor. Não é bom cê ficar sozinha hoje.

 

GIOVANA

(emocionada)

- Sua presença significa muito pra mim, viu? Só queria um milagre pra curar Raul, mas o milagre não aconteceu. 

 


CENA 03/ EXT/ FEIRA DE SANTANA/ RUA/ AO LADO DO CIRCO/ NOITE

Vanessa e Rebeca estão sentadas no meio-fio. Rebeca está nervosa, sua ansiedade estampada em seus olhos, enquanto Vanessa tenta acalmá-la.

 

VANESSA

(com determinação)

- Não viemos de Salvador até aqui, pra ir embora sem falar com Pirulito, né mesmo?  Ele tem que saber o que cê sente. Não vamos desistir tão facilmente.

 

REBECA

(nervosa)

- Ai Vanessa, não sei, viu? Por mim a gente já caçava era um jeito de ir embora.  E se ele não quiser falar comigo, Vanessa? E se ele não quiser nem me ver?

 

VANESSA

(determinada)

- Enquanto ele mesmo não vier aqui e nos disser um "não", nós vamos insistir. Tá certo o que aquele cara fez, não. Onde já se viu, expulsar nós do circo daquele jeito? A gente tava pagando ingresso como qualquer outro.

 

REBECA

- Aquele cara lá é pai dele, tá sabendo?

 

VANESSA

- É mesmo? Sabia não.

 

 

Nesse momento, Rebeca avista Júnior vestido como palhaço Pirulito, saindo do circo acompanhado por outro palhaço. Vanessa, percebendo a oportunidade, incentiva Rebeca a se aproximar.

 

VANESSA

(sussurrando)

- Tá esperando o quê, hein?  Vai lá mulher! Chegue mais perto e chame por ele. Cê precisa fazer isso.

 

Rebeca respira fundo e se levanta do meio-fio.

 

REBECA

(chamando)

- Júnior!

 

Júnior se vira, seus olhos encontram os de Rebeca, e ele fica surpreso ao vê-la ali.

 

JÚNIOR

- Rebeca!

 

REBECA

(com determinação)

- Oi Júnior! Precisava lhe ver. Olhe... vim de mala e cuia. Se cê quiser, eu fico. Eu fico com cê.

 

JÚNIOR

- Oh minha linda! Cê sabe que sua família nunca vai aceitar esse namoro, né mesmo?

 

REBECA

- Painho não sabe que tô aqui, vim escondida. Sei que o que tô fazendo é pecado, mas Vanessa me disse que o maior pecado é não ser feliz. E só consigo ser feliz tanto ao seu lado, Júnior. Cê não quer mais casar comigo?

 

JÚNIOR

- Claro que quero, lhe quero por demais!

 

Ela o beija apaixonadamente, seu gesto carregado de emoção e desejo. Enquanto estão se beijando, Aldair aparece.

 

ALDAIR

(furioso)

- O que cê tá fazendo, Júnior? Não aprendeu nada com o que aconteceu?

 

JÚNIOR

- Painho, te acalme, Rebeca tem culpa de nada que aconteceu, não.

 

ALDAIR

(determinado)

- Essa garota não é pro cê. Cê sabe que isso só trará problemas para todos nós. Deixe-a ir. Vai te embora e não aparece nunca mais!

 

JÚNIOR

- Oh meu pai, a gente já tinha conversado sobre isso. O senhor antes havia aceitado Rebeca. O que foi agora?

 

ALDAIR

- Cê ainda pergunta? Eles tacaram fogo em nosso circo. Olhe Júnior, esse povo é fanático e quando descobrir que essa menina tá aqui vão vim atrás, aí a desgraceira tá feita.

 

VANESSA

(se aproximando)

- Ninguém aqui tem nada a ver com o que irmã Eliete fez, não, meu senhor. Ela é uma louca varrida e já tá até internada em um manicômio.

 

ALDAIR

- Quero nem saber de nada. Olhe meu filho faça sua escolha, se insistir em ficar com essa menina, pode arrumar suas trouxas e cair fora. Aqui no meu circo ela não entra.

 

 

Júnior, olhando para Rebeca, toma uma decisão.

 

JÚNIOR

(com pesar)

- Sinto muito, viu Rebeca? Mas painho tá certo. Isso não vai funcionar. Cê precisa ir embora.

 

Júnior se afasta.

 

REBECA

(chorando)

- Oh Júnior! Como vou ficar sem meu pirulito?

 

VANESSA

(xingando)

- Frouxo! É isso que cê é! Simbora Rebeca, ele não lhe merece.

 

 

CENA 04/ INT/ IGREJA CASADO DA FÉ/ NOITE

Moisés se aproxima de Raimunda que está sentada em um dos bancos da igreja.

 

MOISÉS

- E Rebeca cadê que ainda não vi?

 

RAIMUNDA
- Sei não varão. Liguei, mandei mensagem e ela não me respondeu.

 

MOISÉS

- Oxende, ondé que essa menina se meteu? E venha cá, tô lhe achando meio avexada. Diga aí, o que houve?

 

RAIMUNDA

(nervosa)

- Encontrei um panfleto em casa informando que aquele circo tá em Feira de Santana. Tô aqui avexada, né Moisés? Vai que ela tenha ido pra lá. Ela tá apaixonada pelo o palhaço do circo, essa é a verdade.

 

MOISÉS

- Pois se ela tiver ido atrás do circo pode esquecer que é minha filha.

 

RAIMUNDA
- Mas o que é, homem? Agora é isso? Já não basta ter afastado Laura agora quer afastar Rebeca também?

 

MOISÉS

- Não afastei nenhuma delas. Foram elas que fizeram escolhas erradas. O que não dá Raimunda é a gente ser complacente com o pecado, só para acolher nossas filhas.

 

 

CENA 05/ INT/ APT DOS REIS/ QUARTO DO CASAL/ NOITE

Giovana, com os olhos cheios de tristeza, está sentada na beira da cama, olhando para o vazio. Kira está de pé ao lado dela, expressando carinho e preocupação em seu rosto.

 

GIOVANA

(com tristeza)

- Nunca me senti tão sozinha, viu Kira? Raul era meu porto seguro, meu companheiro em todas as horas. Sem ele, parece que tudo perdeu o sentido.

 

KIRA

(com carinho)

- Cê nunca estará sozinha, Gih. Tô aqui... sempre estive, e sempre estarei. Cê pode contar comigo para o que precisar. (gentil)

- Agora, tente descansar um pouco, acredito que o dia hoje foi muito corrido pro cê. Vou tá aqui no quarto ao lado, qualquer coisa me chame.

 

Kira se prepara para sair do quarto, mas Giovana, com um olhar suplicante, a chama de volta.

 

GIOVANA

(com ternura)

- Não, por favor, fique aqui. Dorme aqui comigo.

 

Kira, surpresa, sorri gentilmente em resposta.

 

KIRA

- Claro! Se preocupe não, vou ficar aqui com cê.

 

Kira se aproxima e senta na cama, enquanto Giovana se deita, abraçando-a com força, buscando conforto nos braços da sua amiga.

 

CENA 06/ EXT/ DIQUE DO TORORÓ/ DIA

Maria está sentada tocando suavemente seu violão. Darlan, casualmente passando pelo local, avista Maria e se aproxima dela.

 

DARLAN

(sorrindo)

- Cê sempre tem o dom de tornar tudo mais bonito.

 

 

MARIA

(com simplicidade)

- Oi Darlan! Às vezes, a música é a única maneira que encontro para me expressar.

 

Darlan senta-se ao lado de Maria, e os dois começam a conversar.

 

DARLAN

(com sinceridade)

- E para que eu me expresse o que devo fazer?

 

MARIA

- Lá vem o cê com essas conversas bestas, né Darlan?

 

DARLAN

- Falar de amor pro cê é besteira? Oh Maria eu lhe amo, e sei que cê também gosta de mim. O que lhe faz tanto medo?

 

MARIA

- Cê tem que gostar é de Pandora, é com ela que cê tem que ficar.

 

DARLAN

- Tentei. Mas ninguém manda no coração, né mesmo? Pandora sabe disso , e também torce pra que a gente se entenda.

 

 

Darlan pega na mão de Maria e olha em seus olhos.

 

DARLAN

- Dê uma chance pra nós, é só o que lhe peço!

 

Maria fica mexida encarando Darlan. Ele, movido pela paixão que sente, inclina-se e a beija suavemente. O momento é interrompido por Paulo, que estava observando a cena pela janela de casa, furioso com o que acabou de ver.

 

PAULO

(chamando com raiva)

- Maria! Entre agora!

 

Maria se levanta apressadamente, lançando um último olhar para Darlan antes de obedecer às ordens de Paulo. O olhar furioso de Paulo se fixa em Darlan, deixando claro que essa situação não será facilmente esquecida.

 

 

CENA 07/ INT/ CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ DIA

Maria entra em casa, visivelmente abalada.

 

PAULO

(furioso)

- Que isso mesmo, hein Maria?

 

MARIA

- Não tava fazendo nada demais!

 

PAULO

- Ah não? Uma semvergonhice daquelas.

 

Jana, ao perceber a tensão, se aproxima.

 

JANA

- O que tá acontecendo aqui minha gente? Por que essa discussão?

 

PAULO

(irritado)

- Pequei Maria aos beijos com um rapaz na praça! Cê que acha?

 

JANA

(calma)

- Oh Paulo, e o que tem isso demais? Eles são jovens, Isso é normal.

 

Paulo explode de raiva, incapaz de aceitar.

 

PAULO

(gritando)

- Normal? O que é, hein Jana? Normal seria ela estudar, se dedicar aos estudos, não andar por aí beijando qualquer um que aparece pela frente!

 

MARIA

(furiosa)

- Não beijei qualquer um, o único que beijei foi Darlan!

 

Maria, com lágrimas nos olhos, parte para o quarto. Jana olha para Paulo com reprovação.

 

JANA

(firme)

- Oh Paulo, cê precisa entender que Maria cresceu. Ela vai se apaixonar, vai ter relacionamentos. Isso faz parte da vida dela. Oh meu amor, sua filha não é mais criança, não. Pare com esse ciúme besta! Vou lá conversar com ela.

 

CORTA PARA:

CENA 08/ INT/ CASA DA JANA/ QUARTO DE MARIA/ DIA

Maria está sentada em sua cama chorando. Jana entra no quarto, preocupada. Ela se senta ao lado de Maria, colocando uma mão reconfortante em seu ombro.

 

JANA

(com carinho)

- Oh amor de mãe! O que aconteceu mainha?

 

MARIA

(com raiva)

- Esse cara não tem o direito de se meter em minha vida. Nem meu pai de verdade ele é.

 

JANA

- Oh Maria fale isso não! Paulo sempre cuidou do cê como uma filha. Isso é só ciúme de pai. Mas venha cá, me diga. Quem é esse rapaz que cê tava beijando?

 

MARIA

- É Darlan... eu gosto dele mainha!

 

JANA

- Oh gente, minha bichinha cresceu! Maria cê tá apaixonada.

 

MARIA

(sorrindo)

- Para com isso! Ele quer namorar comigo, mas não posso namorar com ele.

 

JANA

- Oxente, e porque não?

 

MARIA

- Pandora também gosta dele, minha mãe.

 

JANA

- Que situação hein minha linda. Mas se é do cê que ele gosta, Pandora há de entender.

 

MARIA

- Ela entende, mas sou eu que não acho certo.Os dois tava juntos, mas aí Darlan terminou com ela pra ficar comigo. Tenho medo de me machucar. Mas gosto demais dele.

 

JANA

- Não posso dizer que cê não vai se machucar. Mas o que adiante se privar e não viver as emoções de um grande amor? Se cê goste mesmo dele, seria importante cê se arriscar.

 

 

CENA 09/ INT/ BOUTIQUE DA RAVENA/ DIA

Ravena tá arrumando alguns acessórios quando Laura vai entrando de cabeça baixa.

 

RAVENA

(estranhando)

- O que foi, hein Laura? Donde cê tava tão cedo? Aconteceu alguma coisa?

 

LAURA

(resoluta)

- Aconteceu sim, mas não agora, há muito tempo. Porém só agora tomei providência.

 

RAVENA

(preocupada)

- Não tô entendendo. Do que é que cê tá falando?

 

Laura respira fundo antes de revelar sua decisão, sua voz firme, mas carregada de peso.

 

LAURA

(revelando)

- Tô vindo da delegacia. Fui me entregar sobre o caso que aconteceu no Acre. Assumi a responsabilidade pelo atropelamento, contei para o delegado que eu é que quem tava no volante do carro que atropelou Maciel.

 

Ravena fica chocada, suas mãos instintivamente cobrindo a boca enquanto processa a informação.

 

RAVENA

(indignada)

- O quê? Cê tá louca, Laura! Por que fez isso?

 

LAURA

- Não podemos mais fugir, Ravena! Precisamos enfrentar logo tudo isso. Tô cansada de viver com esse peso em minha consciência.

 

RAVENA

(irritada)

- Cê não tinha esse direito! Aquele maldito já deveria ter morrido há muito tempo, foi um favor que fiz para a humanidade! Olha o inferno que cê tá nos enfiando.

 

LAURA

- Mas eu assumi toda a culpa. Cê não tem culpa de nada, só confirma que eu quem tava no volante do carro.

 

RAVENA

- Cê é uma idiota, não tinha nada que ter feito isso!

 

 

CENA 10/ EXT/ RUA/ TARDE

Pandora está concentrada, segurando uma lata de spray enquanto transforma o muro em branco em uma explosão vibrante de cores e formas. Darlan se aproxima confuso.

 

DARLAN

(elogiando)

- Uau, Pandora, sua arte é incrível! Mas olhe, confesso que não entendi muito bem o que tá representando.

 

Pandora sorri e para por um instante para dá atenção pra Darlan.

 

PANDORA

- Sempre usei minha arte para expressar o que sinto, mesmo que às vezes seja confuso até para mim. Ultimamente, tenho me sentido um pouco perdida, e acho que minha arte está refletindo isso.

 

DARLAN

(compreensivo)

- Às vezes, a confusão pode ser bonita também. É como se cada traço contasse uma história diferente.

 

PANDORA

(suspirando)

- É exatamente isso. Tantas coisas tão acontecendo ao meu redor, Darlan. Às vezes, parece que tô tentando organizar meus pensamentos e sentimentos em um mural.

 

DARLAN

- Tá falando da gente?

 

PANDORA

- Também, é claro. Mas já entendi que o meu lance com cê, era apenas uma paixão que veio pra me ensinar, que havia outras formas de amar... Tô muito confusa com tudo isso que veio acontecendo. Minhas mães podem ser condenadas por terem matado o meu pai biológico. Que por sua vez era um abusador de mulheres. E que também é pai biológico de minha melhor amiga, por quem o carinha que gosto tá apaixonado. E então, dá pra organizar tudo isso?

 

Darlan sorri diante da explicação confusa de Pandora.

 

DARLAN

- Realmente tá fácil pro cê, não. Agora sua arte fez sentido.

 

CENA 11/ EXT/ FEIRA DE SANTANA/ OFICINA DO JORGE/ TARDE

Beatriz, determinada, entra na oficina procurando por Jorge. Ele a avista de longe, seus olhos expressando uma mistura de surpresa e incerteza.

 

BEATRIZ

- Olhe, deu trabalho pra encontrar essa oficina, viu?

 

JORGE

(relutante)

- Boa tarde Beatriz, e tchau! Não vem me tentar não, pois tô tentando levar meu casamento a sério...

 

BEATRIZ

(firme)

- Acho isso louvável, apesar que cê é saliente e duvido que consiga.

 

JORGE

- Fique longe de mim tentação!

 

BEATRIZ

- Deixe de bestagem e me ouve. O assunto que me trouxe aqui é sério.

 

JORGE

(preocupado)

- É alguma coisa com meu filho? Pelo o amor de Deus!

 

BEATRIZ

- Calma, não é nada com seu filho... Cê precisa tomar cuidado. Fátima tá hackeando o seu celular, ela sabe de todas suas conversas.

 

JORGE

(furioso)

- É o quê, moça? Não acredito que Fátima fez isso!

 

Jorge pega seu celular e começa a olhar as conversas do whatsapp.

 

JORGE

- Então ela viu minha conversa com Sabrina do Peitão, A Neguinha dos pneus, Joaninha da suspensão. Ave Maria, ela também viu minha conversa com Julinha capô de fusca...

 

BEATRIZ

(assustada)

- Me poupe das suas intimidades, me faz favor! Vim dá o recado, até mesmo porque do jeito que cê é indecente poderia inventar de me mandar mensagem e Fátima ver, né? Imagina, eu no meio dessa listinha sua aí.

 

JORGE

- Mas venha cá, cê veio lá de Salvador só pra me dá esse recado?

 

BEATRIZ

- Cê acha isso mesmo? Te enxerga, né Jorge? Eu vim encontrar com um boysinho que conheci no tinder e aproveitei e passei aqui. Tenha uma boa tarde, e já sabe não me mande mensagem.

 

 

CENA 12/ INT/ CASA DA RAVENA/ QUARTO DO CASAL/ TARDE

Ravena, determinada, dobra suas roupas e as coloca na mala. Laura entra no quarto, seus olhos cheios de desespero enquanto ela observa Ravena se preparando para partir.

 

LAURA

(implorando)

- Ravena, por favor, repense isso! Vai fugir até quando? É isso mesmo, cê vai me deixar assumir a culpa toda sozinha?

 

RAVENA

- Cê não tem que assumir nada. Arrume suas coisas e as coisas de Pandora e vamos comigo.

 

LAURA

- Não dá mais pra ficar fugindo, meu amor. Ravena, vamos procurar um advogado e resolver logo isso.

 

RAVENA

- Sem chance, viu Laura? Ainda dá tempo minha linda, ajeite suas coisas. Tem uma cidadezinha aqui no interior da Bahia, chamada Carinhanha. É pra lá que nós vamos! Uma das Amazonas mora lá, e já me garantiu um lugar. Venha Laura, chame Pandora e foge comigo!

 

LAURA

(resoluta)

- Não! Desta vez vou assumir as consequências. Não irei pra lugar nenhum até me regularizar com a justiça.

 

RAVENA

(afastando-se)

- Então não tenho escolha. Irei sozinha.

 

 

CENA 13/ EXT/ MAR/ BARCO/ DIA

Giovana está em um pequeno barco, segurando uma urna com as cinzas de Raul. Kira está ao seu lado. Giovana, com os olhos marejados, abre a urna com cuidado. As cinzas de Raul são levadas pelo vento suave.

 

GIOVANA

(emocionada)

- Adeus, meu amor. Sentirei tanto sua falta! Descanse em paz meu lindo.

 

Kira coloca uma mão no ombro de Giovana, demonstrando solidariedade. Giovana fecha a urna com delicadeza e guarda-a com cuidado em um lugar seguro no barco.

 

GIOVANA

(respirando fundo)

- Agora, é hora de seguir em frente, né Kira? Raul sempre me disse para encontrar a felicidade, mesmo nos momentos mais difíceis.

 

KIRA

(sorrindo suavemente)

- Tô bem aqui, viu nega? Poderá contar comigo sempre.

 

GIOVANA

- Acho que nunca vou esquecer Raul, ele sempre será uma parte de mim.

 

Giovana olha uma última vez para o mar, onde as cinzas de Raul se dispersaram.

 

CENA 14/ EXT/ PRAIA/ TARDE

Genivaldo, Jana e Maria aguardam à beira da praia. Ao longe, um barco se aproxima da costa. A bordo, Giovana está ao lado de Kira. Genivaldo franze a testa, surpreso ao ver Kira ali.

 

GENIVALDO

(confuso)

- Kira tá com Giovana, é?

 

JANA

- Sim, painho! E qual o problema, hein?

 

GENIVALDO

- Problema nenhum não. Ela gosta muito de Giovana, né? Nunca desgruda.

 

O barco se aproxima da praia, suas âncoras sendo lançadas na água rasa. Giovana, Kira descem do barco. Jana se aproxima para abraçar a irmã.

 

JANA

- Vai ficar tudo bem, viu meu amor? Estamos aqui para o que precisar.

 

GIOVANA

- E mainha, como é que tá meu pai?

 

GENIVALDO

- Sua mãe é outra preocupação, né minha filha? Mas ela tá lá sendo bem cuidada, e achando que tá no céu.

 

GIOVANA
- Tadinha, ainda não pude ir lá ver ela.

 

MARIA

- Não tinha nem como né minha tia? Esse tempo todo cuidando de tio Raul.

 

GIOVANA

- Tanto cuidado, tanta esperança... E no fim ver ele se transformar em cinzas.

 

KIRA

(abraçando Giovana)

- Raul se foi, mas estamos aqui. Não podemos nos fraquejar, Raul não iria gostar disso.

 

 

CENA 15/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ TARDE

Rebeca, com os olhos vermelhos e inchados, está sentada no sofá, rodeada por restos de comida, seu semblante marcado pela tristeza. Ela se entope de comida enquanto lágrimas escorrem pelo seu rosto. Raimunda entra na sala e fica furiosa.

 

 

RAIMUNDA

(furiosa)

- Oh Rebeca! Ondé que cê tava, menina? Seu pai tá na igreja conduzindo aquele retiro, viu? Mas tá arretado contigo!

 

Rebeca soluça, tentando encontrar palavras entre suas lágrimas.

 

REBECA

- Eu... eu perdi meu pirulito, mainha. Júnior não quer mais falar comigo! A gente iria se casar, agora ele não quer mais.

 

RAIMUNDA

(seriamente)

- Oh minha filha, cê precisa esquecer esse rapaz. Esse namoro dos cês não iria dá certo. Nunca que seu pai iria aprovar uma relação dessa.

 

REBECA

(desesperada)

- Mas eu amo o Pirulito, mainha. Queria ficar com ele!

 

RAIMUNDA
- Mas as coisas são assim mesmo, né minha filha? Nem sempre a gente tem o que quer. Agora cê fez muito errado, viu Rebeca? Não tinha nada que ir em Feira de Santana atrás desse rapaz.

 

REBECA

(estranhando)

- E como é que a senhora sabe que eu tava em Feira de Santana?

 

RAIMUNDA
- Oxente! E cê não deixou jogado aqui um panfleto do circo desse Júnior?

 

REBRECA

- Valha-me Deus, então deixei pista, foi?

 

RAIMUNDA
- Vai lavar essa cara e cuidar dos afazeres!
 

 

CENA 16/ INT/ CASA DA RAVENA/ SALA DE ESTAR/ TARDE

Ravena está terminando de ajeitar suas coisas que já estão em cima do sofá. A companhia toca. Ela abre a porta.

 

OFICIAL

- Ravena Montebello?

 

RAVENA

(assustada)

- Sou eu!

 

O oficial entrega a intimação a Ravena, que a observa com crescente ansiedade.

 

OFICIAL

- Assine aqui.

 

Ravena assina, apreensiva.

 

OFICIAL

- Essa é uma intimação sobre o caso do atropelamento de Maciel dos Santos no Acre. A senhora precisa comparecer na delegacia o quanto antes.

 

RAVENA

- Obrigada!

 

O oficial se afasta, deixando Ravena perplexa. Ela fecha a porta e olha assustada para Laura, que a encara com uma expressão séria, compartilhando a gravidade do momento.







 


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